Hepatite E: diagnóstico serológico em hepatites de etiologia desconhecida Carla Manita Ferreira, João Almeida Santos, Ivone Água-Doce, Teresa Lourenço, Camalavati Benoliel, Rita Matos, Helena Cortes Martins Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, Departamento Doenças Infeciosas – Laboratório de Imunologia [email protected] / [email protected] P64 INTRODUÇÃO OBJETIVO A hepatite tendo como agente causal o vírus da hepatite E (VHE) é classicamente considerada como tendo pouca relevância clínica e epidemiológica nos países ocidentais. O VHE tem como principal forma de transmissão a via fecal-oral, sendo a contaminação da água com matéria fecal a forma mais Este trabalho teve como objectivo a análise retrospectiva, entre 2000 e 2011, da comum de disseminação do vírus. Esta infeção é endémica nos países em desenvolvimento da Ásia, África e América Central e do prevalência de infecção por VHE em casos de hepatite de etiologia desconhecida. Sul, onde as condições de saneamento básico são precárias, ou, mesmo inexistentes. Nos países desenvolvidos, a infeção por VHE surge de forma esporádica, estando normalmente associada a viagens a países endémicos. No entanto, nos últimos anos têm sido descritos casos isolados ou pequenos surtos de hepatite E em regiões de baixa MATERIAL E MÉTODOS endemicidade, como E.U.A., Europa (ex. Reino Unido, França) e países desenvolvidos da Ásia (ex. Japão) e Austrália, sem que estivesse presente o principal fator de risco, ou seja, viagens recentes a zonas endémicas. Nestes casos de VHE autóctone, a transmissão zoonótica parece desempenhar um papel preponderante na transmissão do vírus, quer por consumo de produtos Entre Janeiro de 2000 e Dezembro de 2011, foram recebidas no Instituto Nacional de derivados de animais infetados, quer por exposição a fluidos corporais de animais infetados. O vírus foi já identificado em Saúde Dr. Ricardo Jorge em Lisboa, 241 amostras de soro de indivíduos com diferentes animais de consumo humano como o porco ou veado. diagnóstico de hepatite de etiologia desconhecida, nas quais foi realizada a pesquisa Esta situação alerta para um potencial problema de saúde pública em áreas não endémicas para este agente, nas quais Portugal de anticorpos VHE (IgG e IgM), através de ensaio imunoenzimático. se encontra incluído. RESULTADOS 80 100% 16 15 70 da 14 Número total de mostras 50 9 10 9 9 40 8 6 30 20 6 23 21 26 27 4 14 19 8 10 16 9 3 7 2000 2001 2002 2003 2 2005 2006 80% 57% Infecção aguda 12.9% (n=31) 56% 57% 2007 2008 2009 2010 2011 48% 57% 54% 46% 79% 60% 88% 40% 67% 56% 53% 20% 43% 43% 44% 43% 2007 2008 52% 46% 54% 21% número total de amostras e de amostras 0% positivas 2000 (IgG/IgM) por ano. Total amostras (N) 44% 47% Figura 1. Distribuição do 0 2004 33% 2 1 0 por Número de amostras positivas 12 população sexo/ano. 68 60 13% Figura 3. Distribuição 2001 2002 2003 2004 Amostras positivas (N) 2005 Masculino Infecção antiga ou convalescença 8.3% (n=20) Figura 4. Distribuição dos resultados obtidos para 21 19 7 8 9 3 13 2006 2009 2010 2011 Feminino 12 16 4 7 22 20 5 6 60 210 8 31 21 54 201 5 14 40 2011 Total VHE IgG e VHE IgM por ano. 1 Figura 2. Estadiamento dos casos segundo os Sem infecção 78.8% (n=190) 21 19 7 7 9 3 12 11 18 19 5 8 resultados obtidos para VHE IgG e IgM: sem infecção (IgM/IgG aguda/recente (IgM negativo), positivo/IgG infecção positivo ou negativo /IgG positivo . 2 1 negativo), infecção antiga ou convalescente (IgM 2000 2001 2002 2003 2004 IgG Pos 2005 2006 IgG Neg 5 2007 2008 IgM Pos 2009 2010 IgM Neg CONCLUSÃO Entre 2000 e 2011, ocorreu um aumento do número de pedidos para deteção de anticorpos VHE (IgG/IgM), bem como do número de resultados positivos. Esta tendência poderá ser o reflexo não só do aumento real de número de infeções, mas também de uma maior sensibilização dos clínicos para a existência de casos de infeção por VHE em Portugal. No presente estudo, 51 (21.2%) indivíduos apresentaram anticorpos VHE, dos quais 31 (12.9%) eram VHE IgM, resultado compatível com infeção aguda ou recente. Estes resultados permitem evidenciar a presença da infeção na população portuguesa. No entanto, não foi possível determinar se os casos de infeção encontrados seriam importados ou autóctones, por ausência de informação. Este facto evidencia a necessidade de uma melhor colaboração entre os clínicos e o laboratório, de forma a melhor conhecer o padrão epidemiológico da hepatite E em Portugal. A realização de estudos mais abrangentes permitirá determinar o impacto real da infeção por VHE na população portuguesa. Bibliografia Alberto S. Folgado, Pires S., Félix J., Figueiredo A., Silva L., Franco M. et al . 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