METALOPROTEASE DEPENDENTE DE ZINCO PRESENTE NO VENENO DA VESPA Polybia occidentalis. Pâmela Cristina Mertz (IC-voluntária - Unicentro), Larissa Pires Kikuti (ICvoluntária - Unicentro), Alessandra Zatt Schardosin (IC-voluntária - Unicentro). Marta Chagas Monteiro (Orientadora – Dep. de Farmácia/Unicentro). e-mail: [email protected] Palavras-chave: metaloprotease, Polybia occidentalis, fibrinogênio. Resumo Os venenos de animais e insetos vêm sendo investigados para a determinação de seus componentes ativos e para o entendimento da influência dos mesmos nos processos homeostáticos. Nossos estudos indicam que o veneno da vespa Polybia occidentalis, tem em sua composição uma metaloprotease, que atua na cascata de coagulação, degradando o fibrinogênio, o que contribui para a ação anticoagulante do veneno. Sendo que a ação dessa metaloprotease pode ser inibida por EDTA, EGTA e íons Ca2+ e potencializada por íons Zn2+, o que demonstra sua dependência a esse íon. Introdução Estudos já realizados com o veneno de animais e insetos peçonhentos como aranhas, cobras e serpentes demonstraram que os principais componentes do veneno que possuem atividade fibrinolítica são as metaloproteases 1,2,3,4. O veneno de vespas e abelhas é constituído por uma mistura de vários componentes bioquímicos e farmacologicamente ativos, como pequenos peptídeos (mastoparan e peptídeo quimiotático), aminas vasoativas (histamina, serotonina, dopamina e norepinefrina) e uma série de proteínas de alto peso molecular, tais como: antígeno 5, fosfolipase (PL) A (PLA1 e PLA2) e B, fosfatase ácida, proteases, hialuronidase e nucleotidases 5. Diante desse grande número de componentes ativos presentes no veneno de himenópteros, é de grande interesse da área biotecnológica, o estudo de atividades biológicas desencadeadas por esses componentes, visando à produção de novos fármacos6. Em nossos estudos através de ensaios de coagulação foi possível observar que o veneno da Polybia occidentalis possui componentes com atividade anticoagulante. Além disso, nossos dados mostraram que o veneno possivelmente possui uma metaloprotease capaz de clivar a cadeia beta do fibrinogênio de maneira dose dependente. As metaloproteases apresentam efeito sobre componentes da coagulação, digerindo proteínas envolvidas no processo da cascata de coagulação do sangue, como o fibrinogênio, fibrina e o fator Von Willebrand. Tais proteases podem ser α ou β fibrinogenases, degradando a cadeia α ou a cadeia β do fibrinogênio, ou ambas 7,8. Diante disto, o objetivo desse trabalho foi avaliar o efeito dos metais na atividade fibrinogenolítica do veneno. Materiais e métodos Preparação da amostra. As vespas foram capturadas de regiões de mata no Parque das Araucárias, em Guarapuava-PR e levadas ao laboratório onde foram armazenadas a -20ºC. Posteriormente, as glândulas foram removidas com o auxílio de pinças e microscópio. As glândulas intactas foram colocadas em 500μL de solução salina 0,09% em tubos de plástico, agitadas em Vortex, centrifugadas e liofilizadas. Teste de dosagem de fibrinogênio in vitro Nos experimentos foram utilizados o Kit Wiener Lab, cujas amostras de 200 μL de plasma foram diluídas com 1800 μL do tampão Imidazol foram préaquecidos por 2 minutos em banho-maria a 370C. Em seguida, 200µL do plasma diluído foi incubado por aproximadamente 1 minuto com as seguintes substâncias: veneno (4.4 μg) na presença ou ausência de EDTA, EGTA, Ca 2+ (CaCl2) ou Zn2+ (ZnSO4). Finalmente, 100 μL de trombina foi adicionada às amostras pré-incubadas e o tempo de formação de coágulo foi cronometrado em segundos. Os experimentos foram realizados em triplicata, considerando a média dos tempos observados. O cálculo da concentração de fibrinogênio foi feito a partir da curva padrão contida no Kit. Concentração de fibrinogênio (mg/dL) 400 300 # # # # *# * # *# 200 * 100 0 Plasma *# *# EDT A EGT A Ca +2 Zn +2 EDT A EGT A Ca +2 Zn +2 Venom *P 0.05 comparado ao plasma (controle -) # P 0.001 comparado ao veneno (4.4g) Resultados e Discussão Verificou-se que o veneno diminuiu a concentração do fibrinogênio presente no plasma humano. As adições de EDTA (um inibidor da coagulação e quelante de cálcio), EGTA (quelante de cálcio e magnésio) e Ca2+ na amostra de plasma incubada com o veneno foram capazes de inibir a ação da fibrinogenase contida nesse veneno, uma vez que a concentração de fibrinogênio retornou aos níveis basais no plasma humano após a incubação com esses compostos, mostrando que a fibrogenase contida é uma metaloprotease. Esse dado também sugere que o íon cálcio é um cátion importante no bloqueio da atividade enzimática dessa fibrinogenase. Por outro lado, o Zn2+, potencializou as atividades enzimáticas da protease, demonstrando que a fibrinogenase presente no veneno da vespa Polybia occidentalis é uma metaloprotease dependente de zinco. Experimentos similares com veneno de cobras demonstram que muitas das enzimas fibrinogenolíticas de peçonha são metaloproteases dependentes de zinco. Membros desta família são assim chamados em virtude de apresentarem átomo de zinco em suas moléculas, o qual é essencial para sua ação catalítica. Nesse sentido, estudos, onde se disponibiliza o íon zinco junto ao plasma, demonstram que o mesmo impede mudanças conformacionais e evita perda da atividade da protease. Essas enzimas fibrinogenolíticas de peçonhas de serpentes têm sido muito usadas para o tratamento e prevenção de disfunções cardiovasculares. Esse fato ocasiona uma rápida diminuição do fibrinogênio in vivo, causando um efeito anticoagulante e diminuição da viscosidade do sangue. Vários estudos revelaram que essas enzimas induzem trombólise de forma consistente, eficaz e segura9. A similaridade nos resultados de testes de degradação de fibrinogênio realizados com venenos de cobras e vespas demonstra funções análogas das proteases contidas em ambos os venenos. Vista a utilização farmacológica das proteases contidas no veneno de cobras, abre-se também a possibilidade de utilização das proteases do veneno de vespas para esses fins farmacológicos. Conclusões A partir desses dados, concluímos que o veneno da vespa Polybia Occidentalis possui em seus componentes uma metaloprotease, que contribui para a ação anticoagulante do veneno provocando a degradação do fibrinogênio. Sendo que a ação dessa metaloprotease pode ser inibida por EDTA, EGTA e íons Ca2+ e potencializada por íons Zn2+, o que demonstra sua dependência a esse íon. Referências 1. da SILVEIRA, R.B.; FILHO, J.F.S.; MANGILI, O.C.; VEIGA, S.S.; GREMSKI, W.; NADER, H.B.; DIETRICH, C.P. Identification of proteases in the extract of venom glands from brown spiders. 2002. 2. COMINETTI, M.R. Estudos dos efeitos das metaloproteases/desintegrinas isoladas do veneno da serpente Bothrops alternatus sobre a adesão celular e expressão gênica. 2004. 3. BJARNASON, J.B. Hemorragic metalloproteinases from snake venoms. 1994. 4. SANCHÉZ, L.T.G. Subclonagem e expressão do domínio catalítico da jararagina: estudo do efeito das modificações pós-traducionais na atividade hemorrágica. 2004. 5. HABERMANN, E. Bee and wasp venoms, Science: v117, p. 314-322, 1972. 6. MARKLAND J.R, F.S. Snake venoms and the hemostatic system. Toxicon. v. 36, p.1749-1800, 1998. 7. MARKLAND, F.S. Snake venom fibrogenolytic and fibrinolytic enzymes: an updated ventory, Thromb. Haemost, v.79, p. 668-674, 1998. 8. MAZZI, M.V. Caracterização funcional e estrutural de uma metaloprotease hemorrágica isolada da peçonha de Bothrops jararacussu. 2005. 9. COSTA, J.O; OLIVEIRA, M. C; HAMAGUCHI, A.; OLIVEIRA, F.; BRANDEBURGO H.I.M. Cromatografia de uma fração proteolítica obtida no fracionamento da peçonha bruta de Bothrops alternatus e caracterização bioquímica de suas subfrações. Revisão Bibliográfia – Revista Eletrônica da PROPP, Edição nº 4, 2005.