TERAPIA INFANTIL 112 Mentes Inquietas Agitação excessiva, falta de vontade de ir à escola, dificuldade na aprendizagem... Tudo isso pode parecer comum na infância, mas é preciso ter atenção, pois pode significar algo mais grave Por Camila Bocchino – Fotos: Alexandre Alves T odo mundo conhece pelo menos uma criança “impossível” ou que tenha como frase favorita “Por que eu tenho que ir para a escola hoje? Não gosto da escola”. Isso pode tanto ser perfeitamente normal quanto pode significar algo mais e os pais devem estar atentos a qualquer sinal de mudança na rotina das crianças. Hoje já é possível diagnosticar e tratar alguns distúrbios cada vez mais cedo na infância e é dentro de casa e nas escolas que podemos perceber atitudes e comportamentos que justifiquem acompanhamento. Comportamentos comuns entre crianças de todas as idades também podem ser sintomas de algo que merece atenção. Muitos transtornos levam anos para serem diagnosticados, mas começam a mandar sinais de que estão ali logo na infância. Um dos mais conhecidos e comentados é o Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH). Com certeza os pais de hoje já ouviram falar dele ao menos uma vez, mas nem sempre uma criança bastante ativa e que parece não prestar atenção em nada pode receber esse diagnóstico. E é aí que mora o perigo. Muitas vezes chamadas de “fases da infância”, as mudanças repentinas de comportamento e rotina podem ser consequências de traumas leves ou mais graves e essa falta de diagnóstico pode vir a se tornar prejudicial na vida adulta. Muitos pais encaram isso como “frescurinhas” ou coisas pelas quais todo mundo passa, mas nem sempre é assim. “Não acredito que ninguém tenha ‘frescuras’, nem crianças e nem adultos. Para tudo tem uma explicação que faz com que a pessoa passe a ficar neuroquimicamente limitada”, explica a psicóloga especialista no método EMDR, Esly Carvalho. O EMDR é um tipo de psicoterapia inovador e revolucionário. A sigla, em inglês, significa Dessensibilizaçãoe Reprocessamento por meio dos Movimentos Oculares. Esse método é uma alternativa para tratar e sanar traumas que podem ser de infância ou não, sem fazer uso de medicamentos. “A maioria dos medicamentos conhecidos não foram testados para crianças, mas sim para adultos. Então, nem sempre sabemos qual a dosagem certa para crianças”, adverte a psicóloga. “Com o EMDR podemos alterar a lembrança a nível neuroquímico sem fazer uso de medicamentos. É uma nova abordagem que funciona maravilhosamente bem com crianças”, continua a especialista. A psicoterapia é uma alternativa muito eficiente para crianças com comportamento difícil e que, na maioria dos casos, não precisam fazer uso de medicamentos, já que seus diagnósticos nem sempre acusam algum distúrbio cujo tratamento mais indicado seja esse. “Sabemos do interesse da indústria farmacêutica em colocar os medicamentos no mercado, sabemos que alguns desses medicamentos fazem quase que o papel de educador em crianças de comportamento difícil, sabemos que nem sempre são necessários, porém, não podemos negar o quanto um medicamento pode ser decisivo para a qualidade de vida de uma pessoa portadora de algum transtorno. Deve prevalecer o bom senso, ouvir mais de uma opinião se possível”, ressalta a psicopedagoga Maria Lúcia Vasques. “Com certeza a psicoterapia é muito bem vinda como alternativa aos medicamentos, pois ela vai identificar e tratar os problemas TERAPIA INFANTIL “Não acredito que ninguém tenha ‘frescuras’, nem crianças nem adultos”, Dra. Esly Carvalho 113 “O que vai fazer diferença é a sensibilidade do psicólogo em utilizar todos os recursos disponíveis”, Dr. Valmor Borges vivenciados pela criança que estão relacionados a sofrimentos de ordem emocional”, continua a psicopedagoga. Com as sessões de psicoterapia, a criança, enquanto brinca, revela ao psicólogo os conflitos que a preocupam por meio de jogos e brincadeiras desenvolvidas em um espaço terapêutico especialmente preparado para isso. As sessões e o tipo de tratamento variam de acordo com cada criança e qual trabalho a ser desenvolvido. “Tudo que é excessivo é prejudicial, valendo também para os medicamentos. Talvez o foco deva estar em escolher bem os profissionais que vão acompanhar e proporcionar o tratamento”, explica o psicólogo Valmor Borges. “A atuação multiprofissional envolvendo psicologia, psiquiatria e neurologia proporciona, em geral, um resultado mais abrangente e “Deve prevalecer o bom senso, ouvir mais de uma opinião se possível”, Dra. Maria Lúcia bastante positivo. Por exemplo, quando o psiquiatra ou neurologista conduz o processo medicamentoso se valendo também da ação compartilhada do psicólogo que acompanha a criança, os resultados são mais acertados e eficientes, compondo uma abordagem ampla e segura para o paciente assistido”, continua o psicólogo. A importância de um psicólogo ao se fazer o diagnóstico do comportamento de uma criança não pode ser discutida. Esse tipo de acompanhamento ajuda muito nos tratamentos, tanto de transtornos como de traumas. “Não importa se a abordagem psicológica é humanística ou comportamental. O que vai fazer diferença é a sensibilidade do psicólogo em utilizar todos os recursos que tem disponíveis para proporcionar o alívio ou a cura definitiva”, lembra Valmor. “Também costumo ressaltar que, quando se trata de crianças e jovens, não são apenas eles que necessitam de atenção e espaço. As relações não são constituídas unilateralmente, e os pais também devem se dispor a analisar e considerar que alguns aspectos, ideias e formas de relacionamento impactam o desenvolvimento psicológico de seus filhos”, adverte o especialista. Assuntos como esse são delicados e muitas vezes vistos com olhos pouco favoráveis pela sociedade, mas com o tratamento certo até mesmo o jeito de ser das pessoas pode ser modificado, a ponto de uma pessoa antes reclusa se mostrar mais sociável. São muitos os tipos de tratamento para os mais variados tipos de problemas que uma pessoa possa vir a ter, mas em sua maior parte eles ajudam muito e são boas alternativas aos medicamentos cada vez mais receitados sem necessidade.