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MONOCULTIVO E PRODUÇÃO DE ALIMENTOS:
Avaliação preliminar da disponibilidade de alimentos no
Município de Montanha – ES no contexto 1996-2006.
Philipe Martins Paquiela¹
[email protected]
Departamento de Geografia
Universidade Federal do Espírito Santo – UFES
A atividade agropecuária brasileira, fundada antes mesmo do período colonial, tem
apresentado mudanças significativas na atualidade. Uma parte destas mudanças seriam
relativas ao modelo econômico vigente que, através de sua lógica de desenvolvimento,
tem promovido um processo de internacionalização da economia brasileira. Para
Oliveira (1995, pg. 468-469), “esse processo se dá no âmago do capitalismo mundial e
está relacionado, portanto, com o mecanismo da divida externa. Através dele os
governos dos países endividados criam condições para ampliar a sua produção,
sobretudo a industrial. Para pagar a dívida eles têm que exportar, sujeitando-se a
vender seus produtos pelos preços internacionais.” O referido autor ainda enfatiza que:
“os preços dessas matérias-primas (gêneros agrícolas e recursos minerais, exceto o
petróleo) tem baixado significativamente nas últimas décadas, por isso esses países têm
que ampliar a produção para poder continuar pagando a dívida.” Apesar de todos os
avanços dos últimos anos, o Brasil ainda ocupa um lugar na produção de produtos e
subprodutos de origem agrícola, pecuária, florestal e agroextrativista, comercialmente
denominados de commodities. Neste modelo de produção agrícola observa-se o
predomínio do capital financeiro, cuja direção orienta-se para uma especialização na
produção de determinadas commodities voltadas para o mercado externo com tendência
a concentração em grandes unidades de exploração, latifúndios, denominando-se
agronegócio. O Espírito Santo insere-se nesta perspectiva da atualidade. A partir da
década de 70 observam-se um intenso processo de crescimento econômico e de
modernização, disseminam-se o uso de novas técnicas de cultivo e de insumos
industriais modernos, possibilitando maiores níveis de produtividade e um caráter mais
dinâmico nas relações de produção, aliados ao aumento da concentração da posse da
terra e a disseminação de relações assalariadas. Segundo Bernardo Neto, (2009, pg.
144) “é nesse momento que se expandem as lavouras de alguns novos cultivos,
sobretudo, voltados à agroindústria e que se tornaram os principais gêneros da
economia agrícola capixaba como a silvicultura, voltada à produção de celulose (e em
menor escala ao fornecimento de carvão a siderúrgicas), e a cana-de-açúcar, matéria
prima do álcool combustível, cujo consumo aumenta significativamente entre o fim da
década de 70 e a década de 80, com o programa PROALCOOL”. Todos estes processos
continuam atuantes na atualidade, tendo o território, como face destes processos, uma
vez que é intrínseco a relação entre a agricultura familiar e a pequena propriedade com a
produção de gêneros alimentícios desde o período colonial, atravessando os diversos
ciclos econômicos ate a atualidade. A produção canavieira se expressa em grandes áreas
de cultivo espalhadas, especialmente, na região Norte do Espírito Santo. Inserida nesta
região, localiza-se o município de Montanha. Segundo dados da Produção Agrícola
Municipal (IBGE, 1996), a maior parte das áreas produtivas em 1996 era utilizada sob a
forma de pastagens, com mais de 70% das áreas. As áreas voltadas às lavouras em
repouso e áreas de lavoura temporárias representavam pouco mais de 5% do território,
destes, cerca de 45% eram ocupadas pelo cultivo de cana-de-açúcar. As produções de
feijão, abacaxi, mandioca, tomate e milho ainda ocupavam posições nos dados, embora
pequenas. Avaliando os dados relativos à próxima década (IBGE, 2006), observamos
mudanças bruscas: expandem-se pelo território o cultivo de lavouras temporárias, as
lavouras canavieiras mais que duplicam em área cultivada, contudo, os cultivos de
gêneros voltados diretamente à alimentação, como o feijão e o milho, desaparecem. A
partir desta premissa, buscamos compreender e atestar padrões e mudanças ocorridas no
meio rural do município de Montanha – ES, nos anos de 1996 – 2006, referentes à
expansão da lavoura sucro-alcoleira e a produção de alimentos, em vista a estrutura
fundiária, o desaparecimento de certos cultivos e as perspectivas da ampliação da
produção da lavoura canavieira. Observar-se-á ainda as relações econômicas no
município e suas relações com a produção, comercio e distribuição de alimentos. A
principal base de dados é a Produção Agrícola Municipal (1996-2006) e os Censos
Agropecuários (1996, 2006), realizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística – IBGE a níveis regionais, estaduais e/ou municipais. Outras bases como a
Pesquisa de Orçamento Familiar de 2002-2003 e dados do Instituto Jones dos Santos
Neves relativos a pesquisas e informações estatísticas do Estado do Espírito Santo são
também de grande valia. Alem destes, somam-se produções cientificas de outros
autores, pesquisa locais e produções de monografias relativas à região estudada e ao
processo de desenvolvimento da estrutura fundiária capixaba. Os resultados
preliminares vêm demonstrando uma relação entre as características físicas do relevo e a
expansão de grandes cultivos no Estado, vastas regiões de relevo plano e semiondulado, dotados de boas condições hídricas e um favorável escoamento da produção
por regiões limítrofes podem ter favorecido a expansão dos cultivos. Outro fator que
pode ter contribuído é a pratica da especulação imobiliária, o uso da terra como reserva
de valor à espera de uma melhor relação de compra/venda. O fator aglutinador das
grandes propriedades evidenciou-se no período, com o desaparecimento de pequenos
usos da terra, como as produções de tomate e melancia. Provavelmente, estas produções
visavam atender o mercado interno do município e, com a crescente especulação
imobiliária e a inauguração de diversas usinas de processamento da cana nos municípios
vizinhos, estas áreas tenham cedido às ofertas e sido incorporadas à produção, ou
mesmo, suas áreas de cultivo tem se apresentando em pequenas áreas não incorporadas
aos levantamentos. Áreas de pastagens foram, também, o grande alvo do crescimento da
cana-de-açúcar, seja através da compra da propriedade, seja através de praticas como o
fomento e o arrendamento. Atualmente, o Estado tem investido fielmente na expansão
destes grandes cultivos como oferta de produção ao mercado externo.
Concomitantemente, os cultivos voltados à alimentação para atender tanto o município,
como o mercado capixaba, perdem terreno. Espera-se que técnicas de geoprocessamento
e sensoriamento remoto venham a contribuir no acompanhamento das mudanças
observadas no campo e seus respectivos resultados nas áreas urbanas.
Bibliografia
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Censo Agropecuário. Brasil,
1996, 2006.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Produção Agrícola Municipal.
Brasil, 1995/1996, 2006.
BERNARDO NETO, Jaime. Pequenas Propriedades Rurais e Estrutura Fundiária
no Espírito Santo: uma tentativa de entendimento das particularidades capixabas.
2009. Monografia apresentada ao Curso de Geografia - Centro de Ciências Humanas e
Naturais, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2009.
OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino. Agricultura Brasileira: transformações Recentes.
In: ROSS, Jurandyr Luciano Sanches. (Org.). Geografia do Brasil. São Paulo: Edusp,
1995.
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