Belo Horizonte, 29 de novembro de 2011 Aftosa: Comissão divulga resoluções sobre foco no Paraguai – MAPA Os membros da Comissão Sul-Americana para a Luta Contra a Febre Aftosa (Cosalfa) anunciam, nesta quarta-feira, 30 de novembro, as ações corretivas a serem executadas para combater a febre aftosa no continente após o foco notificado recentemente no Paraguai. O tema será discutido nos dias 29 e 30 de novembro por representantes dos 11 países integrantes da comissão – Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Venezuela e Uruguai – durante a 4ª Reunião Extraordinária da Cosalfa. No encontro, os participantes também vão analisar o impacto da reaparição da doença na América do Sul no Plano de Ação 2011-2020 do Programa Hemisférico de Erradicação da Febre Aftosa (PHEFA). JBS descarta formar joint venture na China – Diário do Comércio e da Indústria (DCI) O presidente da holding J&F Participações e do conselho de administração da empresa de carnes JBS, Joesley Batista, descartou a formação de uma joint venture para atuar no mercado chinês, ao contrário do que fizeram seus concorrentes, Marfrig e BRF Brasil Foods. "Temos três escritórios e uma fábrica de couro na China. Não pensamos em fazer joint venture naquele país, vamos caminhar sozinhos. A China é muito grande, a demanda está crescendo em todos os setores, e acho que em carne não será diferente", disse o executivo, no 7º Congresso Paulista de Jovens Empreendedores, na Fiesp. Segundo Batista, o Brasil resolveu pendências quanto à questão sanitária com a China e agora entrou em um processo de habilitação de fábrica. "Hoje estamos vendendo mais frango, mas as vendas de carne bovina brasileira estão aumentando", explicou. Batista disse também que espera um Natal bom no Brasil e que já está sentindo resultados em vendas da campanha institucional de marketing, que está em veiculação somente em São Paulo, há cerca de um mês. Uma meta ambiciosa para a balança comercial – Valor Online A presidente Dilma Rousseff tem manifestado crescente preocupação com os reflexos da deterioração da crise internacional sobre a economia brasileira em 2012. Pessimista com a evolução dos problemas na zona do euro e nos Estados Unidos, a presidente surpreendeu ao cravar a meta de elevar as exportações a US$ 276 bilhões no próximo ano para mitigar o esperado aperto nas contas externas. Os dados de outubro já revelaram a retração dos financiamentos internacionais. A meta é ambiciosa sob vários aspectos, considerando os resultados recentes, as previsões do mercado financeiro e a expectativa para a economia mundial. É verdade que a balança comercial está surpreendendo neste ano e batendo sucessivos recordes. No início do ano, a previsão era que o saldo comercial seria de módicos US$ 8 bilhões; agora, a expectativa é que vai a US$ 28 bilhões. Até outubro, a diferença positiva entre exportações e importações acumulava US$ 25,4 bilhões, o maior resultado no período desde o início da crise internacional, em 2007; incluindo-se as três primeiras semanas de novembro, o saldo já chegou a US$ 26,7 bilhões. As exportações atingiram o recorde em média diária até outubro, totalizando US$ 212,1 bilhões; com as três primeiras semanas de novembro, chegam a US$ 225,7 bilhões. Com mais um mês de negócios, as exportações podem fechar o ano perto de US$ 240 bilhões. Daí para os US$ 276 bilhões almejados pela presidente seria um aumento de 15%, nada espantoso perto dos quase 30% deste ano. O desempenho surpreendente da balança comercial brasileira neste ano tem sido sustentado pelo forte aumento dos preços dos produtos exportados, especialmente das commodities. Os produtos básicos, que representam 39% da pauta de exportações, tiveram os preços reajustados acima das importações, favorecendo os termos de troca. O minério de ferro, a soja em grão e o petróleo, as três commodities mais exportadas pelo Brasil, exemplificam bem a situação. As exportações de minério de ferro aumentaram apenas 4% em quantidade neste ano até outubro, mas saltaram 51% em valor, totalizando US$ 34,5 bilhões, porque o preço do produto subiu 46%. No caso da soja em grão, o aumento de 33% do preço do produto fez com que a receita com a exportação aumentasse 37%, para US$ 14,7 bilhões, apesar de a quantidade embarcada ter sido ampliada em apenas 3%. No caso do petróleo, a quantidade exportada cresceu 4%, mas o valor exportado avançou 46%, para US$ 17,5 bilhões, porque o preço do produto teve reajuste de 40%. De acordo com dados da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex), publicados pelo Valor, os preços dos produtos brasileiros exportados aumentaram 25% na média, neste ano até outubro. No entanto, tudo indica que 2012 não deverá ser tão bom quanto 2011 para o comércio internacional e o principal motivo é o menor crescimento global, que terá impacto direto na redução dos preços dos produtos exportados. Na verdade, segundo a Funcex, o preço médio dos produtos brasileiros exportados, que vinham subindo desde 2009, recuaram 1% em setembro e outubro em comparação com agosto. É bastante provável uma recessão na zona do euro, destino de cerca de 20% das exportações brasileiras; a economia dos Estados Unidos, que absorve 10%, deverá ficar mais fraca; e a China, que abocanha 17,5% das vendas externas, está desacelerando. De acordo com especialistas consultados pelo Valor, o preço médio das exportações brasileiras pode cair 10% em 2012. Como as importações concentram-se mais em bens manufaturados, cujos preços são menos voláteis e devem cair menos, os termos de troca do comércio exterior brasileiro deixarão de ser tão favoráveis e o superávit comercial deve diminuir. A expectativa desses mesmos especialistas é que o saldo da balança comercial brasileira possa cair até pela metade, para US$ 15 bilhões a US$ 20 bilhões. Do lado positivo, há a desvalorização do real, que favorece as exportações. Mas esse não é um ponto líquido e certo, dada a volatilidade dos mercados. Para atingir o objetivo de ampliar as exportações, o governo Dilma deve retomar velhas promessas de desonerar as vendas externas e eliminar os conhecidos gargalos de logística e infraestrutura. Para analistas, BC cortará juro em mais 0,5 ponto – O Estado de SP Márcia de Chiara Antes da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), que termina amanhã, os economistas não consideram que os técnicos do BC tenham uma difícil tarefa pela frente. Isto é, cortar juros para reanimar a economia sob o risco de dar mais combustível para aumento de preços, mesmo considerando que a inflação não esteja morta. A rápida desaceleração do ritmo de atividade, captada pelo próprio índice do BC, o IBCBr, espécie de indicador antecedente do Produto Interno Bruto (PIB), que fechou o terceiro trimestre com queda de 0,3% ante o trimestre anterior, já descontadas as influências sazonais, dá respaldo para que o Copom reduza em 0,5 ponto porcentual a taxa básica de juros, de acordo com a maioria dos analistas de mercado. Hoje, os juros básicos estão em 11,5% ao ano. "A batalha da inflação está mais ou menos ganha para 2012", diz o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges. Segundo ele, o cenário atual é mais confortável para o corte de juros, do ponto de vista da inflação, olhando para o movimento dos preços na margem, mesmo com o reajuste do mínimo de 14,3% para 2012 e da resistência dos preços dos serviços. Para sustentar esse argumento, ele diz que a inflação neste mês e no próximo deve girar em torno de 0,5%. Essa estimativa indica uma variação anual entre 4,5% e 5,0% para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Borges considera que a própria desaceleração do ritmo de atividade deve segurar a inflação. "O BC está olhando para o cenário da economia para frente, não para a inflação corrente, que indica um IPCA de 6,5% neste ano." Além disso, ele considera que a nova Pesquisa de Orçamento Familiar (POF), que vai balizar o cálculo do IPCA a partir de janeiro, deve reduzir entre 0,2 e 0,3 ponto porcentual a inflação para o ano que vem, que ele projeta em 5,2%. Segundo o último Boletim Focus, do BC, divulgado ontem, o mercado espera alta de 5,56% para o IPCA em 2012. Conflito. Para a economista Zeina Latif, o velho conflito entre inflação e crescimento na hora de optar pelo corte na taxa de juros não é válido para o quadro atual da economia brasileira. "De fato, fomos surpreendidos pela crise e o cenário vai piorar daqui para frente", alerta a economista. Segundo ela, o fraco desempenho do terceiro e do quarto trimestres deste ano e do primeiro trimestre do ano que vem já está dado. Há uma piora da confiança do empresário, choque de investimento e diminuição da atividade da indústria, que já afetam a produção de veículos, observa. Esse quadro de forte desaceleração da atividade deve moderar os aumentos de preços, prevê. "Por isso, o BC pode cortar lentamente os juros para garantir a inflação na meta." Já para o sócio da RC Consultores, Fabio Silveira, a situação atual do BC nesta reunião do Copom é "mais delicada". "O grande desafio hoje é calibrar juros para ter crescimento de 3% em 2012, com inflação de 4,8%." Nesse sentido, ele avalia que seria necessário um corte maior de juros, de 0,75 ponto porcentual, para não afetar o ritmo de atividade no segundo semestre de 2012. Apesar da forte desaceleração, Silveira destaca alguns riscos inflacionários para o ano que vem, como os contratos indexados ao IGP-M, como os aluguéis. Outro risco de pressão inflacionária pode ocorrer com os alimentos, cujos preços são formados no mercado internacional. Se a alta do dólar persistir, o impacto nos preços em reais pode ocorrer no primeiro trimestre de 2012. Devagar com a louça – O Estado de SP José Paulo Kupfer Em menos de três meses, a crítica agressiva ao início de um ciclo de cortes na taxa básica de juros pelo Banco Central (BC) deu lugar a argumentos em linha com a ideia de que o Comitê de Política Monetária (Copom) poderia até acelerar o ritmo de queda. Essa hipótese passou a frequentar as análises mais recentes dos departamentos de pesquisa de bancos e consultorias de mercado, embora não como a mais provável. Como não parece ser esta a disposição da autoridade monetária, seria irônico, mas não descabido, imaginar que, dependendo do andar da carruagem, o BC possa agora vir a ser criticado por excessiva cautela no afrouxamento monetário. Depois da tempestade de críticas, vem a ironia. O tempo mostrou que, na volta do parafuso, o BC não errou ao "antecipar" o início do corte nos juros. Mas, por todos os motivos, poderia errar se acelerasse agora. Não só as incertezas na economia global ou as possibilidades de contágio da economia doméstica recomendam ação ativa, mas cautelosa. Os desequilíbrios econômicos tipicamente brasileiros exigem sintonia muito fina na política econômica. Tudo sugere que o acertado é ir devagar com a louça. O ambiente em que a economia brasileira navega, apesar de todas as incertezas, está razoavelmente circunscrito a um intervalo não muito aberto. Crescimento entre 3,5% e 4%, com uma inflação na casa dos 5,5%, eis o que se pode esperar, em cenários sem rupturas, para 2012. Não chega a ser o sonho macroeconômico de um país que almeja e precisa incluir mais gente - e, antes disso, manter incluídos os que ascenderam recentemente -, mas, sobretudo diante das circunstâncias adversas da economia global, dá para o gasto. Tentar trazer a inflação para os 4,5% do centro da meta, no fim de 2012, como insiste em anunciar o BC, e levar a economia a crescer 5%, como passou a declarar a Fazenda, exigiria esticar a corda provavelmente além dos benefícios que o movimento poderia proporcionar. Com a peculiaridade de que cada ponta da corda teria de puxar para o lado oposto, num caso de inviabilidade física. Nem sempre as combinações de política macroeconômica com o objetivo duplo de manter a inflação sob controle e estimular o crescimento são fadadas ao fracasso, como alguns podem imaginar. Mas, sem dúvida, os limites para essa ação combinada são estreitos e dependentes do quadro vigente. Na economia brasileira do momento, há espaço para esses movimentos combinados, mas as margens, tanto do lado monetário quanto do lado fiscal, são apertadas. No lado monetário, esses limites são dados pela perspectiva de que a inflação não desande, mas também não despreocupe. A permanência do emprego e da massa salarial ainda em níveis altos, se bem que em ponto menor, contribui para manter pressão de demanda, principalmente no setor de serviços. Além disso, mesmo com tendência à moderação nesse segmento e de alguma redução na contaminação dos preços internos pelo vaivém das commodities internacionais, uma provável, ainda que não agressiva, desvalorização mais contínua do real pode contribuir para neutralizar o rumo baixista da trajetória dos preços. Diante desses limites e com a certeza de que o risco de que a crise global promova turbulências no mercado interno de crédito já é mais do que uma hipótese, a fórmula da política monetária parece dispor de apenas um roteiro: a necessária moderação nos cortes da taxa Selic - até 9% ou 10% ao ano, na metade de 2012 - obrigará a uma reversão gradual e de acordo com as necessidades, das medidas macroprudenciais vigentes. Como, aliás, começou a ser feito em meados de novembro e há espaço para prosseguir. No lado fiscal, o limite deve vir de uma dupla restrição: uma esperada redução no ritmo da arrecadação, amplificada pela intensificação nas isenções para setores específicos e pelos impactos do aumento do salário mínimo nos gastos correntes do governo. O estreitamento do canal fiscal leva as projeções para 2012 a convergirem para um superávit primário de 2,5%, abaixo da meta de 3,1%, que, diga-se, será alcançada em 2011. A chave da política econômica em 2012 se chama investimento. Infelizmente, mais do que empurrá-lo ladeira acima, o esforço será recuperar o terreno perdido em 2011. Difícil acreditar, contudo, que o governo conseguirá, em ano eleitoral, conter seu consumo corrente, para justamente alargar o espaço do investimento, pelo menos nos níveis requeridos. O resumo da história é que a tentação de nadar na direção de um afrouxamento mais rápido no lado fiscal pode levar a economia a morrer na praia. Os limites do crescimento – O Estado de SP José Márcio Camargo Entre o início dos anos 90 e 2005, o Brasil viveu um intenso processo de reformas estruturais. Abertura da economia, fim da reserva de mercado para informática, privatizações, reformas do Estado, da previdência social, do crédito, Lei de Responsabilidade Fiscal, programas de transferência de renda condicionados à frequência das crianças às escolas, etc. Os resultados foram uma forte queda da relação dívida pública/PIB, melhoria do nível educacional da população, universalização do ensino fundamental e expressivos aumentos de produtividade e da taxa de investimento da economia. Uma revolução dessa dimensão não é feita sem custos. Setores que sobreviviam em razão dos elevados níveis de tarifas e de restrições não tarifárias às importações desapareceram. Ao mesmo tempo, houve forte queda dos preços dos bens de capital e aumento dos investimentos. Inovações tecnológicas que normalmente vêm incorporadas aos bens de capital foram introduzidas na economia e setores que tinham vantagens comparativas claras, como a agroindústria e setores intensivos em recursos naturais, tiveram desempenho espetacular. O ajuste do mercado de trabalho a essa nova realidade não foi fácil. As inovações tecnológicas e mudanças da estrutura produtiva transformaram drasticamente a estrutura da demanda por ocupações. Como é difícil mudar a qualificação da mão de obra no curto prazo, os resultados foram um descompasso entre oferta e demanda por trabalho durante um longo período e a persistência de elevados níveis de desemprego, que passou de 5% da força de trabalho, no final dos anos 80, para 13%, no final dos anos 90. Com o passar dos anos, a estrutura de oferta de qualificação se adaptou à da demanda, em razão da universalização do ensino fundamental, dos programas de treinamento e qualificação e da entrada de uma nova geração, mais educada, no mercado de trabalho, o que fez com que a taxa de desemprego retornasse a 6% da força de trabalho. Com os ganhos de produtividade e a lenta, mas persistente, adaptação da estrutura da qualificação da força de trabalho, foi possível ao País crescer a taxas próximas a 4,5% ao ano nos últimos dez anos, sem gerar pressões inflacionárias insustentáveis. Ante esse desempenho relativamente favorável, o processo de reformas - que deveria prosseguir na direção do aumento da qualidade do sistema educacional público, do reforço das condicionalidades dos programas de transferência de renda, do aprofundamento das reformas do mercado de trabalho e da previdência social e da a criação de instituições para incentivar os investimentos privados em infraestrutura (PPPs, por exemplo) - foi interrompido. Concentraram-se esforços em políticas que privilegiaram o aumento do consumo, como os programas assistencialistas (não condicionados) de transferência de renda (o governo federal gasta hoje três vezes mais com esses programas que com investimentos, 16,7% ante 6,85% do gasto total, respectivamente), aumentos do salário mínimo e dos gastos correntes do governo, deixando de lado as preocupações com ganhos de produtividade e aumento dos investimentos. Essa mudança foi, provavelmente, um dos fatores que fizeram com que a redução da desigualdade e da pobreza, que já vinha ocorrendo desde o início dos anos 90, tenha se intensificado, constituindo-se num importante fator positivo dessa estratégia. Mas, ao abandonar as reformas, não foram criados incentivos adequados ao contínuo aumento do investimento (em capital físico e humano - educação e saúde) e da poupança (recursos financeiros e tempo dos jovens dedicado à educação), reduzindo a taxa de crescimento de longo prazo. Com os baixos níveis de poupança e investimento e o fim da capacidade ociosa, a economia atingiu seu limite de crescimento, dado por uma taxa de investimento de 17,5% do PIB e crescimento de 2,2% da força de trabalho. Como para gerar 1 ponto de porcentagem (p.p.) de crescimento do PIB são necessários 4,5 p.p. de crescimento do estoque de capital (aproximadamente a média internacional da relação entre investimento e aumento do PIB para países como o Brasil), ou 0,6 p.p. de aumento do emprego, sem ganhos de produtividade a taxa de crescimento sustentável está um pouco abaixo de 4% ao ano. Usar as políticas monetária, creditícia e fiscal para forçar essas restrições apenas gera mais inflação. O colunista Celso Ming está em férias. Professor do Departamento de Economia da PUC/Rio, Economista da Opus Investimentos. Safra e importação pressionam leite no país – Valor Online Alda do Amaral Rocha O início da safra em importantes regiões de produção do país e as crescentes importações de leite em pó colocam pressão no mercado nacional de leite. Neste mês, os produtores brasileiros receberam, em média, R$ 0,822 pelo litro do leite (entregue em outubro), segundo a Scot Consultoria. No mês anterior, haviam recebido, em média, R$ 0,841 por litro. Rafael Ribeiro, analista da Scot, afirma que a oferta cresceu com o aumento da produção nas bacias leiteiras do Centro-Oeste, Sudeste, Nordeste e Norte do país. Este ano, acrescenta, as chuvas atrasaram um pouco - tradicionalmente começam em setembro -, mas isso não impediu a pressão de oferta. De acordo com Ribeiro, a demanda menor neste período do ano também influencia a queda dos preços. "O atacado [de leite longa vida] está sem sustentação desde outubro", afirma. A razão é que houve formação de estoques no varejo, segundo ele. Pelo levantamento da Scot, o preço do leite longa vida no varejo paulista caiu de R$ 2,40, em média, em outubro para R$ 2,32 o litro em novembro. No atacado, saiu de R$ 1,86 para R$ 1,79 o litro na mesma comparação. Laércio Barbosa, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Leite Longa Vida (ABLV), afirma que o produto começou a cair em setembro, depois de atingir pico de R$ 1,95 o litro no atacado. Hoje está na casa dos R$ 1,65, informa. Para ele, "a safra influencia", mas a recente queda está relacionada também ao avanço das importações de leite em pó este ano. "As empresas deixaram de produzir leite em pó e produziram mais longa vida", diz. Entre janeiro e outubro deste ano, o país importou US$ 507 milhões em produtos lácteos, um aumento de 113,4% sobre igual período de 2010, segundo dados do Ministério da Agricultura. O real valorizado ante o dólar durante a maior parte do ano tirou a competitividade do produto brasileiro e acabou favorecendo as exportações de lácteos dos vizinhos do Mercosul, como Uruguai e Argentina, ao Brasil. As compras do Uruguai foram as que mais cresceram, já que com a Argentina vigora um sistema de cotas que limita as importações de leite em pó daquele país. Neste ano, os argentinos tentaram ampliar a cota de 3.300 toneladas mensais para até 5 mil toneladas, mas o Brasil não concordou. Só este mês, um acordo entre os setores privados dos dois países definiu a cota em 3.600 toneladas por mês. Segundo Bruno Lucchi, assessor técnico da Comissão Nacional da Pecuária de Leite da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), as vendas de leite em pó do Uruguai para o Brasil ganharam espaço neste ano. Em setembro, foram 4.475 toneladas e em outubro, 5.500 toneladas, um recorde. Além de incomodar o setor de leite brasileiro, o avanço uruguaio também já gera reclamações dos argentinos. De acordo com Lucchi, em 2008, quando o Brasil importou 30 mil toneladas de leite em pó, 74% foram provenientes da Argentina e 15% do Uruguai. Este ano, até outubro (74,7 mil toneladas), 54,5% vieram da Argentina e 39% do Uruguai. Ele observa que as importações de queijo também cresceram este ano, aumentando a concorrência com a indústria nacional. Ribeiro, da Scot, diz que a expectativa é de que oferta de leite para processamento siga em alta até fevereiro. A notícia favorável aos produtores é que os custos devem cair, já que as boas condições das pastagens reduzem a necessidade de suplementação com grãos. AGORA VAI? – Jornal Zero Hora Já há algum tempo o Brasil tenta rastrear todo seu rebanho bovino e bubalino Já há algum tempo o Brasil tenta rastrear todo seu rebanho bovino e bubalino. É, aliás, condição indispensável para frigoríficos e pecuaristas interessados em exportar para os mercados que pagam mais pela carne. Experiências anteriores não foram muito bemsucedidas sobretudo porque transferiam para os produtores a maior parte do custo da rastreabilidade. Agora, Ministério da Agricultura e governo do Estado se unem nem poderia ser de outra maneira para alcançar uma meta ousada: rastrear 14 milhões de cabeças de gado no Estado. Pelo tamanho do rebanho gaúcho, muito menor do que o do Brasil Central, a experiência pode servir de teste e, mais adiante, de modelo para o resto do país. Mas, novamente, é importante que os custos da rastreabilidade não recaiam exclusivamente sobre os produtores. O investimento, que não é pequeno, tem de ser dividido por toda a cadeia produtiva. Quanto à necessidade de o país ter todo seu rebanho rastreado, já passou da hora. Os consumidores brasileiros também merecem essa garantia de qualidade. Controle de gado obrigatório no RS Terneiros nascidos no segundo semestre de 2012 darão início a projeto que servirá de modelo Com os recursos garantidos por emenda apresentada ao orçamento da União, o projeto de rastreamento do rebanho gaúcho começa a ganhar fôlego. A partir do segundo semestre do ano que vem, terneiros nascidos no Estado deverão receber brinco com chip, em uma iniciativa modelo, a ser adotada também no restante do país. Diferentemente do que ocorre hoje, a identificação dos animais será obrigatória e subsidiada pelo governo – ou seja, será gratuita –, em um investimento de R$ 100 milhões. Para 2012, a bancada gaúcha já destinou uma emenda ao orçamento da União no valor de R$ 20 milhões. Um acordo entre os parlamentares prevê a reapresentação da emenda nos próximos quatro anos, para que o programa não seja interrompido. – Faremos uma legislação estadual que torne obrigatório o rastreamento, também definindo as regras para a implementação. A ideia é que entre março e abril a Assembleia possa votar – afirma o secretário estadual da Agricultura, Luiz Fernando Mainardi. Uma das ações do Programa de Valorização da Carne Gaúcha, o projeto de rastreabilidade tem como meta atingir 100% do rebanho gaúcho – hoje em 14 milhões de cabeças de gado. – Os animais serão rastreados por faixa etária. Vamos começar pela geração nascida no segundo semestre, usando como referência o modelo exitoso do Uruguai – explica a coordenadora da Câmara Setorial da Carne Bovina da Secretaria Estadual da Agricultura, Anna Suñé. No Estado, um grupo técnico da Secretaria Estadual de Agricultura e vem trabalhando nas definições do projeto. Conforme Anna, uma das questões avaliadas é de como será feita a transferência dos dados daquele produtor que hoje já tem o gado rastreado e utiliza a Base Nacional de Dados.