Física Atómica e Nuclear – Capítulo 5. Interacção dos Átomos com a Radiação Electromagnética. 67 Física Atómica e Nuclear Notas de Aula 5 Interacção dos Átomos com a Radiação Electromagnética Existem três processos de interacção dum átomo com a radiação electromagnética. No primeiro processo, um átomo pode fazer uma transição espontânea passando de um estado excitado para um estado de energia mais baixa, emitindo um fotão, que é o quantum do campo electromagnético. No segundo, um átomo absorve um fotão de um feixe de radiação, e faz uma transição de um estado de menor energia para um estado de maior energia. A taxa de absorção é proporcional a intensidade do campo aplicado. No terceiro processo, chamado de emissão estimulada, os átomos podem emitir fotões sob a influência de um campo de radiação aplicado, e se distingue da emissão espontânea, porque a taxa de transição é proporcional a intensidade do campo aplicado, como acontece com a absorção. As emissões estimuladas têm importantes aplicações práticas como o laser que produz um feixe intenso de radiação coerente. Para fazer este estudo utilizaremos uma combinação de teoria electromagnética simples, teorias parcialmente clássicas como o modelo de Bohr e mecânica quântica. Um tratamento utilizando só a mecânica quântica, exigiria um conhecimento mais avançado de electromagnetismo. Esse tratamento é justificável pelo facto dos resultados concordarem com a abordagem puramente da mecânica quântica. 5.1 Fontes de Ondas Electromagnéticas A fonte das ondas elásticas, como o som, é um corpo vibrante, por exemplo, a corda de um violão. E quanto as fontes das ondas electromagnéticas? Estas fontes são as mesmas que produzem os campos electromagnéticos, ou seja, cargas eléctricas em movimento. As equações de Maxwell prevêem que as cargas aceleradas emitem ondas electromagnéticas. Podemos citar dois casos importantes de fontes de ondas electromagnéticas: numa delas as cargas em movimento constituem um dipolo eléctrico oscilante (com p p0 sin t ) e no outra correspondem a um dipolo magnético oscilante (com oscilação da corrente: I I 0 sin t ). O que nos interessa é o caso do dipolo eléctrico, porque a descrição mais simples de uma distribuição de carga do átomo que oscila é a de um momento de dipolo eléctrico. Um dipolo eléctrico oscilante é produzido quando o movimento relativo de cargas positivas e negativas são descritas, conjuntamente, através de um dipolo eléctrico, cujo momento varia com o tempo de acordo com p p0 sin t , como é o caso por exemplo, de um electrão num átomo quando o seu movimento normal é perturbado, ou de uma corrente oscilatória numa antena linear de uma estação de rádio. Se o momento dipolar eléctrico é constante, o único campo produzido é o campo eléctrico. Mas quando está oscilando, o campo eléctrico também oscila e, por isso depende do tempo, o que significa que está presente também um campo magnético, como estabelece a lei de Ampère-Maxwell1. Isto também pode ser visto no facto de um campo eléctrico 1 E B 0 J 0 0 t Notas de Aula 2004/05 Ana Rodrigues Física Atómica e Nuclear – Capítulo 5. Interacção dos Átomos com a Radiação Electromagnética. 68 oscilante ser equivalente a uma corrente que oscila linearmente, e uma corrente eléctrica oscilante produzir um campo magnético oscilante. A densidade de energia de radiação pode ser obtida a partir do vector de Poyting: 1 S EB 0 (5.1) A energia electromagnética irradiada pelo dipolo eléctrico é: 1 2 q 2a 2 R 40 3 c 3 (5.2) onde q é a carga eléctrica, a a sua aceleração, c a velocidade da luz e 0, a permitividade eléctrica. R corresponde a taxa de radiação de energia pela carga acelerada. Considere uma carga q vibrando em torno da origem do eixo x, com um movimento harmónico simples, cujo deslocamento é x d sin t . A aceleração da carga é dada por: a d 2x d 2 sin t 2 x dt 2 (5.3) Substituindo este valor para a aceleração em R: 2q 2 4 x 2 2q 2 4 d 2 sin 2 t R 40 3c3 40 3c3 (5.4) Integrando em relação a um período de vibração, obtemos a taxa média de radiação: 2q 2 4 d 2 1 2q 2 4 d 2 1 q 2 4 d 2 2 dt sin t 40 3c3 T 0 40 3c3 2 40 3c3 T R (5.5) Fazendo 2 obtemos: R Notas de Aula 2004/05 16 4 4 q 2 d 2 40 3c3 (5.6) Ana Rodrigues Física Atómica e Nuclear – Capítulo 5. Interacção dos Átomos com a Radiação Electromagnética. 69 mas qx é o momento de dipolo eléctrico quando o dipolo está vibrando com a carga em x2. Assim a amplitude do momento do dipolo eléctrico é qd (d corresponde a distância entre as cargas do dipolo). Fazendo qd=p, obtemos a expressão: R 4 3 4 p 2 3 0c3 (5.7) 5.2 Transições Ópticas e Regras de Selecção Quando átomos de hidrogénio são excitados para níveis de energia mais altos, como por exemplo, numa colisão com electrões energéticos num tubo de descarga de gás, os átomos farão espontaneamente transições para os níveis de energia mais baixos, consecutivamente. As frequências discretas emitidas por todas as transições que ocorrem, constituem as linhas do espectro. As medidas experimentais mostram que na verdade nem todas as transições ocorrem. Observa-se que são emitidos fotões unicamente com frequências correspondentes a transições entre os níveis de energia cujos números quânticos satisfazem às seguintes regras de selecção: l 1 (5.8) j 0,1 (5.9) Medidas de espectros demonstram que estas regras de selecção também são válidas para qualquer átomo de um electrão. Todas as regras de selecção podem ser obtidas a partir do cálculo das taxas de transição, porque estas regras especificam quais transições têm taxas tão pequenas que não podem ser normalmente observadas. Vamos supor que uma partícula se encontra num estado tal que a medida de sua energia total pode dar apenas um único resultado, que é o valor próprio E. Esta partícula é descrita pela função própria: r eiEt / 2 (5.10) Dipolo eléctrico Notas de Aula 2004/05 Ana Rodrigues Física Atómica e Nuclear – Capítulo 5. Interacção dos Átomos com a Radiação Electromagnética. 70 Como aqui a dimensão não importa, não precisamos considerar as três coordenadas, e supomos que é o caso de um electrão do átomo de hidrogénio no estado fundamental. A função densidade de probabilidade será: x eiEt / x eiEt / x x (5.11) Ela não depende do tempo, portanto é uma constante no tempo. Vamos agora supor uma partícula num estado tal que uma medida de sua energia total pode ser qualquer um dos dois resultados: o valor próprio E1 ou o valor próprio E2. Agora, a função de onda que descreve a partícula é: c1 1 x eiE1t / c2 2 x eiE2t / (5.12) e corresponde a uma mistura de duas funções de onda associadas aos dois estados quânticos, que são os dois níveis de energia E1 e E2 . Este seria também o caso de um electrão que estivesse no processo de transição de um estado excitado para o estado fundamental do átomo. Observe que neste caso, a densidade de probabilidade é uma função oscilatória do tempo: c1c1 1 x 1 x c2c2 2 x 2 x c2c1 2 x 1 x ei E2 E1 t / c1c2 1 x 2 x ei E2 E1 t / (5.13) A probabilidade oscila no tempo com uma frequência: E2 E1 h (5.14) Como já dissemos anteriormente o momento de dipolo eléctrico é a descrição mais simples de uma distribuição de carga de um átomo que oscila, e corresponde ao produto da carga do electrão pelo valor esperado do seu vector deslocamento em relação ao núcleo massivo praticamente fixo (p=-ed). Ver Figura 5.1. é d Núcleo Figura 5.1. Vector posição do electrão, em relação ao núcleo. Notas de Aula 2004/05 Ana Rodrigues Física Atómica e Nuclear – Capítulo 5. Interacção dos Átomos com a Radiação Electromagnética. 71 A energia electromagnética irradiada pelo dipolo, é levada pelos fotões cujas energias são h, portanto a taxa de emissão de fotões (ou número de fotões que são emitidos), corresponde à: RF R energia 4 3 3 p 2 h energia de cada fotão 3 0 hc 3 (5.15) Esta probabilidade por segundo, de que um fotão seja emitido é exactamente igual a probabilidade por segundo de que o átomo sofra uma transição. O que significa que RF também é a taxa de transição atómica. O dipolo eléctrico p do átomo de um electrão, em relação a uma origem situada no núcleo que está praticamente fixo, é definido por: p er (5. 16) onde e é a carga do electrão e r o vector posição em relação ao núcleo. Para se obter uma expressão para a amplitude do momento de dipolo eléctrico oscilante do átomo, quando o seu estado é uma mistura de estados próprios, calculamos o valor esperado de p , a partir da densidade de probabilidade do estado misto, obtido anteriormente (5.13): c1c1 1 1 c2c2 2 2 c2c1 2 1ei E2 E1 t / c1c2 1 2ei E2 E1 t / (5.17) Neste momento não temos possibilidades de determinar os valores dos parâmetros ajustáveis c1 e c2, que especificam a proporção correcta dos dois estados da mistura. Mas os resultados que pretendemos são independentes dos valores que eles assumem, e então para simplificar, consideraremos ambos iguais a 1: c1=1 e c2=1. Além disso vamos substituir os índices: 2i e 1f. Assim a densidade de probabilidade fica: i E E t / i E E t / f f i i i f e i f f i e i f (5.18) A densidade de probabilidade não está normalizada (não calculamos c1 e c2), portanto quando a utilizamos para o cálculo do valor esperado de p obtemos apenas uma proporcionalidade, o que é suficiente para os nossos cálculos: p er d er d (5.19) i E E t / p f er f d ier i d e i f ier f d i E E t / e i f f er i d (5. 20) ou Notas de Aula 2004/05 Ana Rodrigues Física Atómica e Nuclear – Capítulo 5. Interacção dos Átomos com a Radiação Electromagnética. 72 As integrais são tridimensionais. As duas primeiras integrais a direita não estão associadas com p oscilante. Na verdade são nulas. As duas últimas estão ambas multiplicadas por exponenciais complexas, com uma dependência temporal que oscila na frequência: 1 Ei E f Ei E f 2 h (5.21) As integrais (5.20) descrevem as oscilações do valor esperado do momento de dipolo eléctrico, cuja amplitude é dada pelo valor da integral em cada termo. Dessa forma encontramos que a amplitude do momento de dipolo eléctrico é proporcional à quantidade pfi, onde: p fi f er i d (5.22) Esta grandeza é denominada de elemento de matriz do momento de dipolo eléctrico entre os estados inicial e final. O valor de pfi depende do comportamento do átomo tanto no estado inicial através de i , como no estado final, através de f . Isto faz sentido porque o átomo que irradia está numa mistura dos dois estados. Na expressão (5.15), que corresponde a taxa de emissão de fotões, fazemos p proporcional a pfi. Assim: 3 p 2fi RF 0 hc 3 (5.23) onde RF é a taxa de transição. Obtivemos este resultado com argumentos parcialmente clássicos. Um argumento mais sofisticado utilizando a mecânica quântica de Schrödinger, leva a resultados semelhantes, excepção feita para a constante numérica de proporcionalidade que fica determinada: RF 16 3 3 p 2fi 3 0 hc 3 (5.24) A mesma equação pode ser deduzida de forma mais rigorosa a partir da teoria da electrodinâmica quântica que fornece um tratamento exacto das propriedades de quantização dos campos electromagnéticos. Embora os resultados não sejam diferentes, a electrodinâmica quântica dá uma descrição mais completa da emissão de fotões pelos átomos excitados. Em particular ela explica como o átomo que irradia aparece no estado misto. Isto ocorre em consequência de uma espécie de interacção ressonante entre as vibrações de frequência apropriada, no campo de radiação electromagnética que envolve o átomo e o átomo em seu estado inicial. A interacção induz oscilações de carga dessa frequência, característica do estado misto, e então o átomo emite radiação Notas de Aula 2004/05 Ana Rodrigues Física Atómica e Nuclear – Capítulo 5. Interacção dos Átomos com a Radiação Electromagnética. 73 de mesma frequência. A figura 5.2 mostra um esquema da emissão de fotões por um átomo. Figura 5.2. Uma ilustração esquemática que mostra a emissão de um fotão pelo átomo Na verdade, todos os sistemas ligados de cargas eléctricas, como é o caso dos átomos, moléculas, sólidos e núcleos, que se encontre num nível de energia excitado, pode passar a um nível de menor energia de forma espontânea (emissão espontânea). Caso esteja presente uma radiação de frequência apropriada, o sistema pode ser induzido ou estimulado a passar ao nível inferior (emissão estimulada). Em qualquer dos dois casos o sistema emite fotões. A transição de um sistema de um nível de energia inferior é também uma transição induzida, uma vez que apenas pode se dar em presença de um campo electromagnético (ver Figura 5.3). Figura 5.3. Na figura da esquerda o electrão está no estado A e por absorção de um fotão de energia conveniente transita para o estado B. Na parte direita mostra-se o processo inverso de desexcitação. Trata-se de uma representação esquemática, de algum modo inspirada no celebrizado “modelo de Bohr”do átomo que não corresponde a uma descrição rigorosa da realidade. Notas de Aula 2004/05 Ana Rodrigues Física Atómica e Nuclear – Capítulo 5. Interacção dos Átomos com a Radiação Electromagnética. 74 A probabilidade de emissão espontânea de fotões depende unicamente da estrutura interna do sistema, enquanto que nos processos de emissão estimulada e absorção, dependem do campo eléctrico aplicado. Em campos intensos a emissão estimulada é muito intensa e o átomo irradia com muita eficiência (ver Figura 5.4). A emissão estimulada tem uma importante aplicação no LASER (“Light Amplification by Stimulated Emission of Radiation” e MASER (“Mcrowave Amplification by Stimulated Emission of Radiation”), que produzem intensos feixes coerentes de radiação. Quando um electrão está num estado de energia alta acabará, mais tarde ou mais cedo, por “decair” radioactivamente para um estado de energia mais baixa. Ora, o tempo de vida dos estados excitados não é sempre o mesmo. Os estados excitados podem “viver” pouco tempo - tempos da ordem de 10 8 s - ou tempos muito grandes – da ordem de alguns milissegundos. Os estados excitados com longos tempos de vida – da ordem de 10 3 s – são designados meta-estáveis. Figura 5.4. Emissão estimulada. Já dissemos que se um fotão de energia apropriada é absorvido por um electrão, induz uma transição deste para um estado de energia mais alta. Ora, também um fotão do mesmo tipo pode provocar (ou estimular) a imediata desextitação de um átomo que se encontre num estado meta-estável. Concretamente, se o átomo com o electrão no estado B absorver radiação electromagnética de frequência , desexcita imediatamente com emissão de um fotão idêntico ao que levou à excitação, como se mostra na Figura 5.4. Fala-se, neste caso, em emissão estimulada. O aspecto crucial desta emissão estimulada é o facto de os dois fotões (o incidente e o emitido de forma estimulada) se propagarem em fase, numa mesma direcção, reforçando-se assim mutuamente. A radiação produzida diz-se coerente. Então, se tivermos uma amostra de átomos excitados no estado B, um simples fotão inicial pode desencadear um processo em cadeia de desexcitação estimulada: um fotão “inicial” induz o aparecimento de dois fotões idênticos; cada um deles induz o aparecimento de outros dois, e rapidamente todos os átomos são afectados pelo processo em avalanche. A taxa de transição espontânea (5.15) depende exclusivamente das propriedades das funções próprias do átomo. Como conhecemos as funções próprias podemos calcular os elementos de matriz do momento de dipolo eléctrico entre os diversos pares de níveis de energia pfi, e assim calcular as taxas de transição entre estes níveis de Notas de Aula 2004/05 Ana Rodrigues Física Atómica e Nuclear – Capítulo 5. Interacção dos Átomos com a Radiação Electromagnética. 75 energia. Existem transições para as quais as linhas espectrais não são observadas experimentalmente ou são muito fracas. As taxas de transição são previstas serem zero nesses casos porque as integrais nos elementos de matriz do dipolo eléctrico são nulas. Podemos definir as regras de selecção como sendo um conjunto de condições sobre os números quânticos das funções próprias dos estados de energia inicial e final, de forma que pfi são nulos quando calculados com pares de funções próprias cujos números quânticos não satisfazem essas condições. Fisicamente, as regras de selecção aparecem por causa das propriedades de simetria da distribuição de carga oscilante do átomo. O átomo só pode irradiar como um dipolo eléctrico se o momento de dipolo eléctrico de sua distribuição de carga electrónica estiver oscilando. Matematicamente, as responsáveis pelas regras de selecção são as propriedades de simetria das funções próprias nos elementos de matriz. Podemos entender o que se passa considerando a paridade das funções, definida como sendo a qualidade do seu comportamento quando trocamos o sinal das suas coordenadas. Assim, as funções próprias que satisfazem a relação: x, y, z x, y, z (5.25) são de paridade par, e aquelas que satisfazem a relação: x, y, z x, y, z (5.26) são de paridade ímpar. Toda função própria que tenha um estado ligado como solução da equação de Schrödinger independente do tempo para um potencial do tipo V r , como é o caso do potencial de Coulomb, tem paridade definida, ou seja, é par ou ímpar. Isto porque quando calculamos a densidade de probabilidade, ela terá o mesmo valor tanto no ponto x, y, z como no ponto x, y, z , condição que é necessária para que o potencial tenha o mesmo valor nesses pontos. ______________________________________________________________________ Exemplo 5.1. Determinar o valor da integral I quando fazemos x x . I x x x dx . Agora substituímos x por – x . I x x x d x Claro que o valor da integral permanece o mesmo. Observe que tivemos que trocar os limites da integral. Agora mudamos novamente os limites da integral, portanto d x d x : Notas de Aula 2004/05 Ana Rodrigues Física Atómica e Nuclear – Capítulo 5. Interacção dos Átomos com a Radiação Electromagnética. 76 I x x x d x Agora utilizaremos a propriedade de simetria da função de onda: ímpar). Como a função é a mesma ela tem a mesma paridade. x x (ou ela é par ou é I x x x d x x x x d x I . Obtemos que I I , o que significa que I=0. Este é um resultado muito importante. Mostra que o valor da integral é zero, e que este resultado foi obtido sem ter feito nenhuma integração. Utilizamos somente as propriedades de simetria da função. _________________________________________________________________ Vamos considerar as funções próprias dos átomos de um electrão. Quando o sinal das coordenadas rectangulares é trocado, as coordenadas esféricas sofrem as seguintes transformações: r r (5.27) Ver a Figura 5.5. Fazendo as mudanças de variáveis nas funções próprias obtemos a relação: nlm r, , 1l nlm r, , (5.28) Figura 5.5. Ilustração da operação paridade. ψ será par se l for par l A paridade será dada por 1 : nlm ψnlm será ímpar se l for ímpar Notas de Aula 2004/05 Ana Rodrigues Física Atómica e Nuclear – Capítulo 5. Interacção dos Átomos com a Radiação Electromagnética. 77 Isto é verdadeiro para toda função própria, de estado ligado ou não, para qualquer potencial V r esfericamente simétrico, porque a única hipótese usada em (5.28) foi a de que o potencial possa ser escrito como V r . Agora vamos considerar o elemento de matriz de momento de dipolo eléctrico. p fi f er i d (5.29) A paridade de er ex, y, z é ímpar, porque quando o sinal das coordenadas é trocado, e x, y, z er , ou seja, o vector é multiplicado por 1 . Consequentemente se as funções próprias inicial, i e final, f , forem de mesma paridade (ambas par ou ambas ímpar), o integrando terá paridade ímpar, a integral será zero, portanto a taxa de transição será nula também. Concluímos então que para que haja uma transição de dipolo eléctrico, a paridade de f terá que ser diferente da paridade de i . As paridades são dadas por 1 , portanto verifica-se que l 0 ou l 2 são transições proibidas e somente as transições l 1 são permitidas como está indicado em (5.8). Existe uma probabilidade muito pequena de que haja emissão de radiação devida as oscilações na orientação do spin do electrão ( 104 ). Pode também ocorrer emissão de fotões com uma probabilidade menor ainda, a partir das oscilações de momento de quadrupolo eléctrico ( 106 ). E quanto a l 3 e a regra de selecção para o número quântico j? A electrodinâmica quântica mostra, e é verificado experimentalmente, que um fotão possui um momento angular intrínseco (de spin) Sfotão , portanto sfotão 1 , além do momento linear. Além disso a teoria mostra que o momento angular intrínseco de um fotão emitido numa transição de dipolo eléctrico é igual a 1, em unidades de . Deste ponto de vista, a regra de selecção que envolve o número quântico associado ao momento angular total, j 0,1 , representa a condição de conservação do momento angular (fundamentalmente uma propriedade de simetria) ao restringir as transições de dipolo eléctrico a pares de estado para os quais a variação do momento angular total do átomo possa ser compensada pelo momento angular do fotão emitido na transição. Quando j=0, a conservação do momento angular é satisfeita pela mudança da orientação espacial do vector angular total do átomo quando o fotão é emitido. Sob esta perspectiva, fica claro porque não ocorrem transições de dipolo eléctrico quando l 3 , pois provocaria uma mudança do momento angular total que não era compensada pela emissão do fotão, embora estas transições não violassem a regra de paridade referida anteriormente. Gostaria de fazer uma observação a respeito da função de onda do electrão uma vez que só temos utilizado até agora nlm . A função de onda total ou o estado do electrão no átomo hidrogenóide tem que levar em conta o spin. Então devemos escrever que: l total nlm (5. 30) onde nlm foi obtida directamente através da equação de Schrödinger e foi introduzido para representar o estado do spin que será determinado no próximo capítulo. Notas de Aula 2004/05 Ana Rodrigues Física Atómica e Nuclear – Capítulo 5. Interacção dos Átomos com a Radiação Electromagnética. Notas de Aula 2004/05 78 Ana Rodrigues