2009 3.ª edição

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3.ª edição
2009
© 2006-2009 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais.
P324
Paula, Ercília Maria Angeli Teixeira de; Mendonça, Fernando
Wolff. / Psicologia do Desenvolvimento. / Ercília Maria
Angeli Teixeira de Paula; Fernando Wolff Mendonça. 3. ed. —
Curitiba : IESDE Brasil S.A. , 2009.
292 p.
ISBN: 978-85-387-0040-1
1. Psicologia do desenvolvimento. 2. Comportamento humano
– desenvolvimento. 3. Aprendizagem. I. Título. II. Mendonça,
Fernando Wolff.
CDD 155
Capa: IESDE Brasil S.A.
Imagem da capa: Domínio público
Todos os direitos reservados.
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Batel – Curitiba – PR
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
Ercília Maria Angeli Teixeira de Paula
Doutora em Educação pela Universidade Federal da Bahia – UFBA. Mestre em
Educação pela Universidade de São Paulo – USP. Pedagoga pela Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP. Professora do Ensino Superior.
Fernando Wolff Mendonça
Mestre em Educação pela Universidade Federal do Paraná – UFPR. Especialista em
Pedagogia Terapêutica pela Universidade Tuiuti do Paraná. Fonoaudiólogo pela
Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR.
Sumário
Aspectos históricos da
Psicologia do Desenvolvimento ......................................... 13
A importância dos estudos do desenvolvimento infantil .......................................... 13
As diferentes linhas do pensamento psicológico .......................................................... 14
As primeiras correntes psicológicas ................................................................................... 14
Correntes teóricas da Psicologia no século XX ............................................................... 17
Corrente teórica da Psicologia voltada
para os estudos do inconsciente e da afetividade ........................................................ 19
Correntes teóricas da Psicologia voltadas para as interações sociais..................... 20
A criança como um ser que aprende e se desenvolve................................................. 22
Vygotsky: vida e obra .............................................................. 27
Vygotsky e a sua visão da realidade ................................................................................... 29
Bases epistemológicas de Vygotsky .................................. 37
O processo de humanização ................................................ 47
A cultura ....................................................................................................................................... 50
A significação .............................................................................................................................. 51
A função do instrumento, do símbolo
e da linguagem no desenvolvimento humano.............. 57
A função instrumental.............................................................................................................. 58
O papel da linguagem e da fala no desenvolvimento humano................................ 59
A formação de conceitos elementares.............................. 67
Os sujeitos de interação como mediadores de conceitos........................................... 68
A tomada de consciência pela criança da organização social................................... 70
O papel da linguagem na estruturação do pensamento infantil............................. 72
A formação de conceitos científicos................................... 79
O papel da escola e os conceitos científicos.................................................................... 80
O professor e os conhecimentos científicos..................................................................... 83
O desenvolvimento mental segundo Piaget................... 89
Introdução.................................................................................................................................... 89
O desenvolvimento mental segundo Piaget.................................................................... 90
Estágios do desenvolvimento da teoria piagetiana......103
O que são os estágios.............................................................................................................104
O estágio sensório-motor.....................................................................................................105
O estágio pré-operatório.......................................................................................................106
O estágio operatório concreto............................................................................................108
O estágio operatório formal.................................................................................................109
O desenvolvimento da inteligência..................................115
Fatores de desenvolvimento................................................................................................116
Aprendizagem e conhecimento.........................................................................................118
Tipos de experiência...............................................................................................................120
Desenvolvimento moral........................................................................................................120
Wallon e a Psicologia genética...........................................131
Aspectos biográficos...............................................................................................................131
Método.........................................................................................................................................134
Fundamentos epistemológicos..........................................................................................134
Wallon e o desenvolvimento da consciência................145
As leis reguladoras dos estágios.........................................................................................145
Os estágios..................................................................................................................................146
A teoria psicanalítica de Sigmund Freud........................157
Contextualização da Psicanálise.........................................................................................159
A construção do aparelho
psíquico e o estágio do espelho........................................171
Segunda teoria do aparelho psíquico..............................................................................171
Fase oral.......................................................................................................................................174
A fase anal...................................................................................................................................175
Fase fálica....................................................................................................................................176
Complexo e castração de Édipo..........................................................................................176
Fase de latência.........................................................................................................................178
Fase genital.................................................................................................................................178
O estágio do espelho em Lacan..........................................................................................179
Mecanismo de defesa............................................................185
Projeção.......................................................................................................................................186
Isolamento..................................................................................................................................187
Negação.......................................................................................................................................187
Anulação......................................................................................................................................188
Introjeção....................................................................................................................................188
Identificação...............................................................................................................................188
Formação reativa......................................................................................................................189
Deslocamento...........................................................................................................................189
Idealização..................................................................................................................................190
Conversão...................................................................................................................................190
Regressão....................................................................................................................................190
Racionalização...........................................................................................................................190
Sublimação.................................................................................................................................191
Princípio fundamental da teoria psicanalítica...............................................................192
O professor e a teoria freudiana da aprendizagem.....................................................192
Erik Erikson: o desenvolvimento psicossocial...............205
Formação da personalidade.................................................................................................206
Crise psicossocial......................................................................................................................207
Desenvolvimento contínuo..................................................................................................208
Psicologia cognitiva:
o processamento da informação.......................................221
A evolução das ciências cognitivas do século XX e XXI..............................................222
As áreas de desenvolvimento da pesquisa cognitiva.................................................224
Contribuições para os dias de hoje....................................................................................227
As inteligências múltiplas de Howard Gardner............235
O que são as múltiplas inteligências?...............................................................................236
Critérios e características para existência da inteligência.........................................236
Os tipos de inteligência de Gardner..................................................................................238
Perspectiva do estudo da inteligência segundo Gardner.........................................240
A inteligência triárquica de Robert Sternberg..............247
Teoria triárquica da inteligência e processo de resolução de problemas............248
As relações da inteligência com o sujeito e com o mundo.......................................250
Teorias psicológicas do desenvolvimento humano......259
Teorias psicológicas do desenvolvimento......................................................................259
Diferentes ideias e reflexões sobre a escola...................................................................262
Gabarito......................................................................................269
Referências.................................................................................281
Apresentação
Este livro foi preparado para que você acompanhe as aulas de Psicologia do Desenvolvimento e aprofunde seus conhecimentos sobre as mudanças de comportamento humano durante as mais diferentes fases da vida.
Nele, você encontrará subsídios essenciais para sua prática profissional; ao longo
das aulas, além de entrar em contato com o contexto histórico do surgimento
dessa disciplina, conhecerá suas diferentes correntes, alguns dos principais estudiosos e as contribuições contemporâneas a esse campo.
Para que você possa fixar o que aprendeu, o livro traz atividades abertas, exercícios e também sugestões de leitura e filmes, os quais ilustram os debates e podem
ajudá-lo a perceber a aplicação dos conceitos aprendidos na prática.
Aspectos históricos da
Psicologia do Desenvolvimento
A importância dos estudos
do desenvolvimento infantil
O estudo do desenvolvimento humano tem sido objeto de várias ciências ao longo da história. A Filosofia, Medicina, Antropologia, Biologia,
Educação, entre outras áreas, buscam compreender como o homem se
constitui sob diferentes perspectivas. Os estudos dos processos evolutivos
da criança, através da Psicologia do Desenvolvimento, colaboram significativamente para o entendimento dos processos biológicos e culturais
envolvidos na formação das pessoas como sujeitos sociais. Conhecer esses
aspectos e a evolução humana permite que os professores possam entender os alunos nas suas características globais. Dessa maneira, o professor
que compreende o modo de agir e pensar da criança, com suas especificidades, contribui para uma melhor qualidade de seu trabalho cotidiano.
A Psicologia, embora tenha sido uma das ciências mais antigas da humanidade, durante muitos anos foi considerada pré-científica, pois defendia o dualismo do corpo e da alma. Acreditava-se que os “desvios” de comportamento
humano ocorriam em função dos espíritos que habitavam o corpo físico. O
pensamento mítico era predominante e as diferenças comportamentais eram
explicadas em função dos deuses e fenômenos sobrenaturais.
De acordo com Davidoff (1983), no século XIX, a preocupação da Psicologia esteve voltada para o estudo do cérebro, nervos e órgãos dos sentidos.
Esse período foi considerado o início da Psicologia científica, a qual utilizava diferentes procedimentos experimentais para explicar a mente humana.
Com o tempo, a Psicologia foi se expandindo através de diferentes correntes
psicológicas. A linguagem da Psicologia também foi sendo popularizada.
Psicologia do Desenvolvimento
Habitualmente usamos o termo psicologia para as características de comportamento das pessoas que encontramos no cotidiano. É comum usarmos expressões como:
– Hoje estou psicologicamente afetado.
– Você percebeu como ela ficou abalada psicologicamente?
– Saí da loja com produtos que não queria comprar: aquele vendedor usou
de muita psicologia para me convencer.
– José, eu vim falar com você, porque você tem muita psicologia para ouvir
as pessoas.
Essa forma popular de falarmos da Psicologia não representa, de fato, o fazer
do psicólogo no seu dia-a-dia. Esse psicologismo, utilizado no cotidiano por
muitas pessoas, ressalta o impacto que a ciência da Psicologia vem causando,
por suas ações e seu fazer, junto às pessoas. Porém, distante de toda essa realidade, a Psicologia veio buscando sua identidade como trabalho científico. Muito
mais que a simples observação dos fenômenos cotidianos, ela procura estabelecer um critério sistematizado para analisar os fenômenos humanos inseridos
na realidade cotidiana. Sendo assim, busca se diferenciar do senso comum para
se tornar efetivamente uma disciplina científica. Para tanto, vem buscando fundamentos teóricos e científicos, bem como metodológicos, que proporcionem
esse posicionamento diante da sociedade contemporânea.
As diferentes linhas do pensamento psicológico
Como decorrência dessa necessidade de se colocar socialmente como ciência, muitas correntes foram se estabelecendo na Psicologia, tentando entender
como o ser humano poderia ser concebido. Mostraremos algumas delas e seus
principais pressupostos.
As primeiras correntes psicológicas
As primeiras correntes psicológicas dos estudos da Psicologia do Desenvolvimento estavam centradas em definir métodos de estudos da personalidade
humana e comprovar empiricamente como os comportamentos manifestavamse e suas implicações.
14
Aspectos históricos da Psicologia do Desenvolvimento
Funcionalismo
Seus representantes mais destacados são o pedagogo e filósofo americano
John Dewey (1859-1952) e o filósofo americano William James (1842-1910). Eles
incorporam a concepção do naturalista inglês Charles Darwin (1809-1882), afirmando que a mente e a conduta humana são adaptativas e que o ponto central
da Psicologia está na ação ou na conduta. Para Dewey e James, o que a consciência possui é menos importante do que aquilo que ela faz. Segundo esses
autores, não existe produção mental que não seja acompanhada de uma modificação corporal. Além disso, eles apresentam a relação estímulo-resposta como
a proposta metodológica de seu trabalho.
A Psicologia funcionalista interessa-se em compreender como ocorre o funcionamento e adaptação da mente dos indivíduos no meio em que se inserem.
De acordo com Schultz e Schultz (1992), o funcionalismo estuda as influências
das crenças no comportamento emocional e corporal das pessoas, bem como investiga a formação dos conceitos de acordo com as necessidades humanas. Para
essa corrente psicológica, as pessoas apresentam comportamentos diferenciados em relação aos estímulos que recebem. Não existe uma única resposta aos
estímulos, mas as respostas variam conforme os comportamentos adaptativos
das pessoas. Portanto, a consciência e as sensações são mutáveis. O funcionalismo investigou a estrutura psicológica de diferentes populações, como animais,
crianças, povos primitivos e deficientes, para descobrir as variações nas organizações mentais desses grupos.
Associacionismo
Para o psicólogo americano Edward Lee Thorndike (1874-1949), o comportamento do sujeito é modelado pelo ambiente e segue leis que o direcionam. E
esse comportamento só será efetivo se for condicionado por três princípios:
Lei do efeito – a aprendizagem se manterá ou não segundo as consequências que produz (reforçamento);
Lei do exercício – a importância da prática para que se mantenham as
conexões nervosas e se fortaleça o aprendido;
Lei da disposição – se não existe disposição, não se produz comportamento aprendido, pois é a disposição que permite o comportamento.
15
Psicologia do Desenvolvimento
Thorndike propunha conexões entre estímulos e respostas. Seus experimentos envolviam o uso de animais. Um dos seus estudos clássicos foi a experiência
que realizou com um gato, privado de alimentos, que ficou em uma caixa fechada com vários trincos. O animal, para sair da caixa, tinha que encontrar a alavanca correta para acessar o alimento, que estava do lado de fora. Através da lei do
exercício, com diversas tentativas de ensaio e erro: de empurrar, farejar e dar patadas, o gato conseguiu abrir a alavanca. Em outras situações, quando o animal
era recolocado novamente na caixa, acionava a alavanca e conseguia o alimento; manifestava-se, assim, a lei do efeito. A comida era sua recompensa e funcionava como um reforço positivo. Porém, quando o gato acionava a alavanca e
não encontrava o alimento, sua resposta era enfraquecida. O uso prolongado da
resposta incorreta fazia com que a resposta fosse sendo extinta, pois funcionava
como um reforço negativo. Portanto, para os conexionistas, um comportamento
tanto podia ser reforçado como poderia ser esquecido, se não fossem realizadas
as conexões necessárias. Se o animal não encontrasse uma maneira de alcançar
o alimento desejado, não havia disposição para realizar a ação. O que predominava nesses estudos era a observação de comportamentos e as associações
realizadas pelos animais e também pelo homem em suas expressões.
Estruturalismo
Tem como seus principais representantes o psicólogo e fisiologista alemão
Wilhelm Wundt (1832-1920) e o psicólogo americano Edward Bradford Titchener
(1867-1927), os quais, no começo do século XX, discutiram com pensadores da
época o conceito de mente e certas condições do método da introspecção científica. O objeto de estudo dessa escola é a consciência mediante a introspecção
e a auto-observação controlada. A mente, ou consciência imediata, não é algo
substancial, mas somente processos elementares da atividade mental: sensação,
sentimento e imagem.
Para Davidoff (1983), a Psicologia experimental de Wundt estuda as operações
mentais centrais como: atenção, intenções e metas. Os sujeitos desses estudos
são treinados para descrever, da forma mais objetiva possível, suas experiências
com determinados estímulos de cores, sabores e odores. Wundt interessava-se
por anatomia e desenvolvia a vida acadêmica voltada para a pesquisa fisiológica
sobre as percepções sensoriais. O sistema da introspecção, proposto e praticado
nos laboratórios de Wundt, refletia o método que os psicólogos utilizavam para
que os sujeitos das pesquisas relatassem suas experiências internas em relação
16
Aspectos históricos da Psicologia do Desenvolvimento
aos estímulos ambientais. Esses relatos eram os julgamentos e as observações
conscientes dos sujeitos sobre o tamanho, intensidade e duração dos estímulos.
A partir desses experimentos e relatos, Wundt descrevia a maneira como a consciência humana era estruturada.
Correntes teóricas da Psicologia no século XX
Essas correntes teóricas investigam as influências dos comportamentos biológicos na constituição dos homens e seu intelecto. Tanto na concepção inatista
do desenvolvimento como no behaviorismo, o aspecto biológico é predominante nos estudos. Já na Gestalt, as influências culturais no desenvolvimento
humano começam a ser pesquisadas.
Inatismo
A concepção inatista do desenvolvimento humano considera que o comportamento do homem é inato. Ou seja, as características de sua personalidade nascem
com ele e não são modificadas ao longo do seu processo de desenvolvimento.
Oliveira (1990), ao analisar a teoria inatista, descreve que essa concepção de
desenvolvimento tem como princípio a ideia de que não somente a personalidade, mas os valores do homem, seus hábitos, crenças, reações emocionais
e sua forma de pensar já se encontrariam prontas desde o nascimento do indivíduo. O ambiente, portanto, exerceria pouca influência no comportamento
do indivíduo. Essa concepção teórica é tipicamente representada no ditado
popular: “Pau que nasce torto morre torto”.
Gestalt
Questionando o reducionismo proposto pelo estruturalismo e pelo funcionalismo, a Gestalt prega que o todo é maior que a soma de suas partes, assim buscando ser uma Psicologia integrativa de caráter globalista. Propõe que, para entender o todo, é preciso analisá-lo em sua configuração, analisando e integrando
as suas partes constituintes.
A Gestalt, segundo Davidoff (1983), surgiu como protesto contra o estruturalismo, principalmente contra a prática de se reduzir experiências complexas
17
Psicologia do Desenvolvimento
a elementos simples. A invenção do cinema foi a demonstração de como uma
série de fotografias e imagens imóveis, quando eram rapidamente apresentadas, transformavam-se em imagens contínuas. Dessa maneira, verificava-se que
o filme retratado nas telas esboçava o todo das partes que o compunham. O
movimento aparente não podia ser compreendido, portanto, sem as análises
de todos os seus componentes. A Gestalt é uma corrente muito significativa no
estudo das percepções e também contribui para a compreensão dos indivíduos
como parte de um campo mais amplo, que inclui o organismo e o meio.
Behaviorismo
O fisiologista russo Ivan Sechenov (1829-1905) e o fisiologista e psicólogo
soviético Ivan Petrovich Pavlov (1849-1936) descobrem os mecanismos reguladores da conduta, os quais podem ser inibidos ou intensificados pelos mecanismos de estímulo e resposta. Pavlov propõe que as atividades nervosas
superiores podem ser estudadas pelo procedimento do reflexo condicionado.
Assim, o condicionamento é assumido como técnica fundamental, o que permite descobrir as condições para que, frente ao estímulo, haja uma resposta
que não lhe pertence.
Pavlov, através de pesquisas realizadas com cães, demonstrou como um comportamento pode ser condicionado. Em seus estudos, observou que, ao ofertar
comida aos cães associada ao som de uma campainha, essa ação fazia com que
esses animais, com o passar do tempo, quando ouviam o sinal da campainha, já
começavam a salivar. Esse aspecto representava um reflexo condicionado. Essa
resposta só ocorria em função de uma conexão existente entre o estímulo = som
e a resposta = a comida. O processo de condicionamento não ocorre somente
com os animais, mas também no cotidiano das pessoas. Alguns exemplos como
acordar ao som do despertador, atender o som do celular, dormir em horários
determinados, representam que o organismo está condicionado a oferecer determinadas respostas em função dos estímulos gerados.
O behaviorismo tem como base a Psicologia prática sem nada de introspecção, tendo como objetivos a predição e o controle da conduta. São seus
representantes os psicólogos americanos John Broadus Watson (1878-1958),
Clarck Leonard Hull (1884-1952), Edward Chace Tolman (1886-1959) e Burrhus
Frederic Skinner (1904-1990). Para Skinner, no condutivismo radical ou behaviorismo, toda conduta humana é completamente determinada, nunca havendo liberdade de escolha.
18
Aspectos históricos da Psicologia do Desenvolvimento
O termo behaviorismo deriva da palavra inglesa “behavior” que significa
comportamento. Skinner, um dos principais representantes dessa corrente
psicológica, observava que o comportamento humano podia ser modelado.
De acordo com Fadiman (1986), em um dos seus experimentos, Skinner observou que, quando uma criança, após realizar uma ação positiva, recebia uma
bala, esse ato reforçava os comportamentos positivos da criança. Entretanto,
quando essa mesma criança realizava comportamentos de birra com a mãe,
todas as vezes que frequentava uma loja, com intuito de que sua mãe comprasse brinquedos e, se a criança fosse atendida nos seus apelos, a mãe estava
reforçando comportamentos negativos de sua filha. Portanto, ao estudar os reflexos, Skinner investigava a ocorrência dos mesmos e as respostas desejadas e
indesejadas. A teoria condutivista é criticada na educação, por estudar formas
de recompensas no processo educacional, formas de controle do comportamento e enfatizar o ensino programado, no qual existe uma centralização do
processo educacional no professor.
Corrente teórica da Psicologia voltada para
os estudos do inconsciente e da afetividade
A Psicologia do Desenvolvimento também se preocupou com as manifestações
afetivas e emocionais do comportamento humano influenciadas por mecanismos
inconscientes. Freud e Erikson foram teóricos expressivos desses estudos.
Psicanálise
Para o médico austríaco Sigmund Freud (1859-1939), pai da Psicanálise, os
processos psíquicos são de natureza inconsciente e os processos conscientes
não são senão atos isolados ou fracionados da vida total. Segundo Freud, determinados impulsos instintivos, que podem ser unicamente de natureza sexual,
desempenham um papel entre as causas das enfermidades nervosas, psíquicas,
e colaboram na gênese das mais altas criações culturais, artísticas e sociais.
A Psicanálise considera que os processos mentais não ocorrem ao acaso. Existem razões para os acontecimentos humanos, sentimentos ou ações. De acordo
com Bock (2000), a Psicanálise busca o significado oculto das nossas ações
que é expresso por meio de gestos, palavras ou sonhos. Na educação, a Psicanálise assume um papel significativo no estudo da afetividade, dos recalques,
19
Psicologia do Desenvolvimento
repressões, projeções, transferências e mecanismos de defesa vivenciados nas
relações entre professores e alunos.
O teórico Eric Erikson nasceu na Suécia em 1902 e pintava quadros. De acordo
com Barros (1993), Erikson foi convidado para pintar o retrato de uma criança na
Áustria. Essa criança era filha de Freud. Quando Erikson pintava esse retrato, ele
pôde dialogar com Freud sobre seus estudos. Poucas semanas depois, recebeu
um convite de Freud para inscrever-se no Instituto Psicanalítico de Viena e estudar
análise de crianças. Erikson aceitou o convite e escreveu uma teoria significativa
sobre o desenvolvimento psicossocial do homem, suas diferentes fases da infância
à idade adulta, os conflitos humanos e as emoções geradas nesses períodos.
Correntes teóricas da Psicologia
voltadas para as interações sociais
Na educação atual, os princípios defendidos pelas teorias sociointeracionistas são largamente aplicados nas escolas por conceberem as crianças como
seres ativos nos seus processos de desenvolvimento. Nessas teorias, os aspectos
biológicos e culturais se complementam no desenvolvimento das pessoas.
Sociointeracionismo
Para o médico francês Henri Wallon (1879- 1962), o desenvolvimento humano
não é um processo composto por estágios lineares. Ele é marcado por períodos
de preponderâncias e alternâncias entre aspectos cognitivos e afetivos. Pelo fato
de Wallon ter vivido nos períodos das duas primeiras grandes guerras mundiais
na Europa, sua teoria foi influenciada por esses períodos. Para Wallon, o desenvolvimento é caracterizado por crises e turbulências. Ele considera que o homem
é um ser biologicamente social. Na sua teoria, os aspectos motores influenciam
na construção do pensamento e existe uma relação expressiva entre emoção,
afeto, movimento e inteligência.
Psicologia soviética – histórico-cultural
O psicólogo russo Lev Semionóvitch Vygotsky (1896-1934) estudou as capacidades humanas (como cada um é capaz, com as ajudas adequadas, de desenvolver uma habilidade) e define consciência como o autêntico objeto de estudo
20
Aspectos históricos da Psicologia do Desenvolvimento
da Psicologia: a consciência é a função mais especializada do cérebro e se desenvolve no contexto das relações sociais. Em suas investigações sobre os processos
neuropsicológicos da mente humana, Vygotsky teve a colaboração do neurologista russo Alexander Romanovitch Luria (1902-1977).
A origem russa de Vygotsky contribuiu para que seus estudos recebessem
influência do socialismo e estivessem voltados para as interações sociais e a
construção coletiva do conhecimento. O ensino não estava somente centrado
no professor, mas em todos os integrantes da sala de aula. A Psicologia soviética
discutia a não-universalidade de padrões de desenvolvimento. Nessa corrente
psicológica, a estrutura e o funcionamento do psiquismo humano são construídos de acordo com a cultura dos indivíduos.
Cognitivismo
O objetivo principal dessa corrente é a atividade humana de um sujeito que
busca, escolhe, elabora, interpreta, transforma, armazena e reproduz a informação
proveniente do meio ambiente ou do seu interior. Direcionado por um objetivo,
esse sujeito planeja, programa, executa e corrige a ação em processo até o término dessa ação. O biólogo e filósofo suíço Jean Piaget (1896-1980) concebe o
conhecimento como um conjunto de estruturas cognitivas que permite à criança
adaptar-se ao ambiente. E ele chama de epistemologia genética ao seu campo de
estudo sobre as origens e os estágios da inteligência e do conhecimento na criança. Os teóricos do processamento da informação estabelecem correlação entre os
comportamentos humanos e os ordenadores de modelos virtuais que processam
informações mediante mecanismos de entrada, processamento e saída de informações, assim como acontece com o sistema cerebral humano. A partir disso, esses
teóricos propõem um sistema de modelos de funcionamento da mente humana.
Piaget buscou nas crianças a origem do conhecimento. No início de suas pesquisas, realizava observação direta do comportamento de seus três filhos. Com
o tempo, foi sistematizando seu método de investigação para entender a lógica
infantil. O desenvolvimento cognitivo, para ele, ocorria através de processos de
constantes de desequilíbrios e equilibrações. Ou seja, a cada interação do indivíduo com um objeto desconhecido, o indivíduo assimilava as estruturas desse
objeto e, posteriormente, acomodava suas características em seu pensamento.
Dessa maneira, novos elementos eram incorporados à estrutura mental dos indivíduos e em processos de desequilibrações e equilibrações sucessivas, os sujeitos construíam conhecimentos.
21
Psicologia do Desenvolvimento
A criança como um ser
que aprende e se desenvolve
A partir dessas diferentes abordagens e pontos de vista sobre o comportamento humano, buscaremos um referencial que nos permita entender como
nos constituímos como sujeitos. Para tanto, partimos de algumas premissas.
Em primeiro lugar, o princípio de que o ser humano não é um sujeito acabado
ao nascimento: ele se constitui ao longo de seu desenvolvimento e de maneira
tão peculiar e única que exige um estudo organizado para serem conhecidas as
formas e as condições em que um sujeito vai se formando ao longo de sua vida.
Para tanto, faz-se necessário que a Psicologia do Desenvolvimento estude, baseada nos teóricos que admitem tais condições de desenvolvimento da criança, o
processo de constituição de cada um.
É preciso compreender, também, que o professor tem um papel fundamental
no conhecimento do desenvolvimento infantil e na utilização desses conhecimentos na sua prática pedagógica. Nesse sentido, é preciso entender a relação
das correntes teóricas com os contextos de vida das crianças, as diversidades nos
modos de ser, agir e pensar. Essas correntes teóricas situam o modo de pensar
das crianças com especificidades próprias que se diferem dos modos de agir e
pensar dos adultos. O professor também precisa compreender a criança como
um ser em desenvolvimento e que ainda não está pronto e acabado.
Posteriormente, deve estar claro que devemos levar em conta a condição
de existência de cada um de nós a partir desse processo contínuo. Assim, teóricos que tenham essa óptica são eleitos para nosso estudo: as perspectivas
psicanalítica, cognitivista e interacionista são as escolhidas para discutirmos, ao
longo deste material, como se dá o comportamento humano a partir do desenvolvimento da infância até a maturidade. Dessa forma, poderemos construir um
referencial teórico útil na relação que manteremos com a criança ao longo do
processo de escolarização.
22
Aspectos históricos da Psicologia do Desenvolvimento
Texto complementar
Afinal, o que é Psicologia?
(MOREIRA, 1994, p. 13-14)
A Psicologia é uma ciência, o que significa a utilização de um certo método
para estudar o seu objeto. Esse método científico procura superar as afirmações superficiais do senso comum, utilizando a observação atenta e controlada dos fenômenos psicológicos com o objetivo de chegar a conclusões gerais
a respeito deles.
O objeto da Psicologia é o homem, ser tão complexo que sempre escapa
e ultrapassa as definições que dele se fazem. O homem é objeto também de
outras ciências: Biologia, Antropologia e Sociologia.
Através de seu objeto de estudo, a Psicologia se defronta com uma variedade de teorias explicativas sobre o homem e sobre os fenômenos que
o cercam. Apresenta, por isso mesmo, perspectivas teóricas e técnicas que
chegam a ser opostas. Apesar dessa divergência, o que caracteriza sua especificidade é que ela trata de uma dimensão especial de fenômenos – o fato
psíquico – que não se confunde com manifestações puramente fisiológicas
ou sociais.
Ao longo do tempo, a Psicologia procurou se colocar de maneira autônoma,
definindo claramente seu objeto de estudo, sua história, um campo de pesquisas e um conceito de homem. Enfim, uma área de conhecimento cuja especificidade é dada pela possibilidade de um ponto de vista teórico e de uma prática
sobre o comportamento. Sua metodologia exibe características peculiares, já
que aqui, o observador é, ao mesmo tempo, sujeito e objeto da pesquisa.
23
Psicologia do Desenvolvimento
Esta situação é sua grandeza e seu “calcanhar de Aquiles”, gerando uma
permanente crise de identidade, pois é impossível separar o método e o sujeito que observa. Esse dilema põe em xeque toda a construção teórica da
Psicologia e atinge também o seu objeto de estudo: o homem.
A resposta a tais questões nos remete a um impasse histórico entre objetividade e subjetividade que coloca, de um lado, as origens da Psicologia, a
partir dos filósofos gregos, e a Psicologia atual, de cunho científico.
Para os gregos, a Psicologia se definia a partir de sua etimologia (psyche =
mente e logos = estudo, ciência), unindo vida mental e comportamento.
Atividades
1. Qual a importância dos estudos do desenvolvimento infantil?
2. Como a Psicologia soviética de Vygotsky define o processo de formação da
consciência humana?
24
Aspectos históricos da Psicologia do Desenvolvimento
Dicas de estudo
Para entender melhor as teorias psicanalíticas, assista aos filmes:
Perspectiva psicanalítica – Freud, Além da Alma (EUA, 1962). Direção de
John Huston.
Um documentário que aborda os problemas vivenciados por Freud para
que a Psicanálise fosse aceita como ciência. O filme também retrata as
principais ideias da teoria freudiana.
Para entender melhor a teoria behaviorista, há dois filmes, conforme abaixo:
Behaviorismo – Laranja Mecânica (Inglaterra, 1971). Direção de Stanley
Kubrick.
O filme retrata a vida de um líder de um grupo de jovens violentos e torturadores que é preso. Na cadeia, são realizados experimentos e apresentadas diversas formas de controle do seu comportamento e consciência.
O Show de Truman (EUA, 1998). Direção de Peter Weir, roteiro de Andrew
Niccol.
O personagem Truman é interpretado por Jim Carrey. O sujeito do talk
show é uma pessoa que tem sua vida transmitida para os Estados Unidos
inteiro em canal de TV paga. Mas, ele não sabe o que acontece. Tudo o que
ocorre ao seu redor é fictício. Até o dia em que ele descobre a farsa. O filme
retrata os limites do controle do comportamento na vida humana.
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