2ª aula: - Conteúdo: A CIÊNCIA "ECONOMIA" OBJETIVOS: Nesta aula serão apresentadas algumas definições de ECONOMIA, propondo destacar seu conteúdo enquanto ciência, sua relação com as demais ciências (política, história, geografia, matemática e estatística); seu objeto; métodos de investigação e a identificação dos problemas econômicos básicos. BIBLIOGRAFIA INDICADA SANDOVAL, A. M. e PINHO, B. D. Manual de economia. Equipe de professores da USP. São Paulo: Saraiva 2005. 1.1. PRIMEIRAS DEFINIÇÕES: A primeira definição de economia foi utilizada por ARISTÓTOLES (384 a.C.), considerado o primeiro analista econômico. A Economia era a Ciência da administração da comunidade doméstica, a ciência do abastecimento, que trata da arte da aquisição. Sua própria etimologia nos oferece uma reflexão: OIKONOMIA, de OIKOS = CASA e NOMOS = LEI. Com as mudanças no curso da história, as questões econômicas vão paulatinamente assumindo importância, principalmente no período pós-renascentista e com o desenvolvimento de novos Estados-Nações (França, Alemanha, Inglaterra, Portugal e posteriormente a descoberta da América). Dois fatores podem ser destacados desta nova fase: o alargamento das dimensões do mundo econômico e à consolidação da figura política do Estado-Nação. Neste sentido a ECONOMIA passa a ter nova definição: “seria um ramo do conhecimento essencialmente voltado para melhorar a administração do Estado, sob o objetivo central de promover seu fortalecimento”. Portanto, atendia aos objetivos políticos do Estado. Etimologicamente, a palavra economia significa norma de administração da casa. OIKOS, para os antigos gregos, era a denominação que se dava a casa, compreendidos a nesta todo o seu conteúdo e acessórios – mulher, filhos, os escravos, os animais, os pertences etc. -; e nemo, de demein, do verbo dirigir ou manejar, como sinônimo de administrar. Daí surgiu a expressão oikonomos, ou administrador da casa (como o vocábulo ecônomo, presente em nisso idioma), e economia (oikonomia). Aristóteles adotava esse vocábulo para se referir à administração da economia particular, ou doméstica, entendendo, por`em, que poderia existir diversas modalidades de oikonomia, no setor publico, conforme as eventuais formas de governo – economia régia, referindo-se `a administração monárquica, economia provincial, quando referente `as províncias, economia política, própria para qualificar a cidade-estado (polis), livre e democrática. A vida simples nas sociedades primitivas, assentada em necessidades mínimas e de satisfação imediata, não era de molde a caracterizar preocupações pela investigação das causas dos fenômenos econômicos ou das relações estabelecidas entre eles. Em fases posteriores, em sociedades mais evoluídas, os fatos econômicos e suas conseqüências ainda estavam subordinados à religião, a moral ou à política. Ou, no dizer de Reginaldo Nunes em Introdução a Ciência do Direito, a vida sem grandes exigências, quer do homem, quer da tribo de que fazia parte, era tal que cada homem e cada tribo a si mesmo se bastavam na solução de seus problemas econômicos. O mesmo aconteceu através de milênio e ate o despertar do mundo moderno, período no qual, embora produzindo e trocando, utilizando o trabalho e os recursos naturais, e já objetivando vantagens recíprocas, as relações de causa e efeito entre os fenômenos econômicos não mereciam analises e investigações. Os fatos existiam naturalmente, e seus efeitos, como aqueles originados pelos fenômenos econômicos, exerciam suas conseqüências de modo espontâneo e automático. Essa situação peculiar às sociedades primitivas, que perduraram por milênios, com incipientes relações entre agrupamentos humanos e sem excedentes produtivos encaminhados a mercado de trocas. A partir do século XVI, com a expansão de mercados ate então obedientes às normas restritivas do feudalismo em relação ao consumo e à produção, correu sensível ampliação na produção de bens e prestação de serviços. Capitalismo nascia sob modalidade comercial. Multiplicavam-se as relações e o intercambio comercial entre os povos. Novas profissões surgiam, acentuando a divisão do trabalho. A partir do século XVIII, estruturava-se a economia moderna, com a navegação de longo curso, novas técnicas de produção, aperfeiçoamento dos títulos de credito e surgimento de estabelecimentos bancários de alcance e jurisdição continental e mundial, a financiar as grandes companhias de exploração das terras recém descoberta. Paralelamente, multiplicavam-se via de transporte terrestre e as trocas internas. Nascia uma nova economia, a substituir aquela ate então restrita à organizações feudais, como as baronias e os ducados, ainda caracterizadas pela economia familiar e artesanal e pelo numero reduzido de profissões. A partir de então a economia passou a revestir-se de roupagens de ciência da administração do Estado e da nação, recebendo em 1915, no ‘Tratado de Economia Política’ de Antoine Montchrétien, na Franca, o qualificativo política. Pela primeira vez passou a se denominar economia política e a ser reconhecida como auxiliar à arte de governar. Com o surgimento do Estado, no século XVI, de início com características absolutistas, aprofundou-se a preocupação com a análise das relações entre os fatos e os fenômenos econômicos e a enunciação das leis econômicas delas resultantes. Mas foi a partir da Escola Fisiocrata, no início do século XVII, fundada por economistas francesas, que as leis econômicas passaram a ser enunciadas, argamassando-se o arcabouço estrutural da economia como ciências, a integrar o ramo das ciências sociais. Cobos, atento a tal circunstância, define a ciência da economia como “aquela que tem por finalidade o estudo das causas determinantes dos fenômenos econômicos, das leis que regulam sua atuação e as interdependências entre eles”. Indiscutível a importância da Escola Fisiocrata, que abrigou e economistas de realce, os primeiros a possuir uma visão de conjunto das relações constantes entre os fatos e os fenômenos econômicos, emprestando especial ênfase àqueles ligados à agricultura, denominativa dessa corrente, uma vez que fisiocracia, etimologicamente, significa governo da natureza. Declararam o naturalismo das leis econômicas, ligadas a uma ordem natural e providencial, a prescindir da intervenção do Estado na economia, a ser orientada pelo interesse pessoal ou individual, capaz de estabelecer o justo preço num regime de livre concorrência absoluta. \com a fisiocracia nasceram as afirmações e negativas a respeito das leis econômicas, cabendo a essa escola o mérito de ser a desbravadora do terreno para o surgimento da moderna economia. Mas a Adam Smith deve-se a contribuição definitiva para a constituição da ciência econômica, Smith é considerado por todos como o fundador e o arquiteto da moderna economia, ciência com leis e objeto próprios, preocupada com a transformação de coisas úteis em riquezas econômicas, tendo o homem por sujeito e a sociedade como predicado. Natural da Escócia, nascido em 1723, Smith radicou-se desde a infância na Inglaterra, onde faleceu em 1790. Sua obra clássica, Inquérito sobre a origem e causas das riquezas das nações, da qual se original a economia liberal e individualista, foi publicada em 1776, sendo considerado como marco da Escola Clássica e do liberalismo econômico. 1.2. DEFINIÇÕES CLÁSSICAS A partir do século XVII, a ECONOMIA passa a ingressar em sua fase científica, os princípios fundamentem da economia foram reformulados por pensadores econômicos. As principais obras publicadas foram a) 1758 - FRANÇOIS QUESNAY (Francês), o Tableau Economique (Quadro Econômico), tendo como fundamento que toda riqueza se extraía da natureza e a agricultura seria a única atividade geradora de excedentes. A vida econômica obedecia a leis naturais que deveriam ser respeitadas pelos governantes, como o direito à propriedade e a liberdade de ação segundo os interesses individuais de cada pessoa. b) 1776 - ADAM SMITH (escocês), A Riqueza das Nações: Investigação sobre sua Natureza e suas Causas, que segundo o autor haveria uma "mão - invisível" responsável pela regulação da economia. Essas duas obras representaram o passo inicial para que os pensadores econômicos dedicassem suas atenções aos estudos sobre a descoberta, análise dos princípios, teorias e leis que pudessem ser estabelecidas para os três compartimentos da atividade econômica: FORMAÇÃO, DISTRIBUIÇÃO E CONSUMO das riquezas. As definições da ECONOMIA fundamentaram-se nessa chamada trilogia teórica (formação, distribuição e consumo), os principais representantes foram: MALTHUS, LAW, STUART MILL, QUESNAY, CANTILLON, DAVID RICARDO E JEAN BAPTISTE SAY. 1.3. DEFINIÇÕES CONTEMPORÂNEAS: As definições baseadas na trilogia teórica prevaleceram até as últimas décadas do século XIX, quando o teórico ALFREDO MARSHAL, em seu livro publicado em 1890 "Princípios de Economia", propôs uma nova definição: a ECONOMIA é a ciência que examina a parte da atividade individual e social essencialmente consagrada a atingir e utilizar as condições da escassez das nações, produzindo bens e serviços a fim de atender as ilimitadas necessidades das pessoas". A definição de Marshall constitui uma divisória entre as definições clássicas e contemporâneas; os clássicos não se ocupavam com as causas e conseqüências das depressões, escassez e atraso econômico, já os contemporâneos atribuíam à ECONOMIA a análise das causas das prosperidades e recessão, examinando os problemas decorrentes da escassez em face às ilimitadas necessidades humanas e a investigação das condições necessárias para universalização do bem-estar dos povos. O autor LIONEL ROBBINS, em sua obra em 1932, "Ensaios, Natureza e Significado da Ciência Econômica", incorporou definitivamente à nova definição da ECONOMIA o problema da e escassez, uma vez considerada as necessidades ilimitadas das pessoas. Definiu ECONOMIA: "como sendo a ciência que estuda as formas do comportamento humano, resultante da relação existente entre as ilimitadas necessidades a satisfazer e os recursos que, embora escassos, se prestam a usos alternativos". O autor PAUL SAMUELSON, definiu assim ECONOMIA: "é a ciência que se preocupa com o estudo das leis econômicas indicadoras do caminho que deve ser seguido para que seja mantida em nível elevado a produtividade, melhorando o padrão de vida das populações e empregados corretamente os recursos escassos". A ECONOMIA passa a ser considerada a “Ciência da Escassez, e os teóricos contemporâneos observaram que, o atendimento a quaisquer objetivos de bem-estar e universalização do desenvolvimento econômico, dependeria, essencialmente, da melhor administração dos recursos escassos”. Portanto, é o estudo da escassez e dos problemas dela decorrentes. Na evolução das definições pode-se observar que a trilogia clássica (formação, distribuição e consumo das riquezas) foi contemporaneamente substituída pela dicotomia: recursos escassos e necessidades ilimitadas. 1.4. CONCEPÇÕES E DEFINIÇÕES SOBRE CIÊNCIA ECONÔMICA O marco inicial da etapa científica da Teoria Econômica coincidiu com os grandes avanços da técnica e das ciências físicas e biológicas, nos séculos XVIII e XIX. Nesse notável período da evolução do conhecimento humano, a Economia construiu seu núcleo científico, estabeleceu sua área de ação e delimitou suas fronteiras com outras ciências sociais. A construção de seu núcleo científico fundamentou-se no enunciado de um apreciável volume leis econômicas, desenvolvidas a partir das concepções mecanicistas, organicistas e posteriormente humanas, através das quais os economistas procuraram interpretar os principais fenômenos da atividade econômica. Os economistas do grupo Organicista pretendiam que o organismo econômico se comportasse como um órgão vivo. Os problemas de natureza econômica eram expostos numa terminologia retirada da Biologia, tais como "órgão", "função", circulação, "fluxos", "fisiologia", etc. A concepção Organicista da Economia se faz presente em vários textos históricos, por exemplo: "as partes principais da Economia Social são relacionadas com os órgãos dos quais a sociedade se serve para a criação, a distribuição e o consumo dos bens, do mesmo modo como as partes principais da fisiologia do homem são os órgãos que se relacionam com a nutrição, o crescimento e o desenvolvimento do corpo humano”. 1 “Já os mecanicistas pretendiam que as leis da economia se comportassem como determinadas leis da Física e a terminologia usada era: “estática”, “dinâmica”, “aceleração”, rotação”, "fluidez", "força", etc. Os textos referentes são: "A Economia deveria se ocupar dos resultados produzidos por uma combinação de forças e esses resultados deveriam ser descobertos com o auxilio da natureza mecânica das atividades individuais.” 22 Todavia, as concepções Organicista e mecanicista, hoje, foram ultrapassadas pela concepção humana da Economia, a qual coloca no plano superior os móveis psicológicos da atividade 1 Texto de Jean B. Say - Século XVIII. 2 Texto de Hermann H. Gossen - século XIX: humana. A Economia repousa sobre os atos humanos e é por excelência uma ciência social. Apesar de a tendência atual ser a de se obter resultados cada vez mais precisos para os fenômenos econômicos, é quase que impossível se fazer análises puramente frias e numéricas, isolando as complexas reações do homem no contexto das atividades econômicas. Felizmente, porém, o economista não precisa dar respostas com aproximação de muitas casas decimais, pelo contrário, se apenas conseguir determinar o sentido geral de causas e efeitos já terá dado um formidável passo avante. Após todos esses enfoques a respeito da concepção da economia sua melhor definição foi dada pelo economista americano Paul Samuelson: "Economia é uma ciência social que estuda a administração dos recursos escassos entre usos alternativos e fins competitivos." Para complementar pode-se lembrar das palavras do Professor Antônio Delfim Netto: "Economia é a arte de pensar". Apesar de especificado seu objeto, a Economia relaciona-se com as demais áreas do conhecimento humano. A seguir discutiremos a inter-relação da Economia com as demais ciências. Veremos que a Economia é uma ciência social, ou seja, poderemos afirmar que ela não tem como agir sozinha, depende das outras ciências sociais como, a Geografia, História, Direito, Política, Sociologia matemática, Estatística, para a solução dos problemas. 2. OBJETO DA ECONOMIA: Seguindo o curso das definições, o OBJETO DA ECONOMIA, também evoluiu historicamente, desde as primeiras escolas econômicas do século XVIII até os dias atuais, analisaremos a seguir essa evolução: Para ADAM SMITH, em seu livro "A Riqueza das Nações", esclarece que o OBJETO da economia era o de empreender pesquisa sobre a natureza e as origens das riquezas das nações, dizia respeito à formação das riquezas; Para DAVID RICARDO, o OBJETO da economia dizia respeito ao terreno das investigações sobre a repartição da riqueza, ou seja, sua distribuição; Para KEYNES, em seu livro "A Teoria Geral" de 1936, o OBJETO da economia deveria centralizar na pesquisa das forças que governam o volume da produção e do emprego em seu conjunto, estava analisando o plano da produção, através da análise das flutuações da atividade econômica, por isso a economia deveria primordialmente preocupar-se em corrigir os desajustes e desequilíbrios. O OBJETO central da Economia Contemporânea mantém-se ligado à dicotomia entre recursos escassos e necessidades ilimitadas. Após a 2ª Guerra Mundial o OBJETO da economia passa a ser estabelecido pelo exame das condições necessárias à promoção do desenvolvimento econômico das nações. Na ECONOMIA MODERNA o objetivo é promover simultaneamente o progresso e a satisfação de produção de seus frutos, ou seja, desenvolvimento e repartição. EVOLUÇÃO DO SIGNIFICADO DO OBJETO DA ECONOMIA TEÓRICO SÉCULO XVIII TEÓRICO SÉCULO XIX MODERNOS ECONOMISTAS Formação da Riqueza Repartição da Riqueza Objeto Duplo: Estudo das flutuações da atividade econômica e da promoção do desenvolvimento; Investigação sobre repartição da riqueza 3. A Relação da Economia com outras Ciências - História, geografia, sociologia, Direito, matemática, estatística a