Impacto do modelo sobre crescimento é ponto de divergência

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Impacto do modelo sobre crescimento é
ponto de divergência
Por Vanessa Jurgenfeld | De São Paulo
02/05/2014
Renato Fragelli: regime de metas foi descaracterizado no governo Dilma
Se de um lado há economistas que consideram que o regime de metas engessou o
crescimento, porque o governo, ao se preocupar com inflação, fez ao longo dos
últimos anos - com raras exceções - uma política de juros altos que restringiu o
avanço do investimento, de outro lado há aqueles que defendem que o regime
propiciou uma inflação controlada (na maior parte desses 15 anos), abrindo espaço
ao crescimento ao guiar expectativas dos agentes, possibilitar projeções e decisões
de investimentos. O problema do baixo crescimento, para esses economistas,
estaria, sobretudo, na "descaracterização" recente do regime.
Renato Fragelli, da FGV-Ibre, está entre os defensores de inflação mais baixa como
importante elemento ao crescimento e diz que o ideal é que em vez de 4,5%, "a
inflação fosse 3%, quiçá até 2%". Para ele, o problema não está no mecanismo do
regime de metas - que é bom -, mas no fato de ele não ser operado de forma correta
pelo governo, com problemas especialmente no campo fiscal. "O regime de metas
tem uma consistência interna desde que acompanhado por câmbio flexível e meta
de superávit primário, os outros dois componentes do tripé macroeconômico",
destaca. Na sua avaliação, esse tripé teria sido rompido no governo da presidente
Dilma Rousseff e por isso o regime teria perdido sua eficácia. "O sistema do tripé
não funciona se você abandona um dos termos. Em política econômica existe
aquela história do cobertor curto. Tem política que resolve um problema
provocando outro problema. Isso é muito comum. Então, uma consistência interna
do programa como um todo é muito importante", defendeu. "Depois que entrou o
governo Dilma, o intervencionismo se meteu em tudo, em todas as áreas, tanto no
câmbio, na política monetária, quanto na política fiscal. Ela mexeu em tudo. Então,
o regime foi descaracterizado".
José Luis Oreiro, da UFRJ, coloca mais lenha nessa discussão. Concorda que ter o
regime de metas com o que denominou de "política fiscal frouxa" é impossível. Mas
faz uma ressalva: "Isso não quer dizer que você tem que ter um regime de metas
com superávit primário. São duas coisas diferentes. Evidentemente que se você
quer ter um regime de metas com uma política fiscal que corre frouxa e ainda mais
tem mecanismos de contabilidade criativa, isso não vai funcionar", ressalta. "Hoje
há uma política não crível. E pior: se quer passar a ideia de que é uma política fiscal
séria, quando ela não é", critica.
Na avaliação de André Biancarelli, professor da Unicamp, a inflação "no patamar
relativamente elevado" em que se encontra é um problema para o país. Mas
problema maior ainda, diz, em termos de crescimento, "seria a receita que está
implícita (ou cada vez mais explícita) no raciocínio dos que defendem uma
perseguição estrita do centro da meta de 4,5%, sem respeitar a banda de flutuação e
custe o que custar", disse, citando que "a receita" envolve subida bem mais forte de
juros e corte de despesas públicas significativo, com o objetivo de contrair a
demanda agregada da economia. "O caminho seria doloroso e com eficácia
duvidosa", destacou, apontando que um dos aspectos é que das três fontes
principais de inflação hoje (serviços, choques de oferta e preços indexados), só o
primeiro componente seria afetado pelo ajuste recessivo, "e mesmo assim de
maneira lenta dadas as configurações peculiares do mercado de trabalho
atualmente".
Fernando Ferrari Filho, da UFRGS, avalia que o regime de metas de inflação "tanto
em fase de prosperidade quanto de contração falhou em ambos os períodos em
termos de [boas] respostas de crescimento". De acordo com seus cálculos, de 1999 a
2002, primeiro período do regime de metas e segundo mandato do presidente
Fernando Henrique Cardoso, o crescimento médio do país medido pelo PIB foi de
2,1% enquanto a inflação média, medida pelo IPCA, foi de 8,7%.
Entre 2003 e 2006, primeiro ano do governo Lula, o PIB cresceu a uma média de
3,5%, com inflação média de 6,4%. De 2007 a 2010, segundo governo Lula, o PIB
médio foi de 4,5% e a inflação média de 5,1%. Entre 2011 e 2013, os três anos do
governo Dilma para os quais há dados fechados, houve crescimento médio do PIB
de 2%, com inflação média de 6,1%.
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