o cuidado de enfermagem aos usuários com estomia – relato de

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ISSN 1809-1636
O CUIDADO DE ENFERMAGEM AOS USUÁRIOS COM ESTOMIA – RELATO DE
EXPERIÊNCIA
The Nursing care to users with ostomy - experience report
Sandra Ost Rodrigues Martins CARVALHO1
Marluce Érbice MALAVOLTA2
Roselaine Boscardin ESPÍNDOLA3
Gabriela Fávero ALBERTI4
RESUMO
Este estudo consiste em um relato de experiência de prática assistencial desenvolvida na disciplina
de Trabalho de Conclusão de Curso, do curso de graduação em enfermagem da Universidade
Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões, Campus de Santiago, no período de março a
junho de 2012. Teve por objetivo desenvolver ações de cuidado de enfermagem aos usuários com
estomia cadastrados no Programa Municipal de Estomias do município de São Francisco de Assis,
bem como implantar as consultas de enfermagem e visitas domiciliárias aos mesmos, retomando a
realização do grupo de convivência. Esta prática ocorreu na Unidade Básica de Saúde Central e nos
domicílios dos sujeitos, que foram os usuários de estomia intestinal cadastrados no programa do
município e seus familiares. Sendo um total de 13 pacientes, destes, 7 mulheres e 6 homens.
Acredita-se ter se alcançado os objetivos propostos, proporcionando a estes, momentos de troca de
saberes e experiências, sendo possível visualizar a satisfação dos usuários e seus familiares no
desenvolvimento das atividades. Percebe-se a importância do trabalho do enfermeiro que ao prestar
um cuidado integral, acaba sendo um grande colaborador para reinserção dos usuários com estomia
no meio social, o que favorece muito na recuperação e reabilitação destes.
Palavras-chave: estomia, cuidado de enfermagem, enfermeiro
ABSTRACT
This study consists in a report of assistance practice experience developed in the discipline of
Course Conclusion Work, from Graduation in Nursing Course of the Universidade Regional
Integrada do Alto Uruguai e das Missões (Regional Integrated University from High Uruguay and
Missions) , Santiago Campus, from March to June of 2012. It had by objective develop actions of
nursing care to the users with ostomy registered in the Programa Municipal de Estomias (Municipal
Ostomies Program) from the city of São Francisco de Assis, as well implant the nursing consults
and home visits to them, resuming the realization of Grupo de Convivência (Conviviality Group).
This practice occurred in Unidade Básica de Saúde Central (Central Health Basic Unit) and at the
users’ homes, who were the users of intestinal ostomy registered in the municipal program and their
relatives. Being a total of 13 patients, 7 women and 6 men. It is believed to have achieved the
objectives proposed, providing them moments of knowledge and experiences exchange, being
possible to visualize the users and their relatives’ satisfaction during the activities development. It is
realized the importance of nursing job, that providing an integral care, ends up being a great
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collaborator to users with ostomy’s reintegration in social environment, what really favors their
recovery and rehabilitation.
Key Words: ostomy, nursing care, nurse.
INTRODUÇÃO
O aumento da expectativa de vida, a industrialização e os efeitos da urbanização fizeram
com que a população brasileira estivesse mais exposta a inúmeros problemas de saúde, dentre os
quais se destacam o câncer, traumatismos, doenças crônico-degenerativas. Dessa forma, ajudam a
ocasionar alterações em órgãos, necessitando muitas vezes de recursos tecnológicos como implantes
de próteses e órteses, visando salvar ou proporcionar ao paciente melhor qualidade de vida
(CESARETTI, 1996).
As patologias do trato gastrointestinal levam, muitas vezes, à realização de uma cirurgia
radical, resultando em uma estomia (colostomia/ileostomia) de caráter temporário ou, na maioria
das vezes, definitiva. Essa indicação ocorre em grande parte por conseqüência de patologias
crônicas, como, doença de Chagas, doença de Chron, câncer colorretal, dentre outras. Cascais
Martini e Almeida (2007) referem que as patologias do sistema gastrointestinal podem resultar na
realização de uma cirurgia mutilante e traumatizante, a qual acarreta alterações profundas no modo
de vida das pessoas afetadas.
Os pacientes estomizados, ao se depararem com o estoma, passam a lidar com esta nova
realidade, estando suscetível a vários sentimentos, reações e comportamentos diferentes e
individuais. O impacto da experiência estar estomizado afeta não somente o paciente, mas toda a
sua família e amigos mais significativos. O sentimento de inutilidade, desgosto, depressão, repulsa,
perda da autoestima, do status social e da libido, além de reforçarem as alterações na dinâmica
familiar, causam impacto em nível emocional e psicológico (CASCAIS; MARTINI e ALMEIDA,
2007).
Silva e Shimizu (2006) sinalizam que esse processo ocorre porque todo ser humano constrói,
ao longo de sua vida, uma imagem de seu próprio corpo que se ajusta aos costumes, ao ambiente em
que vive, enfim, atende às suas necessidades para se sentir situado em seu próprio mundo.
Além das alterações causadas no modo de vida, os pacientes estomizados têm de adotar
inúmeras medidas de adaptação e reajustamento às atividades diárias, como o autocuidado, bem
como a manipulação dos dispositivos.
A estomização para um paciente representa uma agressão a sua integridade com severas
repercussões em relação a sua imagem corporal e ao seu autoconceito. O paciente estomizado,
assim, precisa adaptar-se à nova situação em busca da harmonia e da restauração das suas forças.
Esses pacientes necessitam de cuidados específicos para conseguirem sua reinserção social
(FARIAS, GOMES, ZAPPAS, 2004).
Pacientes submetidos a tal procedimento têm sua perspectiva de vida alterada,
principalmente pela imagem corporal negativa, devido à presença do estoma associado a bolsa
coletora. Além das mudanças nos padrões de eliminação, dos hábitos alimentares e de higiene,
precisam adaptar-se ao uso do equipamento, resultando em autoestima diminuída, sexualidade
comprometida e, muitas vezes, em isolamento social (NASCIMENTO et al, 2011).
A enfermagem caracteriza-se como uma profissão de ajuda, conforme salienta Waldow
(1995), na qual o conceito de cuidado é genuíno, pois o enfermeiro ao cuidar de pacientes deve
valorizar a fragilidade física e emocional relativa à faixa etária e ao processo de doença. Sendo
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assim,
O enfermeiro apresenta-se como um profissional capaz de auxiliar o
paciente na busca de seu equilíbrio. A compreensão das alterações
causadas pela estomia torna-se importante no sentido de propiciar o
planejamento de um cuidado mais efetivo, humano e de qualidade
(FARIAS, GOMES, ZAPPAS, 2004, p.31).
Os serviços e os profissionais de saúde, através de um adequado planejamento do cuidado
que inclua o apoio psicológico, a educação para a saúde e que desenvolva as aptidões da pessoa
para o autocuidado, podem ter um papel decisivo na adaptação fisiológica, psicológica e social do
usuário com estomia, contribuindo assim para a melhoria significativa da qualidade de vida destas
pessoas e de suas famílias, servindo como parte de sua rede social de apoio (RODRIGUES, 2013).
Nesse contexto, Nascimento et al (2011) evidencia que cabe ao enfermeiro, como
profissional de saúde, a compreensão dessas alterações, para que possa desenvolver um plano de
cuidados adequado ao preparo do paciente para o convívio com a estomia. O cuidar implica em uma
interação entre o cuidador e quem está sendo cuidado, para troca de conhecimentos e experiências,
proporcionando um resultado positivo de cuidado.
A atuação de enfermagem é de grande relevância, pois além de dar suporte no período que
antecede à cirurgia, é uma ação de aprendizado em que o enfermeiro e o paciente interagem em uma
relação empírica, buscando solucionar problemas por meio do diagnóstico de enfermagem. É
também através da consulta de enfermagem que se tem um acompanhamento direto do paciente,
prevenindo complicações relacionadas ao estoma, e ajudando-o a enfrentar as dificuldades
ocasionadas pelas mudanças ocorridas após a estomização.
Faz-se necessário destacar que a educação em saúde é indispensável e fundamental para o
processo de cuidado, resultando em uma assistência de qualidade, pois o enfermeiro, além de
cuidador é um educador, não apenas em relação aos demais membros da equipe de enfermagem,
mas para o paciente, seus familiares e cuidador informal (REVELES, TAKAHASHI 2007).
Diante disso, a visita domiciliária também deve ser considerada no contexto de educação em
saúde por contribuir para a mudança de padrões de comportamento e, conseqüentemente, promover
a qualidade de vida através da prevenção de doenças e promoção da saúde. Garante atendimento
holístico por parte dos profissionais, sendo, portanto, importante à compreensão dos aspectos psicoafetivo-sociais e biológicos da clientela assistida (BECHARA, 2005).
Tendo em vista a importância da estomia na vida de uma pessoa, as alterações que a mesma
causa, a partir de algumas vivências acadêmicas e leituras e reflexões sobre o assunto, realizou-se
este trabalho de conclusão de curso, através desta prática assistencial, que teve por objetivo
desenvolver ações de cuidado de enfermagem aos usuários com estomia cadastrados no Programa
Municipal de Estomias do município de São Francisco de Assis, bem como implantar as consultas
de enfermagem e visitas domiciliárias aos mesmos, retomando a realização do grupo de
convivência.
MÉTODOS
Este é um estudo descritivo e consiste em um relato de experiência, vivenciado a partir de
uma Prática Assistencial desenvolvida na disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso, do curso
de graduação em enfermagem da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões,
Campus de Santiago. Foi desenvolvida na Unidade Básica de Saúde Central, localizada no
município de São Francisco de Assis – RS, tendo como cenários a Unidade referida e os domicílios
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dos usuários, sob a supervisão da Enfermeira responsável pela entrega de material e cadastros dos
pacientes Estomizados do município e com a orientação da docente enfermeira da Universidade no
período de março a junho de 2012, totalizando 300 horas.
Foram sujeitos da prática assistencial os usuários de estomia intestinal cadastrados no
programa do município e seus familiares. Sendo num total de 13 pacientes, destes, 7 eram mulheres
e 6 homens.
As consultas de enfermagem e o grupo de convivência foram desenvolvidos na Unidade,
conforme agendamento prévio com os usuários e com acompanhamento da enfermeira responsável.
As visitas domiciliárias foram realizadas acompanhadas dos Agentes Comunitários de Saúde da
microárea do território de abrangência em que o paciente reside, de acordo com a disponibilidade
dos pacientes para nos receber.
Cabe ressaltar que para o desenvolvimento desta prática assistencial, apesar de não
configurar uma pesquisa, respaldou-se na Resolução 196/96, do Conselho Nacional de Saúde (CNS)
referente às questões que envolvem trabalhos com seres humanos (BRASIL, 1996).
Dessa forma, o critério utilizado para participação destas atividades foi a leitura e aceite do
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice A), mediante assinatura do mesmo que
garante informações e esclarecimentos de dúvidas referentes à estratégia de intervenção deste
trabalho.
O ENFERMEIRO E AS AÇÕES DE CUIDADO AOS USUÁRIOS COM ESTOMIA
Dos 13 pacientes, 10 tiveram que realizar a cirurgia devido ao câncer (CA) de intestino. Um
dos pacientes é portador da doença de Chagas, outra tem CA de útero e apresentou metástase no
intestino e outro devido à dificuldade de locomoção por causa da tetraplegia acabou desenvolvendo
uma úlcera por pressão na região anal, ocasionando uma fístula, tendo que realizar o desvio
intestinal.
CUIDADOS DE ENFERMAGEM
A estomia independentemente de ser temporária ou definitiva, acarreta uma série de
mudanças na vida do paciente e sua família, requerendo assim um cuidado diferenciado. Os
cuidados de enfermagem com paciente com estomia não podem voltar-se somente para o estoma,
mas também para o estado físico, emocional, psicológico e social, além de atentar para seus
familiares e cuidadores (RODRIGUES, 2013).
Waldow (1995) refere que o cuidar em enfermagem consiste em envidar esforços
transpessoais de um ser humano para outro, visando proteger, promover e preservar a humanidade,
ajudando pessoas a encontrar significados na doença, sofrimento e dor, bem como, na existência. E
ainda, ajudar outra pessoa a obter o autoconhecimento, controle de autocura, quando então, um
sentido de harmonia interna é restaurada, independentemente de circunstâncias externas.
Em relação às pessoas com estomia, os cuidados devem começar desde o momento em que
o mesmo recebe o diagnóstico e a indicação para a realização de cirurgia, amenizando o sofrimento
e buscando uma melhor reabilitação.
Os cuidados de enfermagem com os pacientes com estomia e seus familiares foram
trabalhados conforme foi se observando as dificuldades relatadas pelos mesmos, tanto com o
estoma, como também com o modo de lidar com as novas experiências vivenciadas por eles.
Durante a realização das consultas de enfermagem (CE), das visitas domiciliárias e grupo, manteveVivências. Vol. 9, N.17: p. 58-67, Outubro/2013
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se um cuidado atento com o estoma, bem como com o usuário e o contexto em que ele encontra-se
inserido.
As consultas de enfermagem foram realizadas na Unidade Básica de Saúde, exceto com
alguns usuários, que, por dificuldades de locomoção não puderam ir à unidade, logo, estas foram
desenvolvidas durante a visita domiciliária.
Essas proporcionaram relatar individualmente sobre o projeto aos pacientes com estomia,
bem como conhecer sua história de vida, o motivo pelo qual levou os mesmos a usarem a bolsa de
colostomia, hábitos e crenças do usuário, modos de enfrentamento e aceitação da bolsa, diferentes
maneiras de cuidados com a estomia, sendo benéfico, assim, para a criação de um vínculo, uma
proximidade com os mesmos.
Segundo Vanzin e Nery (1996, p.53):
A consulta de enfermagem compreende uma série de ações realizadas numa
seqüência ordenada, desde a recepção do cliente até a avaliação geral de
todo o atendimento prestado, pois o enfermeiro coleta informações, observa,
examina para conhecer, compreender e explicar a situação de saúde antes de
decidir sobre o diagnóstico de enfermagem e terapêutica do enfermeiro.
Nas consultas foram avaliados o estado geral do paciente, o estoma, a integridade da pele
peri-estoma e as trocas das bolsas de colostomia. Os usuários foram orientados quanto aos cuidados
em geral com sua saúde, à higiene com o estoma, a limpeza e as trocas da bolsa de colostomia.
Alguns usuários ressaltaram as dificuldades que encontraram para aceitar o novo modo de
vida. Muitos referiram o medo, o constrangimento, a vergonha, como sentimentos presentes no seu
dia-dia, privando-se de sair, trabalhar, de levar a vida que levavam antes, como se vê nos relatos dos
mesmos a seguir:
[...] Quando recebi a notícia que teria que usar a bolsa foi um choque. Por
mais que sabia que não era permanente, mas deixei de sair, não conseguia
entender por que comigo? Eu que sou uma pessoa religiosa, por que Deus?
No começo não conseguia olhar para meu esposo, meus filhos, tinha muita
vergonha deles, tinha a impressão que todo mundo ia ficar me olhando, que
meu corpo tava diferente, não ia mais à igreja, até que um dia, fui à igreja
comecei a rezar e encontrei força pra seguir em frente, hoje eu saio, vou à
festa, baile etc. não como antes, mas já não sinto tanta vergonha, já troco a
bolsa sozinha, faço a limpeza. Ainda tenho minhas recaídas, choro, mas
penso que existe coisas piores, e que Deus está comigo, então ergo a cabeça
e sigo em frente. E o que me conforta é que em agosto deste ano vou poder
fazer a cirurgia de reversão [...] (S 1);
[...] Faz 1 ano e 5 meses que uso a bolsa de colostomia, e desde então não
saio mais como antes, tenho muita vergonha, fico constrangido com medo
de que vai fazer “barulho” e que as outras pessoas vão ouvir e perceber
que é de mim [...] (S 2);
As alterações e preocupações relacionadas com o estado físico referem-se às modificações
fisiológicas gastrointestinais, nomeadamente a perda do controle fecal e da eliminação de gases,
complicações relacionadas com a estomia e a realização do auto-cuidado com o estoma e com a
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troca de bolsas (TRENTINI et al, 1992).
Já para outros, foi diferente, seguiram trabalhando, levando a vida como antes, com algumas
restrições, mas não se privaram da vida social. Como se percebe no relato a seguir:
[...] Quando descobri que tinha câncer de intestino fiquei um pouco
assustado, então o médico me disse que teria de fazer um desvio e que
passaria a usar uma “bolsinha”, de inicio até eu me adaptar foi um pouco
difícil, mas desde o início sempre fui eu quem realizou a higiene da bolsa de
colostomia, e nunca parei de trabalhar, faço uso da bolsa há 13 anos, sou
pedreiro e nunca deixei de trabalhar, atualmente estou construindo a minha
própria casa [...] (S 3);
As pessoas submetidas a esse tipo de intervenção enfrentam várias modificações no seu diaa-dia, as quais ocorrem não só em nível fisiológico, mas também em nível psicológico, emocional e
social (SONOBE et al, 2002).
Durante as consultas de enfermagem foram implantados os prontuários de cada paciente,
onde ficam registrados os dados dos pacientes, bem como as consultas de enfermagem, visitas
domiciliárias, a participação do paciente em atividades realizadas, sendo que todo e qualquer
procedimento devem ficar registrado no prontuário do paciente.
Segundo Novaes (1998), o prontuário trata-se de um documento de extrema relevância que
visa, acima de tudo, demonstrar a evolução da pessoa assistida e, subseqüentemente, direcionar o
melhor procedimento terapêutico ou de reabilitação, além de assinalar todas as medidas associadas,
bem como a ampla variabilidade de cuidados preventivos adotados pelos profissionais de saúde.
As visitas domiciliárias foram realizadas acompanhadas pelos Agentes Comunitários de
Saúde e conforme disponibilidade de datas e horários dos pacientes.
Através das visitas, pode-se perceber de maneira mais clara, o modo de vida que o paciente e
seus familiares encontram-se, pois podemos avaliar as condições físicas, ambientais que vivenciam,
além de conhecer as relações familiares deles. Compreendendo assim, até o porquê de muitas
pessoas com estomia não procurarem atendimento na unidade, não irem retirar o material,
transferindo essa tarefa para seus familiares e cuidadores.
O Ministério da Saúde, em seu Manual de condutas de Enfermagem em Saúde da Família
conceitua de visita domiciliária como:
Uma atividade utilizada com o intuito de subsidiar a intervenção no
processo saúde-doença de indivíduos ou o planejamento de ações visando à
promoção de saúde da coletividade. Onde sua execução ocorre no local de
moradia dos usuários dos serviços de saúde e obedece a uma sistematização
prévia (TAKAHASHI; OLIVEIRA, 2001, p.43).
Percebeu-se ainda que a maioria dos pacientes com estomia possuem dependência de seu
familiar ou de seu cuidador, além de terem que fazer mudanças para se adaptar melhor, sendo a
maioria dessas mudanças no banheiro devido à troca e higienização da bolsa.
As visitas foram de grande importância, pois foi um dos meios que proporcionou uma maior
aproximação dos pacientes com estomias e seus familiares, podendo assim conhecer melhor a vida
de cada paciente, bem como as preocupações e dificuldades enfrentadas no dia-dia pelos mesmos.
Durante as visitas domiciliárias foi comentado com os usuários sobre a realização de grupos,
nos quais os mesmos referiram que teriam interesse em participar, sendo assim, logo, fez-se o
convite para este primeiro contato, que foi o 1o Grupo realizado na Unidade Básica de Saúde
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Central (UBS) aos usuários, familiares e seus respectivos cuidadores.
No dia 31 de maio de 2012, foi realizado o grupo com duração de 1 hora e meia, onde
participaram os usuários com estomia, seus familiares e cuidadores, bem como a Enfermeira
Supervisora e responsável pelo Programa e a Agente Comunitária de Saúde responsável pela área
que abrange a UBS.
Conforme pesquisa realizada por Silva e Shimizu (2007), foi constatada que o apoio social é
extremamente importante para a reabilitação da pessoa estomizada, pois norteia decisões a respeito
da doença e do tratamento e ampara o usuário no sentido de enfrentar a doença e suas novas
condições físicas. Ainda, segundo as autoras, é importante que haja um espaço compartilhado entre
os iguais, onde possam expor mais livremente suas angústias e sentimentos, são compreendidos por
seus pares e acolhidos.
A realização do grupo proporcionou que eles pudessem se conhecer melhor, trocar
experiências e sentirem-se acolhidos por pessoas que se encontram na mesma condição de vida. O
grupo é um fator importante para reabilitação do usuário estomizado, bem como de seus familiares
e cuidadores, que passam a interagir, trocar experiências entre si, conhecer e aprender novas formas
de lidar e tratar com o mesmo.
No caso dos usuários de estomia, o grupo se propõe a fornecer também uma vivência ao
mesmo, no sentido de ajudá-lo a lidar com a doença apartir da experiência e do conhecimento dos
participantes do grupo.
Na ocasião, foi proposta uma dinâmica de apresentação, assim, eles apresentaram-se falaram
um pouco da sua trajetória, como foi à aceitação da estomia, o porquê de ter de usar estomia.
Durante as falas percebeu-se o quanto o depoimento deles foi revelador para eles próprios, e
principalmente dos familiares que relataram como foi para eles enfrentarem esse novo modo de
vida.
Segundo Souza e colaboradores (2004), o usuário de colostomia sofre impacto físico e
psicológico, bem como uma súbita destruição de sua imagem corporal. O estado emocional do
paciente anteriormente e logo após a cirurgia pode ser caracterizado por sintomas de ansiedade e
depressão que contribuem de forma negativa no estabelecimento de novas relações sociais, além de
exacerbar o medo, a dor e o sofrimento.
Após apresentação dos pacientes, surgiram perguntas, dúvidas, questionamentos em relação
à bolsa de colostomia, que foram sendo esclarecidas e discutidas com eles aos poucos. Foram
mostrados todos os tipos de bolsa que vem para o município.
Conforme os mesmos o grupo foi de muita importância e contribuiu para que eles se
conhecessem e pudessem realizar trocas de experiências e vivências, sendo que muitos são usuários
há pouco tempo.
[...] Eu sou usuária há 5 meses, não imaginava que existisse aqui no
município tantas pessoas que também usam bolsa de colostomia, pra mim
foi uma surpresa [...] (S 4);
[...] Eu não sou usuário, mas minha mãe usa, e tenho vergonha de dizer que
tenho certo medo de lidar com ela, quando a enfermeira chega lá em casa
eu procuro sair para não ter de responder alguma coisa, mas hoje eu levo
daqui uma lição de vida, tudo que escutei, e presenciei a aqui neste grupo
me fizeram ver as coisas de outro modo [...] (S 5);
Para Tatagiba e Filartiga (2002, p.13) “a vida em grupo oportuniza um universo de
experiências para o desenvolvimento e crescimento das pessoas a partir da descoberta de si mesmo
e dos outros”. Pensando nessas questões levantadas, entende-se a influência desse processo grupal
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na vida dos pacientes com estomia.
Como podemos perceber através das falas dos pacientes e familiares o grupo foi de grande
incentivo e ajuda para os mesmos e seus familiares. A participação em grupos permite uma
interação positiva, uma vez que essa metamorfose humana propicia que cada um se veja no outro,
considerando que todos possuem problemas semelhantes. Esse processo interativo os liberta da
solidão e lhes faculta o companheirismo que é de grande valor terapêutico (PEREIRA; PELÁ,
2006).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho desenvolvido foi satisfatório e alcançou os objetivos, pois pode-se desenvolver
um cuidado integral a estas pessoas que se encontram em uma situação delicada. A realização dessa
prática, junto aos usuários foi de grande valor, pois apesar das dificuldades encontradas, pode-se
fazer com que a maioria dos usuários e seus familiares começassem a buscar mais informações,
adquirindo assim, mais conhecimento sobre o Programa de Estomizados e seus direitos,
promovendo assim, a promoção da saúde dos mesmos.
Percebe-se que o enfermeiro tem um importante papel para os pacientes e que o mesmo
pode ser um grande colaborador para a recuperação e inserção dos usuários com estomia no meio
social, prestando um cuidado de enfermagem qualificado, indo de encontro com as reais
necessidades destes usuários.
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APÊNDICE A – Termo de Consentimento Livre Esclarecido
UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS
MISSÕES URI CAMPUS DE SANTIAGO
TÍTULO: O CUIDADO DE ENFERMAGEM AO INDÍVIDUO ESTOMIZADO
AUTORA: Marluce Erbice Malavolta
FONE: (55) 99102445
ORIENTADORA: Profa. Enfa. Sandra Ost Rodrigues Carvalho.
Eu, ...................................................................................., declaro que estou ciente concordo
em participar das atividades da Prática Assistencial, com o título acima mencionado, desde que os
meus dados pessoais sejam mantidos em sigilo, sendo que poderei retirar o meu consentimento a
qualquer momento, tendo a garantia de que minha saúde e meu tratamento não serão colocados em
riscos em momento algum. Fui esclarecido de que não haverá remuneração financeira pelas
informações por mim fornecidas à acadêmica do IX semestre do Curso de Graduação em
Enfermagem
da
URI
Campus/Santiago,
nomeada
como
autora
da
Prática Assistencial, a qual estará devidamente identificada, podendo ir ao meu domicílio se assim
decidirmos conjuntamente, desde que minha residência não seja identificada. Também, poderá
divulgar o trabalho somente para fins acadêmicos, registrar falas e fotografar desde que seja
garantido meu anonimato e houver respeito aos princípios contidos na resolução número 196/96 do
Conselho Nacional de Saúde.
São Francisco de Assis___de___________2011.
__________________________
Assinatura do Participante
Vivências. Vol. 9, N.17: p. 58-67, Outubro/2013
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