HIPOTIREOIDISMO CANINO - Instituto Hahnemanniano do Brasil

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INSTITUTO HAHNEMANNIANO DO BRASIL
Departamento de Ensino
Curso de Pós-Graduação em Homeopatia
Área de Concentração: Medicina Veterinária
MONOGRAFIA
HIPOTIREOIDISMO CANINO:
Uma Proposta Terapêutica Homeopática
Silvia Helena Figueira Bahiense
Rio de Janeiro – RJ
2014
INSTITUTO HAHNEMANNIANO DO BRASIL
Departamento de Ensino
Curso de Pós-Graduação em Homeopatia
Área de Concentração: Medicina Veterinária
HIPOTIREOIDISMO CANINO:
Uma Proposta Terapêutica Homeopática
SILVIA HELENA FIGUEIRA BAHIENSE
Sob a orientação da professora:
Roselene Barzellay Ferreira da Costa
Monografia submetida como
requisito parcial para obtenção
do certificado de conclusão do
curso
de
formação
de
especialista em Homeopatia –
área de Medicina Veterinária.
Rio de Janeiro – RJ
2014
Bahiense, Silvia Helena Figueira
Hipotireoidismo Canino – Uma Proposta Terapêutica Homeopática /
Silvia Helena Figueira Bahiense.
Rio de Janeiro / RJ. Instituto Hahnemanniano do Brasil. 2014.
30 p.
Orientação: Roselene Barzellay Ferreira da Costa.
1. Hipotireoidismo. 2. Canino. Homeopatia. 3. Tratamento.
4. Calcarea carbonica.
I. Bahiense, Silvia Helena Figueira
II. Instituto Hahnemanniano do Brasil.
xxxx
INSTITUTO HAHNEMANNIANO DO BRASIL
Departamento de Ensino
Curso de Pós-Graduação em Homeopatia
Área de Concentração: Medicina Veterinária
HIPOTIREOIDISMO CANINO
Uma Proposta Terapêutica Homeopática
SILVIA HELENA FIGUEIRA BAHIENSE
MONOGRAFIA APROVADA EM -----/-----/------
Roselene Barzellay Ferreira da Costa. (Especialista)
Instituto Hahnemanniano do Brasil
(Orientadora)
Roselene Barzellay Ferreira da Costa. (Especialista)
Instituto Hahnemanniano do Brasil
(Coordenadora)
_____________________________________________
Maria Luíza Delavechia (Especialista, M.Sc., D.Sc.)
Instituto Hahnemanniano do Brasil
(Coordenadora)
Primeiramente gostaria de agradecer a Deus
por mais essa realização.
À professora Roselene Barzellay pela sua
dedicação e sabedoria, não apenas na
orientação deste trabalho, mas principalmente
como inspiração e exemplo para a minha
prática clínica.
Ao meu esposo Lincoln pelo apoio, ajuda na
organização e revisão do trabalho.
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo oferecer uma proposta de tratamento
homeopático para o hipotireoidismo adquirido primário de cães adultos. Tal proposta
surge como uma alternativa ao tratamento convencional, que apresenta certo risco
de tireotoxicose. Para isso foi feita uma repertorização manual dos sintomas mais
relevantes, frequentes e típicos na manifestação da doença em minha percepção
clínica. Dos medicamentos mais bem pontuados, Calcarea carbonica apareceu em
1º lugar, com a melhor pontuação e cobrindo a maior parte dos sintomas (8 em 9
selecionados). Foi escolhido como medicamento de fundo por apresentar uma
grande similitude de sintomas com os que aparecem classicamente na doença.
Foram sugeridos também, medicamentos de ação organoterápica importante na
tireoide (Lophophytum leandrii, Penicilinum e Thyroidinum) como medicamentos
auxiliares. Além desses, foram citados alguns outros medicamentos que apareceram
na repertorização com pontuação alta para a doença propriamente dita. Desta
forma, pressupondo-se que se faça uma cuidadosa individualização do paciente,
pode-se lançar mão de um vasto arsenal terapêutico disponível e perfeitamente
adequado ao tratamento do hipotireoidismo adquirido primário de cães adultos.
Consegue-se, com isso, dar a chance ao paciente de usufruir de uma terapêutica
mais suave e com grandes chances de êxito, minimizando-se o risco de uma
tireotoxicose.
Palavras-chave: Hipotireoidismo. Canino. Homeopatia. Tratamento. Calcarea
carbonica.
ABSTRACT
This work aims to offer a proposed homeopathic treatment for primary
acquired hypothyroidism of adult dogs. This proposal is an alternative to conventional
treatment, which presents some risk of thyrotoxicosis. For this it was made a manual
repertory of the more severe symptoms, frequent and typical in the disease
manifestation in my clinical perception. The highest scoring drugs, Calcarea
carbonica appeared in 1st place, with the best score and covering most of the
symptoms (8 out of 9 selected). It was chosen as background medication due to the
great similarity of symptoms with those that typically appear in the disease. It has
been also suggested other important organic-therapeutic drugs that affects the
thyroid (Lophophytum leandrii, Penicilinum and Thyroidinum) as auxiliary drugs. In
addition to these, were cited some other medicines that appeared in the repertory
with high scores for the disease itself. Thus, assuming the careful individualization of
the patient, we can take advantage of the wide arsenal of therapeutic drugs available
and perfectly suited for the treatment of primary acquired hypothyroidism of adult
dogs. With this approach, it is possible to provide the patient with a softer treatment,
with great chances of success, minimizing the risk of thyrotoxicosis.
Keywords: Hypothyroidism. Canine. Homeopathy. Treatment. Calcarea carbonica.
SUMÁRIO
1
Introdução .............................................................................................
8
2 Revisão de literatura ..............................................................................
9
3 Materiais e métodos ..............................................................................
18
4 Resultados e discussão ........................................................................
21
5 Conclusão ..............................................................................................
27
6 Lista de anexos .....................................................................................
28
7 Referências ...........................................................................................
29
8
1 – Introdução
O hipotireoidismo, doença endócrina de maior prevalência em cães, é
responsável por um número bastante elevado de problemas cutâneos nessa
espécie. Nos últimos anos, o número de casos de hipotireoidismo no Brasil vem
aumentando significativamente na população canina (assim como na população
humana).
Existe uma grande variação de posologia da L-tiroxina nos protocolos
alopáticos recomendados, o que gera certa dificuldade quando da prescrição e
ajuste das doses. Isso me traz uma percepção pessoal das dificuldades na
condução do tratamento pela alopatia, quando se deseja obter o controle dos
sintomas da doença, sem correr o risco de se provocar uma tireotoxicose.
A Homeopatia mostra-se como uma excelente opção terapêutica para as mais
diversas doenças, proporcionando um tratamento individualizado e com riscos
menores de efeitos colaterais importantes, quando bem conduzido.
O presente trabalho oferece uma proposta de tratamento homeopático
levando-se em consideração os sintomas mais relevantes, frequentes e típicos que
aparecem em cães adultos com hipotireoidismo adquirido primário.
Com isso, o paciente pode usufruir de uma terapêutica efetiva, adequada às
suas necessidades individuais e mais suave, sem o risco de uma tireotoxicose.
9
2 – Revisão de literatura
O termo tireoide (ou tiroide) vem do grego (thyreos+oeides) e significa “em
forma de escudo”. A glândula foi descrita pela primeira vez por Aristóteles (KATER,
2004) e situa-se na região cervical. No homem, apresenta uma forma mais
compacta, com um lobo mediano de forma piramidal e dois lobos laterais formando
uma estrutura que cobre a traqueia, prolongando-se em direção à entrada do tórax,
formando um “escudo” (DYCE et al., 1990). A tireoide, juntamente com os seus
hormônios, desempenha um papel importante na regulação do metabolismo.
No cão, a tireoide também se localiza sobre a traqueia, sendo constituída por
lobos achatados, vermelhos, bilaterais, isolados e, diferentemente do que acontece
em outras espécies domésticas, não ligados por um istmo (DYCE et al., 1990).
O tamanho da tireoide varia em função da quantidade de iodo presente na
alimentação; caso haja deficiência na ingestão desse elemento pode haver o
desenvolvimento do bócio, que é a dilatação da glândula (DYCE et al., 1990).
A glândula tireoide é formada por estruturas diminutas chamadas folículos
tireoidianos, que são formados pelas células foliculares (os tirócitos). Estes folículos
são envoltos por uma membrana conjuntiva e possuem uma rica vascularização,
com uma grande rede capilar, cujas células endoteliais são fenestradas para
propiciar a passagem do hormônio para dentro dos vasos (JUQUEIRA e
CARNEIRO, 1990).
A regulação da secreção hormonal ocorre principalmente através do TSH,
que é o hormônio tireotrófico produzido pela hipófise anterior. Este controla a
atividade das células foliculares e os hormônios tireoidianos, por sua vez, inibem a
síntese do TSH, assim um equilíbrio é mantido de forma a existir quantidades ideais
dos hormônios tireoidianos no organismo. Sabe-se que a produção de TSH é
estimulada pelo frio e diminuída pelo calor ou pelo stress (CUNNINGHAM, 1993) e
também que estímulos neurogênicos podem agir sobre a tireoide, pois, neste último
caso, evidências mostram que as aminas adrenérgicas alteram o metabolismo de
células tireoidianas isoladas e, além disso, há fibras nervosas adrenérgicas junto à
lâmina basal dos folículos (JUQUEIRA e CARNEIRO, 1990).
10
O eixo da tireoide é regulado pela síntese e secreção diárias de T4 da
seguinte forma: o T4 inibe a síntese de TSH e de TRH na hipófise e no hipotálamo,
respectivamente (DUNCAN et al. apud CASTILLO, 2011).
Entre os folículos existem também pequenos acúmulos de células chamadas
de parafoliculares ou células C, que produzem um hormônio chamado calcitonina
cuja função é reduzir a concentração de cálcio no sangue, promovendo dessa forma,
um antagonismo ao paratormônio (PTH).
Os folículos tireoidianos são pequenas estruturas esféricas preenchidas por
coloide e formadas por um epitélio disposto em monocamada. O aspecto dos
folículos varia conforme a região da glândula e sua atividade funcional; podendo-se
ver folículos grandes, cheios de coloide e com epitélio cúbico ou pavimentoso junto
de folículos pequenos e com epitélio prismático. Quando a glândula está pouco
ativa, a altura média do epitélio folicular é baixa; por outro lado, quando a glândula
recebe estímulo de TSH, temos um aumento da altura do epitélio, com diminuição
da quantidade de coloide e do tamanho do folículo (JUQUEIRA e CARNEIRO,
1990).
Este coloide é composto por uma glicoproteína, chamada tireoglobulina que é
produzida pelos tirócitos, rica em leucina e contém radicais tirosinas (GUYTON e
HALL, 2006). Após a síntese da tireoglobulina, o iodeto do sangue é captado
(através da bomba de iodeto, a qual é estimulada pelo TSH), transformado em iodo
e combinado com os radicais tirosila da tireoglobulina (iodação). Formam-se as
tirosinas: a monoiodotirosina (MIT) e a diiodotirosina (DIT); que se unem formando
as tironinas: a triiodotironina (T3) e a tetraiodotironina ou tiroxina (T4) (JUQUEIRA e
CARNEIRO, 1990).
Desta forma, no coloide ficam armazenados os hormônios tireoidianos. A
tireoide é a única glândula endócrina que armazena sua secreção em quantidade
significativa, assim, o organismo consegue suportar períodos de privação de iodo ou
só se ressente da falta dos hormônios produzidos por ela meses após a interrupção
do funcionamento da glândula (CUNNINGHAM, 1993; JUQUEIRA e CARNEIRO,
1990).
11
Quando há estímulo das células foliculares pelo TSH, estas captam e digerem
gotículas do coloide liberando MIT, DIT, T3 e T4. A MIT e a DIT ficam na célula
folicular e o T3 e o T4 são os hormônios que chegam ao sangue. Apesar do T3 ter
uma ação mais rápida e mais potente, o T4 é o principal e o mais abundante,
respondendo por 90% do hormônio tireoidiano (JUQUEIRA e CARNEIRO, 1990). A
maior parte da formação de T3 ocorre fora da tireoide, pela desiodação de T4
principalmente em tecidos como fígado, rins e também músculos (CUNNINGHAM,
1993).
Os hormônios tireoidianos são lipossolúveis e como tal são transportados no
plasma ligados a proteínas plasmáticas; menos de 1% fica livre nesse meio. No
homem, a quantidade de hormônio livre é de 0,3% para T3 e 0,03% para T4 (no cão,
devido à menor afinidade dos hormônios tireoideos e as proteínas plasmáticas esses
valores são maiores: um pouco mais e um pouco menos que 1%, respectivamente).
Algumas situações podem alterar o equilíbrio entre as frações livre e ligada, como
por exemplo, gestação e o uso de algumas drogas.
De forma geral, os hormônios têm meias-vidas de segundos ou minutos, mas
como a maior parte dos hormônios tireoidianos está ligada às proteínas plasmáticas,
ficam protegidos da degradação, por isso suas meias-vidas são bastante longas. O
T3 tem meia-vida de um dia e o T4 de 6 a 7 dias, essa diferença se dá pela ligação
menos firme do T3 quando comparado ao T4. (CUNNINGHAM, 1993).
Os hormônios tireoidianos estão relacionados ao metabolismo e ao
crescimento: estimulam a respiração e a oxidação celular, aumentam a absorção de
carboidratos no
intestino
e, no
embrião,
estimulam
o
crescimento e
o
desenvolvimento do sistema nervoso central.
A disfunção da tireoide mais comum nos cães é o hipotireoidismo
(diferentemente dos felinos, cuja patologia dessa glândula mais frequente é o
hipertireoidismo), sendo a doença endócrina de maior prevalência em cães e
responsável por um número bastante elevado de problemas cutâneos nessa
espécie, encontrando-se incidências de 22% (PEIXOTO et al., 2012) a 32,9%
(TEIXEIRA, 2008) dos casos de dermatopatias em cães no estado do Rio de
Janeiro.
12
Dados da literatura mostram que a prevalência do hipotireoidismo em cães
examinados em estudo realizado por Panciera apud Seita (2009) é de 0,2% a 0,8%.
Nos últimos anos, o número de casos de hipotireoidismo no Brasil vem aumentando
significativamente na população canina (assim como vem ocorrendo também na
população humana) acometendo 6,5% dos cães atendidos em um estudo realizado
no Rio de Janeiro (TEIXEIRA, 2008).
O hipotireoidismo é a deficiência de hormônios tireoidianos T3 (triiodotironina)
e T4 (tetraiodotironina ou tiroxina). Essa deficiência pode ocorrer por qualquer
alteração no eixo hipotálamo-hipófise-tireóide. Segundo Castillo (2011), existe
também a possibilidade de defeitos nos receptores nucleares (resistência ao
hormônio).
O hipotireoidismo pode existir de duas formas: congênito e adquirido. A forma
congênita, que é considerada rara, pode afetar todos os cães da ninhada (quando é
causada por diminuição do hormônio tireoidiano materno) ou afetar apenas um
filhote (por disgenesia da glândula ou por uma deficiência da enzima tireoperoxidase
ou por disormonogênese ou, mais raramente, secundário a um hipopituitarismo)
(NELSON e COUTO, 2000; SEITA, 2009).
Nessa forma, os efeitos no feto ou no recém-nascido são de mau
desenvolvimento do sistema nervoso central (levando a um retardo mental) e do
esqueleto, provocando um atraso na maturação e perda das proporções
esqueléticas (CASTILLO, 2011; SAUNDERS e JEZYK apud SEITA, 2009).
Geralmente esses filhotes, ao nascimento, são os maiores da ninhada, mas devido a
esse atraso no desenvolvimento, logo se tornam os menores.
Essa síndrome chama-se cretinismo e seus sintomas são: letargia, dificuldade
de aprendizado, apatia, tronco largo ou quadrado (NELSON e COUTO, 1994),
cabeça grande e larga, língua espessa protraída ou macroglossia, erupção dentária
atrasada, membros curtos, bócio (achado incomum, mas que pode ocorrer
principalmente quando a causa é uma deficiência na produção de TSH) (NELSON e
COUTO, 1994; SCOTT-MONCRIEFF apud SEITA 2009), hipotermia, ataxia
locomotora, distensão abdominal, aprumos incorretos, canal auditivo estenosado,
pálpebras fechadas, obstipação (SCOTT-MONCRIEFF apud SEITA, 2009), alopecia,
persistência da “pelagem de filhote” (NELSON e COUTO, 1994), ou outras
13
alterações
cutâneas
semelhantes
às
encontradas
em
cães
adultos
com
hipotireoidismo (SCOTT-MONCRIEFF apud SEITA, 2009)
O hipotireoidismo adquirido pode ser primário ou secundário. O primário, em
geral, é causado pela destruição da glândula tireoide, seja pela tireoidite linfocitária,
seja pela atrofia da glândula. Existem outras causas, menos comuns, tais como:
neoplasia tireoidiana primária ou metastática, tireoidectomia bilateral ou induzido por
drogas (NELSON e COUTO, 2000; MARKS et al. apud SEITA, 2009).
Já o hipotireoidismo secundário, ocorre devido a causas não relacionadas
diretamente à glândula tireoide como: após terapia com glicocorticoides, disfunções
na hipófise, neoplasias na hipófise (NELSON e COUTO, 2000), e disfunção
hipotalâmica, neste caso, considerado por alguns autores como hipotireoidismo
terciário e ainda sem relato em cães (NELSON e COUTO, 2000; SCOTTMONCRIEFF apud SEITA, 2009).
Os sinais clínicos do hipotireoidismo secundário são semelhantes aos do
hipotireoidismo primário, mas muitas vezes os sinais mais óbvios são os da
patologia subjacente, podendo haver sintomas, por exemplo, relacionados à
neoplasia hipofisária ou ao hiperadrenocorticismo. (FELDMAN e NELSON apud
SEITA, 2009).
Uma vez que este trabalho tem como foco principal o hipotireoidismo
adquirido primário, serão tecidos mais comentários sobre esta forma da doença, que
responde por 95% dos casos de hipotireoidismo em cães (NELSON e FELDMAN
apud DE MARCO e LARSSON, 2006). A idade média de ocorrência é entre 2 e 6
anos e não há predileção por sexo. Nas raças suspeitas de serem predispostas
(como por exemplo: Golden Retriever, Labrador Retriever, Schnauzer Miniatura,
Setter Irlandês, Dog Alemão, Poodle e Cocker Spaniel) os sinais costumam surgir
mais cedo.
Conforme já comentado anteriormente, as duas principais causas do
hipotireoidismo adquirido primário em cães são: a tireoidite linfocitária (ou tireoidite
imunomediada) e a atrofia idiopática glandular. A primeira responde por mais ou
menos 50% dos casos de hipotireoidismo adquirido e é uma doença imunomediada
(muito semelhante à tireoidite de Hashimoto dos humanos). Nela ocorre uma
14
infiltração de linfócitos, macrófagos e células plasmáticas no parênquima da
glândula. Inicialmente, os infiltrados inflamatórios são multifocais e difusos,
espalhados entre os folículos tireoidianos que reduzem de tamanho. Os linfócitos,
macrófagos e plasmócitos são numerosos na luz dos capilares interfoliculares e
migram pela parede do folículo até o lúmen do mesmo, misturando-se ao coloide e
às células foliculares degeneradas.
Com a progressão da doença, o parênquima glandular normal é substituído
por tecido conectivo fibroso maduro, com alguns focos dispersos de infiltrados
inflamatórios. No final do processo, os folículos são difusos, muito afastados e com
uma pequena quantidade de coloide vacuolizado em seu interior (THOMPSON,
1990).
Como o processo é lento, apenas quando essas alterações são extensas e
atingem pelo menos 75% da glândula é que os sinais de hipotireoidismo surgem
(ETTINGER e FELDMAN, 2006).
Suas causas ainda não são totalmente conhecidas, havendo fortes suspeitas
de que apresente um componente genético com um padrão poligênico similar ao
que ocorre na doença em humanos (THOMPSON, 1990), havendo a produção de
auto-anticorpos contra a tireoglobulina e/ou outros componentes foliculares
(THOMPSON, 1990; FELDMAN e NELSON apud SEITA, 2009).
A segunda causa mais comum de hipotireoidismo primário em cães é a atrofia
idiopática glandular. Nessa forma também há perda do parênquima, mas com
substituição por tecido adiposo e sem inflamação. Ainda não se conhece a causa,
mas acredita-se que seja um processo degenerativo primário ou ainda um final
possível da doença anterior (a tireoidite imunomediada) (NELSON e COUTO, 2000).
O hipotireoidismo apresenta uma grande variação de sinais clínicos e, em
geral, de surgimento discreto e gradual. Em cães adultos, estes sinais são
basicamente consequência da diminuição do metabolismo celular, tais como: algum
embotamento mental, letargia, intolerância ao frio, intolerância ao exercício ou até
apatia, tendência ao ganho de peso sem aumento de apetite equivalente, fraqueza,
etc.
15
Uma gama de sintomas importantes está relacionada à pele e aos pelos e são
os sintomas virtualmente mais comuns. Classicamente, vê-se: alopecia bilateral
simétrica em tronco, apruriginosa, que poupa cabeça e extremidades; mas podemos
encontrar também alopecia focal, multifocal, ou generalizada, simétrica ou
assimétrica, podendo atingir também a cauda (“cauda de rato”), iniciando-se em
alguns casos pelos pontos de fricção.
É comum também vermos: piodermite e seborreia de todos os tipos, focal ou
generalizada, sendo que nesses casos, pode haver prurido secundário. Encontra-se
também: otite crônica, recrescimento lento do pelame, hiperqueratose que leva à
produção de caspas e escamas (NELSON e COUTO, 2000), pelagem seca, opaca,
facilmente destacável, hiperpigmentação (WHITE apud BERTOLINO, 2012). Com a
evolução e agravação da doença, pode existir também o que chamamos mixedema,
que é o acúmulo de mucopolissacarídeos na derme, os quais ao reterem água,
levam ao engrossamento da pele, principalmente da face provocando aparência
conhecida como fácies trágicas.
O hipotireoidismo pode levar a uma desmielinização e axoniopatia, o que
pode fazer com que alguns cães apresentem também sintomatologia neurológica
importante de origem central ou periférica. Outras causas para os sintomas de
origem central seriam a hiperlipidemia grave, a aterosclerose cerebral e a deposição
de mucopolissacarídeos no perineuro e no endoneuro, que levariam a sinais como:
convulsões, andar em círculo e ataxia. Podemos encontrar também sinais
vestibulares como inclinação da cabeça ou nistagmo posicional. Os sintomas de
origem periférica são: paralisia do nervo facial ou laríngea, fraqueza ou arrastamento
das patas com desgaste da superfície dorsal da(s) unha(s), claudicação de um dos
membros torácicos e perda de massa muscular, em geral sem mialgia.
O
hipotireoidismo
também
pode
provocar
alterações
reprodutivas,
principalmente nas fêmeas, tais como anestro, intervalos aumentados ou irregulares
entre os ciclos, galactorréia, abortamento espontâneo ou filhotes fracos. Nos
machos, pode haver diminuição da libido, atrofia testicular e diminuição ou ausência
de produção de espermatozoides, mas essas alterações não são comuns (NELSON
e COUTO, 2000).
16
Podemos encontrar também, alterações cardiovasculares como: bradicardia,
diminuição do volume sanguíneo circulante, aumento da resistência vascular
periférica levando à diminuição do débito cardíaco (PANCIERA apud SEITA, 2009).
Além disso, pode existir também aterosclerose (provavelmente secundária à
hipercolesterolemia) e que levaria a outras alterações cardiovasculares, como por
exemplo, fibrilação atrial e insuficiência cardíaca congestiva esquerda (HESS et al.
apud SEITA, 2009).
Esta hipercolesterolemia/lipemia pode levar também ao surgimento de
alterações oculares, como lipidose corneal, ceratoconjuntivite seca, úlcera de
córnea, uveíte, derrame lipídico no humor aquoso, glaucoma secundário, “lipemia
retinalis” e descolamento de retina (CRISPIN e BARNETTE 1998 apud SEITA,
2009).
Algumas alterações laboratoriais como alterações no sistema de coagulação,
anemia arregenerativa normocítica e normocrômica, aumentos consideráveis de
triglicerídeos (levando à lipemia) e de colesterol (podendo ser maior que 1000
mg/dL) frequentemente podem existir. Numa proporção menor dos casos pode
haver aumento das enzimas ALT, AST, FA sérica e CPK. Essas alterações não são
patognomônicas de hipotireoidismo, mas quando associadas à sintomatologia
característica, podem ajudar a diagnosticar a doença (NELSON e COUTO, 2000).
Os testes específicos para a avaliação da função tireoidiana são em ordem de
importância: a dosagem do T4 livre pelo método de diálise de equilíbrio e a dosagem
sérica do T4 total basal. Pode-se associar também a dosagem de TSH basal. A
interpretação dessas dosagens será feita da seguinte forma:
Para o T4 livre teremos: se o resultado for maior que 1 ng/dL, o cão deverá
ser considerado com eutireoideu; se for menor que 1 ng/dL (e principalmente se for
menor que 0,5 ng/dL) o cão deverá ser hipotireoideu.
Para o T4 total teremos: se o resultado for maior que 2 mcg/dL, o cão é muito
provavelmente eutireoideu; se for de 1,5 a 2 mcg/dL, provavelmente eutireoideu;
entre 1 e 1,5 mcg/dL, são casos limítrofes; se for de 0,5 a 1 mcg/dL, o cão
possivelmente é hipotireoideu; e por fim, se o resultado for menor que 0,5 mcg/dL, o
17
cão muito provavelmente é hipotireoideu, desde que se descarte a existência de
outra doença sistêmica grave (NELSON e COUTO, 2000).
Outra forma de se corroborar o diagnóstico é a realização de ultrassonografia
cervical. Em cerca de 94% dos cães com hipotireoidismo, as imagens
ultrassonográficas
da
tireoide
mostram
seus
lobos
menores,
hipoecóicos,
heterogêneos, disformes e mal delineados, sendo portanto a ultrassonografia um
ótimo método para o diagnóstico da doença (DE MARCO e LARSSON, 2006;
TAEYMANS et al., 2007).
O diagnóstico se dá pela soma da sintomatologia clínica mais os resultados
dos exames complementares.
O tratamento alopático é feito utilizando-se a levotiroxina sódica (L-tiroxina) e
existe uma grande variação nos protocolos recomendados com doses que vão de 3
a 44mcg/kg e administrações a cada 12 ou 24 horas (CASTILLO, 2011); o que gera
certa dificuldade quando da prescrição e ajuste das doses, sendo que a dose média
é de 22 mcg/kg a cada 24 horas.
O objetivo da terapia é normalizar os níveis de Tiroxina na circulação sem
provocar uma tireotoxicose.
18
3 – Materiais e métodos
O presente trabalho apresenta uma proposta de tratamento homeopático
levando em consideração os sintomas mais frequentes que aparecem em cães
adultos com hipotireoidismo adquirido primário.
Conforme nos ensina a obra de Hahnemann (2004, p.54):
“O objetivo ideal da cura é o restabelecimento rápido, suave e permanente
da saúde ou a remoção e total destruição da doença em toda a sua
extensão, através do caminho mais curto, seguro e menos prejudicial,
baseado em princípios facilmente compreensíveis.”
Para isso, deve-se proceder a uma avaliação completa do indivíduo doente,
levando-se em consideração sua constituição, seu temperamento e a totalidade dos
sintomas apresentados, com suas respectivas modalizações (HAHNEMANN, 2004).
Ou seja, a individualização do paciente é primordial para que se possa encontrar
o(s) medicamento(s) mais adequado(s) ao caso específico a ser tratado.
A Homeopatia nos oferece uma gama imensa de medicamentos com suas
patogenesias descritas detalhadamente nas matérias médicas disponíveis, que
servem de base para a escolha adequada do(s) remédio(s) necessário(s) ao
paciente.
Para a realização deste trabalho, analisei os sintomas1 considerados mais
frequentes por Nelson e Couto (2000, p. 752). Selecionei então, os nove mais
relevantes, frequentes e típicos na manifestação da doença em minha percepção
clínica. São eles: apatia, embotamento mental, inatividade ou intolerância ao
exercício, intolerância ao frio, aumento de peso, hiperpigmentação cutânea,
alopecia, atrofia da glândula e a doença do hipotireoidismo em si.
Tais sintomas foram transformados em linguagem repertorial e divididos em:
dois sintomas mentais (alheamento ou indiferença e embotamento), cinco sintomas
gerais (lentidão ou aversão a movimentos ou sedentarismo; melhora ao aquecer-se
ou desejo de calor ou aversão ao frio ou friorento; obesidade; hipotireoidismo e
1
Anexo 1
19
atrofia de glândulas) e dois sintomas cutâneos (pele marrom ou negra e queda de
cabelos).
São eles:
1.a- Mental, Alheio, deslocado, distante, meio ambiente (arredores), de seu;
1.b- Mental, Indiferença, apatia.
2.a- Mental, Embotamento, lerdeza, dificuldade de pensar e torpor mental;
2.b- Mental, Sentidos embotados, entorpecidos;
3.a- Generalidades, Lentidão corporal;
3.b- Generalidades, Movimento, aversão a;
3.c- Generalidades, Sedentários, hábitos.
4.a- Generalidades, Aquecer-se, melhora;
4.b- Generalidades, Calor (aquecimento), desejo de;
4.c- Generalidades, Frio, aversão a;
4.d- Generalidades, Friorento.
5 - Generalidades, Obesidade.
6 - Generalidades, Hipotireoidismo.
7 - Generalidades, Atrofia, glândulas, de.
8.a- Pele, Coloração, marrom;
8.b- Pele, Coloração, negra.
9 - Pele, Cabelo, queda de (em geral).
20
Após ser feita uma repertorização manual utilizando-se o Repertório
Homeopático do Dr. Ariovaldo Ribeiro Filho (2010), chegou-se ao seguinte resultado:
Sintomas/
remédios
1
2
3
4
5
6
7
8
9
Pontos/ nº
sint.
Calc
2
3
3
3
3
2
-
-
2
18 / 7
Graph
2
3
1
3
3
3
-
-
2
17 / 7
Nat m
3
3
2
2
2
3
-
-
2
17 / 7
Ars
2
1
3
3
2
-
1
3
1
16 /8
Kali c
2
3
2
3
2
1
1
-
1
15 / 8
Lach
2
3
3
1
1
2
-
2
1
15 / 8
Sep
3
3
2
3
1
3
-
-
-
15 / 6
Carb v
3
3
2
2
1
-
-
2
1
14 / 7
Con
3
2
2
2
1
1
3
-
-
14 / 7
Phos
3
3
1
3
2
-
1
-
1
14 / 7
Sec
2
2
2
1
-
-
2
3
2
14 / 7
Sil
2
3
3
3
1
1
1
-
-
14 / 7
Sulph
2
3
3
2
2
1
-
-
1
14 / 7
Lyc
2
3
2
3
2
2
-
-
-
14 / 6
Plb
1
3
2
2
1
-
1
3
-
13 / 7
21
4 – Resultados e discussão
Conforme se pode observar, a Calcarea carbonica ou Calcarea ostearum
(camada média da concha da ostra) foi o medicamento mais bem pontuado obtendo
um total de 18 pontos e cobrindo um grande número de sintomas (7 entre 9). Além
disso, apareceu com pontuação alta em vários destes sintomas (sintomas 2 a 5).
Segundo Lathoud (2002), “...Calcarea ostearum afeta profundamente a
nutrição geral...” e ainda “...apesar de estar entre os policrestos, sua influência
mestre está concentrada na esfera vegetativa...”. Tais ações se relacionam a todo o
metabolismo, que é essencialmente o alvo dos hormônios tireoidianos.
De acordo com Boericke (1993), além da ação principal se dar na esfera
vegetativa, Calcarea carbonica é um medicamento com ação importante em todas
as glândulas, mas principalmente na hipófise e na tireóide.
Na esfera mental, os sintomas são relacionados a uma grande incapacidade
de realizar um esforço intelectual e dificuldade de aprendizado que caracterizariam o
embotamento mental; além disso, há uma tendência para a apatia (CAIRO, 1996;
DUFILHO, 2000; LATHOUD, 2002).
O doente de Calcarea carbonica apresenta-se sem energia, com lentidão de
movimentos, baixa atividade (LATHOUD, 2002; TÉTAU, 2000) e avesso ao trabalho
e ao esforço (BOERICKE, 1993). Ao mesmo tempo em que apresenta completa falta
de energia e fraqueza (CAIRO, 1996; LATHOUD, 2002), cansando-se facilmente
após qualquer atividade (ALLEN, 2000; DUFILHO, 2000).
Outra característica do medicamento Calcarea carbonica é a sensibilidade ao
frio, agravação pelo frio e sensação de frio, inclusive frio interior, de acordo então, à
diminuição do metabolismo que o hipotireoidismo causa (ALLEN, 2000; BOERICKE,
1993; CAIRO, 1996; DUFILHO, 2000; LATHOUD, 2002; TÉTAU, 2000).
É indicado em doentes de aspecto gordo ou tendendo à obesidade (ALLEN,
2000; BOERICKE, 1993; CAIRO, 1996; LATHOUD, 2002).
Além dos sintomas selecionados, Calcarea carbonica é útil em certos casos
de anemias secundárias (CAIRO, 1996; LATHOUD, 2002) e, como foi dito
22
anteriormente, o hipotireoidismo pode provocar uma anemia arregenerativa
normocítica e normocrômica.
Embora a ação central de Calcarea carbonica não se dê especialmente na
pele e nos ouvidos, os pacientes deste medicamento podem apresentar uma pele
que adoece facilmente, onde os menores ferimentos supuram (DUFILHO, 2000;
LATHOUD, 2002), além de poder também apresentar uma inflamação nos ouvidos
com secreção muco-purulenta (LATHOUD, 2002). Apesar de não terem sido
selecionados para a repertorização, o hipotireoidismo pode ocasionar nos cães
piodermite de diversos graus e otite crônica, uma vez que as baixas taxas de
hormônios tireoidianos causam um efeito de redução nas reações imunológicas
humorais, na função das células T e no número de linfócitos circulantes (NELSON e
COUTO, 2000).
Vemos com tudo isso, que o medicamento Calcarea carbonica cobre uma
grande quantidade de sintomas frequentes em casos de hipotireoidismo adquirido
primário nos cães e seria o medicamento de fundo eleito para prescrição em um
caso que apresentasse os sintomas descritos.
As doses sugeridas pelos vários autores são bastante variáveis, indo de 3
DH, passando por 5 CH a 30 CH, 100 CH, 200 CH, 500 CH, 1 M até 10 M; não
devendo ser repetidas com excessiva frequência em idosos (BOERICKE, 1993). De
acordo com Dufilho (2000), 1M “é a dose reguladora de uma disfunção endócrina
(timo, tireóide) relacionado com sua constituição”.
O segundo medicamento mais pontuado na repertorização realizada foi o
Graphites. Não foi escolhido, pois, apesar de ser um remédio com ação importante
nas doenças crônicas que causam alterações de pele, cabelos e glândulas
(LATHOUD, 2002), alterações frequentes em cães adultos com hipotireoidismo,
apresenta lesões cutâneas com características muito bem definidas, conforme diz
Lathoud (2002): erupções úmidas, fissuradas, na forma de vesículas ou úlceras que
eliminam uma secreção mucosa, gelatinosa, viscosa, colante e espessa de aspecto
característico semelhante ao mel. Tal afirmação é confirmada por Dufilho (2000),
Allen (2000), Cairo (1996) e Tétau (2000). Os três últimos acrescentam ainda uma
pele malsã onde todos os ferimentos supuram.
23
Este medicamento também age em indivíduos apáticos (DUFILHO, 2000);
gordos ou com tendência à obesidade (ALLEN, 2000; BOERICKE, 1993; CAIRO,
1996; DUFILHO, 2000; LATHOUD, 2002; TÉTAU, 2000) e friorentos ou com
sensação de frio (BOERICKE, 1993; CAIRO, 1996; DUFILHO, 2000; LATHOUD,
2002; TÉTAU, 2000).
Além disso, o doente também apresenta astenia e anemia, mas estes
sintomas, juntamente com a frialdade, são devidos a uma lentidão circulatória,
característica do remédio (DUFILHO, 2000; LATHOUD, 2002) e não por uma
alteração primária no metabolismo (como a que ocorre em Calcarea carbonica e no
hipotireoidismo).
O terceiro medicamento mais bem pontuado foi Natrum muriaticum (cloreto de
sódio). Indicado para indivíduos abatidos, com fraqueza física e mental, deprimidos,
com fadiga crônica, que se cansam ao menor esforço mental ou físico (DUFILHO,
2000; LATHOUD, 2002) e com grande debilidade (BOERICKE, 1993). Apresentam
desfalecimento ao menor esforço, devido a palpitações cardíacas (ALLEN, 2000;
CAIRO, 1996; TÉTAU, 2000). Apresenta também ação importante em anemias de
diversas origens (ALLEN, 2000; BOERICKE, 1993; CAIRO, 1996; LATHOUD, 2002;
TÉTAU, 2000).
Tem ação importante na pele, onde as glândulas, principalmente as
sebáceas, estão hiperativas levando a infecções e acne, além de doenças
dermatológicas crônicas, erupções, eczema úmido, impetigo, furúnculos e urticária
(LATHOUD, 2002). Tétau (2000) cita acne, comedões, alergia ao sol e eczema seco
e pruriginoso. Allen (2000) e Boericke (1993) comentam sobre eczemas que pioram
por abuso de sal e por estar à beira-mar. Pode haver também erupções crostosas
nas dobras dos membros (BOERICKE, 1993; DUFILHO, 2000). Allen (2000) cita
urticária aguda ou crônica e, segundo Boericke (1993) e Lathoud (2002), esta
urticária piora após esforços físicos. Além disso, o cabelo tem tendência à queda
(ALLEN, 2000; BOERICKE, 1993; CAIRO, 1996) e pode se apresentar fraco e
quebradiço (LATHOUD, 2002).
Este medicamento não foi o escolhido, pois embora “afete profundamente a
nutrição geral do indivíduo...” (LATHOUD, 2002), o faz por um mecanismo diverso do
24
que ocorre no hipotireoidismo. Essa ação na nutrição se dá porque, uma vez que
Natrum muriaticum faz parte do nosso organismo, é responsável por manter a
osmolaridade dos líquidos orgânicos, controlando a assimilação ou a eliminação dos
outros sais, podendo assim, ocasionar quadros de desnutrição, emaciação, anemia,
clorose e escorbuto (LATHOUD, 2002).
Além disso, é mais indicado para indivíduos magros ou emagrecidos (ALLEN,
2000; BOERICKE,1993; CAIRO,1996; DUFILHO 2000; LATHOUD, 2002; TÉTAU,
2000) e, de acordo com Boericke (1993) e Cairo (1996), teria indicação específica no
hipertireoidismo.
Além desses medicamentos, selecionei outros três com ação interessante
sobre a glândula tireóide. São eles: Lophophytum leandrii, Penicilinum e
Thyroidinum. São medicamentos menores, mas com um organotropismo bem
marcado sobre essa glândula.
O medicamento Lophophytum leandrii (Flor de Piedra) tem seu principal
organotropismo pela tireóide com indicação no hipotireoidismo (também no
hipertireoidismo e no bócio). São recomendadas as potências: 4ª a 30ª DH e 1ª a
12ª CH (BOERICKE, 1993).
Penicilinum (sal de sódio da benzil penicilina G) tem indicação no tratamento
do hipotireoidismo, sensibilidade ao frio e fraqueza. Potências recomendadas: 4ª a
30ª CH (BOERICKE, 1993). Cairo (1996) cita também para astenia com obnubilação
mental e intolerância ao esforço.
De acordo com Boericke (1993), o Thyroidinum (tiroidina ou a glândula
tireóide seca do carneiro) “exerce uma influência reguladora geral sobre o
mecanismo dos órgãos da nutrição, crescimento e desenvolvimento”, sendo indicado
em casos de hipotireoidismo, fraqueza muscular, fadiga fácil, anemia, sensibilidade
acentuada ao frio, apatia, além de bócio e cretinismo. As potências sugeridas são de
6ª a 30ª CH. Cairo (1996) acrescenta ainda como indicação a obesidade.
Esses são pequenos medicamentos [sendo que os dois primeiros foram
mencionados por Boericke (1993) no Suplemento de seu livro] que têm,
especificamente, uma ação organoterápica bastante útil. Em Medicina Veterinária,
25
utiliza-se com frequência medicamentos deste grupo (pequenos); dessa forma, é
importante que o profissional leve-os em consideração na busca do tratamento ideal
de seus pacientes.
Ao fazer a repertorização usando o Repertório Homeopático do Dr. Ariovaldo
Ribeiro Filho (2010) encontrei alguns medicamentos que obtiveram três pontos na
rubrica específica “hipotireoidismo”, embora não necessariamente tenham sido bem
pontuados nos demais sintomas selecionados. São eles: Calcarea iodata, Graphites,
Kali iodatum, Natrum muriaticum, Sepia succus, Spongia marina tosta e
Thyroidinum.
O medicamento Calcarea iodata (iodeto de cálcio) é citado por Boericke
(1993) como sendo útil para dilatação da tireóide na puberdade e refere-se também
a queda de cabelos.
Cairo (1996) refere-se ao medicamento Kali iodatum ou Kali hydriodicum
(iodeto de potássio) como “um excelente medicamento da papeira simples”.
Boericke (1993) e Dufilho (2000) relatam também utilidade em inchações de
glândulas, sendo que o último relata imensa fraqueza também como um sintoma do
remédio.
Conforme diz Lathoud (2002), o doente Sepia succus (tinta da siba) apresenta
indiferença a tudo; astenia extrema, com fraqueza física e mental; indolência; pele
doentia,
terrosa
e
com
manchas
amareladas
ou
amarelo-amarronzadas,
principalmente na face, mas que podem acometer também peito e abdômen; além
de otite purulenta. Boericke (1993) cita também a indolência e queda de cabelos.
Allen (2000) diz ainda que o paciente de Sepia tem muita sensibilidade ao frio,
apresentando perda de calor vital, principalmente em doenças crônicas; cita também
indiferença, indolência e acentuada queda de cabelos. Tétau (2000) comenta além
de apatia e indiferença, uma frilosidade geral.
O medicamento Spongia marina tosta ou Spongia tosta (esponja) tem uma
ação muito importante sobre todas as glândulas, causando hipertrofia e
endurecimento, com indicação específica para a tireóide (ALLEN, 2000; CAIRO,
1996; DUFILHO, 2000; LATHOUD, 2002). Boericke (1993) cita a hipertrofia da
tireóide, mas não relata seu endurecimento e Tétau (2000) refere-se à apresentação
26
de uma tireóide “quente, intumescida e endurecida”. Lathoud (2002) relata também
lentidão mental; Boericke (1993) e Cairo (1996) relatam intolerância ao menor
esforço.
Os medicamentos Graphites, Natrum muriaticum e Thyroidinum receberam
comentários anteriormente no texto acima.
Importante salientar que todos os remédios citados neste trabalho, apesar de
não terem sido bem pontuados na minha repertorização, devem ser lembrados ou
considerados quando do tratamento de casos concretos de pacientes que
apresentem sintomas compatíveis com estes medicamentos.
27
5 – Conclusão
O presente trabalho demonstra ser possível tratar o hipotireoidismo canino
adquirido primário através da Homeopatia, levando-se em conta os sintomas
clássicos mais comuns.
No caso específico dos sintomas selecionados para este trabalho, o
medicamento Calcarea carbonica mostrou-se bastante compatível, tendo dessa
forma indicação como medicamento de fundo. Poderíamos contar também com o
auxílio de um dos pequenos medicamentos com ação organoterápica citados
(Lophophytum leandrii, Penicilinum e Thyroidinum), neste caso, particularmente o
Thyroidinum, devido ao fato de apresentar mais sintomas semelhantes com o caso
em questão.
Desta forma, pressupondo-se que uma vez que se faça uma criteriosa
seleção dos sintomas mais importantes e característicos de um determinado caso,
de modo a se obter uma adequada individualização do paciente, poderemos então,
lançar mão de um vasto arsenal terapêutico disponível, bem descrito nas matérias
médicas existentes e perfeitamente adequado ao tratamento do hipotireoidismo
adquirido primário de cães adultos.
Assim, utilizando-se um medicamento de fundo e contando com o auxílio de
medicamentos de ação organoterápica, podemos dar a chance ao paciente de
usufruir de uma terapêutica individualizada, mais suave e com grandes chances de
êxito, minimizando-se o risco de uma tireotoxicose.
Importante salientar que o profissional Homeopata da Medicina Veterinária
tem consigo uma excelente ferramenta que possibilita buscar opções para o
tratamento das enfermidades comumente tratadas pela alopatia, a fim de prescrever
uma terapia menos agressiva e perfeitamente individualizada, levando-se em conta
as necessidades específicas de cada paciente.
28
6 – Lista de anexos
Anexo 1
Manifestações clínicas do hipotireoidismo canino adulto:
Metabólicas: aumento ponderal*; inatividade*; embotamento mental*; intolerância ao
frio; letargia*.
Dermatológicas: alopecia endócrina* (assimétrica ou simétrica e “cauda de rato”);
hiperpigmentação; pelagem seca, quebradiça; mixedema; otite externa; piodermite*;
seborreia seca, oleosa ou dermatite*.
Reprodutivas: anestro persistente; atrofia testicular (?); estro fraco ou silencioso;
galactorréia ou ginecomastia inapropriada; perda de libido (?); sangramento estral
prolongado.
Neuromusculares: apoio da face dorsal das falanges; ataxia; convulsões;
debilidade*; andar em círculos; paralisia de nervo facial; sinais vestibulares.
Oculares: depósitos lipídicos nas córneas; ulceração corneana; uveíte.
Cardiovasculares: arritmias cardíacas; bradicardia.
Gastrointestinal: constipação, diarreia.
Hematológicas: anemia*; coagulopatia; hiperlipidemia*.
Anomalias comportamentais (?).
*Comuns
Fonte: Nelson e Couto (2000, p. 752).
29
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