ALTERAÇÕES ESTRUTURAIS EM CAMUNDONGOS EXPOSTOS AO METILFENIDATO DURANTO DESENVOLVIMENTO GESTACIONAL Lucas Brust Osiak, Maria José Sparça Salles. Email: [email protected] UEL, Departamento de biologia Geral/CCB Área e subárea do conhecimento: Ciências Biológicas/ Biologia Geral. Palavras-chave: metilfenidato; desenvolvimento intra-útero; toxicidade Resumo Os efeitos clínicos do metilfenidato estão relacionados as mesmas áreas do cérebro envolvidas em diversos mecanismos de dependência química, e o aumento dos níveis dopaminérgicos no sistema límbico assemelham-se aos efeitos de reforço observados com o uso de drogas de abuso. A segurança do uso de metilfenidato durante a gravidez não foi estabelecida. O objetivo deste estudo foi investigar a toxicidade materna e possíveis efeitos do metilfenidato sobre o desenvolvimento da prole. Para isso, camundongos grávidas receberam 5 mg/kg de metilfenidato do 5º ao 17º dia de gestação e no 18º dia de gravidez as fêmeas foram eutanasiadas e avaliadas quanto a toxicidade materna e quanto ao desenvolvimento intra-uterino. Os resultados mostraram que não houve toxicidade materna. O grupo tratado com metilefenidato apresentou um aumento no número de reabsorções estatisticamente significativo em relação ao grupo controle, aumentando a taxa de perda pósimplantação e diminuindo a viabilidade fetal. Concluímos que de acordo com o delineamento proposto por este estudo, a administração do metilfenidato promoveu um aumento na taxa de aborto nos animais. Introdução O metilfenidato, é um psicoestimulante derivado de piperidina, da família das anfetaminas, de fórmula molecular C14H19NO2. Esse fármaco é indicado como parte de um programa de tratamento para crianças com síndrome comportamental, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). O seu amplo uso vem do fato deste tipo de droga aumentam o nível de energia e concentração, diminuindo a necessidade de descanso, sendo que nos últimos anos o seu uso têm-se tornado cada vez mais freqüente, tornando-se inclusive num artefato usado para melhorar o desempenho seja de crianças, adolescentes ou mesmo de adultos. 1 A segurança do uso de metilfenidato durante a gravidez não foi estabelecida, de forma que a qualidade e quantidade dos dados de exposição pré-natal ao medicamento não permitem uma avaliação específica de risco. Apesar de não terem sido observados efeitos teratogênicos em ratos, uma dose equivalente a sete vezes da dose máxima recomendada em humanos causou toxicidade materna e alterações esqueléticas fetais (DIDERIKSEN et al., 2013). Infelizmente, existe apenas uma escassa literatura descrevendo os efeitos do MPH sobre o desenvolvimento intra-uterino e suas consequências para a prole. Dessa forma, investigou-se a toxicidade materna e possíveis efeitos do metilfenidato sobre o desenvolvimento intra-uterino da prole. Procedimentos metodológicos Foram utilizados camundongos Swiss (Mus musculus), machos e fêmeas, adultos, pesando aproximadamente 35 g. Os animais foram mantidos em gaiolas de polipropileno com tampa de arame zincado, contendo maravalha (raspas de madeira) e mantidos em regime de luminosidade controlada, ciclo de 12 horas claro/escuro, a 22 ± 2 ºC, com água e ração à vontade. Os animais foram acasalados na proporção de dois camundongos fêmea para um camundongo macho e as fêmeas grávidas foram aleatoriamente designadas para o grupo experimental ou grupo controle com 15 animais em cada. Nos dias seguintes, com um intervalo de 12 horas, a vagina das fêmeas foram examinada para verificar a ocorrência do “plug vaginal”, o qual determinou o dia zero de gravidez, ocasião em que as fêmeas foram identificadas e pesadas. O grupo experimental recebeu 5 mg/kg de Ritalina® (Novartis), diluída em solução salina estéril, via injeção subcutânea. O grupo controle recebeu um volume equivalente de salina estéril. A administração foi realizada do 5º ao 17º dia de gestação com base nas fases de desenvolvimento dos roedores. No 18º dia de gravidez as fêmeas foram eutanasiadas por deslocamento cervical. O conteúdo uterino das fêmeas foi analisado, verificando-se a presença de reabsorções de acordo com o método de Salewski (1964), número de fetos vivos e mortos, comprimento e peso fetal e peso placentário. Foram calculadas as taxas de viabilidade fetal, perdas pós-implantação, de reabsorções embrionárias e índice placentário. Para avaliação da toxicidade materna os parâmetros analisados foram acompanhamento da massa corpórea materna durante a gestação e observação de sinais clínicos como: avermelhamento dos olhos, diarreia, observação da presença de piloereção, coordenação motora e morte. 2 Os dados absolutos com distribuição normal foram analisados pelo teste t de Student, e os com distribuição não-normal foram analisados por MannWhitney. O nível de significância considerado será de 5%. Resultados e Discussão Com relação a toxicidade fetal não houve perda de peso materno como mostrado na Tabela 1, assim como nenhum sinal clinico de toxicidade foi observado. O grupo tratado com metilfenidato apresentou um aumento estatisticamente significativo no número de reabsorções em relação ao grupo controle, o que consequentemente gerou um aumento na taxa de perda pósimplantação (TPPI), diminuição na viabilidade fetal, que por sua vez também foram significativos quando comparados com o grupo controle (Tabela 2) Tabela 1. Efeito do tratamento com metilfenidato no ganho de peso de camundongos prenhes. Controle MPH (5 mg/kg)15 N° de fêmeas 15 Ganho de Peso Total (g) 4,027±0,62 3,052±0,653 8 grupo que recebeu solução de metilfenidato 6 Controle grupo que recebeu solução salina 0,9% e MPH a 5 mg/kg. Valores médios ± EPM. Teste: Teste t. A adequação do peso gestacional a idade de gestação não foi afetada 3 pela exposição ao metilfenidato, o que corrobora com o fato de não terem sido observadas diferenças significantes nos parâmetros relacionados ao desenvolvimento fetal, como peso e comprimento dos fetos, peso das placentas e índice placentário. Em relação ao ganho de peso materno, nossos dados estão em concordância com o estudo de Teo e colaboradores (2002), no qual a administração crônica de metilfenidato não teve efeito sobre o peso corporal materno. Conclusões Os resultados deste estudo permitem afirmar que, como não foi identificada toxicidade no organismo materno, os efeitos deletérios observados foram provocados pela exposição ao fármaco. A administração de metilfenidato causou aumento significativo da perda pós-implantação, levando a diminuição significativa na viabilidade fetal. Concluímos que de acordo com o delineamento proposto por este estudo, a administração do metilfenidato promoveu um aumento na taxa de aborto nos animais. Agradecimentos Agradeço à minha orientadora, aos estagiários do laboratório de toxicologia do desenvolvimento e à Fundação Araucária Referências bibliográficas ARRIA, AMELIA M.; WISH, ERIC D. Nonmedical use of prescription stimulants among students. 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