Alm do Primeiro Lugar em Exportaes de Carne Bovina

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XLIII CONGRESSO DA SOBER
“Instituições, Eficiência, Gestão e Contratos no Sistema Agroindustrial”
Fatores críticos à competitividade da soja: a questão dos transgênicos
Jader Bianco
Centro Universitário Eurípides de Marília - UNIVEM
Av. Hygino Muzzi Filho, 529, Marília - SP
[email protected]
Claúdio Yuiti Morita
Centro Universitário Eurípides de Marília - UNIVEM
Av. Hygino Muzzi Filho, 529, Marília - SP
[email protected]
Guilherme de Souza Garbelini
Centro Universitário Eurípides de Marília - UNIVEM
Av. Hygino Muzzi Filho, 529, Marília - SP
[email protected]
Marcel Clei Munhos Stoco
Centro Universitário Eurípides de Marília - UNIVEM
Av. Hygino Muzzi Filho, 529, Marília - SP
[email protected]
Área Temática 6 –Agricultura e Meio Ambiente
Apresentação com presidente da sessão e presença de um debatedor
1
Ribeirão Preto, 24 a 27 de Julho de 2005
Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural
XLIII CONGRESSO DA SOBER
“Instituições, Eficiência, Gestão e Contratos no Sistema Agroindustrial”
Fatores críticos à competitividade da soja: a questão dos transgênicos
Resumo
Tendo em vista a importância do sistema agroindustrial da soja para o
agronegócio brasileiro, bem como para a economia do país de uma forma geral, o
presente trabalho objetivou analisar e discutir, dentro dos fatores críticos de sucesso da
cultura, a questão da soja transgênica, que ultimamente tem gerado inúmeras polêmicas,
acerca de sua aceitabilidade, como também de seu uso visando melhorias de
produtividade e seu potencial competitivo no mercado. Utilizou-se como metodologia a
revisão bibliográfica a respeito do assunto, leitura de jornais, revistas e sites da internet,
bem como da análise dos instrumentos legais (leis e medidas provisórias), discutindo-se a
questão da transgênia da soja, com apoio no referencial teórico da análise da matriz do
ambiente externo e interno e dos pontos forte e fracos (matriz” swot”) do setor.
PALAVRAS-CHAVE: Soja, Transgenia, Fatores Críticos de Sucesso
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Ribeirão Preto, 24 a 27 de Julho de 2005
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“Instituições, Eficiência, Gestão e Contratos no Sistema Agroindustrial”
Fatores críticos à competitividade da soja: a questão dos transgênicos
1-INTRODUÇÃO
Com destaque na balança comercial, a soja aparece como um dos mais importantes
setores do agronegócio brasileiro. Cerca de 26% da produção mundial de soja foi
produzida no Brasil, segundo maior produtor mundial, com uma safra (2003/2004) de 52
milhões de toneladas em uma área plantada de 18,4 milhões de hectares, de acordo com
dados da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais-ABIOVE 1 .
Tendo em vista a importância do sistema agroindustrial da soja para o agronegócio
brasileiro, bem como para a economia do país de uma forma geral, o presente trabalho
objetivou analisar e discutir, dentro dos fatores críticos de sucesso da cultura, a questão da
soja transgênica, que ultimamente tem gerado inúmeras polêmicas, acerca de sua
aceitabilidade, como também de seu uso visando melhorias de produtividade e seu
potencial competitivo no mercado.
Através da revisão bibliográfica a respeito do assunto, leitura de jornais, revistas e
sites da internet, bem como da análise dos instrumentos legais (leis e medidas provisórias),
discuti-se a questão da transgênia da soja, com apoio no referencial teórico da análise da
matriz do ambiente externo e interno e dos pontos forte e fracos (matriz swot) do setor.
Dentro desse contexto, além desta Introdução, o item 2, aborda a importância da
soja e seus derivados na balança do agronegócio brasileiro, na balança comercial brasileira,
além de apresentar como funciona a cadeia agroindustrial da soja, sua expansão pelo Brasil
no decorrer dos anos, além de alguns números referentes a safras, área plantada, produção
dos estados e regiões brasileiras, as exportações dos itens do complexo soja e principais
mercados compradores, traçando todo o perfil do setor.
O item 3, apresenta a questão dos fatores críticos à competitividade do sistema
agroindustrial da soja dando ênfase aos custos e as condições dos transportes, a capacidade
instalada de armazenagem, a área disponível para produção, a infra-estrutura portuária,
bem como a tecnologia empregada e a produtividade de forma geral, pertinentes ao
objetivo do trabalho.
O item 4 discorre sobre a soja transgênica, lançando mão de uma ferramenta
administrativa conhecida como análise de SWOT, onde os pontos fortes e fracos do
ambiente interno são levantados assim como os riscos e oportunidades do ambiente
externo. Os pontos levantados em tal análise foram discutidos de uma forma mais
aprofundada visando expor as diversas hipóteses em que se aplicam e dando maior clareza
a polêmica que gera tais assuntos, levando às considerações finais.
2-O AGRONEGÓCIO E A SOJA NO BRASIL
Em 2003, o Brasil alcançou o melhor resultado anual no comércio exterior
brasileiro, com as exportações somando US$ 73,084 bilhões, um aumento de 21,08% em
relação a 2002, enquanto as importações totalizaram US$ 48,2 bilhões, com aumento de
1
Para maiores informações acessar: http://www.abiove.com.br/abiov.html
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2,16% obtendo assim um saldo positivo recorde na balança comercial de US$ 24,8 bilhões,
um crescimento de 89,18% comparando a 2002 (BACEN, 2004)
O destaque da balança comercial tem sido o agronegócio, que teve um crescimento de
23,35% em relação a 2002, impulsionada pelas exportações de grãos (soja), pelo aumento
nos valores de algumas commodities e também pela conquista de novos parceiros
comerciais. A tabela 1 mostra o desempenho do Brasil no que se refere as exportações e
importações do agronegócio, no período de 1999 a 2003.
Tabela 1: Balança comercial do agronegócio. Brasil: 1999 a 2003. (US$ milhões)
PERIODO
EXPORTAÇAO
IMPORTAÇAO
SUPERAVIT
1999
20.514
5.739
14.775
2000
20.610
5.799
14.811
2001
23.863
4.847
19.016
2002
24.839
4.492
20.347
2003
30.639
4.791
25.848
Fonte: Elaborada pelos autores a partir de dados do Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento. 2
Dentre os produtos que se destacam na Balança do Agronegócio brasileiro, temos
a soja, sendo o principal produto no que se refere a grãos, na temporada de 2002/2003. O
Brasil foi responsável por cerca de 26% da produção mundial de soja, sendo o segundo
maior produtor, com uma safra de 52 milhões de toneladas em uma área plantada de 18,4
milhões de hectares 3 .
No que se refere ao complexo soja (soja em grão, farelo e óleo de soja), o Brasil
assumiu a liderança de exportações no comércio internacional, com cifras de US$ 8,125
bilhões em 2003, um aumento de 35,3% em relação a 2002.
Com relação ao destino de nossas exportações do complexo soja, a China é hoje o
maior comprador de soja brasileira, conforme mostram os dados das Tabelas 2, 3 e 4. Para
se ter uma idéia da importância chinesa para agronegócio da soja , no ano de 2003, a China
foi responsável pela compra de 50% de toda soja em grão exportada pelo Brasil
(CAMINOTO, SANT’ANNA, 2004).
Tabela 2. Principais Importadores da Soja em Grão do Brasil (em toneladas)
Principais Importadores da Soja em Grão do Brasil ( em toneladas)
PAÍS
2001
2002
2003
China
3.192.323
4.142.665
6.101.943
Países Baixos
3.319.068
2.946.293
3.669.291
Alemanha
1.573.611
1.587.799
2.206.528
Fonte: http://www.conab.gov.br/download/indicadores/0204-export-complexo-sojae-trigo.pdf
2
Para maiores informações, acessar
http://www.agricultura.gov.br/portal/page?_pageid=36,174283&_dad=portal&_schema=PORTAL
3
Para maiores informações acessar: http://www.abiove.com.br/abiov.html
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Tabela 3. Principais Importadores de Farelo de Soja do Brasil (em toneladas)
Principais Importadores de Farelo de Soja do Brasil ( em toneladas)
PAÍS
2001
2002
2003
Países Baixos
3.153.433
3.633.451
3.962.254
França
2.717.632
2.758.033
2.625.168
Alemanha
839.990
593.224
902.158
fonte: http://www.conab.gov.br/download/indicadores/0204-export-complexo-sojae-trigo.pdf
Tabela 4. Principais Importadores de Óleo Bruto/Refinado do Brasil (em toneladas)
Principais Importadores de Óleo Bruto/Refinado do Brasil ( em toneladas)
PAÍS
2001
2002
2003
Irã
404.622
573.345
960.328
6.000
299.048
544.265
China
Hong Kong
6.000
81.960
104.928
fonte: http://www.conab.gov.br/download/indicadores/0204-export-complexo-sojae-trigo.pdf
2.1-CADEIA AGRO-INDUSTRIAL BRASILEIRA E A EXPANSÃO DA CADEIA
AGRO-INDUSTRIAL DA SOJA
Dentro das cadeias de produção agroindustrial brasileira, a cadeia agroindustrial
da soja apresenta-se hoje como aquela de maior relevância, tanto para todo setor agrícola
como para a economia do país de uma forma geral.
A expansão da soja foi a principal responsável pela introdução do conceito de
agronegócio no país, em conseqüência do volume físico e financeiro envolvido mas
também, pela necessidade da visão empresarial de administração da atividade pelos
produtores, fornecedores de insumos, processadores da matéria-prima, como forma de
ampliação da vantagem competitiva da cultura. O processo de mecanização e a introdução
de técnicas modernizantes de plantio, colheita e processamento de grãos tem a soja como
grande indutor.
( BARBOSA, ASSUMPÇÃO, 2001)
Cultivada inicialmente na região sul e sudeste do país, a soja expandiu-se
posteriormente para a região centro-oeste na década de 70 com a adaptação da soja ao
cerrado, seguida por uma segunda fase de crescimento, caracterizada pela expansão da
cultura de também do milho para áreas mais distantes do Mato Grosso, onde a sojicultura
revelou excelente produtividade. (BARBOSA, ASSUMPÇÃO, 2001). A expansão do
cultivo da soja prosseguiu então para as regiões Norte e Nordeste do país. O sul do
Maranhão e do Piauí, o norte do Tocantins, o oeste do Pará e a região de Vilhena em
Rondônia constituem áreas potenciais e , desde meados da década de 80, já apresentam
uma expansão da cultura, graças às tecnologias desenvolvidas pela Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA). ( BARBOSA, 2003).
Em virtude do aumento da demanda internacional da soja, proporcionado em
função da preferência por produtos de origem vegetal em substituição aos de origem
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animal para a produção de rações, a área destinada ao cultivo de soja no Brasil cresceu na
ordem de 5,3% ao ano, entre 1993/1994 e 2002/2003, ao passo que sua participação
relativa na área total das principais culturas anuais saltou de 29,4% para 42,2%, nesse
período. (BARBOSA, 2003)
A safra brasileira de soja, segundo a Associação Nacional dos Exportadores de
Cereais (Anec), estava estimada para o ano safra 2003/2004 uma colheita de 51 milhões
de toneladas, todavia problemas climáticos e a ferrugem asiática reduziram a previsão
inicial em 11 milhões de toneladas. Já no ano safra 2004/2005, a previsão é que a colheita
fique entre 64 e 66 milhões de toneladas. (SALVADOR, 2004)
Como vemos no gráfico 2, a produção de soja no Brasil concentra-se
principalmente nas regiões centro oeste, sul e sudeste. A região centro-oeste respondeu na
safra 2002-2003 por 45% da produção brasileira de soja; a região sul respondeu por 40%
da produção nacional de soja e a região sudeste por 8%.
Gráfico 2 - Produção de Soja em Grãos nas Regiões Brasileiras, 2002-2003 (em %)
NordesteNorte
Sudeste 6%
1%
8%
Centro-Oeste
45%
Sul
40%
Fonte: MICHELS, SILVESTRINI, SARDINHA, SPROESSER, 2004, p.71
Com relação a participação dos estados brasileiros na produção de soja na safra
2002-2003, o estado do Mato Grosso ocupa o primeiro lugar, sendo responsável por 25%
da produção total do país; logo em seguida, aparece o estado do Paraná, sendo responsável
por 21% da produção total do país.
Gráfico 3 - Produção da Soja em Grãos nos Principais Estados Brasileiros, 2002-2003, em
O UTRO S
17%
M S
8%
G O
12%
RS
17%
M T
25%
PR
21%
%
fonte: MICHELS, SILVESTRINI, SARDINHA, SPROESSER, 2004, p.71
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Este processo de expansão da produção de soja no país deve continuar nos
próximos anos, seja sob a forma substituição de culturas tradicionais (tais como café, cana,
etc.), como em novas áreas que apresentam-se potenciais para o cultivo de soja.
Observando o estado do Mato Grosso, citado anteriormente como maior produtor de soja
no Brasil, a perspectiva de crescimento da área plantada de soja , na safra 2004/2005, é
de 12%, atingindo 5,7 milhões de hectares e uma produção de 17,2 milhões de toneladas de
grãos. Na safra 2003/2004, a produção de soja ficou em 15 milhões de toneladas 4 . O
processo de expansão da produção de soja no país, conseguida através da utilização de
novas áreas pode ser vista na figura abaixo, como exemplo, os estados do Piauí e
Maranhão, que passaram a constar dentre os estados produtores de soja nos últimos anos.
3-FATORES
CRÍTICOS
À
AGROINDUSTRIAL DA SOJA
COMPETITIVIDADE
DO
SISTEMA
Podemos definir como fatores críticos no sistema agroindustrial da soja algumas
variáveis determinantes para competitividade do setor numa determinada área ou região.
Tratando da produção de soja, algumas variáveis que influem diretamente na determinação
de quão competitivo é uma região, estado ou mesmo o país são os custos e as condições
dos transportes, a capacidade instalada de armazenagem, a área disponível para produção,
a tecnologia empregada, a produtividade de forma geral e a infra-estrutura portuária.
3-1. O Transporte
O transporte da safra brasileira é feito em sua grande maioria pelas rodovias,
representando 63% de participação, seguido por ferrovias e hidrovias, com 24% e 13%
respectivamente. (MARTINS, 2004)
Tratando- se especificadamente da soja, o escoamento da produção tem sido feito
basicamente pela combinação rodovia-ferrovia. Avaliando a situação do estado do Mato
Grosso, hoje, detentor da maior área destinada ao plantio de soja do país com 5,8 milhões
de hectares 5 , representando 25% da produção total do país (MICHELS, SILVESTRINI,
SARDINHA, SPROESSER, 2004, p.71), o escoamento da produção se dá via terminais de
carga do Alto Taquari e Alto Araguaia, onde trens levam a produção até o porto de Santos,
no estado de São Paulo. Todavia, em regiões produtoras do estado mais distantes destes
terminais, o transporte até tais terminais é feito por caminhões, que trafegam em estradas
em péssimas condições. De toda produção de soja em grãos produzida no estado, 70%
seguem em trens em direção ao porto de Santos. (CORONATO, 2004)
Analisando a situação do Estado do Paraná, hoje segundo maior produtor do
Brasil com 21 % da produção total (MICHELS, SILVESTRINI,
SARDINHA,
SPROESSER, 2004, p.71), o transporte acontece via rodoviário. A produção destinada ao
mercado externo chega ao porto de Paranaguá em caminhões.
Percebe-se então que o transporte dos produtos do complexo soja ocorre em sua
4
5
Para maiores informações acessar: http://www.primeirahora.com.br/17/view.htm?ma_id=58259
Para maiores informações acessar: http://www.primeirahora.com.br/17/view.htm?ma_id=58259
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grande maioria pelas rodovias e ferrovias. As rodovias não têm apresentado um bom
estado de conservação. Segundo pesquisa realizada para Confederação Nacional dos
Transportes,
74,7% das estradas federais estão com qualidade deficiente, ruim ou péssima 6 .
Existe atualmente uma conscientização das vantagens do transporte ferroviário, e
prevê-se investimentos privados no setor de até 7 bilhões de reais até 2008 (CORONATO,
2004). É importante que essa projeção de investimentos em ferrovias se concretize, pois
acarreta numa redução de custos de transporte (comparando-se ao rodoviário). Hoje,
calcula-se que o valor pago para levar a produção até o porto custa em média US$ 47/ton.
ao produtor matogrossense de Sorriso e US$ 17/ton. ao produtor paranaense de Campo
Mourão, considerando câmbio à 3 reais (TAVARES, 2004) Além disso, garante maior
agilidade no escoamento da produção agrícola brasileira, especialmente à soja.
3.2-Capacidade Instalada de Armazenagem
A produção agrícola brasileira não foi acompanhada pela expansão da capacidade
instalada de armazenagem.
Gráfico 4 - Capacidade de Armazenagem versus Produção Agrícola, em milhões de ton.
120
100
80
60
40
20
0
2000
2001
2002
2003
2004*
ano
Produção
Capacidade de
Arm azenagem
fonte: Revista Exame (*) projeção
A falta de capacidade em armazenar a produção se reflete numa perca do poder de
negociação com os compradores. Se uma armazenagem fosse realizada, os produtores
poderiam segurar a produção para vendê-la no momento que acharem mais propício. No
Brasil, 10% dos armazéns estão dentro da propriedade do agricultor e 90% distribuídos em
cooperativas e zonas urbanas. Comparando-se com os Estados Unidos, 60% dos armazéns
estão dentro da propriedade do agricultor (MARTINS, 2004).
Existe também a questão do custo de se manter a soja armazenada. É um custo a
mais para o produtor, então em muitos casos ele acaba negociando sua produção na
colheita, só que ele está sujeito a negociar ao valor que a soja está sendo cotada no
momento; estocando-a pode esperar o momento mais atraente para venda. É uma relação
custo-benefício que o produtor deve fazer. Para tal, é possível determinar qual a melhor
opção com projeções de especialistas em commodities que traçam perspectivas para o
setor, além das cotações futuras fornecidas pela BM&F de São Paulo e demais bolsas no
mundo, especialmente Chicago, nos Estados Unidos.
3.3-Área Disponível Para Produção
6
Para maiores informações acessar: http://www.estadao.com.br/agestado/noticias/2004/out/06/99.htm
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Talvez a maior vantagem que o Brasil apresenta frente aos demais países do
mundo participantes do mercado de commodities de modo geral seja a abundância de área
destinada a produção agrícola. Estima-se que 90 milhões de hectares possam ainda ser
facilmente cultivados, enquanto que os Estados Unidos e demais países europeus já
trabalham no limite de seu potencial (GRAZIANO, 2004). Assim, frente a tal situação,
muitos grupos estrangeiros já ampliam suas fronteiras agrícolas em outros países (inclusive
no Brasil) , cujo preço da terra ainda apresenta preços relativamente baixos, conforme
mostram os dados da Tabela (CARRASCO, 2004). Abaixo segue-se o custo da terra para a
produção de soja confrontando os dois estados que possuem maior produção de soja no
país, Mato Grosso e Paraná respectivamente, como a região meio-oeste dos Estados
Unidos e a região pampa úmida argentina. Observa-se, de fato, que em virtude de nossa
maior disponibilidade de áreas apropriadas para o cultivo da soja, o custo da terra
brasileira apresenta-se menor frente aos outros dois países citados acima.
Tabela 05 : Custo da terra (US$/ha)
USA
BRASIL
Meio-Oeste Mato Grosso
2003/04
2003
Custo da terra
224,1
7,8
Retorno
37
24,5
Invest. Terra
BRASIL ARGENTINA
Paraná Pampa Úmida
2003
2002
40,9
155, 3
33,8
51,2
fonte: TAVARES, 2004
3.4 Infra-estrutura Portuária
Os portos de Paranaguá, Santos e Rio Grande respondem por 57% das
exportações do grão de soja (11,4 milhões de toneladas) e por 66% das exportações de
farelo de soja (10,8 milhões de toneladas).Somando-se os dados dos portos acima citados,
a quantidade de soja e farelo exportados chegam a 61% das exportações totais. Se for
agregado o óleo de soja e os outros derivados de soja, observa-se que mais de 50% da
produção nacional destinada ao mercado externo, utiliza-se da plataforma exportadora
destes dois portos. Cabe esclarecer que existem no Brasil pouco mais de 20 portos
marítimos em operações. (TAVARES, 2004)
Tabela 06 - Principais Plataformas Portuárias na Exportação de Soja e Farelo
Portos de Origem Quantidade em mil toneladas Acumulada (%)
Grãos Farelo
Total
Paranaguá
5.734
5.911
11.645
35%
Santos
5.700
3.017
8.717
61%
Rio Grande
3.731
1.825
5.556
77%
Vitória
1.650
1.341
2.990
86%
São Luis
890
890
89%
S. Francisco do Sul 846
604
1.450
93%
Manaus
796
201
997
96%
Ilhéus
704
704
98%
Outros
544
0,05
544
100%
TOTAL
19.890 13.602
33.493
100%
Fonte: TAVARES, 2004
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Nota-se então que grande parte da produção nacional de soja têm como destino o
mercado externo. Para que nossa produção consiga chegar de forma ainda mais
competitiva em tal mercado, é de extrema importância que investimentos em infraestrutura portuária sejam realizados. Comparado com as despesas portuárias pagas por
produtores do estado de Illinois nos Estados Unidos e de Pampa, na Argentina, que giram
em torno de US$ 3 por tonelada, as despesas portuárias pagas por produtores brasileiros
dos estados do Mato Grosso e do Paraná são 76.6% maiores, girando em torno de US$ 5,3
por tonelada (TAVARES, 2004). Um dos fatores que elevam o custo de operação nos
portos brasileiros é o grande número de trabalhadores, que desestimula o investimento em
modernização por parte dos operadores privados, uma vez que há pressão dos sindicatos
para utilização de mão-de-obra excessiva. Estima-se que haja mais de 10 mil funcionários
nos portos além do necessário. Dentre outros inúmeros problemas que atingem os portos
brasileiros e que acarreta num aumento de custo é a falta de dragagem (SOUZA, 2004),
além da falta de planejamento logístico para descarga dos caminhões graneleiros, que
chegam a ficar até 20 horas para descarregar. (CORONATO, 2004)
3.5- Tecnologia
O uso da tecnologia na agricultura de forma geral pode ser vista sob dois
patamares: o uso de equipamentos e maquinários empregados diretamente na produção e a
parte de pesquisa que envolve desde o desenvolvimento de novas técnicas de manejo da
produção até o aprimoramento de sementes, desenvolvimento de fungicidas e herbicidas,
dentre outros pontos.
No que se refere a utilização de equipamentos e maquinários empregados
diretamente na produção, a agricultura brasileira de forma geral deixa a desejar. Enquanto
o Brasil despertou apenas agora para a importância do agronegócio, os Estados Unidos já
despertaram a muito tempo: o arado a vapor foi patenteado no país no século 18, no início
do século 19 desenvolveram máquinas como a debulhadeira de milho e máquinas para
descascar arroz, há mais de 150 anos o país desenvolveu técnicas revolucionárias, como
por exemplo, de irrigação, armazenagem e de adubação dos solos. Além disso, segundo
dados da Secretaria de Agricultura local, em meados de 1950 o número de tratores em
fazendas já ultrapassava a quantidade de cavalos e mulas (CARRASCO, 2004). A questão
de equipamentos e maquinários é tão critica, que para se ter uma idéia, uma colheitadeira
antiga pode perder até 20% da safra.(SECCO, 2004)
O Brasil não vêm apresentando crescimento nos investimentos em pesquisas
agropecuárias. Em 1979, para se ter uma idéia, o Brasil investia o equivalente a 0,5% das
receitas totais geradas pelo agronegócio em pesquisas desenvolvidas pela Empresa
Brasileira de Pesquisas Agropecuárias (EMBRAPA); hoje, o percentual é de apenas
0,04%. Tal instituição têm dado inúmeras contribuições ao agronegócio brasileiro ao longo
dos anos, dentre as quais, adaptação de soja ao cerrado e a Amazônia e crescente
produtividade da cultura, graças a pesquisas de melhoramento genético, adubação, controle
de pragas e rotações de cultura (MARQUES, 2004) .O gráfico abaixo mostra que nos
últimos anos a orçamento para pesquisa destinada a EMBRAPA vêm encolhendo.
10
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900
800
700
600
500
400
300
200
100
0
1975
XLIII CONGRESSO DA SOBER
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1980
1985
1990
1995
2000
2003
an o
Gráfico 5 - Evolução do Orçamento da EMBRAPA, em milhões de reais
Fonte: MARQUES, 2004
Nos Estados Unidos, esta parte de pesquisas agropecuárias é realizada pelas
maiores companhias agrícolas do mundo, dentre as quais, Cargill, ADM, Bunge,
Monsanto, Dow Agrosciences, DuPont. Além de ter posição dominante no mercado,
investem pesado nas pesquisas. Para se ter idéia, com base nos experimentos em seus
laboratórios que a evolução dos alimentos transgênicos ganhou escala. Este desempenho
americano em pesquisa possibilita aos Estados Unidos nos últimos anos registrar ganhos de
produtividade de 2% ao ano. (CARRASCO, 2004).
3.6 Produtividade
Tratando do fator produtividade, a soja nacional vêm apresentando ótimo
desempenho, comparado, por exemplo, a conseguida por Illinois nos Estados Unidos e
Córdoba na Argentina. Nos últimos 10 anos, a produtividade no Mato Grosso chegou a
alcançar 3.050 quilos por hectare no ano de 2000/01; devido a problemas climáticos tais
números caíram para 2.900 quilos por hectare em 2002/03. No Paraná, a produtividade
chegou em torno de 3.000 quilos por hectare no período 2000/01 e 2001/02. A província de
Córdoba (Argentina), apesar de obter a cada ano uma melhora no que tange a
produtividade, não consegue ultrapassar os índices de produtividade obtidos pelo estados
do Mato Grosso e Paraná, o que acontece também com o estado de Illinois, nos Estados
Unidos. (TAVARES, 2004)
Gráfico 6 - Evolução da Produtividade da Soja no Mato Grosso e Paraná (BRASIL),
3500
3000
2500
CÓ RDO B A
2000
1500
IL L INO IS
MA TO G RO S S O
1000
500
PA RA NÁ
19
98
/9
9
19
99
/0
0
20
00
/0
1
20
01
/0
2
20
02
/0
3
20
03
/0
4
19
93
/9
4
19
94
/9
5
19
95
/9
6
19
96
/9
7
19
97
/9
8
0
Illinois (EUA) e Córdoba (ARGENTINA), por kg/ha
fonte: Tavares, 2004
Com relação aos estados brasileiros, o rendimento médio no Brasil gira em torno
de 2.800 quilos por hectare.(MARQUES, 2004).
11
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Embora nosso desempenho referente a produtividade tenha sido excelente nos
últimos anos comparado aos demais produtores mundiais de soja, há a questão da
produção de soja transgênica. Enquanto alguns países já possuem em grande escala o
plantio de soja transgênica, dentre os quais, Estados Unidos, Canadá, Argentina, o Brasil
ainda está em fase de legalização do plantio de soja transgênica. Vendo pelo lado da
produtividade, é fundamental que o Brasil legalize plantio de soja transgênica, em virtude
do aumento de produtividade decorrente de plantas mais resistentes a pragas, maior
produção de grãos por área, etc. Dentre outras vantagens comparativas que o Brasil já
possui frente aos demais países produtores de soja (como por exemplo, área em
abundância), é imprescindível que o Brasil também se aproveite desse fator, de forma a
continuar com seu desempenho superior no que tange a produtividade.
4. TRANSGÊNICOS
4.1 – Definição
Os transgênicos, também conhecidos como organismos geneticamente
modificados, são alimentos cujas plantas sofreram mudanças genéticas. As células de tais
plantas foram alteradas com a introdução de genes de células de outras espécies, seja de
origem vegetal ou animal. É de grande valia destacar que todos os processos de
melhoramento genético realizados até agora eram sempre restritos a uma mesma espécie,
isto é vegetal com vegetal e animal com animal. Agora é possível promover uma
combinação entre tais espécies, sempre buscando um resultado específico.(PENTEADO,
2004)
A soja transgênica, é um exemplo de um organismo que sofreu modificações
genéticas, já que lhe foram inseridos genes de outros seres vivos que não são de sua
espécie. A soja Roundup Ready, de patente da multinacional Monsanto, recebeu genes de
uma bactéria para que obtivesse maior resistência ao herbicida Roundup, fabricado pela
própria Monsanto, permitindo assim um melhor controle de plantas daninhas 7 .
Algumas das características desejáveis que os organismos geneticamente
modificados devem apresentar são: maior resistência a doenças da lavoura e ao ataque de
insetos; maior tolerância aos herbicidas; menor acúmulo de metais pesados e uma
tolerância maior a estes; possível uso farmacêutico 8 .
A pesquisas com trasngenia se iniciaram na década de 70 com estudos sobre a
forma como uma bactéria causava tumor nas plantas. Porém, o termo transgênico foi
utilizado pela primeira vez em 1982, por Gordon e Ruddle, designando um animal ou
planta cujo código genético sofreu mutações devido a adição de um ou mais genes, não
importando a proveniência destes. Mas, como já citado, tais adições eram sempre
realizadas entre seres da mesma espécie9 .
No inicio da década de 90, na China, as primeiras plantas geneticamente
modificadas passam a ser comercializadas. São elas as plantas do fumo e do tomate, que
possuem maior resistência a vírus e inauguram a grande evolução da biotecnologia. Nos
Estados Unidos, o tomate Flavr Savr com amadurecimento retardado, chega ao mercado
em 1994. A área global de culturas modificadas não para de crescer. Em 1996, ela era de
1,7 milhão de hectares em sete países. Tal área cresceu para 11 milhões em 1997 e 27,8
milhões em 1998. Em 1999 tal área era superior a 40 milhões de hectares 10 . Atualmente,
7
Para maiores informações acessar: http://www.terra.com.br/reporterterra/transgenicos/oquesao.htm
Para maiores informações acessar: http://www.monsanto.com.br/monsanto_ht2003/frbiotec_03.htm
9
Para maiores informações acessar: www. terra.com.br/reporterterra/transgenicos
10
Para maiores informações acessar: http://www.terra.com.br/reporterterra/transgenicos/oquesao.htm
8
12
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esta área compreende mais de 80 milhões de hectares em diversos países do globo (O
DEBATE ESTÁ CONTAMINADO, 2004).
4.2 - Aplicação de Análise de SWOT à Transgenia
A Análise SWOT é uma ferramenta de gestão que realiza um papel muito
importante no planejamento estratégico dos negócios. Tal análise permite aplicar um
determinado plano de ação afim de alcançar os objetivos propostos pela organização.
Trata-se de um planejamento global e a longo prazo.
O termo SWOT vem do inglês e representa as inicias das palavras Streghts
(forças), Weaknesses (fraquezas), Opportunities (oportunidades) e Threats (ameaças).
Como o próprio nome diz, a idéia central da análise SWOT é avaliar os pontos fortes e
fracos que o negócio possui e saber verificar as ameaças e as oportunidades de mercado
que possam surgir no ramo que se está atuando. A análise se divide em duas partes: o
ambiente interno à organização, que é composto pelos pontos fortes e os pontos fracos da
organização, e o ambiente externo, que trata das oportunidades e ameaças do mercado.
Na análise do ambiente interno, os pontos fortes constituem as forças
propulsoras da organização que facilitam o alcance dos objetivos propostos pela
organização. Já os pontos fracos são as limitações e as forças que impedem ou dificultam
a organização de atingir tais objetivos. Tal análise envolve o estudo dos recursos, tanto
financeiros quanto humanos e tecnológicos, de que a empresa dispõe para realizar suas
operações atuais e futuras. Também é realizado uma análise dos pontos positivos e
negativos da estrutura organizacional, suas unidades e departamentos e uma avaliação do
desempenho da empresa em termos de lucratividade, produtividade, inovação e
desenvolvimento dos negócios.
A análise das condições externas que rodeiam a organização envolvem os desafios
e oportunidades que tais condições impõem. A análise do ambiente externo envolve os
mercados abrangidos pela empresa e suas oportunidades e perspectivas. É feita uma análise
das empresas concorrentes que estão atuando no mercado e também de fatores externos
como a conjuntura econômica, tendências políticas, sociais, culturais, legais entre outras
que afetam a sociedade e as demais empresas.Como se vê, o ambiente externo está fora do
controle da organização. Mas mesmo não podendo se obter controle sobre ele, pode-se
monitorá-lo e buscar sempre o aproveitamento das oportunidades e o controle das
ameaças, a fim de evitá-las o quanto for possível. Já o ambiente interno pode ser
controlado pela organização já que tal ambiente resulta de estratégias de atuação definidas
pelos próprios dirigentes da organização.
Após ter realizado uma análise SWOT, a organização estará apta a estabelecer
afim de melhorar os pontos que tenham sido considerados de baixo desempenho e
prioritários. Poderá estabelecer e direcionar com maior eficácia sua forma de atuação no
que diz respeito ao aproveitamento de oportunidades e de obter melhorias na realização de
análises do ambiente externo, afim de perceber eventuais mudanças, saber se adaptar a elas
e diminuir as conseqüências das ameaças que possam surgir.
A tabela 07 se ocupa em mostrar a análise de SWOT aplicada a questão dos
transgênicos no Brasil, afim de dar uma visão à respeito do futuro da transgenia em nosso
país e a ajudar a analisar com mais clareza quais são as metas a ser atingidas e para onde
devem ser direcionados os esforços para que não se percam oportunidades e para que se
saiba trabalhar da melhor maneira possível com os pontos fortes e também com os fracos.
13
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Tabela 07: Análise de Swot - Transgênicos
Ambiente Interno
Ambiente Externo
Pontos Fortes
Pontos Fracos
Oportunidades
iResistência a pragas,
seca ou frio intenso
iMaior resistência a
herbicidas
iAumento
na
produtividade devido a
redução de custos no
plantio e à tecnologia
iRiscos à saúde a
longo prazo
iHerbicida usado
em transgênicos é
mais caro
iRisco
de
contaminação
do
meio ambiente
iLei de Biossegurança
que está em vias de
aprovação
iDiversos países já são
favoráveis os consumo e
comercialização
dos
transgênicos
iDiscussões sobre a
contribuição
dos
transgênicos para com a
questão da fome
Ameaças
iQuestões sociais
e culturais que
geram
protestos
contra a trasngenia
iMultinacionais
poderiam
obter
controle
sobre
agricultura
de
países pobres
iFalta de uma
política
que
regulamente com
clareza a questão
dos
transgênicos
no país
Fonte: Elaborado pelos autores
4.2.1 – Análise do Ambiente Interno
De acordo com indústrias de biotecnologia, produtores rurais e empresas
multinacionais, os grãos geneticamente modificados tornam algumas plantas resistentes a
produtos químicos, como diferentes tipos de herbicidas usados no combate a plantas
daninhas. (MICHELS, SILVESTRINI, SARDINHA, SPROESSER, 2004, p.67-68)
Uma planta que ofereça maior resistência a pragas ou a mudanças climáticas
bruscas, garante que se obtenha uma queda nos custos de produção e uma estabilidade
maior nos mesmos, além de garantir também uma estabilidade nos preços do produto.
O projeto de soja transgênica do Centro de Recursos Genéticos e BiotecnologiaCENARGEM, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA, aponta que
a economia que a soja geneticamente modificada proporciona é de, aproximadamente,
US$30,00 por hectare. Considerando o número de hectares que o Brasil utiliza atualmente
para o cultivo da soja, as cifras atingiriam números notáveis. (MICHELS, SILVESTRINI,
SARDINHA, SPROESSER, 2004, p.68)
Tal economia nos custos de produção já teve seus efeitos discutidos. Primeiro
porque é dito que o herbicida utilizado em alimentos transgênicos chega a ser até muitas
vezes mais caro que aquele usado na soja convencional e que a quantidade de produto a ser
aplicada também é bem maior 11 .
Outro ponto que discute a economia obtida pelos transgênicos diz respeito a
diminuição dos preços de alguns produtos em determinados países. Na Europa, o óleo
produzido com grãos geneticamente modificados está um pouco mais barato que aquele
produzido com soja convencional. Porém, não se pode afirmar com exatidão se tal
diminuição ocorreu devido aos ganhos de produtividade dos transgênicos ou graças à uma
11
Para maiores informações acessar: http://www.agrisustentavel.com/trans/ogmlivre2.pdf
14
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política de preços favoráveis afim de tentar diminuir uma eventual resistência dos
consumidores. (PATURY, SCHELP, 2003)
A resposta para os problemas citados acima podem ser dados pelos próprios
agricultores. Mesmo com todas estas discussões e dúvidas à respeito dos ganhos
econômicos gerados pela soja transgênica, os agricultores continuam a buscar tais grãos
para o plantio, dando um sinal de que estão obtendo com eles um ganho de produtividade.
Ganhos estes que compensam os gastos a mais com o novo herbicida. (PATURY,
SCHELP, 2003)
No tocante a questão de que os transgênicos possam trazer riscos à saúde com seu
consumo a longo prazo, já ocorreram pesquisas científicas sérias na área que obtiveram a
devida prova de que não são fatos impossíveis de ocorrerem, mas suas chances estatísticas
são mínimas.
Os cientistas afirmam que o DNA usado para fazer a semente transgênica, após
ingerido, é decomposto no processo de digestão da mesma forma que o DNA de uma
planta convencional. Caso ele não seja digerido, há a possibilidade de que ele seja
incorporado de alguma forma pelo corpo humano e venha a desenvolver uma doença.
Porém, afirmam os estudiosos, tal possibilidade tem chances mínimas de vir a ocorrer.
(SCHELP, 2003)
Em relação aos riscos oferecidos à espécies naturais e a fauna devido ao plantio de
organismos geneticamente modificados, foram efetuadas pesquisas à respeito dos efeitos
que o acúmulo de DNA modificado, liberados por tais plantas, geram no solo. Foi
constatado que a maior parte do DNA é destruída durante o processo de decomposição
natural da planta, mas existe uma pequena possibilidade de que tais genes sejam
incorporados por microorganismos que vivam ao redor de sua raiz. Os genes adquiridos
por uma bactéria que habita o solo poderiam ser de outra bactéria e apesar dos cientistas
sugerirem que tal fato possa ter efeitos insignificantes, eles recomendam que tal fenômeno
seja estudado com maior profundidade. (SCHELP, 2003)
Foi visto que muitos dos pontos fracos apresentados na análise de SWOT são
contestados com embasamento científico e pela cuidadosa análise de fatos. Pode-se pensar
que uma boa parcela dos principais entraves à produção e a comercialização dos
transgênicos no país já está resolvida e que o esclarecimento de tais dúvidas faça surgir
uma confiança maior nos organismos geneticamente modificados. O fato é que a ideologia
de muitos grupos e a ciência são dois pólos muito distintos.
4.2.2 – Análise do Ambiente Externo
A Lei de Biossegurança está para se tornar uma grande oportunidade para a soja
transgênica estabelecer seus rumos no país. Tal lei, não apenas autoriza o plantio da soja
transgênica nas safras de 2004 e 2005, como também legaliza sua comercialização no
país.(SALVADOR, 2004)
O Brasil já possui uma legislação em vigor desde 1995. Trata-se da lei nº8.974, de
05/01/1995. Este novo projeto de lei propõe a substituição da legislação vigente sobre
biossegurança, eliminando conflitos legais que hoje existem, especialmente no tocante a
legislação ambiental 12 . Outro ponto importante deste novo projeto de lei, diz que a
Comissão Técnica Nacional de Biossegurança, que no projeto anterior tinha controle
apenas sobre a liberação de pesquisas, recupere poderes para autorizar a liberação de
transgênicos também em âmbito comercial. (SALVADOR, 2004).
12
Para maiores informações acessar: http://noticias.terra.com.br/ciencia/biotecnologia/interna/0,,OI200786EI1434,00.html
15
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O projeto da Lei de Biossegurança propõe também que a empresa que detém a
patente sobre a soja transgênica, teria o registro sobre a semente restabelecido e poderia
comercializar o produto legalmente, efetuando a cobrança de royalties. (SALVADOR,
2004). Atualmente existem três grandes companhias explorando a produção comercial das
sementes transgênicas. Trata-se da européia Syngenta, e das americanas DuPont e
Monsanato. Destas empresas, a única atuante no Brasil é a Monsanato. Tal fato se deve
porque a soja é o único produto transgênico comercializado no país e a Monsanato é
detentora da patente da única variedade de soja modificada existente no mercado, a
Roundup Ready, um marco por tratar-se do primeiro transgênico cultivado em larga escala
em todo o mundo. (PATURY, SCHELP, 2003)
Enquanto este projeto de lei não é efetivado, os agricultores afirmam que irão
iniciar o plantio da soja transgênica mesmo sem a devida permissão. O plantio da safra de
soja já se aproxima e a indecisão do governo em buscar uma regularização para tal prática
irá prejudicar os agricultores. Em Brasília, o presidente da Federação da Agricultura do
Rio Grande do Sul (Farsul), Carlos Sperotto, afirmou que o setor não está mais discutindo
se haverá ou não plantio de soja nas safras de 2004 e 2005, mas sim a forma como o
plantio será homologado. Ele diz que o agricultor está tranqüilo com relação a aprovação
da safra para o próximo ano. Apenas não pode esperar por uma decisão do governo e
perder a safra deste ano.( OGLIARI, 2004)
Outro fato a ser encarado como uma grande oportunidade para o Brasil tomar suas
decisões e ingressar de forma definitiva no mercado dos transgênicos é a grande e
expansiva aceitação que os alimentos transgênicos estão tendo em diversos países do
mundo.
A Argentina, foi um dos países pioneiros na liberação do cultivo de soja
geneticamente modificada e já possui a segunda maior área cultivada com transgênicos no
mundo. Recentemente foi aprovado o plantio de algodão e o milho é apenas permitido em
quantidades limitadas. Nos Estados Unidos, país líder em pesquisa, produção e consumo
de alimentos modificados, já foram liberadas 56 plantas transgênicas para plantio em
escala industrial. (O DEBATE ESTÁ CONTAMINADO, 2004)
O Canadá, terceiro país no ranking de produção de sementes modificadas, já
liberou 44 plantas para cultivo em larga escala. A China, um dos maiores importadores de
alimento do mundo, recentemente aprovou uma lista de seis produtos modificados para
consumo doméstico, incluindo a soja e o arroz, e já dispõe de uma área de 3 milhões de
hectares ocupadas com o plantio de algodão modificado. O Brasil, entre os grandes
produtores, é o único que não possui uma opinião clara e definitiva sobre o assunto e
também é o único que restringe a pesquisa de produtos transgênicos. (O DEBATE ESTÁ
CONTAMINADO, 2004)
Na Europa, a grande parte dos países possuem uma posição contrária ao cultivo
de alimentos transgênicos. Tais restrições talvez ocorram devido as experiências que os
países europeus tiveram a alguns anos atrás com o mal da vaca louca. Porém, os cientistas
ressalvam que o mal da vaca louca e os transgênicos não se tratam de práticas parecidas.
Os transgênicos são alimentos que sofreram mutações genéticas controladas. O mal da
vaca louca não se deu por mutações genéticas na ração do gado, e sim por uma simples
mistura de ração com restos de outros animais. Animais estes que se encontravam doentes.
Além disso, esta mistura foi feita no alimento de animais que possuíam uma dieta
exclusivamente vegetariana . (SCHELP,2004).
Discute-se muito atualmente sobre a contribuição que os transgênicos poderiam
gerar para com a questão da fome que assola diversas nações no mundo. Diz-se que o país
poderia se tornar um exemplo, assim como a Ásia se tornou em 1960, que, fazendo uso de
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novas técnicas de plantio, defensivos agrícolas e sementes selecionadas, conseguiu
transformar imensas áreas inóspitas em grandes produtoras de alimento, o que acabou por
reduzir a fome na região. Existem países onde a fome tomou dimensões tão grandes que os
governos estipulam preços muito baixos para os produtos agrícolas. Tais preços são tão
baixos que acabam por tornar inviável qualquer investimento em tecnologia.
(EDWARD,2004)
Porem, a verdade é que o mundo não sofre uma deficiência na produção de
alimentos e sim na sua distribuição. Neste caso, a transgenia, com suas sementes
modificadas e proporcionando uma produção maior, não iria resolver o problema só pelo
fato de aumentar a produção de alimentos. Se o governo ou os próprios produtores não
destinarem este excedente de alimentos para aqueles que realmente precisam dele,
abdicando em parte de seus lucros, esta tecnologia não faria grande diferença no tocante a
esta questão.
Os entraves à total aceitação dos trangênicos também se encontram nos pontos
sociais e culturais de um país, gerando protestos de pessoas em diversos pontos do globo.
Os ambientalistas e as organizações não-governamentais- ONGs – apontam para os
problemas de saúde que a modificação genética nos alimentos podem trazer, apesar de
muitas questões já estarem resolvidas e corretamente contestadas pelos cientistas.
É claro que a ciência não possui todas as respostas com a exatidão de quem possa
prever o futuro e os protestos gerados contra a liberação dos transgênicos ao redor do
mundo tem sua razão de existir. Afinal, não existe lucro ou parcelas de participação no
mercado que supram danos à saúde de milhões de pessoas. Mas ocorre que muitas
ideologias vão além da pura contestação em busca de uma verdade e invadem o campo da
fé cega e apaixonada e do imenso medo que o ser humano tem de tudo que é novo e ao
qual ele tenha que se adaptar. Medos e crenças que podem vir a prejudicar o futuro
econômico do país. Trata-se de acreditar ou não na ética da ciência em nos fornecer um
produto seguro para o consumo e não esperar que esta mesma ciência venha responder
questões ideológicas que estão fora de seu alcance e incompatíveis com sua função.
Outro ponto que a oposição aborda é o fato de que as grandes empresas
multinacionais que produzem transgênicos passariam a obter controle sobre a agricultura
dos países pobres, através do domínio de tal técnica. Porém, a agricultura a as companhias
estrangeiras trabalham em parceria a longo tempo. Desde o fim da I Guerra, os produtores
rurais de países como o Brasil se relacionam com grandes fabricantes de plantadeiras,
tratores, colheitadeiras e pesticidas, todos estes, setores que também são dominados por
empresas multinacionais. Assim, não se pode supor que a chegada dos trangênicos irá
representar um perigo de dominação a agricultura, já que tais tipos de transações, tão vitais
para a sobrevivência da agricultura, vem ocorrendo há décadas e tal dependência nunca foi
encarada como uma dominação nos moldes temidos pela oposição. (PATURY, SCHELP,
2003)
A carência do país em relação a uma política clara e que direcione por definitivo o
rumo da questão dos transgênicos no Brasil, pode surtir efeitos negativos para a economia
do país e o expor a riscos extremos.
Não havendo uma legislação clara sobre o assunto, os produtores, afim de não
perderem suas safras e seus lucros, partem para o plantio mesmo sem possuírem uma
medida legal para faze-lo. Isso faz com que surjam problemas como o da pirataria. Os
transgênicos tem suas patentes em mãos de empresas multinacionais e para usá-los é
necessário pagar royalties para elas. No Brasil, a maior parte das sementes entra como
contrabando da Argentina e do Paraguai. Em discussões de comércio internacional, o caso
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da pirataria no Brasil sempre é citado por países que efetuam o pagamento de royalties as
multinacionais. (O DEBATE ESTÁ CONTAMINADO, 2004)
Outra ameaça que o país pode vir a sofrer, devido a sua indefinição sobre o
assunto dos transgênicos é que uma lei não irá, em questão de poucos dias, cumprir todos
os seus trâmites para entra em vigor. Afim de arranjar uma solução para a safra da soja de
2004 e 2005, deve-se promover apenas a legalização do que está ilegal. O risco de tal
prática no mercado é muito grande, pois fica aberta a oportunidade para que os clientes
possam, com o conhecimento de tal fato e com manobras de mercado, forçar a
desvalorização do produto. (CARVALHO, 2004)
5- CONCLUSÃO
De acordo com os dados levantados pelo presente trabalho, verifica-se que a
cultura da soja no Brasil, bem como toda sua cadeia agroindustrial apresenta-se atualmente
como a mais relevante do agronegócio brasileiro, mostrando-se fundamental no acerto das
contas externas do país.Verificou-se, também, que a questão da soja transgênica é um
ponto decisivo para o setor no Brasil, tanto pelos benefícios que pode proporcionar como
eventuais impactos ambientais que pode gerar.
Mesmo que tardiamente, o Brasil deu a devida importância à transgenia, como
forma de equiparar-se aos demais países produtores de soja no mundo, que já possuíam
uma postura definida a respeito de tal questão e, de certa forma, já usufruíam de seus
benefícios e enfrentavam as incertezas e riscos provenientes do pioneirismo no uso de uma
nova tecnologia.
Tal equiparação à questão do uso da soja transgênica visa garantir ao país que ele
se mantenha competitivo dentre os países produtores de soja, independente da ideologia de
cada um. Todavia, somente a aceitabilidade da produção da soja transgênica não é o
suficiente para o país. Como abordado no capítulo 3, existe alguns fatores críticos à
competitividade do Sistema Agroindustrial da soja, que , assim como a questão da soja
transgênica , deve receber atenção do governo e dos demais agentes influentes no setor.
Disponibilizamos de uma grande área para cultivo e obtivemos uma expansão em
nossa capacidade produtiva. Porém, tal expansão não obteve o planejamento necessário e o
país não possui a capacidade devida para armazenar este avanço produtivo e dispõe de
meios deficitários para escoar tal produção. Assim, conclui-se que os avanços que o país
poderia obter com estes aumentos de produtividade talvez não sejam tão bem aproveitados
devido a problemas de infra-estrutura, gerados por um planejamento que focou apenas em
aumentar o volume de produção sem dar a devida atenção as suas conseqüências e
exigências.
6- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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sistema agroalimentar. Óleos e Grãos, p. 38-43, nov/dez. 1998.
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2003, jan/2004
MICHELS, Ido, SILVESTRINI, Rubens, SARDINHA, Verônica, SPROESSER, Renato.
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