A ideia de Liberdade e do controle do comportamento humano em B. F. Skinner Angela Graziele Reis Silva; Cassiana Stersa Versoza-Carvalhal e-mail do orientador: [email protected] Universidade Estadual de Londrina/ Departamento de Psicologia Geral e Análise do Comportamento/ CCB Área e subárea do conhecimento: Psicologia, Fundamentos e Medidas da Psicologia. Palavras-chave: Liberdade; Controle; Educação. Resumo A literatura da liberdade vem induzindo as pessoas a agirem de modo a se libertarem dos vários tipos de controle intencional. Uma chamada “literatura da liberdade” se dispõe a evidenciar as condições aversivas nas quais as pessoas vivem. As técnicas utilizadas por essa literatura para livrar-se ou escapar de controles aversivos não tem levado em conta todo o ambiente social em que os seres humanos vivem, portanto, se faz necessário o entendimento de que ao vivermos em sociedade estamos todos sujeitos ao controle. O objetivo deste trabalho foi esclarecer as implicações dos conceitos tradicionais e skinneriano de liberdade para a educação. Utilizando-se do método de análise conceitualestrutural de texto, identificou-se que o entendimento do conceito de liberdade e do que é controle influencia na maneira com que as condições de ensino são planejadas, tendo um impacto direto na educação e na sociedade. Introdução Skinner abordou diversos conceitos de liberdade em suas obras (e.g. SKINNER, 1971/1983, 1953/1998), sempre buscando demonstrar a relação entre o controle ambiental e a noção de liberdade para os indivíduos. Quase todos os seres vivos agem buscando livrar-se de contatos prejudiciais. Pode-se perceber, então, que a ideia de liberdade frequentemente tem relação com a ausência de controle aversivo. Skinner (1953), aponta que, “[...]a doutrina da liberdade pessoal tornou-se cada vez menos eficiente como artifício motivador e cada vez menos sustentável em um entendimento teórico do comportamento humano. ” (p. 476). 1 Para Skinner (1953) “a educação é o estabelecimento de comportamentos que serão vantajosos para o indivíduo e para outros em algum tempo futuro. ” (p. 437). Considerando a implicação da noção de liberdade para a educação, este trabalho visou esclarecer questões acerca dos conceitos de liberdade e do controle do comportamento humano nas obras de B. F. Skinner, esclarecendo, assim, as formas com que a Educação, enquanto agência de controle, se utiliza para controlar o comportamento humano. Neste sentido, teve o objetivo de descrever como os conceitos de liberdade tem afetado a sociedade, especificamente, a educação, de acordo com a perspectiva skinneriana. Procedimentos metodológicos Utilizou-se no presente trabalho o método de análise conceitualestrutural de texto, que tem como objetivo analisar o tema pesquisado por meio da identificação das categorias conceituais de uma disciplina que se relacionam a esse tema (Conforme visto em BANDINI, 2008; MELO, 2008; LOPES & LAURENTI, 2010). Este método se constitui basicamente de quatro etapas distintas: 1) levantamento de principais conceitos ou categorias do texto; 2) caracterização das teses do texto (tese tradicional, crítica e tese alternativa); 3) elaboração de esquemas; 4) elaboração de resumos. Os textos foram selecionados a partir do critério de adequabilidade ao tema. Assim, foram selecionados como bibliografia fundamental três capítulos do livro O Mito da Liberdade (Skinner, 1971): Cap. 2 - Liberdade; Cap. 4 - Punição; Cap. 5 - Alternativas à Punição; e um capítulo do livro Ciência e Comportamento Humano (Skinner, 1953): Cap. 26 - Educação (Quinta seção: Agências Controladoras). Resultados e Discussão De acordo com Skinner (1971), uma chamada “literatura da liberdade” se dispõe a evidenciar as condições aversivas nas quais as pessoas vivem. Basicamente, essa literatura prega qualquer tipo de comportamento que enfraqueça ou destrua o poder controlador para que, assim, os indivíduos se sintam livres. Evitar e livrar-se de contatos prejudiciais é algo que acontece naturalmente com todos. Durante os séculos, de maneiras diferentes construiuse um mundo relativamente livre de ameaças ou estímulos perigosos. Para Skinner (1971), essa relação entre o organismo e o ambiente, denomina-se operante, pois o comportamento do organismo opera no meio e produz uma consequência como, por exemplo, a retirada de um estimulo aversivo. Esses 2 comportamentos são mantidos devido ao seu valor de sobrevivência, reduzindo ameaças do ambiente. Nessa intitulada luta pela liberdade, temos alguns mecanismos que são essenciais, como o de fuga e esquiva, os quais são processos comportamentais que envolvem, respectivamente, a interrupção de um estímulo aversivo depois de iniciado e a prevenção de uma possível situação aversiva. Estímulos aversivos, sejam eles considerados intencionais ou não, são o padrão de controle mais utilizado por quase todo ajustamento social. Isso se explica por que as pessoas evitam ou escapam de tratamentos aversivos agindo de uma forma que reforça o comportamento de quem a tratou aversivamente. A lógica demonstrada é: eu faço o que se pede mesmo que eu não queira, para que não tenha consequências maiores. Uma forma de controle sobre o outro consideravelmente eficaz. Na visão de Skinner (1971), a liberdade deve ser vista como uma questão de contingências de reforço, ou seja, uma relação entre os comportamentos do indivíduo e suas consequências. Ao olhar para a ideia de liberdade vista como a ausência de controle, percebe-se que a literatura da liberdade, não olhou para os controles positivos presentes no ambiente social, pois não está explícito as formas de coerção existentes, mas isso não significa que elas não existam. Skinner (1971), aponta que afirmar que todo tipo de controle é ruim exclui práticas sociais essenciais ao bem-estar e que envolvem o controle de uma pessoa por outra. As técnicas utilizadas por essa literatura para livrar-se ou escapar de controles aversivos não tem levado em conta todo o ambiente social em que os seres humanos vivem. Faz-se necessário o entendimento de que, naturalmente ao vivermos, estamos todos sujeitos ao controle. De acordo com o autor, a solução não é apenas destruir ou fugir dos estímulos aversivos presentes em nosso ambiente social, é necessária uma análise mais detalhada de todo o ambiente e, a partir disso, modificar os diversos tipos de controle que todos estamos sujeitos. A educação, vista como agência de controle, ainda se utiliza muito de controle aversivo e, para Skinner, esse é um problema para o ensino, uma vez que o autor considera ideal o tipo de controle em que não há aversivo em tempo algum. Apesar de não se utilizar mais de punição física, outras medidas aversivas são empregadas como forma de controle. Consequentemente, os estudantes tentam alcançar sua ‘liberdade’, livrando-se desses controles, utilizando-se de diferentes formas de esquiva e fuga, o que resulta em falta de interesse e abandono dos estudos. Skinner diz que o controle aversivo ainda é utilizado pois a criação de técnicas alternativas e eficazes é pequena. Para ele, o que falta para o ensino ser realmente eficaz são reforços positivos. Ele evidencia que algumas instituições vêm utilizando como reforçador positivo 3 mostrar a conexão do que se aprende com contingências que serão encontradas no futuro, ao mostrar as vantagens do ensino e não mais as consequências negativas (punições) por não se aprender, a educação se tornaria então, reforçadora por si só. Conclusões Ao analisar esses capítulos pontuais das obras de Skinner, ficou perceptível que o entendimento do conceito de liberdade e do que é controle são fundamentais para a compreensão e explicação do comportamento. Uma maior visibilidade e esclarecimento da visão de Skinner sobre esses conceitos poderia auxiliar em um melhor planejamento das formas de controle utilizadas na Educação, levando-se em consideração, não apenas seu retorno imediato, mas também seus efeitos a longo prazo. Analisando as considerações levantadas por Skinner em seus livros publicados nos anos de 1953 e 1971, e tendo em vista o atual cenário da educação, se faz cada vez mais necessário e urgente a criação de técnicas alternativas de controle para o ensino, visando as consequências de um futuro (não tão distante). Agradecimentos Agradeço à orientadora e à Fundação Araucária/Inclusão Social, pelo incentivo e oportunidade. Referências LAURENTI, Carolina. & LOPES, Carlos Eduardo. E. Método de interpretação conceitual-estrutural, 2010 (Manuscrito não publicado cedido pelos autores). MELO, Camila Muchon. A concepção de homem no Behaviorismo radical e sua implicações para a tecnologia do comportamento. 2008. 344f. Tese de Doutoramento (Doutorado em Filosofia) - Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2009. SKINNER, Burrhus F. O Mito da Liberdade. 2. ed. São Paulo: Summus, 1983. (Trabalho original publicado em 1971). SKINNER, Burrhus F. Ciência e Comportamento Humano. 10° ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998. (Trabalho original publicado em 1953) 4