QUANTIFICAÇÃO DE OOCISTOS DE Toxoplasma gondii ELIMINADOS POR GATOS DOMÉSTICOS VACINADOS COM PROTEÍNAS RECOMBINANTES Alisson Marques Rosa Ferreira¹, Caroline Ambiel Barros Gil Duarte², João Luis Garcia³; e-mail: [email protected] ¹Bolsista de Iniciação Científica CNPq, discente de graduação do curso de Medicina Veterinária ²Bolsista de Iniciação Científica Fundação Araucária, discente de graduação do curso de Medicina Veterinária ³Orientador, discente do Departamento de Medicina Preventiva Veterinária, do Laboratório de Parasitologia Veterinária, CCA-UEL Área e Sub-área do conhecimento: Medicina Veterinária Preventiva, Doenças Parasitárias de animais Palavras-chaves: Toxoplasmose; oocistos; Toxoplasma gondii. Resumo A toxoplasmose é uma doença cosmopolita, causada por um protozoário, intracelular obrigatório, do filo apicomplexa, chamado Toxoplasma gondii. É uma zoonose oportunista que pode causar sérias patologias fetais quando ocorre a infecção congênita. A doença também pode ser grave em pacientes imunocomprometidos. Dentre as formas de transmissão, a ingestão de carne crua ou mal cozida é considerada a principal forma de transmissão para seres humanos. Os felídeos, incluindo o gato doméstico, são os únicos hospedeiros definitivos desse parasita, eliminando oocistos nas fezes após a ingestão de qualquer uma das três fases evolutivas do parasito (taquizoítos, bradizoítos, e esporozoítos), contaminando o meio ambiente. Sendo assim, os gatos domésticos são essenciais para o controle do T. gondii. A vacina neste caso, deveria evitar ou diminuir a eliminação de oocistos, reduzindo assim a contaminação ambiental. Introdução e Objetivo A toxoplasmose é uma zoonose cosmopolita, causada pelo protozoário Toxoplasma gondii, capaz de produzir a doença em todos os hospedeiros. É caracterizada como uma doença parasitária de mamíferos, aves e répteis que afeta principalmente o sistema nervoso central, e ocasionalmente o sistema reprodutor, músculos esqueléticos e órgãos viscerais. A maioria das infecções é inaparente ou latente (HILL et al., 2005). 1 Este protozoário pertence ao filo Apicomplexa, classe Sporozoazida, subclasse coccidiasina, ordem Eimeriorina, família Toxoplasmatidae, gênero e espécie Toxoplasma gondii (NICOLLE E MANCEAUX, 1909). O ciclo biológico do T. gondii se dá em três formas de desenvolvimento: taquizoitos, bradizoitos e esporozoítos. Os taquizoítos são organismos de rápida proliferação, encontrados durante a fase aguda da infecção, denominados também de formas proliferativas, de livre ou trofozoitos (REY, 2002). Os bradizoítos são organismo de proliferação lenta ou de repouso nos cistos do Toxoplasma e se desenvolvem durante a infecção crônica no cérebro, retinas, músculo esquelético e cardíaco e em qualquer outra parte. Os esporozoítos desenvolvem-se nos esporocistos, dentro dos oocistos que são eliminados pelas fezes dos gatos (NEVES, 2004). O homem e os animais podem infectar-se por três formas do ciclo de vida do agente: (1) via oral pela ingestão de oocistos eliminados nas fezes de felídeos e infectantes após esporulação em um a cinco dias, em condições ambientais favoráveis; (2) pela ingestão de cistos em tecidos de hospedeiros intermediários; e (3) via uterina pela transmissão transplacentária de taquizoítos. O T. gondii também pode ser transmitido em produtos sanguíneos, transplantes de órgãos, ou pela ingestão de taquizoítos em leite caprino não pasteurizado (TENTER, 1999). O risco de adquirir a infecção através do consumo de carnes cruas ou mal cozidas, fato comum em várias regiões no Brasil, é relatado por Vidotto et al. (1990) e Navarro et al. (1992). O consumo de carne crua ou mal cozida é considerada a mais importante fonte de transmissão de T. gondii para o ser humano, seguido de oocistos esporulados (COOK et al., 2000). A detecção de oocistos nas fezes de gatos é rara, sendo observada em apenas 1% dos animais estudados (DUBEY, 1995). Isso se deve ao fato de que os gatos eliminam oocistos por um curto período de tempo, entre uma e duas semanas (DUBEY, 2010). Por causa disso, dados de soroprevalência são importante, pois a maioria dos gatos soroconvertem após infecção experimental com cistos teciduais pela via oral e, realmente, após já terem eliminado oocistos (FRENKEL, 1972; DUBEY e THULLIEZ, 1989; DUBEY et al., 1995). Ressalta-se que o oocisto esporulado pode ser destruído quando submetido à temperatura de 60ºC por um a dois minutos, mas, resiste à degradação física, química e sobrevive em ambientes adversos, o que proporciona elevada chances de perpetuação na natureza (DUBEY, 2010). Desta forma, a detecção de oocistos é importante para a vigilância epidemiológica e consequentemente para a Saúde Pública. Contudo, resultados sorológicos de gatos não identificam a eliminação dos oocistos, pois estes depois de infectados terão títulos de anticorpos detectáveis somente 14 a 2 21 dias após a infecção, sendo este o período em que os oocistos estarão sendo eliminados. Ou seja, durante o lançamento de oocistos no ambiente os níveis de anticorpos são baixos (CORNELISSEN et al., 2014). Este trabalho, tem como objetivo avaliar o uso de proteínas recombinantes (rROP2 e rHSP70) como imunizante em gatos domésticos para diminuir a eliminação de oocistos de Toxoplasma gondii. Material e métodos Foram utilizados nove gatos, divididos em três grupos contendo 3 animais cada. G1: foi imunizado com 25 µg de rROP2 (T. gondii), 25 µg de rHSP70 (E. tenella) mais 20 µg de Quil-A; G2: recebeu 25 µg de E. coli mais 20 µg do Quil-A; G3: recebeu apenas solução salina, permanecendo como grupo controle. Todas as doses imunizantes foram administradas nos dias 0, 21 e 42 do experimento pela via nasal. O desafio foi feito no dia 72, com 600 cistos da cepa TgDoveBr8. As fezes de todos os animais foram examinadas por 21 dias após o desafio e o número de oocistos por grama de fezes foi determinado. O G1 eliminou 76,56% e 62,80% menos oocistos que os grupos G2 e G3, respectivamente. Também foi quantificado o número total de oocistos eliminados por cada grupo nos dias após o desafio. Nesse caso, os animais do G1 eliminaram 70,71% menos oocistos que os grupos G2 e 80,40% menos que o G3. Além disso, foi feito o teste de ELISA para avaliar os anticorpos IgG. Resultados e discussão Neste estudo, observou-se que a imunização intranasal com rROP2 (T. gondii) mais rHSP70 (E. tenella), mostrou uma proteção parcial contra oocistos derramamento (76,56%). Os resultados da eliminação de oocistos mostraram que os animais que receberam o adjuvante e o vector de controle (G2) tiveram também uma protecção parcial. No entanto, os gatos do G1 excretaram pelo menos, 62,8% menos oocistos do que G2. Vacinação de animais sensíveis com parasitas virulentos ou atenuados tem sido uma abordagem de sucesso contra várias doenças por protozoários (Schetters, 1995). No entanto, por causa dos efeitos adversos potenciais e as dificuldades para preservar as vacinas vivas atenuadas e as vacinas de subunidades, feitas a partir de antigénios nativos do parasita ou proteínas recombinantes podem ultrapassar estes problemas (Jenkins, 2001). 3 Conclusão Em conclusão, observamos que as proteínas recombinantes Quil-A foram capazes de reduzir parcialmente a eliminação de oocistos em gatos domésticos imunizados por via nasal. Referências COOK, A. J. C.; BUFFOLANO, W.; ZUFFEREY, J.; PETERSEN, E.; JENUM, P.A.; FOULON, W.; SEMPRINI, A. E.; DUNN, D. T. Sources of Toxoplasma infection in pregnant women: European multicentre case-control study. British Medical Journal, London, v. 321, n.7254, p.142-147, 2000. CORNELISSEN, J. B.; VAN DER GIESSEN, J. W.; TAKUMI, K.; TEUNIS, P. F.; WISSELINK, H. J. An experimental Toxoplasma gondii dose response challenge model to study therapeutic or vaccine efficacy in cats. PLoS One, v. 9, n. 9, p. e104740, 2014. DUBEY, J.P. 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