EVENTOS ESTRESSORES E SEU IMPACTO PARA O DESENVOLVIMENTO INFANTIL: UMA REVISÃO TEÓRICA Jéssica Cristina Eurich(Bolsista CNPq), Márcia Cristina Caserta Gon, e-mail: [email protected] Universidade Estadual de Londrina/Centro de Ciências Biológicas/Departamento de Psicologia Geral e Análise do Comportamento Área e sub-áreado conhecimento: Ciências Humanas/Psicologia Palavras-chave: desenvolvimento cerebral; eventos traumáticos; infância Resumo As condições ambientais são determinantes para o desenvolvimento do ser humano, uma vez que a estrutura cerebral é alterada em resposta as relações que o sujeito estabelece com o seu ambiente. O desenvolvimento cerebral não é linear, existindo períodos sensíveis para a aquisição de certos conhecimentos e competências, sendo os primeiros anos após o nascimento os mais importantes nesse processo uma vez que o cérebro da criança é até duas vezes mais ativo do que o de um adulto. A partir do crescimento essa capacidade de estabelecer sinapses se torna reduzida, permanecendo funcionais no cérebro as vias neuronais que foram mais ativadas, sendo o modo como o indivíduo se comporta ao longo do seu crescimento dependente dessas vias que foram estabelecidas. Eventos traumáticos na infância podem ter desdobramentos significativos na vida do sujeito, visto que estes podem trazer alterações estruturais e funcionais irreversíveis na anatomia cerebral. Dessa forma, o objetivo do presente estudo é reunir, de maneira introdutória,informações de diferentes autores sobre a importância das interações do indivíduo com seu ambiente no início da vida e seus efeitos sobre o desenvolvimento cerebral, destacando-se a exposição a eventos estressores. Introdução e objetivo O desenvolvimento humano é um processo marcado por inúmeras mudanças no organismo, incluindo alterações comportamentais, biológicas, cognitivas, 1 sociais, entre outros fatores. O indivíduo possui um repertório comportamental restrito nos primeiros anos após o nascimento e por isso dependente de figuras que lhe ofereçam suporte e proteção. Nessa fase também, o cérebro da criança está sendo estruturado, possuindo cerca de 100 bilhões de neurônios. Esses neurônios são ativados em resposta às relações que o bebê estabelece com seu ambiente, fazendo com que a estrutura cerebral seja alterada.A maneira como o indivíduo se comporta, as habilidades e dificuldades que possui, estão diretamente relacionadas às sinapses que foram estabelecidas nesses anos iniciais. (BALBERNIE, 2001). As condições ambientais são fundamentais para que esse processo ocorra de forma adequada, fazendo com que a criança tenha um desenvolvimento normal. Dessa forma, um ambiente que não ofereça condições ideais para que isso se dê, trará consequências significativas para o desenvolvimento do indivíduo, fazendo com que ele tenha comprometimentos em vários âmbitos da sua vida(MATOS, 1983). Considerando essas questões, objetiva-se reunir, de maneira introdutória,informações de diferentes autores sobre a importância das interações do individuo com seu ambiente no início da vida e seus efeitos sobre o desenvolvimento cerebral, destacando-se a exposição a eventos estressores. Procedimentos metodológicos Trata-se de um estudo teórico, realizado por meio de pesquisa bibliográfica noportal de periódicos da CAPES com as seguintes palavras-chaves em inglês:“trauma”, “childdevelopment“ e “postraumatic stress disorder”. Resultados e discussão O cérebro é a estrutura responsável pela comunicação do organismo com o mundo externo e interno. Nele há bilhões de neurônios, os quais possuem receptores específicos, o que torna o ser humano sensível apenas a uma parcela dos elementos ambientais (COSENZA, GUERRA, 2011). Segundo DiPietro (2000), o desenvolvimento desses neurônios é influenciado tanto por aspectos genéticos comopor ambientais. Nos primeiros anos de vida, o número de neurônios é quase o dobro do de um adulto, contudo esses possuem poucas conexões/sinapses entre si. A partir do contato do bebê com o seu ambiente, ocorre no sistema nervoso a ativação de uma via neuronal particular, na qual sinapses são estabelecidas em resposta a essa estimulação. Essas sinapses armazenam um padrão químico e se fortalecem quando são ativadas repedidas vezes. Com o 2 crescimento da criança essa capacidade de estabelecer conexões se torna reduzida e limitada, contudo ainda possível (BALBERNIE, 2001). Geralmente nesse período cuidadores oferecem suporte para o bebê, dando a ele proteção e satisfazendo suas necessidades básicas. Esse ideal, no entanto, não é realidade em algumas relações, considerando que muitas crianças são negligenciadas e abusadas. Além disso, nessa fase importante do desenvolvimento crianças podem também estar expostas a outros eventos estressores, como presenciar uma situação de violência, vivenciar uma catástrofe natural, passar por procedimentos médicos invasivos, entre outros acontecimentos (SIEGEL, DAVIS, 2000). O modo como uma criança lida com um evento estressor está relacionado à fase do desenvolvimento em que ela se encontra e às condições ambientais nas quais ela está inserida (SIEGEL,DAVIS, 2000). Quando a criança está exposta a diversas situações estressantes, não existindo uma estrutura na qual ela possa receber amparo, o seu cérebro pode reagir de diferentes formas, de modo a se adaptar às necessidades do meio. Essa adaptação envolve alterações estruturais e funcionais no cérebro, as quais podem ser permanentes, caso as situações de hostilidade permaneçam. Resultado dessa ativação contínua de sistemas neuronais específicos, o funcionamento fisiológico, emocional, comportamental, cognitivo e social do indivíduo podem ser afetados (PERRY, BOARD, 2001). De acordo com Siegel e Davis (2000), traumas na infância aumentam comorbidades como ansiedade, depressão e abuso de drogas e álcool. É comum em crianças que passaram por situações traumáticas intensas apresentarem transtornos psiquiátricos, ser inquietas, terem sentimentos de perseguição, não conseguirem identificar o que é próprio dela e o que é de outra pessoa, são inseguras, têm dificuldades de estabelecer vínculos,desenvolvem problemas de aprendizagem, possuem dificuldades emocionais, além de hipervigilância, entre outros prejuízos (BALBERNIE, 2001; BERGER etal., 2010). Conclusão As informações trazidas acerca dos eventos estressores e das suas consequências para o desenvolvimento ressaltam a importância dos cuidados a serem tomados na infância, de modo que seja possível prevenir tais consequências negativas. Além disso, os dados auxiliam na compreensão de um organismo modificado a partir dessas situações, os quais contribuem para o planejamento de uma intervenção mais afetiva. Ressalta-se ainda a 3 importância de novos estudos sobre o tema e sobre formas de intervenção nesse contexto. Referências BALBERNIE, R. Circuits and Circumstances:The Neurobiological Consequences of Early Relationship Experiences and How They Shape Later Behaviour.Journal of Child Psychotherapy.[S.I.],v. 35, n. 3, p. 237-255, 2001. BERGER, M. et al. Stress dusauxtraumatismesrelationnelsprécoces:conséquencescérébrales de La perturbation de lasécrétiondu cortisol sanguin chez lês nourrissons.Neuropsychiatrie de l’enfanceet de l’adolescence. France: ElsevierMasson, p. 282–292, 2010. COSENZA, R.M..; GUERRA, L.B. O mapa. IN: COSENZA, R.M., GUERRA, L.B (Eds). Neurociência e Educação: como o cérebro aprende.Porto Alegre: Artmed, p.11-25, 2011. DIPIETRO, J. A.Baby and the Brain: Advances in Child Development.AnnualReviewofPublic Health. [S.I.], v.21, p. 455-471, 2000. MATOS, M. A. A Medida Do Ambiente De Desenvolvimento Infantil.Psicologia.São Paulo,p.5-18, 1983. PERRY, B.D.; BOARD, A.The Neurodevelopmental Impact of Violence in Childhood.Textbook of Child and Adolescent Forensic Psychiatry (Eds., D. Schetky and E.P. Benedek) American Psychiatric Press, Inc., Washington, D.C. p. 221-238, 2001. SIEGEL, L.J.;DAVIS, L.Posttraumatic Stress Disorder In Children and Adolescents: A review as Analysis.Clinical Child and Family Psychology Review.[S.I.], v. 3, n. 3, p. 135-154, 2000. 4