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Construção do Cidadão
por Içami Tiba*
“A cidadania deve começar em casa já com os primeiros passos da criança”
O planeta Terra está passando por um período muito delicado. Ele está precisando
muito do espírito cidadão para ser cuidado e preservado.
Diz-se que a Terra precisa de seus habitantes, mas são os seus habitantes é que
precisam dela, pois ela existe com ou sem eles. Basta que a temperatura básica global
suba 5ºC para que muitas cidades em beiras de água (lagos, represas, rios, mares
e oceanos) tenham perdas incalculáveis, levando-se em conta que são onde vive a
maioria da população. Países como Holanda, cidades como Nova York, ilhas paradisíacas
formadas por corais e blocos de gelo das calotas polares sofrerão incalculáveis perdas
gerando talvez bilhões de migrantes do aquecimento global.
Algumas pessoas pedem a diminuição da maioridade penal para combater a
violência juvenil, acreditando que a impunidade é sua maior causa, enquanto outras
pedem que se libere a maconha, já que se torna impossível o seu controle. Para terceiras,
a cerveja passou a ser refrigerante. Cada vez mais ministros, governantes e outros
políticos estão envolvidos em grandes crimes contra o País.
Onde está a cidadania?
A família atual tem que incluir a cidadania na educação dos seus filhos. É a
cidadania familiar praticada desde a infância. Os filhos, se tratados como príncipes
quando crianças, tornam-se tiranos quando maiores. Mesmo sem competência querem
fazer do ‘’seu jeito’’ e acabam com qualquer herança em pouco tempo. O pior é que
esperam que o mundo funcione como os seus pais, que lhe davam tudo e nada lhe
cobravam. São as pessoas que exigem seus direitos, mas não cumprem os seus deveres.
Uma criança tem que aprender que sua brincadeira acaba quando ela guarda os
brinquedos de volta no lugar que antes estavam. Ela tem de aprender a cuidar dos seus
brinquedos, do seu quarto, da sua casa. É dessa maneira que ela, no futuro, vai querer
cuidar também da Terra em que vive. Quando os adultos guardam os brinquedos que
ela deixou, acabam desenvolvendo nela que isso não é sua obrigação. Fica essa falha
na sua formação. Ela não se interessa em deixar o mundo melhor do que quando
o encontrou. O amor é muito importante, mas só ele é insuficiente para formar um
cidadão. É preciso que seja complementado pela educação. Portanto, quem ama tem
que também educar. Daí o título do meu livro: Quem ama, educa!
Nenhum filho pode ofender, gritar, maltratar sua própria mãe. Se a mãe aceita,
não tem por que a criança respeitar outras pessoas em casa, e muito menos fora
de casa. Juntando a irresponsabilidade material com a falta de respeito ao próximo,
acabamos destruindo o mundo.
Portanto, na cidadania familiar a criança tem de começar a praticar em casa o
que o cidadão vai ter que fazer no social, e ela não pode fazer em casa o que não
poderá fazer na sociedade.
Para um adulto, torna-se simples aceitar regras sociais, enfrentar filas, não jogar
lixo no chão e não fazer desperdícios se ele aprender tudo isso já dentro de casa.
A ignorância pode fazer com que uma pessoa varra sua casa jogando o lixo na
rua, que beba água contaminada, mas ela pode aprender a ser cidadã. O pior é fazer o
que sabe que é errado, mas fazer porque ‘’ninguém está olhando’’, e vai ficar impune.
Mas as consequências não tardam a chegar. O aquecimento global, a violência social, a
corrupção e a ‘’lei do espertinho’’ são resultados da ignorância e da falta de cidadania
de algumas pessoas, mas são todos os habitantes da Terra que acabam pagando.
*Içami Tiba é psiquiatra, escritor e conferencista.
Fonte: texto disponível em <http://www.vivasaopaulo.com.br/edicao72/edicao72.
html> Acesso em 26 de mar. 2015.
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