Alterações no perfil das exportações gaúchas

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Bello, T. S.; Teruchkin, S. U.; Garcia, A. A. L.
Alterações no perfil das exportações gaúchas.
Alterações no perfil das exportações gaúchas
Teresinha da Silva Bello*
Sônia Unikowsky Teruchkin**
Álvaro Antônio Garcia***
INTRODUÇÃO
Este artigo visa compreender as alterações da pauta exportadora
gaúcha, tendo como pano de fundo a demanda mundial, a abertura
econômica, nela incluída a formação de blocos, a taxa de câmbio e a
diversificação de produtos e de mercados.1
Para
o
crescimento
das
exportações
nacionais
e
estaduais,
concorreram vários fatores, externos e internos. Dentre os externos,
podem ser citados: elevado crescimento da economia mundial, com maior
crescimento dos parceiros comerciais usuais do País e/ou do Estado;
modificações estruturais na demanda mundial, favorecendo os produtos
em que Brasil e/ou o RS é especializado; modificações nos preços
relativos
e/ou
em
outros
fatores
que
aumentaram
a
capacidade
competitiva. Mudanças sociais, econômicas e políticas, bem como a
criação e o fortalecimento dos acordos regionais de comércio, também
* Economista, Técnica da FEE.
** Economista, Técnica da FEE.
*** Economista, Técnico da FEE.
Os autores agradecem à colega Beky Macadar as críticas e as sugestões a uma
versão preliminar deste artigo. Um agradecimento especial ao colega e Estatístico
Jeferson Daniel de Matos, que fez o tratamento estatístico de vários dados, sem os quais
este estudo não poderia ser feito. Os erros que, eventualmente, tenham permanecido
são de responsabilidade dos autores.
1 Uma análise do comércio externo do RS perde sentido, visto que o Estado absorve
uma gama relativamente grande de mercadorias importadas por outras unidades da
Federação; por outro lado, também se revela importante porto de entrada para
mercadorias a serem distribuídas em outras unidades da Federação. Assim, opta-se pela
avaliação apenas das exportações gaúchas, tendo em vista sua relevância na formação
do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado e sua participação no total exportado pelo
Brasil, já que, sob esse aspecto, a contribuição do RS ao País tem sido muito importante.
O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010
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Alterações no perfil das exportações gaúchas.
influíram nos negócios internacionais, com alterações de produtos e
mercados. O aumento da renda e do processo de urbanização em alguns
países (China e Índia por exemplo) são algumas das mudanças sociais que
favoreceram a demanda internacional. O crescimento econômico mundial,
capitaneado pela China e seguido por vários países, em especial os
emergentes, também favoreceu o crescimento das exportações. Pelo lado
político, no caso do Brasil, houve um maior interesse por parte do
Governo brasileiro em incrementar as relações Sul-Sul. A conclusão da
Rodada Uruguai, a criação da Organização Mundial de Comércio (OMC) e
seus desdobramentos em termos de uma nova fase de abertura comercial
e de predomínio de práticas liberais, bem como a formação e a
consolidação dos acordos regionais, vêm repercutindo nas relações
externas brasileiras, especialmente no que se refere ao comércio exterior.
Do ponto de vista interno, destacaram-se os processos de abertura
e de estabilização econômica implementados no Brasil, a partir de 1990 e
1994, respectivamente, com reflexos no comercio externo, bem como a
relevância de novos mercados para o crescimento das empresas.
Para várias atividades produtivas, as exportações são importantes
fontes de economia de escala, ao permitirem o crescimento do nível de
produção, e possibilitam o conhecimento de novas ideias e tecnologias,
fatores indispensáveis para o incremento da produtividade e, por
decorrência, da competitividade das empresas. Para incrementar as
exportações, em nível tanto nacional como estadual, a estratégia
empresarial utilizada foi a diversificação de produtos e de mercados. Essa
diversificação reduz a volatilidade das receitas de exportação e diminui os
efeitos de crises de demanda localizadas.
Após esta parte introdutória, segue-se uma nota metodológica.
Posteriormente,
são feitas considerações
sobre
a
contribuição
das
exportações gaúchas ao PIB do RS. A seguir, é traçado um perfil
comparativo, por fator agregado, das vendas externas do Estado em
relação aos principais estados exportadores do País. Na sequência, as
exportações
do
Rio
Grande
do
Sul
são
analisadas
O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010
por
fator
de
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competitividade
e
por
destino.
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Ao
final,
encerra-se
com
algumas
considerações resultantes deste estudo.
BREVES CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS
Nem todas as abordagens contemplam os dados a partir de 1980.
Um fato limitador da análise por produto, por fator de competitividade e
por destino refere-se ao período analisado, restrito aos anos de 1989 e
2008. Esse período justifica-se pelo fato de os dados desagregados por
países e mercadorias, tal como usados neste trabalho e disponíveis no
Sistema Alice, da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do Ministério
do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), só estarem
disponibilizados a partir de 1989. Uma vez compatibilizados os dados da
Nomenclatura Brasileira de Mercadorias (NBM), utilizados no período
1989-96, com os da Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM), após
1996, bem como com as alterações da NCM em 2002 e 2007, foram
selecionadas as posições a quatro dígitos, por entender-se que esse grau
de discriminação é suficientemente adequado, ordenando-se as mesmas
pelo somatório do valor no período 1989-2008.2
Com o objetivo de apresentar um panorama mais agregado e,
portanto, mais fácil de visualizar, agruparam-se os dados em quatro
períodos: de 1989 a 1993, de 1994 a 1998, de 1999 a 2003 e de 2004 a
2008. Cada um deles possui certas características que exerceram forte
influência no comércio exterior brasileiro. De uma maneira geral, o
primeiro (1989-93) correspondeu à abertura comercial; o segundo
(1994-98), ao início do Plano Real e à política do câmbio fixo; o período
compreendido entre 1999 e 2003 foi marcado pela volta do câmbio
flutuante e pela desvalorização do real; o último período (2004-08)
2 A classificação a dois dígitos denomina-se capítulo, a quatro dígitos, posição, a seis
dígitos, subposição, e, a partir daí, denominam-se itens (5o e 6o dígitos) ou subitens (7o
e 8o dígitos). Assim, uma classificação a quatro dígitos, que, ao longo deste trabalho,
será chamada indistintamente de produto ou mercadoria, pode, na verdade, englobar um
ou mais subitens.
O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010
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correspondeu
a
uma
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grande
expansão
do
comércio
internacional
concomitante ao retorno do câmbio valorizado — exceção aos seis meses
finais de 2008.
Em relação às exportações por fator de competitividade, foi feita
uma seleção dos 50 produtos mais importantes de cada período,
ordenados
pelo
valor
nominal
de
suas
exportações.
Seguindo
a
classificação adotada por Fernando Puga (2007), esses produtos foram
agrupados de acordo com o seu principal fator de competitividade:
a) setores intensivos em recursos naturais - agropecuária,
extração mineral, petróleo e álcool (inclusive refino), alimentos e
bebidas, madeira, papel e celulose e produtos de minerais não
metálicos;
b) setores intensivos em trabalho - têxtil, vestuário, couro e
calçados, produtos de metal e móveis/joias/indústrias diversas;
c)
setores intensivos em escala - química, borracha e plástico,
metalurgia e veículos automotores;
d) setores
intensivos
em
baseados na ciência de
escritório
e
tecnologia
diferenciada
ou
máquinas e equipamentos, máquinas
informática,
aparelhos
elétricos,
material
eletrônico e de comunicações, instrumentos médicos e ópticos,
aviação/ferroviário/embarcações/motos.
A partir daí, procedeu-se a uma investigação sobre a participação
dessas mercadorias nas exportações gaúchas ao longo do tempo.
No que se refere ao destino dos produtos exportados pelo Estado,
depois de identificarem-se os principais locais para onde se dirigem os
mesmos, foi feito um levantamento dos produtos embarcados para esses
destinos, com destaque para as principais posições da NCM, a quatro
dígitos, exportadas para cada um deles. Foram selecionados os principais
blocos ou regiões de destino. Contudo escolheu-se analisar as informações
dos EUA (inclusive Porto Rico), e não do Acordo de livre Comércio da
América do Norte (NAFTA), devido ao fato de que o México já faz parte da
Associação Latino-Americana de Integração (ALADI), e, nesse caso,
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haveria dupla contagem. Para compatibilizarem-se os dados, optou-se por
utilizar os valores das exportações da União Europeia (UE), composta de
27 países, apesar de se saber que tal só ocorreu em 2007. Mas, como o
incremento de países no bloco foi gradual, tendo iniciado com seis países,
era importante tornar a informação homogênea.
A IMPORTÂNCIA DAS EXPORTAÇÕES NO PIB DO RS
No período 1980-2008, as exportações gaúchas sempre registraram
maior relação com o Produto Interno Bruto do Estado do que as
exportações brasileiras com o PIB nacional. E, apenas em três desses
anos (1995, 1996 e 1998), a razão entre as exportações gaúchas e o PIB
estadual esteve abaixo dos 10%, sendo que, nos anos de 1992, 2003 e
2004, esse percentual ultrapassou os 20%, tendo alcançado o recorde de
22,5% em 2004. No caso brasileiro, considerando-se o mesmo intervalo
de tempo, a maior relação das exportações com o PIB nacional ocorreu
em 2004 (14,5%), e a menor, em 1996 (5,7%), como pode ser visto no
Gráfico 1. Desse modo, é possível afirmar-se que a economia do RS é bem
mais dependente do mercado externo do que a do Brasil. E essa
dependência tem sido maior no século XXI do que nos últimos anos do
século passado (década de 90), pois, exceto o ano de 1992, as maiores
relações entre as vendas externas e o PIB gaúcho estão no período de
2001 a 2008 e em alguns anos da década de 80. Neste último caso, em
decorrência do esforço exportador necessário para enfrentar a penúria
cambial em que o País se encontrava à época.
Nos anos 80, as exportações do RS oscilaram bastante, com
períodos de elevação e de redução, conforme pode ser visto na Tabela 1.
Em 1982, a queda das vendas externas do Estado teve como causa
principal a grande desaceleração do comércio mundial, resultado das altas
nos juros internacionais — capitaneadas pelos Estados Unidos — e da
valorização do dólar nos mercados europeus, além dos problemas nos
balanço de pagamentos dos países do Terceiro Mundo. Mas, em 1983,
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com uma maxidesvalorização do cruzeiro ainda no início do ano, as
exportações voltaram a crescer, aumentando também sua relação com o
PIB estadual. O crescimento da demanda interna e dos salários reais de
1985 a 1986 levou à nova queda nas vendas ao exterior. Vale salientar-se
que o ano de 1986 foi marcado pelo Plano Cruzado, o qual resultou não só
em uma explosão do consumo interno como na perda de competitividade
das exportações, fruto do congelamento da taxa de câmbio, aliado ao
aumento dos custos internos. Além disso, externamente, mantinha-se a
retração da economia norte-americana, a estagnação da economia
europeia, a valorização do dólar, a queda nos preços das commodities e o
aumento do protecionismo. Em 1987, a retomada das boas condições do
mercado internacional e das desvalorizações cambiais favoreceu as
vendas gaúchas ao exterior, bem como um aumento da razão entre as
exportações e o PIB do Estado. No entanto, em 1989, apesar do bom
desempenho da economia gaúcha e do crescimento das vendas externas,
a razão entre as exportações e o PIB reduziu-se, devido à maior absorção
da produção por parte do mercado interno.
Na
década
de
90,
registraram-se
as
menores
relações
exportações/PIB no RS, sendo que, apenas em 1992, esse percentual foi
bem elevado (20,3%). Tal fato pode ser explicado pelo desempenho mais
fraco das exportações nessa década. Nos anos 90, registraram-se grandes
transformações nos cenários internacional e nacional, que tiveram reflexos
na
pauta exportadora
do
RS.
No lado
externo, intensificou-se
a
globalização da economia, e aceleraram-se os acordos de integração, o
que fomentou o processo de abertura da economia ao exterior, iniciado ao
final dos anos 80. No caso dos acordos, a economia brasileira, na década
de 90, defrontou-se com a formação do Mercado Comum do Sul
(Mercosul) e do NAFTA, com a conclusão da Rodada Uruguai do Acordo
Geral de Tarifas e Comércio (GATT) e com a implementação da OMC.
Internamente,
dois
fatores
enfraquecer as exportações
colaboraram
ao longo
dos
sobremaneira
anos
90:
redução
para
das
concessões aos exportadores e implantação do Plano Real. Se, desde os
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anos 70, o setor exportador sempre se beneficiou de subsídios e de
incentivos por parte do Governo, a partir dos anos 90, com a retomada do
fluxo de capital e o consequente desafogo da crise cambial, com o
aumento das pressões externas por maior abertura no comércio e no
movimento
de
capital,
reduziram-se
as
concessões
feitas
aos
exportadores, ao mesmo tempo em que, em 1994, completou-se o
cronograma de desgravação tarifária iniciado no Governo Collor. Ainda em
1994, no mês de julho, foi implantado o Plano Real e, dentre seus efeitos,
podem ser destacados a valorização do câmbio (ocorrida em 1994-98) e o
decorrente aumento dos preços dos produtos exportados (em especial, os
dos produtos industrializados), bem como um fortalecimento da demanda
interna (principalmente, devido ao controle da inflação), o que também
desestimulava as exportações. Diante desses fatos, na década de 90, a
razão entre as exportações gaúchas e o PIB do Estado recuou, tendo
alcançado seus menores níveis em 1995, 1996 e 1998. E, a despeito da
adoção de um câmbio flexível a partir de janeiro de 1999, as vendas
externas do RS nesse ano tiveram variação negativa e só se recuperaram
a partir de 2000, conforme pode ser visto na Tabela 1. Entretanto, mesmo
tendo apresentado um decréscimo de receita, em 1999, a relação com o
PIB estadual elevou-se para 12,9%, devido à forte recessão interna que
pressionou negativamente o PIB do Estado.
Essa
lenta
reação
das
exportações
gaúchas
depois
da
maxidesvalorização deveu-se essencialmente à queda acentuada nos
preços das commodities após os colapsos asiático e russo, nos anos
anteriores. E, em 2000, mesmo com os preços ainda em baixa, o volume
exportado pelo Estado elevou-se, dando início a um processo de
recuperação que só foi engrenar efetivamente a partir de 2003.
No período analisado do século XXI (2001-08), as exportações do
Rio Grande do Sul sempre representaram um percentual acima de 16%
em relação ao valor do PIB estadual, sendo que, em 2003 e 2004, essa
razão ultrapassou os 20%, conforme mostrado no Gráfico 1. Tal fato é
explicado pelo excelente desempenho das vendas externas gaúchas
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nesses anos. Tanto os preços quanto o volume embarcado elevaram-se,
não apenas como resultado da forte aceleração no comércio mundial como
também pela desvalorização da taxa de câmbio brasileira no segundo
semestre de 2002. No caso do câmbio, seus efeitos fizeram-se sentir
principalmente a partir de 2003, dada a defasagem de tempo que
costuma haver entre a mudança na taxa e as alterações nas exportações.
Os efeitos da crise da Argentina, no final de 2001, tendo em vista a
importância do país vizinho para o mercado externo gaúcho, que, por isso,
poderiam ter sido mais danosos para as exportações do RS, foram
amenizados pelo crescimento mundial, onde a China desempenhou
importante papel. Embora diferentes em suas qualificações — pois o
mercado
argentino
importa
do
RS
principalmente
manufaturados,
enquanto as importações chinesas com origem no RS são de produtos
básicos —, as vendas para esse país asiático permitiram que as
exportações continuassem a representar uma parcela importante da
economia gaúcha.
A frustração da safra agrícola, em 2005 e 2006, porém, não
permitiu que o RS usufruísse plenamente dos ganhos proporcionados pelo
aumento de preço das commodities iniciado em 2002. E, além disso, em
abril de 2004, teve início, no Brasil, um processo de valorização do real
que persiste até hoje. 3 Mesmo assim, a relação exportações/PIB, em
2004, ainda se manteve alta, apesar de menor. Em 2005, os estragos
causados pela conjunção entre estiagem e valorização cambial fizeram-se
sentir plenamente, e o total exportado pelo RS elevou-se apenas 5,8%, o
que diminuiu a relação das exportações com o PIB para 18,6%. Em 2006,
embora as receitas tenham crescido, a razão exportações/PIB caiu e, em
2007 e 2008, mesmo com o forte incremento das vendas externas, sua
relação com o PIB manteve-se em torno de 17%, de acordo com o Gráfico
1 e a Tabela 1. Tal fato pode ser explicado pelo melhor desempenho da
3 Esse processo de valorização do real estendeu-se até setembro de 2008, quando se
desencadeou uma crise econômica mundial, que levou a uma perda de valor da moeda
brasileira. Essa desvalorização do real, entretanto, não durou mais de seis meses e, a
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economia do Estado nestes dois últimos anos, a qual teve um crescimento
acima do registrado nos anos que lhe antecederam, o que resultou em
diminuição da relação exportações/PIB. Do mesmo modo que essa relação
ultimamente tem decrescido no RS, as vendas externas do Estado, nos
últimos anos, também vêm perdendo participação no total exportado pelo
Brasil, conforme será visto a seguir.
PERFIL COMPARATIVO DAS EXPORTAÇÕES GAÚCHAS
No ranking dos estados exportadores, entre os anos de 1980 e
2008, o RS foi o terceiro colocado na grande maioria das vezes, perdendo
apenas para São Paulo e Minas Gerais; e, naqueles anos em que não foi o
terceiro, ocupou o segundo lugar, atrás apenas de São Paulo. Ao longo
das décadas de 80 e 90 do século passado e nos primeiros anos do século
XXI — mais especificamente até 2004 —, a participação percentual das
exportações gaúchas no total das exportações brasileiras sempre foi
acima dos 10%, mesmo quando sua taxa de crescimento era pior do que
a das vendas externas do País. Seu maior índice ocorreu em 1993,
quando respondeu por 13,4% do valor exportado pelo Brasil. A partir de
2005, porém, a representatividade do Estado caiu para um dígito, tendo
alcançado seu menor nível em 2006, quando contribuiu com apenas 8,6%
do total vendido pelo País ao exterior. Diante disso, o período 2004-08
registrou a menor participação do Estado ao longo dos períodos
analisados, conforme pode ser visto na Tabela 2.
Nos anos de 2005 e 2006, grande parte dessa perda pode ser
atribuída à frustração de safra decorrente da estiagem, embora, em 2006,
os prejuízos com a seca tenham sido menores. Além dessa frustração na
agricultura, a valorização cambial pode ter afetado sobremaneira as
exportações de manufaturados pelo Estado, tendo em vista que, no perfil
das mesmas, há um predomínio das intensivas no uso do fator trabalho e
pouco dependentes de insumos importados, ou seja, de mercadorias em
partir do segundo trimestre de 2009, o real voltou a valorizar-se.
O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010
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que uma parcela substancial do custo de produção se dá em moeda
nacional, como foi o caso dos calçados e dos móveis, dentre outros. Afora
isso, a queda da participação das exportações gaúchas no total do País
teve a ver — e muito — com a retração nas vendas de calçados ao
exterior, decorrente da maior concorrência dos calçados asiáticos, em
especial dos chineses, que elevaram seu market share em mercados antes
ocupados pelos calçados brasileiros. Ademais, no próprio mercado interno,
verificou-se uma “invasão” de calçados da China, em particular os
esportivos, desbancando as empresas gaúchas.
Entre 2004 e 2008, apesar de o valor das exportações do RS ter
aumentado em todos os anos, sua taxa de crescimento, exceto em 2007,
foi menor do que a das vendas externas totais do País. Entretanto é
possível verificar-se, na Tabela 2, que essa perda de participação também
ocorreu com o conjunto dos até então cinco maiores estados exportadores
(SP, MG, RS, PR e SC). Isso denota que outras unidades da Federação
ganharam maior representatividade neste último período. A elevação do
preço do petróleo contribuiu para que estados exportadores dessa
commodity e de seus derivados auferissem ganhos de receita, o que lhes
permitiu aumentar sua parcela nas exportações do País, como foi o caso
do Rio de Janeiro. O crescimento das exportações de soja pela Região
Centro-Oeste
do
País
também
colaborou
para
essa
redução
de
representatividade do Estado. Do mesmo modo, a transferência e/ou a
instalação de novas unidades calçadistas do RS para a Região Nordeste do
País aumentou as exportações dessa mercadoria por alguns estados
daquela região, ao mesmo tempo em que atuou em detrimento das
vendas externas de sapatos pelo RS. Isto porque houve um desvio das
vendas de calçados, que deixaram de ser embarcados pelo RS e passaram
a ser exportados pelos novos estados produtores.
Comparando-se as exportações do RS, por fator agregado, com as
do Brasil e com as de alguns dos principais estados exportadores (SP, MG,
PR e SC), entre 1980 e 2008, é possível observar-se que, ao longo de
todo o período em análise, apenas o Paraná apresentou participação
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crescente dos produtos industrializados em suas exportações e que Santa
Catarina diminuiu o percentual das vendas externas dos industrializados
somente no último quinquênio (2004-08). Já o Brasil, bem como RS e SP,
registrou uma participação média crescente dos industrializados até o
intervalo 1994-98 e, na última década, registrou perdas a favor dos
produtos básicos, o que pode ser visto na Tabela 3. No País e nesses dois
estados, a maior representatividade dos produtos industrializados no total
exportado ocorreu em 1994-98, quando a moeda nacional se apresentava
valorizada frente ao dólar. Embora possa parecer um paradoxo, é
importante salientar-se que foi nesse quinquênio que se consolidou o
Mercosul, com a entrada em vigência do Protocolo de Ouro Preto, que
instaurou a Tarifa Externa Comum (TEC). E reza a teoria que, logo após o
processo de abertura comercial, costuma haver um natural aumento da
corrente de comércio entre os parceiros, fruto da desgravação tarifária
entre eles. Posteriormente, as taxas de crescimento do comércio entre os
países-membros do acordo tendem a se estabilizar, embora em níveis
mais altos do que os praticados anteriormente à liberação. Como a pauta
de exportações para o Mercosul, tanto no Brasil quanto no RS, sempre se
caracterizou pelo predomínio de produtos industrializados, com o avanço
do processo de desgravação tarifária entre seus membros, houve um
acréscimo nas vendas de manufaturados para a região. Também
colaboraram para o bom desempenho dos industrializados no período
1994-2008 as vendas de produtos semimanufaturados, impulsionadas
pela recuperação das economias mais desenvolvidas (Estados Unidos,
Europa e Japão).
No período 1999-2003, produtos básicos importantes da pauta
exportadora do RS, como fumo, soja em grão e carnes, encontravam-se
com os preços em baixa, embora tivessem registrado algum aumento nos
volumes embarcados. Inclusive a torta de soja, também pertencente ao
grupo dos básicos, teve queda nos preços e nas quantidades. Por
consequência, as receitas em dólares dos produtos básicos mantiveram-se
menores do que no período 1994-98. Desse modo, o que realmente
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explicou seu aumento na parcela das exportações gaúchas, no período
1999-2003, foi a queda nas vendas de industrializados, com destaque
para o fraco desempenho dos calçados, do óleo de soja, dos polímeros de
etileno, dos couros, da pasta química de madeira e das partes e
acessórios de veículos, conforme a Tabela 4.
Já no período 2004-08, a menor representatividade dos produtos
industrializados na pauta de exportações do Rio Grande do Sul pode ser
explicada pela elevação no preço das commodities, o que incrementou seu
valor exportado e, consequentemente, a participação dos produtos básicos
na pauta. Assim, à medida que as vendas de industrializados se retraíam,
fruto do desestímulo cambial e da ampliação da concorrência de similares
chineses, avançavam as exportações dos básicos, revertendo um quadro
que, em nível tanto nacional quanto estadual, demorou décadas para ser
construído. Produtos como o fumo, a soja e as carnes registraram
substanciais aumentos de preços em 2004-08. Além disso, os volumes
embarcados — excetuando-se a soja, em
2005 — também tiveram
acréscimos. Por outro lado, as exportações de calçados, carro-chefe dos
produtos industrializados, mantiveram o fraco desempenho registrado no
quinquênio 1999-2003.
Por outro lado, o Estado do Paraná, que, no período 1980-83, tinha
nos produtos básicos praticamente 70% de suas exportações, no período
2004-08 viu essa participação cair para em torno de 35%, enquanto os
produtos industrializados representaram aproximadamente 63% de suas
vendas externas, equiparando-se aos do RS. Tal fato pode ser explicado,
em boa parte, pela entrada das exportações de automóveis e seus
componentes na pauta exportadora do Paraná. No RS, embora tenha
havido incremento das vendas externas na área de petroquímicos, fruto
da expansão do Polo Petroquímico e da Refinaria Alberto Pasqualini
(Refap), a pauta exportadora de manufaturados manteve-se com poucas
alterações, com produtos assentados essencialmente na agropecuária,
cuja produção se baseia principalmente no uso intensivo de recursos
naturais, conforme poderá ser visto a seguir.
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AS EXPORTAÇÕES DO RS POR FATOR DE COMPETITIVIDADE
Analisando-se as vendas ao exterior do Rio Grande do Sul em
1989-2008, percebe-se que os produtos intensivos em recursos naturais
tiveram sua participação elevada de 48,8% em 1989-93 para 56,9% em
2004-08, conforme a Tabela 5.4 Em números absolutos, cresceu também a
quantidade de mercadorias desse agregado incluídas entre as 50 mais
importantes: eram 17 no primeiro período, passando a 22 no último.
Dentre
as
principais
mercadorias
intensivas
em
recursos
naturais
exportadas pelo RS, por receita de exportação, destacam-se: tabaco não
manufaturado, soja em grão, carne de aves, carne suína, torta (bagaços)
de
soja,
óleo
de
soja,
óleos
de petróleo (exceto
óleos brutos),
hidrocarbonetos cíclicos, preparações de carne e pasta química de
madeira. Observou-se ainda que os quase 10 pontos percentuais ganhos
pelos produtos intensivos em recursos naturais no decorrer dos períodos
analisados não foram resultado de uma evolução lenta e gradual. Na
verdade, aconteceu um salto no último período. Em boa medida, porque,
no final desse período, ocorreu um expressivo crescimento nos preços das
commodities
agrícolas,
devido,
entre
outros
fatores,
à
expansão
econômica internacional — em particular, a da China — e à especulação
nos mercados futuros.
Os dados referentes ao comportamento dos produtos intensivos em
trabalho são aqueles que mais chamam atenção pela sua queda ao longo
do tempo. No primeiro período, esses bens representavam 39,2% do total
das 50 mercadorias mais exportadas pelo Estado, tendo apresentado uma
redução vertiginosa no último período (2004-08), quando tiveram uma
participação de 19,8% sobre o total. Os produtos intensivos em trabalho
mais importantes na pauta exportadora gaúcha, por ordem de valor, são:
calçados de couro natural, couros preparados de bovinos, móveis e suas
4 Para uma análise mais detalhada das exportações por fator de competitividade, ver
Garcia (2009).
O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010
Bello, T. S.; Teruchkin, S. U.; Garcia, A. A. L.
Alterações no perfil das exportações gaúchas.
partes, couros curtidos ou crust de bovinos, calçados de borracha ou de
plástico, armas de fogo, partes de calçados, calçados de matérias têxteis e
facas e suas lâminas.
Essa diminuição na representatividade dos produtos intensivos em
trabalho deveu-se, principalmente, à queda da participação das receitas
com calçados de couro natural. O calçado gaúcho foi perdendo mercado
internacional, principalmente, para a China e, mais tarde, para o Vietnã e
outros países cujo custo da mão de obra era muito inferior àquele
praticado no Estado. Com a perda da competitividade, os calçadistas
gaúchos procuraram agregar valor ao seu produto, através de design e
desenvolvimento de marca, dentre outras medidas. Isso, embora em
alguns casos tenha-se traduzido em elevação do preço médio do sapato
e/ou no ganho de algum nicho de mercado, se mostrou insuficiente para
impedir a expressiva queda no valor total das exportações do produto ao
longo dos anos. Mesmo as vendas externas de calçados de borracha,
plástico e matérias têxteis, que tiveram alguma expressão nos períodos
intermediários, já não conseguiram sustentar essa posição no período
final.
Em relação aos demais produtos intensivos em trabalho, deve-se
realçar o aumento da importância dos “couros preparados” entre os
produtos mais exportados pelo Rio Grande do Sul. As vendas externas de
móveis cresceram bastante entre 1989 e 2003, mas, de 2004 a 2008,
apresentaram uma leve queda na participação. Já as armas de fogo — na
realidade, espingardas e/ou carabinas para caça ou tiro ao alvo —
mantiveram sua posição ao longo dos anos, enquanto declinaram as
participações relativas dos produtos de cutelaria. Assim, as mercadorias
intensivas em trabalho, que eram 12 entre as 50 mais importantes do
Estado no primeiro período, no final, ou seja, entre 2004 e 2008, tiveram
nove representantes.
Dos quatro grupos de produtos aqui considerados, o de mercadorias
intensivas em escala foi o que apresentou, relativamente, melhor
performance entre 1989 e 2008, conforme pode ser visto na Tabela 5. E o
O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010
Bello, T. S.; Teruchkin, S. U.; Garcia, A. A. L.
interessante
é
que,
apesar
Alterações no perfil das exportações gaúchas.
desse
agregado
quase
duplicar
sua
participação no total entre o primeiro e o último período, diminuiu o
número de seus produtos inseridos entre os 50 mais exportados,
passando de 14 entre 1989 e 1993 para 10 entre 2004 e 2008. Dentre os
produtos
intensivos
polímeros
de
em
escala
etileno, tratores,
exportados
partes
e
pelo
RS,
acessórios
destacam-se:
para veículos,
carrocerias para veículos automóveis, polímeros de propileno, reboques e
semirreboques, borracha sintética e artificial, pneumáticos novos de
borracha e ônibus e microônibus. Perderam importância relativa os
produtos de metalurgia básica e as peptonas e seus derivados — no caso
do RS, as proteínas de soja —, e ganharam representatividade os
produtos petroquímicos — polímeros — e os da indústria metal-mecânica
vinculada
à
área
automotiva
e/ou
agrícola.
Destacaram-se,
pelo
crescimento na participação, as vendas de tratores, de reboques e
semirreboques, de carrocerias, e, ainda, as de polímeros de etileno.
O agregado composto por produtos intensivos em tecnologia ou
baseados na ciência também ganhou significância na pauta exportadora
gaúcha, mas o seu peso relativo era muito pequeno e assim continuou
sendo.
Ademais,
essa
evolução
ficou
mais
nítida
nos
períodos
intermediários da análise, ou seja, entre 1994 e 1998 e entre 1999 e
2003, quando esse agregado alcançou, respectivamente, 6,4% e 5,9% do
total. No último período, já se percebe um recuo da participação relativa,
para 5,5%. O número de produtos intensivos em tecnologia incluídos nas
50 mercadorias mais exportadas pelo Estado variou entre sete e 10
representantes. Dentre eles, salientaram-se: máquinas para colheita ou
debulha,
destinadas
condensadores
aos
motores,
elétricos,
ferramentas
transformadores
pneumáticas,
elétricos,
máquinas
processamento de dados, máquinas para preparo do
partes
para
solo, outras
máquinas e aparelhos de ar condicionado.
A valorização cambial entre 1994 e 1998 reduziu significativamente
a competitividade dos produtos gaúchos, sendo esse o pior período em
termos de evolução das exportações do Estado. Isso tudo sugere que os
O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010
Bello, T. S.; Teruchkin, S. U.; Garcia, A. A. L.
Alterações no perfil das exportações gaúchas.
produtos intensivos em tecnologia ou baseados na ciência foram menos
vulneráveis à valorização cambial, apresentando, assim, um desempenho,
comparativamente, superior ao dos demais conjuntos de mercadorias aqui
analisados. Ainda que, em termos absolutos, não sejam valores muito
expressivos na pauta de exportações do Estado, cabe ressaltar-se o
crescimento relativo das vendas externas de máquinas para colheita ou
debulha e de máquinas para preparo do solo. Por outro lado, os aparelhos
de ar condicionado e os motores de pistão — motores diesel e semidiesel
—, que tiveram relevância nas exportações desse agregado até o começo
dos anos 2000, perderam participação entre 2004 e 2008, ao ponto de,
neste último período, os motores de pistão não estarem mais incluídos na
lista dos “50 mais”.
Para poder melhor compreenderem-se essas alterações na pauta, a
seguir, serão analisados os principais destinos das exportações gaúchas.
AS EXPORTAÇÕES GAÚCHAS POR DESTINO
A diversificação de mercados pode ser atribuída, em parte, à
formação e à consolidação de blocos econômicos e de acordos comerciais,
aos diferentes ritmos de crescimento dos países, com maior intensidade
naqueles em desenvolvimento, aliado a um maior protecionismo das
nações
desenvolvidas,
bem
como
ao
espírito
empreendedor
dos
empresários na abertura de novos mercados.
A questão que se coloca é o que melhor explica o crescimento das
exportações. Isto é, a principal causa estaria na decisão empresarial de
diversificar os mercados de destino, para tornar as exportações menos
dependentes das alterações na demanda de um número restrito de países,
ou a principal explicação estaria da expansão do crescimento mundial,
atribuindo a esse fator o bom desempenho externo? Neste último caso, a
diversificação geográfica das vendas externas resultaria menos da postura
intencional e agressiva dos exportadores e mais do crescimento das
O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010
Bello, T. S.; Teruchkin, S. U.; Garcia, A. A. L.
Alterações no perfil das exportações gaúchas.
importações nos países e nos blocos de destino, e as vendas apenas
teriam acompanhado o momento favorável dos negócios no plano
internacional, que teria sido mais intenso justamente nos mercados não
tradicionais.
Na visão de Markwald e Ribeiro (2005), a diversificação geográfica
das exportações brasileiras contribuiu para sustentar o crescimento das
mesmas
no
período
1998-2002,
quando
essas
ainda
não
tinham
deslanchado. Mas a expansão do comércio mundial, a partir de 2002, foi o
fator relevante para explicar o crescimento acelerado das exportações do
País. Já Puga (2007), ao analisar o excepcional crescimento das vendas
externas brasileiras no período 2000-05, que levou a um aumento da
participação do Brasil no comércio internacional, concluiu que a principal
causa foi a elevada capacidade de resposta das empresas brasileiras ao
aumento na demanda mundial, uma vez que o crescimento do comércio
internacional explicou apenas metade do aumento das vendas do País ao
exterior no período. Portanto, ambos os argumentos — estratégia
empresarial e conjuntura internacional favorável — elucidam o incremento
das vendas externas.
A distribuição geográfica das exportações brasileiras e gaúchas
passou por mudanças significativas ao longo dos anos em análise. Visando
melhor compreenderem-se essas alterações, apresenta-se uma análise
das exportações gaúchas para os principais destinos segundo regiões,
blocos e/ou países. Optou-se por destacar as vendas para o Mercosul, a
ALADI (exclusive Mercosul), os Estados Unidos (inclusive Porto Rico), a
União Europeia, a Ásia (exclusive Oriente Médio) e o Oriente Médio. Isto
porque esse conjunto de destinos absorveu, no período 1989-2008,
parcela substancial das vendas externas do Brasil e do RS. Deve-se ter
presente que as exportações para determinada área geográfica são
sensíveis a vários fatores, tais como: taxa de câmbio real bilateral, tipo de
produto que o país exporta para esse mercado, modificações no nível de
atividade do mercado importador e acordos comerciais estabelecidos.
O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010
Bello, T. S.; Teruchkin, S. U.; Garcia, A. A. L.
Alterações no perfil das exportações gaúchas.
UMA VISÃO GERAL
A distribuição geográfica das exportações gaúchas passou por
mudanças significativas ao longo das décadas de 70 e 80, 5 o mesmo
ocorrendo no período em análise (1989-2008). Nesses 20 anos, mercados
tradicionais,
como
Estados
Unidos
e
União
Europeia,
reduziram
praticamente à metade sua participação conjunta, passando de 65% em
1989 para 35% em 2008. E isso ocorreu a despeito de o Brasil ser
beneficiário do Sistema Geral de Preferências (SGP) 6 tanto dos Estados
Unidos como da União Europeia. Além da concorrência de vários países,
nesses
mercados,
devem-se
enfatizar
as
barreiras
não
tarifárias
existentes, especialmente na área agrícola, como importante fator
restritivo das exportações brasileiras e gaúchas, constituindo-se em um
“novo protecionismo” 7 . Concomitantemente, houve um acréscimo da
representatividade das vendas para Mercosul, ALADI (exclusive Mercosul),
Ásia e Oriente Médio. Enquanto os principais países europeus, como
Alemanha, Reino Unido,
Itália,
Países
Baixos,
Espanha
e
França,
diminuíram sua parcela nas exportações gaúchas, as vendas para China,
Rússia, Arábia Saudita e África do Sul aumentaram consideravelmente,
passando de quase 3% nos três primeiros períodos (1989-93, 1994-98 e
1999-2003)
para 15% no último (2004-08), seja por estratégias
empresariais,
aproveitamento
pelo
dos
crescimento
“ventos
dessas
favoráveis”
economias
aos
negócios
e/ou
pelo
no
plano
internacional.
Um indicador da importância de regiões, países e blocos nas
5 No Brasil, assim como no RS, a participação dos principais países industrializados, que
era de mais de 70% na década de 70, reduziu-se substancialmente até 1980. A política
de diversificação de mercados reverteu-se nos anos 80, em consequência, basicamente,
da crise de liquidez que atingiu os países em desenvolvimento endividados, após a
moratória decretada pelo México em 1982. Assim, elevou-se novamente a
representatividade dos países industrializados, denotando uma nova reconcentração das
vendas externas (Teruchkin, 1990).
6 O SGP consiste em um tratamento tarifário especial, praticado pelos países
desenvolvidos a certos produtos importados, procedentes e originários de alguns países
com menor desenvolvimento.
O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010
Bello, T. S.; Teruchkin, S. U.; Garcia, A. A. L.
Alterações no perfil das exportações gaúchas.
exportações do RS está na sua participação no total das vendas externas
do Estado, como apresentado na Tabela 6. Os dados dessa tabela
denotam que a grande mudança na distribuição geográfica das vendas
externas gaúchas ocorreu entre o primeiro e o segundo período, quando
as exportações não tinham ainda deslanchado. De fato, nesses anos, a
participação conjunta dos mercados tradicionais (Estados Unidos e União
Europeia)
recuou
quase
14
pontos
percentuais.
Esse
espaço
foi
integralmente ocupado pela Ásia e pelo Mercosul. Porém, no período
seguinte (1999-2003), a mudança mais significativa foi a perda de
representatividade do Mercosul, devido, principalmente, a problemas de
estabilidade econômica e/ou a políticas dos parceiros do bloco. Já a
participação
dos
mercados
não
tradicionais
teve
um
incremento
expressivo, onde se distinguem as vendas para o Oriente Médio, em
especial o Irã e a Arábia Saudita, e para os demais países, como a África
do Sul.
No período 2004-08, sobressai-se o grande incremento do valor
exportado em relação ao período anterior, bem como o novo impulso
verificado na reorientação das vendas externas em direção a mercados
não tradicionais. Salientam-se, pela elevada taxa de acréscimo, as vendas
para outros países, como a Rússia, grande importadora de carne suína
gaúcha, e vários países da África, apesar de pouco representativos na
pauta, como Egito, Angola e Marrocos.
De um lado, essa mudança retrata uma adaptação das exportações
gaúchas às tendências do comércio mundial, onde as vendas para
destinos não tradicionais registraram significativas taxas de crescimento,
sendo o caso mais marcante o da China. Ressalta-se, também, a
preocupação das entidades ligadas às exportações em estimular a
abertura
de
novos
mercados,
tendo-se
em
vista
as
dificuldades
encontradas nos mercados tradicionais. Com isso, a queda da participação
dos Estados Unidos e da União Europeia na pauta foi compensada pela
diversificação de parceiros. Considerando o exposto, passa-se a analisar
7 Para maiores detalhes, ver Bello (2001).
O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010
Bello, T. S.; Teruchkin, S. U.; Garcia, A. A. L.
Alterações no perfil das exportações gaúchas.
as exportações gaúchas para os principais blocos e ou países, para melhor
visualizarem-se essas mudanças.
ESTADOS UNIDOS (INCLUSIVE PORTO RICO)
Principal destino das exportações brasileiras e gaúchas em todos os
20 anos de análise, os Estados Unidos reduziram sua parcela no valor
total das vendas externas, de forma mais acentuada, a partir de 2002, em
nível tanto nacional como estadual. Assim, quando se confrontam os
dados do primeiro com
os do último período, verifica-se
que
a
representatividade dos EUA nas exportações do RS caiu para quase a
metade.
O produto mais exportado pelo Estado, no período 1989-2008, foi
calçado de couro, sendo que o mercado norte-americano chegou a
absorver cerca de 65% do valor total desse produto em 1989-93, mas foi
diminuindo sua participação ao longo dos anos, atingindo pouco mais da
metade das vendas de calçados gaúchos no início dos anos 2000 e menos
de 30% do valor embarcado no quinquênio 2004-08. Isso ocorreu devido
à grande concorrência dos países asiáticos, em especial da China, aliado à
forte valorização do real em relação ao dólar desde 2004, a qual retirou
competitividade dos produtos gaúchos nesse mercado, em particular dos
intensivos em mão de obra.
Nesses 20 anos, pelo seu valor, também se destacam nas vendas do
RS para os EUA: tabaco não manufaturado, armas de fogo, couros e peles
curtidos ou crust, partes e acessórios dos veículos automóveis, conforme
pode ser visto no Quadro 1. Já os embarques de máquinas e aparelhos de
ar condicionado, que, entre 1989 e 1993, eram o terceiro produto em
valor
para
esse
mercado,
perderam
participação
nos
quinquênios
posteriores. Por outro lado, produtos químicos orgânicos, como os
hidrocarbonetos cíclicos (benzeno, tolueno, estireno etc.), triplicaram sua
representatividade ao longo dos períodos. Cabe salientar-se que o elevado
acréscimo das vendas para os Estados Unidos em 2008 deveu-se à
O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010
Bello, T. S.; Teruchkin, S. U.; Garcia, A. A. L.
Alterações no perfil das exportações gaúchas.
exportação de uma plataforma marítima montada em Rio Grande para a
Petrobrás, por um regime especial de exportação, denominado Repetro 8.
UNIÃO EUROPEIA
A União Europeia tem sido relevante parceira do Brasil e mais ainda
do
RS
nos
últimos
20
anos.
Contudo,
sistematicamente,
perdeu
representatividade ao longo dos períodos. No RS, passou de 34,5% em
1989-93 para apenas 19,1% em 2004-08.
Diferentemente dos EUA, o
que singulariza o comércio com a UE é a grande concentração das
exportações nas commodities agrícolas, dentre as quais se destacaram a
soja e seus derivados. Os principais produtos exportados pelo RS para
esse bloco foram, por ordem de valor, em todo o período: tabaco não
manufaturado, torta (bagaço) de soja, calçados de couro natural, soja em
grão, couros e peles curtidos ou crust, carnes e miudezas de frango,
conforme o Quadro 1. Esses produtos, que, em conjunto, representavam
75%
das
vendas
para
a
UE
no
primeiro
período,
diminuíram
continuamente sua participação, atingindo os 57% no último quinquênio
(2004-08), denotando grande concentração em produtos de baixo nível
tecnológico, intensivos em recursos naturais e, no caso do calçado,
intensivos em mão de obra.
Nas negociações comerciais com a União Europeia, os conflitos mais
notáveis
foram
devidos
aos
subsídios
concedidos
aos
produtores
europeus 9 , às barreiras tarifárias a determinados produtos agrícolas
considerados sensíveis e às barreiras não tarifárias de caráter técnico,
sanitário e/ou administrativo, utilizadas para dificultar a entrada de
Repetro é o regime aduaneiro especial de exportação e importação de bens destinados
à exploração e à produção de petróleo e de gás natural. Nesse caso, os bens são
vendidos pelo fabricante nacional à pessoa jurídica domiciliada no exterior, com
pagamento em moeda estrangeira de livre conversibilidade, ainda que não haja a saída
física do bem do território nacional. Ver Sartori (2006).
8
9 Para maiores detalhes dos subsídios desse bloco no comércio Brasil-União Europeia,
O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010
Bello, T. S.; Teruchkin, S. U.; Garcia, A. A. L.
Alterações no perfil das exportações gaúchas.
produtos importados extrabloco.
Os principais países importadores de produtos gaúchos da União
Europeia são: Alemanha, Reino Unido, Itália, Holanda e Espanha, que,
juntos, diminuíram sua representatividade nas exportações gaúchas de
28% no quinquênio 1989-93 para 13% em 2004-08. Esse comportamento
foi similar ao do bloco, dada a intensa participação desses países nas
importações da União Europeia provenientes do RS.
MERCOSUL
A partir da constituição do bloco, em 1991, até fins de 1998, as
vendas do RS para os parceiros cresceram mais do que as do Brasil e,
com isso, a representatividade do Mercosul, que, em nível tanto nacional
como estadual, era de 4% das vendas externas em 1991, elevou-se para
17% e 20% das exportações brasileiras e gaúchas, respectivamente, em
1998.
As
exportações
estaduais
para
o
bloco
caracterizam-se,
fundamentalmente, por serem de produtos manufaturados, sendo a
Argentina o principal parceiro do bloco. De 11º destino das exportações
sul-rio-grandenses, em 1989, passou a ser o segundo em 1993,
mantendo-se nessa colocação até 2001.
Nos dois períodos seguintes, 1999-2003 e 2004-08, a participação
do Mercosul 10 nas exportações reduziu-se de forma mais acentuada em
nível nacional do que no RS. A crise externa brasileira, que começou em
fins de 1998 e culminou na desvalorização cambial do início de 1999, a
crise econômico-financeira da Argentina 11 , que se agravou a partir de
2000 e eliminou a paridade peso-dólar no começo de 2002, e a recessão
no Uruguai foram alguns dos fatores que contribuíram para essa redução,
sendo que o período 1999-2003 foi crítico para o bloco.
Mas a adoção de câmbio flutuante por Brasil e Argentina e a
ver Mendes (2000).
10 Para uma análise mais detalhada do comércio do RS para o Mercosul, ver Teruchkin
(1998; 2005).
O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010
Bello, T. S.; Teruchkin, S. U.; Garcia, A. A. L.
Alterações no perfil das exportações gaúchas.
recuperação de parte da paridade cambial peso-real, aliado ao expressivo
crescimento
da
economia
argentina,
após
a
crise
de
2001-02,
possibilitaram, nos anos seguintes, a revitalização das exportações
gaúchas para o Mercosul, apesar das inúmeras salvaguardas adotadas
pela Argentina 12 . Não obstante esse acréscimo das exportações, no
quinquênio 2004-08, a participação do bloco nas exportações gaúchas foi,
em média, de 14%, depois de já ter representado 16% no período
1994-98.
Essa perda de market-share do Mercosul nas exportações estaduais
foi acompanhada de uma alteração na sua composição. As vendas de
óleos de petróleo não brutos, 13 de uma ínfima participação nas vendas
para o bloco, atingiram 11% no período 2004-08, transformando-se no
segundo produto mais exportado, logo após os polímeros de etileno, os
quais, nos 20 anos analisados, permaneceram como o principal produto
vendido para o Mercosul. Já os calçados (de borracha ou plástico e de
couro natural) perderam parcela significativa de sua representatividade no
último quinquênio, devido à queda nas vendas para a Argentina e ao
estabelecimento de fábricas de empresas calçadistas gaúchas naquele
país, visando contornar as barreiras comerciais e atender a seu mercado
interno.14 Por outro lado, máquinas e aparelhos para colheita, tratores e
carnes de frango apresentaram um grande acréscimo das exportações,
quando se comparam os dois últimos períodos.
É
interessante
observar-se
que
uma
análise
das
empresas
exportadoras gaúchas por tamanho15 revelou que, em 2006, o Mercosul
11 Para maiores informações, ver análise da crise argentina em Bello (2002).
12 As salvaguardas impostas pela Argentina aos produtos brasileiros,
como
eletrodomésticos da linha branca, calçados, eletroeletrônicos e automóveis e autopeças,
dentre outros, ocorreram ao longo do período em análise, com bastante frequência,
tendo-se em vista a forte penetração de bens industriais do Brasil.
13 O crescimento do valor das vendas de óleos de petróleo, em especial de óleo diesel,
deve-se, em parte, à ampliação da capacidade produtiva no Estado e do maior preço
médio.
14 Uma análise das relações comerciais com a Argentina é apresentada em Macadar
(2009).
15Para maiores informações, ver estudo das exportações gaúchas por porte das empresas
O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010
Bello, T. S.; Teruchkin, S. U.; Garcia, A. A. L.
Alterações no perfil das exportações gaúchas.
foi o principal mercado para as micro e pequenas empresas, que
exportaram, principalmente, calçados e móveis, denotando que, para
essas, a proximidade geográfica e cultural, bem como a isenção tarifária
intrabloco, deve ter influenciado.
ALADI (exclusive Mercosul)
As exportações do Brasil e do RS para a ALADI (exclusive Mercosul)
denotaram
valores crescentes ao longo
dos
anos
analisados.
Por
decorrência, a representatividade das exportações gaúchas para o bloco
quase dobrou, atingindo, em média, quase 11% no período 2004-08,
percentual um pouco inferior ao do Brasil no mesmo período, que foi, em
média, de 12%.
México, Chile e Venezuela são os principais destinos dentro do bloco,
tanto para o Brasil como para o Estado. Esses três países tiveram uma
participação conjunta crescente ao longo das últimas décadas, passando
de 3% das exportações gaúchas no quinquênio 1993-98 a 7% em
2004-08. Pelo seu crescimento, salientaram-se
as vendas para a
Venezuela, país que passou a ter maior importância comercial como futuro
membro do Mercosul 16 , em especial com a assinatura do protocolo de
adesão ao bloco, apesar de este ainda não ter entrado em vigor.
As vendas brasileiras para a ALADI (exclusive Mercosul) são
favorecidas pela proximidade geográfica e pelos acordos preferenciais,
sendo a pauta de exportação para a região composta preponderantemente
de produtos manufaturados. Dentre os principais produtos embarcados
pelo Estado, nesses 20 anos, salientam-se as carroçarias para os veículos
automóveis, os tratores e os polímeros de etileno em formas primárias,
de Bello e Teruchkin (2008).
16 O protocolo de adesão da Venezuela ao Mercosul precisa ser aprovado pelos quatro
integrantes do bloco. Uruguai e Argentina já ratificaram seu ingresso. No Brasil, apesar
de a Comissão de Relações Exteriores do Senado ter aprovado o ingresso da Venezuela
no Mercosul, a decisão ainda deve passar pelo plenário do Senado. O Paraguai, por sua
vez, deve votar o protocolo em 2010. Para uma análise das repercussões da Venezuela
no bloco, ver Teruchkin (2006).
O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010
Bello, T. S.; Teruchkin, S. U.; Garcia, A. A. L.
Alterações no perfil das exportações gaúchas.
que, juntos, representavam quase um quarto das exportações para o
bloco.
Portanto,
o
crescimento
das
relações
com
os
países
latino-americanos reveste-se de grande relevância pelo tipo de produto
que é mais exportado para lá pelo Estado e pelo Brasil — produtos
manufaturados
de
maior
valor
agregado.
Daí,
a
importância
do
aprofundamento dos acordos comerciais, bem como a retomada do
Mercosul, já que, para o Brasil conseguir consolidar sua liderança no
espaço sul-americano 17 , é indispensável o fortalecimento dos laços
comerciais e políticos regionais.
ÁSIA
As exportações gaúchas para a Ásia elevaram-se substancialmente,
passando de US$ 396,7 milhões em 1989 para
US$ 3.830,2 milhões
em 2008. Com isso, a representatividade do bloco, que era de 9% no
período 1989-93, passou para 18% em 2004-08. Tal comportamento foi
superior ao apresentado pelo País, onde a participação da Ásia atingiu
16% no último período. A performance das vendas gaúchas deveu-se,
principalmente, à evolução da economia chinesa ao longo desses anos,
cujo resultado foi um forte crescimento de suas importações, em especial
de commodities. Assim, o mercado asiático absorveu parcela importante
de bens agrícolas e agroindustriais, vendidos pelo Estado, com destaque
para o complexo da soja — grão, torta e óleo —, o tabaco não
manufaturado e as carnes de frango.
Além da China, Japão, Hong Kong, Coreia do Sul e Indonésia
também são importantes destinos das exportações gaúchas para a Ásia.
Esses cinco destinos mais do que dobraram sua participação nas vendas
externas do RS, tendo em vista as elevadas taxas de crescimento das
aquisições de produtos gaúchos, quando se comparam os dados de fins da
17 Para compreenderem-se os interesses e as perspectivas de relacionamento do Brasil
no mercado sul-americano, bem como os obstáculos ao desenvolvimento dos negócios,
ver CNI (2007).
O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010
Bello, T. S.; Teruchkin, S. U.; Garcia, A. A. L.
Alterações no perfil das exportações gaúchas.
década de 80 com os de 2008.
A soja e seus derivados ocupam posição de destaque no intercâmbio
comercial agrícola do RS com a China. Verifica-se, porém, ao longo do
período em análise, que as vendas do complexo soja foram bastante
oscilantes e distintas. Nos primeiros anos, em particular até 1995, o mais
representativo era a venda de óleo de soja e, depois, passou a ser a torta
de soja. Mas, de 1999 até 2008, foi a soja em grão o produto fundamental
de exportação para a China. Já a comercialização de fumo não
manufaturado cresceu consideravelmente a partir de 1999. Segundo Bello
(1996), a Lei Kandir, de setembro de 1996, também contribuiu para o
aumento das exportações de produtos in natura, ao desonerar as vendas
externas de produtos semielaborados e básicos do Imposto Sobre
Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Tal medida teve como
objetivo estimular as exportações desses produtos e, com isto, promover
um aumento das receitas externas, contribuindo, assim, para diminuir o
déficit comercial do País à época. Além disso, conforme Barbosa e Perez
(2006), nas importações chinesas de soja em grão, era aplicada a tarifa
de 3%, nas de farelo, de 5%, enquanto, nas de óleo de soja, a incidência
era de 63,3%, privilegiando, assim, as aquisições de produtos in natura.
Para o óleo, igualmente, vigorava o regime de quotas tarifárias,
dificultando ainda mais o acesso dos produtos industrializados ao
gigantesco mercado chinês. Com isso, a China buscava estimular a
produção local de óleo de soja, cujas fábricas operavam com grande
capacidade ociosa.
ORIENTE MÉDIO
Vale destacar-se, o comportamento crescente das vendas gaúchas
para o Oriente Médio, as quais dobraram sua representatividade na pauta,
atingindo 5,7% em 2004-08. Enquanto, de 1989 a 2000, o crescimento
das vendas para essa região foi relativamente pequeno e assistemático,
com taxas positivas e negativas, de 2000 a 2008 verificou-se um
O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010
Bello, T. S.; Teruchkin, S. U.; Garcia, A. A. L.
Alterações no perfil das exportações gaúchas.
incremento contínuo, com taxas superiores a 500% em nível tanto
nacional como estadual. Isso pode ser explicado, em parte, pelo aumento
da disponibilidade de recursos naquela zona geográfica com os acréscimos
do preço do petróleo, o que provocou uma melhora no padrão de consumo
da região.
Embora as participações médias do Oriente Médio nas exportações
totais do RS, nos quatro períodos analisados, tenham sido crescentes,
ainda são pouco representativas, sendo o Irã e a Arábia Saudita os
principais destinos
para
esse
bloco.
Mesmo
assim,
dois
produtos
destacaram-se pelo valor das vendas: carne de frango e óleo de soja. O
Oriente Médio é um mercado tradicional e consolidado para o frango tanto
brasileiro como gaúcho, devido ao aumento da demanda, à elevada
competitividade e ao respeito dos exportadores às regras islâmicas de
abate. No que se refere ao óleo de soja, as exportações do Estado para o
Irã foram sempre muito relevantes.
QUADRO 1
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O exame das exportações do RS demonstrou que, ao longo de todo o
período
analisado,
as mesmas
sempre
apresentaram
uma
relação
exportações/PIB maior do que a registrada pelo Brasil, permitindo
concluir-se pela maior dependência do Estado em relação ao seu mercado
externo do que a observada no País. Também foi possível notar-se que
essa relação tem sido maior no século XXI do que o foi nas duas
derradeiras décadas do século passado, embora, nos três últimos anos,
tenha decrescido um pouco, mantendo-se em torno dos 17%.
Assim como a relação entre as exportações e o PIB gaúcho tem
diminuído nos últimos anos, a representatividade das vendas externas do
RS no total exportado pelo Brasil também tem sido menor. Entre 1980 e
2004, a porcentagem das exportações gaúchas no total das exportações
O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010
Bello, T. S.; Teruchkin, S. U.; Garcia, A. A. L.
Alterações no perfil das exportações gaúchas.
brasileiras sempre esteve acima dos 10%, chegando a alcançar 13,4% em
1993.
Mas,
desde
2005
até
o
último
ano
analisado
(2008),
a
representatividade do Estado caiu para um dígito, tendo alcançado apenas
8,6% em 2006. Por outro lado, vale ressaltar-se que, entre 2004 e 2008,
os Estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Paraná e Santa
Catarina perderam participação para outras unidades da Federação, como
Rio de Janeiro e Espírito Santo. No caso do Rio de Janeiro, o incremento
de suas vendas externas ocorreu devido à elevação do preço do petróleo e
seus derivados, enquanto as exportações do Espírito Santo registraram
aumento de receita em decorrência da elevação do preço do minério de
ferro e seus derivados.
Cotejando-se as exportações gaúchas, por fator agregado, com as do
Brasil e com as de alguns dos principais estados exportadores, observa-se
que, entre 1980 e 2004, apenas o Paraná registrou participação crescente
dos produtos industrializados em suas vendas para o exterior e que Santa
Catarina só teve esse percentual de participação diminuído no último
quinquênio (2004-08). Já no Brasil, bem como no Rio Grande do Sul e em
São
Paulo,
os
produtos
industrializados
tiveram
uma
participação
crescente até praticamente o final dos anos 90 e, nos últimos 10 anos,
registraram perdas a favor dos produtos básicos. No período 1999-2003, o
aumento na representatividade dos produtos básicos nas exportações
gaúchas decorreu principalmente da queda nas vendas externas de
industrializados. Já em 2004-08, a sua menor participação deveu-se ao
acréscimo nos preços das commodities, o que acabou por aumentar o
valor exportado, em dólares, destas últimas.
A análise das exportações gaúchas agrupadas por principal fator de
competitividade mostrou que, entre 1989 e 2008, os produtos intensivos
em trabalho perderam muita participação no conjunto das vendas
externas. Esse espaço foi ganho por todos os demais grupos de produtos,
principalmente pelos intensivos em recursos naturais e pelos intensivos
em escala, sendo que estes últimos tiveram o maior salto em termos de
representatividade. Mas, enquanto o crescimento dos produtos intensivos
O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010
Bello, T. S.; Teruchkin, S. U.; Garcia, A. A. L.
Alterações no perfil das exportações gaúchas.
em recursos naturais se deu através de uma relativa diversificação dos
bens exportados, o aumento da participação dos produtos intensivos em
escala ocorreu em sentido inverso, ou seja, através da concentração das
vendas externas em alguns produtos que, literalmente, ganharam escala.
Também os produtos intensivos em tecnologia diferenciada conquistaram
participação relativa no conjunto das vendas externas do Estado, embora
sua importância no todo continue sendo muito pequena.
A diversificação de destinos das exportações foi importante para
diminuir a vulnerabilidade das exportações gaúchas diante dos ciclos
globais de crescimento e retração econômica. No período 1989-2008,
enquanto Estados Unidos e União Europeia perderam participação na
pauta exportadora, Ásia (exceto Oriente Médio), Oriente Médio e ALADI
(exceto Mercosul), bem como dos demais países, onde se incluem
importantes parceiros, ganharam representatividade. Já o Mercosul
oscilou um pouco mais, perdendo significância em relação ao fim dos anos
90, época em que as relações comerciais intrabloco mais cresceram. Daí,
depreende-se
que
o
maior
ritmo de
crescimento
dos
países
em
desenvolvimento, aliado a um protecionismo mais acirrado por parte dos
desenvolvidos, pode, pelo menos em parte, explicar a diversidade dos
mercados compradores.
Analisando-se
as
alterações
da
pauta
exportadora, desde a década de 80, percebe-se que os aspectos
macroeconômicos, como câmbio, nível de atividade econômica interna,
crescimento dos mercados importadores, formação de blocos, com a
consequente extinção de alíquotas intrablocos, e realização de acordos
comerciais não foram suficientes para explicar todas as ocorrências ao
longo dos períodos. Isso denota a relevância de considerarem-se também
os fatores microeconômicos para melhor compreender-se o desempenho
das exportações. As empresas buscam
oportunidades no mercado
internacional como forma de expandir seu mercado, obter recursos
tecnológicos e/ou de capital, adquirir insumos de melhor qualidade e/ou
menor preço, e abrir novos canais de distribuição, dentre outras razões.
O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010
Bello, T. S.; Teruchkin, S. U.; Garcia, A. A. L.
Alterações no perfil das exportações gaúchas.
Portanto, o incremento das exportações e a diversificação de destinos
devem-se não só a fatores macro — em que, além da política econômica,
se salienta o papel do Governo nas negociações
comerciais —, mas
também às decisões empresariais.
Destarte, mostra-se relevante conhecer os obstáculos enfrentados
pelas empresas e os seus movimentos de internacionalização, com
destaque para as alianças estratégicas e para as fusões e aquisições de
empresas, as quais se refletem nas alterações da pauta exportadora.
Ademais, é importante incrementar-se a competitividade do País, via
redução de custos, estímulo à incorporação de novas tecnologias de
produção e processo, realização de acordos preferenciais de comércio,
etc., buscando a maior inserção internacional das empresas brasileiras e
gaúchas em um cenário em que a proteção tarifária vem sendo
substituída por barreiras não tarifárias. Como exemplos de medidas a
serem tomadas com vistas a diminuírem-se os custos de produção dos
exportáveis, podem ser citados: melhoramentos na infraestrutura e na
logística de transportes; abertura de rotas bioceânicas; promoção da
reforma tributária, etc. Outro importante campo a ser estimulado é o da
agregação de valor aos produtos intensivos em recursos naturais, no qual
o Estado se tem mostrado competitivo.
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O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010
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