0 UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS DESENVOLVIMENTO E CARACTERIZAÇÃO DE LIPOSSOMAS CONTENDO DESIDROCROTONINA E AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ANTITUMORAL TACIANA LIMA SALVIANO LAPENDA Fevereiro, 2010 Recife-PE 1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS DESENVOLVIMENTO E CARACTERIZAÇÃO DE LIPOSSOMAS CONTENDO DESIDROCROTONINA E AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ANTITUMORAL Dissertação de mestrado submetido ao Programa de Programa de Pós-graduação do Departamento de Ciências Farmacêuticas do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Pernambuco, como pré-requisito para obtenção do grau de mestre na área de concentração em Produção e Controle de Medicamentos. Mestranda: TACIANA LIMA SALVIANO LAPENDA Orientadora: Profa. Dra. NEREIDE STELA SANTOS MAGALHÃES Co-orientadora: Profa. Dra. MARIA APARECIDA M. MACIEL Fevereiro, 2010 Recife – PE 2 Lapenda, Taciana Lima Salviano Desenvolvimento e caracterização de lipossomas contendo desidrocrotonina e avaliação da atividade antitumoral / Taciana Lima Salviano Lapenda. – Recife: O Autor, 2010. 115 folhas: il., tab., fig., gráf. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Pernambuco. CCS. Ciências Farmacêuticas, 2010. Inclui bibliografia e anexos. 1. Lipossomas. 2. trans-desidrocrotonina. 3. Complexo de inclusão de fármaco com ciclodextrina. 4. Validação. 5. Atividade antitumoral. I. Título. 615.012 615.1 CDU (2.ed.) CDD (22.ed.) UFPE CCS2010-051 iii 3 4iv Dedico esta dissertação a minha família: aos meus pais pelo exemplo de determinação, disciplina e força; às minhas irmãs por toda amizade, incentivo e carinho; e ao meu marido pelo companheirismo, dedicação e amor incondicional. v5 AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus pelo dom da vida, pela oportunidade de realizar este trabalho e, principalmente, por sempre estar ao meu lado; À minha querida e amada família (Giovanni, João Alberto, Janete, Renatta e Amanda) pelo amor, carinho, compreensão, doação, força, ensinamentos e apoio em todos os momentos felizes e difíceis; À Profª Drª Nereide Stela Santos Magalhães pela orientação, confiança e por todos os ensinamentos dados desde a minha iniciação científica (2005); À Profª Drª Maria Aparecida Medeiros Maciel pela co-orientação e confiança, essenciais no desenvolvimento deste trabalho com a trans-desidrocrotonina (t-DCTN); À Profª Drª Noemia Pereira dos Santos pela colaboração fundamental em todos os experimentos in vivo e in vitro; À todos os colegas e amigos do Grupo de Pesquisa de Sistemas de Liberação Controlada (SLC) pela amizade e convívio durante o período do mestrado; À aluna de iniciação científica Marcileide de Holanda pelo esforço e dedicação no desenvolvimento dos lipossomas, mesmo quando os trabalhos eram realizados nos finais de semana. Agradeço de coração! Às doutoras Mariane Lira e Waldenice Alencar pelas discussões científicas, companheirismo e contribuições durante toda a pesquisa; À doutoranda Milena Sales Ferraz pela convivência, pelos ―desabafos‖, apoio e colaboração. Muito obrigada por tudo! vi 6 Ao mestrando e amigo Fábio Fidelis pelos auxílios em vários momentos da pesquisa; Aos alunos de iniciação científica pelo esforço na extração e reisolamento da DCTN no Laboratório de Produtos Naturais da UFRN sob orientação da Profª Drª Maria Aparecida Medeiros Maciel: Gineide Conceição dos Anjos, Luan Silveira Alves de Moura, Cássia Carvalho de Almeida, Gilvani Gomes de Carvalho e Aline Maria Sales Solano; À todos os amigos e colegas do Laboratório de Bioquímica do LIKA-UFPE pela convivência em laboratório; Ao Laboratório de Imunopatologia Keizo-Asami (LIKA) e ao Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste (CETENE-PE) pelo suporte dado a este trabalho; Ao Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT), ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), à Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (FACEPE), e à Pró-Reitoria de Pesquisa da Universidade de Pernambuco (PROPESQ-UFPE) pelo suporte financeiro durante o curso deste trabalho. A todos os colegas e amigos que de forma direta e indireta contribuíram para a realização deste trabalho, meus sinceros agradecimentos. vii 7 SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS........................................................................................................... ix LISTA DE TABELAS........................................................................................................... x LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS.......................................................................... xi RESUMO............................................................................................................................... xii ABSTRACT........................................................................................................................... xiii 1 INTRODUÇÃO......................................................................................................... 14 2 REVISÃO DE LITERATURA................................................................................ 16 2.1 Câncer ................................................................................................................. 16 2.1.1 Epidemiologia do câncer........................................................................... 16 2.1.2 Etiologia do câncer.................................................................................... 17 2.1.3 Tratamento do câncer............................................................................... 20 2.2 Nanotecnologia e sistemas de liberação controlada........................................ 20 2.3 Lipossomas......................................................................................................... 23 2.3.1 Classificação dos lipossomas.................................................................... 26 2.3.2 Métodos de preparação............................................................................. 29 2.3.3 Caracterização dos lipossomas................................................................. 30 2.3.4 Liofilização de lipossomas........................................................................ 31 2.3.5 Aplicações farmacêuticas.......................................................................... 32 2.4 trans- Desidrocrotonina..................................................................................... 35 2.4.1 Atividade antitumoral e citotoxicidade.................................................. 36 2.4.2 Mecanismos de ação da t-DCTN............................................................. 38 2.4.3 Toxicidade................................................................................................. 39 3 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................ 40 4 OBJETIVOS....................................................................................................................... 52 ARTIGO I Validation of UV spectrophotometric method for the determination of dehydrocrotonin and application in inclusion complexes with hydroxypropyl-βcyclodextrin. Analytical Letters. Submitted….............................................................................................. 53 8 viii ARTIGO II Avaliação da atividade antitumoral in vivo de lipossomas contendo a transdesidrocrotonina e o seu complexo de inclusão com a hidroxipropil-β-ciclodextrina Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas. A ser submetido........................................ 74 5 CONCLUSÕES................................................................................................................. 110 6 PERSPECTIVAS............................................................................................................... 111 ANEXOS ANEXO I Carta de aprovação do comitê de ética para o estudo in vivo..................................... 113 ANEXO II Resumos enviados para congressos.................................................................... 114 9ix LISTA DE FIGURAS INTRODUÇÃO E REVISÃO DE LITERATURA Figura 1 - Tipos de câncer mais incidentes, estimados para 2010 e válidos para 2011, na população brasileira, exceto pele não melanoma...................................................................... 17 Figura 2 - Formação do câncer................................................................................................. 18 Figura 3 - Disseminação de células tumorais (metástase)........................................................ 19 Figura 4 - Ilustração do tamanho de pequenas estruturas.................................................... 21 Figura 5- Sistemas de liberação controlada de medicamentos................................................. 22 Figura 6 – Farmacocinética comparativa de formas farmacêuticas convencionais e de liberação controlada.................................................................................................................. 23 Figura 7 – Esquema ilustrativo de um lipossoma, que pode conter fármacos hidrofílicos no vacúolo aquoso, enquanto fármacos hidrofóbicos ficam retidos na bicamada lipídica............ 24 Figura 8 – Estrutura do fosfolipídio......................................................................................... 25 Figura 9 - Classificação dos lipossomas quanto ao tamanho e ao número de lamelas............ 26 Figura 10 - Classificação dos lipossomas quanto à constituição. A- Lipossomas convencionais. B- Lipossomas sítio-específicos. C- Lipossomas furtivos. D- Lipossomas direcionados de longa circulação. E- Lipossomas polimórficos : 1- lipossoma sensível ao pH ; 2- lipossoma catiônico....................................................................................................... 27 Figura 11 - Estrutura química da trans-Desidrocrotonina........................................................ 35 10x LISTA DE TABELAS INTRODUÇÃO E REVISÃO DE LITERATURA Tabela 1 - Análises de lipossomas e métodos analíticos.......................................................... 31 Tabela 2 – Formulações lipossomais aprovadas ou sobre avaliação para uso clínico........................................................................................................................................ 34 xi 11 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AIPC- Agência Internacional para a Pesquisa do Câncer CE- carcinoma de Erlich (tumor ascítico) CHO-K1- células ovarianas de hamster chinenes DE50 – Dose terapêutica efetiva para 50% dos animais DL50 – Dose letal para 50% dos animais DNA – Ácido desoxirribonucléico DSC – Calorimetria exploratória diferencial HL 60- Células promielocíticas leucêmicas HPβCD – 2-hidroxipropil-β-ciclodextrina INCA- Instituto Nacional do Câncer i.p. – via intraperitoneal CI50 - Concentração do fármaco que inibe 50% da atividade enzimática LC – lipossomas contendo complexo de inclusão HPβCD: t-DCTN LD - lipossomas contendo t-DCTN LUV- vesículas unilamelares grandes (large unilamellar vesicle) MLV- vesículas multilamelares (multilamellar vesicles) NK- células natural killer nm- nanômetro OMS- Organização Mundial de Saúde pH – Potencial hidrogeniônico RMN – Ressonância magnética nuclear S-180- Tumor ascítico sarcoma-180 s.c. – via subcutânea SH- grupamentos sulfidrilas SUV-vesículas unilamelares pequenas (small unilamellar vesicles) t-DCTN – trans-desidrocrotonina Tc- Temperatura de transição de fase v.o. – via oral V79- células fibroblástica pulmonares de Hamsters chineses α-TNF- fator de necrose tumoral (tumour necrosis factor-α) 12 xii RESUMO A trans-desidrocrotonina (t-DCTN), um diterpeno do tipo 19-nor-clerodano, é o componente majoritário isolado da espécie Croton cajucara. A literatura relata várias atividades farmacológicas para a t-DCTN , dentre as quais a atividade antitumoral merece destaque. Entretanto, a sua baixa solubilidade em água e hepatotoxicidade restrigem a sua aplicação terapêutica. Uma alternativa bastante promissora para diminuir o efeito tóxico e otimizar a ação antitiumoral da t-DCTN é a encapsulação deste bioativo em lipossomas. No presente estudo, um método espectrofotométrico UV foi desenvolvido e validado de acordo com os parâmetros do ICH para determinação da t-DCTN em complexos de inclusão com hidroxipropil-β-ciclodextrina (t-DCTN:HPβCD). Lipossomas contendo a t-DCTN (LD) e o seu complexo de inclusão t-DCTN:HPβCD (LC) foram obtidos pelo método de formação do filme lipídico seguido de sonicação e submetidos a avaliações de estabilidade a curto e a longo prazo e estudos de cinética de liberação in vitro. A atividade antitumoral das duas formas lipossomais também foi avaliada contra o tumor ascítico Sarcoma 180 em camundongos Swiss. Além disso, análises histopatológicas e hematológicas foram efutuadas. A t-DCTN em acetonitrila exibiu um pico máximo de absorção (max) em 234 nm. A faixa de linearidade foi de 1–20 µg mL-1 e a equação de regressão da curva padrão foi A = -0.00147 + 0.04214C, com coeficiente de correlação ≥ 0.99987 (n = 6). O método foi robusto, preciso e exato. Após o processo de fabricação, todas as formulações lipossomais apresentaram-se homogêneas, esbranquiçadas, translúcidas com reflexo azulado. O tamanho médio das vesículas de LD e LC foi respectivamente 78,67 ± 6,51nm e 77,33 ± 3,00 nm. O índice de polidispersão de LD e LC foi de 0,30 e 0,33 respectivamente. Os potenciais zeta de LD e LC foram, na correspondente ordem, +39,94 ± 2,62 mV e +36,27 ± 1,98 mV. As quantidades t-DCTN e do complexo de inclusão t-DCTN:HPβCD encapsuladas foram equivalentes a 1 mg/mL do fármaco, a eficiência de encapsulação de LD foi de 95,0 ± 3,8 %, enquanto que a de LC foi de 91,1 ± 5,6%. Observou-se que as formulações LD e LC mantiveram-se estáveis após 120 dias e após serem submetidas aos testes de agitação mecânica e de centrifugação. No que se refere a cinética de liberação in vitro, os perfis apresentaram uma boa correlação com o modelo fickiano, indicando que a difusão está envolvida no mecanismo de liberação. Um efeito burst (25%), tanto para LD quanto para LC, ocorreu nas primeiras 2 h de liberação, seguida de uma liberação gradual constante nas primeiras 8 h, atingindo um máximo de fármaco liberado para tDCTN de 95% e para t-DCTN:HPβCD de 98% dentro de 96 h. Em relação a inibição tumoral, LD e LC apresentaram as respectivas inibições tumorais de 79,4 ± 9,6% e 63,5 ± 5,5%. Na análise histopatológica, observou-se poucas alterações no fígado dos animais tratados com LD e com LC. Os achados hematológicos, por sua vez, não mostram qualquer efeito relacionado ao tratamento e não há diferença significativa em relação ao grupo controle. Os resultados mostram que o desenvolvimento das formulações lipossomais contendo a t-DCTN e o seu complexo de inclusão t-DCTN:HPβCD consiste num importante avanço na terapêutica deste fármaco, repercutindo em um impulso técnicocientífico, podendo ser uma alternativa em potencial no combate ao câncer. Palavras-chave: Lipossomas, trans-desidrocrotonina, complexo de inclusão de fármaco com ciclodextrina , validação, atividade antitumoral. 13 xiii ABSTRACT The trans-dehydrocrotonin (t-DCTN), a 19- nor-clerodane diterpene, is the major component obtained from Croton cajucara. The literature reports several pharmacological activities for the t-DCTN, such as antitumor activity. However, its lower water solubility and hepatotoxicity limit its therapeutic application. Development of t-DCTN-loaded liposomes could be a promising alternative to reduce toxic effects and to optimize the antitumor activity of t-DCTN. In this study, a spectrophotometric UV method was developed and validated for various parameters according to ICH guidelines and applied for the estimation of t-DCTN in hydroxypropyl-β-cyclodextrin (HP-β-CD) inclusion complexes (t-DCTN:HP-β-CD). t-DCTN-loaded liposomes (LD) and its inclusion complexes t-DCTN:HP-β-CD-loaded liposomes (LC) were prepared by the thin film hydration technique. Lipossomal formulations were evaluated using standart stability tests and in vitro kinetic. Antitumor activity of t-DCTN-loaded liposomes and t-DCTN:HP-βCD-loaded liposomes were investigated against Sarcoma 180 in Swiss mice. Additionally, histopathological and haematological analyses were carried out. The t-DCTN in acetonitrile exhibited a maximum absorption peak (max) at 234 nm. The standard curve of absorbance (A) versus t-DCTN concentration (C) was prepared in the range of 1–20 µg mL-1. The regression equation for the t-DCTN standard curve was A = -0.00147 + 0.04214C with a correlation coefficient ≥ 0.99987 (n = 6). The precision, accuracy and robustness of the method were satisfactory. After the manufacture process, all liposomal formulations were uniform, white, translucent with a bluish appearance reflection. The mean size of vesicles of LD and LC were 78,67 ± 6,51 nm e 77,33 ± 3,00 nm respectively. The surface charge of LD was +39,94 ± 2,62 mV and of LC was +36,27 ± 1,98 mV. The amounts of t-DCTN and t-DCTN:HP-β-CD inclusion complex encapsulated were equivalent to 1 mg of t-DCTN, the encapsulation efficiency of LD was 95,0 ± 3,8 %, while LC was 91,1 ± 5,6%. It was observed that LD and LC maintained their stability after 120 days and after mechanical agitation and centrifugation tests. The good agreement between kinetics profiles and fickian model indicated that the diffusion is involved on release mechanism. A burst effect (25%), for both LD and for LC, occurred in the first 2 h of release, this was followed with a sustained release stage during a period of about 8 h. At present study, 95% of t-DCTN and 98% of t-DCTN:HPβCD contents were released from liposomes within 96h. In respect to antitumor activity, LD and LC showed 79,4 ± 9,6% and 63,5 ± 5,5% of tumor inhibition respectively. In the histopathological analyses of liver of animals treated with LD and LC few alterations were observed. The haematological findings did not show any treatmentrelated effects and were not significantly different from control group. The results show that the development os liposomal formulations with t-DCTN and its inclusion complexes tDCTN:HPβCD are an important advance in this drug therapy, thereby being an impulse technical and scientific, and could be a potential alternative against cancer. Keywords: Liposomes, trans-dehydrocrotonin, drug inclusion complex with cyclodextrin, validation, antitumor activity. 14 1. INTRODUÇÃO Câncer é um termo genérico usado para englobar um grupo de mais de duzentas doenças que compartilham a característica comum de crescimento celular descontrolado, o que leva a uma massa de células chamada de tumor. Esta é uma das doenças que mais atinge a população mundial (KUMA; ABBAS, 2005). Apesar da diversidade de fármacos utilizados no tratamento do câncer, a administração sistemática de algumas dosagens destes medicamentos pode provocar efeitos tóxicos sistêmicos, baixa biodisponibilidade do fármaco e pouca aceitação da terapia pelo paciente. Alcançar, portanto, uma concentração terapêutica de fármacos e minimizar a toxicidade no organismo é um problema crítico no tratamento do câncer. Avanços na terapia do câncer estão progredindo, tanto no emprego de novos agentes quimioterápicos como em pesquisas baseadas em novas formas de ―entregar‖ o fármaco (BRANNONPEPPAS; BLANCHETTE, 2004; RAJKAPOOR et al., 2007). A nanotecnologia farmacêutica tem por objetivo desenvolver sistemas coloidais de liberação controlada para a veiculação de agentes quimioterápicos na forma de nanodispositivos. Estes sistemas podem oferecer um aumento da eficácia terapêutica, liberação progressiva e controlada do fármaco, manutenção de níveis plasmáticos do fármaco em concentrações constantes, diminuição expressiva da toxicidade, menor necessidade de administrações e aumento da aceitação da terapia pelo paciente (BRANNON-PEPPAS,1997; LO et al., 2001; VERMA et al.,2002; DUNNE et al.,2003). Dentre os vários sistemas de liberação controlada de fármacos os lipossomas, pequenas vesículas esféricas formadas por uma ou mais bicamadas lipídicas concêntricas separadas por um meio aquoso, despertam grande interesse (LASIC, 1998). Tais vesículas são consideradas excelentes nanodispositivos devido a sua flexibilidade estrutural seja no tamanho, composição e fluidez da bicamada lipídica, como na sua capacidade de encapsular substâncias hidrofílicas e/ou lipofílicas. Os lipossomas também são biodegradáveis, biocompatíveis e não imunogênicos (NISHIKAWA et al., 1974; NEW, 1990; BRANDL; GREGORIADIS,1994; EDWARDS; BAEUMNER,2006). A trans-desidrocrotonina (t-DCTN), um diterpeno do tipo 19-nor-clerodano, é o componente majoritário isolado da espécie Croton cajucara, popularmente conhecida por 15 sacaca (AGNER et al., 1999). A t-DCTN apresenta várias atividades farmacológicas comprovadas e correlacionadas ao uso popular da sacaca, dentre elas, antitumoral (GRYNBERG et al., 1999; MELO et al., 2004), hipoglicêmica (FARIAS et al., 1997; SILVA et al., 2001a), hipolipidêmica (SILVA et al., 2001a; SILVA et al., 2001b; SILVA et al., 2001c; BIGHETTI et al., 2004), antigenotóxica (AGNER et al., 1999; AGNER et al., 2001), antiulcerogênica (HIRUMA-LIMA et al., 1999; MELO et al., 2003; RODRÍGUEZ et al., 2004), antiinflamatória e antinociceptiva (CARVALHO et al., 1996), antiestrogênica (LUNA-COSTA et al., 1999) e cardiovascular (SILVA et al., 2005). Dentre as atividades farmacológicas da t-DCTN, a atividade antitumoral merece destaque. A atividade citotóxica da t-DCTN foi estudada em diversas células tumorais: células fibroblásticas pulmonares de hamsters chineses (SOUZA-BRITO et al., 1998; GRYNBERG et al., 1999; MELO et al., 2001; RODRIGUEZ; HAUN, 1999; FREIRE et al., 2003), células promielocíticas leucêmicas (HL60) (ANAZETTI et al., 2003; ANAZETTI et al., 2004; CORRÊA et al., 2005), hepatócitos de ratos (RODRIGUEZ; HAUN, 1999; CORRÊA et al., 2005) e células de carcinoma de Ehrlich (MACIEL et al., 2002a; GRYNBERG et al., 1999; MELO et al., 2004). Nos testes que avaliaram a atividade antitumoral in vivo dois modelos de tumores experimentais ascíticos, sarcoma-180 e Carcinoma de Erlich, foram utilizados (GRYNBERG et al.,1999; MELO et al., 2004). Entretanto, a baixa solubilidade aquosa (36,6 ± 3,16 µg/mL a 37 ºC) (MORAIS et al, 2008) e a hepatotoxicidade (MACIEL et al., 2002a; MACIEL et al, 2002b) da t-DCTN são fatores limitantes da sua aplicação terapêutica (CORRÊA et al., 2005). Portanto, a diminuição do efeito hepatotóxico, a melhora da solubilidade e da ação antitumoral da DCTN podem ser alcançados com a incorporação desse composto em lipossomas. Nesse contexto, este estudo pretende conciliar as vantagens da nanotecnologia farmacêutica juntamente com a ação antitumoral do bioativo t-DCTN. Essa proposta de trabalho foi desenvolvida para obter e caracterizar lipossomas contendo a t-DCTN e avaliar a atividade antitumoral, in vivo e in vitro, desse novo sistema de liberação controlada. Portanto, o presente trabalho viabiliza a ampliação dos estudos com o diterpeno clerodânico t-DCTN com uma abordagem nanotecnológica, o que consiste num importante avanço na terapêutica da DCTN, podendo ser uma alternativa em potencial no combate ao câncer. 16 2. REVISÃO DA LITERATURA 2.1 - Câncer 2.1.1 - Epidemiologia do câncer Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Agência Internacional para a Pesquisa do Câncer (AIPC), o impacto global do câncer mais que dobrou em 30 anos. Estima-se que, no ano de 2008, ocorreram 12,4 milhões de novos casos e 7,6 milhões de óbitos por câncer no mundo. Destes, os mais incidentes foram o câncer de pulmão (1,52 milhões de novos casos), mama (1,29 milhões) e cólon e reto (1,15 milhões) (WORLD CANCER REPORT, 2008). Prevê-se, que a nível mundial, o número de novos casos aumentará para 15,5 milhões até 2030 e a mortalidade por câncer aumentará em 45% entre 2007 e 2030 (passará de 7,9 milhões para 11,5 milhões de mortes) (OMS, 2007). Na maioria dos países desenvolvidos, o câncer é a segunda principal causa de morte, em primeiro lugar são mortes decorrentes de doenças cardiovasculares, e os dados epidemiológicos mostram esta mesma tendência para os países em desenvolvimento. Nas sociedades mais ricas há uma alta incidência de tumores associados ao tabagismo e ao estilo de vida, por exemplo, tumores de pulmão, coloretal, mama e próstata. Nos países em desenvolvimento, mais de 25% dos tumores estão associados com infecções crônicas, por exemplo: vírus da hepatite B (câncer de fígado), papilomavírus humano (câncer cervical) e Helicobacter pylori (câncer de estômago) (OMS/AIPC, 2003). No Brasil, as estimativas para o ano de 2010 e 2011 apontam para a ocorrência de 489.270 casos novos de câncer. Os tipos mais incidentes, à exceção do câncer de pele do tipo não melanoma, serão os cânceres de próstata e de pulmão no sexo masculino e os cânceres de mama e do colo do útero no sexo feminino (Figura 1) (Instituto Nacional de Câncer- INCA, 2010). 17 Figura 1- Tipos de câncer mais incidentes, estimados para 2010 e válidos para 2011, na população brasileira, exceto pele não melanoma (INCA, 2010). A distribuição dos casos novos de câncer segundo localização primária é bem heterogênea entre estados e capitais do país; o que fica em evidência ao observar-se a representação espacial das diferentes taxas brutas de incidência. As regiões Sul e Sudeste, de maneira geral, apresentam as maiores taxas, enquanto que as regiões Norte e Nordeste mostram as menores taxas. As taxas da região Centro-Oeste apresentam um padrão intermediário (INCA, 2010). 2.1.2- Etiologia do câncer Câncer não é apenas uma doença, mas um termo genérico usado para englobar um grupo de mais de duzentas doenças que compartilham a característica comum de crescimento celular descontrolado, o que leva a uma massa de células chamada de neoplasia ou tumor. O câncer surge de alterações cumulativas no material genético (DNA) de células normais que sofrem transformações até se tornarem malignas (Figura 2) (KUMAR; ABBAS, 2005; GABRIEL, 2007). 18 Figura 2- Formação do câncer (adaptado de http://www.cancervic.org.au/about-cancer/forschools/general_cancer). As células normais apresentam mecanismos moleculares que regulam o seu crescimento, diferenciação e morte. Nas células cancerígenas este equilíbrio é rompido por perda no controle do crescimento celular e/ou dos mecanismos de apoptose. Todos os processos desde a iniciação tumoral, transformação, invasão até a metástase ocorrem em múltiplas etapas e podem envolver vários genes, por meio de mutações intragênicas, quebras e perdas cromossômicas, amplificações gênicas, instabilidades genômicas e eventos epigenéticos (como metilação e acetilação do DNA) (GUIMARÃES, 2007). Os pronto-oncogenes e os genes supressores do tumor desempenham um papel fundamental no controle do ciclo celular. Os proto-oncogenes codificam proteínas que são importantes no controle da proliferação celular, diferenciação, controle do ciclo celular e apoptose. Os genes supressores tumorais inibem a proliferação celular por prender a progressão através do ciclo celular e o bloqueio da diferenciação. A iniciação e o desenvolvimento da neoplasia estão associados a mutações nesses dois genes. Além disso, alterações em genes envolvidos no processo de reparo do DNA, genes que codificam proteínas (tais como proteases e enzimas capazes de perturbar tecidos) e fatores de permeabilidade vascular têm sido mostrados por estarem envolvidos na carcinogênese (MACDONALD et al., 2005; GUIMARÃES, 2007). Fatores específicos incluindo agentes físicos (radiação ionizante, luz ultravioleta), químicos (consumo do tabaco e álcool) e biológicos (vírus da hepatite B e o papilomavírus humanos 16 e 18) também desempenham um papel fundamental nas alterações genéticas causadoras do câncer, estimando-se que 80% dos cânceres humanos surgem em 19 consequencia da interação desses agentes com os fatores genéticos (KLUG; CUMMINGS, 2002; OMS). O envelhecimento é outro fator que contribui para o desenvolvimento do câncer. A maioria dos cânceres resulta de uma série de erros genéticos que ocorrem durante um período prolongado, pela combinação do acumulo geral dos fatores de risco com a perda da eficácia dos mecanismos de reparação do organismo, por conseguinte, a incidência de câncer aumenta com a idade (OMS). As neoplasias são dividas em benignas e malignas, onde a primeira é recoberta por uma capsula fibrosa e não possui a característica de invadir tecidos circunvizinhos, enquanto a segunda invade os mesmos e em geral geram metastase em locais mais distantes no corpo (Figura 3). As células dos tumores malignos têm sua adesividade reduzida para com as células vizinhas. Isto permite seu deslocamento da colônia neoplásica, dando-lhe a capacidade de movimentação, infiltração nos tecidos normais vizinhos, penetração nos vasos sanguíneos e capilares linfáticos e assim formam novos tumores (metástases) (BRASILEIRO FILHO et al.,1994). Figura 3- Disseminação de células tumorais (metástase) http://www.cancervic.org.au/about-cancer/for-schools/general_cancer). (adaptado de 20 2.1.3- Tratamento do câncer A remoção cirúrgica de um tumor e dos tecidos circunvizinhos afetados é considerado o procedimento primário para tumores grandes o suficiente para manipular. Entretanto, dificilmente a cirurgia é suficiente e, geralmente, é inevitável a permanência de células residuais afetadas. Além da cirurgia, outros recursos terapêuticos podem ser usados como a quimioterapia (WANG et al., 2008). Na oncologia, o tratamento quimioterápico é entendido como a utilização de agentes químicos direcionados para matar ou controlar células tumorais. Ele carrega um alto risco devido à toxicidade das drogas e aos efeitos colaterais que essas causam, diminuindo ainda mais a qualidade de vida do paciente. A eficácia da quimioterapia depende ainda de vários fatores como as drogas e as doses utilizadas, a via de administração e a condição do paciente (JAIN, 2001). Além disso, durante o percurso até o tumor, a droga pode interagir com outros tecidos e ser metabolizada pelo organismo, comprometendo a sua biodisponibilidade na colônia neoplásica e, por conseguinte, sua eficácia (OOYAMA et al., 2008). Apesar da diversidade de drogas já utilizadas no tratamento do câncer, as dificuldades encontradas na quimioterapia convencional (efeitos tóxicos sistêmicos, baixa biodisponibilidade do fármaco e pouca aceitação da terapia pelo paciente, por exemplo) incentivaram pesquisadores a desenvolver novas formas de ―entregar‖ os fármacos. Portanto, avanços na terapia do câncer estão progredindo devido ao emprego de sistemas de liberação controlada de fármacos, os quais têm o intuito de melhorar o transporte e as propriedades dos fármacos quimioterápicos. 2.2-Nanotecnologia e sistemas de liberação controlada Nanotecnologia deriva, etimologicamente, da palavra grega ―anão‖. Ela pode ser definida como a ciência e a engenharia envolvidas na concepção, síntese, caracterização e aplicação de materiais e dispositivos cuja organização funcional, em pelo menos uma dimensão, está na escala nanométrica (SAHOO et al, 2006). Um nanômetro (nm) é igual a um bilionésimo de um metro ou aproximadamente a largura de 6 átomos de carbonos. Um glóbulo vermelho e um cabelo humano tem cerca de 7.000 nm e 80.000 nm de largura respectivamente (Figura 4). Essa tecnologia emergente é a responsável pelos avanços 21 revolucionários da medicina, genômica, comunicação e robótica (MIYAZAKI; ISLAM, 2007). Figura 4. Ilustração do tamanho de pequenas estruturas (http://www.ofitexto.com.brconteudoimagens.gif). Atualmente, 95% de todas as moléculas com potencial terapêutico têm farmacocinética e propriedades biofarmacêuticas pobres. Portanto, há uma necessidade de desenvolver sistemas de liberação adequados, que distribuam o fármaco no sítio de ação, sem afetar órgãos e tecidos saudáveis (KOO et al., 2005). A nanociência e a nanotecnologia têm um enorme potencial em trazer benefícios à saúde humana, principalmente na área de desenvolvimento de medicamentos com os nanocarreadores, promovendo uma melhoria clara na liberação de fármacos com baixa solubilidade em água, baixa biodisponibilidade e alta toxicidade (SAHOO et al, 2006). Nanosistemas ou nanocarreadores são definidos como sistemas de liberação, em tamanho nanométrico (preferencialmente de 1 a 100 nm), contendo fármacos encapsulados, dispersos, adsorvidos ou conjugados (KOO et al., 2005). A nanotecnologia farmacêutica conseguiu desenvolver sistemas coloidais de liberação controlada para a veiculação de agentes bioativos na forma de nanodispositivos (Figura 5), que podem oferecer um aumento da eficácia terapêutica, diminuição da instabilidade e decomposição dos fármacos lábeis, diminuição expressiva da toxicidade, possibilidade de direcionamento a alvos específicos, possibilidade de incorporação tanto de 22 substâncias hidrofílicas quanto lipofílicas nos sistemas (BRANNON-PEPPAS,1997; LO et al., 2001; VERMA et al., 2002; ; DUNNE et al., 2003). Figura 5- Sistemas de liberação controlada de medicamentos. 23 O principal objetivo dos sistemas de liberação controlada, por sua vez, é a liberação progressiva e controlada do fármaco pelo condicionamento a estímulos do meio a que se encontram, manutenção dos níveis plasmáticos do fármaco em concentrações constantes dentro da faixa terapêutica, eliminando desta forma as variações que geralmente são observadas no decorrer do tratamento como os efeitos tóxicos (picos além da faixa terapêutica) e falta de efetividade (dose subterapêutica) da substância ativa (Figura 6). Portanto, estes sistemas oferecem o uso otimizado do fármaco, uma menor necessidade de administrações e aumento da aceitação da terapia pelo paciente (LO et al., 2001; DUNNE et al., 2003). Figura 6 – Farmacocinética comparativa de formas farmacêuticas convencionais e de liberação controlada (LIRA, 2007). 2.3-Lipossomas Das várias formas de sistema de liberação controlada de fármacos, os lipossomas despertam grande interesse para pesquisa, aplicações analíticas e terapêutica. Eles vêm sendo estudados há mais de 40 anos. Alec Bangham foi o pioneiro nas pesquisas com lipossomas, essas tinham como objetivo investigar as características físicas e físicoquímicas das membranas artificiais formadas por compostos anfifílicos em soluções. Percorreu-se um longo caminho para que os lipossomas convertessem-se de simples objetos de pesquisa biofísica em carreadores terapêuticos de uma diversidade de agentes como quimioterápicos, antígenos, hemoglobina e cofatores, imunomoduladores e material genético (TORCHILIN, 2005; BATISTA et al, 2007). 24 Lipossomas são pequenas vesículas esféricas formadas por uma ou mais bicamadas lipídicas que se organizam espontaneamente em meio aquoso (BRANDL; GREGORIADIS,1994). Tais partículas são consideradas excelente forma de sistema de liberação controlada de fármacos e substâncias biologicamente ativas devido a sua flexibilidade estrutural seja no tamanho, composição e fluidez da bicamada lipídica, como na sua capacidade de encapsular substâncias hidrofílicas e/ou lipofílicas, sendo que as primeiras ficam no compartimento aquoso e as lipofílicas inseridas ou adsorvidas na membrana lipídica (Figura 7). Além disso, os lipossomas também apresentam algumas propriedades biológicas bastante atrativas: são biodegradáveis, biocompatíveis e não imunogênicos (NISHIKAWA et al., 1974; NEW, 1990; BRANDL; GREGORIADIS,1994; EDWARDS; BAEUMNER, 2006). Figura 7 – Esquema ilustrativo de um lipossoma, que pode conter fármacos hidrofílicos no vacúolo aquoso, enquanto fármacos hidrofóbicos ficam retidos na bicamada lipídica (modificado de http://www.nano/greens.net/images/nanosorb). Os lipossomas são constituídos principalmente por fosfolipídios, os quais podem ter origem natural ou sintética. A estrutura química geral de um fosfolipídio tem um glicerol, cuja três funções alcoóis são esterificadas por ácidos graxos de cadeia longa (na posição 1 e 2) e pelo ácido fosfórico (na posição 3), sendo esta última a porção polar do lipídio (Figura 8). O ácido fosfórico pode ainda ser esterificado por várias molecular orgânicas como glicerol, colina, serina e amina, dando origem aos lipídeos mais utilizados nas formulações 25 de lipossomas como fosfatidilglicerol, fosfatidilcolina, fosfatidilserina e fosfatidilamina, respectivamente (VEMURI; RHODES, 1995; BATISTA et al, 2007). Figura 8– Estrutura do fosfolipídio (modificado de http://www.optimapharma.de/files/liposom). Os fosfolipídios são caracterizados por uma temperatura de transição de fase (Tc), na qual a membrana passa de uma fase gel ou ―rígida‖, onde a cadeia hidrocarbonada do lipídio está em estado ordenado com movimentos restritos e com conformação ―trans‖, para uma fase de cristal-líquido ou ―fluida‖, onde as moléculas ficam com grande liberdade de movimento e os radicais hidrofílicos agrupados tornam-se completamente hidratados (FRÉZARD et al., 2005; BATISTA et al., 2007). O comprimento, grau de insaturação e ramificação da cadeia lipídica influenciam o valor da Tc. Portanto lipossomas compostos por diferentes lipídios podem exibir diferentes níveis de fluidez da membrana na mesma temperatura (VEMURI; RHODES, 1995). Por exemplo, um lipossoma formado por dioleilfosfatidilcolina (Tc < 0 ºC) apresenta, a 25 ºC, fluidez na bicamada, resultando na perda do material encapsulado; enquanto que um lipossoma formado por diestearoilfosfatidilcolina (Tc = 55 ºC), nas mesmas condições, vai se encontrar na fase gel, com menor permeabilidade na membrana (FRÉZARD et al., 2005). Um componente lipídico relevante, parte da maioria das formulações lipossomais, é o colesterol. Este melhora a fluidez da bicamada lipídica, aumentando rigidez das membranas no estado ―cristal-líquido‖ e reduzindo a rigidez e os defeitos estruturais das membranas no estado ― gel‖. O colesterol também melhora a estabilidade da vesícula na 26 presença de fluidos biológicos como o sangue, através da redução da interação das proteínas plasmáticas com as membranas dos lipossomas, diminuindo assim a desestrututuração dos mesmos (VEMURI; RHODES, 1995; KIM, 2006). Algumas preparações também possuem lipídios apresentando carga efetiva negativa, por exemplo, fosfatidilserina e fosfatidilglicerol, ou positiva, como a estearilamina. A presença de cargas nos lipossomas pode influenciar a taxa de incorporação de substâncias, impedir a agregação/fusão das vesículas lipídicas por repulsão eletrostática e modular o seu destino no organismo, por exemplo, lipossomas carregados negativamente são mais capturados pelo baço do que os carregados positivamente (BANERJEE , 2001; FRÉZARD et al., 2005; LIRA, 2007) . 2.3.1-Classificação dos lipossomas O tamanho das vesículas, o número de lamelas e a composição química dos lipossomas, ou seja, as suas características de interação com os sistemas biológicos, são as formas mais comuns de classificação dos lipossomas (TORCHILIN, 2005). Os lipossomas podem conter uma única ou várias bicamadas lipídicas em torno do compartimento aquoso e, portanto são classificadas de unilamelar e multilamelar, respectivamente. As vesículas multilamelares (MLV- multilamellar vesicles) possuem um tamanho que varia de 500 a 5000 nm. Em relação ao tamanho, as vesículas unilamelares podem ser pequenas ou grandes, sendo caracterizadas lipossomas unilamelares pequenos (SUV- small unilamellar vesicles), cujo tamanho é em torno de 100 nm, e lipossomas unilamelares grandes (LUV- large unilamellar vesicle), os quais podem ter o diâmetro variando entre 200 e 800 nm (Figura 9) (TORCHILIN, 2005; BATISTA et al, 2007). Figura 9- Classificação dos lipossomas quanto ao tamanho e ao número de lamelas (LASIC, 1998). 27 De acordo com a composição química, os lipossomas podem ser classificados em convencionais, furtivos, sítio-específicos e polimórficos (Figura 10). Figura 10- Classificação dos lipossomas quanto à constituição. A- Lipossomas convencionais. B- Lipossomas sítio-específicos. C- Lipossomas furtivos. D- Lipossomas direcionados de longa circulação. E- Lipossomas polimórficos : 1- lipossoma sensível ao pH ; 2- lipossoma catiônico (modificado de TORCHILIN, 2005). Os lipossomas convencionais são compostos basicamente de fosfolipídeos, colesterol e um lipídio com carga (positiva ou negativa). Eles foram os primeiros a serem preparados sendo então conhecidos como lipossomas de primeira geração. Em administrações intravenosas, esses lipossomas podem se associar com as opsoninas do plasma e serem reconhecidos pelo sistema fagocitário mononuclear sendo removidos da circulação, principalmente pelo fígado e pelo baço. O tamanho de partícula é um fator crítico para a ativação do complemento e captura das vesículas pelos macrófagos. Lipossomas do tipo LUV e MLV são rapidamente reconhecidos e eliminados da circulação, enquanto que os SUV têm meia-vida mais longa. Portanto, lipossomas com diâmetro maior que 100 nm necessitam de estratégias adicionais para prevenir a opsonização (KOO et al., 2005; IMMORDINO et al., 2006). Esse problema levou ao desenvolvimento de lipossomas de longa duração na circulação sanguínea, furtivos ou stealth liposomes (TORCHILIN, 2005). Os lipossomas de longa circulação são obtidos pelo revestimento da superfície da bicamada lipídica com componentes hidrofílicos naturais, como o monossialogangliosídeo GM1 e fosfatidilinositol, ou com polímeros hidrofílicos sintéticos inertes e biocompatíveis, especificamente os polietilenoglicóis (TORCHILIN, 2005; IMMORDINO et al., 2006). A característica mais importante dos lipossomas furtivos é a prevenção da opsonização e 28 consequente diminuição da captura pelas células do sistema fagocitário mononuclear, o que aumenta a sua biodisponibilidade. Na tentativa de aumentar a acumulação de fármacos carreados por lipossomas nos tecidos e órgãos alvos, a pesquisa neste campo foi focada no desenvolvimento de lipossomas direcionados ou sítio-específicos (BATISTA et al, 2007). Anticorpos, proteínas, peptídeos, carboidratos e folato são algumas moléculas bastante utilizadas na obtenção de nanocarreadores direcionados. Essas moléculas ficam acopladas na superfície dos lipossomas, sem comprometer a integridade da membrana e as propriedades do ligante, através de ligação covalente ou pela inserção na membrana lipídica depois de serem modificadas com resíduos hidrofóbicos. Ainda assim, apesar da melhoria visando o aumento da eficácia, a maioria dos lipossomas sítio-específicos são acumulados no fígado como consequencia do pouco tempo para interação entre a célula alvo e o vetor. Esse problema levou ao aperfeiçoamento dos lipossomas sítio-específicos através da combinação de suas propriedades com as dos lipossomas furtivos em uma só preparação, obtendo-se então lipossomas direcionados de longa circulação (TORCHILIN, 2005; TORCHILIN, 2006; IMMORDINO et al., 2006). Por fim, os lipossomas polimórficos são aqueles que se tornam reativos devido à mudança na sua estrutura desencadeada por uma alteração de pH, temperatura ou carga eletrostática. Lipossomas sensíveis ao pH são utilizados para liberar o fármaco no citoplasma ou no tecido intersticial de tumores, visto que estes têm o pH menor que o fisiológico. Eles são preparados com constituintes sensíveis ao pH como a fosfatidiletanolamina (TORCHILIN, 2006; CARVALHO JR et al 2007). Os lipossomas termo-sensíveis, por sua vez, são formados por uma mistura de lipídios que têm sua Tc um pouco acima da temperatura fisiológica. Em locais com hipertermia, como tecidos tumorais, há a liberação do conteúdo lipossomal (SANDIP et al., 2000). Os lipossomas catiônicos, por sua vez, apresentam carga positiva na superfície e eles têm sido utilizados para terapia gênica, liberando ácidos nucléicos dentro das células (TORCHILIN, 2005; TORCHILIN, 2006; IMMORDINO et al., 2006; BATISTA et al, 2007; MAITANI et al., 2008). 29 2.3.2- Métodos de preparação: Hidratação do filme lipídico Este método é mais utilizado para a obtenção de lipossomas. Primeiramente os lipídios e o fármaco lipofílico são dissolvidos em solvente orgânico, seguido da evaporação do solvente e formação com consequente formação do filme lipídico. O segundo passo é a hidratação do filme com água ou solução tampão, sob agitação, promovendo a formação de lipossomas multilamelares; caso o fármaco seja hidrofílico, ele será solubilizado no meio aquoso (VEMURI; RHODES, 1995; GLAVAS-DODOV et al., 2005; CHRISTENSEN et al., 2007). Ultra-som Preparações de MLV, normalmente, são submetidas à ação do ultra-som para a obtenção de SUV, com a ajuda de um banho ou de uma sonda. Este é um método rápido e resulta em lipossomas com tamanho homogêneo (VEMURI; RHODES, 1995; ANDRADE et al., 2004; HATZI et al, 2007). Extrusão A extrusão é realizada pela utilização de um Prensa de French ou Membranas de Policarbonato. Na Prensa de French os lipossomas MLV são submetidos a altas pressões em um reservatório cilíndrico com orifício final que promove a fragmentação lipossomal através de forças de cisalhamento, desta forma são obtidos SUV. Quando as Membranas de Policarbonato são utilizadas há uma uniformização no tamanho das vesículas através da passagem da formulação por membranas com diferentes diâmetros de poros que diminuem gradativamente (FATTAL et al., 1993; DEOL; KHULLER, 1997; PIEL et al., 2006; MAITANI et al.,2008). Evaporação em fase reversa Nesta técnica os lipídios são solubilizados com solvente orgânico em excesso e, em seguida, a fase aquosa é adicionada a fase orgânica. Através de agitação mecânica vigorosa ou por ultra-som, forma-se uma emulsão do tipo água em óleo (a/o). Posteriormente, elimina-se todo o solvente orgânico, sob pressão reduzida, formando assim lipossomas do 30 tipo LUV com tamanho médio de 500 nm e com eficiência de encapsulação de 60-65% (FATTAL et al., 1993; VEMURI; RHODES, 1995; PESCHKA et al.,1998). Microfluidização Neste método, a suspensão de lipossomas MLV é forçada a passar por um filtro de poros calibrados sob alta pressão chegando a uma câmera de integração onde a formulação é separada por dois canais que se encontram ao fim em alta velocidade promovendo colisões entre as vesículas. Lipossomas SUV, com tamanho inferior a 100 nm, são obtidos após o choque de colisões em 10 passagens. Esta técnica é fundamentada nos princípios da dinâmica dos fluidos e é utilizada para produção de lipossomas em escala industrial (FATTAL et al., 1993; VEMURI; RHODES, 1995; BATISTA et al, 2007). Injeção de uma solução etanólica de lipídios Lipossomas unilamelares pequenos também podem ser obtidos pela injeção de uma solução lipídica de solvente miscível em água. Os lipídeos são dissolvidos em etanol e rapidamente injetados através de uma seringa ou bomba peristáltica em um meio aquoso sob agitação. O álcool etílico forma uma mistura azeotrópica com a água, por isso a sua remoção não pode ser feita por processos de destilação. O etanol é eliminado por diálise ou por filtração em gel (FATTAL et al., 1993; VEMURI; RHODES, 1995; LE ; CUI , 2006). 2.3.3- Caracterização dos lipossomas Vários métodos de caracterização são utilizados para garantir o controle de qualidade dos lipossomas imediatamente após a sua preparação e durante o seu armazenamento. Os parâmetros físico-químicos utilizados para caracterização dos lipossomas são diversos: estudos de estabilidade acelerada e a longo prazo, avaliação macroscópica e microscópica, tamanho de partícula, índice de polidispersão, eficiência de encapsulação e potencial zeta (SANTOS-MAGALHÃES et al., 2000, ANDRADE et al., 2004). No laboratório, estudos de estabilidade acelerado e a longo prazo são bastante utilizados e ajudam na escolha da melhor formulação durante o processo de otimização. No estudo de estabilidade acelerada, as formulações são submetidas a condições críticas 31 através de testes de centrifugação e estresse mecânico. Já no estudo de estabilidade a longo prazo é avaliada a durabilidade das formulações. Os parâmetros avaliados neste estudo são: eficiência de encapsulação, diâmetro da partícula e o índice de polidispersão, potencial zeta e o pH das formulações ao longo do tempo. Os aspectos macroscópicos e microscópicos também são empregados na avaliação deste estudo, de acordo com a presença de aglomerados, precipitados e cristais do fármaco nas suspensões lipossomais. A morfologia dos lipossomas pode ser determinada através da microscopia óptica e eletrônica de varredura e de transmissão (ANDRADE et al., 2004; MORAIS et al. 2008). A Tabela 1 resume algumas das principais análises e métodos analíticos necessários para avaliar os lipossomas (VEMURI; RHODES, 1995; EDWARDS; BAEUMNER, 2006). Tabela 1. Análises de lipossomas e métodos analíticos Análises Carga de superfície Temperatura de transição de fase Determinação do número de lamelas Determinação do diâmetro e distribuição do tamanho Determinação da concentração da substância encapsulada e Eficiência de encapsulação pH Análise quantitativa de lipídios Métodos Analíticos Potencial Zeta Calorimetria Exploratória diferencial (DSC) Microscopia Eletrônica, Fluorescência, 31 P RMN Espalhamento de luz dinâmica e estática, Microscopia Eletrônica, Cromatografia de exclusão de tamanho, Centrifugação analítica Espectrofotometria, Espectrofluorimetria, Cromatografia Líquida de Alta Eficiência, Métodos enzimáticos, Ultrafiltraçãocentrifugação pHmetro Cromatografia Líquida de Alta Eficiência, Cromatografia Gasosa, Cromatografia de Camada Delgada, Métodos enzimáticos, Métodos químicos (Teste de Bartlett) 2.3.4- Liofilização de lipossomas A liofilização é um processo de remoção de água amplamente usado para aumentar a estabilidade de vários produtos farmacêuticos, como vacinas e carreadores coloidais (lipossomas, nanopartículas, nanoemulsões) (VEMURI; RHODES, 1995). O ciclo da liofilização pode ser dividido em congelamento (solidificação) e secagem (sublimação do gelo). O congelamento é a primeira etapa da liofilização e, durante esta fase, a suspensão 32 líquida é congelada e cristais de gelo da água pura são formados. No estágio de secagem, por sua vez, ocorre a sublimação do gelo no produto congelado. No fim da sublimação um liófilo poroso é formado e estes poros correspondem aos espaços que eram ocupados pelos cristais de gelo (ABDELWAHED et al., 2006). Na liofilização de lipossomas, deve-se ter algumas características desejáveis, como por exemplo, a preservação das características físicas e químicas iniciais do produto (liófilo uniforme, rápido tempo de reconstituição e manutenção do tamanho de partícula, índice de polidispersão e eficiência de encapsulação) e uma longa estabilidade do liófilo (CHRISTENSEN et al., 2007). Porém, durante o processo da liofilização, muitos estresses podem ser gerados acarretando na desestabilização da suspensão lipossomal. Sabe-se que durante o congelamento da amostra pode haver a agregação e fusão dos lipossomas. Além disso, os cristais de gelo podem gerar um estresse mecânico que também desestabiliza as vesículas. Por estas razões, excipientes especiais devem ser adicionados na suspensão lipossomal antes do congelamento da amostra para proteger o sistema nas estapas de solidificação e secagem. Esses excipientes são chamados de lio/crioprotetores e os mais relatados na literatura são os açúcares: trealose, sacarose, glicose e manitol (ABDELWAHED et al., 2006). 2.3.5- Aplicações Farmacêuticas Devido à sua versatilidade estrutural e habilidade de incorporar fármacos hidrofílicos e/ou lipofílicos, lipossomas se tornaram potentes carreadores para terapia gênica, vacinas, antibióticos e antitumorais, aumentando a eficácia e reduzindo os efeitos tóxicos dos fármacos (BATISTA et al., 2007). Os lipossomas podem ainda ser utilizados como carreadores de agentes de contraste de diagnósticos experimentais para imagens do fígado, baço, cérebro, sistema cardiovascular, tumores, inflamações e infecções (TORCHILIN, 2005). As aplicações clínicas dos lipossomas são bem conhecidas (Tabela 2). Atualmente há no mercado várias formulações lipossomais aprovadas ou em fase de teste clínico. Uma formulação da Anfotericina B à base de lipossomas (AmBisome ®) foi aprovada pelo FDA para o tratamento do calazar e para o tratamento de infecções causadas por fungo (FRÉZARD et al., 2005; IMMORDINO et al., 2006). Myocet® e Daunoxone® são 33 formulações lipossomais que têm como agentes antineoplásicos a Doxorrubicina e a Daunorrubicina respectivamente. Uma nova formulação lipossomal de Vincristina (Marqibo®) tem mostrado ser bastante eficaz no tratamento de linfoma não-Hodgkin. Uma outra formulação de lipossomas convencionais contendo o agente antitumoral Lurtotecano, denominada OSI-211™ , está na fase II de testes clínicos. Nyotran ® e Aroplatin® também estão em fase clínica de desenvolvimento; o primeiro produto contém a Nistatina, um antifúngico análogo da Anfotericina B, e o segundo tem como substância encapsulada um análogo da Oxiplatina, utilizado para combater diversos tipos de câncer. DepoCyt é uma formulação que contém Citarabina, utilizada contra leucemia linfomatosa, mielóide e meníngea (TORCHILIN, 2005; IMMORDINO et al., 2006; BAWARSKI et al., 2008). Lipossomas peguilados contendo a doxorrubicina (DOXIL/Caelyx ®) foi a primeira formulação de lipossomas furtivos aprovada tanto nos Estados Unidos quanto na Europa para o tratamento do sarcoma de Kaposi e câncer de ovário recorrente. O Doxil/Caelyx ® também tem sido usado no tratamento de tumores sólidos em pacientes com mestástase de carcinoma de mama, resultando no aumento da sobrevida. Lipoplatin™ é uma formulação de lipossomas furtivos contendo cisplatina que está sendo testada clinicamente no combate ao câncer. Lipossomas peguilados contendo Mitoxantrona (Novantrone ®), foram aprovados pelo FDA para o tratamento de esclerose múltipla, leucemia mielóide aguda e câncer de mama metastático (TORCHILIN, 2005; IMMORDINO et al., 2006). 34 Tabela 2 – Formulações lipossomais aprovadas ou em avaliação para uso clínico. Fármaco Ácido trans-retinóico Nome do Produto Altragen Análogo da oxiplatina Anfotericina B Annamicina Cisplatina Citarabina Compostos de platina Daunorrubicina Doxorrubicina Aroplatin AmBisome Lipoplatin Depocyt Platar DaunoXome Doxil/Caelyx Indicações Sarcoma de Kaposi, carcinoma de células renais, leucemia pró-mielocítica, linfoma não-Hodgkin Câncer coloretal Leishmaniose, infecções fúngicas Tumores resistentes a doxorrubicina Vários tipos de câncer Leucemia linfomatosa, mielóide e meníngea Tumores sólidos Sarcoma de Kaposi Sarcoma de Kaposi, câncer de ovário, câncer de mama recorrente Câncer de mama Vários tipos de tumores Melanoma metastásico Doxorrubicina Myocet Gene E1A Allovectin-7 HLA-B7 e 𝜶-2microglobulina codificadas em DNA de plasmídeo Lutortecano OSI-211 Câncer de ovário, cabeça e pescoço. Nistatina Nyotran Infecções fúngicas Paclitaxel MBT-0206 Câncer de mama Vincristina Marqibo Linfoma não-Hodgkin Fontes : TORCHILIN et al,. 2005; IMMORDINO et al., 2006; BAWARSKI et al., 2008. Anticorpos monoclonais que reconhecem antígenos da superfície do tumor foram adicionados à superfície de lipossomas de longa duração contendo Doxorrubicina (Doxil ®) e um aumento da citotoxicidade desses lipossomas sítio-específicos foi constatado por Lukyanov et al. (2004) nas células cancerígenas . Na área dermocosmética, os lipossomas vêm sendo utilizados para aumentar a incorporação de substâncias ativas às células (MAGDASSI, 1997; HAYWARD; SMITH, 1990; SUZUKI; SAKON, 1990). Eles têm sido empregados na prevenção da queda de cabelos, promoção do crescimento capilar, desaceleração do processo de envelhecimento da pele, clareamento da pigmentação cutânea e prevenção e tratamento da lipodistrofia ginóide (celulite) (DI SALVO, 1996; SUZUKI; SAKON, 1990). A primeira formulação em produtos de cosméticos foi preparada em 1986 pelo Laboratório da Christian Dior em colaboração com o Instituto Pasteur (BANGHAM, 1995). 35 2.4- trans-Desidrocrotonina (t-DCTN) Várias plantas têm sido tradicionalmente utilizadas por populações em todos os continentes no controle e combate a várias doenças. Dentre as famílias de plantas medicinais, destaca-se a Euphorbiaceae, amplamente distribuída na região amazônica. O gênero Croton pertence a esta família e, no Brasil, há mais de 300 das 700 espécies desse gênero. Uma das espécies mais conhecidas no Norte do Brasil é o Croton cajucara, conhecida popularmente por sacaca, que significa feitiço na língua tupi (COSTA et al., 2007). Em Belém, as folhas e cascas do caule do Croton cajucara são utilizadas na medicina popular na forma de chá ou pílula e em muitos casos essa planta é usada sem nenhum controle ou recomendação médica. Farmacoetnologicamente a sacaca é indicada para combater diarréia, malária, febre, problemas estomacais, inflamação do fígado, rins, vesícula e no controle da diabetes e dos níveis de colesterol. Além disso, o pó das folhas é comercializado com indicação para dietas de emagrecimento (MACIEL et al., 2000; MACIEL et al., 2002 a). Estudos fitoquímicos mostraram que a casca do caule da sacaca é uma rica fonte de diterpenos do tipo clerodano, sendo a trans-desidrocrotonina (t-DCTN) (Figura 11) o componente isolado com maior rendimento e com ações biológicas mais eficazes. O O O H O H Figura 11 - Estrutura química da trans-Desidrocrotonina. A literatura relata várias atividades farmacológicas para a t-DCTN: antitumoral (GRYNBERG et al., 1999; MELO et al., 2004), hipoglicêmica (FARIAS et al., 1997; SILVA et al., 2001a), hipolipidêmica (SILVA et al., 2001a; SILVA et al., 2001b; SILVA 36 et al., 2001c; BIGHETTI et al., 2004), antigenotóxica (AGNER et al., 1999; AGNER et al., 2001), antiulcerogênica (HIRUMA-LIMA et al., 1999; MELO et al., 2003; RODRÍGUEZ et al., 2004), antiinflamatória e antinociceptiva (CARVALHO et al., 1996), antiestrogênica (LUNA-COSTA et al., 1999) e cardiovascular (SILVA et al., 2005). Com o intuito de elucidar o mecanismo de ação da t-DCTN, derivados semi-sintéticos da molécula estão sendo desenvolvidos e utilizados em estudos que objetivam a avaliação da relação estrutura/atividade biológica da t-DCTN (MACIEL et al., 2000; MELO et al., 2001; MELO et al., 2003; ANAZETTI et al., 2003; MELO et al., 2004; ANAZETTI et al., 2004). 2.4.1- Atividade antitumoral e citotoxicidade Dentre as atividades farmacológicas da t-DCTN, a atividade antitumoral merece destaque. Grynberg et al. (1999) avaliou a ação antitumoral deste bioativo em camudongos fêmeas DBA/2 em dois modelos experimentais de tumores ascíticos, sarcoma-180 (S-180) e carcinoma de Erlich (CE), nas respectivas doses de 84 mg/kg (2 dias consecutivos) e 120 mg/Kg (3 dias consecutivos). O aumento do tempo de sobrevida dos camundongos tratados com a t-DCTN comparado com o grupo não-tratado (T/C%) foi determinado para avaliar esta atividade (T/C% ≥ 125, atividade antitumoral significativa). Após administração intraperitoneal (i.p.), a t-DCTN apresentou atividade contra S-180 e CE, obtendo respectivamente T/C% de 128 e 140. Adicionalmente a este estudo, foi verificada a indução do fator de necrose tumoral (α-TNF) após tratamento dos animais com t-DCTN. Uma significante atividade do α-TNF (p < 0.05) foi obtida no sobrenadante ascítico após o tratamento com a t-DCTN na dose de 120 mg/kg. Este resultado sugere que a prolongação no tempo de sobrevida dos camundongos tratados com a t-DCTN pode ser devido a morte direta do tumor causada pelo aumento da secreção do α-TNF na área de crescimento celular da neoplasia. Melo et al. (2004) utilizaram camundongos machos BALB/c com tumor ascítico de Erlich para testar o efeito antitumoral da t-DCTN com doses de 2,5 a 20 mg/kg de peso. Após quatro administrações consecutivas da t-DCTN i.p., na dose de 20 mg/kg, a sobrevida dos animais apresentou um significante aumento de 80%. O efeito da desidrocrotonina na atividade das células natural killer (NK) nos camundongos também foi avaliado com o objetivo de determinar uma possível ação imunomoduladora. Os resultados demonstraram 37 que a t-DCTN (20 mg/kg) induziu de forma significativa (p < 0.05) a atividade esplênica de células NK, apesar de não ser observada esplenomegalia nos animais. Portanto a t-DCTN age indiretamente por imunomodulação na redução do tumor. O efeito da citotoxicidade da t-DCTN foi avaliado em diversas linhagens de células tumorais: células tumorais de Ehrlich (GRYNBERG et al., 1999; MACIEL et al., 2002a; MELO et al., 2004), células promielocítica leucêmica (HL60) (ANAZETTI et al, 2003; ANAZETTI et al., 2004; CORRÊA et al., 2005), células fibroblástica pulmonares de Hamsters chineses (V79) (SOUZA-BRITO et al., 1998; RODRÍGUEZ; HAUN, 1999; MELO et al., 2001; FREIRE et al., 2003), hepatócitos de ratos (RODRÍGUEZ ; HAUN, 1999; CORRÊA et al., 2005). O efeito citotóxico da t-DCTN verificado em células tumorais de Erlich mostrou uma redução da viabilidade celular com CI50 (concentração da droga que inibe 50% da proliferação celular) de 52,2 μg/mL (16 μM) (GRYNBERG et al., 1999). Nas células promielocíticas leucêmicas e em células mononucleares sanguíneas humanas este bioativo causou diferenciação celular e indução de apoptose por inibição de fosfatase nas células HL60 e baixa toxicidade nas células sanguíneas (ANAZETTI et al, 2003; ANAZETTI et al., 2004, CORRÊA et al., 2005). Em células fibroblásticas pulmonares de hamsters chineses a CI50 da desidrocrotonina foi de 240 μM (SOUZA-BRITO et al., 1998). Em hepatócitos de ratos uma toxicidade seletiva foi observada após tratamento subcrônico com a t-DCTN (8 μM) (RODRÍGUEZ ; HAUN, 1999). No estudo de citotoxicidade bacteriana com a Escherichia coli este diterpeno, por sua vez, não mostrou nenhum efeito tóxico (MELO et al., 2001). Poersch et. al (2007) verificou que o efeito citotóxico da t-DCTN em diferentes concentrações (400, 320, 240, 160 e 80 μM) em células ovarianas de hamster chinenes (CHO-K1) é discreto e não houve indução de apoptose, mas foi observado necrose celular com as concentrações de 320 e 400 μM de t-DCTN devido a um aumento na formação de radicais livres, proporcional a concentração desse bioativo. Com o intuito de controlar a liberação da t-DCTN, complexos de inclusão da desidrocrotonina com a βciclodextrina foram obtidos. A citotoxicidade destes complexos foi testada em células de V79 e cultura de hepatócitos, observando-se uma diminuição da mesma (CORRÊA et al, 2005). 38 2.4.2- Mecanismo de ação da t-DCTN Estudos da relação estrutura/atividade de lactonas sesquiterpênicas mostraram que três grupos químicos são essenciais para a atividade antitumoral: a α-metileno-γ-lactona , a ciclopentanona α-β-insaturada e o sistema O=C-C=CH2, este último funciona como um centro alquilante (GIORDANO et al., 1992). Kupchan et al. (1971) mostraram que o grupamento α-metileno-γ-lactona participa das reações do tipo Michael com moléculas biológicas e inativa enzimas chaves. A presença da lactona na estrutura química da t-DCTN é essencial para a atividade antitumoral in vivo, já que a abertura deste anel provocou a perda desta atividade da molécula (MELO et al, 2004). Além disso, o grupo eletrofílico O=C-C=CH2 da t-DCTN pode interagir com biomoléculas, fazendo ligações com grupamentos sulfidrilas (SH) de proteínas e bases nitrogenadas, principalmente com a guanidina por ataque eletrofílico (MELO et al, 2001). Anazzetti et al. (2004) sugerem também que este componente da t-DCTN pode reagir com o oxigênio molecular, formando peróxido de hidrogênio e, consequentemente, alterando o equilíbrio intracelular de oxi-redução. O estresse oxidativo provocado por esta reação representa um importante papel na citotoxicidade da t-DCTN. De acordo com Pallardy et al. (1997), se os radicais livres estiverem em baixas concentrações, a apoptose pode ser induzida em diferentes tipos de células, enquanto que em altas concentrações pode ocorrer a necrose. A subunidade ciclopentanona α-β-insaturada também é essencial para a atividade antitumoral da t-DCTN, já que esse grupo reativo é capaz de se ligar a receptores celulares que induzem o aumento da atividade de enzimas de ―fase II‖, como por exemplo as glutationas s-transferases, responsáveis pela metabolização de compostos xenobióticos. Como a t-DCTN possui esta espécie química eletrofílica reativa, provavelmente ocorre interação química com biomoléculas que favorem sua atividade antitumoral (GRYNBERG et al., 1999). O mecanismo de ação da atividade antitumoral da t-DCTN não está totalmente elucidado. No entanto, avanços foram obtidos, tendo sido evidenciado necrose em células ovarianas de hamster chineses (POERSCH et al, 2007), apoptose e uma possível ação 39 imunomoduladora pelo aumento de células NK após o tratamento em animais com carcinoma de Erlich (CORRÊA et al., 2005; MELO et al., 2004). 2.4.3- Toxicidade Quanto à toxicidade subaguda da t-DCTN, um ensaio foi realizado em ratos Wistar adultos de ambos os sexos, em que a t-DCTN foi administrada diariamente por via oral (v.o) (25, 50 e 100 mg/Kg) durante 35 dias. Após esse período, foi observado um aumento do peso do fígado de todos animais que receberam doses mais elevadas. Uma redução nos níveis de fosfatase alcalina e colesterol e um aumento da γ-glutamil transpeptidase foram observados em ratas que receberam doses 100 mg/Kg desse bioativo. Algumas alterações histopatológicas no fígado foram causadas pela t-DCTN que incluiu tumefação turva, degeneração microvacuolar e alterações nucleares (RODRÍGUEZ et al., 2004). Maciel et al. (2000) estudaram a toxicidade aguda da t-DCTN por um período de 72h após administração oral. A DL50 da DCTN foi de 555mg/Kg (v.o.) em camundongos e a DE50 dez vezes menor. Nenhum sintoma de ação tóxica ao sistema nervoso central foi detectado. Souza-Brito et al. (1998) também avaliaram a toxicidade aguda da t-DCTN em camundongos Swiss machos. Após jejum de 12 h, os animais receberam tratamento com a t-DCTN por via oral (125, 250, 500, 750 e 1000 mg/Kg) e intraperitoneal (25, 31, 62,5, 125, 250 e 500 mg/Kg). O número de animais sobreviventes foi monitorado por 14 dias. Os resultados monstraram a baixa toxicidade da t-DCTN, com valores de DL50 de 876 mg/Kg (12 h) e 47,2 mg/Kg para via oral e intraperitoneal respectivamente. Apesar dos estudos de toxicidade aguda e subaguda da t-DCTN, o uso indevido de folhas da sacaca na medicina popular pode provocar efeitos hepatotóxicos irreversíveis. Casos de hepatite aguda, crônica e fulminante foram notificados na região Amazônica em pacientes que fizeram uso da sacaca em dietas de emagrecimento e na redução do colesterol (MACIEL et al., 2002 a; MACIEL et al.,2002 b; SOARES, 2004; MACIEL et al., 2006;). Uma alternativa bastante promissora para diminuir os efeitos tóxicos e otimizar a ação antitiumoral da t-DCTN é a encapsulação deste composto em lipossomas. O uso de lipossomas como carreadores de fármacos antineoplásicos é estratégico para alcançar a acumulação seletiva do fármaco no tecido onde se encontra o tumor ou nas células 40 tumorais, visto que eles alteram a farmacocinética e biodistribuição do fármaco (MAMOT et al., 2003). 3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABDELWAHED, W.; DEGOBERT, G.; STAINMESSE, S.; FESSI, H. Freeze-drying of nanoparticles: Formulation, process and storage considerations. Adv. Drug Deliv. Rev., v.58, p. 1688– 1713, 2006. AGNER, A.R.; MACIEL, M.A.M.; PINTO, A.C.; CÓLUS, I.M.S. 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Objetivos específicos Desenvolver e validar um método espectrofotométrico UV para a determinação da DCTN no complexo de inclusão t-DCTN:HPβCD; Obter lipossomas contendo DCTN e complexo de inclusão DCTN:hidroxi-propil-β- ciclodextrina (DCTN:HPβCD); Realizar a caracterização físico-química dos sistemas desenvolvidos; Determinar a taxa de encapsulação do fármaco nos lipossomas; Realizar ensaios de cinética de liberação in vitro do fármaco a partir dos lipossomas; Avaliar a estabilidade acelerada e de longa duração; Avaliar a atividade antitumoral contra sarcoma-180 em camundongos do fármaco livre e encapsulado; Realizar análise histopatológica do fígado e do tumor dos animais; Realizar análise hematológica padrão dos animais tratados e não-tratados; 53 ARTIGO I Validation of UV spectrophotometric method for the determination of dehydrocrotonin and application in inclusion complexes hydroxypropyl-β-cyclodextrin. Analytical Letters. Submitted. with 54 Validation of a UV spectrophotometric method for determining transdehydrocrotonin in inclusion complexes with hydroxypropyl-β-cyclodextrin using acetonitrile as a solvent Taciana Lima Salviano Lapenda1, Waldenice de Alencar Morais1, Maria Aparecida Medeiros Maciel2, Nereide Stela Santos-Magalhães1* 1 Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Laboratório de Imunopatologia Keizo-Asami (LIKA), Av. Prof. Moraes Rego, 1235 Cidade Universitária, Recife, PE, Brazil, 2Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Departamento de Química, Natal, RN, Brazil. * Corresponding author Dr. Nereide Stela Santos-Magalhães Universidade Federal de Pernambuco Laboratório de Imunopatologia Keizo-Asami (LIKA) Av. Prof. Moraes Rego, 1235, Cidade Universitária. 50670-901, Recife-PE, Brazil. Phone: + 55 81 21012501; fax: +55 81 21012508 E-mail: [email protected] 55 Abstract An UV method was validated for determining t-DCTN in HPβCD inclusion complex at 234 nm using acetronitile as a solvent. The regression equation of the standard curve (1–20 µg mL-1) was [t-DCTN] = Area + 0.00147/0.04214. The precision of the method was satisfactory, producing values of relative standard deviation less than 2% for the all samples analyzed. The accuracy, determined from recovery studies, was between 99.6 and 100.02%. The content of t-DCTN in t-DCTN: HPβCD was 99.8%. The UV validated method was practical and is suitable for use in the routine analysis of t-DCTN using acetonitrile as a solvent. Keywords: trans-Dehydrocrotonin; UV spectrophotometry; Validation; Hydroxypropyl-βcyclodextrin; Inclusion complex. 56 1. Introduction The diterpene 19-nor-clerodane trans-dehydrocrotonin (t-DCTN) (Fig. 1) is the major component isolated from the stem bark of the brazilian medicinal plant Croton cajucara Beth (Euphorbiaceae). The t-DCTN has been shown to have hypoglycemic (Farias 1997 and Silva 2001), cardiovascular (Silva et al., 2005), antiulcerogenic (Hyruma-Lima et al., 1999, Melo 2003 and Rodriguez 2004), anti-inflammatory and antinociceptive (Carvalho et al., 1996), and even antitumor activity (Grynberg 1999 and Melo 2004). The low water solubility (34.23 1.38 µg mL-1) and hepatotoxicity (Maciel et al., 2002a,b) of t-DCTN have limited its use in clinical studies. However, inclusion complexes with cyclodextrins (CDs) and controlled delivery systems can be used as potential carriers to solve these problems. In fact, the cytotoxicity of t-DCTN in rat hepatocytes and V79 fibroblasts was reduced when it was complexed with βCD (Corrêa et al., 2005). Furthermore, the t-DCTN hypoglycemic effect has been improved by encapsulation into microspheres prepared with a copolymer of lactic and glycolic acids (PLGA) (Morais et al., 2008). Figure1. Chemical structure of the trans-dehydrocrotonin (t-DCTN). 57 The quality control of pure drugs and in pharmaceutical dosage forms is performed by official or validated methods. Chromatographic techniques such as high-performance liquid chromatography (HPLC) are frequently used in drug quality control for their sensibility and specificity, but they are time-consuming, costly and require expertise. However, spectrophotometry is considered a simpler and lower cost analytical technique being widely employed in the routine of quality control laboratories (Darwish et al., 2009). A variety of studies have been published on validated spectrophotometric methods with data comparable with those obtained by the HPLC for different drugs (García et al., 2005, Lastra et al., 2003, Sarkar et al., 2006, Venugopal and Saha 2005; Bosch et al., 2006). The t-DCTN has been studied since 1995, and its degree of purity had already been evaluated by nuclear magnetic resonance, ultraviolet, infrared and mass spectroscopy (Itokawa et al., 1989; Maciel et al., 1998; 2000; Melo et al., 2001; 2002; Souza-Brito et al., 1998). Moreover, t-DCTN content was determined in PLGA-microspheres (Morais et al., 2009) and L-ascorbic-6-sterate functionalized PLGA-nanoparticles (Frungillo et al., 2009) by UV spectrophotometry using methanol as a solvent and absorption length of t-DCTN at 238 nm and 230 nm, respectively. However, no validated method for quantifying this molecule in plant extract or pharmaceutical dosage forms has been reported. The aim of the present study was thus to develop and validate a simple, precise, accurate and economic analytical method to quantify t-DCTN UV by spectrophotometry using acetonitrile as a solvent. Furthermore, the UV method was applied to determine the content of t-DCTN in hydroxypropyl-β-cyclodextrin (HP-β-CD) inclusion complexes (t-DCTN:HP-βCD). 58 2. Experimental 2.1.Apparatus A UV spectrophotometer (Ultrospec 3000 Pro, Amersham Pharmacia Biotech, Sweden) equipped with 10 mm quartz cells was used for all the measurements. A freezedrying apparatus (EZ-DRY, FTS System, USA) was used to lyophilize t-DCTN:HP-β-CD inclusion complexes. 2.2.Reagents and materials The t-DCTN was extracted and purified (> 99%) from the stem bark of Croton cajucara (Maciel et al., 1998; 2000). Plant material was collected in Jacundá, state of Pará (Amazon Region of Brazil) and identified by Nelson A. Rosa. A voucher specimen (# 247) was deposited in the Herbarium of the ―Museu Paraense Emílio Goeldi‖ (Belém, Brazil). 2Hydroxypropyl-β-cyclodextrin (HP-β-CD, Mw ≈1380, m.p. ≈278°C dec., degree of substituition ≈0.6) was purchased from Sigma (St. Louis, USA). Purified water (Human UP 900, Human Corporation, Korea) was used in the preparation of the t-DCTN:HP-β-CD inclusion complexes. Acetonitrile, methanol and ethanol (Merck, Darmstadt, Germany) were of analytical grade. 2.3.t-Dehydrocrotonin standard solutions The standard solutions were prepared by transferring 10 mg of t-DCTN to a 25 mL volumetric flask and dissolved in 5 mL acetonitrile in an ultrasonic bath for 5 min. The volume was filled with acetonitrile to obtain a stock solution of 400 µg mL−1. This stock solution was further diluted with acetonitrile to obtain working solutions in concentrations 59 ranging from 1 to 20 µg mL−1. Standard solutions were prepared in triplicate to validate the analytical method. 2.4.Method validation The UV spectrophotometric method to quantify t-DCTN was validated by determining the linearity, detection and quantification limits, precision, accuracy, specificity and robustness according to international guidelines of ICH for validation of analytical procedures (ICH guidelines, 1996). All assays were performed at 25°C except for the robustness assay, when samples were also stored at 4°C before analysis. 2.4.1. Linearity The linearity of the method was verified by the average of six standard curves of tDCTN at concentration levels of 1, 3, 5, 10, 15 and 20 g mL-1. The linearity of the standard curve was evaluated by linear regression analysis, through the least square regression method and analysis of variance (ANOVA). 2.4.2. Detection and quantification limits Limits of detection (LOD) and quantification (LOQ) were estimated according to the ICH guidelines (ICH guidelines, 1996). The limit of detection was calculated by: LOD = 3.3(σ/S) 60 Where, σ is the standard deviation of the response of the blank and S is the slope of the standard curve (Ulu, 2007). The limit of quantification was calculated by: LOQ = 10(σ/S) 2.4.3. Precision The precision of the method was determined by intraday (repeatability) and inter-day variation (intermediate precision). The repeatability of the method was evaluated using three different concentration levels (3, 5 and 10 g mL-1) of t-DCTN on the same day under the same experimental conditions for three different days. To asses the intermediate precision, three different concentrations of t-DCTN (3, 5 e 10 g mL-1) were analyzed by two analysts on two different days. Precision was expressed as the relative standard deviation (R.S.D%). Statistical analyses were performed using one-way ANOVA, Student’s t-test and the F-test. The analysis of samples was carried out in triplicate. 2.4.4. Accuracy The accuracy of the method was determined by the recovery of a known amount of the drug added to HP-β-CD solutions. Briefly, an accurately weighed amount of HP-β-CD equivalent to that in the t-DCTN:HP-β-CD inclusion complex (Section 2.6) was solubilized with methanol (1 mL) and transferred to 10 mL volumetric flasks containing 0.3, 0.5 and 1 mL of a standard t-DCTN solution at 2 mg mL-1. The volume was filled with a mixture of 61 methanol and acetonitrile (1:10) to give t-DCTN concentrations of 60, 100 and 200 g mL-1. Next, dilutions were made with acetonitrile to yield concentrations of 3, 5 and 10 g mL-1 and analyzed by the proposed method. The samples were prepared in triplicate. The relative standard deviation and the recovery percentage were employed to evaluate the accuracy of the method by the equation (ICH guidelines 1996 and Ulu, 2007): Recovery (%) = 100 [found/added drug concentration] 2.4.5. Specificity The specificity of the method was evaluated by comparing the UV spectra of blank samples (HP-β-CD) and t-DCTN standard solution. The scans were performed from 200 to 400 nm and checked for the presence of interfering peaks (ICH guidelines, 1996). 2.4.6. Robustness The robustness of the method was evaluated by changing the solvent suppliers and the temperature of the t-DCTN samples (10 μg mL-1) at 4°C and 25°C. The samples were previously prepared and transferred to sealed tubes and refrigerated at 4ºC or maintained at room temperature (25°C) before analysis. Assays were performed six times in the same conditions and the mean recovery percentage of t-DCTN was determined (ICH guidelines, 1996). 62 2.5.Preparation of t-DCTN:HP-β-CD inclusion complexes Inclusion complexes of t-DCTN:HP-β-CD with a 1:1 molar ratio were prepared by the freeze-drying method. Appropriate amounts of drug and HP-β-CD were solubilized in a 1:1 ethanol:water solution. The mixture was stirred at room temperature for 48 h, cooled by immersion in frozen liquid-nitrogen and maintained at -80°C until lyophilization (EZ-DRY, FTS System, US). The storage of lyophilized inclusion complexes was performed at room temperature in vacuum desiccators. The samples were prepared in triplicate. The yield of tDCTN complexation in HP-β-CD was calculated using the equation: Yield complexation (%) = 100 (wl/wi) Where, wl is the weight of the lyophilized t-DCTN:HP-β-CD inclusion complex and wi is the initial weight of t-DCTN and HP-β-CD used to prepare the inclusion complex. 2.6. Assay of t-DCTN in t-DCTN: HP-β-CD inclusion complex An amount of t-DCTN:HP-β-CD inclusion complex, equivalent to 1 mg of t-DCTN, was accurately weighed and transferred to a 10 mL calibrated flask. The analyte was extracted with a mixture of methanol and acetonitrile (1:10) to obtain a theoretical concentration of 100 µg mL−1. The sample was centrifuged (12 000 rpm for 10 min at 25°C) to separate the insoluble HP-β-CD. An aliquot of 500 µL of the supernatant was transferred to 5 mL volumetric flask and filled with acetonitrile to obtain a concentration of 10 µg mL−1. The amount of t-DCTN in the inclusion complex was determined using the standard curve of the validated method. This procedure was performed in triplicate. The content of t-DCTN in tDCTN:HP-β-CD inclusion complex was calculated from the equation: 63 t-DCTN complexed (%) = 100 (Cl/Ct) Where, Cl is the concentration of t-DCTN determined by the proposed method in solid inclusion complex, and Ct is the theoretical concentration of t-DCTN, considering the initial weight of t-DCTN and the yield of t-DCTN:HP-β-CD inclusion complex. 3. Results and discussion 3.1. Method validation The absorption spectra of t-DCTN in acetonitrile were recorded at concentrations ranging from 1 to 20 μg mL-1 (Fig. 2a). It was found that t-DCTN exhibits a maximum absorption peak (max) at 234 nm with a molar absorptivity (ε) of 1.31 × 104 L mol−1 cm−1. The absorption spectra of t-DCTN in methanol (1 to 20 μg mL-1) showed shoulder peaks with interference next to the max of t-DCTN (Fig. 2b). The acetonitrile was thus shown to be the more appropriate solvent to validate the proposed method, since it had less interference in analysis and promoted more reproducibility of the results in comparison with methanol. These unpublished results are very important and should be taken into consideration for further analysis of t-DCTN in pharmaceutical dosage forms using UV spectrophotometry. 64 Figure 2. Scanning UV spectra of t-DCTN at concentrations of 1, 3, 5, 10, 15 and 20 μg mL-1: samples in acetronitrile (a) and samples in methanol (b). 3.1.1. Linearity The absorbance at max= 234 nm and the concentration of the t-DCTN presented a linear relationship at the concentration range from 1 to 20 µg mL-1. The regression analysis data are summarized in Table 1. The regression equation was C t-DCTN = Area + 0.00147/ 0.04214 (r2 = 0.99987; n = 6). A good correlation coefficient and lower calculated lack-of-fit 65 F-value (1.78) indicate that the linear model is suitable. In addition, the reliability of the method is confirmed by the intercept and slope values within the 95% confidence interval and their lower standard deviations. The LOD and LOQ, calculated according to ICH guidelines, were 0.16 and 0.48 µg mL-1, respectively. Table 1. Parameters of the UV method for quantifying t-DCTN. Parameters Values Measurement wavelength (nm) 234 nm Linear range (µg mL-1) 1 – 20 Intercept (± Standard deviation) - 0.00147 (± 0.00062) Confidence Limits of Intercept 0.01395 Slope (±Standard deviation) 0.04214 (± 0.00022) Confidence Limits of Slope 0.00181 Correlation coefficient (r2) 0.99987 Limit of detection, LOD (µg mL-1) 0.048 Limit of quantification, LOQ (µg mL-1) 0.15 Molar absorptivity, ε (l mol−1 cm−1) Lack-of-fit (Fcal) a a 1.31 × 104 1.78 Fcal is the calculated value. Theoretical value Fcrit =2.50 based on one-way ANOVA at a p=0.05 level. 66 3.1.2. Precision The intra-day and inter-day relative standard deviation (R.S.D%) values obtained by the proposed method were found to be 0.72 - 1.62% and 1.01 -1.60%, respectively (Table 2). The method gave satisfactory precision since R.S.D. did not exceed 2% and the calculated tand F-values were below critical values (Table 2). Table 2. Precision evaluation of the UV method for quantifying t-DCTN. Precision Added t-DCTN (μg mL-1) Found t-DCTN (μg mL-1) R.S.D. (%) Statistical parameter tcala 3.04 5.04 10.00 3.05 ± 0.05 5.01 ± 0.05 9.87 ± 0.16 1.56 0.99 1.60 1.04 1.73 0.54 Day 2 3.04 5.04 10.00 3.14 ± 0.04 5.13 ± 0.08 10.10 ± 0.11 1.31 1.62 1.06 2.60 1.52 2.83 Day 3 3.04 5.04 10.00 3.07 ± 0.02 5.06 ± 0.04 9.82 ± 0.14 0.77 0.72 1.46 0.87 0.00 1.24 3.04 5.04 10.00 3.06 ± 0.05 5.03 ± 0.06 9.84 ± 0.14 1.92 1.19 1.39 0.69 0.87 0.99 Intra-day Analyst 1 Day 1 Analyst 2 Day 4 Fcalb 3.04 3.08 ± 0.04 1.41 3.24 5.04 5.06 ± 0.05 1.01 2.21 10.00 9.91 ± 0.13 1.33 2.76 is the calculated value. Theoretical value t crit =4.30 based on the t-test comparing Inter-day a tcal average with standard value at a p=0.05 level. b Fcal is the calculated value. Theoretical value Fcrit =4.07 based on one-way ANOVA at a p=0.05 level. 67 3.1.3. Accuracy The accuracy of the method was determined by recovering known amounts (3, 5 and 10 µg mL-1) of t-DCTN added to an amount of HP-β-CD equivalent to that found in the tDCTN:HP-β-CD inclusion complex and applied to the assay for quantifying the t-DCTN in the t-DCTN: HP-β-CD inclusion complex. The lower concentrations were used because they are more susceptible to error during the recovery process, which may impart greater confidence to the experimental results. The maximum concentration of 10 µg mL-1 was chosen as the reference concentration to quantify t-DCTN in that study. The accuracy of the analytical technique was verified by means of the recovery test, ranging from 99.62 to 100.02% (Table 3). Table 3. Recovery of t-DCTN in HP-β-CD matrix to evaluate the accuracy of the UV method. t-DCTN (μg mL-1) a Added Found ± SDa Recovered ± SDa (%) 3.04 3.04 ± 0.11 100.02 ± 3.52 5.04 5.04 ± 0.14 100.01 ± 2.79 10.00 9.96 ± 0.05 99.62 ± 0.49 Values are the mean of three determinations. 68 3.1.4. Robustness In the robustness results no significant differences could be observed when the solvent from different suppliers and sample temperature were changed. Recovery values were from 99.02 to 99.67% (Table 4). The method described is specific for the determination of t-DCTN in inclusion complex, since no interfering signals were observed in blank samples (HP-β-CD without t-DCTN) at 234 nm and t-DCTN was totally recovered when the proposed method was employed (Fig. 3). The satisfactory recovery of t-DCTN (>99%) obtained in the robustness study at different temperatures confirms that the molar absorptivity of t-DCTN does not depend on the temperature of the sample. The regression equations of standard curves were the same at different sample temperatures (data not shown). Table 4. Robustness of the UV method using different solvents and varying the temperatures of the t-DCTN samples. Parameters a t-DCTN (μg mL-1) Recovery ± SDa (%) tcalb Added Found ± SDa Solvent 1 10 9.95 ± 0.12 99.49 ± 1.18 1.78 Solvent 2 10 9.90 ± 0.16 99.02 ± 0.16 1.55 4 C 10 9.95 ± 0.12 99.67 ± 0.89 1.60 25 C 10 9.97 ± 0.09 99.49 ± 1.18 0.92 Values are the mean of six determinations. btcal is the calculated value. Theoretical value tcrit =2.57 based on t-test comparing average with standard value at a p=0.05 level. 69 The t-DCTN content was determined in the inclusion complex at the reference concentration of 10 µg mL-1 using the regression equation: Ct-DCTN = Area + 0.00147/ 0.04214. Daily reduced standard curves (3 points) were performed on the same day as the analysis to confirm this regression equation. The solid inclusion complex obtained by freeze-drying yielded excellent results namely, 95.77 ± 1.91%. The content of t-DCTN in inclusion complex with HP-β-CD was 99.78 ± 0.71% (n=3) using the validated UV method. Figure 3. Scanning UV spectra of the HP-β-CD (a) and t-DCTN (10 μg mL-1) (b) in acetonitrile. 4. Conclusions The proposed UV spectrophotometric method for determining the t-DCTN was shown to be simple, rapid, reproducible, robust and precise. It was possible to successfully quantify the t-DCTN in HP-β-CD inclusion complex without any interference from the cyclodextrin. The validated UV method can, therefore, be applied to routine analyses in 70 quality control of the t-DCTN in t-DCTN:HP-β-CD inclusion complex and pharmaceutical dosage forms using acetonitrile as the solvent. Acknowledgments W.A.M. is grateful for a PhD scholarship from the Brazilian Council for Scientific and Technological Development (CNPq) and T.L.S. is grateful for an MSc scholarship from the Pernambuco State Foundation for the Advancement of Science (FACEPE). This research project was founded by the CNPq (Grant # 474071/2007-3). References Bosch, M. E., A. J. R. Sánchez, F. S. Rojas and C. B. Ojeda. 2006. J. Pharmaceut. Biomed. 42: 291-321. Carvalho, J. C. T., M. F. C. Silva, M. A. M. Maciel, A. C. Pinto, D. S. Nunes, R. M. Lima, J. K. Bastos and S. J. Sarti. 1996. Planta Med. 62: 402-404. Corrêa, D. H. A., P. S. Melo, C. A. A. Carvalho, M. B. M. Azevedo, N. Durán and M. Haun. 2005. Eur. J. Pharmacol. 510: 17-24. Darwish, I.A., H. H. Abdine, S. M. Amer and L. I. Al-Rayes. 2009. Spectrochim. Acta A 72: 897–902. Farias, R. A. F., V. S. N. Rao, G. S. Viana, E. R. Silveira, M. A. M Maciel and A. C. Pinto. 1997. Planta Med. 63: 558-560. 71 Frungillo, L., Martins, D., Teixeira, S., Anazetti M.C., Melo, P.S. and Durán, N. 2009. Targeted antitumoral dehydrocrotonin nanoparticles with L-ascorbic acid 6-stearate. J. Pharm. Sci. 98: 4796 -4807. García, P. L., M. I. R. M. Santoro, E. R. M. Kedor-Hackman and A. K. Singh. 2005. J. Pharmaceut. Biomed. 39: 764-768. Grynberg, N. F., A. Echevarria, J. E. Lima, S. S. R. Pamplona, A. C. Pinto and M. A. M. Maciel. 1999. Planta Med. 65: 687-689. Hiruma-Lima, C. A., R. C. Spadari-Bratfisch, D. M. Grassi-Kassisse and A. R. M. SouzaBrito. 1999. Planta Med. 65: 325-330. International Conference on Harmonization of Technical Requirements for Registration of Pharmaceuticals for Human Use (ICH). 1996. Q2B: Guideline on Validation of Analytical Procedure-Methodology. London. Itokawa, H. I, Y. Ichihara, H. Kojima, K. Watanabe and K. Takeya. 1989. Phytochemi. 28: 1667-1669. Lastra, O. C., I. G. Lemus, H. J. Sánchez and R. F. Pérez. 2003. J. Pharmaceut. 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Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas. A ser submetido. 75 Avaliação da atividade antitumoral in vivo de lipossomas contendo a trans-desidrocrotonina e o seu complexo de inclusão com a hidroxipropilβ-ciclodextrina Taciana Lima Salviano Lapenda1, Marcileide de Holanda Santos1, Waldenice de Alencar Morais1, Noemia Pereira da Silva Santos1, Maria Aparecida Medeiros Maciel2, Nereide Stela Santos-Magalhães1* 1 Laboratório de Imunopatologia Keizo-Asami, Universidade Federal de Pernambuco 2 Departamento de Química, Universidade Federal do Rio Grande do Norte * Correspondência: Dra. Nereide Stela Santos Magalhães Universidade Federal de Pernambuco Grupo de Sistemas de Liberação Controlada de Medicamentos Laboratório de Imunopatologia Keizo-Asami (LIKA) Av. Prof. Moraes Rego, 1235, Cidade Universitária. 50670-901, Recife-PE, Brasil. Telefone: 81- 21012501; fax: 81- 21012508 E-mail: [email protected]; [email protected] 76 RESUMO Lipossomas contendo a t-DCTN (LD) e o seu complexo de inclusão t-DCTN:HPβCD (LC) foram obtidos pelo método de formação do filme lipídico seguido de sonicação e submetidos a estudos de cinética de liberação in vitro. A atividade antitumoral de LD e LC foi avaliada contra o tumor ascítico Sarcoma 180 em camundongos Swiss. Análises histopatológicas e hematológicas também foram realizadas. Após o processo de fabricação, todas as formulações lipossomais apresentaram-se homogêneas, leitosas com reflexo azulado. As quantidades t-DCTN e do complexo de inclusão t-DCTN:HPβCD encapsuladas foram equivalentes a 1 mg/mL do fármaco, a eficiência de encapsulação de LD foi de 95,0 ± 3,8 % e a de LC foi de 91,1 ± 5,6%. Em relação à cinética de liberação in vitro, os perfis apresentaram uma boa correlação com o modelo fickiano. Na avaliação antitumoral, LD e LC apresentaram as respectivas inibições tumorais de 79,4 ± 9,6% e 63,5 ± 5,5%. Na análise histopatológica, observaram-se poucas alterações no fígado dos animais tratados com LD e com LC. Os achados hematológicos não indicam qualquer efeito relacionado ao tratamento. Os resultados mostram que o desenvolvimento das formulações lipossomais contendo a t-DCTN e o seu complexo de inclusão t-DCTN:HPβCD consiste em um importante avanço na terapêutica deste fármaco. Unitermos: Câncer, lipossomas, trans-desidrocrotonina, complexo de inclusão de fármaco com ciclodextrina , atividade antitumoral. 77 ABSTRACT t-DCTN-loaded liposomes (LD) and its inclusion complexes t-DCTN:HP-β-CD-loaded liposomes (LC) were prepared by the thin film hydration followed sonication technique and lipossomal formulations were evaluated in vitro kinetic. Antitumor activity of LD and LC were investigated against Sarcoma 180 in Swiss mice. Histopathological and haematological analyses were carried out. After the manufacture process, all liposomal formulations were uniform, milky with a bluish appearance reflection. The amounts of tDCTN and t-DCTN:HP-β-CD inclusion complex encapsulated were equivalent to 1 mg of t-DCTN, the encapsulation efficiency of LD was 95,0 ± 3,8 % and LC was 91,1 ± 5,6%. In relation the release kinetics in vitro, the profiles presented a good agreement with fickian model. In respect to antitumor activity, LD and LC showed 79,4 ± 9,6% and 63,5 ± 5,5% of tumor inhibition respectively. In the histopathological analyses of liver of animals treated with LD and LC few alterations were observed. The haematological findings did not show any treatment-related effects. The results show that the development os liposomal formulations with t-DCTN and its inclusion complexes t-DCTN:HPβCD are an important advance in this drug therapy. Keywords: Cancer, Liposomes, trans-dehydrocrotonin, drug inclusion complex with cyclodextrin, antitumor activity. 78 INTRODUÇÃO A DCTN, um diterpeno do tipo 19-nor-clerodano, é o componente majoritário isolado da espécie Croton cajucara, popularmente conhecida por sacaca. Esta planta pertence a família Euphorbiaceae e é bastante utilizada na medicina popular na Região Amazônica no combate a diabetes, diarréia, malária, febre, problemas estomacais, inflamação do fígado, rins, vesícula e no controle de altos índices de colesterol (Costa et al.,2007). A literatura relata várias atividades farmacológicas para a t-DCTN: antitumoral (Grynberg et al., 1999; Melo et al., 2004), hipoglicêmica (Farias et al., 1997; Silva et al., 2001a), hipolipidêmica (Silva et al., 2001a; Silva et al., 2001b; Silva et al., 2001c; Bighetti et al., 2004), antigenotóxica (Agner et al., 1999; Agner et al., 2001), antiulcerogênica (Hiruma-Lima et al., 1999; Melo et al., 2003; Rodríguez et al., 2004), antiinflamatória e antinociceptiva (Carvalho et al., 1996), antiestrogênica (Luna-Costa et al., 1999) e cardiovascular (Silva et al., 2005). Dentre as atividades farmacológicas da t-DCTN, a atividade antitumoral merece destaque. O seu efeito citotóxico foi avaliado em diversas linhagens de células tumorais: células tumorais de Ehrlich (Grynberg et al., 1999; Maciel et al., 2002; Melo et al., 2004), células promielocítica leucêmica (HL60) (Anazetti et al, 2003; Anazetti et al., 2004; Corrêa et al., 2005), células fibroblástica pulmonares de Hamsters chineses (V79) (Souza-Brito et al., 1998; Rodríguez; Haun, 1999; Melo et al., 2001; Freire et al., 2003) e hepatócitos de ratos (Rodríguez ; Haun, 1999; Corrêa et al., 2005). A atividade antitumoral in vivo da t-DCTN também foi avaliada em dois modelos experimentais de tumores ascíticos: Sarcoma 180 (S-180) (Grynberg et al., 1999) e Carcinoma de Erlich (Grynberg et al., 1999; Melo et al., 2004). Porém a t-DCTN pode causar efeitos hepatotóxicos, o que pode limitar seu uso prolongado (RODRÍGUEZ et al., 2004; Maciel et al.,2000). A nanotecnologia farmacêutica, por sua vez, conseguiu desenvolver sistemas coloidais de liberação controlada para a veiculação de agentes bioativos na forma de nanodispositivos. O principal objetivo dos sistemas de liberação controlada é a liberação progressiva e controlada do fármaco pelo condicionamento a estímulos do meio a que se encontram, manutenção dos níveis plasmáticos do fármaco em concentrações constantes 79 dentro da faixa terapêutica, eliminando desta forma as variações que geralmente são observadas no decorrer do tratamento como os efeitos tóxicos (picos além da faixa terapêutica) e falta de efetividade (dose subterapêutica) da substância ativa. Portanto, estes sistemas oferecem o uso otimizado do fármaco, uma menor necessidade de administrações e aumento da aceitação da terapia pelo paciente (Lo et al., 2001; Dunne et al., 2003). Dos vários nanocarreadores, os lipossomas despertam grande interesse para pesquisa e aplicações terapêuticas. Lipossomas são pequenas vesículas esféricas formadas por uma ou mais bicamadas lipídicas que se organizam espontaneamente em meio aquoso (Torchilin, 2005). Tais partículas são consideradas excelente forma de sistema de liberação controlada de fármacos devido a sua flexibilidade estrutural seja no tamanho, composição e fluidez da bicamada lipídica, como na sua capacidade de encapsular substâncias hidrofílicas e/ou lipofílicas. Além disso, os lipossomas também apresentam algumas propriedades biológicas bastante atrativas: são biodegradáveis, biocompatíveis e não imunogênicos (New, 1990; Brandl; Gregoriadis,1994; Edwards; Baeumner, 2006). Uma alternativa bastante promissora para diminuir os efeitos tóxicos e otimizar a ação antitiumoral da t-DCTN é a encapsulação deste bioativo em lipossomas. O uso de lipossomas como carreadores de fármacos antineoplásicos é estratégico para alcançar um acúmulo seletivo do fármaco no tecido, onde se encontra o tumor ou nas células tumorais, visto que eles alteram a farmacocinética e biodistribuição do fármaco (Mamot et al.,2003). No presente estudo, lipossomas contendo a t-DCTN e o seu complexo de inclusão tDCTN:HPβCD foram obtidos e submetidos a avaliações de estabilidade a curto e a longo prazo e estudos de cinética de liberação in vitro. A atividade antitumoral das duas formas lipossomais também foi avaliada contra o tumor ascítico Sarcoma 180 em camundongos. Além disso, análises histopatológicas e hematológicas foram efutuadas. 80 MATERIAL E MÉTODOS Material O diterpeno clerodano t-DCTN foi extraído e purificado das cascas do caule do Croton cajucara, seguindo metodologia previamente descrita (Maciel et al., 2000). O material foi coletado no município de Jacundá, no estado do Pará (Região Amazônica do Brasil) e identificado por Nelson A. Rosa. A caracterização físico-química da t-DCTN foi realizada na Universidade Federal do Rio de Janeiro (Brasil). A fosfatidilcolina de soja (PC) foi obtida da Lipoid, GmbH (Ludwigshafen, Germany). Colesterol (CH), estearilamina (SA), 2-hidroxipropil-β-ciclodextrina (HPβ-CD, MM ≈1380 u, grau de substituição ≈0.6) e trealose foram obtidos da Sigma-Aldrich (St Louis, USA). Tween®80 foi fornecido pela Synth (São Paulo, Brasil). Todos os demais reagentes utilizados foram de grau analítico fornecidos pela Merck (Darmstadt, Alemanha). As soluções aquosas foram preparadas com água purificada obtida pelo sistema de purificação Human UP 900 (Human Corporation, Korea). Preparação e quantificação do complexo de inclusão t-DCTN:HPβCD O método de preparação do complexo de inclusão t-DCTN:HPβCD, bem como sua caracterização foram previamente descritos por Lapenda et al. (2010). Em resumo, os complexos de inclusão t-DCTN:HPβCD (1:1) foram obtidos pela técnica de freeze-drying (liofilização). Quantidades da t-DCTN e da HPβCD correspondentes a proporção1:1 em mol foram solubilizadas em solução etanol:água (1:1). A solução permaneceu sob agitação magnética à 25 ºC por 48 h, em seguida foi congelada em nitrogênio líquido e liofilizada (EZ-DRY, FTS System, US). A quantidade de t-DCTN foi analisada por espectrofotometria (λ = 234 nm) utilizando metodologia previamente validada segundo as normas técnicas preconizadas pela ANVISA e ICH. Uma amostra do complexo equivalente a 1mg de t-DCTN foi pesada e solubilizada em 10 mL de uma mistura de metanol e acetonitrila (1:10). Posteriormente uma alíquota da solução foi retirada e diluída em acetonitrila até a concentração teórica de 10 µg/mL (n=3). 81 Preparação de lipossomas Lipossomas unilamelares pequenos foram obtidos através do método de formação e hidratação do filme lipídico seguido de sonicação descrito por Lira et al. (2009). A fosfatidilcolina de soja, o colesterol e a estearilamina (7:2:1, 120mM) foram solubilizados em uma mistura de clorofórmio:metanol (3:1 v/v) sob agitação magnética. Em seguida a mistura de solvente foi retirada por rotaevaporação por 1 h (37 ºC/ 80 rpm) havendo a formação do filme lipídico. O filme formado foi então hidratado com 10 mL de tampão Tris (pH 7,4) contendo diferentes concentrações da trealose (0, 1, 5, 10 e 15 % m/v) utilizada como agente crioprotetor. Os lipossomas multilamelares obtidos foram submetidos por sonicação usando sonda Vibra Cell (Branson, USA) em 200 W e 50 Hz por 600s, obtendose assim lipossomas unilamelares pequenos. Por fim, os lipossomas foram congelados a – 80°C e liofilizados (EZ-DRY, FTS System, USA) a 200 bars por 24 h. Os lipossomas liofilizados foram armazenados a 25 1°C em um dissecador a vácuo. Os lipossomas contendo t-DCTN (LD) e aqueles contendo o complexo de inclusão t-DCTN:HPβCD (LC) foram obtidos pela mesma técnica descrita, sendo a t-DCTN solubilizada na fase orgânica e o complexo de inclusão na solução aquosa, ambos na concentração de 1 mg/ml de fármaco. Avaliação da estabilidade dos lipossomas As formulações lipossomais contendo o fármaco e seu complexo de inclusão foram submetidas a testes de estabilidade acelerada e a longo prazo com o objetivo de verificar a durabilidade das preparações (Santos-Magalhães et al., 2000). Nestes testes características físico-químicas dos lipossomas como aspecto macroscópico, tamanho de partícula, índice de polidispersão e variação de pH foram avaliadas. O objetivo do teste de estabilidade acelerada é submeter as formulações a condições de estresse que conduzem ao envelhecimento a curto prazo. Suspensões lipossomais foram submetidos à centrifugação a 10.000 rpm por 1h a 4 ºC (KN-70 Centrifuge, Kubota, Japão) e ao estresse mecânico a 180 vibrações por min a 37 ºC por 48h (Polytest ® 20 Bioblock Scientific). Na estabilidade a longo prazo as análises foram efetuadas imediatamente após a preparação das formulações e, subsequentemente, em intervalos regulares de 7, 15, 30, 45, 60, 90 e 120 dias. Para 82 avaliar as suspensões lipossomais durante este período, os lipossomas liofilizados foram reidratados com quantidade suficiente de tampão Tris para manter as mesmas condições anteriores a liofilização. Análise do tamanho de partícula O diâmetro médio de partículas e o índice de polidispersão (PI) dos lipossomas, prée pós-liofilizados, foram determinados pela técnica de espectroscopia de correlação de fótons (PSC) utilizando analisador de partícula a laser Delsa TM Nano-S a 25 ºC com ângulo de detecção de 90 º (Beckman Coulter, UK). As amostras de lipossomas (n=3) foram diluídas adequadamente em água ultra-purificada para contagem de partículas. Os resultados obtido são apresentados pela média ± desvio padrão (DP). Determinação do potencial-zeta A carga superficial (potencial zeta) dos lipossomas foi determinada através da mobilidade eletroforética pelo equipamento Zetatrac Legacy (Nanotrac®, USA). As medidas (n=3) foram realizadas a 25 ºC com dispersões das amostras a 0,3% (m/v) em solução aquosa de eletrólito NaCl 1 mM. Os resultados são apresentados pela média ± DP das medidas realizadas. Eficiência de encapsulação A eficiência de encapsulação da t-DCTN nos lipossomas LD e LC foi determinada por espectrofotometria UV-Vis (Ultrospec 3000 pro, Amersham Biosciences, Suécia). A tDCTN foi quantificada retirando-se primeiramente uma alíquota da suspensão lipossomal (50 μL), a qual foi diluída em metanol (5 mL) e ultrassonicada por 5 minutos. Em seguida, o composto ativo foi quantificado por espectrofotometria (248 nm) utilizando curva padrão da t-DCTN com concentrações de 3 a 20 µg/mL em metanol. Os lipossomas brancos, ou seja sem o composto ativo, foram analisados visando demonstrar a ausência de interferência dos cosntituintes utilizados na preparação. Para estimar o conteúdo de 83 t-DCTN que não foi encapsulada nos lipossomas, empregou-se a técnica de ultrafiltração/ultracentrifugação usando unidades de Microcon® (Millipore, USA). Primeiramente, uma alíquota da dispersão lipossomal (400 μL) foi centrifugada a 10.000 rpm durante 1h a 4 ºC. Em seguida, o filtrado, contendo a t-DCTN não encapsulada, foi quantificado em espectrofotômetro UV-Vis (248 nm). Os fatores de diluição foram considerados no cálculo da DCTN livre e total. O valor correspondente a quantidade de tDCTN encapsulada nos lipossomas foi obtida subtraindo a t-DCTN livre do conteúdo total. As análises foram realizadas em triplicata e os valores foram descritos pela média ± DP. A percentagem da eficiência de encapsulação (EE %) foi calculada segundo a equação: EE % = (t-DCTN total – t-DCTN livre)/ t-DCTN total × 100%. Cinética de liberação in vitro O estudo do perfil de liberação in vitro da t-DCTN e do complexo de inclusão (t-DCTN:HPβCD) encapsulados em lipossomas foi realizado utilizando a técnica de diálise direta em condições sink . Uma alíquota de 1 mL das formulações lipossomais contendo o fármaco foi inserida em um saco de diálise (membrana de celulose, cut-off = 15-20 , Sartorius, Germany), o qual foi em seguida fechado e imerso no meio contendo 250 mL de tampão. O sistema permaneceu sob agitação constante (60 rpm) a 37 1ºC. Em intervalos de tempo pré-determinados, alíquotas de 1 mL do meio foram retiradas. Volumes iguais de tampão Tris (1 mL) foram transferidos para reposição do meio. O conteúdo de t-DCTN foi quantificado por espectrofotometria UV-Vis como previamente descrito. Os ensaios foram realizados em triplicata e os resultados expressos em percentagem dos valores médios de t-DCTN liberada (em relação à quantidade de t-DCTN encapsulada) DP. Os dados experimentais da cinética de liberação in-vitro foram ajustados a um modelo exponencial, usando a seguinte equação: Mt/M∞= (1-k1e-k2t), onde Mt e M∞ são o valor absoluto da quantidade de droga liberada no tempo t e do conteúdo inicial do fármaco, respectivamente; a constante K2 está associada ao coeficiente de difusão da droga nos lipossomas (Siepmann; Siepmann, 2008; Klose et al., 2008). As primeiras horas da cinética foram ajustadas ao modelo Fickiano pela raiz quadrada do tempo (t1/2) e a taxa de liberação determinada pela inclinação da regressão linear. 84 Atividade antitumoral Este estudo foi realizado com o objetivo de avaliar a atividade antitumoral in vivo, frente ao tumor sarcoma-180, da t-DCTN nas suas formas livre e encapsulada. Tambem foi analisada a influência dos complexos t-DCTN:HPβCD encapsulados nos lipossomas. Células do tumor ascítico (5,0 x 106 células/ml) foram inoculadas via subcutânea (s.c) na região axilar direita de camundongos machos albinos Swiss (idade de 35 a 60 dias, peso médio 30-40 g). Os animais foram divididos em 5 grupos, contendo 5 animais distribuídos aleatoriamente. Após 24 h da inoculação do tumor, o tratamento foi iniciando tendo duração de 7 dias consecutivos. Injeções da suspensão de t-DCTN , LD, LC e do placebo (solução salina) foram administrados pela via intraperitoneal numa dose equivalente a 20 mg/kg de peso do animal (Melo et al., 2004) . A suspensão de t-DCTN foi preparada em solução estéril de NaCl a 0,9% contendo Tween 80 a 5% (v/v) (Costa et al., 2007; Melo et al., 2004). Os animais do grupo controle positivo e negativo foram tratados com solução de NaCl a 0,9 estéril, em idênticas condições (Santos et al., 2006). Após o tratamento, os animais foram anestesiados com Urethame ® (1,25 g/kg) e sacrificados por punção cardíaca. Amostras de sangue foram coletadas em tubos MiniCollect® K3EDTA (Greiner Bio-One, Austria) para análise hematológica. Os tumores e o fígado foram removidos, pesados e submetidos a estudos histopatológicos. A atividade antitumoral foi determinada pelo cálculo do percentual de inibição tumoral (IT%) : IT% = (C – T)/C × 100%, onde C é o peso médio dos tumores nos animais controle e T é a média dos pesos dos tumores dos animais tratados (Wang et al, 1996) . Durante o experimento, os animais foram mantidos à temperatura ambiente (25 C 2 C), sob ciclo dia/noite natural (12h luz e 12h escuro), com livre acesso à água e alimento. Toda a metodologia estava de acordo com o protocolo sugerido pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA) e aprovada pelo Comitê de Ética para Ensaio de Experimentação Animal da Universidade Federal de Pernambuco- UFPE (Recife, Brasil). 85 Estudo histopatológico O fígado e o tumor dos animais foram submetidos a análises histopatológicas. Os tecidos foram mantidos em solução tamponada de formalina a 10% até inclusões em parafina. Cortes (4 m) da amostra de tecidos fixados em Hematoxilina e corados em Eosina (HE) foram analisados por microscopia óptica (Olympus BH-2, Japan). Análise hematológica As amostras de sangue dos camundongos foram submetidas a determinações de índices hematimétricos tais como: concentração de hemoglobina (Hb), hematócrito (Hct), volume corpuscular médio (VCM), hemoglobina corpuscular média (HCM), concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM), largura de distribuição dos eritrócitos (RDW), contagem de células brancas do sangue (WBC), contagem de glóbulos vermelhos (RBC) e contagem de plaquetas. Estes parâmetros foram medidos no laboratório de análises do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (Recife, Brasil). Análise estatística A análise estatística foi realizada usando o Teste de Tukey, através do software Statistica 8.0 (StarSoft Inc., Tulsa, OK, USA), sendo os resultados considerados significativos quando p<0,05. Os resultados experimentais foram expressos como o valor médio ± DP nas tabelas e figuras. RESULTADOS E DISCUSSÃO Estudo de pré-formulação para avaliar o efeito da trealose e da liofilização na aparência visual e no tamanho de partícula de lipossomas sem a t-DCTN No presente estudo, a concentração da trealose nos lipossomas (PC:CH:SA) foi otimizada para garantir a estabilidade dos lipossomas e preservar as suas características físico-químicas durante a liofilização e a reidratação do liófilo. 86 Suspensões lipossomais sem o fármaco foram liofilizadas na presença de trealose em diferentes concentrações (0, 1, 5, 10 e 15% m/v). As formulações liofilizadas foram examinadas por inspeção visual. Uma matriz amorfa e uniforme foi obtida após a liofilização das vesículas na presença da trealose nas concentrações de 10 e 15%. Nas concentrações mais baixas, um aglomerado lipídico foi observado, indicando que a quantidade de trealose era insuficiente para prevenir a agregação das vesículas (Figura 1). FIGURA 1- Liófilos das suspensões lipossomais obtidos na presença de trealose nas concentrações de 1% (A) e 10% (B). Uma liofilização bem sucedida deve permitir que o produto reabsorva rapidamente o solvente e restabeleça o seu estado original. Formulações contendo 10 e 15% (m/v) de trealose foram rapidamente reidratadas e não foram observados agregados. Nas formulações com menores concentrações de açúcar, a reidratação foi lenta e aglomerados lipídicos foram visualizados. Para verificar se as características físico-químicas dos lipossomas foram preservadas após a liofilização, o tamanho de partícula e o índice de polidispersão foram determinados. Quantidades insuficientes da trealose podem levar a fusão das vesículas e aumentar em até 30 vezes o seu diâmetro (Mohammed et al., 2006). A conservação do tamanho de partícula após a liofilização é considerada uma ótima indicação no sucesso da liofilização. A razão do tamanho de partícula antes e depois da liofilização (Sf/Si) pode ser calculado. Um valor próximo de 1 indica que houve conservação no tamanho dos lipossomas (Abdelwahed et al., 2006). O índice de polidispersão (PI) das partículas mede a distribuição do tamanho de 87 partícula e também pode ser comparado para avaliar a conservação dos lipossomas. Valores pequenos de PI (≤ 0,3) indicam uma população homogênea de lipossomas, enquanto que valores maiores indicam heterogeneidade (Kim et al., 2009). As características físico-químicas dos lipossomas antes e depois da liofilização estão apresentadas na Tabela I. O tamanho de partícula médio, antes da liofilização, variou de 59,9 ± 3,1 a 108,4 ± 1,3 nm em formulações lipossomais sem o crio-/lioprotetor e com 15% de trealose respectivamente. A adição de diferentes concentrações de trealose resultou em um aumento gradual no tamanho médio das vesículas de acordo com o aumento da concentração de trealose. Uma hipótese para isto pode ser o aumento do volume hidrodinâmico dos lipossomas pelo revestimento da sua superfície com a trealose através de ligações de hidrogênio entre os dois (Christensen et al., 2007). O aumento no tamanho de partícula não mudou a aparência visual das formulações. Após a liofilização, a razão de tamanhos de partículas mais próxima da unidade foi obtida na formulação lipossomal com 10% de trealose (Sf/Si= 1,04), indicando que esta concentração foi ideal para a conservação do tamanho de partícula. O índice de polidispersão dos lipossomas variou de 0,29 ± 0,04 a 0,41 ± 0,05 e de 0,22 ± 0,01 a 0,43 ± 0,01 antes e depois da liofilização respectivamente. A suspensão lipossomal contendo 10% de trealose foi a única que teve o PI inferior a 0,3, pré- e pósliofilização, mostrando que nesta formulação os lipossomas tinham tamanho homogêneo de distribuição. Estes resultados sugerem que com a trealose na concentração de 10% é possível liofilizar lipossomas de PC:CH:SA (7:2:1; 120 mM) e obter um liófilo estável. 88 TABELA I – Tamanho de partícula e índice de polidispersão de lipossomas (PC:CH:SA; 120 mM) com diferentes concentrações de trealose. Trealose % (m/v) Tamanho de partícula (nm) Pré- Pós- liofilização liofilização 0 59,9 ± 3,1 845,4 ± 12,8 1 63,9 ± 1,1 5 Índice de Polidispersão Pré- Pós- liofilização liofilização 14,11 0,38 ± 0,03 0,42 ± 0,02 715,2 ± 13,9 11,19 0,32 ± 0,01 0,43 ± 0,01 68,1 ± 1,0 79,4± 2,9 1,17 0,32 ± 0,01 0,38 ± 0,01 10 86,6 ± 9,5 90,2 ± 5,9 1,04 0,29 ± 0,04 0,22 ± 0,01 15 108,4 ± 1,3 83,0 ± 6,9 0,77 0,41 ± 0,05 0,29 ± 0,05 Sf/Si Sf/Si: Razão do tamanho dos lipossomas antes e depois da liofilização. Características físico-químicas e eficiência de encapsulação de lipossomas contendo a t-DCTN (LD) e o complexo de inclusão t-DCTN:HPβCD (LC) Lipossomas contendo a t-DCTN (LD) e o complexo de inclusão t-DCTN:HPβCD (LC) foram obtidos pelo método de hidratação do filme lipídico, com solução de trealose a 10% em tampão Tris (pH = 7,4), seguido de sonicação. As quantidades t-DCTN e do complexo de inclusão t-DCTN:HPβCD encapsuladas foram equivalentes a 1 mg/mL do fármaco. A razão molar fármaco lipídeo foi de 2,7:10. Logo após o processo de fabricação, todas as formulações apresentaram-se homogêneas, leitosas com reflexo azulado (típico de lipossomas unilamelares pequenos). O tamanho de partícula, o índice de polidispersão, o potencial zeta e a eficiência de encapsulação de LD e LC estão apresentados na Tabela II. O tamanho médio das vesículas de LD e LC foi respectivamente 78,67 ± 6,51 e 77,33 ± 3,00 nm. Não houve diferença significativa entre o tamanho de partícula médio destas duas formulações entre si e em relação a formulação sem o fármaco (86,6 ± 9,5 nm). 89 TABELA II- Tamanho de partícula, índice de polidispersão, potencial zeta e eficiência de encapsulação de LD e LC. Formulações Tamanho de partícula (nm) Índice de polidispersão Potencial zeta (mV) Eficiência de encapsulação (%) LD 78,7 ± 6,5 0,30 ± 0,01 +39,94 ± 2,62 95,0 ± 3,8* LC 77,3 ± 3,0 0,33 ± 0,01 +36,27 ± 1,98 91,1 ± 5,6* *A diferença entre as eficiências de encapsulação de LD e LC não foi significativa pelo Teste de Tukey (p<0,05). LD= lipossomas contendo a t-DCTN; LC= lipossomas contendo o complexo de inclusão t-DCTN:HPβCD. O índice de polidispersão de LD e LC foi de 0,30 e 0,33 respectivamente, indicando que estas formulações são monodispersas. Os potenciais zeta de LD e LC foram, na correspondente ordem, +39,94 ± 2,62 e +36,27 ± 1,98 mV. Lipossomas com potencial zeta acima ±30 mV demonstram uma boa estabilidade em suspensão, prevenindo a agregação das vesículas (Calvo et al., 1996). Apesar da carga superficial de LD ser ligeiramente maior que a de LC, elas não diferem significantemente entre si. O valor positivo dos lipossomas já era esperado e é explicado pela constituição lipídica das vesículas, as quais contêm o lipídeo estearilamina de carga positiva. Uma hipótese para entender o ligeiro aumento na positividade de LD em relação a LC é devido a t-DCTN, uma molécula que comporta-se como um ácido fraco (Morais , 2010), está inserida na bicamada fosfolipídica, enquanto que o complexo t-DCTN:HPβCD se encontra solubilizado no vacúolo aquoso dos lipossomas. Tanto LD quanto LC tiveram uma alta eficiência de encapsulação (95,0 ± 3,8% e 91,1 ± 5,6%, respectivamente) e não houve diferença significativa (p<0,05) entre eles. Avaliação da estabilidade dos lipossomas As supensões lipossomais LD e LC foram submetidas aos testes de estabilidade a curto prazo de estresse mecânico (EM) e de centrifugação (CF). Não houve alteração na aparência visual (suspensão branca leitosa com reflexo azulado) em nenhuma das duas 90 formulações lipossomais após os testes. O tamanho de partícula, o índice de polidispersão e o pH também foram avaliados (Tabela III). Observou-se que as formulações LD e LC mantiveram-se estáveis após o teste de simulação de transporte por agitação mecânica. Em relação ao teste de centrifugação, o índice de polidispersão da formulação LD foi de 0,43 ± 0,05, indicando que a distribuição do tamanho de partícula tornou-se um pouco heterogênea. Enquanto que para LC tanto o tamanho de partícula quanto o índice de polidispersão aumentaram, com respectivos valores de 122,20 ± 0,80 nm e de 0,42 ± 0,01, porém, apesar disso, LC permaneu estável. TABELA II- Tamanho de partícula, índice de polidispersão e pH de LD e LC após os testes de estresse mecânico (EM) e centrifugação (CF). Formulações Tamanho de Índice de partícula (nm) polidispersão pH EM CF EM CF EM CF LD 79,2± 4,2 73,7±3,1 0,31±0,02 0,43 ± 0,05 7,85 ± 0,06 7,95 ± 0,16 LC 88,7±1,1 122,2±0,8 0,31±0,03 0,42 ± 0,01 7,67 ± 0,02 7,62 ± 0,02 LD= lipossomas contendo a t-DCTN; LC= lipossomas contendo o complexo de inclusão t-DCTN:HPβCD. A estabilidade a longo prazo de LD e LC foi avaliada por 120 dias. A avaliação das formulações nos dias 7, 15, 30, 45, 60, 90 e 120 foi realizada através da ressuspensão dos liófilos de LD e LC com quantidade sufuciente de água purificada para atingir as condições originais. Em todo o período, não foi verificada nenhuma alteração visual nas formulações. Como mostrado na Figura 2, houve uma pequena diminuição do pH das duas formulações ao longo do tempo. O pH de LD manteve-se entre 7,58 ± 0,16 e 7,29 ± 0,03 , enquanto que em LC o pH máximo foi de 7,70 ± 0,07 e o mínimo de 7,33 ± 0,05. Estas variações não causaram e nem indicaram instabilidade nas formulações. 91 FIGURA 2- Variação do pH das formulações ao longo de 120 dias. O tamanho de partícula (Figura 3) e o índice de polidispersão (Figura 4) de LD não tiveram nenhuma variação significativa durante os 120 dias. O valor médio do diâmetro dos lipossomas foi de 80 nm e o PI manteve-se em torno de 0,28. Estes dados mostram que LD manteve-se estável durante todo o período da avaliação. Enquanto que para LC, a partir de 90 dias, houve um aumento no diâmetro médio das vesículas (Figura 3). O tamanho médio dos lipossomas de LC foi inicialmente de 77,3 ± 3,0 nm e passou para 144, 3 ± 8,8 nm em 90 dias e para 270,3 ± 9,3 nm em 120 dias. O PI de LC aumentou de 0,32 (valor médio em 90 dias) para 0,44, mostrando que a população de lipossomas passou a ser menos homogênea (Figura 4). 92 FIGURA 2- Variação do tamanho de partícula de LD e LC ao longo de 120 dias. FIGURA 3- Variação do índice de polidispersão das vesículas ao longo de 120 dias. 93 Cinética de liberação in vitro da t-DCTN e do complexo de inclusão t-DCTN:HPβCD encapsulados em lipossomas O perfil cinético da t-DCTN e do complexo t-DCTN:HPβCD encapsulados em lipossomas, durante 4 dias, em tampão Tris, está ilustrado na Figura 4. As cinéticas de liberação in vitro foram mostradas em percentual de t-DCTN liberada em função do tempo para melhor visualização dos dados em termos de aplicação terapêutica. Um modelo exponencial baseado na segunda Lei de Fick, representado pela equação M t / M (1 k1 .e k2t ) , foi usado para delinear o perfil de liberação. Os símbolos representam os dados experimentais obtidos e as curvas representam o delinearmento do modelo matemático. Os parâmetros calculados das cinéticas do fármaco livre e complexado nos lipossomas estão resumidos na Tabela III. Como pode ser observado na Figura 4A e 4B, ocorreu um bom ajuste dos dados experimentais pelo modelo teórico exponencial. Isto indica que um mecanismo simples de difusão está envolvido no transporte de massa nos sistemas lipossomais. Este fato também é confirmado pelo gráfico do modelo linear da liberação da t-DCTN pela raiz quadrada do tempo (t1/2) (r 2≥ 0,99) para o período inicial da cinética (0-8 h). A velocidade de liberação (µg/mL) foi calculada pelo coeficiente angular da regressão linear (Tabela III). Um efeito burst (25%), tanto para LD quanto para LC, ocorreu nas primeiras 2 h de liberação (Tabela III) devido à provavelmente a liberação da t-DCTN não encapsulada, seguida de uma liberação gradual constante nas primeiras 8 horas. Nas 12 h iniciais, houve uma liberação de aproximadamente 80% do fármaco nas duas formulações, atingindo um máximo de fármaco liberado para t-DCTN de 95% e para t-DCTN:HPβCD de 98% dentro de 96 h. No período inicial da cinética (0-8 h), por sua vez, não houve diferença significativa na taxa de liberação da t-DCTN quando a mesma foi complexada com a HPβCD (Tabela III). 94 FIGURA 4- t-DCTN:HPβCD Liberação in (B) vitro da t-DCTN (A) e do complexo de inclusão em lipossomas. Cada ponto respresenta a média de três experimentos destintos ± D.P. As linhas representam o delinearmento do modelo não-linear de difusão Fickiano. Insert: Gráfico do ajuste da liberação da t-DCTN pela raiz quadrada do tempo (t1/2) (t= 8 h). Cada ponto respresenta a média de três experimentos destintos ± D.P. As linhas representam o delinearmento do modelo linear. 95 TABELA III- Parâmetros calculados da liberação da t-DCTN e do complexo de inclusão t-DCTN:HPβCD encapsulados em lipossomas usando os modelos exponencial e linear. Formulação Efeito burst % (2h) Modelo exponencial (t0-96h) M t / M (1 k1 .e k2t ) k1 Modelo linear (t1/2) (t0-8h) k2 Velocidade de liberação (μg/h) 25,88 ± 0,64 1,069 ± 0,019ª 0,188 ± 0,009ª 308,84 ± 12,82ª LD 25,08 ± 3,22 1,097 ± 0,017ª 0,217 ± 0,007b 278,40 ± 20,51ª LC Letras iguais indicam que não houve diferença significativa pelo Teste de Tukey (p<0,05); letras diferentes indicam que houve diferença significativa (p<0,05). A complexação da t-DCTN com a ciclodextrina HPβCD não influenciou o efeito burst, nem a velocidade de liberação da t-DCTN e nem a quantidade final de droga liberada. Porém o k2 (coeficiente aparentemente relacionado a difusão do fármaco) do tDCTN:HPβCD (k2=0,217) foi maior que o da t-DCTN (k2=0,188). Esta maior difusibilidade pode estar associada a ação da ciclodextrina em remover os componentes lipídicos do lipossoma pela formação de complexo com os lipídeos, principalmente o colesterol. Isto pode desestabilizar a bicamada permitindo a liberação parcial ou total do complexo das vesículas (Piel et al., 2006). Avaliação da atividade antitumoral de lipossomas contendo t-DCTN e o complexo de inclusão t-DCTN:HPβCD No presente estudo, a atividade antitumoral da t-DCTN e do seu complexo de inclusão t-DCTN:HPβCD encapsulados em lipossomas foi avaliada contra o S-180 em camundogos tratados diariamente com dose de 20 mg/Kg por 7 dias (Melo et al., 2004). Para avaliação da atividade antitumoral, comparou-se as formulações lipossomais com o placebo e a suspensão de t-DCTN em 5% (v/v) de Tween 80. Após o tratamento dos animais com a suspensão de t-DCTN , LD e LC, uma variação na massa do tumor foi encontrada. Uma redução no tamanho dos tumores foi detectada com o tratamento com a t-DCTN. Os animais não tratados apresentaram um progressivo aumento no crescimento do tumor, com um peso médio de 2,62 ± 0,27 g, 7 dias 96 após a inoculação das células tumorais. Em contrapartida, o tratamento LD e LC produziu uma diminuição da massa tumoral (0,54 ± 0,25 g e 0,96 ± 0,14 g respectivamente) em comparação com a solução do fármaco (1,48 ± 0,25 g). Estes resultados mostram que as formas lipossomais da t-DCTN e do seu complexo de inclusão apresentam um maior efeito de regressão do tumor em relação a solução do fármaco. Todos os animais sobreviveram até o final do tratamento e nenhuma anormalidade clínica ou comportamental foi observada. Em relação a inibição tumoral, o grupo tratado com a suspensão de t-DCTN apresentou uma inibição de 43,3 ± 9,5% em comparação com o grupo controle. Já LD e LC apresentaram as respectivas inibições tumorais de 79,4 ± 9,6% e 63,5 ± 5,5% (Figura 5). b c a FIGURA 5- Avaliação da atividade antitumoral da t-DCTN livre e de formas lipossomais contendo a da t-DCTN (LD) e o seu complexo de inclusão t-DCTN:HPβCD (LC) contra o tumor Sarcoma 180 inoculado em camundongos Swiss. Letras diferentes indicam que houve diferença significativa pelo Teste de Tukey (p<0,05). 97 A menor inibição tumoral de LC pode estar associada a complexação do fármaco com a HPβCD, pois sabe-se que as ciclodextrinas também exercem um retardamento na liberação do fármaco devido a complexação com o mesmo (Loftsson; Brewster, 1996). Estes resultados mostram que a nanoencapsulação aumenta a atividade antitumoral da tDCTN, confirmando que lipossomas são potentes carreadores para terapia antitumoral, aumentando a eficácia dos fármacos (Batista et al., 2007). Estudos para investigar a ação antitumoral da t-DCTN já haviam sido realizados. Grynberg et al. (1999) avaliou a ação antitumoral deste bioativo em camudongos fêmeas DBA/2 em dois modelos experimentais de tumores ascíticos, sarcoma-180 (S-180) e carcinoma de Erlich (CE), sendo o aumento do tempo de sobrevida dos camundongos tratados com a t-DCTN comparado com o grupo não-tratado (T/C%) determinado para avaliar esta atividade (T/C% ≥125, atividade antitumoral significativa). Após administração intraperitoneal (i.p.), a t-DCTN apresentou atividade contra S-180 e CE, obtendo respectivamente T/C% de 128 e 140. Melo et al. (2004) utilizou camundongos machos BALB/c com tumor ascítico de Erlich para testar o efeito antitumoral da t-DCTN com doses de 2,5 a 20 mg/Kg de peso e, na dose de 20 mg/kg, a sobrevida dos animais teve um significante aumento de 80%. Análise histopatológica As análises histopatológicas do tumor e do fígado dos animais não-tratados e tratados com a t-DCTN livre e as suspensões coloidais LD e LC estão ilustradas nas figuras 6 e 7, respectivamente. Microfotografias do tumor revelou células pleomórficas e anaplásicas, com relações núcleo-citoplasma aumentadas. Os núcleos das células neoplásicas, intensamente corados, demonstravam cromatina frouxa e nucléolos proeminentes. Observou-se também mitoses típicas e atípicas. O estroma era constituído por escassas fibras colágenas e delicados capilares. Áreas de necrose variáveis e focos de hemorragia também foram detectados, além da invasão do tumor em tecido muscular, tecido adiposo, nervos e vasos sanguíneos, caracterizando, portanto, um comportamento agressivo local. 98 FIGURA 6- Análise histopatológica do tumor dos animais (HE, 200x): A- placebo; Bsuspensão de t-DCTN em Tween a 5%; C- LD; D-LC. Setas pretas: indicam a área de necrose tumoral. Setas vermelhas: invasão do tumor no tecido adiposo. Seta amarela: invasão do tumor no tecido muscular. Como mostra a figura 6, áreas extensas de necrose e infiltrado inflamatório crônico foram observadas no tumor dos camundongos do grupo tratado com LD (6D) e LC (6C), quando comparados com os grupos controle (6A) e tratado com suspensão de t-DCTN (6B). Uma maior redução, portanto, da área tumoral foi encontrada em camudongos tratados com LD. A menor área de necrose provocada por LC nos tumores, em comparação com LD, também está de acordo com o resultado da inibição tumoral (Figura 5). Esses resultados reforçam o mecanismo de ação sugerido por Anazzetti et al. (2004) que a tDCTN pode reagir com o oxigênio molecular, formando peróxido de hidrogênio e, 99 consequentemente, altera o equilíbrio intracelular de oxi-redução. O estresse oxidativo provocado por esta reação representa um importante papel na citotoxicidade da t-DCTN, pois se os radicais livres estiverem em altas concentrações causam a necrose (Pallardy et al. ,1997). O estresse oxidativo também desempenha um papel importante na hepatotoxicidade causada pela t-DCTN, pois esta molécula inibe nos hepatócitos a enzima mitocondrial succinato desidrogenase, produzindo metabólitos tóxicos (Melo et al., 2004). Por esta razão, o fígado dos animais foram avaliados. Este órgão apresentou arquitetura lobular com veias hepáticas regularmente distribuídas nos animais. O sistema porta de todos os camundongos estava bem conservado. No seio do lóbulo, os hepatócitos dos animais do grupo controle apresentaram na grande extensão do parênquima elementos isomorfos, com os hepatócitos bem preservados. No entanto, nos animais tratados, com solução de t-DCTN, LD e LC, foram identificadas áreas focais de esteatose microvesicular e degeneração dos hepatócitos (Figura 7). Estes resultados estão de acordo Rodríguez et al. (2004), que avaliou a toxicidade subaguda da t-DCTN em ratos Wistar e observou algumas alterações histopatológicas no fígado causadas pela trans-desidrocrotonina (tumefação turva, degeneração microvacuolar e alterações nucleares). A microesteatose e a degeneração celular foi mais acentuada nos hepatócitos dos camundogos tratados com a suspensão de t-DCTN (Figura 7B). Observaram-se poucas alterações no fígado dos animais tratados com LD (7D) e menos ainda nos tratados com LC (7C). Esta diminuição da hepatotoxicidade nos camundongos tratados com LD e LC pode ser devida a uma menor concentração do fármaco no fígado pelo acúmulo da t-DCTN e do complexo de inclusão t-DCTN:HPβCD no tumor pelo possível direcionamento passivo dos lipossomas. Além disso, já é comprovada uma diminuição da hepatotoxicidade da t-DCTN pela formação do complexo de inclusão com a ciclodextrina (Côrrea et al., 2005). Por isso, ocorreu maior conservação do fígado dos camundogos tratados com LC. 100 FIGURA 7- Análise histopatológica do fígado dos animais (HE, 400x): A- placebo; Bsuspensão de t-DCTN em Tween a 5%; C- LD; D-LC. Setas pretas: sistema porta. Setas brancas : esteatose microvesicular (degeneração microvacuolar) nos hepatócitos. Hematologia Não houve alterações significativas na concentração de hemoglobina (Hb), no hematócrito (Hct), no volume corpuscular médio (VCM), na hemoglobina corpuscular média (HCM), na concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM), na largura de distribuição dos eritrócitos (RDW) e na contagem de glóbulos vermelhos (RBC) dos camundogos não tratados e tratados (Tabela IV). Os achados hematológicos não mostram qualquer efeito relacionado ao tratamento e não há diferença significativa em relação ao grupo controle. Nenhuma redução significativa nos níveis de leucócitos ocorreu com os animais tratados com a solução de t-DCTN, LC e LD em comparação com o grupo não 101 tratado. No entanto foi observado uma diminuição crescente no número de plaquetas nos animais tratados com a suspensão de t-DCTN, LC e LD na respectiva ordem (Tabela IV). Estes resultados sugerem que a t-DCTN em solução e as suspensões lipossomais LC e LD não causaram toxicidade hematológica nos animais tratados. TABELA IV- Análise hematológica em camundongos tratados com a suspensão de tDCTN e com lipossomas contendo o complexo de inclusão t-DCTN:HPβCD (LC) e a tDCTN (LD). Parâmetros Tratamentos hematológicos Placebo t-DCTN LC LD Hb (g/dl) 16,35 ± 0,64 17,09 ± 0,99 18,18 ± 0,50 17,60 ± 1,02 Hct (%) 51,75 ± 1,35 51,83 ± 3,01 55,98 ± 7,17 52,21 ± 3,71 VCM (μm3) 55,23 ± 3,46 52,31 ± 2,70 53,47 ± 4,31 50,05 ± 0,80 HCM (pg) 17,47 ± 0,50 17,27 ± 0,97 17,43 ±1,03 16,97 ± 0,34 CHCM (g/dl) 31,68 ± 1,74 32,96 ± 0,42 32,78 ± 3,48 33,76 ± 0,70 RDW (%) 18,85 ± 1,21 15,84 ± 3,32 18,33 ± 3,16 20,12 ± 1,54 WBC (103/mm3) 10,48 ± 2,32 8,44 ± 1,40 8,30 ± 1,94 7,62 ± 1,34 0,70 ± 0,07 0,62 ± 0,11 0,45 ± 0,13 Plaquetas(106/mm3) 1,30 ± 0,10 CONCLUSÕES Os resultados demonstram que foram obtidas formulações lipossomais contendo a tDCTN e o seu complexo de inclusão t-DCTN:HPβCD com alta eficiência de encapsulação, mesmo após a liofilização. Eles também se apresentaram estáveis em meio a testes de estabilidade a curto prazo e a longo prazo, apresentando e mantendo as características físico-químicas desejáveis para uso intravenoso, como tamanho de partícula, índice de polidispersão, pH e potencial zeta. O encapsulamento da t-DCTN e o seu complexo de inclusão t-DCTN:HPβCD em lipossomas potencializou a atividade antitumoral in vivo contra o Sarcoma-180 em 102 camundongos em comparação com a suspensão de t-DCTN. Assim como, diminuiu o efeito hepatotóxico da molécula. Uma diminuição crescente no número de plaquetas foi observada nos animais tratados com a t-DCTN e com os lipossomas contendo a t-DCTN e o complexo t-DCTN:HPβCD, porém não foi observada nenhuma toxicidade hematológica nos animais tratados. Portanto, o desenvolvimento das formulações lipossomais contendo a t-DCTN e o seu complexo de inclusão t-DCTN:HPβCD consiste num importante avanço na utilização deste fármaco na terapia, repercutindo em um impulso técnico-científico, podendo ser uma alternativa em potencial no combate ao câncer. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (FACEPE) pelo suporte financeiro. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABDELWAHED, W.; DEGOBERT, G.; STAINMESSE, S.; FESSI, H. Freeze-drying of nanoparticles: Formulation, process and storage considerations. Adv. Drug Deliv. Rev., v.58, p. 1688– 1713, 2006. AGNER, A.R.; MACIEL, M.A.M.; PINTO, A.C.; CÓLUS, I.M.S. Antigenotoxicity of trans-dehydrocrotonin, a clerodane diterpene from Croton cajucara. Planta Med. v. 67, p. 815-819, 2001. AGNER, A.R.; MACIEL, M.A.M.; PINTO, A.C.; PAMPLONA, S.G.S.R.; CÓLUS, I.M.S. 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CONCLUSÕES Uma metodologia de doseamento da t-DCTN por espectrofotometria UV foi validada de acordo com as diretrizes do ICH, e perfeitamente aplicada aos complexos de inclusão t- DCTN:HPβCD 1:1 mol/mol preparados para incorporação em lipossomas; Com a trealose na concentração de 10%, foi possível liofilizar lipossomas de PC:CH:SA (7:2:1; 120 mM) e obter um liófilo estável; Lipossomas contendo a t-DCTN (LD) e o complexo de inclusão t-DCTN:HPβCD (LC), com quantidades equivalentes a 1 mg/mL do fármaco, foram obtidos com sucesso e com uma alta eficiência de encapsulação, mesmo após a liofilização, confirmando a estabilidade dos lipossomas; LD e LC apresentaram-se estáveis após os testes de estabilidade a curto prazo e a longo prazo, apresentando e mantendo as características físico-químicas desejáveis para uso intravenoso, como tamanho de partícula, índice de polidispersão, pH e potencial zeta; A complexação da t-DCTN com a ciclodextrina HPβCD não influenciou o efeito burst, a velocidade de liberação da t-DCTN e nem a quantidade final de droga liberada; O encapsulamento da t-DCTN e o seu complexo de inclusão t-DCTN:HPβCD em lipossomas potencializou a atividade antitumoral in vivo contra o Sarcoma-180 em camundongos em comparação com a suspensão de t-DCTN. LD, por sua vez, apresentou uma maior inibição tumoral em relação a LC; 111 Na análise histopatológica dos tumores, áreas extensas de necrose e infiltrado inflamatório crônico foram observadas no tumor dos camundongos do grupo tratado com LD e LC , quando comparados com os grupos controle e tratado com suspensão de t-DCTN. No entanto, uma maior área de necrose foi observada nos tumores dos animais tratados com LD; O encapsulamento da t-DCTN e o seu complexo de inclusão t-DCTN:HPβCD em lipossomas diminuiu o efeito hepatotóxico da molécula; Uma diminuição crescente no número de plaquetas foi observada nos animais tratados com a t-DCTN e com os lipossomas contendo a t-DCTN e o complexo tDCTN:HPβCD, porém não foi observada nenhuma toxicidade hematológica nos animais tratados; O desenvolvimento das formulações lipossomais contendo a t-DCTN e o seu complexo de inclusão t-DCTN:HPβCD consiste num importante avanço na terapêutica deste fármaco, repercutindo em um impulso técnico-científico, podendo ser uma alternativa em potencial no combate ao câncer. 6. PERSPECTIVAS Novas perspectivas surgem no intuito de utilizar lipossomas contendo t-DCTN acrescidos de moléculas sinalizadoras (sítio-específicas) e furtivas no combate ao câncer. 112 ANEXOS 113 ANEXO I- Carta de aprovação do comitê de ética para o estudo in vivo 114 ANEXO II- Resumos publicados em congressos 1. MORAIS, W.A. ; SALVIANO, T. L ; BATISTA, R. S. ; CARVALHO, G. G. ; MACIEL, M.A.M. ; SANTOS-MAGALHÃES, N.S. . Validação de método espectrofotométrico UV para a desidrocrotonina em complexo de inclusão com hidroxipropil-beta-ciclodextrina. In: 32ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química, 2009, Fortaleza. 32ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química, 2009. v. QA-034. 2. MORAIS, W.A. ; SALVIANO, T. L ; MACIEL, M.A.M. ; SANTOS-MAGALHÃES, N.S. . CARACTERÍSTICAS DE SOLUBILIDADE E PARTIÇÃO DA DESIDROCROTONINA. In: I Workshop Internacional em Biotecnologia and II Encontro Alpha-Valnatura, 2008, Recife. I Workshop Internacional em Biotecnologia and II Encontro Alpha-Valnatura, 2008. v. 1. p. IND-09-IND-09. 3. MORAIS, W.A. ; SALVIANO, T. L ; MACIEL, M.A.M. ; SANTOS-MAGALHÃES, N.S. . DEHYDROCROTONIN AND HYDROXYPROPYL-B-CYCLODEXTRIN INCLUSION COMPLEX. In: In 37th Annual Meeting of SBBq, 2008, Águas de Lindóia. 37th Annual Meeting of SBBq and XI Congress of the PABMB. São Paulo : Sociedade Brasileira de Bioquímica e Biologia Molecular, 2008. v. 37. p. 76-76. 4. MORAIS, W.A. ; SALVIANO, T. L ; PINTO, H. C. B ; MACIEL, M.A.M. ; SANTOSMAGALHÃES, N.S. . SOLUBILITY AND PARTITION COEFFICIENT OF DEHYDROCROTONIN. In: I Simpósio Nacional em Diagnóstico e Terapêutica Experimental e IV Jornada Científica do LIKA, 2008, Recife. I Simpósio Nacional em Diagnóstico e Terapêutica Experimental e IV Jornada Científica do LIKA, 2008. v. 1. p. C.6-C.6. 115 5. MORAIS, W.A. ; SALVIANO, T. L ; SILVA, D. M. A. ; MACIEL, M.A.M. ; SANTOS-MAGALHÃES, N.S. . PREPARATION AND CHARACTERIZATION OF DEHYDROCROTONIN:. In: I Simpósio Nacional em Diagnóstico e Terapêutica Experimental e IV Jornada Científica do LIKA, 2008, Recife. I Simpósio Nacional em Diagnóstico e Terapêutica Experimental e IV Jornada Científica do LIKA, 2008. v. 1. p. C.2-C.2. 6. MORAIS, W.A. ; SALVIANO, T. L ; BATISTA, R. S. ; MACIEL, M.A.M. ; SANTOSMAGALHÃES, N.S. . VALIDATION OF UV-SPECTROSCOPIC METHOD FOR DETERMINING. In: I Simpósio Nacional em Diagnóstico e Terapêutica Experimental e IV Jornada Científica do LIKA, 2008, Recife. I Simpósio Nacional em Diagnóstico e Terapêutica Experimental e IV Jornada Científica do LIKA, 2008. v. 1. p. C.16-C.16. 7. LAPENDA, T. L. S. ; MORAIS, W.A. ; SILVA, L. M. ; MACIEL, M.A.M. ; SANTOSMAGALHÃES, N.S. . The enhancement of complexation efficiency of dehydrocrotonin in inclusion complexes with hydroxypropyl-β-cyclodextrin using a cosolvent. In: 7th International Congress of Pharmaceutical Sciences, 2009, Ribeirão Preto. 7th International Congress of Pharmaceutical Sciences, 2009. 8. 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