Trabalho Barbara - texto - Sociedade Brasileira de Sociologia

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Universidade Federal de Goiás
Faculdade de Ciências Sociais
Núcleo de Estudos sobre o Trabalho
CONSUMO E APRESENTAÇÃO DO SELF NOS SALÕES:
ANÁLISE SOCIOLÓGICA DOS SERVIÇOS DE BELEZA E HIGIENE
Autora:Bárbara Laryssa de Alencar Nogueira - [email protected] - Co-Autora:Vanessa Alexandre de Souza - [email protected]
Orientador: Jordão Horta Nunes - [email protected]
PALAVRAS-CHAVE: Sociologia do trabalho; interacionismo simbólico; serviços de beleza e higiene; identidade profissional.
INTRODUÇÃO
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O subsetor de beleza e higiene está associado a uma cultura de consumo
que inclui representações e práticas simbólicas específicas e à emergência
de uma cultura do trabalho relacionada a identidades ocupacionais e
serviços desempenhados no setor. A organização do trabalho no setor de
beleza e higiene constitui apenas um dos pontos de partida da pesquisa
proposta, já que o foco principal está nas representações sociais (Cf.
JODELET, 2001) a respeito do próprio trabalho em serviços de beleza e nas
próprias práticas de consumo e no habitus (Cf.BOURDIEU, 1982; 2003) de
trabalhadores e consumidores de tais setores.
Existe a influência da "beleza" no mercado de trabalho, transformando-a em variável econômica importante (DWECK, 1999). A precariedade na
aparência está associada a uma renda menor; os que recorrem mais a serviços de beleza também são os que têm maior sucesso na busca de bons
empregos e colocações. As pessoas de boa aparência ganham mais do que as consideradas de má aparência. A busca pela adaptação aos padrões
estéticos e pela aparência de posição social mais elevada, gera aumento na procura e na demanda de serviços pessoais na área de higiene e beleza.
O trabalho e o consumo no setor de beleza e higiene constitui, devido às
situações de necessária co-presença e interação face-a-face para se
efetivarem, uma boa perspectiva de análise por parte do interacionismo
simbólico e da etnometodologia. Tais perspectivas são representadas por
autores como GOFFMAN (2003), STRAUSS (1999) e GARFINKEL (1996).
Segundo o interacionismo simbólico, a partir do self o indivíduo pode dirigir e controlar o seu comportamento para agir em sociedade. O self
serve para conectar as formas de organização presentes na sociedade às interações sociais das pessoas. O self é construído nas interações face-aface, através das definições feitas por outros que servirão de referencial para que o indivíduo possa ver-se a si mesmo.
De acordo com a teoria sociológica, a identidade é construída por uma dualidade, a identidade para si e a identidade para o outro. O indivíduo
sabe quem é pelo olhar do outro. A identidade é resultado dos diversos processos de socialização que constroem os indivíduos e definem as
instituições. É na atividade com os outros, nas interações sociais, que um indivíduo é identificado e levado a aceitar ou recusar as identificações
que recebe dos outros e das instituições. A identidade de uma pessoa não é formada independentemente, é necessária a participação dos outros
na sua formação.
Para realizar a construção da identidade profissional e portanto social, os indivíduos devem entrar em relações de trabalho, participar de alguma
forma das atividades coletivas em organizações. A construção identitária adquire uma importância particular no campo do trabalho, do
emprego e da formação, para a consolidação da identidade social e atribuição dos status sociais.
Os modos de construção das categorias sociais a partir dos campos escolar e profissional são mecanismos da socialização profissional. As esferas
do trabalho e do emprego constituem áreas fundamentais das identificações sociais dos indivíduos. O emprego é fundamental para os processos
identitários e a formação está ligada a ele. O status de emprego e os níveis de formação não são unicamente definidores das identidades sociais,
mas constituem uma parte importante na definição das identidades. Antes de se identificar pessoalmente a um grupo profissional ou a um tipo
de formação, o indivíduo, herda outras identidades (sexual, étnica, econômica, etc.).
A construção da identidade "profissional" é resultado da confrontação do indivíduo com o mercado de trabalho, que resultará em uma trajetória
de emprego, com a formação em um tipo de atividade. O processo para a formação em um tipo de atividade está relacionado com outras questões
sociais, a estratificação social, as discriminações étnicas e sexuais e as desigualdades de acesso às diferentes carreiras profissionais.
Segundo Bourdieu, uma determinada esfera de atividade social se autonomiza e surge o campo, um espaço social constituído de posições
sociais, onde cada indivíduo ocupa uma posição, que é hierárquica. As pessoas ocupam posições dentro de cada campo de acordo com o capital
que possuem. Existem condições objetivas, chamadas por Bourdieu de capital cultural, social, econômico, etc, que levam o sujeito a ter "vocação"
para determinada profissão.
O setor de serviços absorve a mão-de-obra de baixa qualificação, excluída da industrialização. O setor de beleza e higiene está inserido no
subsetor de serviços intitulado "serviços pessoais". Tais serviços são relativamente simples, não exigem um conhecimento tecnológico. O
segmento de beleza e higiene é composto por um grupo diversificado de profissionais: cabeleireiros, manicures, pedicures, massagistas,
esteticistas, podólogos, barbeiros e depiladores.
Os profissionais que atuam na área de serviços de beleza e higiene não possuem vínculos trabalhistas, são autônomos, trabalham sem carteira
assinada e por conta própria. São pagos por comissões, de acordo com a quantidade de serviços prestados. Essas funções são ocupadas em sua
maioria por mulheres.
A ocupação representa uma possibilidade de entrada para o mercado de
trabalho para mulheres que não possuem qualificação profissional. O
conjunto das atividades dos serviços de beleza é tradicionalmente
reconhecido como tarefa feminina. Manicura, por exemplo, é uma
atividade basicamente exercida pelas mulheres.
O setor emprega pessoas com baixo grau de escolaridade que adquirem os
conhecimentos necessários para atuar profissionalmente. A maioria das
atividades deste segmento exige um treinamento mínimo e não requer
mão-de-obra qualificada. Há mais profissionais com baixo nível de
escolaridade do que com maior nível de instrução. O baixo grau de
instrução é uma constante da força de trabalho brasileira, não é uma
característica exclusiva do segmento de higiene pessoal.
Há pessoas que atuam na área e possuem nível de escolaridade superior. O
que demonstra que o trabalho na área de higiene e beleza pode ser também
uma escolha profissional. Essas atividades são realizadas em
estabelecimentos de pequeno porte, por exigirem pouco capital para
instalação.
CONCLUSÕES
As relações dos profissionais da área da beleza com os consumidores, se caracterizam pela interação face-a-face (GOFFMAN,2003). Há uma
aproximação maior, ocasionada por fatores sociais, entre cliente e profissional do que em outros tipos de serviços pessoais, muitas vezes cria-se um
vínculo de amizade. Os clientes se sentem em um ambiente propício para comentar fatos de sua vida pessoal. As conversas giram em torno de
assuntos diversos, desde programas de televisão até problemas pessoais.
Este fenômeno de intimidade ocorre com maior freqüência em salões de beleza de pequeno a médio porte, onde a estrutura de atendimento é mais
informal e familiar. As interações entre trabalhadores e clientes no subsetor considerado são mais ricas em termos simbólicos e sociais do que
ocorre, por exemplo, em outros setores como comércio e transportes, ou até em outras áreas de serviços pessoais.
FONTE DE FINANCIAMENTO
A Fundação de Apoio a Pesquisa do Estado de Goiás (FAPEG) financiou parte da pesquisa aqui relatada, como auxílio no Projeto de Pesquisa,
«Trabalho e qualificação nos serviços pessoais e distributivos», coordenado pelo professor orientador neste subprojeto, Jordão Horta Nunes.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
OBJETIVOS
BOURDIEU, Pierre. Gostos de Classe e Estilo de Vida. In: ORTIZ, Renato (org.). Pierre Bourdieu. São Paulo: Ática, 1982, p. 82-121
BOURDIEU, Pierre. Las estructuras sociales de la economia. Barcelona: Anagrama, 2003.
Esta pesquisa tem como objetivo analisar, sob o ponto de vista da Sociologia do Trabalho e do consumo, o trabalho nas áreas de beleza e higiene,
como integrantes do subsetor de serviços pessoais no Brasil e, especificamente, na região metropolitana de Goiânia.
Os objetivos específicos consistem em analisar a organização de trabalho formal e informal na área da higiene pessoal, envolvendo ocupações
tradicionais em salões de beleza, como cabeleireiros e manicures; pesquisar a cultura do trabalho e a cultura do consumo dos serviços de beleza e
higiene; identificar as representações sociais e os habitus relacionados ao trabalho e ao consumo de serviços de beleza e higiene; analisar as
interações entre trabalhadores(as), consumidores e trabalhadores/clientes dos serviços de beleza e higiene; analisar a formação da identidade
social e ocupacional/profissional dos trabalhadores no setor.
DWECK, Ruth Helena. A beleza como variável econômica - reflexos nos mercados de trabalho e de bens de serviços. Rio de Janeiro: IPEA, jan. 1999.
(Texto para Discussão, N.º 549).
GARFINKEL, Harold. Studies in ethnomethodology. Cambridge: Polity, 1996.
GOFFMAN, Erving. A representação do eu na vida cotidiana. 13ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003.
GUTEK, Barbara A. et al. Features of Service Relationships and Encounters.
Work and occupations. Nashville, v. 27, n. 8, p. 319-352, 2000.
METODOLOGIA
A primeira etapa da pesquisa consistiu no levantamento da bibliografia relacionada ao setor de serviços e, especificamente, a serviços de beleza e
higiene sob o ponto de vista sociológico.
A segunda fase consistiu na aplicação de entrevistas aos prestadores de serviços de beleza e higiene, sobre variáveis de opiniões e atitudes,
relacionadas à identificação e caracterização de representações e habitus. A análise de entrevistas foi precedida de um treinamento no LAMPCS
com um aplicativo específico (Aquad) de análise de dados qualitativos e de uma etapa de codificação das transcrições de entrevistas.
As entrevistas foram realizadas nos salões de beleza do centro de Goiânia, no trecho compreendido entre Rua 8, Rua 24, Rua 14 e Rua 3. A Rua 20
foi a primeira rua de Goiânia. O Palácio do Governo, a residência de Pedro Ludovico Teixeira, a Faculdade de Direito, foram instalados
inicialmente na Rua 20. A maioria destas construções foi demolida. Entre a Rua 20 e o córrego Botafogo se formou a Rua 24, onde foram
construídas residências, habitadas, em sua maioria, por ex-moradores da Cidade de Goiás. A Rua 20 era o ponto oficial da elite da cidade.
Esta região se difere das outras áreas do centro da cidade, por preservar laços de sociabilidade típicos de um bairro de cidade de interior. Os
prédios que foram construídos nessa área, são habitados por famílias tradicionais de pioneiros. Os estabelecimentos de higiene e beleza
instalados atendem a essa clientela.
HARDT, M.; NEGRI, A.. Império. Rio de Janeiro: Record, 2001.
JODELET, D. Representações sociais: um domínio em expansão. In: _____. As representações sociais. Rio de Janeiro: UERJ, 2001, p. 17-44.
KOWARICK, Lúcio. Trabalho e vadiagem. A Origem do trabalho livre no Brasil. 2ed. São Paulo: Paz e Terra, 1994.
STRAUSS, Anselm L. Espelhos e máscaras: a busca da identidade. São Paulo: Edusp, 1999.
GREMLER, David D.; GWINNER, Kevin P. Customer-Employee Rapport in Service Relationships. Journal of Service Research. Coral Gables, v. 3, n.
1, p.82-104, august 2000.
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