remodelamento maxilar secundário à osteodistrofia renal em cão

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42º Congresso Bras. de Medicina Veterinária e 1º Congresso Sul-Brasileiro da ANCLIVEPA - 31/10 a 02/11 de 2015 - Curitiba - PR
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REMODELAMENTO MAXILAR SECUNDÁRIO À OSTEODISTROFIA
RENAL EM CÃO- RELATO DE CASO
Palavras-chave: osteodistrofia, doença renal crônica, paratormônio.
RODRIGUES, G. G.1; AZEVEDO, J. S.2; LUVIZOTTO, M. C. R.3;
FERREIRA, W. L.3; ANDRADE, A. L.3
A Doença Renal Crônica (DRC) é uma afecção comum na clínica de
animais de companhia, e que, além de promover alterações estruturais
no tecido renal, cursa com repercussões sistêmicas, muitas vezes por
mecanismos compensatórios. O presente relato teve como objetivo
descrever um caso de osteodistrofia secundária à DRC em um cão, e
alertar para as diversas apresentações de suas manifestações,
secundárias a esta doença.
JAW REMODELING SECONDARY TO RENAL OSTEODYSTROPHY
IN A DOG- CASE REPORT
Key words: osteodystrophy, cronic kidney disease, parathormone
RODRIGUES, G. G.1; AZEVEDO, J. S.2; LUVIZOTTO, M. C. R.3;
FERREIRA, W. L.3; ANDRADE, A. L.3
Chronic Kidney Disease (CKD) is a common condition in small animal
clinic, and that, in addition to promoting structural changes in the kidney
tissue, courses with systemic repercussions, often by compensatory
mechanisms . This report aimed at describing a case of osteoarthritis
secondary to CKD in a dog, and alert to the various presentations of its
manifestations secondary to this disease.
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Mestranda do Programa de Ciência Animal da Faculdade de Medicina
Veterinária, Unesp, campus de Araçatuba.
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Médica Veterinária Residente do Hospital Veterinário “Luiz Quintiliano de
Oliveira”- Faculdade de Medicina Veterinária, Unesp, campus Araçatuba.
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Professor do Departamento de Clínica, Cirurgia e Reprodução Animal da
Faculdade de Medicina Veterinária, Unesp, campus de Araçatuba.
A doença renal crônica (DRC) é caracterizada pela perda de 75% da
função de ambos os rins e, devido à ela, podem ocorrer alterações
locais e sistêmicas, muitas vezes por mecanismos compensatórios. O
hiperparatireoidismo secundário renal ou osteodistrofia renal (OR)
ocorre devido à diminuição de excreção de fósforo pelos rins
comprometidos. Concomitantemente, há redução da produção renal da
forma ativa da vitamina D3 com consequente diminuição da absorção
intestinal de cálcio. Adjutoriamente, a reabsorção prejudicada de cálcio
nos rins, redunda em concentrações plasmáticas de cálcio ionizado
baixas, com agravamento do quadro. Assim, a diminuição da
concentração de vitamina D3 e de cálcio estimulam a secreção de
paratormônio (PTH) que, por sua vez, facilita a excreção renal de fósforo
com aumento da concentração sérica de cálcio por aumento da
reabsorção renal de cálcio e da absorção de cálcio ósseo e trato
gastrointestinal. Além da osteodistrofia, podem ocorrer supressão da
medula óssea e mineralização de tecidos moles. (Grauer, 2010).
Objetiva-se, com este relato, descrever um caso de OR por ser incomum
e, também, alertar aos clínicos que esta enfermidade deve estar
elencada entre os diagnósticos diferenciais de afecções faciais em cães.
Um canino, macho, nove anos, raça Boxer, foi atendido com queixa de
aumento de volume facial (figura 1), disorexia, hiporexia, respiração oral
e
ruidosa,
além
de
êmese
intermitente,
com
evolução
de
aproximadamente 30 dias. Tratado previamente para hemoparasitose
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em clínica veterinária privada, por apresentar alterações hematológicas
sugestivas desta afecção. O animal habitava em quintal de residência
em área urbana, sem contactantes, dieta composta de ração comercial
seca comum para cães. Durante o exame clínico, pôde ser observada
emaciação grave, respiração ruidosa e, predominantemente, oral,
aumento de volume importante em maxila, além de coxim nasal
ressecado e sialorréia. A inspeção da cavidade oral revelou oligodontia,
posição irregular de dentes pré-molares e caninos, abaulamento firme
da região gengival (figura 2) e mobilidade do palato duro, com aumento
de sensibilidade à palpação.
O paciente foi submetido à avaliação complementar: as radiografias
simples do tórax e cabeça demonstraram padrão pulmonar senil e
completa perda de definição óssea maxilar, com densidade diminuída e
fratura patológica em mandíbula, respectivamente. Na análise citológica
foram observadas células gigantes, provavelmente devido à deposição
de cálcio e de fagocitose dos mesmos, promovendo a fusão de
macrófagos
e
levando
a
formação
destas
células.
Anemia
arregenerativa, azotemia renal e hiperfosfatemia como achados
hematológicos e bioquímicos, respectivamente. Densidade urinária
baixa, demonstrando hipostenúria e proteinúria. Com a avaliação clínica
e os achados de exames complementares descritos acima, suspeitou-se
de osteodistrofia renal e descatando-se a suspeita clínica de neoplasia
oral. Foi instituída terapia à base de dieta apropriada para pacientes
nefropatas e processada para consistência pastosa devido à dificuldade
de mastigação e fratura patológica apresentadas pelo animal. Ainda,
hidróxido de alumínio por via oral após todas as refeições e analgesia
(cloridrato de tramadol 4mg/kg via oral, a cada 8 horas). As alterações
sistêmicas secundárias à doença renal crônica são comuns em animais
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de companhia e devem ser diagnosticadas precocemente para que o
manejo adequado seja orientado ao guardião. Tais medidas podem
proporcionar tanto a diminuição da velocidade de progressão da doença
renal, quanto a reversão ou redução do impacto de suas implicações ao
paciente. Apesar dos efeitos do hiperparatireoidismo secundário renal
estarem bem esclarecidos, os sinais clínicos graves relacionados com a
síndrome são raros. Apresentações como o remodelamento do osso da
maxila, deformidade facial, perda dentária e dispnéia são incomuns e
estiveram presentes no quadro clínico descrito acima. As fragilidades
ósseas e fraturas patológicas tendem a envolver a região da cabeça
(maxila e mandíbula) com maior frequência em relação a outras regiões
do corpo, nos cães. (Polzin et. al., 2004). Neste trabalho foram relatadas
as consequências que a doença renal crônica, uma afecção comum na
rotina do clínico de animais de companhia pode ocasionar na anatomia,
fisiologia e qualidade de vida do animal quando diagnosticada
tardiamente. Salienta-se que a OR seja elencada entre as enfermidades
que cursem alterações ósseas, principalmente àquelas que gerem
alterações faciais graves alusivas à tumores de cabeça.
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Figura 1: Cão da raça Boxer, com histórico de
dispneia e disfagia há aproximadamente 30
dias. Notar deformidade facial em região
maxilar.
Figura 2: Inspeção da cavidade oral de cão
com histórico de dispneia e disfagia há
aproximadamente trinta dias. Observa-se
deslocamento lateral de dentes pré-molares
e molares, aumento de volume em região
gengival e ulcerações em mucosa (setas).
Referências
GRAUER, G. F. Insuficiência Renal Aguda e Doença Renal Crônica.
In: Medicina Interna de Pequenos Animais. 4ªed. Elsevier: Rio de
Janeiro, 2010. P. 648-662.
POLZIN, D. J.; OSBORNE, C. A.; JACOB, F.; ROSS, S. Insuficiência
Renal Crônica. In: Tratado de Medicina Interna Veterinária- Doenças do
cão e do gato. 5ª ed. Guanabara-Koogan: Rio de Janeiro, 2004. v.2. p.
1721-1750.
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