Page 1 Universidade Federal de São Carlos Centro de Ciências Exatas e Tecnologia Departamento de Matemática Mecânica dos Fluidos Disciplina: Trabalho de Graduação A e B Responsável: Prof. Dr. Artur Darezzo Aluno: Ricardo de Sá Teles Orientador: Prof. Dr. José Antonio Salvador São Carlos, 15 de dezembro de 2003. Page 2 Resumo A lista de aplicações dos princípios da mecânica dos fluidos é bastante extensa e estudamos algumas delas nos Trabalhos de Graduação A e B. O nosso objetivo principal é chamar a atenção para o fato da mecânica dos fluidos não ser estudada por interesse puramente acadêmico; ao contrário, é um assunto de larga importância nas nossas experiências diárias e ela obteve um grande avanço com o uso das modernas tecnologias. Page 3 0. Introdução A mecânica dos fluidos lida com o comportamento dos fluidos em repouso ou em movimento. É lógico começar com uma definição informal de fluido: uma matéria que se deforma continuamente sob a aplicação de uma tensão de cisalhamento (tangencial), não importa quão pequena ela possa ser. Assim, os fluidos compreendem as fases líquidas e gasosas (de vapor) das formas físicas nas quais a matéria existe. A distinção entre um fluido e o estado sólido da matéria é clara quando você compara os seus comportamentos. Um sólido deforma-se quando uma tensão de cisalhamento lhe é aplicada, mas não continuamente. Por que estudar mecânica dos fluidos? O conhecimento e a compreensão dos princípios básicos e dos conceitos da mecânica dos fluidos são essenciais para analisar qualquer sistema no qual um fluido é o meio produtor de trabalho. Durante a realização do Trabalho de Graduação A revisamos os seguintes tópicos: o Teorema Fundamental do Cálculo, Teorema de Green, Teorema da Divergência, Teorema de Stokes, Espaço Euclidiano, Produto Escalar, Produto Vetorial, Bases, Álgebra Tensorial e Cálculo Tensorial, ferramentas indispensáveis ao estudo de Mecânica dos Fluidos. Em seguida, estumos Cinemática do Contínuo que compõe um ramo da mecânica em que materiais são tratados como contínuos e constituídos de volumes infinitesimais de matéria. Na segunda parte do trabalho, TG B, foi estudado os seguintes tópicos: Tensão, Fluidos, Fluidos compressíveis e incompressíveis, Fluido Newtoniano Viscoso, Escoamento de Fuidos, Equação de Energia e Escoamento Irrotacional. O trabalho está sendo desenvolvido no software MAPLE V e no WORD. Page 4 1. 1.1 Cinemática do Contínuo Descrição de Movimentos de um Contínuo Suponha que um corpo no instante t = t0 ocupa uma certa região do espaço. A posição espacial de uma partícula pode ser descrita pelo vetor posição X, medido a partir de um ponto fixo. Seja x o vetor posição da partícula no instante t. Então, temos x = x(X,t) com x(X,t0) = X (1.1) e essas equações descrevem o caminho de qualquer partícula que em t = t0 está na posição X (diferentes X's para diferentes partículas). A terna (X1,X2,X3) serve para identificar as diferentes partículas do corpo e é conhecida como coordenada material. 1.2 Descrições Material e Espacial Quando tratamos do movimento no contínuo, as quantidades físicas associadas com as partículas do corpo (temperatura, velocidade, etc) mudam com o tempo. Descrevemos estas mudanças como: 1 - Seguindo as partículas. Tal descrição é conhecida como descrição material ou descrição Lagrangiana. 2 - Observando as mudanças em locais fixos. Tal descrição é dita espacial ou Euleriana. A terna (x1,x2,x3) que situa as posições fixas de pontos no espaço físico é conhecida como coordenada espacial. 1.3 Derivada Material A taxa de variação com o tempo de uma quantidade (tal como velocidade ou temperatura, etc) de uma partícula material é chamada de derivada material. Denotaremos a derivada material por D . Dt i) Quando a descrição material de uma quantidade é usada, θ = θ(X1,X2,X3), então Page 5 Dθ ∂θ = Dt ∂t (Xi fixo) (1.2) ii) Quando a descrição espacial é usada θ = θ(x1,x2,x3) Dθ ∂θ = + v.gradθ Dt ∂t 1.4 (1.3) Tensão Principal Assumindo que o tensor tensão E é simétrico, então diremos que existem três direções mutuamente perpendiculares em relação as quais a matriz de E é diagonal. De um determinado E, as tensões principais são achadas pela equação característica de E, isto é, λ3 - I1λ2 + I2λ – I3 = 0 (1.4) onde I1, I2, I3 são chamados de escalares invariantes do tensor tensão. 1.5 Equação da Conservação de Massa Se seguirmos uma partícula durante o seu movimento, seu volume pode variar, porém sua massa total continuará inalterada. Na forma invariante, a equação da conservação de massa fica ρdiv + Dρ Dt 2. Tensão = 0 . (1.5) Consideramos agora a descrição de forças que atuam no interior de um corpo. Na teoria clássica do contínuo as forças internas de um corpo são introduzidas por meio dos conceitos de forças de corpo e forças de superfície. Exemplos de forças de corpo são a gravidade e a eletrostática. Vamos supor que é adequado descrever as forças de superfície através da definição de vetor tensão no ponto. 2.1 Vetor Tensão O vetor tensão tn num ponto P interno a um corpo é definido como o limite da Page 6 ∆F quando ∆A → 0 , onde ∆ F é a resultante das forças atuando numa ∆A razão pequena área ∆ A contendo o ponto P. O princípio da Tensão de Cauchy diz que se n é a normal unitária externa a um plano tangente, então o vetor tensão é dado por t = t(x,t,n) onde o escalar t denota o tempo. Aqui a dependência de n é linear, isto é, t( x, t, n ) = T ( x, t ) n , onde T é uma transformação linear, denominada de tensor tensão. 2.2 Tensões Principais Supondo que o tensor normal é, em geral, simétrico, há três direções principais que são mutuamente perpendiculares (autovetores de T). Os planos tendo essas direções como vetores normais são ditos planos principais. Sobre esses planos, o vetor tensão é normal ao plano (isto é, não há tensões de cisalhamento) e as tensões normais são ditas tensões principais. As tensões principais são obtidas pela equação característica de T que é dada por λ 3 − I1 λ 2 + I2 λ − I3 = 0 . 2.3 Tensão de cisalhamento máxima A tensão de cisalhamento máxima é igual a metade da diferença entre as tensões principais máxima e mínima e atua sobre o plano que divide o ângulo entre as direções das tensões máxima e mínima. A intensidade máxima da tensão de cisalhamento é dada pelo maior dos valores T1 − T2 2 2.4 , T1 − T3 2 , T2 − T3 2 . Equação do movimento - Princípio do Momento Linear Page 7 Na forma invariante, a equação do movimento é dada por div T + ρ B = ρ a Se a aceleração for nula, então a equação (5.11) se reduz a equação do equilíbrio div T + ρ B = 0 . 3. Fluido Newtoniano Viscoso 3.1 Fluidos Definimos um fluido como uma classe de materiais que não suporta uma tensão de cisalhamento sem que se deforme continuamente. Exemplos de fluidos são a água, ar e outros. Estudaremos um modelo especial de fluido em que a tensão de cisalhamento é diretamente proporcional à taxa de deformação. Esse modelo de fluido é chamado fluido Newtoniano. Quando um fluido está em movimento de corpo rígido, o vetor tensão sobre qualquer plano é normal ao plano. Assim, todo plano é principal. 3.2 Fluidos compressíveis e incompressíveis Para um fluido incompressível temos Dρ =0. Dt (3.2) Então segue da equação da conservação de massa que ∂ Dρ + ρ v = 0 ∂ xk k Dt 3.3 Equações da Hidrostática Com T ij = −p δ ij , as equações do equilíbrio ∂ T + ρ B = 0 , (3.3) i ∂ xj ij onde B i são as componentes do corpo de forças por unidade de massa, tornam-se Page 8 ∂ p = ρ Bi ∂ xi (3.4) Exemplo: Um tanque contendo um fluido homogêneo move-se horizontalmente para a direita com uma aceleração constante a, ache o ângulo θ de inclinação da superfície livre. Solução: As equações do movimento para o fluido são ∂ ρ a = − p , (i) ∂ x1 ∂ p , (ii) 0 = − ∂ x2 ∂ 0 = − p + ρ g . (iii) ∂ x3 De (ii), p independe de x2 . Da equação (i) p = −ρ a x1 + f( x3 ) (iv) e das equações (iii) e (iv) ∂ ∂ p= f = ρg. ∂ x3 ∂ x3 Assim f( x3 ) = ρ g x3 + cte isto é, p = −ρ a x1 + ρ g x3 + c . Sobre a superfície p = p 0 , a superfície é um plano dado por Page 9 ρ g x3 = ρ a x1 , isto é, x3 = a x1 g e tg( θ ) = 3.4 dx3 dx1 = a . g Fluido Newtoniano Um material é dito isotrópico se suas propriedades mecânicas independem do referencial. Um tensor com as mesmas componentes em relação a qualquer base retangular unitária é dito um tensor isotrópico. Assumindo que o estado de tensão para um fluido sob movimento de corpo rígido é dado por um tensor isotrópico, então considerando um fluido em movimento geral, é natural decompor o tensor tensão em duas partes T ij = −p δ ij + T ij ´ (3.5) em que os valores de T ij ´ dependem da taxa de deformação. Definimos agora uma classe de materiais chamados "Fluidos Newtonianos" como segue: I. Para um ponto material, os valores de T ij ` num instante t dependem linearmente das componentes do tensor taxa de deformação ∂ ∂ v+ v 1 ∂ xj i ∂ xi j Dij = 2 (3.6) naquele instante e não de qualquer outras quantidades cinemáticas. II. O fluido é isotrópico. Temos que para um fluido Newtoniano, a forma mais geral de T ij ` é, com ∆ = D11 + D22 + D33 = Dkk , T ij ` = λ ∆ ∆ ij + 2 µ Dij (3.7) onde λ e µ são constantes com dimensão de (força)(tempo)/(comp)(comp). O Page 10 tensor tensão T ij ` é chamado de tensor "tensão viscoso". Assim, o tensor tensão total é T ij = −p δ ij + λ ∆ δ ij + 2 µ Dij , (3.8) O escalar p nas equações acima é chamado de pressão. 3.5 Interpretação de λ e µ Considere o cisalhamento dado pelo campo velocidade v1 = f( x2 ), v2 = 0, v3 = 0 . Para esse escoamento T 11 = T 22 = T 33 = −p , T 13 = T 23 = 0 e df T 12 = µ . dx 2 (3.9) Assim, µ é a constante de proporcionalidade relacionando a tensão de cisalhamento com o gradiente da velocidade. Da equação (3.7), temos para um campo velocidade geral, 1 2µ T ii ` = ( λ + )∆ . 3 3 Ou seja, ( λ + (3.10) 2µ ) é a constante de proporcionalidade relacionando a tensão 3 normal viscosa principal com a taxa de variação de volume. A tensão normal principal total é dada por 1 2µ T ii ` = -p + ( λ + )∆ . 3 3 (3.11) 3.6 Fluido Newtoniano Incompressível Para um fluido incompressível, temos ∆ = 0 em todo instante. Assim a equação constitutiva para um tal fluido torna-se T ij = −p δ ij + 2 µ Dij (3.12) Page 11 Desde que ∂ ∂ 1 Dij = vi + vj 2 ∂ xj ∂ xi (3.13) onde vi são as componentes da velocidade, as equações constitutivas podem ser escritas como ∂ ∂ v+ v , T ij = −p δ ij + µ ∂ xj i ∂ xi j (3.14) Substituindo a equação constitutiva (eq. 3.14) na equação do movimento, obtemos ∂ ρ v + grad v v = ρ B − grad p + µ div grad v . ∂t (3.15) Essas são é a chamada equação de Navier-Stoves do movimento para um fluido Newtoniano incompressível. 3.8 Equação de energia D ( U + KE ) = P + Q Dt (3.19) A partir da equação acima podemos chegar na equação do calor unidimensional u t = c2 u xx , onde u( x, t ) representa a temperatura numa posição x e num instante de tempo t num fio de comprimento 1 com extremos perfeitamente isolados. O valor da 2 constante c é determinado pelo material do qual o fio é feito. Supondo também que a distribuição inicial de temperatura no fio é dada por: u( x, 0 ) = sin( π x ) Podemos plotar o seguinte gráfico que representa a variação da temperatura com o tempo e com o espaço. Page 12 4. Considerações Finais O resumo aqui apresentado é parte do que foi desenvolvido para as disciplinas de Trabalho de Graduação A e B no primeiro e segundo semestre de 2003 e no segundo semestre de 2003, respectivamente. No primeiro semestre estudamos toda a parte de pré-requisitos, indispensáveis para um melhor entendimento do projeto, tais como, conceitos de Cálculo Diferencial e Integral, Álgebra Linear, Álgebra Tensorial e Cálculo Tensorial. No segundo semestre estudamos o Tensor Tensão e um modelo especial de fluidos chamado de Fluido Newtoniano. Vimos também algumas aplicações. Durante a realização desse trabalho foi feita intensa pesquisa bibliográfica e procuramos utilizar o MAPLE como ambiente para simular alguns problemas. Esse trabalho permite ao leitor conhecimento e a compreensão dos princípios básicos e dos conceitos da mecânica dos fluidos. Page 13 5. Bibliografia [1] LAI, M., RUBIM. E. & KREMPL, E.. Introduction to Continuum Mechanics, Pergamon Press, 1988. [2] LIU, I-SHIH, Continuum Mechanics, Springer Verlag, 2001. [3] FOX, ROBERT W. & DONALD, ALAN T.. Introdução a Mecânica dos Fluidos. Rio de Janeiro – RJ, Livros Técnicos e Científicos S.A., 1998. [4] COIMBRA, A.L.. Lições e Exercícios de Mecânica do Contínuo, vol. 1 e 2. Rio de Janeiro – RJ, Núcleo de Publicações da COPPE, 1988. [5] MELO, SEVERINO T. & MOURA NETO, F.. Mecânica dos Fluidos e Equações Diferenciais, IMPA, 1991. [6] GUIDORIZZI, H.L.. Um curso de cálculo, vol.3, Rio de Janeiro – RJ, Livros Técnicos e Científicos Editora S.A., 2002. [7] SPIVAK, M.. Calculus. Berkeley, Califórnia. W.A. Benjamin, Inc., 1973. [8] LIPSCHUTZ, S.. Álgebra Lienar, Mac-Graw Hill do Brasil, 1971.