CEFAC CENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA CLÍNICA MOTRICIDADE ORAL DISFUNÇÕES TEMPOROMANDIBULARES x TRATAMENTO ORTODÔNTICO DANIELLA NAZARIO SÃO PAULO 1999 1 RESUMO O presente estudo teórico tem como objetivo confirmar ou não se o tratamento ortodôntico pode ser considerado como fator etiológico nas disfunções da Articulação Temporomandibular (ATM). Dentre as estruturas que compõem o Sistema Estomatognático, a ATM, atualmente tem sido bastante pesquisada , não só pela Odontologia como também pela Fonoaudiologia. É importante enfatizar que a etiologia das disfunções da ATM é amplamente discutida pelos autores, que em sua maioria concordam que é multifatorial, e portanto sugerem que seu tratamento seja interdisciplinar. Existe ainda muita controvérsia entre os autores que procuram relacionar oclusão, tratamento ortodôntico e a disfunção da ATM. Observou-se que uma grande variedade de procedimentos ortodônticos tradicionais como por exemplo extração de dentes, tração extrabucal, retração de dentes anteriores superiores, causam sinais e sintomas de disfunção da ATM. 2 Ainda há relativamente poucos estudos que examinaram a relação da ortodontia com a disfunção da ATM e em vários deles chegou-se a conclusão de que o tratamento ortodôntico não foi um fator etiológico para disfunção. Sendo assim, esta pesquisa pretende contribuir para futuras investigações direcionadas para uma compreensão mais ampla sobre os fatores oclusais, tratamento ortodôntico e disfunção da ATM, a fim de auxiliar o odontólogo a decidir qual terapia odontológica será mais eficiente no controle da disfunção da ATM. 3 ABSTRACT This present theoretical study has the purpose of confirming if the orthodontic treatment can be considered as an etiology factor for Temporomandibular Dysfunction (TMD). At the present moment, among the structures that compound the Stomathognatic System, the author, has being fully searchead not only by the Odonthology as were as by the Speech Therapy. It is important to emphasize the etiology of the TMD is extensively discussed by the authors, and the majority of them agree that it is multifactorial and therefore suggest that their treatment is inter- discipline. There is much controversy among the authors who tend to relate occlusion, orthodontic treatment and TMD. It was observed that an extensive diversity of traditional orthodontic proceedings such as : teeth extraction, traction extra- oral, upper bock teeth retraction, cause signs and symptoms of TMD. There are only a few studies that examined the relation between orthodonty and TMD, and in several ones they came into a conclusion that the orthodontic treatment was not an etiology factor for the TMD. Therefore, this reasearch intends to contribuite to future investigations towards a deeper comprehension of the occlusion factors, 4 orthodontic treatment and the TMD, in order to help the odonthologist to decide which therapy will be more effective for the control of the TMD. AGRADECIMENTOS À minha madrinha e tia Suely Montero Barone, agradeço não apenas por todo seu incentivo mas também por toda credibilidade dada a favor de meu crescimento profissional. À fonoaudióloga Cássia Cristina Martins Rodrigues agradeço por dispensar tempo e paciência na elaboração deste trabalho. À amiga Renata Ferreira Allegro pela ajuda na digitação do texto. Às amigas e fonoaudiólogas Erika Karina Favero e Sílvia Camargo Gomes pelo companheirismo e pelas boas conversas durante estes dois anos. À Adriana Barone Gabriel que prontamente corrigiu o abstract. 5 SUMÁRIO RESUMO ABSTRACT 1- INTRODUÇÃO ..............................................................................07 2- DISCUSSÃO TEÓRICA ................................................................09 2.1-Definição de Articulação Temporomandibular (ATM)...............09 2.2- Definição de Disfunção Temporomandibular (DTM) ..............23 2.3- Oclusão ..................................................................................40 2.4- Maloclusão e ATM ..................................................................45 2.5- Ortodontia ...............................................................................48 2.6- Tratamento Ortodôntico x DTM ..............................................55 3- CONSIDERAÇÕES FINAIS ..........................................................65 4- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..............................................68 6 1- INTRODUÇÃO Na área da Motricidade Oral, a Fonoaudiologia tem como objetivo principal restabelecer as funções estomatognáticas – respiração, mastigação, deglutição, e fala, visando a manutenção do equilíbrio miofuncional. A Fonoaudiologia atua no campo da reabilitação das funções estomatognáticas trabalhando com profissionais afins como: dentistas, ortodontistas, odontopediatras e cirurgiões buco-maxilo-faciais, porque como se sabe as alterações dentárias e ósseas poderão interferir na realização destas funções. A Ortodontia é responsável pela correção da oclusão, ou seja, pelo reposicionamento dos dentes (principalmente), e também pela saúde oral e da articulação temporomandibular (ATM). Vários estudos comprovam a ação dos músculos da face sobre o posicionamento dentário e consequentemente na terapêutica ortodôntica. Sendo assim, há uma inter-relação entre desequilíbrio da musculatura orofacial e alterações oclusais e/ou ósseas, portanto a função alterada pode ser entendida tanto como fator etiológico quanto como conseqüência da alteração da forma. Dentro da prática fonoaudiológica tem sido freqüente o número de pacientes que apresentam queixas relacionadas a dificuldade nos 7 movimentos mandibulares , dor facial, desconforto, ruídos na região da articulação temporomandibular, alterações musculares e funcionais. A etiologia das disfunções da ATM é multifatorial, podendo ocorrer por fatores oclusais, perdas dentárias, alterações esqueléticas, hábitos parafuncionais, alterações musculares, problemas emocionais, entre outros fatores. E em muitos casos as disfunções da ATM ocorrem durante ou até tardiamente após a terapêutica ortodôntica. Assim sendo, o presente trabalho pretende averiguar a existência ou não de uma relação entre as disfunções da ATM e o pós tratamento ortodôntico. 8 2- DISCUSSÃO TEÓRICA 2.1- Definição de Articulação Temporomandibular ( ATM) 2.1.a- Anatomia A articulação temporomandibular (ATM) segundo Witzig e Spahl (1999) é um exemplo singular de engenharia natural e formas arquitetônicas. No corpo humano existem vários tipos de articulação, a divisão geral mais ampla se dá em dois tipos: articulações fibrosas (sinartroses) e articulações sinoviais (diartroses). As diartroses são projetadas para realizar movimentos em um ou vários dos três planos do espaço, estão freqüentemente envoltas por membranas sinoviais. Podem ser compostas de duas superfícies articulares opostas ( articulações sinoviais simples) ou de três ou mais superfícies articulares opostas (articulações sinoviais compostas). Sendo assim, as articulações que permitem apenas movimento do tipo em dobradiça, como as dos dedos, são as chamadas articulações ginglimóides, e aquelas que permitem o deslizamento são as chamadas artrodiais. 9 Portanto, a ATM, devido a sua capacidade de realizar a rotação e a translação simultaneamente, pode ser considerada uma articulação sinovial ginglimoartrodial composta. Felício (1994) destaca que as ATMs não constituem uma articulação comum, pois por estarem localizadas uma em cada extremidade de um único osso, a mandíbula, faz com que cada côndilo imponha limitações de movimentos sobre o outro. Separando as estruturas ósseas está o disco articular formado pôr tecido conjuntivo denso fibroso, sendo este menos susceptível ao desgaste e mais fácil de se regenerar, do que a cartilagem hialina encontrada em outras articulações. Na região central a ATM é desinervada e desvascularizada, permitindo então que os movimentos se realizem sem desconforto. O disco articular está inserido na cabeça do côndilo medial e lateralmente, sendo que posteriormente se liga à cápsula articular e sua função além de evitar o contato das estruturas ósseas, ele estabiliza o côndilo na cavidade glenóide (fossa glenóide), facilita e acompanha os movimentos condilares e através de seus proprioceptores, regula os movimentos mandibulares. Este separa a ATM em dois compartimentos, sendo que funcionalmente o côndilo e a eminência articular mantém-se em contato, não entre si mas contra a superfície oposta do disco. Já a sua porção central é mais delgada, com o tecido fibroso mais denso, esta porção é avascular e não inervada. Posteriormente, o disco se 10 liga à cápsula articular por um coxim esponjoso retrodiscal, que é uma área de tecido frouxo ricamente vascularizada.. O côndilo da mandíbula descreve Cabezas (1995) é composto pela cabeça e pescoço, sendo que a cabeça possui forma ovóide, convexa mais no sentido ântero-posterior e menos no mesiolateral, a porção superior do côndilo que se articula junto à ATM, apresentando o eixo perpendicular ao ramo da mandíbula. Anteriormente o côndilo apresenta uma zona rugosa que ao se unir com o colo do côndilo forma a chamada fossa pterigoidea, onde fica inserido o feixe anterior do músculo pterigoideo lateral. Na sua porção medial, o côndilo da mandíbula articula-se com a fossa do osso temporal, sendo esta uma região bem espessa, com seu teto delgado. O pólo lateral do côndilo, as vezes, pontiagudo, projeta-se para o plano dos ramos onde se une ao disco articular e ao ligamento temporomandibular ou lateral, o pólo medial é freqüentemente arredondado e pode se estender para dentro do plano dos ramos da mandíbula. Ao abrir e fechar a boca, os dois côndilos formam um eixo comum, funcionando como as dobradiças de uma porta, sendo assim nenhum movimento será unilateral. A fossa mandibular é formada pela parte escamosa do osso temporal, encontra-se localizada abaixo e na frente do meato acústico externo, sendo que é delimitada no meio pela fissura escamo-timpânica e atrás pelo tubérculo pós- glenóide do osso temporal encontrando-se atrás da ATM e com o 11 tubérculo, está se evitando um deslocamento posterior, que poderia levar a um trauma nesta área. Já a eminência articular seria como o côndilo do osso temporal e forma o limite anterior da fossa mandibular. Quando ocorre abertura bucal dita fisiológica, o côndilo e o disco são movimentados para frente da eminência articular. A superfície superior do disco é a que permite os movimentos de translação do complexo côndilo-disco total contra a superfície da eminência articular. O disco é fixado à cabeça do côndilo por ligamentos nos pólos medial e lateral. Ele é fixado indiretamente no teto ou na cabeça superior do músculo pterigoideo lateral anteriormente através da parede anterior da cápsula articular (membrana fibrosa e fina que envolve a ATM). Cabezas 1995 Os ligamentos articulares da ATM, servem para várias funções, mas sua finalidade geral é atuar como um grupo de restrição para movimentos considerados excessivos dos vários componentes da articulação em direções específicas. Não sofrem contração nem estiramento, portanto atuam como limitadores da quantidade de movimento linear possível durante o funcionamento articular. Eles são feixes, lâminas de tecido conjuntivo colágeno, e devido a falta de elasticidade, quando houver traumatismo crônico pôr distensão pode afrouxar ou alongar os ligamentos e se forem danificados tendem a permanecer assim. 12 Os ligamentos são mal vascularizados, porém são bem inervados por dois tipos principais de nervos: nociceptores (nervos da dor) e proprioceptores. O primeiro ligamento específico da ATM é o que engloba toda a articulação temporomandibular: ligamento capsular que possui ação de englobamento e menos de limitação de movimentos, está inserido ao osso temporal nas bordas anteriores da eminência e no teto da fossa glenóide superiormente e inferiormente ao colo do côndilo. Embora seja relativamente frouxo para permitir a livre translação do complexo côndilo-disco para trás e para frente, ele oferece certa resistência para o movimento inferior e lateral do côndilo que poderia atuar tracionando a articulação. O outro ligamento da ATM é composto por dois ligamentos e recebe um único nome de ligamento temporomandibular. Este é um ligamento de suspensão que deve limitar o deslocamento inferior e posterior da cabeça e do colo do côndilo, e corre a partir da borda externa do tubérculo articular e da crista supra-articular para baixo e para trás (cerca de 45 graus) inserindo-se ao colo do côndilo na borda posterior inferior. Acredita-se que este ligamento limite os movimentos retrusivos da mandíbula protegendo os tecidos da região posterior da ATM (Cabezas, 1995). O outro conjunto de ligamentos são os ligamentos colaterais que mantêm firmemente o disco articular fixado à cabeça do côndilo. São dois: ligamento colateral medial, é o mais resistente deles e fixa a superfície 13 medial do disco ao pólo medial do côndilo, e o ligamento colateral lateral sendo este mais delgado, tem função de fixar a superfície lateral do disco ao pólo lateral do côndilo. Estes ligamentos colaterais mantém o disco próximo da cabeça do côndilo mas não vão impedir que ocorra a rotação da cabeça do côndilo contra o lado inferior do disco. Estes ligamentos mantém o disco em movimento com a cabeça do côndilo durante o deslizamento ou translação da articulação, servem também como componentes para separar ambos os compartimentos sinoviais da articulação nos espaços articulares sinoviais superior e inferior. Quando alongados, os ligamentos, a fim de propiciar a intrusão condilar indesejada do disco para cima e para trás em direção à zona bilaminar levam a articulação a um estado muito instável, e por estes possuirem boa inervação, mas uma vascularização ruim, os ligamentos que forem lesados ou alongados vão precisar de muito tempo para sua reparação. (Witzig & Spahl, 1999). Já a membrana sinovial é uma camada fina altamente vascularizada de tecido conjuntivo e reveste as superfícies da ATM, é mais abundante na superfície superior e inferior da zona retrodiscal. Produz o líquido sinovial, que devido a sua composição química torna-se lubrificante e deslizante. A sua quantidade pode variar, aumentando quando a articulação está sob pressão e o número de movimentos mandibulares também é aumentado, conferindo lubrificação e nutrição a temporomandibular. 14 toda superfície da articulação A ATM é ricamente vascularizada: na sua porção anterior é irrigada pelas artérias profundas, temporal posterior e massetérica, ramos da artéria maxilar, artérias timpânicas anterior, auricular profunda e meníngea média irrigam as faces posterior e lateral da articulação, são irrigadas pôr ramos da artéria temporal superficial. O nervo trigêmio, com seu ramo do nervo mandibular deriva ramos para ATM, sendo que estes são ramos do mesmo tronco nervoso que enervam os músculos mastigatórios. Na porção anterior a ATM é inervada pelo nervo massetérico e ramo anterior do nervo mandibular (ramo do trigêmio) na porção posterior é inervada pelos ramos do nervo aurículo- temporal. A ATM possui terminações de Ruffini, orgãos tendinosos de Golgi, terminações de Pacini e terminações livres.( Cabezas, 1995) Segundo Witzig e Spahl (1999), os músculos estão intimamente relacionados com as articulações, uma vez que todos os tipos de músculos esqueléticos tracionam uma articulação de uma forma ou de outra, levando ao funcionamento articular. Os músculos esqueléticos estão sob o controle direto da consciência e é por isso que são denominados voluntários, os músculos da mastigação, considerados como tracionadores da ATM, originam-se na porção superior do osso cranio-maxilar e estão inseridos no mais inferior deles, a mandíbula. Estes músculos existem bilateralmente, e são três pares para realizar o fechamento e um par para a abertura, eles são programáveis, 15 adaptáveis, controláveis, auto- reparáveis, e o mais importante alteráveis funcionalmente. Um dos três principais músculos elevadores da mandíbula é o temporal, mesmo sendo único, é considerado em três partes separadas. Este, possui formato de leque; tem origem ao longo da curva acima das suturas temporoparietal do osso temporal, com inserção no processo coronóide da mandíbula. O terço anterior do músculo possui fibras que correm verticalmente e por isso, quando se contraem tracionam a mandíbula verticalmente. A porção média, eleva e retrai a mandíbula, e o terço posterior possui fibras que correm horizontalmente e por isso sua contração leva à retração da mandíbula com quase nenhuma elevação do componente e portanto atua como antagonista direto da cabeça inferior do músculo pterigoideo lateral. As três divisões do músculo temporal em geral trabalham unidas, como influência direcionadora ou guia à medida que a mandíbula se eleva. Nos indivíduos com dentição natural bem equilibrada só é necessária a ativação como terço anterior para elevação confortável da mandíbula. E embora o músculo temporal seja sensível à palpação em pacientes com problemas da ATM, ele não está em geral tão freqüente ou severamente envolvido como os outros músculos da mastigação. O músculo masseter é um dos principais músculos responsáveis pelos movimentos fortes na elevação mandibular, alguns autores 16 consideram que ele possui uma origem superficial e outra profunda. A porção de origem superficial insere-se nos dois terços anteriores da borda inferior do arco zigomático e a porção profunda insere-se no terço posterior do arco zigomático. Possui forma retangular e dirigi-se de certo modo distalmente: insere-se na borda inferior da mandíbula com a porção superficial também fixada na metade interior da borda externa do ramo mandibular e a porção profunda é fixada na metade superior da borda externa do ramo. Seu grande objetivo é promover a elevação vigorosa da mandíbula, verticalmente, porém uma leve projeção na direção das fibras para anterior de baixo para cima também permita um pequeno movimento de protrusão anterior durante a elevação mandibular e as porções profunda deste músculo são capazes de leve retrusão da mandíbula quando atuam sem a ação de outras fibras do músculo. O músculo pterigoideo medial é o músculo sinergista direto do masseter, origina-se primariamente na superfície medial ou interna da lâmina pterigoidea lateral e possui algumas fibras que se originam no osso palatino propriamente dito. A sua inserção se dá na superfície interna do ângulo mandibular, e suas fibras são orientadas no ventre principal do músculo de maneira similar as do masseter, propiciando elevação e protrusão da mandíbula, ou quando atua unilateralmente, pode desvia-la para o lado oposto. Um evento comum observado associado a este músculo em pacientes com problemas de ATM é a sensibilização à palpação, pois ele é 17 hipersensível ``a pressão digital quando a mandíbula está forçada para trás na posição de oclusão máxima. Outro fato que pode ocorrer é o chamado " ouvido tapado" em indivíduos com problemas de ATM, ocorre que o músculo tensor do palato mole é responsável pela dilatação da tuba auditiva, e para realizar isto ele deve pressionar o músculo pterigoideo medial lateralmente. Quando em repouso, o músculo tensor do palato está inativo, o pterigoideo medial repousa sobre a tuba auditiva, mantendo-a fechada. Já com o enrijecimento do músculo pterigoideo medial, devido a algum problema de ATM, ele se torna resistente ao deslocamento pelo músculo tensor do palato mole, que é um músculo menor, então a força do músculo menor não pode superar a rigidez do maior o que resulta no bloqueio da tuba auditiva, podendo levar o indivíduo a queixar-se de entupimento do ouvido. O músculo pterigoideo lateral é responsável pelo movimento real do complexo côndilo-disco durante os movimentos de abertura e fechamento da mandíbula. E composto de diferentes porções, a porção superior do músculo origina-se na crista infratemporal e na superfície lateral da asa maior do osso esfenóide. Já a sua porção inferior tem origem na superfície lateral da lâmina pterigoidea lateral e insere-se na fossa pequena do colo condilar imediatamente abaixo da cabeça do côndilo. Há uma teoria de que a cabeça superior do pterigoideo lateral insere-se na borda anterior do disco com a possibilidade de fibras 18 secundárias inserindo-se na pequena depressão, ou fóvea, na base anterior da cabeça do côndilo onde o colo do côndilo começa. A função do ventre anterior do músculo pterigoideo lateral e tracionar o colo do côndilo e portanto toda a mandíbula avança. Se a contração é bilateral, a mandíbula pode ser aberta e/ou protruída, quando é unilateral, a mandíbula se desviará para o lado oposto. Durante esta atividade, a cabeça superior do músculo permanece passiva, a porção superior não se contrai para levar o disco para baixo e para frente com a cabeça condilar, o ventre inferior permanece ativo durante a elevação mandibular , ele vai relaxando à medida que esta retrui. Com a ação do ventre superior do músculo pterigoideo lateral durante o movimento final de elevação mandibular, contraindo-se vai manter uma tensão firme, oponente e coordenada sobre o complexo côndilodisco, posicionando-se adequadamente contra a faceta articular da eminência na posição final de oclusão máxima na fossa glenóide. Existe uma certa discussão quanto a possibilidade ou não da palpação deste músculo no exame, e atualmente considera-se que ele só pode ser palpado indiretamente devido a interferências anatômicas sobrepostas e constritoras. O músculo digástrico tem seu ventre posterior inserido no processo mastoideo por entre as inserções de três outros músculos da cintura cervical, isto é, o esternocleidomastoideo, o esplenio da cabeça e o longo da cabeça. A partir daí, o músculo trafega para frente e uni-se ao ventre anterior em 19 um tendão comum que forma um istmo de tecido conjuntivo curto e circular entre ambos. Este tendão está inserido no osso hióide através de uma alça de tecido conjuntivo fibroso. Assim, o ventre anterior então caminha para frente para se inserir na superfície lingual da sínfise mandibular em uma região imediatamente abaixo dos tubérculos genianos. Então, a função do músculo digástrico é variada e está relacionada biomecanicamente as suas inserções no tecido duro aos quais está fixado. Quando o osso hióide é englobado pôr sua musculatura própria e assim permanece fixo, a ação do músculo digástrico auxilia na depressão da mandíbula durante a abertura da boca. Esta atividade é secundária a ação do ventre inferior do pterigoideo lateral, que geralmente é o primeiro músculo que atua na abertura da boca. Em indivíduos com problemas de ATM, como este músculo é sempre ativo quando a elevação mandibular envolve também sua retrusão, ele em geral é muito sensível à palpação. 2.1.b- Biomecânica normal da ATM De acordo com Tenório- Cabezas (1995), a ATM representa a articulação da mandíbula ao osso temporal do crânio, sendo que seus componentes ósseos estão separados por uma estrutura composta de tecido 20 conjuntivo fibroso denso que é o disco articular, e a integridade e limitação são mantidas pelos ligamentos, que têm comprimento específico. Ocorre que estes ligamentos não participam diretamente na função da articulação, eles atuam como: restringidores de certos movimentos(movimentos bordejantes), permitem outros movimentos(movimentos funcionais). Se os movimentos da articulação forçarem os ligamentos, seu comprimento pode ser alterado porque eles quase não se esticam e se isto ocorrer com freqüência pode causar alteração na biomecânica da ATM. Para se entender o mecanismo da ATM separa-se a mesma em duas articulações. A articulação inferior é formada pelo côndilo e disco articular inserido por ligamentos, é o complexo côndilo-disco responsável pelo movimento de rotação. Já a articulação superior é constituída pelo complexo côndilo-disco que se articula com a fossa mandibular, respondendo pelo movimento de translação; ocorre que na abertura bucal o complexo côndilo-disco movimenta-se fora da fossa. Ao côndilo está então inserido o disco medial e lateralmente pelos ligamentos chamados colaterais do disco, estes permitem a rotação do disco pela superfície articular em direção anterior e posterior com restrição à movimentos mediais ou laterais. A quantidade do movimento de rotação anterior e posterior é limitada por ligamentos, a lâmina retrodiscal inferior, irá limitar a rotação anterior do disco sobre o côndilo e o ligamento capsular anterior limita a rotação posterior do disco. 21 Segundo Osborn (1989), a morfologia do disco é muito importante, apresenta-se delgada na zona intermediária, espesso no bordo anterior e mais grosso no bordo posterior. O côndilo articula-se na zona intermediária do disco e é mantido nesta posição pela pressão interarticular constante dada pelos músculos elevadores da mandíbula ( masseter, temporal e pterigoideo medial ) e ligamentos articulares. Apesar desta pressão entre côndilo, disco e fossa mandibular, estarem de acordo com a atividade muscular, alguma pressão é mantida para prevenir separação das superfícies articulares, pois se o contato entre elas for perdido, poderá haver deslocamento. O feixe inferior do pterigoideo lateral insere-se no colo do côndilo e no disco articular e é ativado juntamente com os músculos depressores da mandíbula na abertura bucal. Seu feixe superior é ativado em conjunto com os músculos elevadores da mandíbula-( fechamento bucal ) , este feixe superior parece ser um músculo estabilizador para o complexo côndilo-disco. Na translação do complexo côndilo-disco para baixo da eminência articular (abertura bucal) o disco roda posteriormente ao côndilo. A lâmina retrodiscal superior, composta de tecido conjuntivo frouxo e fibras de elastina, permite ao complexo côndilo-disco a translação a frente sem dano aos tecidos retrodiscais. Na abertura bucal máxima a lâmina é fortemente esticada e produz uma força de retração posterior no disco e portanto torna-se a única estrutura da ATM que produz este tipo de força. 22 Quando ocorre abertura e fechamento bucal, o disco e o côndilo se movem juntos, mas não pela ação dos ligamentos, mas pela morfologia do disco e pressão interarticular que garantem a manutenção do côndilo na zona intermediária mais fina do disco. As margens anterior e posterior do disco o forçam a movimentar-se junto ao côndilo na abertura e fechamento bucal. E se houver alteração nesta pressão interarticular ou na morfologia do disco poderá ocorrer alteração de toda a biomecânica da ATM. Cabezas (1995). 2.2. Definição de Disfunção Temporomandibular (DTM) Felício (1994) descreve o conjunto de sinais e sintomas da DTM como: dores nos músculos da mastigação e cervicais, na ATM, no ouvido, além de zumbido, tonturas, dificuldades nos movimentos mandibulares, têm recebido diferentes denominações de acordo com o suposto fator etiológico e na tentativa de explicitar as áreas afetadas. Faz também uma revisão da literatura citando os autores: Prentiss (1918) estudou as disfunções da ATM, porém foi Costen (1984) quem descreveu o quadro de sinais e sintomas surgindo por isso o termo Síndrome de Costen. 23 Considerando a musculatura mastigatória como a primeira estrutura afetada, Laskin (1969) chamou o problema de síndrome dor-disfunção miofascial (MPD). Weinberg (1979) escreveu que tem sido usado o termo dordisfunção miofascial para a dor de origem puramente muscular, e a dor disfunção da ATM quando há envolvimento da articulação. Scott (1980) concorda com o termo síndrome dor- disfunção miofascial, para quando as dores na musculatura são provocadas por estresse emocional. Ash (1986) considerou nem sempre ser possível ou necessária para o tratamento, na fase inicial, a diferenciação entre sintomas de distúrbios nos músculos ou na articulação. O termo por ele utilizado, embora considerando-o genérico foi síndrome dor- disfunção muscular e da ATM, que se refere a coleção de sintomas associados com distúrbios estruturais e funcionais da articulação e músculos. Disfunções crânio-mandibulares foi o nome utilizado por Santos Jr. (1987) e Miranda (1988) seguido das classificações extracapsulares, para casos como espasmos da musculatura mastigatória e intra-capsulares, quando dizem respeito a própria estrutura da articulação. A American Dental Association escolheu a denominação desordens temporomandibulares (TMD) para se referir a desordens caracterizadas por dor na área pré- auricular, na ATM ou nos músculos da mastigação, limitações ou desvios nos movimentos de extensão, ruídos na ATM 24 durante a função mandibular, incluindo dor iliciada pela função e palpação além da relação oclusal estática e dinâmica anormal. Schwartz (1935) denominou síndrome da dor e disfunção da ATM, baseou-se no comprometimento de todo o sistema, do complexo do aparelho mastigatório. Laskin (1969) e colaboradores caracterizaram a teoria psicológica, acreditavam que existiam fatores mecânicos e emocionais como elementos etiológicos. Pode representar também uma série de problemas clínicos envolvendo a musculatura mastigatória e/ou ATM, atualmente é considerada como um conjunto de desordens relacionadas ao sistema mastigatório. 2.2.a- Etiologia da DTM Segundo Felício (1994), ao longo dos anos, diversos pesquisadores têm investigado a origem desse conjunto de sinais e sintomas: Prentiss (1918) escreveu que a perda da dimensão vertical era a causa das disfunções da ATM. Também, esse tipo de maloclusão foi considerada por Costen (1934) como causa da síndrome que escrevera. De acordo com a Teoria Psicológica, os hábitos orais crônicos, como apertar e ranger os dentes, podem ser iniciados por fatores oclusais, porém acredita-se que a principal causa seja um mecanismo 25 involuntário de alívio de tensão.. Dessa forma o fator etiológico primário seria o emocional, capaz inclusive, de alterar a oclusão, devido as mudanças na posição da mandíbula. Para tanto, o autor descreve provas estresse emocional nos portadores da síndrome bioquímicas de assim como fisiológicas,, demonstrando a maior susceptibilidade destes a fadiga muscular. A causa da generalizada tensão somática, nesses pacientes, foi explicada pelo esforço que fazem para manter uma aparência de indivíduos supernormais, responsáveis, generosos e dominadores. Ramfjord e Ash (1972) concluíram que o fator causal mais importante era o tônus muscular aumentado, associado ao bruxismo, devido as diversas combinações de tensão psíquica e interferências oclusais. A tensão muscular também foi a principal causa apontada por Chayes (1973) considerando que esta pode ser provocada por estímulos traumáticos ou não. Costa et al (1981) relataram que 80% dos pacientes por eles avaliados referiram-se a hábitos de ansiedade como : cerrar os dentes, mascar chicletes, morder objetos, bruxismo ou ainda estar vivendo situações de estresse familiar e/ou profissional. Sabe-se que esses fatores podem aumentar o tônus muscular e também provocar desarranjos oclusais. Miranda (1988) atribui as causas das disfunções da ATM aos espasmos provocados por prematuridades oclusais, que podem estar associadas ou não ao estresse emocional e à vícios posturais e traumas em menor proporção. 26 De acordo com Molina (1989) na literatura é possível encontrar autores que consideram como agentes etiológicos as forças neuromusculares excessivas, desequilíbrios oclusais e alterações psicológicas quando inter-relacionadas ou independentes. Parker (1980) escreveu sobre a etiologia multicausal da síndrome dor-disfunção são apontadas, em relação a vida agitada nas grandes cidades. Em pesquisa epidemiológica Dworkin et al (1980) constatou-se que no grupo que procurou tratamento em comparação a outros dois (um que apresentava os sinais e sintomas e outro normal), havia maior índice de desempregados, menores salários familiares, menor nível de escolaridade e maior número de mulheres. Barnard (1979) apontou possíveis relações entre disfunções da ATM e distúrbios da fonação, sugerindo que um distúrbio como a gagueira pode ser um fator causal, devido as forças musculares excessivas, realizadas ao falar ou ainda o problema de fonação ser uma conseqüência da dificuldade nos movimentos mandibulares, devido ao distúrbio na articulação. Para Greene (1979), qualquer alteração nos padrões de deglutição, respiração, fonação, e postura de repouso das estruturas orofaciais, modifica o equilíbrio das forças musculares e conseqüente da ATM. O paciente que altera o seu padrão de deglutição possibilita a retrusão condilar, por colocar a língua entre os dentes durante a deglutição. Gelb e Bernstein (1983) avaliaram 200 pacientes com síndrome dor-disfunção, destes 144 apresentaram desvio no padrão de 27 deglutição, o que os fez considerar essa alteração como um possível fator etiológico. O próprio desvio postural apresentado pelos pacientes foi por esses pesquisadores atribuído a uma compensação da contração excessiva dos músculos masséteres. Funt et al (1985) consideraram a deglutição atípica como um fator predisponente para as disfunções crânio-mandibulares. É possível dividir os fatores etiológicos em qualquer desordem da ATM em 03 categorias: 1) predisposição 2) psicológicos 3) alterações teciduais Fatores predisponentes em DTM familiar, maloclusão e hábitos parafuncionais, 80-90% incluem sexo, história dos pacientes que apresentaram clinicamente DTM são do sexo feminino, razões para isto não são claras. Estudos mostram maior incidência de receptores para estrógenos em tecidos de ATM das mulheres. Hábitos parafuncionais podem estar relacionados como desenvolvimento e exarcebação de disfunções da ATM. Aperto dos dentes é um procedimento anormal que pode gerar força sobre os meniscos. A média dos adultos que não tem seus dentes em contato está entre 07 e 11 minutos por dia. O paciente mordedor tem contato dos dentes por várias horas no dia. O aperto descreve aproximação vigorosa dos dentes sem movimentos laterais. Os dentes 28 desgastados podem ou não ser significantes em termos para determinar se um paciente tem ou não hábitos parafuncionais. Geralmente qualquer maloclusão específica não tem mostrado ser relevante estatisticamente no desenvolvimento ou exacerbação da DTM. Isto inclui mordida aberta anterior, oclusão posterior ausente, contato prematuro. A despeito desta falta de consenso na literatura relacionando maloclusão e DTM, pacientes são vistos com maloclusão e disfunção da ATM. Fatores psicológicos devem ser considerados nas DTM, em termos de alteração do limiar de dor e parafunção. Depressão e ansiedade são conhecidos por diminuir o limiar doloroso. Qualquer dor que o paciente esteja experimentando subjetivamente é mais intensa durante situação de stress psicológico. Os pacientes com desordens psicológicas significante clinicamente, apertam seus dentes como uma manifestação somática de stress e isto pode exacerbar a condição de DTM pré-existente. Nas alterações teciduais, o mecanismo de lesão pode ser um trauma ou hipermobilidade de articulações. As causas da ruptura ligamentar são: fraqueza da estrutura ligamentar, trauma facial, hiperextensão mandíbula ( tratamentos dentários prolongados, da extração do terceiro molar, intubação difícil e subluxação durante amigdalectomia). Se colocarmos em ordem decrescente, os fatores etiológicos mais freqüentes teremos então: perda da dimensão vertical e contato prematuro. 29 As causas citadas levam a musculatura envolvida a uma hiperatividade consequentemente a fadiga, tornando o músculo espástico. O fator psicoemocional e social associados apresentou-se em 80% dos casos estudados pelos autores e 10% dos casos apresentaram quadro clínico de stress. Outros autores confirmam que apesar de não apresentar etiologia definida, acredita-se que fatores funcionais, estruturais e psicológicos estejam reunidos, caracterizando multifatoriedade a origem da disfunção da ATM. Algumas condições, como maloclusões e parafunções (principalmente: bruxismo e trincamento dos dentes) estão presentes com determinada freqüência em pacientes com sinais de disfunção. Entretanto, não se pode afirmar até que ponto estes fatores podem ser considerados predisponentes ou apenas coincidentes. Pompeu e Silva (1999) descreveram as definições dos autores: Egermark-Ericson (1982) considera que a presença de maloclusão possa atuar como um dos fatores etiológicos da disfunção da ATM. O autor observou uma correlação estatisticamente significante entre a presença de mordida cruzada posterior e o aumento da tensão da musculatura mastigatória, seguida do surgimento de sintomatologia dolorosa. Porém, o próprio autor considera que maloclusões funcionais (interferências oclusais) estejam mais envolvidas com desenvolvimento de disfunção da ATM. Os estudos de Ginn et al (1988) e de Boever e Berghe (1987) não constataram relação entre maloclusão e distúrbios da ATM 30 . De acordo com Vanderas (1993) maloclusão e disfunção não representam uma relação de simples causa e efeito. Ramfjord (1975) evidencia duas idéias principais : uma coloca ênfase nos componentes pertencentes ao aparelho mastigatório, outro enfatiza fatores no Sistema Nervoso Central. Sendo que a hipótese periférica é baseada na crença de que certas alterações patológicas tomam lugar nas articulações, músculos, nervos ou dentes e que estas são as causas da dor. Costen (1984) atribui as disfunções da ATM a perda dos dentes posteriores, ocasionando diminuição da dimensão vertical da face, determinando pressão sobre a inervação aurículo-temporal e corda do tímpano. Para este autor os primeiros sintomas seriam ( otalgia, zoada, sensação de bloqueio nos ouvidos, dor na região occipital e vertex, sensação de queimaduras na faringe e na língua, secura na boca, gosto metálico , etc... que se conhece como Síndrome de Costen. Zegarelli et al (1978) descreveram que a síndrome da disfunção dolorosa miofacial é uma das condições mais comuns que evidenciaram a região da articulação temporomandibular e, no entanto, uma das mais erroneamente diagnosticadas. Relataram que a dor seria surda, constante e que pode agravar-se durante a função mandibular, podendo esta, localizar-se em várias regiões principalmente na área da articulação, ouvido, ângulo da mandíbula, na garganta ou na região temporal, podendo também ocorrer simultaneamente nesses vários pontos. 31 Solberg (1976) considera que a grande maioria dos casos de dor por disfunção da ATM está relacionada muito a fatores mecânicos, sendo por isto conhecida como teoria psicofisiológica da síndrome dolorosa da ATM e seu reflexo miofacial. Segundo Dawson (1993) o principal fator determinante da síndrome da disfunção é o espasmo muscular, que pode ocorrer de três modos: extensão muscular excessiva, contração muscular excessiva ou fadiga muscular. Schwartz (1973) destaca que pacientes portadores de diversos graus de maloclusões acham-se adaptados perfeitamente a situação de stress emocional apresentam síndrome dolorosa por disfunção miofacial. Os contatos prematuros no lado do balanceio parecem ser os mais significativos no desencadeamento da síndrome. Lupton (1969) evidencia os estados emocionais de ansiedade, medo e irritabilidade como causadores do aumento da atividade dos músculos mastigatórios causando tensão muscular e sintomas característicos da dor miofacial e disfunção da ATM. Dawson (1993) considera definida a relação causa-efeito entre as interferências oclusais deflectivas e o espasmo muscular. Embora a relação central seja considerada ideal para todos os movimentos funcionais da mandíbula e a maior parte da população não apresenta coincidência entre a posição oclusal da relação central e a máxima intercuspidação habitual. Quando a capacidade de adaptação biológica do sistema estomatognático é ultrapassado, surge a dor. 32 2.2.b- Sinais e Sintomas da DTM Segundo os autores, os sinais e sintomas mais freqüentemente encontrados na grande maioria dos pacientes examinados, foi sintomatologia à nível dos músculos temporais, masseteres e pterigoideos (lateral e medial). Alguns pacientes relataram dores na região do esternocleidomastoideo e cervical. Surgem estágios de músculos espásticos, tensionados e contraídos estes, em hiperatividade provocam sintomatologia muscular. Podem surgir dores na região auricular, podendo irradiar-se para o ângulo mandibular, com clic ou estalido na ATM, gerando limitação no movimento da mandíbula. Schawartz (1973) citado por Pompeu e Silva (1999), relata que os sintomas cruciais são dor nos músculos mastigadores (mialgia) e disfunção mastigatória (devido aos espasmos musculares). A dor, geralmente unilateral, é descrita pelo paciente como dor “surda”nas regiões temporal, préauricular, goníaca e cervical. Pode ser relativamente constante, porém mais freqüentemente o paciente relata que a dor é pior pela manhã, outros relatam que é relativamente suave pela manhã e aumenta gradativamente a tarde, exacerbando-se na hora das refeições. Ainda segundo estes autores, Martins (1982) considera os seguintes sinais e sintomas cardinais da síndrome dolorosa por disfunção 33 miofacial: dor surda, unilateral ou mais acentuada num dos lados da face, dor a pressão em certas regiões do masseter, temporal e pterigoideo, estalos, limitação dos movimentos mandibulares, principalmente matinais e Rugh et al (1976) chegaram a um consenso de que a doença era representada por três sintomas básicos: dor e sensibilidade nos músculos da mastigação e da ATM, sons ou ruídos durante os movimentos dos côndilos e limitação dos movimentos mandibulares. Segundo Garcia e colaboradores (1995) existem controvérsias a respeito das etiologias em relação as sintomatologias nas disfunções temporomandibulares, e em decorrência de divergências este estudo procurou verificar os sinais e sintomas mais freqüentes nos pacientes com esta disfunção, sendo os mais comuns: dor de cabeça, ruídos articulares(creptaçãoestalidos), desvio mandibular, dor na ATM, dor no ombro e dorso, dor no ouvido, movimento mandibular limitado, vertigem e dor no olho. Porém, é preciso salientar que os sinais e sintomas da disfunção são variáveis de acordo com o grupo de indivíduos estudados o que justifica os vários estudos citados na literatura. Segundo os autores, o sintoma inicial mais comum é a dor localizada nos músculos mastigatórios ou na região da ATM, geralmente agravada durante a mastigação ou movimentos mandibulares, e concordam que outros sintomas já foram descritos anteriormente como: dores de ouvido, cefaléia e dores na face, sendo que ocorrem ainda ruídos na articulação com travamento ou luxação mandibular. 34 2.2.c- Diagnóstico da DTM Segundo Felício (1994), o diagnóstico da DTM tem-se baseado principalmente na história do paciente e no exame clínico, incluindo diagnóstico diferencial. A mesma cita os seguintes autores: Ramfjord e Ash ( 1972) consideram a história como a base para o diagnóstico, porém não descartam o exame clínico, mesmo que a história de disfunção mastigatória seja negativa. Os autores pensam que através do que conta o paciente é possível perceber também quando este necessita mais de psicoterapia do que de tratamento dental. Day (1979) propõe o preenchimento de uma ficha para ser comentada posteriormente com o profissional, no lugar de relatar só oralmente. Para Gelb e Bernstein (1983) a história contada pelo paciente muitas vezes pode oferecer o diagnóstico e o caminho para o tratamento, além de possibilitar a interação profissional-paciente. A maioria dos autores concorda quanto aos aspectos a serem investigados para o diagnóstico. São eles: início, localização, freqüência, duração, qualidade da dor, fatores desencadeantes e o que produz alívio, história médica, odontológica e pessoal. Segue-se então os exames clínicos, no odontológico, sendo seu principal objetivo: a confirmação dos sintomas narrados pelo paciente, 35 identificação dos sinais da DTM e de possíveis fatores etiológicos. Para isso são analisados os seguintes aspectos: simetria facial, relação de linha média, desvios na abertura mandibular, função oclusal, ruídos na articulação, sensibilidade na musculatura da face, ombros e pescoço, por meio da palpação, condição dentária geral, desvios na deglutição, acrescentando-se ainda os exames radiográficos da ATM, tomografia, artroscopia e imagens por ressonância magnética. Damante ( 1990) enfatiza a importância da anamnese e exame clínico, em casos de dor facial, advertindo que os raios x não são capazes de fotografar a dor. Além desse exame, o paciente pode ser encaminhado para outras avaliações: psicológica, a fim de que sejam identificados possíveis fatores psíquicos na etiologia do problema; a fisioterápica, que examina as possíveis alterações posturais e sintomatologia que acarretam distúrbios de tônus muscular e motricidade das regiões cervical e facial, assim como artralgias, mialgias e edemas dessas áreas. A fonoaudiológica verifica postura, tonicidade e motricidade da musculatura orofacial, envolvendo o repouso e as funções estomatognáticas, além de problemas de voz, dores ou outros sintomas. Burton (1969), Ramfjord e Ash (1972), Schwartz e Chayes (1973), Molina (1989) e Bell (1991) escreveram sobre a necessidade de um diagnóstico diferencial de outras patologias que podem produzir dores faciais e/ou outros sintomas semelhantes como: nevralgias típicas envolvendo os nervos, neuralgias atípicas de origem vascular, 36 carcinoma nasofaringeal, isquemia do miocárdio, doenças da glândula salivar, doenças otológicas, tumor do nervo acústico,, neuralgia trigeminal por esclerose múltipla e outras. Czlusniak e Feres (1993) confirmam ser de muita importância obter as tomadas radiográficas que propiciem uma visão nítida da região articular e estruturas adjacentes, osso temporal, meato auditivo externo e região posterior do arco zigomático. Entretanto, devido as variações anatômicas, a anatomia dessas estruturas não pode ser padronizada, o que torna difícil a freqüente obtenção de boas radiografias. Ricketts (1950) na busca de uma técnica radiográfica mais eficiente utilizou as laminagrafias da ATM e em 1950 estudou o limite da variações normais na morfologia e função da ATM, tentando correlacionar certas características da dentição com o comportamento das articulações. Numa investigação sobre fatores que influenciam na qualidade das radiografias da ATM, Weimberg (1972) acredita que a técnica radiográfica simplificada poderia ser usada clinicamente com bons resultados. O mesmo autor em 1975, declarou que o diagnóstico de disfunção deve ser estabelecido com base na história de dor, exame clínico da musculatura e oclusão que são então relacionados com as radiografias. 37 2.2.d- Classificação das DTMs Segundo Bianchini (1998) os problemas da ATM são divididos em distúrbios musculares e distúrbios articulares. 1) Distúrbios Musculares ou extra- articulares, são aqueles que afetam os músculos da mastigação e podem ser: • dor miofacial : é caracterizada por regiões dolorosas na musculatura. Pode haver a presença de pequenos pontos que desencadeiam dor em outras regiões próximas da que foi tocada (trigger points) • miosite: é a inflamação dos músculos acarretando redução do movimento mandibular ou aumento de sintomatologia dolorosa durante o exame em decorrência de palpação ou da movimentação • trismo: é a diminuição severa do grau de abertura bucal associado à mioespasmo ou contratura muscular 2) Distúrbios Articulares ou intra- articulares, são aqueles que ocorrem dentro da cápsula: • alteração da forma das superfícies articulares por problemas de remodelação das estruturas ou condições adquiridas • deslocamento do disco articular ocorre por uma incongruência na relação côndilo-disco. Posiciona-se geralmente em direção anterior pode ocorrer: 1. com redução ,ou seja há a recaptura do disco articular durante o movimento articular. Há presença de estalo. 38 2. sem redução, deslocamento anterior do disco que permanece mantido durante o movimento de translação mandibular. Ocorre limitação no movimento mandibular e/ou acarreta desvio em seu percurso para o lado afetado. Há presença de dor. • Luxação: ocorre perda de contato entre as superfícies articulares, o côndilo é posicionado anteriormente à eminência articular, sendo incapaz de retornar à sua posição de repouso. Resulta em impossibilidade de fechar a boca, sendo necessária manipulação pelo clínico. • Inflamação: pode ser: sinovite ou capsulite e ocorrem secundariamente a um trauma, sobrecarga excessiva ou prolongada da articulação durante atividades funcionais ou parafuncionais como hábitos deletérios. • Osteoartrite ou artrite degenerativa: ocorre por modificações estruturais nas superfícies articulares. É freqüente o envolvimento do disco articular, pode haver sintomatologia dolorosa, crepitação e alterações funcionais caracterizadas por desvios em percurso mandibular, geralmente para o lado afetado • Anquilose: ocorre pela união óssea ou por fibrose das superfícies articulares, causada por trauma como fratura de côndilo. As infecções locais como otites médias e mastoidites severas e sistêmicas como a artrite reumatóide também são causas. Há enorme limitação ou impossibilidade dos movimentos mandibulares, especialmente abertura e protrusão. 39 Se for unilateral, possibilita apenas um movimento mínimo de lateralidade para o lado do movimento condilar do lado sem comprometimento, seu tratamento é cirúrgico. 2.3- Oclusão De acordo com Vellini(1997) a posição oclusal ou oclusão propriamente dita, se estabelece quando, a partir da inoclusão ( posição fisiológica de repouso) a mandíbula se move para colocar em contato os dentes de ambos os maxilares, havendo então contração muscular. Para que a oclusão se estabeleça é necessário haver contato dental, em um ou vários pontos, com mobilidade mandibular. A contração muscular refere-se apenas ao movimento suficiente para vencer a ação da gravidade. Pode haver então inúmeras posições de oclusão. A oclusão dental pode ser definida com a posição determinada pela máxima e melhor intercuspidação dental, estando a mandíbula em atitude estática. É a partir da relação central, definida como a posição mais retruída da mandíbula desde a qual pode se efetuar confortavelmente todos os movimentos de lateralidade e abertura da boca, obtem-se a oclusão central. A oclusão central é o protótipo de todo e qualquer tratamento odontológico, sendo que uma oclusão central perfeita é impossível de 40 se verificar pois exigiria uma integridade anátomo- funcional de todos os elementos dentais ( cúspides, planos inclinados, ligamentos). A oclusão normal individual pode então ser definida como vinte e oito dentes corretamente ordenados no arco e em harmonia com todas as forças estáticas e dinâmicas que sobre eles atuam ou seja é uma oclusão estável, sã e esteticamente atrativa. Nesta oclusão, a gengiva deve manter-se sadia, com coloração rosada, sem sangramento e boa aderência, o osso alveolar íntegro, sem reabsorções e a ATM livre de dor, ruído ou qualquer disfunção. Por oclusão entende-se a relação estática entre as superfícies incisais ou mastigatórias dos dentes maxilares e mandibulares ou dentes análogos. Para haver harmonia no sistema estomatognático, é necessário que os côndilos estejam alinhados corretamente com seu disco e o conjunto côndilo- disco esteja posicionado na fossa glenóide em relação cêntrica. A relação cêntrica é definida como sendo a posição mais retruída e também não forçada. Porém a definição mais atual foi dada por Dawson(1993), ou seja, “relação cêntrica é a relação da mandíbula com a maxila, quando o conjunto côndilo -disco propriamente alinhado está na posição mais superior contra a eminência, independente da posição dos dentes ou da dimensão vertical”. 41 Outro conceito importante é aquele que ocorre quando os dentes estão em máximo contato, independente da posição côndilo-disco, chama-se máxima intercuspidação habitual(MIH). Quando há diferença entre a posição de relação cêntrica e a MIH, geralmente encontram-se pacientes com desordens temporomandibulares. Torna-se importante entender estes conceitos, não só para diagnosticar como para tratar as DTMs. A compreensão da oclusão envolve também conceitos como Curva de Spee: que é uma curvatura anatômica do alinhamento dos dentes , vista lateralmente, partindo do ângulo incisal do canino inferior, passando pelas cúspides vestibulares dos pré-molares e molares. Sendo que é importante por causa da estabilidade das arcadas e caso seja muito acentuada por migrações dentárias ou irregulares por extrusão de dentes que perderam seus antagonistas, ou movimentos funcionais da mandíbula poderão sofrer alterações devido as inferências. A curva de Wilson, tem um sentido vestíbulo-lingual, passando pelas cúspides vestibulares e linguais dos dentes posteriores de ambos os lados, sendo côncava no arco inferior e convexa no superior. Essa curva de compensação relaciona-se aos movimentos de lateralidade e a mastigação. A inclinação da tábua oclusal inferior para dentro e da superior para fora, favorecem a ação da língua e dos músculos bucinadores na colocação dos alimentos sobre as superfícies oclusais para ser mastigado. Se 42 esta curva estiver muito plana, haverá um aumento da atividade desses músculos. Uma desoclusão pode ocorrer seguindo a guia anterior ou guia incisal, que se dá pelo deslizamento dos dentes anteriores inferiores com os dentes anteriores superiores durante o movimento de protrusão. Essa condição, não deve sofrer alterações ou toques dentários posteriores, se isto ocorre, indica desarmonia oclusal. Há ainda outro tipo de desoclusão: guia canina ou proteção canina, ou seja, durante as excursões laterais da mandíbula somente se tocam os caninos do lado de trabalho, ficando os demais dentes fora de oclusão. Pode ocorrer também o que se chama função em grupo, ou seja, durante os movimentos excursivos laterais da mandíbula, as cúspides vestibulares dos dentes superiores deslizam sobre as cúspides inferiores vestibulares a partir dos caninos, seguindo-se os pré-molares e molares. Estas guias funcionais são as que a mandíbula segue nas funções de mastigação, fala, deglutição, e outras, as quais dependem do posicionamento dos dentes anteriores que por sua vez pode ter sido determinado pelos lábios, língua, plano oclusal e comprimentos ótimos de contração muscular. Um outro item importante é a dimensão vertical de oclusão, que é a medida vertical da face, tomada pela medição de dois pontos na linha média, um abaixo e outro acima da boca, quando os dentes estão em posição de máxima intercuspidação. 43 Quando ocorre perda de suporte posterior e desgastes excessivos provocados por bruxismo podem provocar a diminuição da dimensão vertical. Na deglutição, o comprimento dos músculos contraídos é constante, o que possa explicar o posicionamento da língua entre as arcadas, quando a dimensão vertical de oclusão está diminuída, a fim de estabilizar a mandíbula. Se a mandíbula está em repouso, existindo um espaço interoclusal, tem-se a dimensão vertical de repouso, sendo este também chamado de espaço funcional livre. A posição de repouso fisiológico da mandíbula é aquela em que os vários músculos mandibulares estão simultaneamente em seu comprimento de repouso e em tônus equilibrado com os outros músculos. Em pessoas com hábito de apertamento constante de dentes ( bruxismo cêntrico) os músculos elevadores da mandíbula não repousam, levando-os a hiperatividade. Sendo assim, quando em oclusão, os dentes mandibulares e maxilares precisam estabelecer contatos bilaterais e simultâneos com forças equivalentes. Se um dente e seu antagonista se tocam antes que todos os outros, tem-se então o contato prematuro, que pode vir a desencadear hiperatividade dos músculos elevadores da mandíbula a fim de proteger aquele dente e suas estruturas periodontais. 44 Se ocorrerem interferências oclusais durante os movimentos mandibulares, estas podem alterar a tonicidade da musculatura e a harmonia do sistema pode ser destruída. A oclusão é fisiológica quando mesmo não possuindo características de uma oclusão ideal, ocorre uma adaptação satisfatória das estruturas do sistema, assim como as funções. Porém, quando ocorre alguma alteração da oclusão e com ela sinais e sintomas de patologia, esta é dita não fisiológica. Cada indivíduo tem sua capacidade de adaptação, para alguns, mínimas interferências podem ser suficientes para desencadear hábitos parafuncionais e/ou uma desorganização total do sistema e outros indivíduos se adaptam a grandes alterações. Portanto, em pacientes com alterações causadas estritamente por um mau relacionamento oclusal, há necessidade da obtenção ou reaquisição das características já mencionadas, através de procedimentos como ajuste oclusal por desgaste seletivo, reabilitação oral ou tratamento ortodôntico. 2.4- Maloclusão e ATM De acordo com Martins e Ferreira (1997) as maloclusões são classificadas em três categorias: Classes I, II e III, de acordo com a posição que o primeiro molar superior ocupa em relação ao primeiro molar inferior“chave molar”. 45 Na Classe I ocorre a oclusão correta entre os molares permanentes superior e inferior, na qual a cúspide mesiovestibular do primeiro molar superior oclui no sulco mesiovestibular do primeiro molar inferior. Neste tipo de oclusão podem ocorrer problemas oclusais devido à falta de espaço no arco (apinhamento), mordida aberta, mordida profunda, cruzamento de mordida ou até a biprotrusão. São classificadas como Classe II de Angle as maloclusões nas quais o primeiro molar permanente inferior situa-se distalmente ao primeiro molar superior. As maloclusões de Classe II foram separadas em duas divisões: • ClasseII divisão primeira- onde ocorre inclinação vestibular dos incisivos superiores, e também um desajuste ântero-posterior denominado de “overjet” Pode haver ainda presença de mordida profunda, mordida aberta, problemas de espaço, ou ainda cruzamento de mordida. • Classe II divisão segunda – onde não há sobressaliência dos incisivos superiores, estando estes lingualizados ou verticalizados. Neste caso é provável encontrar associada a Classe II segunda divisão, mordida profunda anterior principalmente nos casos em que não há contato interincisal. Na Classe III, o primeiro molar permanente inferior e portanto seu sulco mesiovestibular, encontra-se mesializado em relação à cúspide mesiovestibular do primeiro molar permanente superior. 46 É freqüente ocorrer cruzamentos de mordida anterior ou posterior, pode haver ainda problemas de espaço (falta ou espaço), mordida aberta ou profunda e más-posições dentais individuais. Ricketts (1953) utilizou a laminagrafia da ATM com o intuito de estudar a posição do côndilo nas diversas maloclusões, a fim de desenvolver um meio diagnóstico para as disfunções da ATM. Nos indivíduos com oclusão normal, constatou-se uma centralização do côndilo e no grupo de indivíduos com maloclusão Classe II, houve um posicionamento mais para baixo e para frente quando em repouso. Nos indivíduos Classe III, o autor observou uma tendência do côndilo para uma posição mais mais acima na cavidade glenóide . Roth (1982) associou determinadas características de maloclusões com o posicionamento dos côndilos nas respectivas cavidades articulares. A maloclusão Classe II divisão primeira, com uma severa discrepância ântero- posterior, os côndilos poderiam estar situados anteriormente nas vertentes da eminência. Já a maloclusão Classe II divisão segunda teriam os côndilos localizados mais distalmente e finalmente na Classe III os côndilos estariam freqüentemente posicionados supero- anteriormente. 47 2.5- Ortodontia Segundo Petrelli (1994) a ortodontia é o estudo do crescimento do complexo crâniofacial, do desenvolvimento da oclusão dentária, e tem por objetivo prevenir ou corrigir as alterações anátomo - funcionais e estéticas. Dentro da odontologia, a ortodontia é a especialidade mais antiga, e em 1929 foi estabelecida a Comissão Norte- Americana de ortodontia, para determinar as normas e o exercício da ortodontia. A terapêutica ortodôntica é dirigida para a oclusão anormal dos dentes, com vistas para o crescimento crâniofacial e para a função neuromuscular bucofacial. Essas anormalidades podem causar as seguintes situações: 1) mastigação debilitada 2) suscetibilidade a problemas periodontais 3) suscetibilidade a cárie 4) dicção perturbada devido as más- posições dos dentes 5) disfunção da articulação temporomandibular 6) estética facial dasagradável 48 2.5.a- Terapêutica Ortodôntica Petrelli(1994) esclarece que a terapêutica ortodôntica realiza-se por meio de uma combinação de dispositivos ativos e passivos, para a modificação do campo de forças que envolvem os dentes. Estes dispositivos originam forças que vão atuar nos tecidos de sustentação dos dentes, estimulando as modificações requeridas para o movimento dentário. Falten(1988) coloca que os métodos utilizados pela Ortodontia Contemporânea podem dividir-se em: 1) Ortodontia propriamente dita 2) Ortopedia maxilar Segundo Urias(1994) a terapia ortodôntica tem a capacidade de induzir alterações nos tecidos ósseos da face através da aplicação de estímulos mecânicos dirigidos aos dentes. As forças desenvolvidas, sejam elas pela ação mecânica de um aparelho ortodôntico ou pelas contrações musculares contra os dentes, darão início a uma cadeia de reações que resultam em remodelamento das estruturas periodontais- cemento, fibras do ligamento periodontal, osso alveolar, e vão conduzir os dentes às novas posições. Os estímulos mecânicos produzidos são também capazes de interferir no padrão de deposição e reabsorção ósseo, inclusive em locais mais 49 distantes, como as suturas da maxila, ou as superfícies das articulações temporomandibulares Então, estas respostas biológicas permitem não somente a movimentação do dente e seu alvéolo, bem como modificações no tamanho, forma e posição dos maxilares. O processo alveolar e os ossos da face respondem a várias categorias de força: 1) Forças Fisiológicas : são forças que existem continuamente, mas estão mais ativas durante a erupção dos dentes. As reações teciduais durante os movimentos dentários fisiológicos são bastante semelhantes àquelas produzidas pela movimentação ortodôntica. A diferença fundamental é que o movimento ortodôntico produz reações mais rápidas e mais extensa. 2) Forças Funcionais : a força muscular é capaz de causar alterações ortopédicas, inclusive de lavar à movimentação dentária. Assim, a pressão exercida pela musculatura em repouso ou durante atividades como a mastigação, deglutição e a fonação produz “estresse” sobre os dentes e tecidos osteogênicos ( periósteo, endósteo, ligamento periodontal e etc. ) levando a alterações na morfologia óssea, posição dentária e oclusão. As forças funcionais estão associadas com os aparelhos de ortopedia funcional dos maxilares, dispositivos que soltos dentro da boca redirigem as contrações musculares e induzem alterações de crescimento no tecido ósseo 3) Forças Ortodônticas : são aquelas que promovem movimentação de dentes individualmente ou de grupos dentários através da remodelação do osso 50 alviolar provocada pela ativação mecânica do aparelho. Forças ou momentos de força podem ser desenvolvidos pela incorporação de dobras , alças, torção no fio, tração elástica resultando em movimentos em várias direções. 4) Forças Ortopédicas : são forças de grande magnitude, que não causam apenas deformação no osso alviolar suficiente para alterar a posição dentária, mas estendem-se a áreas mais remotas, provocando alterações na forma e posição dos maxilares. A estrutura que primeiramente sofrerá alteração durante a movimentação é o ligamento periodontal, as fibras que o compõe, as células, nervos, capilares, e secundariamente o osso alveolar. • Ligamento Periodontal : é uma estrutura de tecido conjuntivo altamente especializada com 0,2 mm de espessura, situado entre o dente e o osso alveolar. É composto de fibras colágenas por todo o ligamento até o cemento radicular. O espaço periodontal, cujas paredes são retentivas porém porosas para absorver choques, é preenchido por fluído derivado do sistema vascular. Sua função além de promover sustentação dos dentes pela inserção de fibras, por ser esta estrutura uma membrana de tecido conectivo extremamente dinâmico, irá participar diretamente na erupção dentária, nos movimentos de inclinação, rotação e translação, além de propiciar remodelamento ósseo. Os osteoblastos, células envolvidas na deposição óssea revestem a superfície do ligamento e podem estar funcionalmente ativos ou em repouso, dependendo do estado funcional do ligamento. O fibroblasto está diretamente envolvido no processo de remodelação das fibras do ligamento, tanto pela sua capacidade 51 de síntese como de degradação do colágeno. A atividade constante desta célula propicia o mecanismo de ajuste das fibras as novas posições dentárias. • Osso Alveolar : o processo alveolar é a porção dos maxilares que contém os alvéolos, onde estão localizados os dentes, e consiste de duas corticais externas, formando as lâminas vestibular e lingual do processo alveolar, uma camada central de osso esponjoso e uma camada que reveste o alvéolo. Esta camada que reveste o alvéolo, propicia a inserção do ligamento periodontal. A grande plasticidade do osso alveolar permite o movimento fisiológico dos dentes e acomodações aos pequenos movimentos dentários durante a mastigação, e também possibilita o movimento dentário pelas forças ortodônticas. 2.5.b- Biomecânica do Movimento Ortodôntico O tratamento ortodôntico é baseado na premissa de que quando se aplica uma força (pressão) prolongada a um dente, este se movimenta levando consigo todo o seu aparato de inserção devido a remodelação óssea. Uma vez que a remodelação óssea é mediada pelo ligamento periodontal, o movimento é inicialmente um fenômeno do ligamento periodontal. A força aplicada aos dentes pode não só modificar o modelo de aposição e reabsorção óssea local como também agir à distância como por 52 exemplo nas suturas da maxila e superfícies ósseas da articulação temporomandibular. Sendo assim a resposta biológica à terapia ortodôntica inclui além da resposta do ligamento periodontal, resposta de áreas de crescimento distantes da dentição. Portanto, toda força que conduz um dente a uma nova posição comprime o ligamento periodontal de um lado, deslocando o dente e seu alvéolo, causando desta forma áreas de tensão nas fibras do ligamento do lado oposto. A pressão de um lado induz a reabsorção, e a tensão criada induz a deposição óssea. Logo, o ligamento periodontal é perfeitamente adaptado para suportar forças curtas, mesmo intensas, mas perde sua capacidade de resposta quando o fluido é expelido de sua área. Forças contínuas, mesmo de baixa intensidade, produzem remodelação do osso alveolar, sendo encontradas naturalmente na boca, exemplo : língua, lábios e bochechas têm o mesmo potencial que as forças ortodônticas para movimentar dentes. 2.5.c- Reabsorção O processo de reabsorção é mediado por células, os osteoblastos. Estes produzem e armazenam enzimas como a colagenase, e 53 secretam ácidos relacionados com a quebra de componentes orgânicos e inorgânicos do osso. Dependendo da magnitude das forças aplicadas, dois tipos de reabsorção podem ocorrer: reabsorção frontal ou reabsorção à distância, também chamada minante. A reabsorção frontal é geralmente estimulada pela aplicação de forças “’leves”’ e consiste na reabsorção de osso alveolar adjacente à área do ligamento sob pressão. Mas, se forem empregadas forças “pesadas”(forças de maior magnitude) o nível de pressão oclui os vasos sangüíneos do ligamento, e este privado de nutrientes e oxigênio sofre alterações chamadas de hialinização. Hialinização é um termo utilizado para descrever a destruição celular devido a trauma. Embora não haja destruição de suas fibras, o ligamento perde sua aparência fibrótica pelas alterações na substância fundamental amorfa. Não se pode esperar remodelamento se não há células presentes. No período de hialinização, não há movimentação, essas alterações impossibilitam o remodelamento na superfície alveolar e levam a um processo de reabsorção à distância. Já neste processo a remoção do osso alveolar provém da formação de osteoclastos em áreas com suprimento adequado. Assim sendo, a reabsorção iniciará nos espaços medulares acima e abaixo da área hialinizada para a superfície alveolar que será a última a ser absorvida. 54 Embora ocorra remoção do osso alveolar as conexões dente-osso alveolar serão mantidas pela liberação das fibras que fazem parte da matriz óssea e sua conversão em fibras do ligamento periodontal. Para que haja reinserção da s fibras do ligamento é preciso que ocorra deposição de substância fundamental amorfa na área em reabsorção, seguida da formação de novas fibras. 2.6- Tratamento Ortodôntico x DTM Foi no final dos anos oitenta que alguns autores começaram a realizar estudos sobre a influência do tratamento ortodôntico nas disfunções temporomandibulares. Já que foi nessa época que apareceram as primeiras discussões que atribuíam ao tratamento ortodôntico a causa provável da DTM. A Associação Americana de Ortodontia patrocinou a partir desta data, uma série de pesquisas concernentes à relação do tratamento ortodôntico com a DTM. Thompson (1994) escreveu em seu artigo que a intercuspidação ineficiente dos dentes e a intrusão dos dentes no espaço livre são dois dos muitos fatores etiológicos que podem levar à uma DTM. Sendo o tratamento ortodôntico um tratamento de natureza longitudinal, é importante observar as mudanças nos sinais e sintomas da DTM numa população sadia (sem tratamento ortodôntico). Alguns estudos mostram 55 que geralmente os sinais e sintomas da DTM aumentam em freqüência e severidade na segunda década de vida. Wanman e Agerberg (1991) descreveram que a incidência de sons na articulação durante o tratamento ortodôntico pode ser considerada dentro do contexto das mudanças longitudinais de uma população não tratada comparável estudada (durante o mesmo intervalo de tempo). Sadowsky e Be Gole (1988) descreveram as descobertas de um estudo realizado na Universidade de Illinois do qual fizeram parte 75 indivíduos adultos que há pelo menos 10 anos foram tratados com aparelho ortodôntico ainda quando adolescentes. Este grupo foi comparado a um outro não tratado com maloclusões de 75 indivíduos. Logo depois, a amostragem subiu para 96 tratados e 103 não tratados e estes foram comparados a um grupo de 111 indivíduos que receberam tratamento há 10 anos atrás e um grupo controle de 111 com maloclusões não tratadas. Os resultados apontaram que 15 a 21% dos indivíduos apresentou um ou mais sinais de DTM e 29 a 42% apresentou pelo menos um ou mais sinais de DTM (que na maioria foram ruídos na articulação). Os autores não puderam verificar diferenças estatisticamente significativas entre os grupos tratados e não tratados. Um outro estudo foi realizado por Larsson e Ronnerman (1981) com 23 pacientes adolescentes que receberam tratamento ortodôntico há 56 pelo menos 10 anos. Destes 23 pacientes, 18 foram tratados com aparelho fixo e 5 com tratamento ativador. Feita a avaliação, os autores confirmaram que 8 pacientes apresentaram uma disfunção leve e somente 1 apresentou DTM severa. Dahl e seus colaboradores (1988) estudaram 51 indivíduos após 5 anos de término do tratamento ortodôntico e compararam este grupo com um grupo de 17 indivíduos não tratados. Os autores observaram que sintomas como dificuldade nos movimentos mandibulares, travamento da boca ou dor não foram verificados, porém sintomas como ruídos na articulação, restrição aos movimentos mandibulares, dor maxilar, dor muscular, apareceram com maior freqüência no grupo não tratado. Ricketts (1952) associou o efeito do tratamento ortodôntico de maloclusão de Classe II de Angle com a posição condilar. O autor observou que após a terapia ortodôntica houve um reposicionamento condilar em 86% dos casos, ou seja, para baixo e para frente ou para cima e para trás da posição condilar original. Este achado foi atribuído ao assentamento apropriado do côndilo na fossa glenóide após a mudança da relação molar para Classe I . Janson e Hasund (1981) analisaram a possibilidade do tratamento ortodôntico na adolescência levar a disfunções articulares na fase adulta. Porém, verificaram que os casos tratados ortodonticamente mostraram menos problemas funcionais do que as maloclusões não tratadas. 57 Vanderas (1993) declara que a maloclusão e a disfunção da ATM não representam uma relação de simples causa e efeito. Assim sendo, o tratamento precoce de maloclusão não pode garantir a prevenção do desenvolvimento de problemas de ATM. Da mesma forma, a análise retrospectiva de pacientes ortodônticos em comparação com indivíduos que apresentam maloclusões não tratadas e com populações aleatórias não mostrou evidências de que o tratamento ortodôntico possa causar distúrbios da ATM. Owen (1998) realizou um estudo onde 600 pacientes foram examinados por terem desenvolvido sinais ou sintomas de disfunção temporomandibular durante o tratamento ortopédico/ ortodôntico. Destes 600 pacientes examinados num período de 24 meses, 16 ou seja 2,6% apresentaram algum sintoma de disfunção temporomandibular durante o tratamento. Por se tratar de uma amostra pequena, o autor coloca que não encontrou resultados conclusivos, mas pôde ressaltar algumas tendências. Destes 16 pacientes, 5 apresentaram Classe II, 6 Classe II “end on”, 3 Classe I, e 2 Classe III, e foram submetidos a vários tipos de mecânica como por exemplo: ancoragem extra-bucal, extrações, Frankel II e IV, quadhelix, expansor, elásticos de Classe II e III, entre outras mecânicas. Segundo o autor, 5 pacientes apresentaram overjet (sobressaliência ), 5 overjet moderado, 5 overjet normal e 1 não tinha overjet. 58 Portanto esta pequena amostra sugere que o overjet não pode ser associado com o desenvolvimento da DTM. Em 8 pacientes encontrou-se mordida profunda severa, normal em 3, moderada em nenhuma e aberta em 3. Pode se notar uma tendência maior para desenvolver DTM em sujeitos com mordidas profundas severas e mordidas abertas. A tendência mais forte para desenvolver DTM, 93,75% ocorreu com os pacientes que apresentaram deslocamento condilar posterior durante o tratamento, mas o autor não pôde detectar qual o tipo de mecânica utilizada causaria esta associação. Torna-se oportuno declarar que uma baixa porcentagem destes pacientes irão apresentar sintomas de DTM durante o tratamento ortodôntico independente de mecânica empregada. Os pacientes que usaram mecânicas de avanço mandibular (ortopedia funcional) ou mecânica de retração da maxila também não pôde ser feita uma associação com o desenvolvimento de atm durante o tratamento ortodôntico. Portanto, o autor sugere que sejam propostas pesquisas com um número muito maior de pacientes, a fim de se confirmar ou não seus achados. Gianelly et al (1988) descreveu o primeiro trabalho para definir a posição condilar após o tratamento ortodôntico, tendo sido realizadas extrações. 59 Os autores afirmaram que nenhum tratamento ortodôntico com extrações de pré-molares, e pacientes com mordida profunda, mostrou associação com côndilos deslocados posteriormente. Para Gianelly et al a falta de concentricidade do côndilo não significa que haja qualquer anormalidade na articulação. Um outro estudo sobre este assunto cujos autores são Sadowsky e colaboradores (1991) relata que de 160 pacientes, 54% tiveram utilizada a técnica de extração. Ocorreu monitoramento dos sons na articulação antes e após o tratamento em 87 pacientes com extração e 68 sem extração Verificou-se que 25% dos pacientes apresentava sons na articulação antes do tratamento e 16,5% apresentou sons após o tratamento, e também 14% dos pacientes apresentou estalido recíproco e 8% estalido após o tratamento. Sendo assim, com este estudo os autores concluíram que não houve uma progressão dos sinais e sintomas durante o tratamento ortodôntico. Um estudo longitudinal feito por Dibbets e Van Der Weele (1991) que seguiram 111 pacientes durante 15 anos, sendo que em 34% dos pacientes não ocorrem extrações, 4 pré- molares foram extraídos em 29% e outros 37% dos pacientes. Foram empregados aparelhos funcionais aparelhos fixos em 44% e mentoneiras em 17% dos pacientes. 60 em 39%, Os sintomas aumentaram de 20% para 62%, os sinais de estalido e crepitação aumentaram de 23% para 36% após 04 anos, e então se estabilizaram. Foi verificado então que nos primeiros 10 anos durante os quais não houve diferença entre os 03 grupos de tratamento em relação ao estalido, porém após 15 anos este sintoma foi mais observado no grupo com extração de pré- molar. Os autores observaram a partir dos dados que o sintoma de estalido foi maior no grupo com extração de pré- molar antes do início do tratamento e concluíram que o padrão original de crescimento em vez do tratamento com extração, foi o principal fator relatado nas DTMs. Foi concluído também que durante o estudo, muitos pacientes referiram que os sintomas apareceram e desapareceram, e que também muitos pacientes que eram sintomáticos, durante o estudo passaram a assintomáticos. Torna-se importante salientar que alguns artigos descrevem que certos procedimentos ortodônticos poderiam levar a uma DTM por provocarem um deslocamento distal do côndilo. Um estudo importante foi realizado por Gianelly et al (1988) no qual foram analisadas tomogramas corrigidos para avaliar qual a posição condilar em 37 pacientes com idade entre dez e dezoito anos antes de iniciarem tratamento ortodôntico. 61 Os exames foram comparados com os de 30 pacientes que utilizaram aparelhos fixos e também houve remoção de quatro pré- molares. Os autores puderam concluir que não foi observada nenhuma diferença na posição condilar nos dois grupos estudados, ou seja, a posição do côndilo permaneceu no centro da fossa glenóide, e houve muita variação nos dois grupos quanto a posição condilar. Paquette e colaboradores (1992) observaram grupos que realizaram extração com grupos que não realizaram extração , com relação aos sinais e sintomas de DTM e puderam constatar que em ambos os sinais e/ou sintomas não aumentaram mesmo havendo deslocamento mesial da mandíbula. Uma pesquisa realizada por Lulcke e Johnston (1992) avaliou pré e pós tratamento de 42 pacientes tratados com aparelho fixo e com remoção de 2 pré-molares superiores. Neste estudo pode ser verificado que 70% dos pacientes apresentaram um avanço da mandíbula e também pequena rotação de abertura da mandíbula. Sendo que os restantes 30% apresentaram movimento posterior de côndilo. Outra conclusão importante deste estudo revela que quando ocorre uma mudança na posição da mandíbula, esta ocorre em função das mudanças na posição ântero- posterior dos segmentos anteriores em oclusão, ao invés dos incisivos estarem relativamente fora de oclusão. Egemark- Erikson et al (1990) realizaram um estudo longitudinal com 239 pacientes em três grupos de idade com sete, onze, quinze 62 anos. Dos dois primeiros grupos, 120 crianças foram examinadas quatro anos depois do tratamento ortodôntico e do outro grupo 119 voltaram para a reavaliação 05 anos após o término do tratamento. O exame constava da avaliação da condição oclusal, sinais de DTM como: dor a palpação, dor ou dificuldade nos movimentos mandibulares. Os pacientes também responderam a um questionário contendo questões sobre sintomas de DTM e também foram obtidos dados sobre o tratamento ortodôntico. Os autores obtiveram algumas conclusões como: algumas maloclusões morfológicas são mais importantes do que outras em relação a DTM. Ou seja, mordida cruzada, mordida aberta anterior, Classe II de Angle, Classe III de Angle tem maior influência no desenvolvimento de uma DTM. A presença de mordida cruzada uni ou bilateral predispõe o paciente a uma DTM com sintoma de dor, a Classe II de Angle tem sido considerada por muitos autores como um fator de risco para a DTM. E este estudo mostrou que um avanço da maxila combinado com uma Classe II de Angle podem levar ao desenvolvimento de uma DTM a longo prazo. Já na Classe III de Angle, os autores têm encontrado uma significante relação com os sintomas de uma DTM como dor na palpação. Com relação ao tratamento ortodôntico, os autores colocam que num estudo longitudinal com pacientes que receberam o tratamento precocemente, analisados após 10 anos, estes pacientes apresentaram poucos sinais de DTM. 63 Alguns artigos colocam que a DTM pode ocorrer de uma falha no tratamento ortodôntico de pacientes relacionada a padrões gnatológicos que incluem o estabelecimento de uma oclusão protegida e a acomodação adequada do côndilo mandibular na fossa glenóide. De acordo com os princípios gnatológicos, embora uma oclusão estável seja um objetivo do tratamento ortodôntico, a não obtenção de uma oclusão específica gnatologicamente ideal pode não resultar em sinais e sintomas de DTM. 64 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS O objetivo principal desta pesquisa teórica foi verificar se o tratamento ortodôntico poderia ou não ser uma das principais causas das disfunções temporomandibulares. A escolha deste tema surgiu a partir da prática clínica , aonde havia com freqüência casos em que se pôde observar esta possível correlação: pacientes que haviam concluído o tratamento ortodôntico e apresentavam certos sinais e sintomas de disfunção temporomandibular, sendo que alguns indivíduos começaram a apresentar os sintomas durante ou após terem concluído o tratamento ortodôntico. Existem hoje, muitos estudos que procuram investigar a etiologia das disfunções e que vêem comprovar que a causa das disfunções é mesmo multifatorial. Porém , poucos autores propõem esta relação : seria o tratamento ortodôntico fator etiológico das disfunções temporomandibulares? Em certos trabalhos pesquisados, autores citam que procedimentos da clínica ortodôntica , como por exemplo a intercuspidação deficiente dos dentes e a intrusão dos dentes no espaço livre poderiam ser dois dos muitos fatores etiológicos que conduzem a disfunção da ATM. Por outro lado, foram encontrados alguns sinais e sintomas de disfunção em indivíduos ditos sadios. 65 Sendo assim, estas contradições a respeito deste tema contribuiram ainda mais para a realização desta pesquisa, mesmo porque o tratamento da disfunção é um campo de atuação novo para a Fonoaudiologia. Considero que este trabalho poderá contribuir para que os profissionais que atuam na área possam elucidar questões importantes como seu tratamento ortodôntico conduz a um maior índice de sinais de disfunção temporomandibular. O ortodontista diferenciado deve preocupar-se não só com a normalização da posição dentária mas também com o estado gengival, higiene bucal de seu paciente, riscos de absorções radiculares e é imprescindível que ele esteja atento a saúde da Articulação Temporomandibular. Além da anamnese, exame clínico, análise funcional clínica, palpação muscular e na região articular é importante observar e analisar os movimentos mandibulares. Devem-se examinar com critérios de radiografias transcranianas em máxima intercuspidação habitual com finalidade de verificar o contorno do côndilo, presença ou ausência de distorção da forma, deformação patológica, desarmonia da forma condilar e da fossa, ou mesmo defeitos e deformidades condilares. Deve-se também estar atento ao posicionamento do côndilo em relação à harmonia dos espaços articulares anterior, superior e pósterosuperior, entre côndilo e cavidade glenóide. 66 Neste sentido, o ortodontista de posse de radiografias tem a possibilidade de relacionar e acompanhar as alterações que possam ocorrer na região da ATM durante todo o tratamento ortodôntico. 67 4- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABREU, F .V. G. ; BASTOS, E. P. S. ; CASTRO, L. A. ; SOUZA, I .P .R. ; SOVIERO, V.M. Disfunção da articulação têmporo- mandibular em crianças: revisão da literatura. Jornal Brasileiro de Ortodontia e Ortopedia Maxilar, 2 (9) : 49 – 52, 1997. AGERBERG, G. & WANMAN, A. .Etiology of craniomandibular desorders: evaluation of some occlusal and psychosocial factors in 19 years old. Journal of Craniomandibular Desorders Facial Oral Pain 12(5) : 35-44, 1991. BEATTIE , J. R. ; JOHNSTON, L. E. JR. ; PAQUETTE , D. E. . 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