Enxaqueca, TPM ou DTM? Disfunções na articulação temporomandibular exigem atendimento multidisciplinar Mulheres são as principais vítimas de dor na articulação temporomandibular. Em permanente estado de ansiedade, já que tendem a acumular responsabilidades, muitas continuam sem saber se a causa do mal-estar está relacionada à tensão pré-menstrual, à enxaqueca, ou a um problema de ATM. Principalmente entre 30 e 45 anos, muitas convivem com uma dor de cabeça crônica sem imaginar que sofrem de bruxismo – que é o apertar e ranger de dentes durante o sono. De acordo com Katia Izola, professora da Escola de Aperfeiçoamento Profissional da APCD (Associação Paulista de Cirurgiões-Dentistas), a disfunção temporomandibular é um conjunto de alterações que afetam diretamente os movimentos da mandíbula – principalmente quando a pessoa fala, dá risada, se alimenta ou boceja. “A ATM é uma das articulações mais complexas do corpo e liga a mandíbula ao crânio. Na anatomia da cabeça, os limites entre o crânio e a face não são tão nítidos assim, já que os ossos se conectam através de articulações fibrosas, cartilaginosas e sinoviais. Quando afetada, a ATM pode emitir sons que se assemelham a estalidos ao abrir e fechar a boca, além de provocar fortes dores próximas ao ouvido, dores musculares na face e pescoço, e chegar inclusive a travar a mandíbula”. Um dos principais incômodos, na opinião da cirurgiã-dentista, é que essas dores de ATM limitam ações como falar, morder e mastigar. Geralmente, depois de um primeiro exame clínico, é possível apontar causas emocionais e físicas. Depressão, estresse, ansiedade e medo são estados que costumam estar presentes em algum grau no diagnóstico. “Os homens, neste caso, ainda são minoria. Eles não somatizam tanto os problemas e, quando o fazem, costumam apresentar distúrbios gastrintestinais ou doenças do coração. Já as mulheres tendem a concentrar seus problemas na região da cabeça. Imagine passar um dia inteirinho exercitando o músculo da perna. Em pouco tempo, não conseguiria nem andar. Comparando, agora imagine uma pessoa que força o tempo todo, acordada ou dormindo, a musculatura dos maxilares, apertando ou rangendo os dentes. Em pouco tempo, a dor se torna insuportável e a paciente tem a impressão de que dói tudo. Como está com dor e ansiosa, acaba se automedicando por achar que se trata de TPM ou enxaqueca emocional”, diz Katia. A especialista chama atenção para maus hábitos que também contribuem para acentuar esse tipo de dor, como roer unhas, morder objetos, mascar chicletes em excesso. Também problemas respiratórios e o posicionamento errado dos dentes exercem papel importante no agravamento do quadro. A cirurgiã-dentista afirma já ter recebido pacientes que tentaram por vários anos resolver o problema com outros especialistas, sem sucesso. “É importante não se automedicar com analgésicos e anti-inflamatórios, até porque, além de não resolver o problema, eles acabam perdendo eficácia. O ideal é consultar um cirurgião-dentista que poderá fazer o correto diagnóstico e indicar o uso noturno de uma placa interoclusal para impedir o paciente de ranger e apertar os dentes enquanto dorme. Essa medida, inclusive, proporcionará um sono mais reparador e deve melhorar a qualidade de vida do paciente”. Durante o exame clínico, Katia Izola acredita ser fundamental avaliar os movimentos mandibulares, observar e até auscultar os ruídos articulares, examinar a oclusão dentária e os músculos faciais e da cabeça, levantar um histórico de traumas, hábitos orais e outros tratamentos anteriores. Como exames complementares são utilizadas radiografias, tomografias e ressonância magnética. “O tratamento de uma ocorrência tão complexa quanto a DTM deve contar com uma abordagem multidisciplinar, incluindo o cirurgião-dentista, profissionais da área médica, psicólogos e fisioterapeutas. Alguns casos demoram muito tempo para ser controlados. Mesmo assim, vale a pena persistir e adotar uma nova postura diante das dificuldades que se apresentam. Caso contrário, dependendo das estruturas afetadas e da gravidade do problema, o quadro pode se agravar bastante. Hoje há resultados muito satisfatórios nos casos cirúrgicos, através de artroscopia”. Fonte: Prof. Dra. Katia Izola, professora da Escola de Aperfeiçoamento Profissional da APCD (Associação Paulista de Cirurgiões-Dentistas) – www.apcd.org.br