Elo mãe­bebê: Fortalecimento do vínculo, através de brincadeiras e músicas, desde a gestação Eliana Tarzia Iasi e Irene Quintáns Sabemos que o adulto resulta de sua própria natureza, das figuras parentais, da família, dos grupos sociais em que vivem da escola, da cultura e da sociedade, com seus valores, crenças, normas e práticas presentes, principalmente, na primeira infância. Por outro lado, o cérebro humano sofre as influências da genética, da vida intrauterina, das experiências durante o nascimento, da amamentação, dos primeiros dias de vida extrauterina, do tipo de amparo, acolhimento e recepção que teve e de suas relações com as figuras parentais ou seus substitutos. Se essas primeiras vivências forem favoráveis, o indivíduo desenvolverá capacidade saudável de resistência às experiências de risco em seu ambiente e na superação do estresse e das adversidades que enfrentará em sua vida. Essa qualidade, que chamamos de resiliência, é utilizada para referir­se a pessoas com bons desempenhos psicológicos, a despeito de vivências negativas das quais poderiam resultar sequelas graves. Outro conceito relevante é conhecido como salutogênese e designa o conjunto de forças geradoras de saúde. Recomenda­se então estimular, potencializar e preservar essas variáveis como uma forma de promover a saúde individual, a coletiva e a social. O período que vai da gestação até zero a três anos é o mais importante na preparação do alicerce das competências, habilidades emocionais e cognitivas futuras. Nesse período é que a criança aprende, com mais intensidade, a fazer, a se relacionar, a ser e a desenvolver importantes valores a partir de suas relações na família, na escola e na comunidade. Nessa fase é que também se desenvolve a capacidade de ter empatia, ou seja, de colocar­se no lugar do outro e em sintonia com as suas emoções. De acordo com as experiências pós­natais, sejam estas físicas ou afetivas, positivas ou negativas, é que se formam os novos caminhos neuronais que definirão nossa forma de funcionarmos no mundo. A gestação desejada, uma estrutura familiar adequada, a presença de amor, atenção e segurança, um apego seguro, a amamentação no seio materno, o vínculo com a mãe, convivência familiar segura, disciplina, limites, transmissão de valores e o bom desenvolvimento da autoestima estão entre os fatores que asseguram o comportamento adulto socialmente saudável. As desigualdades socioeconômicas, a falta de oportunidades de acesso a bens e serviços e aos próprios direitos, fragilizam as famílias tornando­as, em muitos casos, desestruturadas. Este modelo tende a romper os vínculos familiares, onde a mulher não mais compõe o orçamento familiar, mas, em sua grande maioria, passa a ser a provedora única. Nesta dinâmica as crianças acabam sofrendo as maiores perdas. A atenção integral à criança e que prioriza seu bem­estar físico, psíquico e social, fundamenta­se em inúmeras recomendações técnico­científicas sobre o desenvolvimento infantil. As crianças precisam ter oportunidades para desenvolver seu corpo, mente e alma, de forma indivisível e integrada. Elas precisam exercitar os seus sentidos, estimular a criatividade, brincar, expressar­se, relacionar­se, mover­se e organizar­se. Os pais e mães precisam de capacitação especializada que lhes assegure o acesso às bases científicas do desenvolvimento integral da criança, às práticas metodológicas que melhor atendam as demandas educacionais e às múltiplas linguagens, que dizem respeito à cultura da criança e podem complementar o seu trabalho. Pesquisas têm demonstrado que o enriquecimento do ambiente, no qual se inclui o fortalecimento de vínculos afetivos e sociais na faixa etária de zero a três anos de idade, acelera o processo de desenvolvimento da criança. A criança empobrecida, com carências afetiva, econômica e social, pode não desenvolver plenamente seu cérebro por causa de ambiente estressante associado à baixa renda. A falta de alimentação adequada, a ausência de interação sócio educativa saudável, de afetividade, de acolhimento familiar e social, de segurança em relação a sua integridade física e afetiva, a falta de estímulos cognitivos, com menos leitura, menos brincadeiras e menos oportunidades de participar de eventos culturais, configuram essa realidade. Mundialmente, é consenso que investir na primeira infância assegurará dividendos em um futuro muito próximo, pois é sabido que o desenvolvimento do cérebro acontece muito mais rapidamente nessa fase do que em qualquer outro período da vida. A relação positiva da criança com os seus cuidadores e, principalmente com a mãe, é fator decisivo para o desenvolvimento do apego, condição essencial para o seu desenvolvimento equilibrado, principalmente, até os três anos de idade. Por essa razão, as condições pré e pós­natais, incluindo o apoio à gestante e à mãe, refletem­se diretamente na qualidade dos vínculos desenvolvidos entre elas e os seus bebês. A figura paterna também se faz muito importante para que o binômio mãe­bebê tenha paz e tranquilidade para se conhecer, se conectar e evoluir em direção a um bom desenvolvimento. Os programas de intervenção destinados à orientação dos pais, onde as crianças são estimuladas, reduzem tanto os riscos de comportamentos agressivos persistentes quanto os riscos de delinquência na adolescência e na idade adulta. A estimulação sensorial adequada e precoce permite um melhor desenvolvimento neuro psicomotor e é pré­requisito para a redução dos efeitos da violência social e familiar. Desta forma, vê­se como prioritário introduzir um atendimento específico que, mediante estimulações essenciais no período adequado de vida, envolva a criança, sua família e a comunidade. O programa britânico "Baby Sensory Programme" defende que as atividades sensoriais ajudam no desenvolvimento da linguagem e habilidades físicas, sociais e emocionais. Estas atividades andam em conjunto com o brincar, que ajuda a esculpir o cérebro e é essencial para a prática das habilidades que serão utilizadas no futuro. Em estudo realizado por Stuart Brown com assassinos nas prisões do Texas, Estados Unidos, descobriu­se que a ausência do brincar na infância destes indivíduos era tão importante quanto qualquer outro fator social isolado na previsão de seus crimes. Ainda, Stuart Brown documentou que crianças abusadas e que possuíam um risco de comportamento antissocial tiveram a predileção pela violência diminuída através da brincadeira. O que fazer Estas ações contribuem para o surgimento de indivíduos mais felizes e realizados, o que certamente se refletirá em melhor desempenho nos seus papéis de profissionais, pais e de cidadãos. Também, nossa proposta é a de consolidar esses vínculos familiares na primeira infância, implementando ações que envolvam as famílias, suas crianças e a comunidade. As atividades com mães e crianças devem estar voltadas ao fortalecimento dos vínculos familiares e à estimulação das crianças, propiciando novos aprendizados que favoreçam o desenvolvimento pessoal e social dos seus membros. • Promover encontros para mães, pais e crianças com atividades lúdicas de estimulação sensorial para fortalecimento do vínculo familiar e social; • Promover eventos lúdicos para mães, pais e crianças; • Auxiliar pais e mães da comunidade a melhor utilizarem os espaços de brincar já existentes; • Instalação espaços para brincar a ser utilizado por mães, familiares e crianças em situação de vulnerabilidade social. Impacto O cérebro humano se desenvolve mais rapidamente durante os primeiros meses do que em qualquer outro período da vida, estabelecendo conexões que ficarão para sempre. Há evidencias de inúmeros problemas que podem ter suas raízes no tipo da estimulação mental oferecida pelos pais aos bebês e crianças na primeira infância, como os distúrbios de atenção, hiperatividade e condutas violentas ou antissociais, já na adolescência. O Dr. Peter Fonagy, professor de psicanálise da Universidade de Londres, afirma que esses distúrbios são provocados por um déficit em uma parte do cérebro ligado a habilidade de controlar comportamentos impulsivos e manter a concentração. Ele levantou inúmeras possibilidades, em que um relacionamento familiar excessivamente hostil ou negativo pode contribuir para futuros problemas mentais ou até aumentar o risco de doenças do coração ou derrame cerebral. Podemos, então, concluir que o trabalho com mães e bebês apresenta potencial para ter impacto importante no desenvolvimento do cérebro no início da vida, através das estimulações sensoriais e lúdicas que serão aplicadas por pais e mães de crianças de zero a três anos de idade. Inovação integrada Embora no Brasil existam alguns cursos e atividades voltadas ao brincar, a mesma não é reconhecida como profissão. A IPA Brasil desenvolve cursos de capacitação de pessoas que atuam, nos diferentes espaços, onde haja possibilidades de desenvolver atividades lúdicas, formando assim os Agentes do Brincar. Propostas semelhantes acontecem somente no hemisfério norte onde existe a profissão de Playworker, há mais de três décadas. Através dos resultados alcançados pelo programa, o mesmo poderá ser estendido à rede de serviços nas áreas de: saúde, educação, cultura e desenvolvimento social, influenciando as políticas públicas voltadas à infância. A capacitação é uma forma de ensino e mostrará para profissionais, pais e mães que, utilizando o brincar e o afeto, podem viver em um ambiente onde não haja a negligência, abuso ou maus tratos em relação à criança, principalmente em seus primeiros anos de vida. Mães e pais capacitados no programa se tornarão multiplicadores aptos a convencer, através da experiência pessoal, os demais membros da sua comunidade. Essa transferência de conhecimento com baixo custo para os participantes resultará em parceiros engajados de forma natural, pois o sucesso do programa se dará através da participação e do conhecimento que obtiverem com a capacitação lúdica e sensorial, multiplicando os ensinamentos, criando e desenvolvendo os vínculos família­criança­comunidade. Passam a ser formadores de opinião e capacitadores locais, engajando outras famílias para a utilização da metodologia lúdica e sensorial, tornando­se parceiros que possibilitarão a ampliação do programa em escala, contribuindo para uma comunidade de aprendizagem. Exercícios para Mães e Bebês O bebê está crescendo e evoluindo família. É necessário cultivar relações consigo mesmo e com os outros. Mantenha o espaço de cuidados pessoais e compartilhar com seus filhos é um presente maravilhoso que irá mantê­los ao longo de suas vidas inteiras. Eles aprendem o que o adulto faz o que diz: Para relaxar, o adulto deve relaxar; Se você quer ensinar­lhes respeito, eles precisam sentir que os adultos vão respeitar e observar como eles respeitam a si mesmos; Da mesma forma acontece para aprender a amar, para desfrutar, para superar situações difíceis para viver. O que nós queremos decorrentes destas reuniões é aprender a desfrutar de partilhar a vida com os filhos. Os bebês simplesmente adoram ser tocados. Na verdade, é algo que os estimula – trata­se de uma componente essencial do seu crescimento e desenvolvimento. Todo o contato de pele não só ajuda os pais e o bebê a estabelecerem um elo de ligação, como também consegue reconfortar o bebê quando está incomodado e alivia as cólicas. Mães Canguru Além dos exercícios, outro benefício para as mães e bebês é carrega­los perto de nós, nos porta bebês ­ Mães Canguru Devemos saber carrega­los corretamente. Informações erradas não só podem resultar desconforto aos bebês e as mães, como pode prejudicar o desenvolvimento músculo esquelético do bebê e muitas vezes perigosas, podendo sufocar o bebê. Benefícios da música O desenvolvimento neurofisiológico do sentido da audição no feto humano é bem precoce, na vigésima primeira semana de gestação, o feto já se encontra tão maduro que é possível ouvir alguns sons do corpo da mãe gestante e até sons externos de certa intensidade. Alguns sons que o feto ouve: o pulsar rítmico dos batimentos cardíacos da mãe, os passos da mãe, a respiração e a voz humana. Não assustem, o feto não fica escutando tudo isto 24h, ele tem um ciclo de sono, dorme de 18 a 20 horas por dia, dormindo que crescemos. Partindo deste ponto que a voz da mãe é escutada, devem contar histórias, cantarolar músicas infantis, acalantos, confidências... A organização que o cérebro dá a os estímulos sensoriais é chamada de integração sensorial. O cérebro recebe constantemente grandes quantidades de informação através dos sentidos, os sistemas sensoriais (informação visual, auditiva, tátil, olfativa e gustativa, como gravidade e movimento). Texto do LALÁ BEBÊ ­ Irene Quintáns É através deles que a criança, conforme aprende a se mover, equilibrar­se e relacionar­se com os objetos e pessoas ao seu redor, aprende sobre o mundo no que vive. É muito importante conhecer e compreender como cada bebê percebe as diferentes experiências e como lhe afetam. Vamos trabalhar com a Estimulação dos sentidos (visual, auditivo, tátil, olfativo), Movimento e posição corporal (o desenvolvimento motor e a percepção corporal são muito importantes para a estruturação do pensamento), Emoções (brincadeira, fantasia, calma, companhia, amizades). Põe que Música para crianças? A relação positiva da criança com os adultos que dela cuidam e, principalmente, com a mãe é fator decisivo para o desenvolvimento do apego, condição essencial para o desenvolvimento equilibrado da criança, principalmente até os 3 anos de idade, e que se refletirá na qualidade dos vínculos afetivos que ela estabelecerá por toda a vida. O ambiente tem um papel importante, auxiliando a construção de um indivíduo equilibrado e com capacidade para resistir à situações difíceis, que a vida possa lhe oferecer. Um dos meios de estimulação e o desenvolvimento saudável das crianças podemos destacar a música. Tanto para as crianças e adultos, a boa música tem um papel essencial, as atividades musicais produzem sensações de prazer e bem estar físico, impactando positivamente no desenvolvimento do cérebro, com estímulos aos dois hemisférios (direito e esquerdo). A música trás muitos benefícios, tais como: ­ emocionais ­ processo cognitivo das crianças ­ desenvolve a coordenação motora ­ socialização ­ estimula diversas áreas do cérebro Por estes motivos, a iniciação musical é extremamente importante e deve acontecer o mais cedo possível. Desde o ventre materno a música pode exercer a sua influência, contribuindo para que as crianças sejam mais organizadas, sensíveis e sociáveis. No ventre da mãe, o bebê tem seu primeiro contato com o mundo externo através dos sons. Os bebês nascem com a capacidade de torna­se um ser social em todos os sentidos, bastando que lhe sejam dadas as condições para que desenvolva essa capacidade. Sabe­se que a criança é um ser brincante e que a música é criada ao brincar, transformando os sons e recriando os ambientes. Nós adultos, temos que estar atentos para perceber o modo como bebês e crianças pequenas se expressam musicalmente, em cada período de suas vidas.¹ 1­ Marilena Flores Martins – texto do programa MPBaby – mcd ____________________ Eliana Tarzia Iasi é Brinquedista. Reconhecida pela Associação Brasileira de Brinquedotecas (ABBri), trabalha no Hospital Samaritano e atua como educadora em escolas e academias. É Diretora e Presidente da IPA (Associação Brasileira pelo Direito de Brincar) Brasil. Irene Quintáns é Arquiteta­urbanista. Especialista em Estudos Terriotoriais, Políticas Sociais, Mobilidade, Habitação e Gestão Urbanística. Atualmente é vice­presidente da IPA Brasil, membro da RNPI (Rede Nacional Primeira Infância) e recebeu o título de Mensageira da Paz da ONU.