Caracterização e pressupostos

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Definição, caracterização e pressupostos da psicologia social
A psicologia tem sido tradicionalmente definida como o campo
especializado de conhecimento dedicado ao estudo dos comportamentos
humanos, enquanto influenciados por outras pessoas. O sentido desta
influência se estende muito mais do que o mero efeito da presença física ou
direta, levando em consideração tanto o efeito das influências imediatas,
quanto das influências indiretas e mediatizadas. Pensando assim, não fica
difícil entender que o objetivo deste campo especializado é a explicação e a
compreensão das condutas humanas modificas pela presença atual ou
implícita de outras pessoas.
Dentre as características mais marcantes da psicologia social
contemporânea elegem-se
o individualismo, o experimentalismo, a
micro-teorização e o cognitivismo. Claro que poderíamos apontar outras
características importantes (o pragmatismo, o utilitarismo, o a-historicismo),
mas destacamos aquelas pois elas se adequam melhor a algumas discussões
importantes a respeito dos pressupostos, do método e das matrizes teóricas da
psicologia social, assim como as relações entre a psicologia social
e
disciplinas afins.
O individualismo como um dos pressupostos da psicologia social
Seguindo a Mario Bunge, um importante filósofo da ciência, podemos
levar em consideração uma série de modelos explicativos para traçar as
relações entre o indivíduo e a sociedade, embora um destes modelos em
particular seja decisivo para tratar as questões aqui apresentadas. Trata-se da
tricotomia Individualismo-Holismo-Sistematismo.
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Considerando a questão dos pressupostos ontológicos, os defensores do
individualismo sustentam que toda sociedade pode ser considerada uma
coleção de indivíduos e qualquer supraindividualidade deveria ser entendida
como uma ficção. Ora, desde que as totalidades sociais devem ser
consideradas como abstrações, não podemos falar de propriedades emergentes
ou globais. Pensando assim, todas as propriedades atribuíveis à sociedade
deveriam ser entendidas como o resultado da agregação das propriedades dos
membros da sociedade. Se não podemos falar de propriedades sistêmicas, as
sociedades não podem agir diretamente sobre os seus membros, de forma que
as pressões grupais ou sociais não seriam nada mais que as pressões exercidas
por diferentes indivíduos.
No plano metodológico, o estudo da sociedade deveria levar em
consideração única e exclusivamente o estudo dos indivíduos, de forma que
as explicações dos fatos sociais deveriam levar em consideração
exclusivamente termos de noções como ações e as intenções individuais.
Desta forma, as hipóteses e teorias sobre a sociedade deveriam ser testadas
levando-se
em
consideração
exclusivamente
a
observação
dos
comportamentos individuais. Em resumo, para o individualismo, o estado de
um sistema social seria uma função dos estados dos componentes individuais.
A adoção dos princípios do holismo por parte dos psicólogos sociais
pressupõe uma concepção bastante diferente a respeito das relações entre os
indivíduos e a sociedade. A diferença mais marcante do holismo em relação
ao individualismo é que a primeira sustenta que a sociedade deveria ser
entendida como uma totalidade que transcende aos seus membros possuindo,
portanto, propriedades globais. O fator mais característico das propriedades
globais é que elas devem ser entendidas como emergentes, isto é, não podem
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ser redutíveis às propriedades dos indivíduos. Assim, na medida em que as
sociedades agem sobre os indivíduos de uma forma mais acentuada que os
indivíduos agem sobre a sociedade, as relações entre duas sociedades são
relações que envolvem duas totalidades e as mudanças sociais são
supra-individuais, embora afetem aos membros individuais da sociedade. Em
decorrência da adoção destes princípios ontológicos, a perspectiva
metodológica abraçada pelos holistas determina que o estudo da sociedade
deveria ser entendido como o estudo das propriedades e mudanças globais.
Desta maneira, os fatos sociais deveriam ser explicados em termos de
unidades
supra-individuais,
tais
como
o
Estado,
ou
de
forças
supraindividuais, tais como a consciência coletiva ou a organização social. No
plano empírico, as hipóteses e teorias sobre a sociedade ou não poderiam ser
testadas empiricamente ou deveriam ser contrastadas com dados globais. Em
resumo, para os psicólogos sociais defensores de uma posição holista, o
estado de um indivíduo seria uma função do estado da sociedade em que ele
foi definido.
De acordo com a posição defendida por Bunge, assim como por outros
psicólogos sociais, as posições individualista e holista deixam a desejar,
sobretudo por serem muito restritas e não darem conta da imensa
complexidade inerente às relações entre indivíduos e sociedade. A sugestão é
que se adote uma terceira posição mais condizente com os estudos mais
recentes desenvolvidos tanto a partir de uma perspectiva psicológica quanto
de uma perspectiva sociológica de psicologia social. Esta posição é
denominada de relacionalismo ou sistematismo. Ela se sustenta na suposição
de que a sociedade não seria nem um agregado de indivíduos, nem uma
entidade supra-individual, mas sim um sistema concreto de indivíduos
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interconectados. Uma vez que ela possuiria esta natureza de sistema, a
sociedade possuiria propriedades sistêmicas ou globais. Algumas destas
propriedades resultariam de um mero agregado dos indivíduos, enquanto
outras seriam caracteristicamente emergentes. Considerando a idéia de
sistema, poder-se-ia argumentar que da mesma forma que um organismo não
pode agir sobre as suas partes, a sociedade não pode agir diretamente sobre os
indivíduos. Contudo, os membros de uma sociedade podem agir diretamente
sobre um indivíduo, sendo esta ação determinada não apenas pela sua
genética ou experiência individual, como também pela posição social ocupada
pelos indivíduos em questão. As relações entre duas sociedades deveriam ser
entendidas como relações que decorrem de relações de indivíduo a indivíduo,
embora os indivíduos ocupem lugares determinados na organização social. No
plano metodológico, o estudo da sociedade deveria ser entendido como o
estudo dos fatores socialmente relevantes dos indivíduos, bem como o das
propriedades e mudanças dos grupos sociais entendidos como totalidades.
Pensando assim, as explicações dos fatos sociais deveriam ser organizadas em
termos dos indivíduos e grupos, bem como de suas interações. No plano
empírico, as hipóteses sobre a sociedade só poderiam ser testadas a partir
de observações realizadas com indivíduos ou pequenos grupos, pois apenas
estes poderiam ser observados, e mesmo assim em caráter parcial. Resumindo,
então, os sistematistas consideram que o estado de um sistema social seria
uma função das propriedades de seus componentes individuais, sendo o
inverso igualmente verdadeiro.
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