Resumo: o presente artigo faz uma possível leitura psicológica das

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UMA POSSÍVEL LEITURA
PSICOLÓGICA DO CONFLITO
PAULINO ENTRE
A CARNE E O ESPÍRITO
Ricardo Rodrigues Borges
Resumo: o presente artigo faz uma possível leitura psicológica das
declarações do apóstolo Paulo, no capítulo 7 de sua carta aos romanos,
a partir de uma visão behaviorista. O conflito paulino entre comportamentos pecaminosos e comportamentos agradáveis a Deus são analisados
a partir da noção comportamental de autocontrole e impulsividade,
comportamento controlados por regras e escolha em situação de risco.
Palavras-chave: Behaviorismo, autocontrole, comportamento
controlado por regras, Bíblia Sagrada
A literatura, em geral, é uma rica fonte de descrição de comportamentos
humanos, e por este motivo, alguns analistas do comportamento têm
analisado seu conteúdo psicológico, investigando os comportamentos
nela contidos (ARANTES, DE ROSE, 2008; GUILHARDI, 2001). Quando
tomada para análise, seus personagens são tidos como sujeitos reais, e suas
ações e relatos são considerados, então, como alvo de investigação como de
qualquer outro sujeito.
As literaturas sagradas, em especial, são, além de descritoras de
comportamentos, um instrumento que dispõe sobre regras e normas,
sobre mandamentos e proibições. Na literatura sagrada cristã, a Bíblia,
muitos conflitos são descritos, mas provavelmente o mais intenso deles
seja a luta entre a carne (chamado de pecado) e o espírito (santidade).
Um dos momentos, nesta literatura, em que tal conflito fica nítido e
é descrito de forma intensa se dá em um trecho de uma carta que o
Apóstolo Paulo escreve a uma igreja cristã que se encontra em Roma
(BÍBLIA, 1991). O que este trabalho procura é fazer uma leitura a partir
de uma visão behaviorista, sobre o conflito em que este personagem se
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encontra, dividido entre dois tipos de comportamento: um de autocontrole e outro impulsivo.
Alguns pontos relevantes do sétimo capítulo da carta escrita aos romanos, que servirão de base para nossa análise, são os descritos a seguir. Paulo
entende que a lei não é o pecado, mas é por ela que se conhece o pecado,
assim como a lei secular não é o crime em si, mas o faz ser conhecido. Um
fato importante é que Paulo dá conotação de autonomia ao pecado, algo
que, por si, faz com que ele aja como age. Outra afirmação que ele traz é
que ele, Paulo, é carnal (ser de pecado); que não entende, absolutamente,
o que faz; e que o bem que quer fazer, não consegue fazer, mas faz sim o
mal que lhe aborrece, certo de que não tem controle sobre isto, já que não
é ele quem faz, mas o pecado que nele habita. Ele se alegra em fazer o bem
“no íntimo” do seu ser, mas descreve que há uma luta entre o que ele chama
de carne – relacionado ao mal, e o espírito – relacionado ao bem, à lei de
Deus. Assim, se confessa desafortunado, infeliz, desgraçado.
O VIÉS TEÓRICO PARA A ANÁLISE PROPOSTA
“O behaviorismo não é a ciência do comportamento humano, mas,
sim, a filosofia dessa ciência” (SKINNER, 1974, p. 3). Esta atividade filosófica se ocupa em buscar respostas sobre por que as pessoas se comportam
da forma com que se comportam, e que meios utilizar nesta investigação.
Durante muito tempo o ser humano foi visto como um ser dividido, dual,
regido por alguma força, geralmente interna, como a mente, as emoções,
os sentimentos, e várias outras. Porém, para o behaviorismo, todos estes
elementos são comportamentos, já que todos surgem quando o ser humano
interage com o ambiente ao seu redor (SKINNER, 1953), com comportamentos selecionados tanto em um nível filogenético, a partir da evolução
das espécies, como em nível ontogenético, selecionado pelo aprendizado
individual, como em um nível de aprendizado social, tratado como cultural
(SKINNER, 1981).
Desta forma, uma crítica que poderia ser levantada ao behaviorismo,
de que este rejeita eventos internos ou subjetivos como a consciência e os
processos cognitivos, ignorando-os em suas considerações, não é verdade:
além de considerá-los, ela assume uma postura investigativa a seu respeito
buscando as contingências em que ocorrem (SKINNER, 1974). Buscar a
causa do comportamento humano em algo interno ou intrínseco a ele, como
o sentimento ou vontade, é impor uma limitação à investigação, que pode
cessar diante de uma afirmação do tipo “ele brigou porque tem um tempe890
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ramento difícil”. A ciência chamada análise do comportamento, baseada na
filosofia behaviorista, postula que a causa para o comportamento humano
está na relação do sujeito com o ambiente que o circunda.
ALGUNS CONCEITOS RELEVANTES
Os comportamentos que o homem emite são chamados, por Skinner (1953; 1957; 1974) de comportamento operante, já que o homem age
(opera) sobre seu ambiente, causando mudança neste, e as consequências do
seu comportamento retroagem sobre ele. É preciso cuidado para não atribuir
causalidade a uma variável por conta de uma simples sequência temporal.
Não é porque um sentimento, por exemplo, ocorre (ou parece ocorrer) antes
de uma ação, que esse foi sua causa. Diante de uma situação ou contexto,
o homem age, e sua ação tem uma consequência. A situação (ou contexto)
é chamada de estímulo (S); sua ação, seu comportamento é a resposta (R);
e este gera uma mudança no ambiente: a consequência (C). Segundo o
paradigma operante, o que controla o comportamento humano são suas
consequências (em um dado contexto). Controlar um comportamento não
significa obrigar alguém fazer alguma coisa, mas tornar sua ocorrência mais
ou menos provável (MOREIRA; MEDEIROS, 2007).
Quando o indivíduo se comporta podem haver dois tipos de consequências. A primeira é uma consequência que fará com que aumente a
probabilidade do comportamento ocorrer novamente. Esta é camada de
consequência reforçadora (e o evento em si, contingente ao comportamento
é chamado de reforço - SR). Sendo assim, reforço não trata de uma premiação ou recompensa, simplesmente. Se uma bronca, por exemplo, aumenta
a probabilidade do comportamento de uma criança “fazer bagunça” na
sala de aula, então essa bronca é reforçadora. Quando a consequência do
comportamento diminui a probabilidade da ocorrência de dado comportamento, esta consequência é chamada punitiva (SP). Punição, por sua vez, não
significa castigo ou “coisa ruim”. Se um elogio a um aluno em sala de aula,
feito por conta deste ter respondido uma pergunta feita pelo professor, fizer
com que ele se retraia e não responda mais perguntas na sala, então o elogio
foi punitivo para o comportamento de responder perguntas em situações
semelhantes. Um comportamento pode, também, não ter consequências,
o que o levará a extinção (SKINNER, 1953, 1974; BAUM, 2006). Mas
nem sempre as consequências são puramente reforçadoras ou unicamente
punitivas, o que quer dizer que um mesmo comportamento pode trazer
ambas as consequências.
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Compreender os conceitos de reforço e punição é de suma relevância para a compreensão do que é um comportamento impulsivo e de
autocontrole, já que estes são analisados funcionalmente (e não por suas
topografias). O comportamento humano é complexo, leva em conta fatores
biológicos de quem age, sua história de vida, o ambiente físico em que se
encontra e o contexto social em que está inserido. Sempre envolvem escolha entre comportamentos diferentes que não podem ser simultaneamente
escolhidos, ou entre um comportamento qualquer e não se comportar
(HERNSTEIN, 1961).
As escolhas são influenciadas por um grande número de fatores, entre
eles o atraso, quantidade e a probabilidade de se receber um determinado
reforço (RACHLIN, 1989). Um número ainda maior de fatores contribui
para que essas situações de escolha se tornem mais difíceis para nós, humanos, cujo ambiente é mais complexo, uma vez que, além das relações diretas
com os eventos, o ambiente social exerce um controle primordial sobre o
comportamento (SKINNER, 1957).
Quando agimos por conta de leis, valores, dicas, conselhos, este
comportamento é tratado como comportamento governado (ou controlado)
por regras. Regra é um estímulo verbal (escrito, falado etc., vindo de outras
pessoas ou do próprio indivíduo), estímulo este que descreve o ambiente
e também indica que, agindo de certa forma, existe uma probabilidade
da pessoa alcançar reforço ou evitar punição (SKINNER, 1974). Assim,
quando alguém segue o conselho de “poupar”, está seguindo uma regra para
alcançar um reforço vindouro (renda futura). Quando uma pessoa fecha
a janela porque alguém pediu, o faz por conta de um reforço que virá do
outro, que pode ser o agradecimento – explícito ou implícito.
Como vemos, nem sempre os reforços são imediatos ou certos. O processo
no qual as pessoas empenham recursos em alternativas nas quais os reforços são
apenas prováveis ou virão a longo prazo (atrasado), é chamado, na análise do
comportamento, de escolha em situação de risco. Se um reforço tem um valor
absoluto qualquer, quando atrasado este sofre um desconto, como se perdesse
parte de seu valor de acordo com o atraso. Este novo valor tem sido chamado
de valor subjetivo, por alguns autores (HERRNSTEIN, 1970; COELHO,
HANNA, TODOROV, 2003; COELHO, 2003).
O comportamento de escolha visando um reforçador imediato,
de menor magnitude, intensidade, porém com consequências punitivas
a longo prazo leva o nome de comportamento impulsivo. Um exemplo
seria de alguém que gasta todo o dinheiro agora (SR imediato), mas
passa dificuldades financeiras no futuro (SP a longo prazo). O compor892
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tamento de autocontrole diz respeito à escolha de uma alternativa em
que o sujeito será punido levemente a curto prazo, mas a longo prazo
alcançará reforçadores de maior magnitude. Utilizando o mesmo caso
para o exemplo, uma pessoa que economiza agora, se priva de algumas
regalias (SP imediato), porém faz uma reserva financeira par ao futuro
(SR atrasado) (BAUM, 2006).
Mas se não existe uma força interior que leve o homem ao autocontrole, mesmo ele sabendo que existe uma alta probabilidade dele agir
de uma maneira que não quer, como ele pode alcançar o autocontrole?
Skinner (1953) afirma que autocontrole trata do próprio indivíduo alterar
as variáveis das quais seu comportamento é função. Podemos dizer, então,
que se autocontrolar é fazer o arranjo das condições necessárias para alterar
a probabilidade do próprio comportamento ocorrer (SKINNER, 1953;
NERY, DE-FARIAS, 2009; HANNAH, RIBEIRO, 2005), ou seja, é uma
manipulação dos estímulos ambientais, uma “modificação de elementos de
contingências que determinam comportamentos subseqüentes” (HANNAH;
RIBEIRO, 2005, p.176).
OS RELATOS DE PAULO
Nos treze primeiros versos da carta que o Apóstolo Paulo escreve à igreja
que se encontra em Roma, o que ele faz é uma descrição da lei, de regras que
descrevem contingências que apontam: a situação em que se encontram (ele
e aquele a quem escreve), os comportamentos que emite e as consequências
punitivas para os comportamentos “pecaminosos”, assim como as consequências para os comportamentos “espirituais”. Nos versos 4 e 5 ele fala de uma
renovação que se dá a partir de Cristo, renovação esta que deverá “dar frutos
para Deus”, em contraponto com “as paixões pecaminosas despertadas pela
lei (que) operavam em nossos membros, a fim de frutificarmos para a morte”,
que aponta a morte como consequência do pecado1. Assim, o que é o certo ou
errado de se praticar parece bem posto por ele, e tratado como comportamento
“justo” ou vontade de Deus e comportamento “pecaminoso”.
No verso 13, Paulo faz menção aos efeitos do comportamento pecaminoso sobre ele. Seu comportamento “carnal” provavelmente seja aquele
que tem consequências reforçadoras naturais imediatas, porém punidos
socialmente, já que carnais são os comportamento seculares, mundanos,
que satisfazem suas vontades “humanas” e concorrem com comportamento
de escolha por reforçadores “espirituais”, reforçadores que participam de
contingências sociais.
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Este comportamento tratado como pecado pode ser classificado também, como comportamento impulsivo. Se alguém age de forma a escolher
o suposto reforço mais atrasado de todos, que só será fornecido depois de
findar a vida, podemos dizer que este alcançou o ideal de autocontrole – abriu
mão de vários reforçadores imediatos ou de curto prazo que poderiam ser
punitivos no futuro, por conta do reforço atrasado de magnitude infinita.
Mas o que ocorre é que, apesar do reforço celestial ser de magnitude muito
alta, ao mesmo tempo ele é um reforço absurdamente atrasado, e como
vimos, seu valor subjetivo é, então, bem menor. Assim, este reforço celestial
passa a ter um valor subjetivo que se compara e se coloca em condição de
concorrente com reforçadores mais próximos, apesar destes terem valor
absoluto bem menor.
No texto, o que a lei faz, para Paulo, não é torná-lo um ser pecaminoso. A lei apenas descreve as contingências (cotexto, comportamento
e consequências), deixando-o sabido de seu “pecado”, tornando-o assim,
mais culposo – assim a regra intensifica a magnitude da punição. O que
Paulo faz, não necessariamente pode ser chamado de consciência, visto
que ser consciente significa dizer que o indivíduo sabe descrever seus comportamento e/ou as variáveis que os controlam (TOURINHO, 2006). Na
verdade, Paulo não parece ser consciente de seu comportamento, mas tão
somente consegue descrever (ou repetir, ecoar) as normas que deve seguir.
O caso em questão é que uma regra não é, necessariamente, um veículo
exato da razão, da lógica ou da verdade – mas sua função é a de controlar
comportamentos, ou seja, de tornar mais ou menos provável suas ocorrências
(CATANIA, 1999). Paulo continua a se comportar da mesma forma, e não
sabendo as reais variáveis controladoras de seu comportamento, já que crê
que se comporta como o faz por conta da “carne”, não pode agir sobre as
variáveis para alterar seu próprio comportamento – ainda que decida por
se comportar de forma a seguir as regras, por conta dos reforçadores que
nela, supostamente, há.
Paulo afirma que seguir a lei espiritual (a regra) leva à vida, no entanto, ele mesmo tem comportamentos controlados pelas contingências
que dispõe reforços imediatos pecaminosos, dizendo, no verso 14, que a
lei é espiritual, mas ele é carnal, vendido ao pecado. Noutras palavras, ele
diz que tende a se comportar de acordo com as contingências imediatas, e
não de forma a escolher o reforçador mais atrasado, que só é conhecido por
descrição e não por experiência.
No verso 15, uma confissão de Paulo é muito esclarecedora sobre
porque ele não consegue, a partir de critérios da análise do comportamento,
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alcançar o autocontrole. O texto relata que ele não entende, absolutamente,
o que faz, pois não faz o que quer; faz o que aborrece. Como já dito, ser
consciente diz respeito a saber quais as variáveis de controle do comportamento, ou seja, o que leva o comportamento a ser mais provável de ocorrer.
Se Paulo não entende, absolutamente, o que faz, como pode manipular
elementos desta contingência para que passe a se comportar de forma
diferente, alcançando o autocontrole? Por certo que sua luta, se buscando
forças unicamente internas, será em vão, e ele continuará a ser “escravo da
lei do pecado” (verso 25). E assim o é; ele segue fazendo o que não quer
fazer (porque querer, sem saber como controlar o próprio comportamento,
a partir de alterações no ambiente, não resolve a questão), mesmo convicto
de que a lei é boa (verso 16).
É comum da visão dualista de homem, atribuir os comportamentos
a uma entidade abstrata, o que não é descritivo das causas reais do comportamento. Paulo atribui ao pecado e à carne, e assim não é mais ele quem se
comporta. “Mas, então, não sou eu que o faço, mas o pecado que em mim
habita. Eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita o bem, porque
o querer o bem está em mim, mas não sou capaz de efetuá-lo.” - diz Paulo nos
versos 17 e 18. Quando, a partir de uma visão dualista de homem, se coloca
a causa do comportamento em locais ficcionais, não é possível investigá-la,
de fato, tampouco atuar de forma eficaz na busca de mudanças.
E assim segue Paulo: dividido entre dois comportamentos (verso 21),
entre o deleite na lei de Deus (verso 22) e a entrega à lei do pecado (verso
23), se sentindo infeliz, sem saber quem fará com que seus comportamentos
pecaminosos deixem de ocorrer (verso 24).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Quando o behaviorismo traz à baila a necessidade da busca da causalidade do comportamento humano em variáveis que se encontram no
ambiente que circunda o indivíduo, o que ele faz é encontrar uma forma
eficiente de agir sobre estas variáveis, apresentando explicações úteis para
explicar como e porque o ser humano se comporta. A partir daí, surgem
possibilidades consistentes de agir sobre estas variáveis de forma eficiente
na mudança do comportamento e, consequentemente, na vida do sujeito
como um todo. Mais que isso, o homem tem em mãos, agora, instrumentos
para conhecer os motivos pelos quais ele age como age, se tornando mais
consciente, e podendo ele mesmo “agir sobre seu agir”, se tornando uma
pessoa mais autônoma e feliz.
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A intenção do presente trabalho foi fazer uma descrição de comportamentos relatados em um texto das escrituras sagradas do cristianismo, e
não levantar nenhuma discussão sobre Deus, alma, espírito, temas estes
que estão além do domínio da ciência e para os quais uma ciência do
comportamento não tem instrumentos adequados (SKINNER, 1953).
Por sua própria natureza, ao métier desta última cabe a investigação de
comportamentos e uma ação eficaz em sua modificação, quando necessária.
Para tanto, dispõe de técnicas especialmente para estes fins, contidas em
uma vasta literatura (ABREU, GUILHARDI, 2004; CABALLO, 1996;
MARTIN, PEAR, 2009).
Se por um lado, este tipo de descrição tem sua utilidade elucidativa
sobre o comportamento, a partir de relatos literários, ele também se justifica
pelo fato de que, na clínica, por exemplo, queixas descritas pelo cliente como
espirituais precisarão ser compreendidas do ponto de vista comportamental,
a partir de uma análise funcional destes comportamentos causadores de
sofrimento, para que haja uma efetiva intervenção.De acordo com a visão
behaviorista, o homem age sobre o ambiente mudando as contingências
que influem sobre a probabilidade de seu próprio comportamento, e “pode
agora controlar seu próprio destino porque sabe o que deve ser feito e como
fazê-lo” (SKINNER, 1974, p. 277).
Nota
1 A morte como consequência para o pecado se confirma ao longo de toda literatura paulina, porém não é o caso, aqui, uma análise verticalizada deste tema
específico.
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Abstract: this paper is a possible psychological interpretation of apostle Paul’s declarations
in his letter to the Romans, chapter 7, by a behaviorist view. His conflict between sinful
behaviors and pleasing to God behaviors are analyzed through behavioral notions of
self-control and impulsivity, rule-governed behavior and choice under risk.
Keywords: Behaviorism; Self-control, Rule-governed Behavior, Holy Bible
RICARDO RODRIGUES BORGES
Discente de Psicologia na Pontifícia Universidade Católica de Goiás. Bolsista de Iniciação
Científica Pibic/CNPq. E-mail: [email protected]
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