FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE DE LISBOA CURSO DE MESTRADO INTEGRADO EM MEDICINA MÓDULO II.I – BIOQUÍMICA AULAS TEÓRICO-PRÁTICAS METABOLICAMENTE EXPLICADO RESOLUÇÃO TP6-TP13 MIGUEL MIRANDA [email protected] Caro Caloiro, Findo o primeiro ano do Mestrado Integrado em Medicina, candidatei-me a monitor de Bioquímica. Até aqui tudo bem (pensava eu até me lembrar que o 2ºano dá uma quantidade ridícula de trabalho)… Mas bastaram alguns minutos após o envio da candidatura para perceber que, infelizmente, glicoses e 𝛼-cetoglutaratos tinham sido substituídos por órgãos e cenas do segundo semestre. Com o intuito de me aliviar a consciência, surgiu este documento. Infelizmente, até à data, continuo bioquicamente inculto! Aqui, encontrarás a resolução das fichas das TPs de Bioquímica, a partir da TP6. Digamos que ao fim de 8 fichas resolvidas, a minha consciência já não me levantava grandes problemas, ficando as 5 primeiras por resolver em prol da grande missão de pôr os filmes e as séries em dia. De qualquer forma, as fichas que costumam ficar pior resolvidas são as dos metabolismos, especialmente porque o tempo começa a apertar (não estivéssemos nós preocupados com os buracos do esfenoide e com a oral de Janeiro). Agora a parte mais séria: muito do que está aqui foi transcrito dos grandes senhores do 1ºsemestre (atrás do Rouviére, como é óbvio), aka. Stryer e Lehninger. Não posso esquecer, também, de agradecer à maior ajuda dos estudantes de medicina do 1º ao Existirão muitas parecenças com a Pipoca Sexy, não guiasse ela a resolução das fichas de Bioquímica há anos. Estão, ainda, presentes algumas alterações às correções desta grande senhora, anotadas em sala de aula nos meus tempos de caloiro! É natural não compreender algumas respostas à primeira. Faz parte do processo de entender conceitos bioquimicamente complexos (com nomes com números e letras gregas). Pode ajudar tentar esquematizar o que é dito para melhor entender. Para aliviar este processo, tentei pôr algumas imagens e esquemas. Algumas respostas apresentam pormenor em excesso propositadamente: pequenos detalhes poderão a ajudar a completar o raciocínio. Por último, fica um agradecimento ao João Patrício, pela criatividade por detrás do nome da sebenta (ainda que as sugestões anteriores tivessem falhado, retirando qualquer credibilidade que este documento alguma vez pudesse ter). MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA 6ºano, a nossa querida Wikipedia. 2 ÍNDICE Págs. Receptores 4 TP7 Glicólise 12 TP8 Ciclo de Krebs e Respiração Celular 20 TP9 Metabolismo Glicídico 31 TP10 Metabolismo Lipídico 42 TP11 Biossíntese Lipídica 49 TP12 Metabolismo Proteico 60 TP13 Inter-relação metabólica 69 MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA TP6 3 Mestrado Int. em Medicina Bioquímica 2013/14 6.ª Aula Teórico-Prática – Recetores: RESOLUÇÃO CASO CLÍNICO Alterações compatíveis com isquemia aguda; Administração de um nitrato sublingual; Após administração, súbita diminuição da tensão arterial; Tinha havido consumo prévio de sildenafil (citrato de sildenafila é um fármaco que é vendido sob os nomes de Viagra – disfunção eréctil e impotência sexual – e Revatio – hipertensão arterial pulmonar) Pergunta 1 Enunciado: nitratos → libertação de monóxido de azoto → ativação guanilato ciclase → ↗[GMPc intracelular] no músculo liso vascular → desfosforilação da cadeia leve de miosina → relaxamento da parede vascular. Resposta: Um agonista (os nitratos) liga-se ao recetor (complexo ligando- produção da proteína efetora, a guanilato ciclase. Esta vai ativar fosfocinases, as quais serão responsáveis pela fosforilação de certas proteínas, as quais levam à desfosforilação de 2 fosfatos (GTP → GMP). Assim, aumenta a concentração intracelular de GMPc, o que provoca a abertura dos canais de sódio e, consequentemente, leva ao relaxamento muscular. MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA recetor), permitindo a transdução de sinal. Isto, por sua vez, leva a um aumento da 4 Pergunta 2 Enunciado: sildenafil=inibidor da isoforma 5’ da fosfodiesterase: GMPc (activa) →GMP (inativa) Resposta: Em situações normais, as artérias coronárias dilatam-se e contraemse, alterando a afluência de sangue ao miocárdio, consoante a dependência de oxigénio. O paciente foi diagnosticado com isquemia aguda, querendo isto dizer que as coronárias são incapazes de realizar esta função. Para aumentar urgentemente o seu volume verificou-se a ingestão de nitratos. Desta forma, verifica-se vasodilatação e relaxamento dos vasos sanguíneos, aumentando o fluxo sanguíneo para o miocárdio. Contudo, existiu consumo prévio de sildenafil. Este ao inibir a isoforma 5’ da fosfodiesterase permite a acumulação de GMPc. Como sabemos através da pergunta anterior, o ↗[GMPc intracelular] no músculo liso vascular leva ao relaxamento da parede vascular. A ação combinada dos nitratos + sildenafil leva ao perigoso efeito de vasodilatação excessiva, o que está por detrás da queda de tensão arterial. Pergunta 3 que coordena a função de todas as diferentes células do corpo, sendo os mensageiros químicos representados por várias hormonas, transmissores e outros mediadores. Existem 4 tipos de recetores: Tipo I: canais iónicos regulados por ligantes (ionotrópicos) Tipo II: acoplados à proteína G Tipo III: recetores ligados à quinase Tipo IV: recetores nucleares MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA Os recetores constituem os elementos sensores no sistema de comunicações químicas 5 VANTAGENS Amplificação de sinal Afinidade entre DESVANTAGENS moléculas Amplificação de sinal Processo intervenientes lento comparação à ativação direta) Maior controlo de resposta Os segundos mais mensageiros Maior dispêndio de energia (em MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA Pergunta 4 6 difundem-se outros influenciando livremente para compartimentos, vários processos celulares “Conversa cruzada” CÓLERA (bactéria Vibrio cholerae) Sintoma: Diarreia – resultado direto da toxina produzida pela bactéria; toxina provoca ADP-ribosilação (modificação covalente da subunidade α da proteína G intestinal, a qual passa a ter uma maior atividade). As proteínas G consistem em 3 subunidades, 𝛼, 𝛽 𝑒 𝛾. Os nucleótidos da guanina ligamse à subunidade α, que apresenta atividade enzimática, catalisando a conversão do GTP em GDP. As subunidades 𝛽 𝑒 𝛾 permanecem unidas na forma de um complexo 𝛽𝛾. Todas as subunidades estão ancoradas à membrana através de uma cadeia de ácidos gordos acoplada à proteína G por meio de uma reação conhecida por prenilação. As proteínas G parecem ser livremente difusíveis no plano da membrana; por MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA Pergunta 5 7 conseguinte, um único reservatório de proteína G numa célula pode interagir com vários recetores e efetores diferentes, de uma maneira essencialmente promíscua. No estado de “repouso”, a proteína G encontra-se na forma de um trímero 𝛼𝛽𝛾 não fixo, ocupando o GDP o sítio na subunidade 𝛼. Quando o GPCr é ocupado por uma molécula agonista, ocorre uma alteração da sua conformação, envolvendo o domínio citoplasmático do receptor, resultando na aquisição de uma alta afinidade pelo trímero 𝛼𝛽𝛾. A associação do trímero 𝛼𝛽𝛾 com o recetor provoca a dissociação do GDP ligado e a sua substituição por GTP (troca de GDP/GTP) que, por sua vez, causa a dissociação do trímero da proteína G, com consequente libertação das subunidades 𝛼 − 𝐺𝑇𝑃 e 𝛽𝛾. Tratam-se das formas ativas da proteína G, que sofrem difusão na membrana e podem associar-se a diversas enzimas e canais iónicos, induzindo ativação ou inativação, conforme o caso. O processo é concluído quando ocorre hidrólise do GTP a GDP, através da atividade da GTPase da subunidade 𝛼. O 𝛼 − 𝐺𝐷𝑃 resultante dissocia-se então do efetor e une-se ao complexo, completando o ciclo. A ligação da subunidade 𝛼 a uma molécula efectora aumenta realmente a sua atividade GTPase, sendo a magnitude desse aumento diferente para diferentes tipos de efetores. Como a hidrólise do GTP constitui a etapa que interrompe a capacidade proteína efetora significa que a ativação do efetor tende a ser autolimitada. O mecanismo resulta em ampliação, visto que um único complexo agonista-recetor é capaz de ativar várias moléculas de proteína G, podendo cada uma delas permanecer associada à enzima efetora durante um tempo suficiente para produzir muitas moléculas do produto. O produto é, com frequência, um segundo mensageiro, e ocorre amplificação adicional antes que seja produzida a resposta celular final. In Rangdale, 5ªEdição Pergunta 6 A toxina da cólera catalisa a ribosilação do ADP, levando à ativação descontrolada da adenilato ciclase e produção de AMPc. Basicamente, a proteína enterotoxina provoca MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA da subunidade 𝛼 de produzir o seu efeito, a regulação da sua atividade de GTPase pela 8 o bloqueio da GTPase, prevenindo-se assim a inibição do complexo G𝛼𝑠. Consequentemente, a secreção de fluídos pelo epitélio gastrointestinal será excessiva. Pergunta 7 Fosforilação (ativação das cinases) Pergunta 8 Depende das enzimas (mecanismo on e off) Pergunta 9 Agonista: Ligante que, ao se ligar ao recetor proteico, ativa a transdução do sinal (caracterizada pela passagem de um sinal de uma célula para células – alvo por meio do ambiente extracelular e compreendendo descodificação). MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA Exemplo: 9 Agonista total (resposta máxima) ou parcial (pode funcionar como antagonista relativo: inibição competitiva) Não falamos em eficácia, mas em afinidade. Antagonista: Ligante que impede a transdução do sinal quando se liga ao recetor. Pergunta 10 Segundos mensageiros solúveis em água (cAMP, cGMP, inositol trifosfato) Segundos mensageiros lipídicos (DAG ou PIP3) Iões (se o fluxo iónico for suficientemente grande ou se for a corrente predominante através da membrana) MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA Pergunta 11 10 A fosfolipase C é uma enzima da face interna da membrana que catalisa a hidrólise de um fosfolípido membranar, o PIP2 (Fosfatidilinositol-4,5-bifosfato), havendo consequente formação de 2 mensageiros em funções distintas, o DAG e o IP3 (1,4,5trifosfato de inositol). O IP3 é um segundo mensageiro que controla múltiplos processos celulares, através da geração de sinais internos de cálcio. O cálcio libertado ativa proteínas dependentes de cálcio, as quais são responsáveis pelo desencadear de MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA uma determinada resposta celular. 11 Mestrado Int. em Medicina Bioquímica 2013/14 7.ª Aula Teórico-Prática – Glicólise: RESOLUÇÃO MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA Pergunta 1 12 1ªfase: priming (fase preparatória) – reações endergónicas, onde ocorrem 2 fosforilações e uma isomerização; MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA 13 2ªfase: splitting stage – clivagem aldólica, transformando a frutose-1,6difosfato em 2 trioses; 3ªfase: oxireduction-phosphorylation stage: gasto de 2 moléculas de ATP compensado pela formação de 4 moléculas de ATP. Reações irreversíveis (praticamente irreversíveis in vivo) – ver info no Lehninger (532): 1. Fosforilação do grupo OH do Carbono 6 (a membrana celular é impermeável a 6-fosfato de glicose); Enzima: Hexocinase (ou glicocinase, se no fígado) 2. Fosforilação de 6-fosfato de frutose a 1,6-bifosfato de frutose (esta transformação faz com que, a partir deste momento, a glicose já não possa ser utilizada noutra via 3. Transferência do grupo fosforil do fosfoenolpiruvato para o ADP MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA metabólica) 14 Pergunta 2 As hexocinases são membros da família das cinases que catalisam a fosforilação da glucose na via glicolítica, existindo 3 isoenzimas (I, II e III). Estas hexocinases são inibidas alostericamente pelo seu produto, o 6-fosfato de glucose, sendo uma forma de regulação da entrada de glucose na célula. Assim, no caso da célula se encontrar com um potencial energético elevado (concentração de ATP elevada), a glicólise diminui o seu ritmo, acumulando, entre outros intermediários, 6-fosfato de glicose. Tendo em conta que o valor de ∆𝐺 para a reação 6-fosfato de glucose a originar 6fosfato de frutose é de 0,4kJ/mol, vai existir uma acumulação de 6-fosfato de glucose. Como as hexocinases I e II são inibidas pelo seu produto, o 6-fosfato de glucose, a glucose intracelular deixa de ser fosforilada, impedindo assim a entrada de mais glucose, desnecessária para a célula. As hexocinases I e II ligam-se específica e reversivelmente à membrana externa da mitocôndria, um fenómeno que se pensa ser regulador da atividade enzimática. As hexocinases existem em todo o corpo, mas atingem o ponto máximo da sua importância no cérebro e nos músculos, onde a necessidade energética dita uma grande velocidade da reação. Assim, enquanto a glucocinase apresenta um Km para a glucose de 10 mM, a hexocinase tem um Km inferior a 0,1 mM. Apresentando uma baixa afinidade para a glicose, a enzima apenas atuará quando a concentração for demasiado elevada. Desta forma, a glucocinase está bem adaptada para lidar com influxos elevados de glucose no fígado. Sendo assim, a glicose é convertida a 6-fosfato de glucose (a qual não inibe a glucocinase). Este composto é impedido de sair do fígado, dado a membrana celular ser impermeável à substância. Desta forma, é possível diminuir a taxa de glicose no sangue. Pergunta 3 Os destinos metabólicos serão a formação de glicogénio (gliconeogénese), a glicólise e a via das fosfopentoses. MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA A maior diferença entre a glucocinase e a hexocinase é a afinidade para a glicose. 15 A fosforilação da glucose origina 6-fosfotoglucose. Este posteriormente origina piruvato. AEROBIOSE ANAEROBIOSE Piruvato é catalisado a acetato, que segue Fermentação alcoólica: 2 mol de etanol; para o ciclo do ácido cítrico, de modo a Fermentação láctica: 2 mol de 𝐶𝑂 + 2 ser completamente oxidado a dióxido de mol de lactato. carbono e água. NADH é oxidado a NA𝐷 na cadeia 𝑁𝐴𝐷 é regenerado na passagem de transportadora de eletrões. 3-fosfato de piruvato a lactato. gliceraldeído desidrogenase pode continuar a atuar. Eritrócitos dependem de anaerobiose, por não apresentarem mitocôndrias MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA 𝑂 , mitocôndrias 16 Pergunta 4 A reação de formação de 1,6-bifosfato de frutose é irreversível; Clivagem aldólica é reversível e endergónica; A conversão de Fosfato dihidroxiacetona em Gliceraldeído-3-fosfato é uma reação rápida e reversível. No equilíbrio, 96% da triose fosfato é representada pela di-hidroxiacetona fosfato. Contudo, a reação processa-se prontamente da di-hidroxiacetona fosfato para o gliceraldeído-3-fosfato, devido à remoção deste produto pelas reações subsequentes; Por todas estas razões, para direcionar a reação no sentido de gliceraldeído-3fosfato, este forma-se e é consumido. Para concentrações intracelulares menores de reagentes, a energia livre de Gibbs não é tão positiva e a reação é facilmente revertida (o que se verifica na formação de glicogénio). Pergunta 5.a) A anemia hemolítica resulta da hemólise, a nível dos vasos sanguíneos e noutros locais do corpo. Este processo pode ser inofensivo ou ameaçar a vida. O tratamento vai depender da causa da hemólise. Os eritrócitos apresentam certas exigências que só são respondidas com o transporte ativo de certas substâncias, logo implicando um gasto energético. Perante deficiência nas enzimas da glicólise, não se produz eficazmente ATP e estas condições não são mantidas, comprometendo a integridade da membrana e levando à lise celular. MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA 17 Pergunta 5.b) A via de Rapport-Luebering diz respeito à formação de 2,3-BPG por desvio da glicose. Através da ação de uma mutase sobre o ácido 1,3-bisfosfoglicérico Através da ação de uma cinase sobre o ácido 3-fosfoglicérico (3-fosfoglicerato). O 2,3-BPG tem grande afinidade com a hemoglobina desoxigenada. Desta forma, quando se liga à Hb parcialmente oxigenada, promove, alostericamente, a libertação de todo o oxigénio ligado à Hb, aumentando a capacidade de libertação do oxigénio pelos eritrócitos junto dos tecidos. Dependendo das necessidades, esta via produz ou não 2,3-bisfosfoglicerato. A via serve, então, como uma espécie de “energy buffer”, fornecendo rapidamente energia quando necessária. (muito presente nos habitantes dos Himalaias) Pergunta 6. Perfil de um doente com enfarte agudo do miocárdio=? Enfarte agudo do miocárdio: necrose parcial do músculo cardíaco por falta de nutrientes e oxigénio. Músculo do coração. O coração está muito dependente de 𝑂 , pelo que se verifica lise dos miócitos e não dos eritrócitos. Desta forma, verifica-se o aumento da concentração sanguínea das enzimas. No caso de enfarte/obstrução de artéria, não existe 𝑂 para a formação de ATP. Assim, os gradientes osmóticos não são controlados, levando à lise celular com consequente libertação de enzimas (perfil A). O perfil C pertencerá mais provavelmente a um problema hepático (“ou de uma noite de copos”). MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA Isoenzimas nos soros humanos resultam da libertação por lise celular: que lise celular? 18 Pergunta 7. As células cancerosas crescem mais rapidamente do que os vasos sanguíneos que as nutrem; assim, quando os tumores sólidos crescem, são incapazes de obter oxigénio de modo eficiente. Começam a experimentar hipoxia. Nestas condições, a glicólise produz ácido láctico e essa fermentação torna-se a fonte principal de ATP, em vez de seguir a via da fosforilação oxidativa, originando 𝐶𝑂 𝑒 𝐻 𝑂 e uma maior quantidade de ATP. Existe, assim, défice de ATP, o que pode ser responsável pela lise celular (a diminuição de pH por presença de lactato não é suficiente para lise celular; tem que se considerar efeito cumulativo da aceleração da via glicolítica e o estabelecimento de MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA novos vasos sanguíneos). 19 Mestrado Int. em Medicina Bioquímica 2013/14 Pergunta 1 Mitocôndria (matriz) Pergunta 2 MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA 8.ª Aula Teórico-Prática – Ciclo de Krebs e Respiração Celular: RESOLUÇÃO 20 O oxigénio molecular não participa diretamente no ciclo de Krebs. Contudo, o ciclo opera somente sob condições aeróbias, porque o 𝑁𝐴𝐷𝐻 e o 𝐹𝐴𝐷𝐻 só podem ser reoxidados na mitocôndria pela transferência de eletrões para o oxigénio molecular (enquanto 𝑂 é reduzido a 𝐻 𝑂). A glicólise tem tanto uma modalidade aeróbia quanto uma anaeróbia, enquanto o ciclo do ácido cítrico é estritamente aeróbio. A glicólise pode ocorrer, sob condições anaeróbias, porque o NADH é regenerado na transformação do piruvato a lactato ou etanol. Pergunta 3 A fosforilação do substrato corresponde à formação de moléculas energéticas, ATP e GTP (formação/quebra de ligações de alta energia), simultâneas à transformação enzimática do substrato, originando os intermediários metabólicos. Corresponde, MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA assim, a um ponto de intersecção entre vários metabolismos. 21 Pergunta 4 A fosforilação de GTP dá-se ao nível da 5ªreação do ciclo de Krebs: tiólise da succinilCoA em sucinato. Esta reação, catalisada pela succinil-Coa sintetase, apresenta uma variação da energia livre de Gibbs padrão muito negativa, devido à hidrólise da ligação tioéster, a qual é acoplada na síntese de uma ligação fosfoanidra de alta energia, gerando GTP (ou ATP) a partir de GDP (na presença de fosfato inorgânico) e surgindo em virtude da libertação oxidativa do 𝛼-cetoglutarato. Pergunta 5 Beribéri: sintomas neurológicos e cardíacos; o dano no sistema nervoso periférico expressa-se como dor nos membros, fraqueza muscular, sensação cutânea e débito cardíaco inadequado. A tiamina (vitamina B1) é o precursor do co-factor tiamina pirofosfato (TPP). Este cofator é o grupo prostético de 3 enzimas importantes: piruvato desidrogenase, 𝛼cetoglutarato desidrogenase e transcetalase (via pentose fosfato). O aspeto comum das reações que recorrem a TPP é a transferência de uma unidade aldeídica ativada. mais altos que o normal. O aumento do nível de piruvato no sangue é especialmente pronunciado após a ingestão de glicose. Tal justifica-se porque, nos doentes, as atividades dos complexos de piruvato e de 𝛼-cetoglutarato desidrogenases in vivo estão anormalmente baixas. O piruvato, produto da glicose aeróbia, só pode entrar na via através do complexo piruvato desidrogenase. Como a enzima está desativada, o sistema nervoso não recebe a energia que necessita, resultando em problemas neurológicos (já que não consegue utilizar lípidos como fonte de energia). A mesma explicação pode ser utilizada para o complexo 𝛼-cetoglutarato desidrogenase, que catalisa uma reação muito semelhante à anterior. A deficiência da MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA Na patologia do beribéri, os níveis de piruvato e de 𝛼-cetoglutarato no sangue estão 22 TPP não permite a conversão de 𝛼-cetoglutarato em succinil-CoA, o que leva à sua acumulação após ingestão de glicose. (Tratamento: injeções de tiamina) Sintomas parecidos com envenenamento por mercúrio: chapeleiro louco CASO CLÍNICO Mialgias e fraqueza muscular, agravamento progressivo Escurecimento da urina que ficou de “cor alaranjada” Obs. física não revelou palpação dolorosa de massas musculares ou falta de Elevação da creatina cinase (CK=365 U/L) Urina II com mioglobina (+++) Após prova de esforço: CK=780 U/L; Lactato 0,6mmol/L; pH arterial 7,31 Eletromiograma: miopatia ligeira Valores anormalmente baixos de atividade de NADH-citocromo c redutase e succinato-citocromo c redutase Atividade normal de NADH desidrogenase, succinato desidrogenase e citocromo c oxidase. Creatina fosfocinase: produto da degradação da fosfocreatina no músculo; é produzida a uma taxa praticamente constante, que é diretamente proporcional à massa muscular da pessoa. Mioglobinúria: presença de mioglobina na urina. A mioglobina transporta oxigénio. Diferença entre mioglobina e hemoglobina? Local de atuação. MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA força muscular 23 Pergunta 6.a) CK elevada (365 U/L, 780U/L, após prova de esforço, para VR de 195U/L). CK é produto da degradação da fosfocreatina em creatina nos músculos. Se se encontra na corrente sanguínea=lise de células musculares. Não existe respiração celular → produção de energia anaerobiamente → produção menor de ATP + produção de lactato (explica valor acima de VR) → diminuí pH (acidose metabólica) Pergunta 6.b) Após prova de esforço, verificou-se um aumento da concentração sanguínea de CK e de lactato e a diminuição do pH arterial. O aumento da concentração de lactato é explicado pela realização de fermentação láctica por parte do músculo esquelético. Este tipo de fermentação é um processo que ocorre de forma alternativa, frente a situações em que o organismo não realiza respiração aeróbia. Considerado um artifício metabólico de curto prazo, ativado quando o organismo é submetido a um intenso esforço físico em condições de baixa oxigenação muscular. formação de duas moléculas de ATP. Perante um cenário de baixa energia, verificou-se um aumento dos níveis de creatina cinase. A CK funciona como um catalisador, sendo a sua principal função nas células a de adicionar um grupo de fosfato à creatina, formando uma molécula de fosfocreatina. A fosfocreatina é utilizada pelo organismo para fornecer energia às células. Contudo, isto é um processo intracelular. Como se explicam então os elevados valores de CK no sangue? A explicação passará pelo processo de rabdomiolise (sinónimo de lise de células do músculo esquelético). Durante o processo de degeneração muscular, as células do músculo esquelético lisam e libertam o seu conteúdo para a corrente sanguínea, incluindo a CK, mioglobina e o lactato. MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA Em comparação com a respiração aeróbia, a fermentação láctica apenas leva à 24 Sendo o lactato uma substância ácida, justifica-se a descida do pH arterial (acidose metabólica). NOTAS: Creatina: presente no cérebro e nas fibras musculares. Fonte endógena: fígado; CK é a primeira enzima do coração a surgir no sangue após enfarte do miocárdio; também desaparece rapidamente da corrente sanguínea; Medicação para colesterol também poderá elevar valores de CK, assim como os para o hipotiroidismo; http://www.youtube.com/watch?v=BR3dDO1Sz0E MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA Pergunta 6.c) 25 reductase* (considerei Q-cytochrome c oxidoreductase): problema ao nível do complexo III. Sabendo que o complexo III é o responsável por fazer seguir os eletrões sequencialmente para o citocromo c, o qual os transporta para o complexo IV; MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA Valores anormalmente baixos de NADH-citocromo c reductase e succinato-citocromo C 26 compreende-se que a passagem de 𝐻 para o citosol fique comprometida, diminuindo a eficiência da redução do citocromo c e, consequentemente, impedindo o normal desenrolar da cadeia de eletrões. A passagem de 𝐻 para o citosol necessita de ATP: congruência com o caso clínico. Pergunta 6.d) Antimicina A: inibidor do complexo III – paralisação irreversível do fluxo de eletrões na cadeia transportadora. Deixa de se gerar potencial redutor, logo não há consumo de 𝑂 e não se forma ATP. Resultados esperados são os mesmos. NOTA: Inibição complexo III: grave (nem NADH nem FAD𝐻 entram) Inibição complexo I: continua a existir produção energética (não entra NADH, mas entra FAD𝐻 ) Pergunta 7. Peter D. Mitchell proposed the chemiosmotic hypothesis in 1961. The theory suggests essentially that most ATP synthesis in respiring cells comes from the electrochemical gradient across the inner membranes of mitochondria by using the energy of NADH Molecules such as glucose are metabolized to produce acetyl CoA as an energy-rich intermediate. The oxidation of acetyl CoA in the mitochondrial matrix is coupled to the reduction of a carrier molecule such as NAD and FAD. The carriers pass electrons to the electron transport chain (ETC) in the inner mitochondrial membrane, which in turn pass them to other proteins in the ETC. The energy available in the electrons is used to pump protons from the matrix across the inner mitochondrial membrane, storing energy in the form of a transmembrane electrochemical gradient. The protons move back across the inner membrane through the enzyme ATP synthase. The flow of protons back into the matrix of the mitochondrion via ATP synthase provides enough energy for ADP to combine with inorganic phosphate to form ATP. The electrons and protons at the last pump in the ETC are taken up by oxygen to form water. MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA and FADH2 formed from the breaking down of energy-rich molecules such as glucose. 27 This was a radical proposal at the time, and was not well accepted. The prevailing view was that the energy of electron transfer was stored as a stable high potential intermediate, a chemically more conservative concept. The problem with the older paradigm is that no high energy intermediate was ever found, and the evidence for proton pumping by the complexes of the electron transfer chain grew too great to be ignored. Eventually the weight of evidence began to favor the chemiosmotic hypothesis, and in 1978, Peter Mitchell was awarded the Nobel Prize in Chemistry. Chemiosmotic coupling is important for ATP production in chloroplasts and many bacteria and archaea. Wikipedia “Chemiosmotic theory readily explains the dependence of electron transfer on ATP synthesis in mitochondria. When the flow of protons into the matrix through the proton channel of ATP synthase is blocked (with oligomycin, for example), no path exists for the return of protons to the matrix, and the continued extrusion of protons driven by the large proton gradient. The proton-motive force builds up until the cost (free energy) of pumping protons out of the matrix against this gradient equals or exceeds the energy released by the transfer of electrons from NADH to O2. At this point electron flow must stop; the free energy for the overall process of electron flow coupled to proton pumping becomes zero, and the system is at equilibrium.” in Lehninger Quanto maior for o consumo de 𝑂 , mais ATP é formado! São necessárias moléculas, como NADH e 𝐹𝐴𝐷𝐻 , que provêm do ciclo de Krebs – só acontece aerobicamente). MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA activity of the respiratory chain generates a 28 Pergunta 8. 2,4-dinitrofenol: desacoplador – substância que consegue desacoplar a oxidação da fosforilação. Quando mitocôndrias intactas são alvo desta substância, os fragmentos resultantes de membrana conseguem, ainda, catalisar a transferência de eletrões do succinato ou do NADH para o 𝑂 , mas não existe produção de ATP acoplada a esta respiração. A energia é dissipada sob a forma de calor “In living cells, DNP acts as a proton ionophore, an agent that can shuttle protons (hydrogen cations) across biological membranes. It defeats the proton gradient across mitochondria and chloroplast membranes, collapsing the proton motive force that the cell uses to produce most of its ATP chemical energy. Instead of producing ATP, the energy of the proton gradient is lost as heat”, Wikipedia NOTA: DNP foi utilizado durante muitos anos em comprimidos para emagrecer Consumo de Oxigénio: Aumenta Produção de ATP: Diminuí Desacoplador (atua a nível da ATP sintetase) • Permite que uma reação ocorra e outra não. • Desagrega a geração de energia, que iria ser utilizada. • Há consumo de O2. • Não permite a formação de ATP Inibidor (atua ao nível dos complexos) • Inibe a atividade • Não se chega a gerar o potencial redutor • Não há consumo de O2 • O O2 não recebe eletrões e não se forma ATP MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA INFORMAÇÃO EXTRA 29 30 MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA Mestrado Int. em Medicina Bioquímica 2013/14 9.ª Aula Teórico-Prática – Metabolismo Glicídico: RESOLUÇÃO CASO CLÍNICO 1 Rapaz recebeu imunizações adequadas e iniciou profilaxia com antimaláricos; Cansaço + urina escura; Mucosas pouco coradas e as esclerosas subictéricas (coloração amarelada da pele e mucosas); HC: episódios semelhantes após ingestão de favas (contêm flavinas – grande potencial redutor; divicina – ingrediente tóxico das favas). RETICULÓCITOS: precursores dos eritrócitos, ainda possuindo muitos organelos. Não se destroem tão facilmente devido a apresentarem mitocôndrias; VGM: Volume Globular Médio – primeiro passo para o diagnóstico de anemia hipo ou hiperproliferativa; BILIRRUBINA TOTAL: principal produto do metabolismo do heme da hemoglobina. Cerca de 70% a 80% da bilirrubina são provenientes da destruição das hemácias velhas, 15% de fontes hepáticas e o restante é proveniente da destruição de hemácias defeituosas na medula óssea e nos MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA Deficiência da glicose-6-fosfato desidrogenase? 31 citocromos; A bilirrubina, principal componente dos pigmentos biliares, é o produto final da destruição da porção “heme” da hemoglobina e outras A dosagem das bilirrubinas é um exame que pode avaliar ao mesmo tempo lesão hepatocelular, fluxo biliar e função de síntese do fígado; TGO: transaminase glutâmico oxaloacética ou Aspartato aminotransferase (AST) – é uma enzima que catalisa a reação: aspartato + 𝜶-cetoglutarato = oxaloacetato + glutamato; é encontrada em altas concentrações no citoplasma e nas mitocôndrias do fígado, músculos esquelético e cardíaco, rins, pâncreas e eritrócitos; quando qualquer um desses tecidos é danificado, a AST é liberada MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA hemoproteínas. 32 no sangue; como não há um método laboratorial para saber qual a origem da AST encontrada no sangue, o diagnóstico da causa do seu aumento deve levar em consideração a possibilidade de lesão em qualquer um dos órgãos onde é encontrada; valores normais: até 31 U/L (mulheres) e 37 U/L (homens); TGP: transaminase glutâmico pirúvica ou Alanina aminotransferase (ALT); é uma enzima que catalisa a reação: alanina + 𝜶-cetoglutarato = piruvato + glutamato; é encontrada em altas concentrações apenas no citoplasma do fígado, o que torna o seu aumento mais específico de lesão hepática; no entanto, pode estar aumentada em conjunto com a AST em miopatias (doenças musculares) severas; valores normais: até 31 U/L (mulheres) e 41 U/L (homens); Relação AST/ALT a) além das características individuais, a relação entre o aumento das enzimas tem valor diagnóstico b) tanto a AST quanto a ALT costumam subir e descer mais ou menos na mesma proporção em doenças hepáticas c) elevações pequenas de ambas, ou apenas de ALT em pequena proporção, são não alcoólica) d) como na hepatite alcoólica há maior lesão mitocondrial, proporcionalmente, do que nas outras hepatopatias, observa-se tipicamente elevação mais acentuada (o dobro ou mais) de AST (que é encontrada nas mitocôndrias) do que de ALT, ambas geralmente abaixo de 300 U/L e) elevações de ambas acima de 1.000 U/L são observadas em hepatites agudas virais ou por drogas MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA encontradas na hepatite crónica (especialmente hepatite C e esteato-hepatite 33 Doenças Hepatobiliares Doenças do Miocárdio Doença Pancreática Causas do aumento de aminotransferases no sangue Doença Muscular Obesidade/diabetes Álcool Hemocromatose Ligação a imunoglobulina (rara) Deficiência de alfa-1-tripsina Doença não-hepatobiliar com envolvimento hepático Infecção pelo HIV Hipertiroidismo Doença Celíaca LDH: Lactato Desidrogenase; é observado em lesões hepatocelulares de modo geral; pode ser útil na diferenciação entre hepatite aguda viral e lesão causada por isquemia ou paracetamol; sugere-se que, em elevações de aminotransferases acima de 5 vezes o limite superior, uma relação ALT/DHL maior que 1,5 sugere hepatite viral; valores normais: 24-480 U/L. TESTE DE COMBS DIRETO: utilizado para diagnosticar doenças autoimunes. antígenos dos eritrócitos, isto é, se “in vivo” há anticorpos incompletos fixos à membrana eritrocitária. O teste de Combs direto é usado no diagnóstico de doenças autoimunes e doença hemolítica do recém-nascido. Este detecta anticorpos ligados à superfície das hemácias. Pergunta 1 Via fosfato pentose – fase oxidativa 𝐺𝑙𝑖𝑐𝑜𝑠𝑒 6 − 𝑓𝑜𝑠𝑓𝑎𝑡𝑜 + 𝑁𝐴𝐷𝑃 → 6 − 𝑓𝑜𝑠𝑓𝑜𝑔𝑙𝑖𝑐𝑜𝑛𝑜 − 𝛿 − 𝑙𝑎𝑐𝑡𝑜𝑛𝑎 + 𝑁𝐴𝐷𝑃𝐻 + 𝐻 O carbono aldeídico (C1) é oxidado a ácido carboxílico NOTA: Enzima específica ao substrato MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA Através do Teste de Combs Direto pode-se evidenciar os anticorpos contra 34 Pergunta 2.a) Urina escura: presença de hemoglobina, devido à lise dos eritrócitos. Daí valor de Cansaço: baixa concentração de hemoglobina no sangue, processo de produção energética aeróbio menos eficiente. Produção de energia por via anaeróbia – o que explica os valores de LDH (regeneração de NAD+). Com a diminuição do número de eritrócitos, devido à lise celular, verifica-se um aumento da resposta da medula, levando a uma maior produção de reticulócitos. Estes precursores de eritrócitos apresentam, ainda, organelos intracelulares, o que justifica a sua dimensão superior (quando em comparação com o eritrócito). Verifica-se, deste modo, um aumento do VGM. Aumento da concentração de bilirrubina: hemólise leva á libertação de hemoglobina. Bilirrubina é o principal resultado do metabolismo do grupo heme da hemoglobina. MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA hemoglobina sanguínea inferior ao tabelado por referência. 35 Valores de TGO/AST elevados: presente no sangue quando hepatócitos, músculo esquelético e cardíaco, rins, pâncreas ou eritrócitos se danificam. Neste caso, eritrócitos estão danificados, o que explica o valor. Também pode verificar-se maior atividade hepática. Valor de TGP/ALT dentro dos valores de referência: indicativo que a lesão não é hepática. Teste de Combs negativo: distúrbios não foram causados por doença autoimune. Pergunta 2.b) Hipótese: deficiência da glicose-6-fosfato desidrogenase Resposta Lehninger: G6PD catalyzes the first step in the pentose phosphate pathway (see Fig. 14–21), which produces NADPH. This reductant, essential in many biosynthetic pathways, also protects cells from oxidative damage by hydrogen peroxide (H2O2) and superoxide free radicals, highly reactive oxidants generated as metabolic byproducts and through the actions of drugs such as primaquine and natural products such as divicine—the toxic ingredient of fava beans. During normal detoxification, H2O2 is converted to H2O by reduced glutathione and glutathione peroxidase, and the oxidized glutathione is converted back to the and NADPH (Fig. 1). H2O2 is also broken down to H2O and O2 by catalase, which also requires NADPH. In G6PD-deficient individuals, the NADPH production is diminished and detoxification of H2O2 is inhibited. Cellular damage results: lipid peroxidation leading to breakdown of erythrocyte membranes and oxidation of proteins and DNA. Ver página 551 do Lehninger Relendo o caso clinico, verificamos: MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA reduced form by glutathione reductase 36 Profilaxia com anti-maláricos – anemia hemolítica induzida por medicamentos fruto da deficiência de G6PD. Medicamentos anti maláricos, como a pamaquina, podem levar ao desenvolvimento de urina escura, icterícia e queda abrupta da taxa de hemoglobina sanguínea quando associados a uma carência de G6PD. Este defeito, que é herdado no cromossoma X, é a enzimopatia mais comum, afetando centenas de milhões de pessoas. As células com níveis reduzidos de glicose-6-fosfato desidrogenase são especialmente sensíveis à lesão oxidativa, pois produzem menos NADPH, necessário para restaurar o antioxidante glutatião reduzido. Esta agressão é mais aguda nas hemácias porque elas, não tendo mitocôndrias, não têm mecanismos alternativos para gerar poder redutor. Hemácias com um nível reduzido de glutatião são mais suscetíveis à lise. Os antimaláricos, glicosídeos purínicos de favas, são agentes oxidantes que levam à geração de peróxido, forma química reativa de oxigénio que pode lesar membranas, assim como outras biomoléculas. Na ausência de G6PD, os peróxidos continuam a lesar as membranas, pois não está a ser produzido NADPH para a restauração do glutatião reduzido. Além disso, as sulfidrilas da hemoglobina não se podem manter por muito tempo na forma reduzida. As moléculas de hemoglobina ligam-se, então, formando agregados, os corpos de pelas formas químicas reativas de oxigénio tornam-se deformadas, e é provável que a célula sofra lise. Pergunta 3. Importância metabólica do NADPH e do glutatião para a integridade da membrana eritrocitária = respondido na pergunta anterior. ↙atividade de G6PD → ↙ NADPH → ↙taxa de redução do glutatião (cisteína, glicina e glutamato) → acumulação de radicais de 𝑂 + formação de corpos de Heinz →oxidação das membranas (em especial, eritrócitos) → hemólise. MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA Heinz, nas membranas celulares. As membranas lesionadas pelos corpos de Heinz e 37 Pergunta 4. Os eritrócitos, a fim de poderem fornecer oxigénio a todo o organismo, necessitam de mudar de forma. Consequentemente, perdem todos os organitos celulares, inclusive as mitocôndrias (onde se processa o ciclo de Krebs). Não tendo mitocôndrias, não existem mecanismos alternativos para gerar poder redutor. O principal papel do NADPH nas hemácias é reduzir a forma dissulfeto do glutatião para a forma sulfidrílica, numa reação catalisada pela flavoproteína glutatião redutase. A forma reduzida de glutatião serve como um tampão de sulfidrilas que mantém as cisteínas da hemoglobina e de outras proteínas das hemácias no estado reduzido. Na ausência de G6PD, não existe restauração do glutatião reduzido. Além disso, as sulfidrilas da hemoglobina não se podem manter por muito tempo na forma reduzida. As moléculas de hemoglobina formam agregados, os corpos de Heinz, nas membranas celulares. As membranas lesadas pelos corpos de Heinz e pelas formas reativas de 𝑂 tornam-se deformadas e é provável que a célula sofra lise. As outras células têm outras fontes de 𝑵𝑨𝑫𝑷𝑯 na mitocôndria. NOTA: principais grupos de agentes oxidativos: fármacos, infeções e favas. Hepatomegália; Episódios frequentes de vómitos e irritabilidade; Primeira filha de pais saudáveis, sem laços de consanguinidade conhecidos; Acumulação de glicogénio nos hepatócitos; Atividade enzimática da glicose-6-fosfatase francamente diminuída; Doença de Von Gierke (distúrbio metabólico hereditário autossómico recessivo de acumulação de glicogénio); Recomendação de dieta polifraccionada. MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA CASO CLÍNICO 2 38 Pergunta 5.a) O bebé foi diagnosticado com a doença de Von Gierke. Esta doença carateriza-se por uma deficiência na enzima glicose-6-fosfatase ou sistema de transporte. A ausência de glicose-6-fosfatase no fígado leva a hipoglicemia, dado não ser possível formar glicose a partir da glicose-6-fosfato. Essa ose fosforilada não saí do fígado porque não pode atravessar a membrana da célula. A acumulação de glicose-6-fosfato está por detrás da hepatomegálica demonstrada pela paciente. A presença de glicose6-fosfato em excesso dispara um aumento da glicólise hepática, levando a um alto nível de lactato e piruvato no sangue. Sendo estas substâncias ácidas, facilmente se percebe a diminuição de pH arterial à medida que se prolonga o jejum. O elevado valor de triacilglicerois justifica-se, sabendo que os portadores da doença de Von Gierke são muito mais dependentes do metabolismo lipídico que um individuo normal (suplementação das necessidades energéticas). Lembremos que estes indivíduos produzem mais ácido láctico, o qual fica disponível para a síntese lipídica. Os valores baixos de glicose dizem respeito aos episódios de hipoglicémia entre as refeições, sendo que o nível de glicose sanguínea não se eleva nem com a administração de epinefrina nem glucagina. Os vómitos e a irritabilidade são, muito nível de glicose no sangue. MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA provavelmente, consequências de quebras de tensão arterial recorrentes do baixo 39 Pergunta 5.b) São clinicamente indistinguíveis – não distinguíveis por exame físico. Os pacientes com falta da enzima desramificadora (𝛼 − 1,6 − 𝑔𝑙𝑖𝑐𝑜𝑠𝑖𝑑𝑎𝑠𝑒) apresentam a estrutura do glicogénio do fígado e do músculo anormal e a quantidade é pronunciadamente aumentada. As ramificações externas do glicogénio são muito curtas, dado serem as únicas que estes conseguem utilizar. Pergunta 6. FIBRAS MUSCULARES VERMELHAS Considerável fluxo sanguíneo Grande quantidade de mioglobina Presença de muitas mitocôndrias Metabolismo aeróbio promove contração relativamente larga Glicogénio decomposto em piruvato, o qual entra para o ciclo TCA Atividade longa, logo a glicose é necessária em intervalos maiores que a fermentação láctica. FIBRAS MUSCULARES BRANCAS Maior capacidade para a glicogenólise e glicólise, mas só funcionam em capacidade máxima em períodos curtos Menos mioglobina Menos mitocôndrias Produção final de lactato Em aerobiose, degradação lipídica; Em anaerobiose e aerobiose, degradação do glicogénio VELOCISTA MARATONISTA Fibras Brancas Fibras Vermelhas CK ATP Glicose de glicogénio muscular: Glicose sanguínea + ácidos gordos glicólise anaeróbia Glicogénio rápido/depletado livres Glicogénio lento/degradado MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA GLICOGÉNIO MUSCULAR GLICOGÉNIO HEPÁTICO Reserva de glicose para produção de ATP Reversa para manutenção de glicémia. Os nos tecidos. A maior parte do glicogénio é níveis de glicogenia, no fígado, após as consumido sem formação de glicose livre. refeições, são elevados, baixando lentamente no espaço entre refeição e sono. Pergunta 7. 40 Pergunta 8. UTP →PPi→2Pi 𝐺𝑙𝑖𝑐𝑜𝑠𝑒 − 1 − 𝑓𝑜𝑠𝑓𝑎𝑡𝑜 → 𝑈𝐷𝑃 − 𝑔𝑙𝑖𝑐𝑜𝑠𝑒 A reação ocorre sempre no sentido direto, porque o Pi resultante é utilizado noutras reações. NOTA: UDP – glicose e uma molécula de glicose “ativada” a partir da qual o glicogénio MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA pode ser sintetizado. 41 Mestrado Int. em Medicina Bioquímica 2013/14 10.ª Aula Teórico-Prática – Metabolismo Lipídico: RESOLUÇÃO CASO CLÍNICO Fraqueza muscular e letargia (perda da sensibilidade) após ingestão de alimentos e náuseas; Fadiga muscular regularmente; OF: hepatomegália discreta, fraqueza muscular das extremidades, restante Terapêutica com soro glicosado e dieta pobre em gorduras, verificando-se melhoria clínica; BIÓPSIA MUSCULAR: células musculares preenchidas com vacúolos contendo lípidos; concentração elevada de Triacilgliceróis e concentração baixa de carnitina (1/6 do normal). Pergunta 1. A paciente apresenta hipoglicémia, muito provavelmente com origem na inexistência de uma alimentação normal, devido às náuseas. A biópsia muscular revelou uma concentração baixa de carnitina. [A carnitina revela-se essencial para o metabolismo dos ácidos gordos: os ácidos gordos são ativados na MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA exame objetivo normal; 42 membrana mitocondrial externa, mas são oxidados na matriz mitocondrial. É, então, necessário um sistema de transporte que permita levar as moléculas de acil CoA de cadeia longa através da membrana mitocondrial interna. Numa reação catalisada pela carnitina aciltransferase I, o grupo acil é transferido do átomo de enxofre da CoA para o grupo hidroxilo da carnitina, formando acilcarnitina. A acilcarnitina é então transportada através da membrana mitocondrial interna por uma translocase. Aí verifica-se a reação inversa à supracitada, catalisada pela carnitina aciltransferase II, regenerando-se a carnitina.] Perante valores baixos de carnitina, os ácidos gordos não são transportados para o não se forma acetil-CoA, não se seguindo a via da cetogénese. Verifica-se a acumulação de ácidos gordos não metabolizados, explicando a hepatomegália. (Perante um jejum prolongado, seria de esperar a produção anormal de corpos cetónicos, que iriam suplantar 75% das necessidades cerebrais. Contudo, na ausência de carnitina, não se forma acetil-CoA. Sendo o primeiro passo da cetogénese a condensação de 2 moléculas de acetil-CoA, formando-se acetoacetil-CoA, é natural que se verifique um aumento de corpos cetónicos) Fraqueza muscular: falta de energia disponível – alimentação fraca, afetando a glicólise; a deficiência do metabolismo lipídico afeta a 𝛽-oxidação. Aumento dos triglicéridos: esterificação de ácidos gordos, levando ao preenchimento das células musculares por vacúolos que contém lípidos. MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA interior da mitocôndria, ficando de fora do processo de 𝛽-oxidação. Sem 𝜷-oxidação, 43 Pergunta 2. Corpos cetónicos: forma de energia hidrossolúvel; derivados da reação de condensação de 2 moléculas de acetil-CoA (não absorvidas pelo ciclo de Krebs). Formação essencialmente ao nível das mitocôndrias hepáticas (hepatócitos) ou no rim MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA (nefrónios), partindo daí para todo o organismo. 44 Pergunta 3. Em situações normais, o músculo cardíaco e o córtex renal dão preferência ao acetoacetato sobre a glicose. Ao contrário, a glicose é o alimento principal para o cérebro, para os glóbulos vermelhos e para o fígado numa pessoa bem nutrida com alimentação equilibrada. Em casos de jejum prolongado e diabetes, o cérebro adapta-se ao acetoacetato (suprimindo cerca de 75% das necessidades energéticas), ainda que os corpos cetónicos lhe sejam prejudiciais. MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA 45 NOTA: em jejum, a glicose provem de outras vias alternativas como a gliconeogénese e metabolismo proteico (caquéxia – perda de peso, atrofia muscular, fadiga, fraqueza e perda de apetite). Ao consumir menos glicose, previne-se o metabolismo proteico. Pergunta 4. Os corpos cetónicos não estão aumentados, porque, na paciente, não se seguiu a via da cetogénese. Os baixos níveis de carnitinina impossibilitam o transporte de ácidos gordos para o interior da mitocôndria, onde ocorre a 𝛽-oxidação, necessária para a cetogénese. Pergunta 5. MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA LIPÓLISE 46 𝜷 − 𝑶𝑿𝑰𝑫𝑨ÇÃ𝑶 + FORMAÇÃO DE CORPOS CETÓNICOS NO INTERIOR DA MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA MITOCÔNDRIA 47 Pergunta 5.a) Sim, pode. A falta de carnitina impede a degradação lipídica, levando à formação de corpos cetónicos (o que justifica a elevada concentração de triacilgliceróis). A fadiga muscular pode também ser entendida, devido à falha no metabolismo lipídico, responsável por satisfazer partes das necessidades energéticas humanas. Pergunta 5.b) Sim. A carnitina aciltransferase I permite a transferência do grupo acil da CoA para a carnitina. O grupo acil e a carnitina livre são transportados por antiporte por outra enzima. Se a carnitina aciltransferase I não funcionasse, o acil-CoA continuava a não sofrer degradação na 𝛽 − 𝑜𝑥𝑖𝑑𝑎çã𝑜. Pergunta 5.c) 𝛽 − 𝑜𝑥𝑖𝑑𝑎çã𝑜: sequência de 4 reações (Oxidação → Hidratação → Oxidação → Tiólise) que vai permitir a oxidação do acil CoA em acetil-CoA, havendo a produção de 1-acetil-CoA, 1 FADH2 e 1 NADH em cada ciclo (realizado na membrana interna da mitocôndria). Este processo é depois completado pelo ciclo de Krebs, fornecendo a energia necessária para a produção de ATP durante a fosforilação oxidativa. Pergunta 5.d) A baixa concentração de carnitina implica que não exista degradação de acil-CoA em acetil-CoA. Assim, os lípidos acumulam-se ao nível do tecido muscular. Este, por sua vez, apresenta capacidade de biossíntese de triacilgliceróis, o que justifica a sua elevada concentração no sangue da paciente. MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA onde elementos redutores são transferidos para o 𝑂 , 48 Pergunta 6. Reduzida pela falta de substrato Pergunta 7. Ímpares. Nestes casos, não se pode formar apenas acetil-CoA. A reação final termina com a formação de acil-CoA com 3 carbonos, o propionil-CoA. O propionil-CoA transformar-se-á em succinil-CoA através de um conjunto de reações intermediárias. O succinil-CoA integra o ciclo de Krebs numa etapa muito mais avançada do que o acetilCoA, ou seja, a disponibilização de energia será mais célere. Para além disso, permitirse-á a síntese de oxaloacetato, o que é fundamental para obter glicose (intermediário da glicogénese). Tal acontece devido à função do succinato enquanto transportador para o oxaloacetato. Pergunta 8. O propionil ao entrar a meio do ciclo, permite saltar uma descarboxilação e origina 1 molécula de oxaloacetato, permitindo continuar a produzir energia. Para além disso, o propionil-CoA é o único factor capaz de fazer gluconeogenese: oxaloacetato-piruvato- Descarboxilação Reordenamento molecular Transformação em succinilCoA MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA glicose 49 Mestrado Int. em Medicina Bioquímica 2013/14 11.ª Aula Teórico-Prática – Biossíntese Lipídica: RESOLUÇÃO CASO CLÍNICO 32 anos, sexo masculino; Hábitos tabágicos marcados; Dor pré-cordial (dor, peso ou pressão na face anterior do tórax) intensa (angina de peito/enfarte) com súbita irradiação para o braço esquerdo iniciada há cerca de 6 horas; ECG com alterações compatíveis; Elevação da concentração sanguínea da CK-MB (enzima presente no músculo, responsável pela catálise da reação de transferência de um grupo fosfato da creatina fosfato para o ADP, restabelecendo as reservas de ATP); Diagnóstico: enfarte agudo do miocárdio EO: xantomas (deposição de material de cor amarelada, rico em colesterol) nas mãos; tendões de Aquiles espessados; xantelasmas (pequenos depósitos de História familiar de patologia coronária; Angiografia coronária: estenose (estreitamento anormal de um vaso sanguíneo) marcada do tronco comum da artéria coronária esquerda; MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA matéria gordurosa sob a superfície da pele); 50 PTCA e colocação de stent + sinvastatina e dieta. Pergunta 1. Colesterol e ésteres de colesterol (TAG e fosfolípidos): essencialmente insolúveis em água. Transporte feito através do plasma sob a forma de lipoproteínas (complexos macromoleculares de proteínas transportadoras específicas, apoliproteínas, com várias combinações de fosfolípidos, colesterol, ésteres de colesterol e TAG). Estes complexos macromoleculares esféricos apresentam um núcleo central que contém lípidos neutro/apolares, rodeado por uma camada monolípidica com fosfolípidos e colesterol simples e, ainda, uma camada de apoproteínas mais superficial. Quilomicras (transporte de TAG exógenos); Quilomicras remanescentes (transporte de colesterol da dieta); VDL; IDL; LDL; HDL. MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA 6 tipos: 51 52 MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA Scavenger cell: fagócito que remove o agente patogénico ou tecido deficiente CICLO EXÓGENO: 1. Micela é alvo das lípases, transformando-se em monoacilgliceróis e ácidos gordos; estes passam outra vez a TAG e juntam-se à APOB48; 2. Formam-se Quilomicras; estas vão para a linfa do intestino; 3. Agora na corrente sanguínea, sofrem a ação da lipoproteína lípase, levando à perca de TAG, que é transportado através do endotélio que contacta com o sangue até aos órgãos que precisam de TAG (tecido adiposo e músculos) 4. Formam-se Quilomicras remanescentes (que vão para o fígado). ATENÇÃO: HDL não são transportadas auxiliadas pela APOB48, mas sim pela APO A. MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA Pergunta 2. 53 CICLO ENDOGÉNO: 1. Fígado produz VLDL; 2. VLDL sofre ação da lipoproteína lípase + ação de HDL (que transfere APO C e APO E para VLDL); 3. A perda de TAG leva à formação de IDL. Do IDL formado, uma parte é transportada para o fígado; outra sofre nova ação enzimática, formando LDL (%CE é muito maior). A LDL é a principal lipoproteína que transporta colesterol para os órgãos que dele precisam (formação dos sais biliares, hormonas, membranas, vitamina D); VLDL IDL LDL HDL Densidade - Diâmetro + %TAG + ↓ ↑ ↑ + - - %CE + ++ + %P - ↓ + Pergunta 3. Tabagismo, sedentarismo, dieta desequilibrada; Diabetes (tipo 2 especialmente). A insulina inibe a lípase: ↙Insulina → ↗Lipase → Degradação de TAG em Acetil-CoA → possível aumento do colesterol MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA NOTA: O fígado também pode produzir HDL. 54 (reação da célula a aparente situação de hipoglicémia; recorre-se a TAG para produzir energia); Deficiência ao nível dos pontos de regulação do metabolismo do colesterol (HGM CoA redutase, por exemplo); Deficiência dos recetores de LDL; Baixas concentrações de HDL (portadores de lecitina colesterol acetiltransferase, que esterifica o colesterol das células); Hipercolesterolémia familiar, hipertiroidismo e doença hepática crónica (o fígado é responsável por excretar colesterol sob a forma de sais biliares. Desta forma, uma deficiência ao nível do fígado interfere com esta via metabólica). Pergunta 4. LDL: lipoproteína rica em colesterol endógeno (46-50%), estando a maior parte esterificada (80-87%). 95% das apoproteínas são representadas pela APO B 100 e a APO E. Recetores de LDL: presentes em todas as células do nosso organismo, ainda que os alvos sejam as células suprarrenais. A formação do complexo recetor-lipoproteína é fundamental para a degradação de LDL nos lisossomas. Defeito nos recetores de LDL é MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA o resultado de hipercolesterolemia familiar. 55 Resposta: Perante baixa atividade dos recetores de LDL, a entrada de LDL no fígado e noutras células está prejudicada, levando a um aumento no plasma. Ainda mais, menos IDL entra nas células hepáticas, dado o recetor ser o mesmo. Assim, o IDL permanece mais tempo no sangue e dela transforma-se ainda mais LDL. Aumenta, assim, a probabilidade das LDL serem oxidadas, tornando-se aterogénicas: sendo captadas por macrófagos e como não foram degradadas devidamente, vão movimentar-se pela corrente sanguínea, depositando-se e dando origem a trombos (depósitos em paredes das artérias). Tal facto pode originar enfartes do Pergunta 5. HMG-CoA redutase: ponto essencial de controlo na via da biossíntese lipídica. Os níveis de colesterol no plasma caem em 50% em muitos pacientes que tomam inibidores (como a levastatina) acompanhados de inibidores de reabsorção de sais biliares. MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA miocárdio. 56 Síntese de colesterol: 2. Formação de isopreno ativado; 3. Síntese de esqualeno; 4. Síntese de colesterol Caso a primeira etapa seja suspensa, impede-se a formação de mais ácido mevalónico, anulando uma das principais causas patológicas. A diminuição drástica do colesterol presente na corrente sanguínea pode ser explicada pelo mecanismo de p regulation: MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA 1. Síntese de ácido mevalónico; 57 Pergunta 6. Problemas na biossíntese lipídica: ação combinada de terapia antidislipidémica + dieta apropriada. Objetivo: obter valores de HDL mais elevados, removendo o colesterol em excesso das artérias (redução de valores de HDL podem ser resultado de uma componente genética acentuada – predisposição para a aterosclerose); reduzir valores de colesterol total (LDL e TAG). Pretende-se, assim, uma interferência em ambos os ciclos endógeno Através de uma dieta apropriada, reduz-se o colesterol total (evitando ácidos gordos trans, por exemplo). Existem, ainda, alimentos que permitem aumentar os valores de HDL (cranberry juice,…). A terapêutica farmacológica permite reduzir a produção endógena de colesterol e aumentar os valores de HDL. A ação acoplada destes dois fatores permite atingir resultados mais significativos. Pergunta 7. a) Glicose → Acetil-CoA (oxidação do piruvato) + catabolismo dos esqueletos de carbono dos aminoácidos na matriz mitocondrial; estes acabam por passar para o citosol, com auxílio do transportador de citrato. MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA e exógeno. 58 b) NADPH+𝐶𝑂 Via dos fosfatos de pentose (principal) Oxidação do malato em piruvato pela enzima extra-mitocondrial, malato desidrogenase/NADPH ou pela enzima málica, isoenzima do malato desidrogenase mitocondrial; Conversão do isocitrato em 𝛼 − 𝑐𝑒𝑡𝑜𝑔𝑙𝑢𝑡𝑎𝑟𝑎𝑡𝑜 pela isocitrato desidrogenase citoplasmática Todas as fontes de NADPH estão associadas ao metabolismo glicídico. Pergunta 8. A síntese de TAG apresenta dois precursores, sendo que ambos necessitam de ativação: ácidos gordos e glicerol. (Os TAG podem provir, também, diretamente do tecido adiposo) A forma ativa do glicerol é o glicerol-3-fosfato. A glicerocinase, presente no fígado, rim e glândulas mamárias em lactação, catalisa a fosforilação do glicerol. Nos tecidos como o músculo ou tecido adiposo (não tem ou tem pouco glicerocinase), o glicerol-3-fosfato forma-se pela redução da fosfo-hidroxiacetona pela ação da Já a ativação dos ácidos gordos, formando acil-CoA, resulta da combinação de ácidos gordos com a coenzima A, na presença de ATP. A primeira etapa da síntese de TAG é a formação de ácido fosfatídico. O glicerofosfato combina-se com um acil-CoA pela ação da aciltransferase para originar o 3-fosfato de monoacilglicerol que, pela ação de outra aciltransferase, se transforma no diacilglicerilfosfato ou ácido fosfatídico. Seguidamente, o ácido fosfatídico transforma-se em triglicéridos. A fosfatase do ácido fosfatídico retira um fosfato para originar 1,2-diacilglicerol que, de seguida, é acilado pela aciltransferase para dar um TAG. MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA glicerofosfato desidrogenase. 59 Mestrado Int. em Medicina Bioquímica 2013/14 12.ª Aula Teórico-Prática – Metabolismo Proteico: RESOLUÇÃO CASO CLÍNICO Bebé de 5 meses com queixas de episódios de vómitos e dificuldade em aumentar peso; Alternação de períodos de irritabilidade com letargia; Electroencefalograma anormal; Aumento da concentração de amónia plasmática; Concentrações de glutamina superiores às normais, mas baixas concentrações de citrulina; Tratamento: solução de glicose a 10%, fenilacetato, benzoato de sódio e arginina endovenosos; Alta com dieta rica em glícidos e lípidos e pobre em proteínas, com suplemento de arginina; Biópsia posterior do fígado: nível de atividade de ornitina transcarbamoilase no Pergunta 1. A ornitina transcarbamoilase catalisa a doação do grupo carbamoil do carbamoilfosfato à ornitina, formando citrulina. Perante uma atividade enzimática reduzida, verificar-se-ão concentrações de glutamina excessivas contrastantes com baixas concentrações de citrulina. Sendo assim, fica comprometida a segunda condensação do ciclo de ureia, ciclo responsável pela excreção maioritária da ureia. Se a excreção não é eficaz, verifica-se hiperamoniémia. MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA tecido hepático correspondente a 10% do normal; 60 Pergunta 2. Previamente ao metabolismo proteico, verifica-se degradação lipídica. Poderemos, então, deduzir a presença de corpos cetónicos na corrente sanguínea, induzindo alterações no EEG; Deficiência enzimática no ciclo da ureia → acumulação de 𝑁𝐻 . Toxicidade ainda é um mistério. Possivelmente: níveis elevados de glutamina, formada a partir de 𝑁𝐻 e glutamato, produzindo efeitos osmóticos que levem diretamente a edema cerebral; Acumulação de glutamato (𝑁𝐻 +𝛼 − 𝑐𝑒𝑡𝑜𝑔𝑙𝑢𝑡𝑎𝑟𝑎𝑡𝑜→glutamato) vai interferir no EEG, devido às suas propriedades enquanto neurotransmissor; A acumulação de 𝑁𝐻 pode influenciar a retirada de 𝛼 − 𝑐𝑒𝑡𝑜𝑔𝑙𝑢𝑡𝑎𝑟𝑎𝑡𝑜 ao ciclo de Krebs, provocando decréscimo energético e comprometendo o correto funcionamento cerebral. Verificar-se-ia hipoglicémia, que levaria a acidémia e, consequentemente, a episódios de vómitos e irritabilidade. Pergunta 3. À criança foi receitada uma dieta rica em glícidos e lípidos e pobre em proteínas, com suplemento de arginina. Com o objetivo de evitar lesões cerebrais, pretende-se que não ocorra a degradação proteica como fonte energética. Para tal, recorre-se a glícidos e lípidos, compostos energéticos por excelência. A utilização do benzoato de sódio e fenilacetato vai permitir a excreção de glutamina, impedindo a sua acumulação. O benzoato é ativado a benzoil CoA, que reage com a glicina, formando hipurato. Do mesmo modo, o fenilacetato é ativado a fenilacetil CoA, que reage com a glutamina, formando fenilacetil glutamina. Estes conjugados substituem a ureia na excreção de nitrogénio. Portanto, vias bioquímicas lactantes podem ser ativadas para contornar parcialmente um defeito genético. Por último, a utilização de arginina tem uma dupla função: por um lado, a arginina mostra-se importante na síntese de creatinina que pode atuar como fonte energética; MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA Basicamente, a criança está em jejum e tem uma deficiência ao nível do ciclo da ureia. 61 por outro lado, a creatinina origina ornitina. Pelo princípio de Le Chatelier, a acumulação de ornitina irá melhorar a eficácia enzimática, ou seja, verificar-se-á uma maior conversão de carbamoil-fosfato em citrulina, ativando indiretamente o ciclo da ureia. Pergunta 4. Apenas através do estudo enzimático se torna possível a determinação do ponto exato da via metabólica que se encontra em disfunção. Desta forma, é possível planear uma terapêutica adequada. Pergunta 5.a) Aminoácidos/derivados de aminoácidos (grupos amina e carboxilo) Pergunta 5.b) Relativamente à ureia, um dos átomos de nitrogénio da ureia sintetizado neste ciclo metabólico é transferido de um aminoácido: o aspartato. O outro átomo de nitrogénio provém diretamente de 𝑁𝐻 livre. O átomo de carbono provém do 𝐻𝐶𝑂 (derivado da hidratação do 𝐶𝑂 , resultante da respiração celular). MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA Pergunta 5.c) 62 As etapas que requerem consumo energético são: A formação de carbamoil-fosfato, a partir da amónia livre presente no interior das mitocôndrias e do 𝐶𝑂 (como 𝐻𝐶𝑂 ) condensados; A formação de argininosuccinato, a partir da condensação do grupo amina do aspartato com o grupo carbonilo da citrulina. Esta reação citosólica, catalisada pela argininosuccinato sintetase, requer a clivagem de uma molécula de ATP em AMP e pirofosfato (PPi). Pergunta 5.d) A nível energético, verifica-se um valor de energia equivalente a 4 moléculas de ATP. Mas, na realidade, só há hidrólise de 3 moléculas de ATP, sendo que uma se transforma em AMP e não ADP. Pergunta 5.e) A síntese de ureia processa-se nas mitocôndrias e no citosol dos hepatócitos. 1 Condensação Mitoc. Citosol 2 Condensação 3 Condensação MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA Matriz 63 4 Clivagem 5 Clivagem Pergunta 6. Devido à sua toxicidade e por ser convertido em ureia no fígado, o 𝑁𝐻 produzido nos outros tecidos deve ser incorporado em compostos não tóxicos e que atravessem membranas com facilidade. As principais formas de transporte são: a glutamina e a alanina. Glutamina: sintetizada a partir de 𝑁𝐻 , glutamato e ATP, numa reação catalisada pela glutamina sintetase. Uma vez no fígado ou no rim, a glutamina é hidrolisada pela Alanina: o grupo amina dos aminoácidos é doado para o piruvato por transaminação. A alanina, no fígado, é convertida em glutamato. A alanina entra, assim, no ciclo da glucose-alanina. No músculo e noutros tecidos que degradam os aminoácidos para obter energia metabólica, os grupos amina são armazenados na forma de glutamato por transaminação. O glutamato pode ser convertido em glutamina ou pode transferir o seu grupo 𝛼-amina para o piruvato, formando alanina por ação da alanina aminotransferase. A alanina formada passa para a corrente sanguínea e é conduzida até ao fígado. No citoplasma dos hepatócitos, a alanina fornece o seu grupo amina ao 𝛼 − 𝑜𝑥𝑜𝑔𝑙𝑢𝑡𝑎𝑟𝑎𝑡𝑜, formando-se piruvato e glutamato por ação do alanina aminotransferase. O glutamato pode entrar na mitocôndria e libertar amónia por ação da glutamato desidrogenase ou pode ceder o seu grupo amina ao oxaloacetato MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA glutaminase, liberando 𝑁𝐻 . 64 formando aspartato, que atua como dador de azoto no ciclo da ureia. O piruvato libertado no fígado vai ser canalizado para a gliconeogénese, levando à produção de glucose que é de novo transportada para o músculo. No músculo, a glucose é novamente degradada a piruvato, que por sua vez leva à formação de alanina que volta novamente ao fígado, completando uma volta no ciclo alanina-glucose. Este mecanismo de transporte de amónia entre o músculo esquelético e o fígado Pergunta 7. O consumo de aspartato e a síntese de fumarato no ciclo de ureia permitem a sua ligação com o ciclo do ácido cítrico. O fumarato produzido na reação catalisada pela enzima arginino-succinato liase é também um intermediário do ciclo TCA. A comunicação entre os dois ciclos depende do transporte de intermediários comuns entre a mitocôndria e o citoplasma dos hepatócitos. Algumas enzimas do ciclo TCA, incluindo a fumarato hidratase e a malato desidrogenase, estão também presentes no citoplasma dos hepatócitos. O fumarato formado no citoplasma através do ciclo da MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA permite uma grande economização de energia. 65 ureia pode ser convertido em malato no citoplasma. Estes intermediários podem ser metabolizados no citoplasma ou transportados para a mitocôndria para serem metabolizados no ciclo TCA. O aspartato formado na mitocôndria por transaminação a partir do oxoloacetato, intermediário do ciclo do ácido cítrico, pode ser transportado para o citoplasma. Este aminoácido vai reagir com a citrulina, formando argininosuccinato, que permite a ligação entre as 2 vias metabólicas. Pergunta 8. Aminoácidos glicogénicos: originam, por degradação, piruvato ou intermediários do ciclo TCA. Aminoácidos glucogénicos a vermelho; aminoácidos cetogénicos a amarelo. Muitos aminoácidos são quer glucogénicos como cetogénicos. O único aminoácido com carácter puramente cetogénico é a leucina. MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA Aminoácidos cetogénicos: originam compostos cetónicos 66 Pergunta 9. Leucina (puramente cetogénico) ≠ Isoleucina (glucogénico e cetogénico) NOTA IMPORTANTE: A valina, isoleucina e leucina são 3 aminoácidos ramificados utilizados no músculo esquelético, com o intuito de produzir energia (produzem NADH e 𝐹𝐴𝐷𝐻 através da sua degradação). Carbono marcado radioactivamente: Após transaminação com 𝛼 − 𝑐𝑒𝑡𝑜𝑔𝑙𝑢𝑡𝑎𝑟𝑎𝑡𝑜, o esqueleto carbónico pode ser convertido em: 1. Succinil CoA, entrando no ciclo TCA para posterior oxidação; 3. Acetil CoA, entrando no ciclo TCA através da reação de condensação com oxaloacetato para formar citrato. Nos mamíferos, Acetil CoA não pode ser reconvertido a hidrato de carbono, mas pode ser utilizado na síntese de corpos cetónicos ou ácidos gordos. Nitrogénio marcado radioactivamente: entrada no ciclo da ureia, podendo, ainda, estar envolvido na síntese de aminoácidos. CONCLUSÃO: Esperaria encontrar a marcação nos tecidos (síntese proteica), produtos excretados (sob a forma de ureia) e em circulação (necessidade de transporte de órgãos ou tecidos para outros locais). MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA 2. Oxaloacetato para a gluconeogénese. 67 Se o aminoácido marcado fosse o aspartato? Aspartato: este aminoácido com 4 átomos de carbono é convertido no cetoácido oxaloacetato por transaminação, usando 𝛼 − 𝑐𝑒𝑡𝑜𝑔𝑙𝑢𝑡𝑎𝑟𝑎𝑡𝑜 como aceitador do grupo amina. Desta forma, o aspartato é um elo de ligação entre o metabolismo proteico e o metabolismo glicídico. Para além disso, o aspartato é o precursor da O aspartato poderia, ainda, ser degradado por entrar no ciclo da ureia, no ponto da citrulina e ser, finalmente, convertido em fumarato. CONCLUSÃO: Continuaria a encontrar a marcação nos tecidos (síntese proteica), produtos excretados (sob a forma de ureia) e em circulação (necessidade de transporte de órgãos ou tecidos para outros locais). A única diferença que me ocorre entre os dois aminoácidos é o facto da isoleucina ser aa. glucogénico e cetogénico e o aspartato ser apenas glucogénico. MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA biossíntese de muitos outros compostos, incluindo lisina, treonina, metionina e 𝑁𝐴𝐷 . 68 Mestrado Int. em Medicina Bioquímica 2013/14 13.ª Aula Teórico-Prática – Inter-relação metabólica: RESOLUÇÃO CASO CLÍNICO 1 Sexo feminino, 26 anos; Antecedentes de excesso de peso, agravado após gravidez; Peso atual 80kg, para uma estatura de 1,56m; Problemas de autoestima e cansaço fácil; Inicia dieta com complexo vitamínico bebível; Após uma semana, refere sensação de vertigem, cansaço, dificuldade de concentração e sensação de desmaio; No SU: polipneica (respiração ofegante – alcalose respiratória: resulta de hiperventilação, levando a uma concentração plasmática diminuída de dióxido de carbono. Isso leva a concentrações diminuídas do ião hidrogénio e cálcio sanguíneo livremente ionizado), pálida, suada, com discurso lentificado e hálito Internada com soro glicosado em perfusão; Foram realizadas diversas análises. Pergunta 1. A glicémia terá a sua origem em processos como a glucogenólise (decomposição do glicogénio em glicose) e na gluconeogénese (em que precursores não glicídicos originam glucose). Por ordem cronológica: Perante a diminuição da glicémia, verifica-se a diminuição da secreção de insulina e uma elevação da secreção de glucagina. Esta hormona é secretada pelas células 𝛼 do pâncreas em resposta a um baixo nível glicémico no período de jejum. MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA a acetona (típico de diabetes); 69 O aumento da concentração sanguínea de glucagina vai servir para mobilizar as reservas de glicogénio, quando não se verifica a ingestão de glicose. O principal órgãoalvo desta hormona será o fígado, sendo que esta vai estimular a quebra e inibição da síntese do glicogénio (glucogenólise) por disparar a cascata de AMP cíclico que leva à fosforilação e ativação da fosforilase e à inibição da glicogénio sintase. A glucagina vai também inibir a síntese de ácidos gordos por diminuir a produção de piruvato e a atividade da acetil CoA carboxilase, por mantê-la num estado não fosforilado. A partir da redução dos níveis de frutose-2,6-bisfosfato, a glucagina vai estimular a gliconeogénese e bloqueia a glicólise. Estas duas vias metabólicas são reguladas separada e reciprocamente, sendo que, quando uma delas está ativa, a outra é desacelerada. NOTA: Papel da frutose 2,6-bisfosfato A frutose-2,6-bisfosfato é um dos reguladores dessas duas vias metabólicas. Na glicólise, ela atua como ativador alostérico da enzima fosfofrutoquinase I, que catalisa a reação de fosforilação da frutose-6-fosfato a frutose-1,6-bisfosfato. Já na gliconeogénese, ela inibe a enzima frutose-1,6-bisfosfatase, que atua no processo inverso, desacelerando a produção de glicose. ativando-se a degradação de TAG por lipólise, libertando-se ácidos gordos dos TAG que são posteriormente exportados para o sangue e transportados para vários tecidos, com o intuito de sofrerem a 𝛽 − 𝑜𝑥𝑖𝑑𝑎çã𝑜 e originar acetil CoA. O glicerol resultante da degradação dos TAG vai para o fígado, onde é degradado em glicerol-3-fosfato. Este composto converte-se em dihidroxiacetona fosfato, que originará glicose. Para a formação de glicose, é, ainda, relevante o metabolismo lipídico, mais concretamente a 𝛽 − 𝑜𝑥𝑖𝑑𝑎çã𝑜 dos ácidos gordos de cadeia ímpar, cujos produtos finais são o aceti CoA e o propionil (que origina succinil). O succinil, por sua vez, através do ciclo de Krebs, origina oxoloacetato, que permite a continuação da gliconeogénese. MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA A estimulação da gliconeogénese acontece quando cessam as reservas de glicogénio, 70 Em último caso e perante insuficiência das reservas lipídicas, verifica-se degradação proteica. Neste contexto, o ciclo alanina-glicose torna-se crucial, dado ser responsável pelo aumento da concentração de piruvato a nível dos hepatócitos. De resto, a glutamina ainda revela a sua importância, convertendo-se em glutamato, que é transaminado com o piruvato, formando 𝛼 − 𝑐𝑒𝑡𝑜𝑔𝑙𝑢𝑡𝑎𝑟𝑎𝑡𝑜 e alanina. O glutamato fornece, ainda, ao nível da mitocôndria dos hepatócitos, aspartato ao ciclo da ureia; aspartato esse que origina oxaloacetato. Pergunta 2. Valores glicémicos baixos, devido à não ingestão de glícidos; Corpos cetónicos aumentados. M.C.A. apresenta hálito acetonado, indicativo de grandes concentrações de acetona, o corpo cetónico mais volátil. Tal levanos a crer que o seu organismo está a decompor por lipólise os TAG, convertendo os ácidos gordos em corpos cetónicos; Valores de ureia aumentados: resultado de degradação proteica, permitindo a formação de percursores do ciclo de Krebs, seguindo a gluconeogénese; pH baixo: os corpos cetónicos têm uma estrutura de 𝛼 − 𝑐𝑒𝑡𝑜á𝑐𝑖𝑑𝑜𝑠, logo baixam o pH. SITUAÇÃO C: PADRÃO ABSORTIVO/PÓS-PRANDIAL Glicémia alta: ingestão de glícidos; Restantes valores dentro dos padrões, devido à não necessidade de utilizar recursos, como corpos cetónicos, para satisfazer as necessidades energéticas. MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA SITUAÇÃO A: M.C.A. 71 SITUAÇÃO D: JEJUM DE 12 HORAS Glicémia baixa (não tão baixa com em A): recursos de glicogénio a cessarem; Corpos cetónicos e ciclo da ureia praticamente dentro dos valores de referência. SITUAÇÃO B: ACIDOSE METABÓLICA COMPENSADA (pH sanguíneo permanece normal, pela atuação de mecanismos reguladores do equilíbrio ácido-básico). Pergunta 3. a) Relação baixa, devido a elevados valores de glucagina Ativação da glicogénio fosforilase e inibição da glicogénio sintetase → glicogenólise Ativação da frutose 1-6-bisfosfatase (produzindo frutose-6fosfato) Inibição da fosfofrutocinase, inibindo o influxo de glicose (inibe a hexocinase) HEPATÓCITO Ativação da lipase hormona dependente (mobilização dos ácidos gordos para utilização metabólica) Inibição da acetil-CoA carboxilase, inibindo a síntese de ácidos gordos Aumento da 𝛽 − 𝑜𝑥𝑖𝑑𝑎çã𝑜; aumento do ciclo da ureia; aumento da cetogénese; diminuição da síntese proteíca Glicólise diminuí Aumento da glicogenólise Não se verifica cetogénese, algo caraterístico da mitocôndria MIÓCITO hepática Aumento da protólise e aumento ligeiro do ciclo da ureia Aumento da captação de ácidos gordos, 𝛽 − 𝑜𝑥𝑖𝑑𝑎çã𝑜, cetogénese Não há síntese de ácidos gordos (falta acetil-CoA) MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA 72 ADIPÓCITO Hidrólise de TAG, sendo os ácidos gordos destinados à 𝛽 − 𝑜𝑥𝑖𝑑𝑎çã𝑜 (acetil-CoA) e respetiva cetogénese. Pergunta 3. b) Piruvato sofre transaminação, originando alanina. Alanina é conduzida para o fígado, convertendo-se, de novo, em piruvato. Deste, obtem-se glicose, através da gliconeogénese MÚSCULO (caraterística dos rins e figado) Lactato da fermentação láctica para originar glicose por gliconeogénese Como o eritrócito apenas executa glicólise, não faz sentido retirar o piruvato (precisa-se de NADH e 𝑁𝐴𝐷 ERITRÓCITO para que o processo continue). Desta forma, apenas pode ser aproveitado o lactato, o qual é transportado para o figado, onde é convertido em glicose (ciclo de Cori) Ácidos gordos com nº ímpar de carbonos podem ser precursores de glicólise (propionil-CoA→succinil→ciclo de ADIPÓCITO Krebs→oxaloacetato→glicose) O glicerol é transportado para o fígado, local onde existe a glicerolcinase, formando glicose Pergunta 3. c) Os ácidos gordos vão sofrer 𝛽 − 𝑜𝑥𝑖𝑑𝑎çã𝑜, que levará à formação de acetil-CoA, que é precursor dos corpos cetónicos. Nesta situação, verificaremos que os ácidos gordos em circulação estarão em maior concentração, devido à ativação da lipase hormona dependente, no tecido adiposo, que leva à hidrolise de TAG e posterior mobilização de ácidos gordos. Músculo: 𝛽 − 𝑜𝑥𝑖𝑑𝑎çã𝑜 → concentração de ácidos gordos será a necessária; Fígado: a concentração será maior do que a necessária. MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA 73 Pergunta 3. d) Sim. Os ácidos gordos de cadeia com número ímpar de carbono, por 𝛽 − 𝑜𝑥𝑖𝑑𝑎çã𝑜, originam acetil-CoA e propionil-CoA. O propionil-CoA é, posteriormente, convertido a succinil-CoA, que, entra no ciclo de Krebs. Invertendo o ciclo de Krebs, origina-se glicose. Pergunta 4. 1h 12h 24h 96h Síntese de Aumentada (no Diminuí Diminuí Nula Ácidos Gordos pico) ligeiramente 𝜷 − 𝒐𝒙𝒊𝒅𝒂çã𝒐 Lentamente (ou Aumenta Ocorre Mto Acelerada não ocorre); ligeiramente rapidamente músculo em repouso → ácidos gordos Cetogénese Perto de 0 Aumenta Aumenta Mto Mto Acelerada Síntese Proteíca Aumentada Diminuída Quase Nula Nula Proteólise Diminuída Aumenta Aumenta Redução do Ligeiramente Ligeiramente metabolismo (necessária para proteólise ocorre proteíco) durante o tempo que demoramos a sintetizar corpos cetónicos). Pág.777, Stryer, 6ªed,PT Ciclo Ureia Diminuído Aumenta Aumentado Mto intenso Ligeiramente Glicólise Mto Aumentada Diminuí Diminuí Nula Glicogénese Ligeiramente Diminuí Diminuí Nula Ativa (ao fim de Nula Acabou Ativa Glicogenólise Inativa 4h de jejum) MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA proteico (a o turnover 74 Gliconeogénese* Inativa Ativa (principal ( [Acetil-CoA]↗ - fonte: glicerol do inibição da piruvato metabolismo desidrogenase – proteíco) Aumenta Diminuí um pouco ativação da piruvato carboxilase (para juntar ao ciclo de Krebs – promoção do ciclo de Cori) CASO CLÍNICO 2 Sexo masculino, 43 anos; Polidipsia (sede constante), acompanhada por aumento do número de micções (poliúria); Diminuição de peso de, aproximadamente, 4kg, apesar de referir aumento do apetite (polifagia); Após pequeno-almoço rico em glícidos, tem uma lipotímia (sensação de desmaio – perda parcial ou completa de consciência); No SU, apresentava, à entrada, glicémia capilar=545 mg/dL (> 200 →Diabetes), urina com ++++ de glicose; +++ de corpos cetónicos; A lipotímia poderá ter resultado de uma situação de aparente hipoglicémia. Apresentado um quadro clínico de um diabético, apesar de se verificar ingestão de lípidos, estes não são captados pelas células. Apesar de existir glicose no sangue, o corpo reage como se de hipoglicémia se tratasse. Pelos sintomas: A polifagia poderia ser interpretada como um problema relacionado com a insulina. Não havendo glicose, o organismo degrada lípidos numa tentativa de obter energia e, consequentemente, fica justificada a perda de peso; Poliúria: esgotando-se os lípidos, o organismo degrada proteínas que originam amónia e ureia, daí surgir a vontade frequente de urinar. Mais urina, mais água MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA Pergunta 5. 75 perdida. Por pressão osmótica, mais água se dirige para os rins, aumentando a sede (polidipsia); Com a maior expulsão de água, o volume sanguíneo diminuí, ocorrendo um défice na circulação cerebral, causando o episódio de lipotímia. Pergunta 6. Diabetes: aumento anormal de glicose e açúcar no sangue 2 mecanismos principais: DIABETES TIPO I ou diabetes mellitus DIABETES TIPO II dependente de insulina Destruição auto-imunológica das células Nível normal ou mesmo mais elevado de 𝛽 do pâncreas, que secretam insulina, e insulina no sangue, mas a resposta à geralmente começa antes dos 20 anos. A hormona não é eficaz. A insulina não glicose não entra nas células. consegue promover a entrada de glicose necessária para dentro das células. Pode ocorrer perante mau funcionamento ou diminuição do numero de receptores “No diabetes tipo I, a produção de insulina é insuficiente e, em consequência, a glucagina está presente em níveis acima do normal. Em essência, a pessoa diabética está num modo de jejum bioquímico apesar da alta concentração sanguínea de glicose. Devido à insulina ser deficiente, a entrada de glicose no tecido adiposo e nas células musculares está prejudicada. O fígado fica preso a um estado de gliconeogénese e de cetogénese. O nível excessivo de glucagina em relação ao de insulina leva a um decréscimo da quantidade de Frutose-2,6-Bisfosfato no fígado. Por isso, a glicólise é inibida e a gliconeogénese é estimulada por causa dos efeitos opostos da frutose-2,6-bisfosfato sobre a fosfofrutocinase e sobre a frutose-1,6-bisfosfatase. A alta relação glucagina/insulina na diabetes também promove a quebra de glicogénio. Por isso, uma quantidade excessiva de glicose é produzida pelo fígado e libertada no sangue. A glicose excretada na urina quando a sua concentração no sangue excede a MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA para insulina. 76 capacidade de reabsorção dos túbulos renais. A água acompanha a glicose excretada, e assim um diabético não tratado, na fase aguda da doença, tem fome e sede. Devido à utilização de glicídos estar prejudicada, a falta de insulina leva à quebra descontrolada de lípidos e proteínas. Grandes quantidades de acetil CoA são então produzidas pela 𝛽 − 𝑜𝑥𝑖𝑑𝑎çã𝑜. Contudo, muita da acetil CoA não pode entrar no ciclo do ácido cítrico, porque há oxaloacetato insuficiente para a etapa de condensação. Um aspeto notável do diabetes é a mudança do uso da fonte de energia, de glícidos para lípidos; a glicose, mais abundante do que nunca, é desprezada. Em altas concentrações, os corpos cetónicos suplantam a capacidade dos rins de manter o equilíbrio ácido-base. O diabético não tratado pode entrar em coma, por causa da diminuição do pH sanguíneo e da desidratação. O diabetes tipo II é responsável por mais de 90% dos casos. Nos EUA, ele é a causa que leva à cegueira, insuficiência renal e amputação.” [in Stryer] OUTRAS HORMONAS Glucagina Epinefrina Estimular a glicogenólise Inibe a glicogénese Inibe a glicólise Inibir o influxo de glicose Ativa a gliconeogénese Consumo preferencial dos ácidos Inibe a síntese de ácidos gordos gordos, no fígado (por diminuir a estimulação da lipolise Acetil-CoA carboxilase) Estimular a glicogenólise (também hepática) na sequência da Estimular a secreção da glucagina e inibe a da insulina. Ativa a lipolise no adipócito Pergunta 7.a) As vias de síntese não podem estar ativas na ausência de precursores (exemplo: gliconeogénese nos hepatócitos não ocorre sem mobilização de precursores gliconeogénicos, como a alanina) MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA formação do piruvato e inibir a da 77 O substrato pode, ainda, influenciar a velocidade da reação: quanto maior for a sua concentração, maior a atividade enzimática. Relativamente à compartimentação celular, este é um importante ponto de controlo da interligação das vias metabólicas. Verificam-se que certas reações são específicas de um compartimento celular, sendo, por vezes, necessária a presença de um transportador. O transportador pode ser o alvo da regulação consoante o estado metabólico da célula. Exemplo: 𝛽 − 𝑜𝑥𝑖𝑑𝑎çã𝑜 – matriz mitocondrial; Síntese lípidica – citosol A carnitina é inibida quando se verifica um estado alimentado (forma de regulação a curto prazo). Pergunta 7.b) Regulação alostérica: ligação de substâncias ao centro alostérico da enzima, o que vai causar uma mudança conformacional no centro ativo. Exemplo: fosfofrutocinase (efeitos positivos: AMP, ADP e níveis altos de frutose-2,6bisfosfato; efeitos negativos: ATP, citrato, 𝐻 e níveis baixos de frutose-2,6-bisfosfato). Regulação covalente: pressupõe alterações conformacionais permanentes na enzima fosforilações). Exemplo: enzima ativa por fosforilação – fosforilase do glicogénio; enzima inativa por fosforilação – piruvato cinase. Pergunta 8. “O recetor da insulina é um dímero com duas unidades idênticas. Cada unidade é constituída por uma cadeia 𝛼 e uma outra 𝛽 ligadas por uma ponte dissulfeto. Cada subunidade 𝛼 situa-se totalmente fora da célula, enquanto cada subunidade 𝛽 situa-se principalmente dentro da célula, atravessando a membrana com um único segmento transmembranar. As duas subunidades 𝛼 aproximam-se, formando um local de ligação para uma única molécula de insulina, uma ocorrência surpreendente, pois duas MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA reguladora, através da ligação de certos grupos funcionais (metilação, acilação, 78 superfícies diferentes na molécula de insulina têm de interagir com as duas cadeias idênticas da molécula de recetor de insulina. A aproximação das unidades diméricas na presença de uma molécula de insulina coloca a via de sinalização em movimento.” Cada subunidade 𝛽 é constituída principalmente por um domínio de proteína cinase, cinase essa que é uma tirosina cinase, isto é, catalisa a transferência de um grupo fosfato do ATP para o grupo hidroxilo da tirosina. Com o aproximar das subunidades 𝛼, os dois domínios da tirosina cinase também se aproximam. Assim, a alça de ativação flexível de uma subunidade da cinase é capaz de se encaixar no centro ativo de outra subunidade da cinase dentro do dímero. Os domínios da cinase catalisam a adição de grupos fosfato do ATP, para as tirosinas, nas alças de ativação. Quando estas tirosinas são fosforiladas, ocorre uma notável alteração da conformação. A ativação de várias proteínas por ação da tirosina cinase leva à ativação da via glicolítica ou síntese de ácidos gordos. No entanto, esses recetores também podem emitir um segundo mensageiro que vai atuar noutras proteínas, desfosforilando-as. Existe, deste modo, uma captação aumentada de glicose pelos tecidos após a ingestão de uma refeição. Quando a molécula de insulina se aproxima, a vesícula une-se à membrana celular. Pergunta 9. Dieta com redução de glícidos simples: glícidos complexos são mais difíceis de digerir e, por isso, levam a uma libertação de glicose mais moderada. Pequenas refeições com grande frequência: manutenção da glicémia dentro de valores razoáveis. Já que as células não conseguem lidar com a quantidade regular de glícidos, ao fazer refeições pequenas ingere-se menos substância e a glicémia não aumenta tanto. A frequência elevada de refeições permite diminuir oscilações drásticas deste valor. MIGUEL MIRANDA: RESOULUÇÃO DAS TPS DE BIOQUÍMICA NOTA: nos insulinodependentes, na célula existem umas vesiculas com GLUT4. 79