Scientiarum Historia – UFRJ / HCTE HEGEL E SUA INFLUÊNCIA NA HISTORIOGRAFIA OITOCENTISTA Adílio Jorge Marques1 (PG, FM) 1 HCTE/ UFRJ Rua Capitão Resende, 403/206 - Rio de Janeiro – RJ [email protected] Palavras Chave: Formação historiográfica, Hegel, idealismo lógico, dialética. através da vida dos heróis, que representam a Introdução encarnação em um homem importante dentro de uma cultura do “espírito da História” hegeliano3. As O objetivo deste trabalho é mostrar a importância de massas e o herói seguem cumprindo uma missão G. W. F. Hegel (1770-1831) na formação até um Absoluto, onde mais uma vez as doutrinas historiográfica do século 19 e, consequentemente, de Hegel e Carlyle são coincidentes. Karl Heinrich na estruturação oitocentista da história das ciências. Marx (1818-1883) & Friedrich Engels (1820-1895): Analiso sua grande importância e influência em Seguidores da corrente chamada “hegelianos de Leopold von Ranke, T. Carlyle, K. Marx e Engels, J. esquerda”, no posfácio à segunda edição (de 1873) G. Droysen. De suas biografias e sistemas sociode “O Capital”, Marx precisou: “Meu método históricos pode-se recuperar a contribuição do dialético não só é fundamentalmente distinto do sistema filosófico hegeliano, destacando o idealismo método de Hegel, mas é, em tudo e por tudo, a lógico e a dialética, seja aceitando, condenando ou antítese dele” 4. Marx se serve de três correntes do propondo adaptações ao pensamento hegeliano. pensamento que se desenvolviam na Europa, colocando-as em relação umas com as outras em Resultados e Discussão suas obras: a dialética hegeliana, a economia Filósofo da totalidade, do saber absoluto, do fim da política inglesa e o socialismo. Para Marx e Engels, história, de um processo de formação da o movimento dialético de Hegel deveria ser real, não consciência, Hegel propõe uma Filosofia da possuindo por base algo espiritual, mas sim um 3 identidade, que não concebe espaço para o propósito material , onde o materialismo dialético contigente, para a diferença. Hegel introduziu um surge como conceito central da filosofia marxista. sistema para compreender a História da filosofia e Porém, Marx não se contenta em introduzir esta do mundo, chamado geralmente de dialética 1 . Em importante modificação apenas no terreno da 5 Hegel, a História progride aprendendo com seus Filosofia . Adentrou no terreno da História e ali marcante teoria científica: o erros: somente depois das experiências de um desenvolveu povo, e precisamente por causa delas, pode-se materialismo histórico. Johann Gustav Droysen postular a existência de um Estado Constitucional (1808-1886): Foi aluno de Hegel, estudando a de livres cidadãos e que consagra tanto o poder História na dialética sujeito/objeto, onde essa organizador benévolo (supostamente) do governo História deveria fornecer sentido aos fatos coligidos racional e os ideais revolucionários da liberdade e ao longo das eras. Ao contrário de Marx e Engels, da igualdade. É preciso abandonar a idéia de que a seus escritos mostram certo conservadorismo contradição produz um objeto vazio de conteúdo. implícito hegeliano: a existência de uma ética de Hegel dá dignidade para a contradição, bem como Estado (citando Hegel e seu sistema em sua obra para o negativo 2 . É a Filosofia que observa a sobre a Prússia medieval). dimensão temporal da existência humana como existência sócio-política e cultural; teorias do Conclusões progresso, da evolução e teorias da Verificamos a importância da História no descontinuidade histórica, seguindo a lógica do entendimento dos povos, que fica marcada, no devir. século XIX, pela noção de progresso dada pelos Historiadores estudados: historiadores citados, onde Hegel esteve presente Leopold Von Ranke (1795-1886): Frequentemente como referência em maior ou menor medida. A considerado como o pai da "História cientifica", busca pelo homem e pelo Estado perfeitos definiu o tom de boa parte dos escritos históricos chegarão até nossos dias, comprovando sua posteriores com a introdução do método científico importância no pensamento humano. na pesquisa histórica, propondo o uso prioritário de fontes primárias. Na Universidade de Leipzig apoiou Agradecimentos o professor Fridrich Savigny, que enfatizava as Ao Filósofo André Senra pelo apoio a este trabalho. variedades dos diferentes períodos da História, contra os seguidores de Hegel (defensores do 1 Hegel, G. W. F.. Fenomenologia do Espírito. Petrópolis: Ed. desdobramento de uma História universal). Ranke 2001. criticou duramente a visão hegeliana, afirmando que Vozes, 2 Coleção Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1996. a mesma era uma abordagem de uma única medida 3 Carlyle, T.. Sartor Resartus, and On Heroes, Hero-Worship, para diversos valores. Thomas Carlyle (1795- and the Heroic in History. www.gutemberg.org. Acesso em 1881): Propõe que a História pode ser interpretada 4junho/2007. Marx, Karl. El capital, critica de la economia política. T. 1. P. 177. México, DF: Fundo de Cultura. 5 CHAUÍ, M.. Filosofia. São Paulo: Ed. Ática, 2002. 1º Congresso de História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia – UFRJ / HCTE – 22 e 23 de setembro de 2008