Alfabetização de Jovens e Adultos Alfabetizar-se é uma etapa fundamental para que as pessoas possam viver com autonomia no mundo da escrita. Significa poder tomar parte de um conjunto amplo de práticas comunicativas, falando, ouvindo, lendo e escrevendo e não simplesmente ser apresentado ao código de escrita. É, sobretudo, um processo de conquista de cidadania, no qual pessoas excluídas de seus direitos sociais, civis e políticos podem ter acesso a bens culturais, que as apóiam e fortalecem. Assim, compreendemos a alfabetização como um processo amplo e necessário para promover o desenvolvimento de capacidades que possibilitem aos educandos ampliarem sua compreensão sobre a realidade e a buscarem alternativas para os problemas que os afetam e que afetam à sua comunidade, contribuindo, dessa forma, para a melhoria de suas condições de vida. É muito mais do que saber como se juntam as letras, do que conhecer sílabas e saber escrever palavras e frases. Para uma pessoa tornar-se usuário da escrita é preciso mais do que o conhecimento das letras e dos números. É preciso experimentar um amplo conjunto de situações nas quais a leitura e a escrita são necessárias. E mais, ainda, refletir sobre essas experiências e os modos como interagiu em cada uma delas. Atualmente, sabemos que para uma pessoa usar a escrita com autonomia, de maneira a desenvolver aprendizagens que a levem a continuar aprendendo, ela precisa passar por um processo de longo prazo. Em termos ideais, que pelo menos tenha completado o ensino fundamental. Não basta estar alfabetizado é preciso continuar os estudos para não perdemos aquilo que construímos nos primeiros anos de escolarização. Pessoas não alfabetizadas não têm total autonomia para lidar com a escrita em seu cotidiano. Sabem muitas coisas sobre a escrita, criam estratégias para lidar com situações em que a escrita esteja presente, mas, faltam a elas conhecimentos para que possam participar de modo pleno de práticas de uso da escrita. Quando damos atenção somente a atividades voltadas para o domínio da escrita alfabética, como conhecer letras, formar sílabas e palavras, estamos focalizando apenas um conjunto de conhecimentos e negando muitos outros. Alfabetizar e letrar é muito mais complexo que exercitar esses aspectos. A educação de jovens e adultos é um campo de práticas e reflexão que inevitavelmente transborda os limites da escolarização em sentido estrito. Primeiramente, porque abarca processos formativos diversos, onde podem ser incluídas iniciativas visando a qualificação profissional, o desenvolvimento comunitário, a formação política e um sem número de questões culturais pautadas em outros espaços que não o escolar. Além disso, mesmo quando se focalizam os processos de escolarização de jovens e adultos, o cânone da escola regular, com seus tempos e espaços rigidamente delimitados, imediatamente se apresenta como problemático. Trata-se, de fato, de um campo pedagógico fronteiriço, que bem poderia ser aproveitado como terreno fértil para a inovação prática e teórica. Quando se adotam concepções mais restritivas sobre o fenômeno educativo, entretanto, o lugar da educação de jovens e adultos pode ser entendido como marginal ou secundário, sem maior interesse do ponto de vista da formulação política e da reflexão pedagógica. Quando, pelo contrário, a abordagem do fenômeno educativo é ampla e sistêmica, a educação de jovens e adultos é necessariamente considerada como parte integrante da história da educação em nosso país, como uma das arenas importantes onde vêm se empreendendo esforços para a democratização do acesso ao conhecimento. A Educação de Jovens e Adultos, modalidade de ensino da Educação Básica prevista na legislação educacional brasileira, vem para resgatar uma dívida social que o país tem com aqueles cidadãos que não tiveram acesso à escolarização na idade regular. Iniciativas mais esperançosas são necessárias serem planejadas, processo este que depende fundamentalmente dos atores nele envolvidos, que são os professores, os educadores da Educação de Jovens e Adultos. No entanto, nenhuma ação isolada é suficiente, sem respaldo de Políticas Públicas voltadas a este setor que abriga tantos cidadãos brasileiros, que precocemente se viram forçadas a deixar a escola ou a ela nem tiveram acesso. O exercício da docência na Educação de Jovens e Adultos exige uma profissionalização cada vez mais qualificada para uma atividade que apresenta características especiais, representadas por ações diferenciadas, distanciadas de “modelos” tradicionais. A principal tarefa da Educação de Jovens e Adultos, conforme previsto na Constituição Federal de outubro de 1988, artigo 208 inciso I, é garantir o acesso e a permanência ao ensino fundamental a todos, também aos jovens e adultos que não tiveram a oportunidade de estudar em idade própria. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, lei n. 9.394/96, traz essa modalidade de ensino nos artigos 37 e 38, assegurando metodologias e currículos adequados às necessidades dos alunos, tanto em nível fundamental quanto em nível médio. . A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO BRASIL Muitas vezes definimos erroneamente Educação de Jovens e Adultos. Por isso, antes de iniciar nosso estudo, é necessário conhecer um pouco da história dessa modalidade de ensino. Segundo Freire (apud Gadotti, 1979, p. 72) em Educação de Jovens e Adultos: teoria, prática e proposta, os termos Educação de Adultos e Educação não-formal referem-se à mesma área disciplinar, teórica e prática da educação, porém com finalidades distintas. Esses termos têm sido popularizados principalmente por organizações internacionais UNESCO - referindo-se a uma área especializada da Educação. No entanto, existe uma diversidade de paradigmas dentro da Educação de Adultos. A Educação de Adultos tem estado, a partir da 2ª Guerra Mundial, a cargo do Estado, muito diferente da Educação não-formal, que está vinculada a organizações nãogovernamentais. Até a 2º Guerra Mundial, a Educação Popular era concebida como extensão da Educação formal para todos, sobretudo para os menos privilegiados que habitavam as áreas das zonas urbanas e rurais. Após a I Conferência Internacional de Educação de Adultos, realizada na Dinamarca, em 1949, a Educação de Adultos tomou outro rumo, sendo concebida como uma espécie de Educação Moral. Dessa forma, a escola, não conseguindo superar todos os traumas causados pela guerra, buscou fazer um "paralelo" fora dela, tendo como finalidade principal contribuir para o resgate do respeito aos direitos humanos e para a construção da paz duradoura. A partir da II Conferência Internacional de Educação de Adultos em Montreal, no ano de 1963, a Educação de Adultos passou a ser vista sob dois enfoques distintos: como uma continuação da educação formal, permanente e como uma educação de base ou comunitária. Depois da III Conferência Internacional de Educação de Adultos em Tóquio, no ano de 1972, a Educação de Adultos volta a ser entendida como suplência da Educação Fundamental, reintroduzindo jovens e adultos, principalmente analfabetos, no sistema formal de educação. A IV Conferência Internacional de Educação de Adultos, realizada em Paris, em 1985, caracterizou-se pela pluralidade de conceitos, surgindo o conceito de Educação de Adultos. Em 1990, com a realização da Conferência Mundial sobre Educação para Todos, realizado em Jomtien, na Tailândia, entendeu-se a alfabetização de Jovens e Adultos como a 1ª etapa da Educação Básica, consagrando a idéia de que a alfabetização não pode ser separada da pós-alfabetização. Segundo Freire (apud Gadotti, 1979, p. 72), nos anos 40, a Educação de Adultos era entendida como uma extensão da escola formal, principalmente para a zona rural. Já na década de 50, a Educação de Adultos era entendida como uma educação de base, com desenvolvimento comunitário. Com isso, surgem, no final dos anos 50, duas tendências significativas na Educação de Adultos: a Educação de Adultos entendida como uma educação libertadora (conscientizadora) pontificada por Paulo Freire e a Educação de Adultos entendida como educação funcional (profissional). Na década de 70, essas duas correntes continuaram a ser entendidas como Educação não-formal e como suplência da mesma. Com isso, desenvolve-se no Brasil a tão conhecida corrente: o sistema MOBRAL (Movimento Brasileiro de Alfabetização), propondo princípios opostos aos de Paulo Freire. A Lei de Reforma nº 5.692/71 atribui um capítulo para o ensino supletivo e recomenda aos Estados atender jovens e adultos. O QUE É O EJA? A Educação de Jovens e Adultos (EJA) é uma modalidade específica da Educação Básica que se propõe a atender um público ao qual foi negado o direito à educação, durante a infância ou adolescência,seja pela oferta irregular de vagas, seja pelas inadequações do sistema de ensino ou pelas condições socioeconômicas desfavoráveis. O conceito de EJA muitas vezes confunde-se com o de Ensino Noturno. Trata-se de uma associação equivocada, uma vez que a EJA não se define pelo turno em que é oferecida, mas muito mais pelas características e especificidades dos sujeitos aos quais ela se destina. Várias iniciativas de educação de adultos em escolas ou outros espaços têm demonstrado a necessidade de ofertar essa modalidade para além do noturno, de forma a permitir a inclusão daqueles que só podem estudar durante o dia. Para que se considere a EJA enquanto uma modalidade educativa inscrita no campo do direito, faz-se necessário superar uma concepção dita compensatória, cujos principais fundamentos são a de recuperação de um tempo de escolaridade perdido no passado e a idéia de que o tempo apropriado para o aprendizado é a infância e a adolescência. Nesta perspectiva, é preciso buscar uma concepção mais ampla das dimensões tempo/espaço de aprendizagem, a partir da qual educadores e educandos estabeleçam uma relação mais dinâmica com o entorno social e com as suas questões, considerando que a juventude e a vida adulta são também tempos de aprendizagens. Os artigos 1º e 2º da LDBEN de 1996 fundamentam essa concepção enfatizando a educação como direito que se afirma independente do limite de idade: Art. 1º - “A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais”. Art. 2º - “A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. O ALUNO “EJA” Para que possamos estabelecer com clareza a parcela da população a ser atendida pela modalidade EJA, é fundamental refletir sobre o seu público, suas Características e especificidades. São homens e mulheres, trabalhadores, empregados, desempregados, ou em busca do primeiro emprego: Filho, pais e mães, moradores de periferias, favelas, vilas, são sujeitos sociais e culturais, marginalizados nas esferas socioeconômicas e educacionais, privados do acesso á cultura letrada e aos bens culturais e sociais, comprometendo uma participação mais ativa no mundo do trabalho, da política e da cultura. Vivem no mundo urbano, industrializado, burocratizado e escolarizado, em geral trabalhando em ocupações não qualificadas. Trazem a marca da exclusão social, mas são sujeitos do tempo presente e do tempo futuro, formados pelas memórias que os constituem enquanto seres temporais. São ainda excluídos do sistema de ensino, e apresentam em geral um tempo maior de escolaridade devido a repetência acumuladas e interrupções na vida escolar. Muitos nunca foram á escola ou dela tiveram que se afastar, quando crianças, em função da entrada precoce no mercado de trabalho, ou mesmo por falta das escolas. Jovens e adultos que, quando retornam á escola, o fazem guiados pelo desejo de melhorar de vida ou por exigências ligadas ao mundo do trabalho. São sujeitos de direitos, trabalhadores que participam concretamente da garantia de sobrevivência do grupo familiar ao qual pertencem. DINAMICAS E ATIVIDADES • relatos individuais sobre a trajetória escolar e/ou suas representações sobre a escola; • pesquisa e análise de reportagens sobre experiências escolares; • esquete sobre a escola enquanto espaço de socialização, de aprendizagem, de conflitos etc.; • montagem de painéis com textos e desenhos, revelando a visão que os alunos têm de escola e suas expectativas em relação ao curso; • dinâmica do “varal da memória”: divididos os participantes em grupos, cada grupo deverá construir um varal dividido em três partes– a escola que tivemos, a escola que temos e a escola que queremos; o material a ser utilizado – barbante, cola, tesoura, revistas, jornais, folhas de ofício, pincel atômico; • projeção do documentário “A Escola Plural apresenta a EJA”, debatendo o conceito da diversidade cultural, educação, vários modelos de escola e suas funções sociais, experiências de vida, trajetória escolar e formação humana; • entrevista feita entre alunos (e o professor também participando como entrevistador e entrevistado), recuperando-se dados da trajetória escolar de cada um. • questionário sócio-cultural elaborado coletivamente com questões relativas à identidade dos sujeitos; • dinâmica do bingo humano: cada participante preenche uma cartela contendo dados que o coletivo considera pertinentes para se conhecer os alunos (idade, gênero, profissão, lazer, naturalidade, inserção em movimentos sociais etc.); o coordenador da dinâmica cantará os dados e os participantes circularão entre os colegas em busca de dados semelhantes aos seus; faz bingo quem primeiro preencher toda a cartela; • dinâmica do relógio ou rotina diária: construção individual de um relógio diário (24 horas) representando o seu dia-a-dia. Dentre algumas estratégias, podemos citar a “Travessia”, que consiste em uma “apresentação” da região feita pelos próprios moradores, que se dá em uma caminhada de um extremo a outro de determinado bairro. Antes de iniciar a travessia, o grupo deverá fazer um roteiro para a caminhada sem interferência dos educadores. Os mesmos estimulam o grupo a falar sobre as características dos locais por onde passam, aprofundando alguma discussão quando se fizer necessário. Outra estratégia é a “História Oral”, em que, através de uma entrevista, o grupo reconstrói a história do bairro, destacando aspectos como, por exemplo, o período de maior crescimento da população, a infra-estrutura, as lutas e formas de organização da comunidade etc. ESTRATEGIAS E METODOLOGIA A elaboração desta estratégia de ensino foi desenvolvida com o objetivo de instrumentalizar o professor alfabetizador de Jovens e Adultos com subsídios que lhe garanta maior eficácia na hora de alfabetizar, fizemos uma combinação de métodos e técnicas que podem ser usadas em sala de aula para empreender o processo de ensino aprendizagem. Nela também estão presentes as concepções culturais e ideológicas do modo de viver e agir da comunidade que ora se destina. Trabalhar conteúdos abordados no processo de alfabetização, de forma que sejam selecionados a partir de referencias próprios do alfabetizando, ou seja, a história do seu município, a história de sua família, a história do seu bairro. Precisamos contextualizar as atividades didáticas a partir deste vastíssimo conteúdo que é o universo do aluno, situar o alfabetizando como sujeito ativo do seu processo histórico. Portanto uma visita prévia ao município ou uma entrevista preliminar com os alunos que serão alfabetizados será um fator de grande êxito no desenvolvimento de nossa estratégia. O alfabetizador poderá explorar diversos aspectos da cidade como a criação da escola, da igreja, da maternidade, do fórum, da praça, e muitos outros exemplos poderão ser explorados, o importante é selecionar temas locais que envolvam discussões construtivas, que integrem o aluno ao seu meio social. Também poderão ser mencionados assuntos de interesse comum como prevenção do câncer de mama, planejamento familiar, direitos constitucionais, deveres do cidadão, trabalho infantil, compra de voto, técnicas de plantio, pescaria, roça, trabalho doméstico, legislação trabalhista, enfim uma infinidade de temas que devidamente selecionados irão ampliar a visão de mundo dos alunos desenvolvendo o espírito critico necessário ao exercício de sua cidadania. O primeiro passo é propor ao aluno socializar seu conhecimento pessoal, sua experiência de vida, suas habilidades manuais, o segundo passo seria desenvolver atividades com base no relato dos alunos alfabetizados, valorizando o conhecimento adquirido antes de sua chegada à escola, dessa maneira estaremos resgatando a autoestima e estimulando a integração dos alunos na sala de aula. A FORMAÇÃO DOCENTE As instituições de ensino, públicas e particulares, têm se preocupado muito com a formação de seu corpo docente, pois sabem que a qualidade do ensino depende muito da relação professor-aluno. A educação de jovens e adultos é toda educação destinada àqueles que não tiveram oportunidades educacionais em idade própria ou que a tiveram de forma insuficiente, não conseguindo alfabetizar-se e obter os conhecimentos básicos necessários (Paiva, 1973, p. 16). Esse conceito nos faz perceber que o professor que vai atuar com jovens e adultos deve ter uma formação especial, que lhe permita compreender os anseios e necessidades dessas pessoas tão especiais, além de saber lidar com os sentimentos delas. Muito se discute, atualmente, sobre a formação do professor de jovens e adultos, pois o educador deve ter consciência de sua força no desenvolvimento do educando. A educação de jovens e adultos requer do educador conhecimentos específicos no que diz respeito ao conteúdo, metodologia, avaliação, atendimento, entre outros, para trabalhar com essa clientela heterogênea e tão diversificada culturalmente (Arbache, 2001, p. 19). O professor da EJA deve compreender a necessidade de respeitar a pluralidade cultural, as identidades, as questões que envolvem classe, raça, saber e linguagem dos seus alunos, caso contrário, o ensino ficará limitado à imposição de um padrão, um modelo pronto e acabado em que se objetiva apenas ensinar a ler e escrever, de forma mecânica.. Enfim, o que se pretende com a educação de jovens e adultos é dar oportunidade igual a todos. Novo enfoque está sendo dado à educação de jovens e adultos. É necessário superar a idéia de que a EJA se esgota na alfabetização, desligada da escolarização básica de qualidade. É também necessário superar a descontinuidade das ações institucionais e o surgimento de medidas isoladas e pontuais, fragmentando e impedindo a compreensão da problemática. É preciso desafiar o encaminhamento de possíveis resoluções que levem à simplificação do fenômeno do analfabetismo e do processo de alfabetização, reduzindo o problema a uma mera exposição de números e indicadores descritivos. Visualizar a educação de jovens e adultos levando em conta a especificidade e a diversidade cultural dos sujeitos que a ela recorrem torna-se, pois, um caminho renovado e transformador nessa área educacional (Arbache, 2001, p. 22). Educar jovens e adultos, hoje, não é apenas ensiná-los a ler e escrever seu próprio nome. É oferecer-lhes uma escolarização ampla e com mais qualidade. E isso requer atividades contínuas e não projetos isolados que, na primeira dificuldade, são deixados de lado para o início de outro. Além disso, a educação de jovens e adultos não deve se preocupar apenas em reduzir números e índices de analfabetismo. Deve ocupar-se de fato com a cultura do educando, com sua preparação para o mercado de trabalho e como previsto nas diretrizes curriculares da EJA, a mesma tem como funções: reparar, qualificar e equalizar o ensino. Neste segundo sentido compete ao professor, além de incrementar seus conhecimentos e atualizá-los, esforçar-se por praticar os métodos mais adequados em seu ensino, proceder a uma análise de sua própria realidade pessoal como educador, examinar com autoconsciência crítica sua conduta e seu desempenho, com a intenção de ver se está cumprindo aquilo que sua consciência crítica da realidade nacional lhe assinala como sua correta atividade. (Pinto, 2000, p. 113). Jogos na alfabetização de jovens e adultos Em diferentes momentos da história da humanidade e em variados espaços e grupos humanos encontramos registros sobre o jogo. Trata-se de uma atividade natural do ser humano, desenvolvida desde seus primeiros meses de vida. Nosso corpo, os pés e as mãos são nossos primeiros brinquedos e é jogando com eles que descobrimos a nós mesmos e aos outros. O jogo é diversão, promove a socialização e o relaxamento. Jogar faz parte da vida, socializa, integra. Jogando aprendemos a desempenhar papéis na sociedade e descobrimos que há regras e que estas devem ser respeitadas. Também construímos novos mundos, outros papéis e possibilidades, compensando, assim, nossas dificuldades, amenizando as pressões vividas, as angústias e os desafios. O jogo em si é mágico, com um grande poder de transformação. A escola tradicional tem sido um lugar triste e cansativo e é estranho que permaneça nessa rotina desinteressante. Atividades com jogos pode ser uma forma para transformar a escola em um ambiente descontraído, interativo, que facilite a aprendizagem. Seu valor é inestimável nos processos de aprendizagem, porque o jogo permite lidar com diversas áreas de informação, possibilita um processo ativo de aquisição do conhecimento, trazendo assim a informação e a transformação. É por meio das relações entre os jogadores que se constroem conhecimentos e atitudes. Ao jogar podemos criar e recriar, descobrir e redescobrir (arranjando coisas que já sabemos). Nessas ações vivenciamos o prazer de modificar, focalizar, interpretar e de ressignificar ao que já se sabe. Observando, compreendendo e testando organizamos nossas idéias. Os jogos favorecem esses procedimentos e ajudam ainda no resgate de conteúdos trabalhados, no exercício de estratégias de pensamento, contribuindo para o uso da inteligência na resolução dos problemas. Nesse processo os novos conhecimentos, não ficam soltos, encontram-se associados entre si e relacionados ao que já se sabe, evitando assim, o risco da memorização e do ensino mecanizado. Jogar também pode favorecer a concentração, o uso do pensamento e da linguagem, relacionando o agir com o pensar. É importante que o educador planeje e crie em sala de aula situações em que os educandos possam jogar, favorecendo a descoberta e o aprendizado. Além, de ser educativo, o jogo tem que ser criativo, desafiador, produzir interesse e vontade de participação, por isso, ele minimiza as dificuldades dos educandos e leva-os pelos estudos, para uma melhor aprendizagem. Quando falamos em jogo, não estamos falando daqueles que deverão ser comprados, mas daqueles que podem ser feitos pelos educadores com seus estudantes. O que aumentará ainda mais o prazer, a criatividade e a curiosidade dos jogadores. Nos jogos de alfabetização, ninguém perde, só ganha; enriquecendo seu aprendizado. Cantar e aprender Com o objetivo de ampliar as práticas de alfabetização e colaborar para o planejamento de aulas e atividades inovadoras no Educar para Mudar, nesse curso, trouxemos as canções para povoar as aulas de leitura e produção de textos. A alfabetização e o letramento são processos complementares que devem ocorrer ao mesmo tempo, desde o início da alfabetização. Por isso, é preciso oferecer textos para a leitura que tenham um significado, tenham uma função e se dirijam a alguém. Em vez de textos artificiais e sem sentido, um texto real, que circula em nosso cotidiano, ajuda o estudante a apoiar o esforço da decifração na capacidade de prever seu conteúdo e tema, de analisar o modo como foram tratados e de atribuir sentido ao que leu. Por exemplo, se um educando conhece uma canção, desafiá-lo a ler a letra de música pode ser um exercício interessante. Como já sabe o conteúdo de cor, pode debruçar-se em localizar palavras que rimam, em (re)conhecer cada verso e estrofe, por exemplo. A produção de textos na alfabetização Para produzir textos é preciso desenvolver várias aprendizagens, tantas quantas forem as situações e atividades em que a ação de escrever esteja presente e seja necessária. Produzir textos significa usar a escrita e/ou a oralidade para interagir com o outro. Falar ou escrever um texto não é algo que se aprende fora da situação e depois se transfere para ela. Nos comunicamos com os outros por meio de textos que são produzidos em função das atividades, condições e da situação na qual estamos inseridos. O texto, seja ele oral ou escrito, permite a quem fala ou escreve compartilhar com os outros receitas e modos de fazer, idéias, opiniões, necessidades, desejos, imaginações, entre tantas possibilidades. Aquele que fala pode estar interagindo com alguém presente ou distante, o mesmo acontece com quem escreve. Um texto é produzido em função de uma intenção comunicativa, busca produzir uma resposta, causar um efeito naquele que ouve ou lê. Portanto, produzir um texto implica interação, intenção e ter no horizonte os outros para quem dirigimos nossas palavras, pode ser para outros conhecidos, desconhecidos, presentes ou virtuais, ou para nós mesmos. Nessa aprendizagem, entra em jogo conhecimentos lingüísticos e a capacidade de nos apropriarmos criativamente de modelos que temos disponíveis e utilizá-los em função de nossa intenção comunicativa. Os textos, nas situações em que se fazem presente, encontrados dentro e fora da escola, são os modelos que os educandos usarão para aprender a escrever e falar. Novamente, temos que levar em conta a familiaridade ou não dos educandos com os textos orais e escritos que serão produzidos, lidos e ouvidos, pois é com base no conhecimento que já possuem que vão criar e produzir novos textos. Quanto maior a familiaridade dos educandos com os textos que vão produzir, mais fácil torna-se esse processo. Expor os educandos a variados textos e situações de produção, analisar e refletir sobre esses textos são estratégias fundamentais nessa etapa. Não basta que observem e copiem textos. É preciso que realizemos um trabalho de reflexão sobre sua forma e feitio, sobre o tipo de letra, se há imagens ou não e para que servem, dos termos, expressões e palavras comuns aquele texto, o estilo empregado, se tem um tom informal ou mais formal etc., onde foram publicados, por exemplo. Os educandos que estão nessa etapa da aprendizagem devem se confrontar com todos os desafios que qualquer um enfrenta ao produzir um texto. E, mais, essa produção deve ter uma razão, deve estar inserida numa situação na qual escrever um texto faça algum sentido. Assim, eles poderão: _ pensar sobre a situação em que a produção escrita ou oral está presente; _ pensar na mensagem a ser comunicada; _ em que é seu leitor e no que ele precisará saber; _ na linguagem e forma de apresentação mais adequada. Uma boa forma de organizar o trabalho com a produção escrita é articulá-lo com atividades de leitura e a objetivos. CONSIDERAÇOES FINAIS Educar jovens e adultos, hoje, não é apenas ensiná-los a ler e escrever seu próprio nome. É oferecer-lhes uma escolarização ampla e com mais qualidade. E isso requer atividades contínuas e não projetos isolados que, na primeira dificuldade, são deixados de lado para o início de outro. Além disso, a educação de jovens e adultos não deve se preocupar apenas em reduzir números e índices de analfabetismo. Deve ocupar-se de fato com a cultura do educando, com sua preparação para o mercado de trabalho e como previsto nas diretrizes curriculares da EJA a mesma tem como funções: reparar, qualificar e equalizar o ensino. O professor que atua com jovens e adultos e a importância do Respeito ao conhecimento que o aluno traz de seu dia-a-dia. fazer com que o aluno seja um ser pensante, crítico e produtor do seu conhecimento, é requisito básico ao docente. O professor é um suporte na sala de aula e muitos alunos têm seu professor como o espelho. Enfim, foi evidenciado que o professor que atua com jovens e adultos deve ter uma capacitação específica para lidar com esses alunos, tal medida favorecerá o processo de aprendizagem e aumentará a satisfação dos alunos e, conseqüentemente, diminuirá a evasão escolar. Percebemos também que a EJA é indiscutivelmente uma educação possível ou melhor imprescindível. E que o fato do atraso para o ingresso na educação formal não é motivo para o não ingresso mesmo que tardiamente, uma vez que a educação é um processo continuado. É oportuno lembrar que todos podem e devem contribuir para o desenvolvimento da EJA: os governantes devem implantar políticas integradas para a EJA, as escolas devem elaborar um projeto adequado para seus próprios alunos e não seguir modelos prontos, os professores devem estar sempre atualizando seus conhecimentos e métodos de ensino, os alunos devem sentir orgulho da EJA e valorizar a oportunidade que estão tendo de estudar e ampliar seus conhecimentos. À sociedade cabe contribuir com a EJA não discriminando essa modalidade de ensino nem seus alunos, e por fim, as pessoas em geral que conhecerem um adulto analfabeto deve falar da importância da educação e incentivá-los a procurar uma escola de EJA.