Economia da Saúde – Alguns apontamentos A Economia é a ciência da escassez e da escolha. A Economia analisa o modo pelo qual os indivíduos estruturam e priotizam seu consumo pessoal na tentativa de maximizar o bemestar dentro de um contexto de recursos escassos. Walley, Haycox and Bolland (2004, p.1) Análise Económica em Saúde Quando duas ou mais estratégias são comparadas considerando-se suas consequências e custos”. Análise Económica em Saúde “Health economics is not inherently difficult to understand. Its simple premise is that decision making concerning health care choices should be based upon evaluation and comparison of both the costs and benefits arising from all the therapeutic options available, and that the best decision making requires a sensitive balance of both of these dimensions”. Walley, Haycox and Bolland (2004, p.16) Avaliações Económicas em Saúde Avaliação económica é: uma análise comparativa das estratégias terapêuticas tanto em termos de custos como de consequências. Definição de Farmacoeconomia Pharmaeconomics decribes and analyses the costs of drug therapy to health care system and society. It identifies, measures, and compares the costs, and consequences of phamaceutical products and services, with its research methods related to costminimization, cost-effectiveness, cost-benefit, cost-of-illness, cost-utility, decision analysis of life assesments. K.C. Carriere & Rong Huang (2001, p.19) Avaliação Económica Em Saúde É preciso considerar que nem todos os benefícios decorrentes de serviços, programas ou actividades de saúde desenvolvidas podem ser quantificados. Farmacoeconomia: Conceito Dominante A farmacoeconomia é dominada por um simples conceito teórico: o de custo-efectividade. O conceito de custo efectividade implica que nós desejamos alcançar algum objectivo prédeterminado ao menor custo, ou, alternativamente, nós desejamos maximizar os benefícios para os doentes gerados por uma dada quantidade limitada de recursos. Para alcançar isto, nós usamos os instrumentos de avaliação económica para seleccionar (escolher) as opções. mais eficiente entre todas as alternativas disponíveis para maximizar o benefício da população atendida. Avaliação Farmacoeconómica = Uma avaliação que considera tanto os efeitos (consequências e resultados) e os custos de duas ou mais alternativas. Custos em Farmacoenomia Custos de Oportunidade = Custos associados às oportunidades deixadas de lado, caso a empresa não empregue os seus recursos da maneira mais rentável. Reflecte o volume de recursos usados, sejam humanos, materiais ou monetários. Admitindo que existam dois programas (A e B) de saúde diferentes e os recursos disponíveis permitem a execução de apenas um deles. Assim, o custo de oportunidade de A é dado pelos benefícios económicos que o programa B poderia determinar se fosse implantado. Os custos de oportunidade em farmacoecoeconomia referem-se aos benefícios perdidos quando seleccionamos uma terapia alternativa, comparando-a com uma outra melhor alternativa existente. O que importa aqui não é o quanto a intervenção em saúde custa, mas o que nós devemos abrir mão quando usamos tal intervenção. Medição dos Custos em Farmacoeconomia: 1) Directos – são pagos directamente pelo serviço de saúde, incluindo os custos de mão-deobra (staff costs), capital e aquisição de drogas (medicamentos); 2) Indirectos – custos que experimentados pelo paciente (ou também a família e amigos) ou a sociedade. Eles incluem a perda de rendimentos ou a perda de produtividade. Eles são de difícil medição, mas afectam a sociedade como um todo. 3) Intangíveis – estes referem a dor e ao stress que os pacientes fazem face. Estes custos podem ser impossíveis de mensurar em termos monetários e não são muitas vezes considerados na economia. Custos directos são aqueles relacionados directamente aos serviços de saúde, que implicam dispêndios imediatos, de identificação objectiva, correspondendo aos cuidados médicos e não médicos. Os custos directos relativos aos cuidados médicos contemplam produtos e serviços desenvolvidos para prevenir, detectar e/ou tratar uma doença, por exemplo, os honorários profissionais. Os custos directos não médicos são decorrentes da doença, resultam do processo de adoecimento, mas não envolvem os serviços médicos, por exemplo, custo de alimentação, transporte, residência temporária, entre outros. Os Custos Directos podem ser Fixos (se variam com o volume de serviços prestados) ou variáveis (se variam com o volume de serviços prestados). Custos Directos Médico-Hospitalares: – Atendimento,Hospitalização (Hotelaria), Home health care, consultas médicas e não médicas, ambulância, serviços voluntários, serviços de suporte (lavandaria, restaurante, administração, segurança...) equipamentos (custo do capital), medicações, próteses,ortóteses, tratamentos especiais (RT, QT, Banco de Sg), cirurgias, exames subsidiários, uso e taxas de salas, intervenções preventivas, pesquisa e desenvolvimento, treinamento e educação continuada da equipe e educação do paciente. Custos Directos Não Médico-Hospitalares: – Transporte para consultório ou hospital, adaptações no lar, serviço social, contratação de advogados, reparos domésticos (alcolismo) Custos Indirectos Valor económico de toda e qualquer consequência que não pode ser considerada como custo directo. Referem-se à perda de renda e/ou produtividade trazida pela doença ou enfermidade. As Abordagens na Medição dos Custos Indirectos: Há três abordagens para se medir os custos indirectos nos estudos de farmacoeconomia: 1) abordagem do capital humano (human capital approach); 2) abordagem da fricção (friction approach); 3) abordagem da disposição a pagar (willingness approach). Na abordagem do capital humano estima-se o valor presente das rendas futuras de um indivíduo. Esta abordagem tem sido usada principalmente em aplicações legais que requerem estimativas dos danos causados. Ela estima também a perda em termos do PIB (produto interno bruto) resultante da mortalidade e da morbilidade ou ainda dos ganhos de produção resultantes da poupança e da extensão da vida dos indivíduos. Os custos indirectos na abordagem do capital humano são vistos como os rendimentos presentes e futuros, perdidos pelo indivíduo como resultado de uma doença. Os indivíduos são assumidos que poderiam produzir durante a tempo que permanecem no mercado de trabalho e poderiam ser valorizados do mesmo modo que os indivíduos que estão no mercado de trabalho em condições saudáveis Crítica: A teoria do capital humano não mede a disposição dos indivíduos a evitar os riscos de acidentes, morte ou doenças e nem mede o que um indivíduo estaria disposto a pagar para reduzir os riscos dos mesmos. Isto é feito pela abordagem willingness to pay. Willingness-to-Pay Approach - Nesta abordagem, a vida é avaliada de acordo com o que os indivíduos estão dispostos a pagar por uma mudança que reduza a probabilidade de morte ou doença. Esta abordagem é útil para indicar como os indivíduos valorizam a vida e a saúde. O método de averting behavior examina as medidas preventivas tomadas para evitar a exposição ao risco ou mitigar os efeitos das doenças. Os investimentos realizados em medidas preventivas são usadas como uma proxy para a disposição a pagar (willingness-topay) para evitar uma doença particular. O método dos custos de fricção foi introduzido por Koopmanschap at al. (1992) como uma melhoria do método do capital humano. Os custos de fricção mede somente a perda de produção do indivíduo doente até o momento que um novo trabalhador (previamente desempregado) o substitui. Além disso, os custos de contratação e formação devem ser também incluídos. O pressuposto subjacente do método de fricção é que a economia não está sempre operando na situação de pleno emprego. CUSTOS EM FARMACOECONOMIA: CUSTOS DIRECTOS - Consultas (ambulatório); - Diagnósticos; - Tratamento; - Reabilitações; - Próteses; - Medicações; - Admissões hospitalares; - Exames laboratoriais; - Pagamento com transporte. CUSTOS INDIRECTOS - Dias não trabalhados; - Perda temporária de produtividade; - Perda permanente de produtividade; - Perda de produtividade de um indivíduo ou grupo de pessoas, em função da morbimortalidade ocasionada por enfermidades; Custos Intangíveis: referem-se aos custos psicológicos da doença (ansiedade e depressão), custo psicológico associado à perda de trabalho ou incapacidade de trabalhar, da dependência física, do isolamento social, dos conflitos familiares, da dor, da alteração de suas actividades da vida diária, da pior qualidade de vida. Os custos intangíveis são custos de difícil mensuração monetária. Embora muito importantes para os pacientes, ainda necessitam de significado económico. São os custos do sofrimento, da dor, da tristeza, da redução da qualidade de vida. RESULTADOS: Eficiência representa a relação entre os recursos financeiros (custos) e os outcomes utilizados em determinada intervenção. Assim sendo, a farmacoeconomia busca determinar, entre alternativas terapêuticas, qual é a mais eficiente, e qual destas produzem os melhores outcomes, segundo os recursos investidos. Trata-se, portanto, de uma área de conhecimento em que são comparadas as eficiências das estratégias usadas na saúde Os Custos da Doença (COL): Reconhecimento dos Casos Isto é feito com base em estatísticas nacionais, se disponíveis, ou por extrapolação para toda a população, a partir de um survey (amostra); Este estágio sofre das limitações de dados epidemiológicos sobre os quais é baseado, tal como a dificuldade de definição da doença, conhecimento incompleto sobre a história natural da doença, não notificação de casos etc. Críticas ao CoI A abordagem CoI estima os custos médicos directos associados com uma doença, bem como os custos indirectos resultantes da perda de rendimentos. Contudo eles não incluem e não levam em conta os custos intangíveis resultantes da dor e sofrimento, o valor da perda do tempo de lazer e os benefícios das medidas preventivas para reduzir o risco das doenças. QUAIS OS TIPOS DE ANÁLISES ECONÓMICAS QUE PODEM SER FEITAS? Análise de custo-mínimo (ACM) Análise de custo-benefício (ACB) Análise de custo-efectividade (ACE) Análise de custo-utilidade (ACU) A ACM compara duas alternativas de medicamentos, que tenham o mesmo resultado, e escolhe aquela com menor custo, ou seja, é apenas a busca da alternativa mais barata (os efeitos sobre a saúde que resultam das tecnologias comparadas são similares). Avaliação baseada na minimização de custos pode ser considerada um caso particular de análise custo-efectividade, em que a regra de decisão é a de seleccionar o medicamento que minimiza os custos da terapêutica. É a forma mais simples de avaliação económica (somente os custos são submetidos a comparações), pois as eficácias ou efectividades das alternativas comparáveis são assumidas como sendo equivalentes entre si. Para o uso desta análise é necessário que existam evidências que as diferenças de resultado entre as alternativas são inexistentes ou pouco importantes. Este tipo de análise é útil na comparação de doses e vias de administração diferentes do equivalente genérico para os quais os efeitos são absolutamente semelhantes, seleccionando-se o de menor custo. ANÁLISE CB: Nesta análise o que se procura é identificar a opção de tratamento que permite reduzir custos ou aumentar lucros, especificamente olhando a resposta financeira obtida por cada opção; Há uma semelhança entre a filosofia adopta neste tipo de análise e uma aplicação financeira (na qual se comparam as opções disponíveis no mercado para se descobrir qual proporcionará a maior taxa de lucro). Nesta avaliação económica os custos do atendimento médico são comparados com os benefícios económicos do atendimento, onde tanto o custo e o benefício são expressados em unidade monetária. Os benefícios tipicamente incluem redução no custo de cuidados de saúde no futuro. É aplicável quando a opção terapêutica é avaliada tão somente em termos de suas vantagens ou desvantagens económicas. Objectiva identificar e avaliar sistematicamente todos os custos e benefícios associados a diferentes alternativas, e, assim, determinar qual a alternativa que maximiza a diferença entre benefícios e custos, os quais são expressos em termos monetários. A Análise Custo Benefício é de difícil realização porque requer que custos e benefícios sejam mensurados (ou convertidos) em termos monetários; A ACE é uma avaliação na qual programas alternativos, serviços, ou intervenção são comparadas em termos do custo por unidade do efeito clínico. Exemplos: - custo por vidas salvas; - custo por milímetro de mércurio de diminuição de pressão arterial. A ACE identifica as alternativas com melhor desfecho para a saúde da população por unidade monetária gasta. Medidas de efectividade utilizadas em estudos de Avaliação Económica.: • Anos de vida salvos; • Episódios de doença evitados; • Dias sem sintomas; • Redução de taxa de recidiva; • N.º de doentes efetivamente tratados; • Proporção de doentes sem necessidade de dispositivos de apoio ; • Consumo de terapêuticas concomitantes. Exemplo: na comparação de 3 alternativas farmacológicas da hipertensão arterial: a) diurético; b) betabloqueador; b) nibidor de enzima conversora da angiotensina, as medidas comuns de efectividade poderão ser: - redução na pressão arterial em mmHg (indicador intermediário) ou - número de eventos cardiovasculares evitados (indicador final). Análise Custo-Efectividade (ACE) A escolha entre um indicador intermediário ou final de efectividade dependerá dos objectivos a serem propostos pela avaliação, bem como do tempo do estudo destinado a medir as variações nas conseqüências sobre o estado de saúde dos indivíduos. A escolha entre um indicador intermediário ou final de efectividade dependerá dos objectivos a serem propostos pela avaliação, bem como do tempo do estudo destinado a medir as variações nas consequências sobre o estado de saúde dos indivíduos. Ex: em pacientes com SIDA, a redução da carga viral é um exemplo de indicador intermediário, no entanto, essa diminuição promove um aumento na esperança de vida desses enfermos (indicador final de efectividade). Na ACE, a efectividade é expressa em unidades não monetárias, definindo o objectivo da análise. Exemplos: - vidas salvas (anos de vida ganho); - dias de incapacidade evitada; - casos tratados; É aplicável quando a opção terapêutica é avaliada em termos do resultado clínico. Alguns exemplos de unidades de medida dos resultados na análise custo-efectividade, envolvendo os problemas relacionados aos medicamentos, são: - o número de internamentos hospitalares evitadas em decorrência da adesão do paciente ao tratamento farmacológico; - anos de vida ganhos em função de reacções adversas a medicamentos preveníveis e resistências bacterianas evitadas devido a uma antibioticoterapia adequada. É teoricamente menos ambicioso do que a ACB. Distingue-se da ACB pelo fato de os resultados ou conseqüencias das terapêuticas serem medidas em unidades físicas (ex. anos de vida ganhos ou casos detectados); O método da ACE justifica-se quando os benefícios são dificilmente monetarizáveis. O método procura responder a dois tipos de pergunta: (a) Que medicamento é capaz de realizar objectivos pré-fixados ao menor custo possível (ex. o custo mais baixo por vida salva)? (b) Que tipo de terapêutica permite maximizar os benefícios de um dado recurso financeiro? Deve-se notar que alguns autores denominam a ACE de análise custo-eficácia. Contudo, no domínio da saúde a distinção que se faz entre eficiência e efectividade implica que o termo custo-efectividade seja o mais apropriado. ACE não pode ser utilizada para comparar intervenções com diferentes desfechos. ANÁLISE DE CUSTO-UTILIDADE Avalia os custos e consequências de diferentes intervenções em termos da qualidadade de vida do paciente e do tempo de sobrevivência.