EFEITOS DA ELECTRICIDADE ENGENHARIA BIOMÉDICA ANO LECTIVO DE 2010-2011 FRANCISCO SAMPAIO RESUMO Energia eléctrica Introdução histórica Alguns conceitos em electricidade Alguns mitos sobre acidentes eléctricos Efeitos fisiológicos da corrente Factores que influenciam os efeitos fisiológicos Orgãos alvo da corrente eléctrica Relâmpago Breves noções sobre tratamento Prognóstico Campos eléctricos gerados no organismo Aplicações da corrente eléctrica PALAVRAS CHAVE electricidade; magnetismo; electrostática; electrodinâmica; corrente eléctrica; corrente contínua; corrente alternada; electrocussão; electroterapia; magnetoterapia; intensidade; potencial; resistência; resistividade; conductibilidade; contutores; isoladores; semi-condutores; efeito de Oersted; efeito de Joule ENERGIA ELÉCTRICA 1. Efeitos fisiológicos da corrente eléctrica 2. Estudo dos campos eléctricos e magnéticos gerados no organismo 3. Aplicações terapêuticas da electricidade e do magnetismo INTRODUÇÃO HISTÓRICA (Electricidade) Séc. VI a.c. - Thales de Mileto (referência ao âmbar) 1186 - Alexander Neckam (primeira referência escrita ao magnetismo) 1269 - Pierre de Maricourt (Peregrinus) (como construir uma máquina usando magnete natural) 1543 - George Bauer (m) (sumariza as propriedades do âmbar) 1551 - Girolano Cardano (m) (trabalho sobre a natureza das propriedades atractivas) 1543 - Nicolaus Copernico (“terra move-se”) 1583 - Giordano Bruno ( defende a teoria heliocentrica) INTRODUÇÃO HISTÓRICA (Electricidade) 1600 - William Gilbert (m) ( “De magnete” e usa o termo “vim electricam”) 1646 - Thomas Browne (m) (electricidade) 1671 - Otto von Guerike (primeira máquina electrostática) (aperfeiçoada por Hanksbee, Bose, Wimshurst, Holltz, Van der Graaf) 1720 - Stephen Gray (propriedade da matéria; corpos condutores e não condutores) 1733 - Charles du Fay ( electricidade - vítrea e resinosa; electrização - contacto e influência) 1759 - Symmer (electricidade positiva e negativa) INTRODUÇÃO HISTÓRICA (Electricidade) 1745 - von Kleist (Camin) von Munchenbroek (Leyden) – dispositivo – ”garrafa de Leyden” (condensador) 1746 - Abbé Nollet – Hotel des Invalides “electrificar” doentes com “paralisias” 1751 - Pivati – Tenta introduzir medicamentos através da aplicação da electricidade 1753 - Samuel Quelmalz (escola alemã) – “Observations on the Medical Powers of Electricity) – Defende a combinação da electricidade com a “boa prática médica” 1759 - John Wesley (escola inglesa) – “The Desidratum” – Terapêutica de várias doenças pela electricidade (até 1781 publica cinco edições) 1782 - Masas de Cazelles (escola francesa) – “ Memoire sur l’Electricité Médicale” – Utiliza o termo “electrização” INTRODUÇÃO HISTÓRICA (Electricidade) 1790 - Galvani electricidade animal 1800 - Volta corrente contínua (“galvânica”) 1819 - Oersted efeito magnético da corrente 1820 - Ampère leis do electromagnetismo 1831 - Faraday fenómeno da indução; corrente alternada (“farádica”) INTRODUÇÃO HISTÓRICA (Electrocussão) 1879, França 1881, E.U.A. (Samuel Smith) 1890, E.U.A. – cadeira eléctrica (William Kemmeler) 1867 George Beard e Alphonse Rockwell* – (“A Practical Treatise on the Medical and Surgical Uses of Electricity”) * cadeira eléctrica (Joseph Guillotin) INTRODUÇÃO HISTÓRICA (Electroterapia) Scribonius Largus (46 d.c.) “Compositiones Medicae” Duchene de Boulogne (1855) “De L’electrization localisée et son application à la physiologie, la pathologie et la thérapeutique” ALGUNS CONCEITOS EM ELECTRICIDADE Electricidade Corrente eléctrica ALGUNS CONCEITOS EM ELECTRICIDADE Corrente Contínua (DC) ALGUNS CONCEITOS EM ELECTRICIDADE Corrente Alterna (AC) ALGUNS CONCEITOS EM ELECTRICIDADE Potencial (Volt) Intensidade (Ampére) Resistência (Ohm) ALGUNS CONCEITOS 1ª Lei de Ohm V=R.I 2ª Lei de Ohm R= l s Lei de Joule W = R . I2.t ALGUNS MITOS SOBRE OS ACIDENTES ELÉCTRICOS Os acidentes eléctricos são raros. A voltagem é o determinante mais importante da lesão. A alta voltagem é mais mortal que a baixa voltagem. A extensão da lesão superficial determina a gravidade da situação. A electricidade mata por lesão cardíaca. ALGUNS DADOS EPIDEMIOLÓGICOS 1000 mortes ano devido à corrente eléctrica Acidentes de trabalho (2ª/3ª causa de morte) 5 a 10% das admissões nas unidades de queimados Relâmpagos causam 50 a 300 mortes/ano Mortalidade de 5 a 15% Alta voltagem (acidentes de trabalho – indústria eléctrica e construção civil) Baixa voltagem (acidentes domésticos – ½ crianças) Baixa voltagem representa 50 a 80% das causas de morte por corrente eléctrica. EFEITOS FISIOLÓGICOS DA CORRENTE ELÉCTRICA Percepção Contracção muscular Asfixia Paragem respiratória Fibrilhação ventricular Queimadura 1) PERCEPÇÃO Limiar de percepção Factores (área de contacto, grau de humidade da pele, características fisiológicas do indivíduo, tipo de corrente) C. Contínua (calor) C. Alterna (formigueiro) Grande variabilidade (0,1 e 2 mA) Sexo masculino 1,1 Sexo feminino 0,7 2) CONTRACÇÃO Contracção/Relaxamento – tetanização (40 a 100 Hz) Entre 2 e 10 mA Limiares diferentes com C.C e C.A. “tetanização” (“corrente de não largar” – 10 mA) “esticão” 3) ASFIXIA Contracção tetânica dos músculos respiratórios (diafragma, intercostais) Factor tempo (3 a 4 minutos) e intensidade (10 a 50 mA) Possibilidade de recuperação espontânea 4) PARAGEM RESPIRATÓRIA Factores trajecto e intensidade (50 mA) Irreversível 5) FIBRILHAÇÃO VENTRICULAR Causa mais frequente de morte Factores intensidade (acima de 50 mA) e tempo (mínimo de 0.2 s) 6) QUEIMADURA Calor por efeito de Joule (electrotérmica) ou arco eléctrico (térmica) Directo ou indirecto (roupas) FACTORES QUE INFLUENCIAM OS EFEITOS FISIOLÓGICOS Intensidade Tempo Resistência Voltagem Tipo de corrente Trajecto da corrente Tipo de contacto FACTORES QUE INFLUENCIAM OS EFEITOS FISIOLÓGICOS Intensidade mA 0,1 – 2 Limiar da sensação 2 – 10 Contracçao 10 Corrente de “não largar” 10 – 50 Asfixia acima 50 Fibrilhação FACTORES QUE INFLUENCIAM OS EFEITOS FISIOLÓGICOS Tempo Factor determinante (quantidade de electricidade) Q=I.t FACTORES QUE INFLUENCIAM OS EFEITOS FISIOLÓGICOS Resistência Grande variabilidade (espessura e humidade) 100 Mucosas 1000 Pele húmida 100 000 Pele seca 1 000 000 Pele com calosidade FACTORES QUE INFLUENCIAM OS EFEITOS FISIOLÓGICOS Acidente com corrente alterna de 120 v – Pele seca 120/100000 1 mA (nível percepção) – Pele húmida 120/100 120 mA (nível fibrilhação) Diferentes tecidos (nervos/vasos/músculos/pele/tendões/gordura/osso) FACTORES QUE INFLUENCIAM OS EFEITOS FISIOLÓGICOS Voltagem Alta voltagem (acima de 1000 v) Baixa voltagem (abaixo de 1000 v) FACTORES QUE INFLUENCIAM OS EFEITOS FISIOLÓGICOS Tipos de corrente Contínua FACTORES QUE INFLUENCIAM OS EFEITOS FISIOLÓGICOS Tipos de corrente Alterna (Frequência) FACTORES QUE INFLUENCIAM OS EFEITOS FISIOLÓGICOS Trajecto da corrente Trajecto da corrente Mão esquerda – pé esquerdo ou nos dois pés Duas mãos – dois pés Mão esquerda – mão direita Mão direita – pé esquerdo, pé direito ou os dois pés Costas – mão direita Costas – mão esquerda Peito – mão direita Peito – mão esquerda Nádega – mão esuqerda, mão direita ou as duas mãos Factor de corrente no coração 1,0 1,0 0,4 0,8 0,3 0,7 1,3 1,5 0,7 FACTORES QUE INFLUENCIAM OS EFEITOS FISIOLÓGICOS Tipo de contacto Unipolar FACTORES QUE INFLUENCIAM OS EFEITOS FISIOLÓGICOS Tipo de contacto Bipolar ORGÃOS ALVO CORAÇÃO Pulmão Fibrilhação ventricular Assistolia; taquicardia sinusal; extasistoles ventriculares; fibrilhação auricular; bloqueios de ramo; enfarte miocárdio Paragem respiratória Rim Insuficiência renal (hemoglobinúria, mioglobinúria) ORGÃOS ALVO Sistema nervoso Imediatas/tardias (até 3 anos) Lesões corticais (encefalopatia; hemiplegia; afasia) Lesões medulares (tetraparésia; paraparésia) Lesões nervos periféricos (m. directo –queimadura; m. indirecto – compressão) Sistema nervoso autónomo (algoneurodistofia) ORGÃOS ALVO Sistema vascular Pele Tromboses venosa/arterial (amputações) Queimadura Outros Cataratas TRATAMENTO Afastamento da corrente Reanimação cardio-respiratória Manutenção volémia (soros) Manutenção débito urinário (furosemida/manitol) Avaliação extensão lesão Desbridamento tecidos necrosados PROGNÓSTICO Mortalidade Morbilidade Sequelas cutâneas Sequelas neurológicas Sequelas psicológicas Cataratas Amputações RELÂMPAGO Corrente contínua Voltagem: 3 000 000 – 200 000 000 V Intensidade: 2000 – 3000 A Duração: 1 a 100 ms “Direct strike” “Flashover” “Side flash” “Stride potencial” ENERGIA ELÉCTRICA 1. Efeitos fisiológicos da corrente eléctrica 2. Estudo dos campos eléctricos e magnéticos gerados no organismo 3. Aplicações terapêuticas da electricidade e do magnetismo CAMPOS ELÉCTRICOS E MAGNÉTICOS GERADOS NO ORGANISMO EMG ECG EEG ERG EOG MCG MEG : : : : : : : Electomiograma Electrocardiograma Electroencefalograma Electroretinograma Electroculograma Magnetocardiograma Magnetoencefalograma ELECTROTERAPIA Utilização da energia eléctrica, directamente sobre o organismo humano, com objectivos terapêuticos ELECTROTERAPIA Acção analgésica (TENS) Acção excito-motora Introdução de substâncias através da pele (iontoforese) IONTOFORESE DEFINIÇÃO “introdução de medicamentos através da pele, por ionização, mediante aplicação de uma corrente eléctrica contínua” • medicamentos ? • ionização? • corrente contínua? “técnica não invasiva que usa habitualmente corrente contínua de baixa intensidade (5 mA), para de forma controlada aumentar a penetração através da pele” FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA corrente contínua determina efeitos polares iões são repelidos por eléctrodos de igual sinal a ionização permite a algumas moléculas ultrapassar a barreira da pele MODELOS EXPERIMENTAIS Chatzky (modelo vegetal) iodeto de potássio Labatut (modelo animal “in vitro”) cloreto de lítio Leduc (modelo animal “in vivo”) cianeto de potássio e sulfato de estricnina MODELOS EXPERIMENTAIS Chatzky (modelo vegetal) iodeto de potássio MODELOS EXPERIMENTAIS Labatut (modelo animal “in vitro”) cloreto de lítio MODELOS EXPERIMENTAIS Leduc (modelo animal “in vivo”) cianeto de potássio e sulfato de estricnina REFERÊNCIA HISTÓRICA 1747 - Pivati 1883 - Fabre - Palapart 1900 - Leduc 1936 - Ishihashi (hiperidrose) “Effect of drugs on the sweat glands by cataphoresis an effective method for supression of local sweating” J. Orient Med. 25: 101; 1936 1959 - Gibson e Cooke (fibrose quística) “A test for concentration of electrolytes in sweat in cystic fibrosis of the pancreas utilising pilocarpine by ionthoporesis” Pediatrics 23: 545-549; 1959 TERAPÊUTICA TRANSDÉRMICA PENETRAÇÃO DOS FÁRMACOS estrato córneo folículos pilosos e glândulas sebáceas glândulas sudoríparas TERAPÊUTICA TRANSDÉRMICA VANTAGENS Ultrapassar o tracto gastro-intestinal, diminui: – Irritação gástrica – Variações de absorção – Acções enzimáticas – Metabolização (efeito de primeira passagem hepática) Administração de forma mais constante, permite: – Evitar os picos de concentração – Utilização de fármacos de semi-vida curta – Suspensão terapêutica mais rápida Comodidade posológica TERAPÊUTICA TRANSDÉRMICA FORMAS DE MELHORAR A ABSORÇÃO Substâncias que aumentem a absorção Outras formas de energia: – Iontoforese – Fonoforese – Electroporation – (100-1000 V/cm2; seg – mseg) * Iontoforese reversa PRINCÍPIOS BIOFÍSICOS Leis de Faraday – Maior tempo de aplicação – Maior amplitude da corrente Factores limitativos – Dose máxima (1 a 80 -100 mA/min) – Densidade da corrente (0,5 mA/cm2 – cátodo; 1 mA/cm2 – ânodo) Mecanismos de penetração – Difusão passiva – Electrorrepulsão – Electrosmose – Permeabilidade . EFEITOS DA CORRENTE CONTÍNUA POLARES INTERPOLARES A DISTÂNCIA EFEITOS POLARES POLO POSITIVO - repulsão de iões + - atracção de iões negativos (anaforese) - libertação de oxigénio - reacção ácida (ácido clorídrico) – “coagulação dos tecidos” - redução da excitabilidade neuronal - vasoconstrição POLO NEGATIVO - repulsão de iões - atracção de iões positivos (cataforese) - libertação de hidrogénio - reacção alcalina (hidróxido de sódio) - “liquefacção dos tecidos” - aumento da excitabilidade neuronal - vasodilatação I EFEITOS INTERPOLARES (ex: banho galvânico) - efeitos térmicos pouco significativos acção vasomotora diminuição da estase reabsorção de edemas EFEITOS A DISTÂNCIA - libertação de ACTH (?) - libertação de endorfinas (?) EQUIPAMENTO gerador de corrente contínua cabos de conexão electrodos (activo e dispersivo) material acoplador (esponja, feltro, etc.) solução ( solvente + soluto ionizável) FACTORES INTERVENIENTES Factores operacionais – 1. composição da solução – 2. propriedades físico-químicas – 3. condições experimentais Factores biológicos – variabilidade intra e interindividual – fluxo sanguíneo regional – pH da pele – condições da pele FACTORES INTERVENIENTES 1. composição da solução - 2. propriedades físico-químicas - concentração pH força iónica presença de co-iões tamanho da molécula carga polaridade peso molecular 3. condições experimentais - densidade da corrente duração do tratamento tipos (material) de eléctrodos polaridade dos eléctrodos DOSIMETRIA nome da substância polaridade concentração da solução volume da solução área dos eléctrodos (activo e dispersivo) dosagem ex: ácido acético / - / 4%/ 6cc/ A - 8cm2, D – 4 cm2/ 80 mA. min (4mA/20 min) INDICAÇÕES por fármaco por patologia * vários níveis de evidência científica CONTRA - INDICAÇÕES Absolutas – Alergia – Toxicidade Relativas – Lesões cutâneas – Alterações da sensibilidade – Implantes electrónicos – Material inflamável TENS CLASSIFICAÇÃO PARÂMETROS INTENSIDADE DURAÇÃO FORMA POLARIDADE FREQUÊNCIA TENS (Transcutaneos Electrical Nerve Stimulation) PRINCÍPIO - Utilização da corrente eléctrica com o objectivo de provocar analgesia - Teoria “ Gate Control “ (estimulação dos receptores não nociceptivos - A-beta - inibição medular) - Libertação de endorfinas