reflexões sobre a relação entre violência e poder

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REFLEXÕES SOBRE A RELAÇÃO ENTRE VIOLÊNCIA E PODER:
UMA ALTERNATIVA POSSÍVEL DA PRATICA EDUCATIVA NA
PERSPECTIVA DA ESCOLA UNITÁRIA
STIVAL Maria Cristina Elias Esper
BERGAMO Edmir Aparecido
Eixo Temático: Políticas Públicas e Gestão da Educação.
Resumo
O presente artigo pretende apontar elementos reflexivos sobre a violência, poder e da prática
educativa da educação brasileira. A violência define-se como uma ação que rompe elos e
redimensiona projetos com o uso da força, isto é, a aplicação de encaminhamentos ostensivos
ou ocultos que visam assegurar, moderar ou coibir uma ação do sujeito ou grupo social. No
âmbito das relações de poder, a força explícita nega a possibilidade de expressão da vontade
individual ou coletiva por meio do discurso e do diálogo, além de sufocar os conflitos nítidos
que fundam a política. Já, o novo conceito da escola unitária de Gramsci, como sendo uma
prática educativa inovadora para escola pública brasileira, apresenta a instituição preparada
para superar esse dualismo educacional, porque têm condições de fornecer aos alunos, sem
tentar adivinhar qual a sua profissão; estudos universitários ou ramo na indústria;
conhecimento universal, como para qualquer outro aluno neste Estado. O que impede o
aparecimento de uma divisão de classe na escola, e da própria violência escolar. E a partir
dessa escola unitária, o aluno e a comunidade escolar, tomam consciência que é preciso
mudar o conceito da própria aprendizagem, onde os alunos passam a ser vistos agora como
sujeitos transformadores. A escola torna-se a principal instituição a colaborar com esses
alunos para realizar esse processo, ao jamais querer vê-los como um recipiente a ser
preenchido por dados desconexos. Assim, esse artigo tem como objetivo entender a maneira
de pensar, sentir e agir do educando na escola. Por isso esse artigo tem como problema,
dentro de uma visão metodologia dialética de Gramsci, a realidade educacional brasileira,
para tentar impedir o aparecimento da violência escolar.
Palavras-chave: Violência. Escolar. Pratica educativa. Escola. Unitária.
Introdução
8292
A violência define-se como uma ação que rompe elos e redimensiona projetos com o
uso da força, isto é, a aplicação de encaminhamentos ostensivos ou ocultos que visam
assegurar, moderar ou coibir uma ação do sujeito ou grupo social. No âmbito das relações de
poder, a força explícita nega a possibilidade de expressão da vontade individual ou coletiva
por meio do discurso e do diálogo, além de sufocar os conflitos nítidos que fundam a política.
A repressão pode se exercer tanto pela ameaça, violência ostensiva ou tirania, quanto pelo
silêncio, dissimulação ou ocultamento do que pode prejudicar a convivência social por não
estar inserido nos padrões estabelecidos. Nesse sentido, a força possui um significado mais
amplo, e que mercê ser analisada na constituição do Estado.
A instituição do Estado moderno veio acompanhada por reflexões profundas sobre a
relação do poder e a força: no campo dos filósofos, Maquiavel1 pôde expressar de forma
magnífico tal relação na obra principal que escreveu contemporaneamente: “O Príncipe e
Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio”, na qual a violência foi retratada tanto como
ação destruidora e com relação ao fundamento das leis e da ordem política:
Os que criticam as contínuas dissensões entre os aristocratas e o povo parecem
desaprovar justamente as causas que asseguraram fosse conservada a liberdade de
Roma, prestando mais atenção aos gritos e rumores provocados por tais dissensões
do que aos seus efeitos salutares. Não querem perceber que há em todos os governos
duas fontes de oposição: os interesses do povo e os da classe aristocratica. Todas as
leis para proteger a liberdade nascem da sua desunião ... (...) Não se pode de forma
alguma acusar de desordem uma república que deu tantos exemplos de virtude, pois
os bons exemplos nascem da boa educação, a boa educação das boas leis e estas da
desordem que quase todos condenam irrefletidamente.2
Neste sentido, Maquiavel, a violência distingue-se do conflito, que está na raíz das
relações de poder: a violência é entendida como o uso da força bruta no que refere ao conflito
ou o dissenso, que são gerados pelo antagonismo de classes e, embora sejam desaprovados
pela comunidade gerando outras influências e pelo reflexo que provocam, são salutares na
política e precisam ser analisados por seus efeitos benéficos já que, do confronto e da
1
Na cidade de Florença nos anos de 1513 e 1514 é escrita a obra que inaugura o pensamento político moderno
chamado O PRÍNCIPE de Maquiavel. Sendo considerada uma obra demolidora e revolucionária pelo movimento
medieval e renascentista que operam no mundo cristão.
2
MAQUIAVEL, N., Comentários sobre a primeira década de Tito Lívio. (Livro I, cap. 4) Brasília; UnB, 1982,
p. 31.
8293
desunião, nascem as leis vigentes3. Assim, uma gestão governamental não é apenas aquele
que tem bons propósitos, mas que reconhece a realidade do conflito e sabe agir no sentido da
construção de uma ordem social e política. Logo, o dissenso aponta a representação das
opiniões divergentes, isto é, apresenta-se como um instante valoroso na instituição política; a
violência, ao contrário, é a força que reprime e emudece, isto é, é a força que anula o outro ao
impor-se como a verdade. A violência seria o mecanismo dos poderosos que detém o poder e
que pressupõe defender e ampliar suas posses; o conflito é portanto o meio que viabiliza a
expressão e a construção do espaço público, beneficiando os que, nas relações de poder,
desejam não apenas ser oprimidos neste processo.
Maquiavel, porém, não descaracteriza a violência como procedimento basta apontar
nos escritos sobre Cesar Bórgia4 ou Castruccio Castracani.5 O uso da força em estratégias de
poder depende, assim na perspectiva de Maquiavel, da compreensão que se tenha do poder e
da forma como se relacione meios e fins.Portanto, os fins justificam os meios, não se pode
empregar qualquer meio para alcançar um fim, mas sim os meios que possibilitam consolidar
o objetivo proposto. -"Os fins justificam os meios"- seja tão mal interpretada.
Mas para entender Maquiavel em seu real contexto, é necessário conhecer o período
histórico que viveu, no sentido de entender todo contexto social. O fim ou o objetivo não
existe em si e logo se constrói nas escolhas e na concretização das ações, isto é, depende dos
meios e é evidente, em Maquiavel, que da escolha dos meios não estão excluídos os meios
violentos. É a coerência entre meios e fins que possibilita a construção de uma política
permeada pela ética e também geradora da liberdade.
O discurso moderno sobre a política produziu-se, no escrito de Maquiavel, um discurso
que, ao invade ao mesmo tempo que condena a violência marcante e seu caráter destruidor,
demonstra a sua relação intrínseca às novas estruturas de poder e o seu papel renovador na
construção de formas mais elaboradas de vida política: o Estado moderno, ao gerir as forças e
os interesses contrapostos, cria as condições de vivência da liberdade e os mecanismos de
garantia da paz.
Na modernidade, percebe-se a violência inserida à natureza do poder na forma
institucionalizada do Estado. Hegel apontou o duplo movimento pelo qual a violência move a
3
Segundo, Schlesener, “as leis não representavam a garantia de defesa dos cidadãos, mas eram um instrumento
de dominação e repressão, serviam para submeter às classes subalternas à ordem.(2002,p.24)
4
César Bórgia tornou-se modelo para o livro O Príncipe, de Maquiavel. Calculista e violento, tentou, com o
apoio do pai, constituir um principado na Romanha em 1501.
5
, Castruccio Castracani foi expulso de Lucca em 1300 ao lado dos negros, liderada por Bonturo dados.
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história que, enquanto processo, constitui-se no esforço em superar ou mesmo em eliminar a
violência. No âmbito político, é no sentido de controlar a violência que o Estado e o direito
atuam: se uma violência pode ser anulada com outra violência, a força exercida no contexto
jurídico legitima-se.6
A questão posta por Hegel assume novas formas no pensamento moderno e a teoria de
Marx, ainda entendendo a violência como motor da história, acentua que o caracteriza
violento das relações políticas resulta de uma violência mais radical que se caracteriza pela
exploração do homem e sua transformação em mercadoria. Os escritos de Marx nos seus
escritos: Manuscritos Econômico-Filosóficos, O Capital e A Ideologia Alemã, principais
textos voltados ao esclarecimento do conceito de trabalho e do processo de auto-alienação
do(a) trabalhador(a) a partir da análise do modo como se organizam as relações de trabalho e
se produzem os valores (de uso e de troca) no interior do modo de produção capitalista.
Para ilustrar, as questões mencionadas, partiremos dos escritos de Antonio Gramsci,
que possibilitará uma discussão ampla sobre a hegemonia e a violência no contexto escolar.
A Leitura De Gramsci Como Uma Possível Saída Contra A Violência Escolar, Instalada
Nas Escolas Públicas Brasileiras.
A leitura dos escritos de Antonio Gramsci poderá representar aos profissionais da
educação subsídios teóricos para possíveis reflexões sobre a educação em determinado
momento da história da educação brasileira. Hoje essa leitura ainda apresenta elementos
essenciais para o debate, principalmente ante a necessidade de apontar a hegemonia que
impera no âmbito educacional escolar. Revitalizar o sistema escolar no sentido de tornálo.um “instrumento para elaborar os intelectuais de diversos níveis.” (GRAMSCI,1995, p.9),
eis uma proposta que poderia ser construída a partir dos pressupostos teóricos gramscianos.
Para compreender, a dinâmica escolar, as obras de Gramsci desencadeiam momentos
de reflexão e de pensar a realidade das instituições, o que contribuiu para uma análise
aprofundada de perspectiva coletiva na superação das idéias de mercado, impostas pelo
Estado, que invade as instituições escolares, descaracterizando o seu papel social.
6
HEGEL, F. Princípios da Filosofia do Direito. Lisboa: Guimarães Ed.,1986, p. 87.
8295
(...) certos textos de Gramsci onde se afirmava que para o trabalho era preciso uma
escola que ensinasse a ser livre; ou que a escola devia ser escola e a fábrica,
ironizando certas “conexões” artificiosas ou grotescas entre as duas; ou quando,
ainda, criticava-se o ensino politécnico e o tecnológico por estarem centrados no
instrumento de trabalho (empiricamente entendido) e não como momento histórico
do homem em busca de sua libertação. (NOSELLA,1992,p.07)
O autor Nosella analisa o papel da escola que possibilita algumas indagações: Como
refletir sobre as mudanças necessárias no âmbito escolar brasileiro? Quais as implicações
pedagógicas que invadem o contexto escolar?Entende-se que as transformações no sistema
escolar implicam o debate e a realização de um novo projeto de sociedade e de escola.
Recorre-se aqui a alguns pressupostos gramscianos, sempre tendo em conta os limites postos
pela comparação de duas realidades diversas: a italiana e a brasileira. Neste sentido, resgatar a
concepção de Gramsci sobre a educação, é preciso rever os significado real das instituições
escolares para elevação cultural das massas e sua importância no processo geral da luta
hegemônica.
Isso consiste em elaborar uma filosofia que, partindo do “senso comum” e ligada à vida
prática das massas, mesmo que de forma implícita, tenha possibilidade de difusão, tornandose um sendo comum renovado. Os professores-intelectuais possuem a tarefa de combater as
ideologias ortodoxas da instituição escolar. Porém, o desenvolvimento desse grupo de
intelectuais é gradativo, mas constante, pois segundo (GRAMSCI, 1995, p.107):
(...) criar um grupo de intelectuais independentes não é tarefa fácil, exigindo ao
longo do processo, com ações e reações, com adesões e dissoluções, com novas
formações muito numerosas e complexas; ela é a concepção de um grupo social
subalterno, sem iniciativa histórica, que se amplia continuamente, mas de maneira
desorgânica e sem poder ultrapassar um certo degrau qualitativo, que está sempre
aquém da possessão do Estado, do exercício real da hegemonia sobre toda a
sociedade, hegemonia que é a única a permitir um certo equilíbrio orgânico no
desenvolvimento do grupo intelectual.
Portanto, evidenciar a contribuição de Gramsci seria destacar a hegemonia exercida por
uma classe social dominante, no decorrer de um momento histórico. Entender a hegemonia
seria um trabalho profundo e significativo de análise da dominação na sociedade capitalista,
logo para Gramsci sua perspectiva seria de transformação da sociedade, e não da
reprodução.Assim para mudar a hegemonia e como pode o proletariado estabelecer sua
8296
hegemonia sobre as outras classes subalternas da sociedade, pois a constituição de uma visão
de mundo coerente e homogênea, que consegue alianças, é importante para a classe
trabalhadora possa abalar a hegemonia burguesa e conquistar sua hegemonia ideológica antes
da tomada do poder. Segundo o pressuposto apontado, os intelectuais professores tomassem
consciência de sua função histórica na educação, compreenderiam o processo do desejo à
ação educativa.
A reconstrução da escola, não mais uma escola para a classe burguesa e outra
destinada à classe trabalhadora, porém um projeto consolidado para escola unitária. Isto quer
dizer, a escola unitária é importante na medida em que impede a dualização do homem, desde
o inicio de sua educação, além de ser uma escola que trabalha desde cedo os valores humanos
do novo homem. Portanto, projeto implica a mobilização da sociedade civil na discussão e
construção uma escola que atenda aos seus interesses próprios.
Para entender, as problemáticas vivenciadas no contexto escolar, é preciso entender o
conceito de escola unitária na perspectiva de Gramsci que subsidiará o trabalho evitando a
entrada da violência.
A Escola Unitária De Gramsci Como Resposta De Pratica Educativa Ao Aparecimento
Da Violência Escolar.
No conceito de escola unitária de Gramsci é necessário que existisse por trás dessa
vontade de educar, um Estado que garanta a todos os alunos um acesso igualitário à educação.
A crítica de Gramsci à escola burguesa está implícita na própria formulação da escola
unitária:
Ao lado do tipo de escola que poderíamos chamar de “humanista” (e que é o tipo
tradicional mais antigo) destinada a desenvolver em cada indivíduo humano a
cultura geral ainda indiferenciada, o poder fundamental de pensar e de saber
orientar-se na vida, foi se criando paulatinamente todo um sistema de escolas
particulares de diferentes níveis, para inteiros ramos profissionais ou para profissões
já especializadas e indicadas mediante uma precisa especificação. (GRAMSCI,
2001, p. 32).
A intenção de Gramsci com relação à escola unitária, ao realizar essa crítica sobre o
sistema educacional das escolas profissionais e clássicas italianas, era tentar realmente
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preparar cada aluno, mesmo que potencialmente, para ser um dirigente na sociedade. Assim, a
escola unitária ”era uma escola de cultura geral, uma escola humanista. Não o humanismo
tradicional e sim num sentido amplo, da relação do homem com a natureza, mediada pelo
trabalho teórico e prático, intelectual e manual”. (SOARES, 2000, p. 422)
É nesse sentido que a escola unitária de Gramsci torna-se uma proposta inovadora e
que desafia a violência escolar, uma vez que entende a realidade educacional no contexto das
relações de hegemonia, ou seja, permite que os alunos construam a sua hegemonia
independente da classe social em que se originam. Gramsci, com a escola unitária faz uma
crítica à estrutura vigente da educação, de um lado a escola clássica e de outro a escola
profissional, como se fosse possível dividir os alunos apenas organizando-os em grupos. O
que permite conscientizar os trabalhadores dos problemas da escola, principalmente os
problemas de divisão de classe social. Gramsci faz uma crítica voraz em relação a essa
separação escolar por classes sociais:
Pode se dizer aliás, que a crise escolar que hoje se difunde liga-se precisamente ao
fato de que este processo de diferenciação e particularização ocorre de modo
caótico, sem princípios claros e precisos, sem um plano bem estudado e
conscientemente estabelecido (GRAMSCI, 2001, p. 33)
Ao propor uma escola unitária, Gramsci reage contra esse dualismo escolar que é
agravante aos alunos, tanto na própria escola quanto na vida futura em sociedade. De acordo
com Soares, o adjetivo “unitária” da escola para Gramsci esta relacionado a um princípio
muito mais amplo, uma vez que é um parâmetro para a análise sobre toda a organização da
cultura em sociedade. Trata-se de um principio de igualdade ou unitário, que era a diretriz
ambicionada por Gramsci para superar conflitos sociais, referindo-se a luta pela unificação
histórica do homem, como uma possibilidade concreta a ser realizada por meio da educação a
partir da escola. (SOARES, 2000, p. 410).
Desse modo, Gramsci condena a escola profissionalizante, o papel do aluno é
preparado para ser a mão de obra da fábrica e dificilmente, ou quase impossível, o dono da
fábrica. Existindo assim na escola uma nítida divisão social que gera uma grande violência
escolar, e que prepararia a formação para manutenção dos alunos das classes trabalhadoras na
sua condição, com acesso somente àquela parte do saber que seria utilizada por eles na
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indústria. Mas, Gramsci também condena a escola tradicional que se dirige aos filhos da
burguesia, e que o conhecimento é repassado de forma integral para os alunos, ou seja, para
prepará-los minuciosamente para serem os futuros intelectuais, os dirigentes do Estado. Nas
próprias palavras de Gramsci:
A divisão fundamental da escola em clássica e profissional era esquema racional:
escola profissional destinava-se às classes instrumentais, enquanto a clássica
destinava-se às classes dominantes e aos intelectuais... o que pôs em discussão o
próprio principio da orientação concreta de cultura geral, da orientação humanista da
cultura geral fundada na tradição greco-romana. (GRAMSCI, 2001, p. 33)
O novo conceito da escola unitária de Gramsci apresenta a escola pronta para superar
esse dualismo educacional, porque têm condições de fornecer aos alunos, sem tentar adivinhar
qual a sua profissão, se estudos universitários ou ramo na indústria, o mesmo conhecimento,
como para qualquer outro aluno neste Estado. O que impede o aparecimento de uma divisão
de classe na escola, e da própria violência escolar. Neste sentido, poder entender a afirmação
de Gramsci sobre o conceito dessa escola unitária:
A escola única inicial de cultura geral, humanista, formativa, que equilibre de modo
justo o desenvolvimento da capacidade de trabalhar manualmente (tecnicamente,
industrialmente) e o desenvolvimento das capacidades de trabalho intelectual. Deste
tipo de escola única, através de repetidas experiências de orientação profissional,
passar-se-á a uma das escolas especializadas ou ao trabalho produtivo. (GRAMSCI,
2001, p. 34)
Para Gramsci, é possível ter uma escola com todos os alunos tivessem acesso ao
conhecimento de forma igualitária e justa. Tendo a escola a tarefa de incentivar os seus
professores a elaborarem um método que é bom para todos os alunos independente de sua
origem social. Para ilustrar a autora reforça que:
Para Gramsci os filhos dos operários tinham o direito a realizar sua individualidade
do melhor modo possível e preparar para o futuro. Para tanto, necessitam de uma
escola viva e livre, para que pudessem desenvolver as capacidades necessárias não
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só para o modo produtivo capitalista, mas para uma ação mais eficiente para
coletividade. ( SCHLESENER,2002,p.71)
O pressuposto para a escola unitária é assim uma nova sociedade, na qual todos tem
acesso ao conhecimento verdadeiramente emancipatório, ao recebê-lo integralmente, mesmo
com certa dificuldade inicial para compreendê-lo. Era o que Gramsci pretendia ilustrar “se
quiser criar uma nova camada de intelectuais, chegando as mais altas especializações, a partir
de um grupo social que tradicionalmente não desenvolveu as aptidões adequadas, será preciso
superar enormes dificuldades”. (GRAMSCI, 2001, p. 52) Principalmente dos métodos
escolares de ensinar.
Por isso, Gramsci dividiu em duas fases a escola unitária, sendo que a primeira fase
corresponde ao seguinte:
O nível inicial da escola elementar não deveria ultrapassar três-quatro anos, e ao
lado do ensino das primeiras noções instrumentais... deveria desenvolver sobretudo
a parte relativa aos “direitos e aos deveres” atualmente negligenciados, isto é as
primeiras noções do Estado e da sociedade, enquanto elementos primordiais de uma
nova concepção do mundo que entra em luta contra as concepções determinadas
pelos diversos ambientes sociais tradicionais, ou seja, contra as concepções que
poderíamos chamar de folclóricas . (GRAMSCI, 2001, p. 37)
A primeira atitude nessa fase inicial da escola unitária é a busca pela igualdade da
informação para todos os alunos, para poder transformar gradativamente cada um desses
alunos num intelectual para a sua classe, seja em qual atividade exercesse no futuro. Por isso,
a necessidade de já se preocupar desde agora em desenvolver o espírito crítico. Assim, o
trabalho cultural da escola inicial é desenvolvido, cuidadosamente, uma vez que é isso que
será “concebido como um embrião e uma molécula de toda a estrutura mais maciça”
(GRAMSCI, 2001, p. 42)
A escola unitária tem a incumbência de se preocupar com todas as fases dos alunos,
sem se limitar à sua realidade imediata. Por isso Gramsci também se preocupa com a última
fase escolar. E a última fase da escola unitária é assim caracterizada por Gramsci:
Por isso na escola unitária, a última fase deve ser concebida e organizada como a
fase decisiva, na qual tende a criar os valores fundamentais do “humanismo”, a
8300
autodisciplina intelectual e a autonomia moral necessária a uma superior
especialização, seja ela de caráter cientifico (estudos universitários), seja de caráter
imediatamente prático-produtivo (indústria, burocracia, comércio, etc...) O estudo e
o aprendizado dos métodos criativos na ciência e na vida devem começar nesta
última fase da escola. (GRAMSCI, 2001, p. 39)
Para Gramsci, o comprometimento da escola unitária é com a igualdade democrática
de cada aluno, tanto na escola que possibilite ao aluno sair da escola e entrar no mundo do
trabalho, com a compreensão clara de como funciona o Estado, e a partir daí, com base para
continuar exercer suas atividades criadoras pelo resto de sua vida em sociedade. E isto com
certeza impede o aparecimento da violência escolar, porque faz com que a escola não divida
os alunos em classes sociais tornando-os em vez de igualitários rivais desde a escola.
Mas, para isso Gramsci enfatiza que “a organização acadêmica deverá ser
reorganizada e vivificada de alto a baixo ... integrando o trabalho acadêmico tradicional por
meio de atividades contextualizadas à vida coletiva, ao mundo da produção e do trabalho”. É
na verdade uma nova forma de ver a organização cultural existente, que se elimina a
separação entre o trabalho acadêmico e o mundo da produção, mas tenta unificá-los. Para isso
“será construído um mecanismo para selecionar e desenvolver as capacidades individuais da
massa popular, que hoje são sacrificadas ... congresso periódicos de diversos níveis fariam
com que os mais capazes fossem conhecidos”. (GRAMSCI, 2001, p. 41)
E Gramsci salienta ainda que, para isso acontecer, primeiro a escola tem que entender
que o estudo era um trabalho muito cansativo “com um tirocínio particular próprio, e também
muscular nervoso, é um processo de adaptação, é um hábito adquirido com muito esforço”.
(GRAMSCI, 2001, p. 51) Assim, essa escola deverá estimular os alunos a acreditarem nas
suas possibilidades e nas condições de acesso a um conhecimento humanístico geral,
indiferentemente do que eles almejassem para sua carreira. Nesse contexto, salienta a
importância de um adequado currículo escolar:
Um ponto importante, no estudo da organização prática da escola unitária, é o que
diz respeito ao currículo escolar em seus vários níveis, de acordo com a idade e com
o desenvolvimento intelectual moral dos alunos e com os fins que a própria escola
pretende alcançar. A escola unitária ou de formação humanista ... ou de cultura
geral, deveria assumir a tarefa de inserir os jovens na atividade social, depois de têlos elevado a um certo grau de maturidade e capacidade para a criação intelectual e
prática e a uma certa autonomia na orientação e na iniciativa. (GRAMSCI, 2001, p.
36)
8301
Assim, o currículo escolar para a escola unitária é uma ferramenta pedagógica
fundamental, o mesmo deve acontecer com a escola brasileira tradicional se ela quiser ser
uma escola unitária. O currículo deve visar o que a escola pretende alcançar com seu processo
educacional, no nosso caso impedir o aparecimento da violência escolar por meio da união e
não da separação dos alunos em classes sociais totalmente diferentes. Assim, na escola
unitária, o currículo esta assumindo a tarefa de inserir os jovens alunos na atividade social, de
acordo com a idade e os vários níveis de desenvolvimento cultural e moral de cada um deles.
A escola unitária, segundo Soares, visa a dar aos filhos dos trabalhadores e
camponeses, a oportunidade objetiva por esse método de difusão do conhecimento, para uma
orientação didática concreta, entendendo que aquisição de conceitos é um exercício
metodológico penoso. Para essa escola se torna necessário reforçar o seu papel educativo,
para evitar deixar essas crianças entregues as forças espontâneas, que não se sabia qual seu
interesse real. (SOARES, 2000, p. 429) Dando mais ênfase a essa tarefa da escola unitária
preocupada com a aprendizagem dos filhos dos trabalhadores, Gramsci explica que nesta
escola unitária, quem reforçava esse papel educativo da escola era o professor:
O nexo instrução-educação somente pode ser representado pelo trabalho vivo do
professor, na medida em que o professor é consciente dos contrastes entre o tipo de
sociedade e cultura que ele representa e o tipo de sociedade e de cultura
representado pelos alunos; e é também consciente de sua tarefa, que consiste em
acelerar e disciplinar a formação da criança conforme o tipo superior em luta com o
tipo inferior. (GRAMSCI, 2001, p. 44)
O professor da escola unitária deve estimular nos seus alunos a disciplina pela busca
de uma formação superior, mesmo que o aluno ainda estiver num tipo de cultura diferente.
Nesse sentido se poderia criar uma relação ativa entre educador e educando. Esta realidade
impede o aparecimento do professor medíocre que consegue fazer “os alunos se tornarem
mais instruídos, mas não conseguira que sejam mais cultos; ele desenvolverá, com escrúpulos
e consciência burocrática, a parte mecânica da escola, e o aluno se for um cérebro ativo,
organizará ... a “bagagem” acumulada”. (GRAMSCI, 2001, p. 45)
Parafraseado, Soares, aponta que Gramsci retira da escola o ambiente escolástico e a
insere na dimensão mais ampla do exercício da hegemonia. Por outro lado, o educador é
8302
formado pela combinação dos elementos filosóficos que através de sua atividade política
reage sobre a sociedade. Com essa atitude, o educador consegue modificar a maneira de
pensar, sentir e agir do maior número possível de pessoas, entre eles o educando. Assim,
nessa realidade educacional da escola unitária a relação entre educador e educando torna-se
uma relação ativa (SOARES, 2000, p. 440), o que impede o aparecimento da violência
escolar, porque não se tem presente neste tipo de escola unitária a divisão social dos alunos
em classes sociais antagônicas, de um lado os filhos da burguesia e de outro lado os filhos da
classe trabalhadora, os futuros operários das fábricas.
Considerações Finais
Assim, Gramsci vai na contramão da realidade elitista de escola publica atual que gera
a violência escolar, e exige uma completa reforma no modelo escolar para ter uma nova
perspectiva sobre as suas atividades realizadas diariamente. Ao cumprir essa exigência da
escola unitária de Gramsci a escola pública atual estará impedindo o aparecimento da
violência escolar, porque ela esta sendo uma escola unitária que oferece um conhecimento
igual para todos os alunos, independente de sua origem social ou de seu futuro profissional
em sociedade. Na verdade a escola pública atual ao tornar-se unitária, ela esta
automaticamente, além de impedir o aparecimento da violência escola, sendo uma nova
pratica educativa para as escolas públicas.
Ao partir dessa análise do conceito de escola unitária, o aluno e toda a comunidade
escolar, tomam consciência que é preciso mudar o conceito da própria aprendizagem, onde os
alunos passam a ser vistos agora como agentes transformadores. A escola torna-se a principal
instituição a colaborar com esses alunos para realizar esse processo, ao jamais querer vê-los
como um recipiente a ser preenchido por dados desconexos.
REFERÊNCIAS
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8303
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SOARES, R. D. Gramsci, o Estado e a escola. Ijui: Unijui, 2000.
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