Projeto Pós-graduação Curso Saúde Pública com Ênfase em Saúde da Família Disciplina Família, Saúde e Sociedade Tema Família, Políticas e Saúde Professor Cristiano Caveião Introdução Ninguém vive sozinho. As relações sociais são essenciais para uma vida saudável, não é mesmo? E o primeiro local de integração de qualquer ser humano é a família, que vem se adaptando às mais variadas mudanças sociais. O modelo “ideal” (constituído pelo pai, pela mãe e pelos filhos) foi substituído pelas mais diversas combinações, que precisam ser encaradas com naturalidade pelo profissional de saúde, a fim de que o atendimento seja completo e direcionado. A partir de agora, vamos entender um pouco mais o conceito de “família”, analisando as mudanças que ela sofreu e as políticas públicas que a regem. Bons estudos! Para iniciar nossos estudos, acesse o material on-line e assista à videoaula do professor Cristiano. Ele vai mostrar os conteúdos que serão trabalhados neste tema. Problematização O professor Cristiano vai apresentar a seguir uma situação problema para que você analise. Ao final, ele vai fazer um questionamento que você deverá responder depois de finalizar o estudo deste tema! Por isso, fique atento aos conteúdos! 1 CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico Imagine que você assumiu uma vaga em um concurso público que fez para a Estratégia da Saúde da Família, em uma cidade do interior de um estado. Esta unidade possui somente dois meses de funcionamento e está localizada na periferia da cidade, em uma área de extrema pobreza, onde grande parte da população sobrevive com renda informal e com os programas do governo. A população ainda não está adaptada ao serviço, e nem a equipe está adaptada à população. Nesse quadro, considera-se que as famílias estão em situação de vulnerabilidade, mesmo sabendo que existem diversas políticas que regem a família na atualidade e mesmo ela fazendo parte da proteção social do Estado, que coloca a família como eixo estruturante. Depois de conhecer um pouco a população, você realiza sua primeira visita domiciliar a uma família de nove pessoas que reside ao lado do trilho do trem. O teto da residência é uma ponte que interliga um lado ao outro do bairro. O casal tem o primeiro grau completo e ambos trabalham com catadores de papel. Eles possuem 6 filhos, sendo 2 homens de 14 e 21 anos. O mais velho tem uma namorada adolescente de 13 anos que está grávida de seis meses. Já as filhas meninas têm 13, 10, 3 e 4 anos. Ninguém frequenta a escola e o sustento da família é retirado da venda de papel realizada diariamente pelo casal. Os filhos homens fazem “bico” de “chapa” quando conseguem, e as meninas pedem dinheiro nos semáforos no centro da cidade. As condições de higiene são precárias, pois não possuem água tratada nem esgoto. A água que bebem é proveniente do riacho. Durante sua observação, você percebe que todos os integrantes estão magros, inclusive a gestante que não está realizando o pré-natal. A mãe da família, a senhora Maria, relata que antes de morarem neste local, eles possuíam uma casa em um bairro próximo, e tanto ela como o seu esposo trabalhavam em uma indústria como auxiliares de serviços gerais durante dez anos. Porém, a indústria passou por uma crise muito grande e acabou falindo. Como ficaram desempregados, e não conseguiram manter o mesmo padrão de 2 CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico vida, foram obrigados a se mudar para o local onde vivem atualmente. O filho mais velho está envolvido com drogas e a filha mais nova apresenta uma síndrome desconhecida, além de ter diabetes e hipertensão. A dona Maria ainda reclama que, até agora, a Unidade de Saúde não fez nada por ela, mesmo tendo recebido diversas visitas nos últimos dois meses. Ao perguntar à mulher o que ela espera que a Unidade de Saúde faça pela sua família, ela responde que eles precisam ter melhores condições de moradia, receber tratamento para curar as doenças e uma ajuda para o filho drogado. Diante desta situação, o que fazer? Qual conduta deve ser tomada? Não responda agora. Vamos voltar ao conteúdo teórico do nosso tema e, ao final, retomaremos a nossa história e apresentaremos as possibilidades de solução para o problema. A Família e as Políticas Públicas Existem várias dimensões das relações entre a família e as políticas públicas. Iremos discutir algumas delas, lembrando que a família é relevante como âmbito privado, para a esfera pública. Segundo Pereira (2009, p. 29), a instituição familiar sempre fez parte integral dos arranjos de proteção social, e os governos brasileiros sempre se beneficiaram da participação autonomizada e voluntarista da família na provisão do bem-estar de seus membros. Portanto, não é novidade a participação da família nas políticas públicas, porém é preciso analisar o novo papel que está sendo atribuído a ela. Se antes a mulher participava através do cuidado aos dependentes e da reprodução de atividades domésticas não remuneradas (PEREIRA, 2009), hoje ela é considerada a centralidade nas políticas públicas, como na saúde, educação e assistência social. Dessa forma, a família passou a ser um eixo estruturante para a gestão do Sistema Único de Assistência Social (SUAS): a matricialidade sociofamiliar. 3 CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico Para entender o que é matricialidade sociofamiliar, acesse o material online e assista à videoaula do professor Cristiano! A questão social vem se agravando desde a década de 1980, quando houve um crescimento da riqueza em uma pequena parte da população e aumento da pobreza da maioria da sociedade. Com o desenvolvimento, intensificaram-se a miséria, o desemprego, as doenças e a violência, que foram se instaurando no campo e nas cidades, exigindo do poder público ações que pudessem resolver esses “problemas sociais”. Essa dimensão diz respeito ao fato de que o exercício vital das famílias é semelhante às funções das políticas sociais: ambas visam dar conta da reprodução e da proteção social dos grupos que estão sob sua tutela. Se, nas comunidades tradicionais, a família se ocupava quase exclusivamente destas funções, nas comunidades contemporâneas elas são compartilhadas com o Estado pela via das políticas públicas. A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (reconhecida como a “constituição cidadã”) avançou ao inserir o princípio da universalidade dos serviços sociais (saúde, educação, habitação, assistência social). Ou seja, ao invés do caráter universal preconizado na carta magna1 temos políticas pautadas na focalização, privatização e participação da sociedade no financiamento e execução de programas e serviços para a população mais vulnerável. Esses critérios implicam acentuação de um processo progressivo de penalização das famílias, que ganham visibilidade de inúmeras formas, tanto no plano da formulação das políticas sociais como na sua gestão. Quer um exemplo? Quando o Estado orienta os gastos públicos para os grupos vulneráveis, e consequentemente descuida da prestação dos serviços universais, ocasiona 1 Disponível em: http://www.rolim.com.br/2002/_pdfs/068.pdf. Acesso em: 24 jul. 2014. 4 CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico uma rede de serviços públicos insuficientes para a cobertura das demandas e necessidades das famílias. Essa atitude atinge tanto a população reconhecida como pobre, excluída e vulnerável (merecedora, portanto, da atenção pública) como aquela que, embora não preencha esses requisitos para acessar determinadas políticas ou programas estatais, não dispõe dos recursos para a compra de serviços no mercado, ficando desta forma cada vez mais exposta aos riscos, à deterioração de suas condições de vida e à diminuição de sua capacidade protetiva (MIOTO; SILVA; SILVA; 2007). O Estado e a família desempenham papéis similares, em seus respectivos âmbitos de atuação: regulam, normatizam, impõem direitos de propriedade e poder, além dos deveres de proteção e assistência. Tanto a família quanto o Estado funcionam de modo similar, como filtros redistributivos de bem-estar, trabalho e recursos (ACOSTA, 2010). Assim, na atualidade, a família passou a ser considerada um foco de atenção fundamental para a efetivação de políticas sociais. Ela sempre ganha destaque no discurso e em estratégias de intervenção da política de atendimento à criança, ao adolescente, ao idoso e à pessoa com deficiência, por meio de programas de trabalho e renda, de educação, de saúde, de assistência social, de ação antidrogas, de transferência de renda etc. Segundo Pereira (2004), a família vem sendo redescoberta como um importante agente privado de proteção social, de forma que quase todas as agendas governamentais preveem medidas de apoio familiar. Frente a esta situação para o enfrentamento da pobreza, o Estado criou alguns programas de renda mínima ou de transferências condicionadas de renda (Bolsa Escola, Bolsa Família, Auxílio Gás, Bolsa Alimentação e Cartão Alimentação), caracterizados pelo repasse monetário do Estado para as famílias em situação de vulnerabilidade. O Bolsa Família foi a unificação e ampliação de vários programas sociais que beneficiavam a população e eram vinculados por administrações burocráticas diferentes. 5 CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico Quais os requisitos necessários para receber um benefício do governo? E quais os critérios usados por quem decide a respeito disso? Clique no link a seguir, leia o artigo intitulado “Fluxos decisórios na formulação das condicionalidades de saúde do programa bolsa família” e entenda! http://dx.doi.org/10.1590/S0104-12902012000200021 Diante deste contexto, a família passa a ser agente de proteção social, fazendo parte das dimensões políticas do Estado (PEREIRA, 2009). Os programas de transferência condicionada de renda são colocados como políticas públicas para que se possa assegurar aos que estão em situação de vulnerabilidade a assistência social que o Estado deveria garantir segundo a Constituição Federal. Com isso acarreta focalização, privatização e desigualdade de gênero, reforçada pelos papéis tradicionalmente definidos para os homens e as mulheres: O incremento da ideia da família como centro de proteção e com ela o amplo desenvolvimento do voluntariado, das entidades não governamentais e o delineamento de novas profissões no interior das políticas sociais, inclusive nas públicas, vai favorecer não só a reativação exponencial da ideia liberal da responsabilidade da família em relação ao bem-estar, como também a reativação das práticas disciplinadoras tão comuns nos séculos anteriores, principalmente em relação às famílias pobres (MIOTO, 2009, p. 141). A Política Nacional de Assistência (PNAS, 2004) e a Norma Operacional Básica (NOB/SUAS, 2005) definem “família” como a centralidade na política de assistência. Veja mais informações a respeito de cada um desses documentos a seguir: Política Nacional de Assistência (PNAS) A PNAS de 2004 coloca em suas diretrizes a centralidade na família para concepção e implementação dos benefícios, serviços, programas e projetos que objetivam assegurar que as ações no âmbito da assistência social tenham a centralidade na família e que possam garantir a convivência familiar e 6 CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico comunitária. Para a PNAS, a família favorece um papel fundamental para a matricialidade sociofamiliar, que: Está ancorada na premissa de que a centralidade da família e a superação da focalização, no âmbito da Política de Assistência Social, repousam no pressuposto de que para a família prevenir, proteger, promover e incluir seus membros é necessário, em primeiro lugar, garantir condições de sustentabilidade para tal. Nesse sentido, a formulação da política de Assistência Social é pautada nas necessidades das famílias, seus membros e dos indivíduos (PNAS, 2004, p. 41). Norma Operacional Básica (NOB/SUAS) A NOB/SUAS, de 2005, destaca que a proteção de assistência social e o princípio de matricialidade sociofamiliar devem ser considerados através da família como núcleo social básico de acolhida, convívio, autonomia, sustentabilidade e protagonismo social. Passa a valorizar, dessa forma, a família, responsabilizando-a pelo bem-estar social dos seus membros. Diante disso, o Estado assume a ideia de que: A família deve ser apoiada e ter acesso a condições para responder ao seu papel no sustento, na guarda e na educação de suas crianças e adolescentes, bem como na proteção de seus idosos e portadores de deficiência (NOB/SUAS, 2005, p. 89). Existem diversas formas de abordagem entre a família e as políticas. Medeiros (2000) destaca três pontos: Tomar a família como objeto das políticas sociais: as políticas podem ser compreendidas como meios para se obter determinados perfis ou padrões familiares, como é o caso do controle de natalidade. Tratar as famílias como instrumento das políticas sociais: nesta situação, cabe à família um papel funcional na execução das políticas, como o de acompanhar o trabalho de cuidadores de saúde de idosos em uma internação doméstica apoiada pelo Estado. 7 CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico Entender a família como instituição redistributiva: dessa forma, entende-se que a dinâmica intrafamiliar pode criar efeitos inesperados para as políticas orientadas aos indivíduos. Ao formular e implementar as políticas públicas que são destinadas às famílias, é necessário levar em consideração o perfil dos diferentes grupos familiares. Destacam-se alguns parâmetros que precisam ser respeitados em relação à composição familiar, tomando como base a unidade doméstica (FONSECA, 2006): Composição familiar: famílias monoparentais, biparentais, compostas por várias gerações e as ampliadas (além de pai, mãe e filhos há outros integrantes); Ciclo familiar: toma-se como critério a idade do filho mais velho morando com os pais, analisando as unidades com filhos pequenos, com filhos adolescentes, com filhos adultos e as unidades sem filho; Tipo de chefia da família: se masculina ou feminina. Segundo Acosta (2010), nas famílias que cumprem sem rupturas o ciclo da vida familiar, o pai/marido tem papel central em uma relação complementar e hierárquica com a mulher, concentrada no núcleo conjugal, ainda que esta situação não exclua a transferência de atribuições à rede mais ampla, em particular quando a mãe trabalha fora. Nas famílias que são desfeitas e refeitas, os arranjos deslocam-se mais intensamente do núcleo conjugal/doméstico para a rede mais ampla, sobretudo para a família consanguínea da mulher. Existem inúmeras composições familiares hoje em dia, não é mesmo? Existem famílias sem pai, sem mãe, formada por mãe e avó ou mesmo por dois pais ou duas mães! Acesse o material on-line, assista à videoaula do professor Cristiano e entenda melhor os três parâmetros usados para definição da 8 CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico composição familiar. A raça é a outra variável significativa na vivência da desigualdade no que tange a estrutura e organização do grupo familiar no país. Outros aspectos da exclusão social dos grupos familiares são o analfabetismo e o trabalho infantil, este último considerado um forte obstáculo para a escolarização universal, sendo a principal causa das crianças de 10 a 14 anos não estarem na escola, pois precisam trabalhar para ampliar o orçamento doméstico. A exclusão econômica dos pais gera a exclusão social dos filhos. A sociedade urbana carece da família. Não se fala do grupo familiar nos moldes tradicionais e sim como ela se apresenta hoje. A família como expressão máxima de vida privada é percebida como nicho afetivo e de relações necessárias à socialização dos indivíduos, que assim desenvolvem o sentido de pertencer a um campo de relações que iram incluí-los na vida em sociedade. Os processos sociais de inclusão e exclusão social permitem retomar indiretamente a família como condição de inclusão. Ou seja, se o indivíduo possui trabalho e vínculos sociofamiliares encontra-se potencialmente incluído na rede de integração social. Por outro lado, existem as zonas de vulnerabilidade, na qual o cidadão acaba se inserindo quando falta o trabalho ou os vínculos, por exemplo, o que pode gerar um processo de desfiliação social (CASTELS, 2000). Mas o que quer dizer “desfiliação social”? Esse termo foi criado por Castel para identificar os indivíduos totalmente desatendidos pelo Estado. Clique no link a seguir para ler o artigo “Estado do bem-estar social e desfiliação social” e ter mais informações. http://dx.doi.org/10.5007/2175-7984.2013v12n24p145 A fragilidade da família ajuda a explicar a frequência de rupturas 9 CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico conjugais, diante de tantas expectativas não cumpridas. O homem se sente fracassado, e a mulher se depara com chances de evoluir financeira ou socialmente caso o casamento deixe de existir. Se a vulnerabilidade feminina está em ter sua relação com o mundo externo mediada pelo homem, consequentemente o lugar dele na família passa a ser como o de trabalhador/provedor, tornando-o vulnerável também, porque o que faz dependente de condições externas cujas determinações escapam do seu controle. Cumprir o papel de provedor do lar (comumente ocupado pelo homem) não é necessariamente um problema para a mulher, que já está acostumada a trabalhar. Para ela, o problema apresenta-se em manter o respeito que é conferido à presença masculina. A família propicia convivência vicinal mesmo em grandes cidades. Ela cria e fortalece coesões microcomunitárias. O grupo familiar constitui a condição objetiva e subjetiva de pertença, que não pode ser descartada quando se projetam processos de inclusão social. Sua importância na esfera pública ainda suscita desconfianças, mas é fato que a família, em sua condição de esfera de vida íntima, lugar de encontro humano, de construção de história de vida, de reposição de valores e exercício de poder moral sobre o imediato é a interface necessária na esfera pública. Características da Família Moderna: Gênero e Sexo Ao tratar da família nas políticas públicas, é fundamental refletir sobre o conceito desse termo, analisando as variações culturais, temporais e sociais que influenciam sua definição. Qualquer definição de família despertaria inúmeras dúvidas e controvérsias, já que é muito afetada pelos valores sociais associados às religiões, aos paradigmas jurídicos, à construção social de gênero, aos parâmetros culturais da vivência da sexualidade, entre outros fatores determinados como condicionantes. Por sua vez, as políticas sociais, quando dirigidas para as famílias, são formuladas e executadas sob múltiplas abordagens e lógicas. 10 CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico Pensar em família como uma realidade que se constitui pelo discurso sobre si própria, internalizado pelos sujeitos, é uma forma de buscar uma definição que não se antecipe a sua própria realidade, mas que permita pensar como ela se constrói. Não é possível falar em família, mas sim em famílias, que se organizam sob formas e lógicas diferenciadas, segundo as suas necessidades, representações e dinâmicas, entre outras variáveis que são peculiares nos diversos grupos e segmentos sociais. As famílias possuem significados e são vividas de diversas maneiras por indivíduos de distinto sexo, idade e classe social. Esses traços que dão visibilidade à construção da história da família, apresentada de forma descontinuada, não linear, não homogênea e com padrões distintos, já que cada uma tem sua própria história e suas próprias explicações (ACOSTA, 2010). Esta variação de conceitos se relaciona nas significações que são dadas aos papéis familiares, como a maternidade, a paternidade e a filiação, nas particularidades da vivência dos ciclos de vida e na valorização das trajetórias individuais de seus integrantes. Existe no universo familiar diversos modos particulares de organização, que afetam a vivência de crenças, valores e das relação com os recursos sociais e políticos. Ao propor um olhar atento aos aspectos históricos e culturais, busca-se o respeito para as diversas formas de organização familiar. Este cuidado é necessário quando se toma a família como unidade de intervenção nas políticas, em virtude do reconhecimento crescente de que a família pode exercer um papel importante na melhoria das condições de bemestar e dignidade dos cidadãos (ACOSTA, 2010). Os estudos relacionados à família estão separados por três grandes marcos teóricos. Veja cada um deles a seguir: 11 CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico Perspectiva Funcionalista - 1870 Essa primeira vertente reconhece os membros da família a partir da consanguinidade (laços de sangue), considerando a Biologia como referência para definir o que é família. Seus representantes são considerados os “teóricos da descendência”, e o mais importante entre eles foi o estadunidense Lewis Henry Morgan. Perspectiva Estruturalista - 1960 A segunda perspectiva tem Lévi-Strauss como principal estudioso. Para os “teóricos da aliança”, a convivência na mesma casa, a aliança e/ou o casamento são os definidores de família. Para Strauss (1972, p. 361), família é o grupo social possuidor de 3 características: (1) tem sua origem no casamento; (2) é constituída pelo marido, pela esposa e pelos filhos provenientes de sua união, embora seja lícito conceber que outros parentes possam encontrar seu lugar próximo ao núcleo do grupo; (3) os membros da família estão unidos entre si por a) laços legais, b) direitos e obrigações econômicas, religiosas ou de outra espécie, c) um conjunto bem definido de direitos e proibições sexuais, e uma quantidade variada e diversificada de sentimentos psicológicos, tais como amor, afeto, respeito, reverência, etc. Perspectiva Pós-Modernista - 1984 A perspectiva pós-modernista se baseia nas críticas de David Murray Schneider à influência da Biologia na definição de família. Ele traz à tona outras questões que estão ligadas às relações sexo X gênero e biologia X cultura. Para ele, as relações de parentesco podem acontecer por laços de sangue e/ou por afinidades adquiridas pelo casamento e/ou por um “código de conduta” apropriado. Segundo ele, algumas pessoas são parentes a despeito de não estarem ligadas por laços de sangue. Esse parentesco flui de um acordo legal (como casamento ou adoção), mas pessoas que não são aparentadas podem ser introduzidas no papel de parentes pela aplicação de um “código de conduta” apropriado, como no caso de um amigo da família que 12 CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico é chamado de “tio” ou “tia” (Schneider, 1984, p. 180-1). Compreende-se que a Biologia vai variar de cultura para cultura podendo ou não ter importância. Ela não é fixa, não é dada, mas faz parte das construções culturais. E o parentesco não é natural e sim social. A lógica etnocêntrica constrói a ideia de que o “sangue é mais denso do que a água”, fundamentando a ideia de parentesco como biológico e natural. Segundo Schneider (1984), é necessário levar em consideração que não existe um “modelo único” ou uma “regra universal” pautada na natureza e no biológico. A influência do pensamento etnocêntrico está presente ainda hoje no conceito dominante de família que influencia desde as políticas públicas até as relações cotidianas de vizinhança. Sob o aspecto etnocêntrico, a família “ideal” é patriarcal, branca, rica e heteronormativa, que tem bem definidos os papéis de gênero (à mulher cabe a função de “cuidadora” e “protetora” dos filhos, do marido e dos demais membros da família; enquanto ao homem é demandada a função de “mantenedor” e “provedor” da prole). Esta construção acompanha as demais fases da vida de homens e mulheres através dos aparelhos ideológicos (igreja, escola, família, mídia, etc.). Na construção da família por duas pessoas de gêneros diferentes, em uma convivência íntima e intensa, podem ser gerados homens e mulheres com as mais variadas concepções, que já tinham sido construídas anteriormente, e que, muitas vezes, estavam enrijecidas pela delimitação do que é papel masculino e o papel feminino, o que pode dificultar a expansão de novos papéis no relacionamento a dois (OLIVEIRA, 2009). É importante salientar que, frente a isso, a categoria gênero é uma ferramenta analítica fundamental para que se compreenda as construções sociais do ser homem e do ser mulher na sociedade. Para Scott (1990, p. 7), “o uso de gênero põe a ênfase sobre todo um sistema de relações que pode incluir o sexo, mas ele não é diretamente 13 CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico determinado pelo sexo, nem determina diretamente a sexualidade”. A diferença sexual nas relações familiares é visível, o que leva a entender que a questão de gênero perpassa por todos os lares. Isso revela o crescimento e a diversidade na relação conjugal, mostrando que os conflitos decorrentes dessas diferenças nem sempre são negativos, podendo exercer um papel importante para o cotidiano familiar. Para Scott (1992, p. 86): Embora os usos sociológicos de “gênero” possam incorporar tônicas funcionalistas ou essencialistas, as feministas escolheram enfatizar as conotações físicas de sexo. Também enfatizaram o aspecto relacionado do gênero: não se pode conceber mulheres, exceto se elas forem definidas em relação aos homens, nem homens, exceto quando eles forem diferenciados das mulheres. Além disso, uma vez que o gênero foi definido como relativo aos contextos social e cultural, foi possível pensar em termos de diferentes sistemas de gênero e nas relações daqueles com outras categorias como raça, classe ou etnia. A palavra “gênero” é designada para definir as diferenças apresentadas entre homens e mulheres e também pode demonstrar que as desigualdades decorrentes dessas diferenças não são determinadas somente pelas diferenças biológicas existentes entre ambos, mas sim pela constituição social definidas através de atribuições da sociedade para homens e mulheres. Como socialmente é definido o papel do homem? E do mulher? Infelizmente, existem estereótipos que influenciam muito, como “mulher precisa saber cozinhar” e “homem precisa trabalhar fora e sustentar a família”. Clique no link a seguir e assista a um vídeo que mostra, de forma bem humorada, algumas dessas diferenças socialmente construídas. Aproveite para refletir: todas elas são verdadeiras? http://www.youtube.com/watch?v=hIfBgCiO0U4 Segundo Scott (1990, p. 14), o conceito de gênero se constrói a partir de duas proposições: O gênero é um elemento constitutivo de relações fundadas sobre as 14 CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico diferenças percebidas sobre os sexos; O gênero é um primeiro modo de dar significado às relações de poder. Portanto, o padrão convencional de relações de gênero é definido de acordo com o contexto social. A definição de gênero é, diversas vezes, confundida com a ideia de sexo, contudo serve para demarcar essa diferença. Enquanto sexo indica uma diferenciação anatômica inscrita no corpo, o gênero indica uma construção social, material e simbólica. Isso proporciona as diferentes transformações de crianças, ao nascerem, em homens e mulheres, em cada época e lugar de diferentes formas. Segundo Scott (2004, p. 2), gênero pode ser definido como: A organização social da diferença sexual. Mas isso não significa que o gênero reflita ou produza diferenças físicas fixas e naturais entre mulheres e homens; mais propriamente, o gênero é o conhecimento que estabelece significados para as diferenças corporais. (…) Não podemos ver as diferenças sexuais a não ser como uma função de nosso conhecimento sobre o corpo, e esse conhecimento não é puro, não pode ser isolado de sua implicação num amplo espectro de contextos discursivos. Portanto, gênero e sexo estão interligados e são construído um pelo outro, sendo que esta construção está pautada no modelo patriarcal de família extensa (ANDRADE, 2002) e fundamenta-se nas representações binárias de masculinidade e feminilidade que de um lado é “permissiva para os homens e repressiva para as mulheres” (SCOTT, 1996, p. 37). Segundo o PNAS (2004, p. 20), a família brasileira tem passado por diversas modificações nos últimos anos: Uma delas refere-se à pessoa de referência da família. Da década passada até 2002 houve um crescimento de 30% da participação da mulher como pessoa de referência da família. Em 1992, elas eram referência para aproximadamente 22% das famílias brasileiras e, em 2002, passaram a ser referência para próximo de 29% das famílias. Esta tendência de crescimento ocorreu de forma diferente entre as regiões do País e foi mais acentuada nas regiões metropolitanas. Em Salvador, 42,2% das famílias tinham na mulher sua referência. Em Belém eram 39,8% e em Recife 37,1%. Entre as grandes regiões, o Norte apresentava a maior proporção de famílias com este perfil, 15 CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 33,4%, e o Sul, a menor, 25,5%. Entre as Unidades Federadas, em um dos extremos estava o Amapá com 41,1% e, no outro, o Mato Grosso, com 21,9% das famílias cuja pessoa de referência é a mulher. Apesar das constituições diversificadas de família, seja pelo casamento propriamente dito ou pelas uniões consensuais existentes na contemporaneidade, as normas de gênero ainda se constroem como forma de manter a hierarquia entre homens e mulheres e preservar o sujeito hegemônico: o homem branco, ocidental, rico e heterossexual. Neste sentido, são as lentes das epistemologias feministas que possibilitam inferir críticas à ciência, que ao longo de sua história construiu uma sociedade a partir dos interesses dos grupos dominantes produzindo o androcentrismo nas ciências e nas relações sociais. Segundo Soares (2002), a cidadania das mulheres está vinculada com uma concepção de lugar e de dependência do espaço privado. Isso fortalece a divisão dos papéis sexuais e constrói um mundo simbólico cultural que oferece às mulheres, e somente a elas, um modelo de cidadania cujas referências não lhes permitem uma autonomia em relação à família. Essa atitude de colocar o homem no centro de qualquer processo, considerando suas atitudes e modo de viver como exemplos a serem seguidos recebe o nome de androcentrismo. Acesse o material on-line, assista à videoaula do professor Cristiano e tenha mais informações! Família e a Estratégia de Saúde da Família Em 1995 foi implantado o Programa de Saúde da Família (PSF) no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), hoje ele é denominado Estratégia de Saúde da Família (ESF), pois não se trata mais apenas de um programa, já que a família passa a ser o objeto de atenção, no ambiente em que vive, permitindo uma compreensão ampliada do processo saúde/doença. Acosta (2010) aponta que, com isso, decorreram diversos avanços relacionados ao trabalho em saúde. Veja alguns exemplos a seguir: 16 CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico Acompanhamento e controle de doenças crônicas, como a hipertensão e o diabetes, principalmente em segmentos populacionais que até então não possuíam o acesso aos serviços de saúde (a não ser em situações de urgência e emergência nas fases adiantadas da doença); Implementação de medidas de prevenção e diagnóstico precoce, possibilitando a orientação das gestantes desde o início da gravidez, ampliando o número de exames para diagnóstico precoce do câncer de colo do útero; Descoberta de casos de tubérculos e hanseníase logo no início, evitando o seu desenvolvimento em fases avançadas; Identificação de problemas de ordem social no interior das famílias, que requerem atenção especializada e ações de outros setores da sociedade, como: dependentes de substâncias psicoativas, violência doméstica, dificuldades de acesso aos direitos trabalhistas e previdenciários, necessidade de recorrer a programas assistenciais, entre outros; Preparação das equipes de saúde para lidar com os problemas a partir das famílias e da base territorial, identificando em cada área e microárea as situações de risco, as necessidades e os recursos, além de educação sobre saneamento e incentivo ao desenvolvimento de ações organizadas para a promoção da saúde e melhoria da qualidade de vida; Inserção de novas metodologias para a educação em saúde; Compreensão da importância da alimentação e da atividade física, incentivando a busca por alimentos alternativos, caminhadas coletivas e o desenvolvimento da sociabilidade e solidariedade nas relações de vizinhança. Além destes avanços, existem inúmeros outros que não foram 17 CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico apontados. Deve-se refletir alguns aspectos de extrema importância e relevância que muitas vezes não são apresentados de forma nítida. O primeiro está relacionado com as tendências das várias políticas sociais na conjuntura atual, que consideram a família como unidade de trabalho e base do processo de atendimento às necessidades. E a política de saúde é pródiga (desospitalização de doentes crônicos, deficientes físicos e mentais, idosos acamados, jovens e crianças, redução do tempo de internação nas doenças graves, incentivo ao tratamento domiciliar etc.). Depois temos as variações entre as famílias. Existem as nucleares (pais e filhos); as extensas (participação de até três gerações – filhos, pais, avós e, às vezes, tios, primos e até agregados); as monoparentais (um dos pais com os filhos) e as chefiadas por mulheres. É preciso considerar também as pessoas que moram sozinhas (o que ocorre desde os jovens até os idosos) e aquelas de mesmo sexo que moram juntas de forma conjugal. E, por fim, precisamos analisar os recursos disponíveis para o consumo da família na distribuição das tarefas domésticas, na inserção de mulheres e jovens no mercado de trabalho, na manutenção das crianças e adolescentes na escola e no cuidado com as crianças, doentes, idosos e incapacitados. A tecnologia tem influenciado muito a mudança na definição de família, não é mesmo? Hoje, um casal homoafetivo feminino, por exemplo, pode ter um filho por meio de uma inseminação artificial. Ou seja, o sentido de “pai” é ampliado, já que não é apenas aquele que participa no momento da concepção. Para ter mais informações a respeito disso, clique no botão a seguir e leia o artigo “Filiação e tecnologias de reprodução assistida: entre medicina e direito”. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-73312010000200014 18 CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico Tem havido um decréscimo em relação ao número de filhos por casal, o que faz com que o tamanho das famílias seja proporcionalmente menor hoje do que foi no passado, tanto nas do tipo nuclear como nas extensas e monoparentais. E no que se refere à dinâmica do interior das famílias, as relações tendem a ser menos hierarquizadas e os papéis menos rígidos, o que não quer dizer que não exista conflitos e disputas entre homens e mulheres, assim como entre gerações, identificando-se até situações de violência intrafamiliar. Portanto, a equipe de Estratégia de Saúde da Família não pode basear seu trabalho em uma imagem pessoal ou idealizada de família. As equipes devem se questionar, em primeiro lugar, se sua unidade de trabalho é familiar mesmo ou se, ao cadastrarem pessoas que moram no mesmo domicílio, não estão trabalhando com unidades residenciais (BRUSCHINI, 1989) ou com arranjos domiciliares (MEDEIROS; OSÓRIO, 2001). É importante avaliar os tipos de composição encontrados em cada unidade residencial ou os arranjos domiciliares engendrados para o enfrentamento da sobrevivência diária. Não basta apenas classificar pessoas no domicílio de acordo com a gravidade de sua doença ou com os riscos de saúde a que estão expostas. Essas classificações somente permitem estabelecer prioridades na atuação dos profissionais, portanto é de fundamental importância avaliar o risco, a condição de saúde, o fator social e a composição ou dinâmica interna (ACOSTA, 2010). Dinâmicas familiares conflituosas em virtude das relações de gênero, da convivência difícil entre várias gerações, do desemprego, do abuso de álcool e drogas ou da proximidade com o crime organizado não serão um agravante para recém-nascido de baixo peso, idosos dependentes, hipertensos, diabéticos, crianças pequenas, pessoas deficientes, entre outros. É necessário mapear no território, além dos recursos existentes, os tipos de relações de vizinhança estabelecidas e as experiências anteriores de solidariedade, a fim de incentivar a formação de redes sociais e fornecer 19 CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico suporte às famílias vulneráveis. Considerando todos esses pontos, as atribuições dos profissionais que atuam na Estratégia da Saúde da Família não conduzem apenas ao resgate do profissional generalista, já que é preciso verificar as reais necessidades das famílias. Revendo a Problematização Muito bem! Acredito que você já teve tempo suficiente para refletir sobre o caso apresentado no início dos estudos deste tema. Então analise cada uma das alternativas a seguir e escolha a que acha mais adequada! a. Orientar a gestante para a realização do pré-natal, agendar consulta de enfermagem para Sra. Maria e solicitar a visita do técnico em dependência química para orientar o filho mais velho. Passar a situação da família ao serviço social e não realizar mais nenhuma intervenção. b. Identificar a base territorial onde esta família está inclusa e desenvolver ações de promoção da saúde. Acesse o material on-line e tenha acesso ao feedback de cada uma das alternativas. Síntese Como vimos, a família deve ser o foco principal da políticas públicas. Dessa forma, é possível desenvolver estratégias que supram as necessidades de seus integrantes, considerando sempre as diversas variantes a que cada um está submetido. Para finalizar os estudos deste tema, que tal conferir a videoaula do professor Cristiano? Ele vai relembrar o que foi trabalhado neste encontro, destacando os pontos mais importantes. Então acesse o material on-line e confira! 20 CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico Referências ACOSTA, A. R.; VITALE, M. A. F. Família: redes, laços, e políticas públicas. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2010. ANDRADE, M. C. de. Gilberto Freyre e os Grandes Desafios do Século XX. Petrópolis: Vozes, 2002. BRUSCHINI, C. Uma abordagem sociológica de família. Revista Brasileira de Estudos de População. São Paulo, v. 6, n. 1, 1989. CASTELS, R. Les metamorfoses de la question sociale: une chronique du salariat. Paris: Fayard, 2000. ENCICLOPÉDIA MIRADOR INTERNACIONAL. Enciclopédia Britânica do Brasil Publicações Ltda. São Paulo – Rio de Janeiro – Brasil. FONSECA, M. T. N. M. Famílias e Políticas Públicas: Subsídios para a Formulação e Gestão das Políticas com e para Famílias. Revista Pesquisas e Práticas Psicossociais, v. 1, n. 2, São João del-Rei, dez. 2006. LEVI-STRAUSS, C. A Família. IN: SHAPIRO, Harry L. Homem Cultura e Sociedade. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1972. MEDEIROS, M. A importância de se conhecer melhor as famílias para a elaboração de políticas sociais na América Latina. Revista Planejamento e Políticas Públicas, n. 22, dez. 2000. MEDEIROS, M.; OSÓRIO, R. Arranjos domiciliares e arranjos nucleares no Brasil: classificação e evolução de 1977 a 1998. Brasília: Ipea, 2001. MIOTO, R. C. T. Família e Políticas Sociais. In: BOSCHETTI, Ivonete; BEHRING, Elaine. R.; SANTOS, Silvana. M. M. dos; MIOTO, Regina. C. T. (Org.). Política Social no Capitalismo: tendências contemporâneas. São Paulo: Cortez, 2009. 21 CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico MIOTO, R. C. T.; SILVA, M. J.; SILVA, S. M. M. M. Políticas públicas e família: estratégias para enfrentamento da questão social. III Jornada Internacional de Políticas Públicas. São Luís, 2007. NORMA Operacional Básica – NOB/SUAS/2005, aprovada pelo Conselho Nacional de Assistência Social por intermédio da Resolução n. 27, de 24 de fevereiro de 2005. OLIVEIRA, N.H.D. Recomeçar: família, filhos e desafios [online]. São Paulo: Editora UNESP; São Paulo: Cultura Acadêmica, 2009. PEREIRA, P. A. P. Discussões conceituais sobre política social como política pública e direito de cidadania. In: BOSCHETTI, Ivanete; BEHRING, Elaine R.; SANTOS, Silvana Mara de M.; MIOTO, Regina C. T. (Org.). Política Social no Capitalismo: tendências contemporâneas. São Paulo: Cortez, 2009. PEREIRA, P. A. P. Mudanças estruturais, política social e papel da família: crítica ao pluralismo de bem-estar. In: SALES, M. A.; MATOS, M. C. de; LEAL, M. C. (Org.). Política Social, família e juventude: uma questão de direitos. São Paulo: Cortez, 2004. POLÍTICA Nacional de Assistência Social - PNAS -, aprovada pelo Conselho Nacional de Assistência Social por intermédio da Resolução n. 145, de 15 de outubro de 2004 e publicado no Diário Oficial da União - DOU - do dia 28 de outubro de 2004. SCHNEIDER, D. A Critique of the study of Kinship, Ann Arbor. The University of Michigan Press, 1984. Traduzido por Daniela Manica. SCOT, R. P. Família, Gênero e Poder no Brasil do Século XX. In: Revista Brasileira de Informação Bibliográfica em Ciências Sociais, n. 58, São Paulo: Edusc, 2004. SCOTT, J. História das mulheres. In: BURKE, P. A escrita da história: novas perspectivas. São Paulo: Unesp, 1992. 22 CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico SCOTT, J. W. Gênero: Uma Categoria Útil para a Análise Histórica. Revista Educação e Realidade. Porto Alegre, v. 16, n. 2, jul-dez.,1990, p. 5-22. SOARES, V. Projeto Vila-Bairro: impactos nas relações de gênero. In: Governo Local e Desigualdades de Gênero. Estudos apresentados pela FGV-Easp, Hewllett, Fundação Ford e Agende. São Paulo, 2002. 23 CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico Atividades O texto a seguir serve de base para essa questão, leia-o com atenção: “Ao afirmar que ‘o pessoal é político’, o feminismo traz para o espaço da discussão política as questões até então vistas e tratadas como específicas do privado, quebrando a dicotomia público-privado base de todo o pensamento liberal sobre as especificidades da política e do poder político. O movimento ressignificou o poder político e a forma de entender a política ao colocar novos espaços no privado e no doméstico. Sua força está em recolocar a forma de entender a política e o poder, de questionar o conteúdo formal que se atribuiu ao poder e às formas em que é exercido. Distingue-se dos outros movimentos de mulheres por defender os interesses de gênero das mulheres, por questionar os sistemas culturais e políticos construídos a partir dos papéis de gênero historicamente atribuídos às mulheres, pela definição da sua autonomia em relação a outros movimentos, organizações e o Estado e pelo princípio organizativo da horizontalidade, isto é, da não existência de esferas de decisões hierarquizadas” (ALVAREZ,1990, p. 23). Agora, assinale a alternativa que representa, através de um provérbio popular, um endosso à separação entre o espaço público e o espaço privado. a. Em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher. b. Em terra de cegos quem tem olho é rei. c. Em casa de ferreiro, espeto é de pau. d. Escada se varre de cima pra baixo. 24 CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico Entre as alternativas a seguir, qual representa uma situação de diferencial de renda entre homens e mulheres em uma dada sociedade? a. Diferença de gênero. b. Preconceito masculino. c. Desigualdade de gênero. d. Sexismo desigual. Considerando-se as questões estudadas referentes ao gênero, analise se as proposições a seguir são verdadeiras ou falsas. Depois disso, assinale a alternativa que apresenta a sequência correta. ( ) O termo “gênero” se refere às diferenças biológicas e naturais dos seres humanos. ( ) O termo “gênero” se refere a uma construção cultural, que enfatiza o caráter social e histórico das diferenças sexuais. ( ) Diversos elementos estão envolvidos na constituição das relações de gênero, tais como a organização política, econômica e social. ( ) A referência à “gênero” indica as maneiras como as sociedades entendem o que é “ser homem” e “ser mulher”, o que consideram “masculino” e “feminino”. a. V, V, V, V. b. F, V, F, V. c. F, V, V, F. d. F, V, V, V. 25 CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico A respeito das várias dimensões das relações entre a família e as políticas públicas, assinale a resposta correta: a. Na atualidade, a família não é considerada o foco de atenção fundamental para a efetivação de políticas públicas e sociais. b. O Estado e a família desempenham papéis diferentes, sendo o do primeiro cuidar e do segundo, regular, normatizar e impor direitos. c. A família não faz parte dos arranjos de proteção social. Os governos brasileiros sempre se beneficiaram da participação autonomizada e voluntarista da família na provisão do bem-estar de seus membros. d. Os itens como saúde, educação, habitação e assistência social fazem parte das políticas públicas estão pautados na focalização, privatização e participação da sociedade no financiamento e execução de programas e serviços para a população mais vulnerável. Existem diversos arranjos familiares, ou seja, novas formas de constituirse uma família diante da sociedade. Porém, permanece a forma de organização nuclear da família: o casamento monogâmico. Em se tratando das variações entre as famílias, assinale a alternativa correta que melhor representa: a. Família nuclear: pais e filhos. b. Monoparental: um dos pais com os filhos (modelo excluído da sociedade). c. Famílias extensas: filhos, pais, avós e, às vezes, tios, primos e até agregados (sendo este o modelo único e ideal). d. Pessoas que moram sozinhas ou que têm uma união conjugal entre 26 CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico o mesmo sexo não constituem uma família. Para ter acesso ao gabarito comentado das questões, acesse o material on-line! 27 CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico