campus i curso de pedagogia marcia bispo dos santos de

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS I
CURSO DE PEDAGOGIA
MARCIA BISPO DOS SANTOS DE SOUZA
FAMÍLIA E ESCOLA PARA ERA DAS RELAÇÕES
Salvador
2010
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MARCIA BISPO DOS SANTOS DE SOUZA
FAMÍLIA E ESCOLA PARA ERA DAS RELAÇÕES
Monografia exigida para a obtenção do
grau de Licenciatura em Pedagogia Anos
Iniciais do Ensino Fundamental, sob a
orientação da Profª Heloísa Lopes Silva
de Andrade.
Salvador
2010
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MARCIA BISPO DOS SANTOS DE SOUZA
FAMÍLIA E ESCOLA PARA ERA DAS RELAÇÕES
Monografia submetida a aprovação do corpo
docente da Universidade do Estado da Bahia
- UNEB, Departamento de Educação,
Campus I, como requisito para a conclusão do
curso de Pedagogia, Habilitação em Anos
Iniciais.
Aprovada em: ....../...../........
Banca Examinadora:
__________________________________
__________________________________
__________________________________
4
Dedico este trabalho a
Deus, por todo amor e
cuidado que Ele tem
por mim e a minha
família
pelo
carinho
compreensão.
amor,
e
5
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, agradeço a Deus, por esta rica oportunidade de estudar na
UNEB, por toda sabedoria dada por Ele para a conclusão deste trabalho.
Gostaria de agradecer a todos aqueles, que disponibilizaram o seu computador
para que eu pudesse digitar este trabalho e todos aqueles que de certa forma
contribuíram para a construção deste.
A minha querida orientadora Profª Heloísa Lopes pelas orientações riquíssimas
desde o 1º semestre com o Projeto de Pesquisa;
A minha família amada;
A José Adilson e a Joelma meus cunhados, que disponibilizaram o computador
e livros;
A Cesna Maria (Sergina), minha vizinha e irmã em Cristo pela disponibilidade
também de sua “máquina” ( computador ) nos momentos mais aflitos;
A Juliana, amiga e cara parceira de Estágio Supervisionado.
6
“Amar a Deus sobre todas as coisas e a seu próximo como a si
mesmo” (Jesus Cristo)
7
RESUMO
A pesquisa versa sobre a Família e Escola na Era das Relações, no qual
traçou-se como objetivos: compreender a contextualização histórica da família
no período da Idade Média, Idade Moderna e Contemporânea; identificar as
diversas abordagens de família, tais como, instituição social,na construção do
sujeito e como lócus educacional; conhecer as implicações relacionais entre
família e escola.
A pergunta que se desejou responder foi: qual o desafio posto a escola e a
família para era das relações?
O conjunto de passos metodológicos permitiu obter a seguinte reflexão sobre o
assunto que, escola e família para era das relações nos transporta para os
diversos encontros e desencontros cotidianos, inicialmente nas mais diversas
épocas que estão a tecer, a destecer e a re-tecer os relacionamentos, sobre
tudo entre estas duas grandes pontes, entre o micro e o macro, o universo do
desenvolvimento humano.
Palavras chave: Família – Escola – Era das Relações – Desenvolvimento
Humano.
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ABSTRACT
The research talk about Family and School in the time of relations and have as
objective; to understand the historical context in the period of dark ages,
modern age and contemporary age; to identify the several approaches of family
as social instituition in construction of person and as educational locus; to know
the relational implications between family and school.
The questions is:
What is the challenge facing the school and the family in the era of relations?
The set of methodological steps allowed to reflect on this topic: it take us to the
various agreements and disagreements everyday, initially in several times that
are weaving and unweave, the relation ships preferentially between two large
bridges, between the macro and the micro, the universe of human development.
Keywords: Family – School – Era in the Relations – Human Development.
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SUMÁRIO
1.INTRODUÇÃO ................................................................................10
2. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA FAMÍLIA ....................... 14
2.1 FAMÍLIA NA IDADE MÉDIA................................................................ 15
2.2 FAMÍLIA NA IDADE MODERNA........................................................ 18
2.3 FAMÍLIA NA IDADE CONTEMPORÂNEA......................................... 22
3. ABORDAGEM CONCEITUAL DE FAMÍLIA................................ 27
3.1 FAMÍLIA COMO INSTITUIÇÃO SOCIAL........................................... 28
3.2 FAMÍLIA COMO CONSTRUÇÃO DO SUJEITO................................ 30
3.3 FAMÍLIA COMO LOCUS EDUCACIONAL ........................................ 33
4. FAMÍLIA E ESCOLA ENTRE CONFLITOS E POSSIBILIDADES..36
4.1 (RE) SITUANDO AS RELAÇÕES ENTRE ESCOLA E FAMÍLIA.......37
4.2 EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO HUMANO.............................41
4.3 FAMÍLIA E ESCOLA PARA ERA DAS RELAÇÕES..........................44
5.CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................47
REFERÊNCIAS...................................................................................49
ANEXO................................................................................................51
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1. INTRODUÇÃO
Estudos realizados pelo Instituto La Fabricca do Brasil, junto com o
Ministério da Educação divulgada na Revista Nova Escola Junho/Julho de
2006, relata que escola e família, são instituições que mantêm um vínculo,
uma teia relacional constante.
Esta pesquisa apontou que, 77,2% dos pais acham que um bom
relacionamento entre as duas partes é raro, mas 43,7% gostariam que a
escola promovesse mais reuniões, palestras e encontros para eles. Já
77,2% dos professores de instituições públicas consideram insatisfatória a
participação dos familiares, mas 99,5% crêem ser de extrema importância
um contato mais sério.
Observa-se que os dados deixam claro, um dos fatores da grande
problemática da educação: a falta de parceria entre a escola e família. No
decorrer dos anos, esta situação tem-se agravado continuamente, devido à
diversas situações como: desestruturação familiar ( em diferentes
aspectos), sobrecarga dos profissionais de educação,projeto pedagógico
deficiente e como conseqüência a vitima é o aluno.
Com base em Durkheim s/d,p.47 a educação é “ um esforço contínuo para
preparar as crianças para a vida em comum”, por isso era necessário impor
a elas maneiras adequadas de ver,sentir e agir às quais os educandos não
chegam espontaneamente.
No inicio do século XX, Durkheim s/d,p.45 considerava que “as crianças
aprendem comportamentos e modos de sentir dos participantes do grupo
onde vivem”, sendo que à ação da educação é exercida pelas gerações
adultas sobre as gerações que não se encontrem preparadas para a vida
social”.
11
A influência da família é básica e fundamental no processo educativo, no
qual, nenhuma outra instituição está em condições de substituí-la sendo a
estabilidade do lar, seu clima emotivo, o respeito que nele impere decisivos
para o desenvolvimento normal da criança.
A sociedade mudou, muitas gerações já se foram, outras gerações
nasceram, bem como a tecnologia avançou, mas a escola continua presa
aos aspectos formais da educação do que aos aspectos essenciais, com
relação às necessidades sociais e às de desenvolvimento e formação da
criança.
Existe uma grande necessidade de reformular os trabalhos pedagógicos,
assim como as relações entre as instituições para uma melhor fluência do
ensino, porque tanto na esfera familiar como na esfera educacional
mudaram-se as configurações, as responsabilidades acerca da educação.
A família como primeiro ambiente social, onde a criança cria a sua primeira
teia de relações, é responsável pela sua inserção nos demais ambientes,
para uma ampliação da mesma. A escola, a igreja,a rua são locais de
socialização de troca de conhecimentos e aquisição de outros para a
formação da personalidade humana para o desenvolvimento contínuo da
mesma.
A escola, entretanto, não se tem revelado tão eficiente como seria de se
desejar, não só pela falta de cooperação da família, como, também, por
determinantes sociais gerais. Ela como a família, tem sofrido perturbadora
instabilidade, provocada pelas rápidas mudanças que se estão operando na
estrutura social.
Estas mudanças apresentam-se tão intensas que deixam as instituições
perplexas, quanto aos seus objetivos sociais e quanto às maneiras de
alcançá-los.
Diante do exposto pergunta-se: qual o desafio posto a escola e família para
a era das relações?
12
Para tal, escolhemos como objetivo, compreender
a contextualização
histórica da família nas Idades Média, Moderna e Contemporânea;
identificar as diversas abordagens de família, tais como: instituição social,
na construção do sujeito e como lócus educacional; conhecer as
implicações relacionais entre escola e família.
Este trabalho tomou-se como referência para sua elaboração o estudo de
Bogdan e Biklen, citado por André e Lüdke (1986,p.13), no qual diz que a
pesquisa qualitativa envolve obter dados descritivos conquistados no
contato direto do pesquisador com a situação estudada, enfatiza mais o
processo do que o produto e se preocupa em relatar a perspectiva dos
participantes.
É importante afirmar que o estudo pautou-se apenas em revisão de
literatura, com base nos autores: Ariès (1981), Brandão (1981), Cambi
(1999), Duurkheim (S/D), Libâneo (2009), Magalhães (2008), Moraes
(2003),Oliveira
(1993),Pôster
(1979),
Prado
(1981),
Prost
(1992),
Szymanski( 2009).
Assim o trabalho organizou-se da seguinte forma:
No primeiro tópico aborda a contextualização histórica da família, em
épocas distintas. O primeiro tópico retrata a família na Idade Média, sendo
que esta vivia submissa à comunidade na qual convivia ditando-lhe as
regras de convivência.
A família moderna inicia a privatização familiar, fecha-se as portas para o
domínio público, a família vive para sua própria promoção social. E a
contemporânea enfatiza a privatização familiar, sendo neste novo contexto
o isolamento dos membros familiares. A instituição passa por várias
mudanças em sua configuração.
O segundo tópico trata das abordagens conceituais de família verificando os
aspectos como : instituição social, na construção do sujeito e como lócus
educacional.
13
Como instituição social a família é a base da sociedade a primeira ligação
entre
indivíduo
e a comunidade externa a instituição familiar, na
construção do sujeito a família é uma das instituições responsáveis pelo
desenvolvimento do sujeito, para a formação do mesmo para a sociedade.
E como lócus educacional uma ponte entre a família e a escola é construída
a partir inicialmente com uma educação informal intergeracional para a
formal escolar.
O terceiro tópico aborda os conflitos e as possibilidades entre família e
escola (re) situando as relações, a educação para o desenvolvimento
humano e suas contribuições para era das relações.
Entre família existem muito mais do que livros,cadernos e boas intenções.
Existem pessoas que interrelacionam numa troca contínua de informações
e conhecimentos, formando uma cadeia relacional distinta.
14
2. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA FAMÍLIA
Conceituar família nos traz em frente a história desta instituição de grande
relevância na vida de cada indivíduo, sendo esta a base de toda a sociedade.
Conforme explica Ariès (1981), toma-se como início histórico a Idade de Média,
na qual a família passa por mudanças em sua configuração em todas as suas
faces, tais como o afeto, a reprodução humana nos quais os avanços sociais,
científicos e tecnológicos, influenciaram grandiosamente esta configuração
transformando-a na família moderna.
A família medieval existia sob um regime de dominação. O sistema econômico
do feudalismo dividia a sociedade da Idade Média em três classes: senhores
feudais,clero (membros da igreja) e camponeses. Estes últimos eram a base
das outras, de quem eram cobrados impostos altíssimos para o sustento da
nobreza da época, e da mesma sorte tirarem seu sustento.
Na Idade Moderna, com a dissolução do Feudalismo e o nascimento do
Capitalismo, as famílias começam a migrar para as cidades em busca de
melhores condições de vida. Inicia-se então aproximação dos membros
familiares, com a escolarização das crianças, a redução e o isolamento das
famílias em apenas pai,mãe e filhos.
A Idade Contemporânea, segue a Idade Moderna com as conseqüências do
isolamento das famílias, o individualismo dos seus membros, bem como as
revoluções ocorridas durante os séculos XVIII até inicio do século XX, que
atuaram como grandes interventores das novas configurações familiares.
15
2.1. A FAMÍLIA NA IDADE MÉDIA
A família em sua configuração atual, pai, mãe e filhos somente, era
desconhecida na Idade Média. Nesta época, o que predominava era a
linhagem, modelo familiar que significava , a união da família pelo laço
sanguíneo e não pelos sentimentos pessoais.
Havia a solidariedade familiar, segundo Áries (1981,p.211), “estendendo-se a
todos os descendentes de um mesmo ancestral”, a nobreza era a parte da
sociedade que mais se firmava neste modelo familiar, devido aos bens
patrimoniais, nos quais adotava-se a tendência da indivisão dos mesmos,
havendo o direito de primogenitura, só o filho mais velho herda o patrimônio da
família, para proteger o nome e a honra da mesma.
Ariès explica (1981,p.213) que “a história da linhagem é uma sucessão de
contrações e distinções, cujo ritmo sofre as modificações da ordem política”,
com o enfraquecimento do Estado, devido às guerras e invasões o primeiro
refúgio em que o indivíduo se apega é a família, mas a partir do momento que
as instituições políticas se fortalecem, os laços familiares folgam.
Segundo Prado (1981,p.67) “é inconcebível dissociar família e religião”, pois na
época vigente o domínio da Igreja Católica, era predominante fazendo com que
as famílias em tudo lhe obedecessem. Esta por sua vez, tão tradicionalista
quanto a Igreja, sustenta-a,colaborando com à transmissão de suas crenças e
ao cumprimento das práticas religiosas, bem como à aceitação das punições
impostas.
No início da Idade Média, por volta dos séculos XI e XII as pessoas viviam sob
um sistema de comunidade, sendo conduzidas e manipuladas pelas regras
sociais estabelecidas para mantê-las em um sistema, onde o individual,o
particular e o privado não tinham lugar.
O indivíduo nascia em uma comunidade e esta determinava, ditava as regras
de convivência. Ao crescer, estes membros, principalmente do sexo masculino,
16
tinham que conquistar o seu espaço na comunidade, fazendo com que esta,
reconhecesse o seu poder, onde seria também delimitado pela mesma.
Este domínio era conquistado não pelo seu conhecimento intelectual adquirido
em livros, mas em sua habilidade em utilizar os dons da Natureza e os
próprios.
Ao casar-se, a sua esposa tornava-se sua ajudadora, para ampliar o seu papel
nesta comunidade. Com isso, a família tinha que reforçar a autoridade do
indivíduo como chefe, possuindo cada um sua função, sendo que esta, não
possuía um domínio único, seu, mas pelas estratégias conquistadas por cada
indivíduo do sexo masculino. Daí, observamos a inexistência da privacidade
familiar.
Ariès (1981) relata que, um estilo de vida em família também pontuada era o
dos pais, enviarem suas crianças a outras famílias para serem aprendizes. Por
volta dos 7 anos de idade eram mandadas para outras famílias para fazerem o
serviço pesado, sendo responsáveis por todas as tarefas domésticas,
permanecendo de 7 a 9 anos, sendo um serviçal mirim.
Diante dos fatos, poderíamos até afirmar que não existia um sentimento dos
pais para com seus filhos, já que as crianças eram enviadas para outras
famílias e muitas destas não retornavam ao seio familiar quando adultos. Ao
nosso olhar contemporâneo, chamaríamos esta atitude de exploração do
trabalho infantil, mas na ocasião descrita, século XII, derivou-se de
aprendizagem pela prática, ingresso no mundo dos adultos.
Segundo Ariès (1981,pág. 226), “há poucos que evitam esse tratamento, pois
todos , qualquer que seja sua fortuna, enviam suas crianças para casas
alheias, enquanto recebem em seu próprio lar crianças estranhas”, insinua-se
que o serviço de uma outra criança, não sendo da mesma origem familiar,
obteria um serviço de melhor qualidade,sendo que os filhos da nobreza, além
de aprenderem como servir a mesa, serviço que lhe dava o mérito de criança
bem educada,aprendiam também maneiras de cavaleiro ou ofício.
17
A família amava sua criança, mas não poderia se apegar a mesma, já que teria
que transportá-la para outra família. Esta instituição era então conceituada
como uma realidade moral e social, mas do que sentimental.
A instituição escolar existia, em pequenas proporções destinadas apenas aos
clérigos, mas nas mesmas não havia espaço para a transmissão de
conhecimento apresentado de geração em geração,pois a escola preocupavase em transmitir saberes teóricos algo que na época era pouco valorizado já
que a prática era mais importante para o ingresso na sociedade.
Com nascimento do sentimento de infância e da família, inicia-se o
enfraquecimento da linhagem, diminuindo com isto os membros familiares e
unindo pai,mãe e filhos num mesmo espaço. Sob a influência da Igreja, o
patriarcado, afirmava o poder do homem na família exercendo sua autoridade
sobre os demais mulher e filhos, numa sociedade regida pela desigualdade.
18
2.2. A FAMÍLIA NA IDADE MODERNA
Em meados da Idade Média e inicio da Moderna (entre os séc. XIV e XVI) a
sociedade passou por diversas mudanças desde a sua configuração social à
base econômica. As crises internas nos feudos e o renascimento comercial
foram os principais pontos que levaram a queda da organização feudal.
Com a destruição do feudalismo e o nascimento do capitalismo muitos servos,
abandonaram os feudos, imigrando para outras cidades em busca de uma vida
melhor, de uma profissão já que o capitalismo promovia esta abertura.
Segundo Ariès (1981, p. 214), “ a partir do século XIV, assistimos o
desenvolvimento da família moderna”, o homem passa a ter o seu poder mais
intensificado sendo retirado o poder da esposa, tornando-a uma incapaz,
fazendo a juntamente com os filhos submissos a ele, estabelecendo assim “
uma espécie de monarquia doméstica”.
Sob a autoridade da Igreja, o patriarcado era reforçado, afirmando a figura do
homem como chefe de família e o poderio da masculinidade. Existia a devoção
familiar, tendo como exemplo a família de Cristo, a Sagrada Família, como
modelo para todas as outras.
A configuração parental é “sem dúvida era o próprio principio da família que era
associado a essa homenagem rendida à família de Cristo. Todas as famílias
eram
convidadas
a
considerar
a
Sagrada
Família
como
modelo”
(Áries,1981,p.220).
Philippe Ariès aponta que a família era retrata pela ótica iconográfica dos
espaços públicos rua e igreja. “No princípio as cenas representadas pelos
artistas se passavam ou num espaço indeterminado, ou em lugares públicos
como as igrejas, ou ao ar livre” (Áries,1981,p. 220).
Percebe-se então, que após o século XVI, a família passa a ser retratada em
sua vida cotidiana, percebendo o espírito grupal entre os membros.
Observamos o nascimento do sentimento de família e infância, onde é deixada
de lado a distância unindo as pessoas: pai,mãe,filhos num mesmo lugar.
19
A intimidade familiar até então desconhecida passa ser retratada, surgindo na
casa espaços íntimos,onde nem todos familiares podem estar presentes, a
exemplo o quarto do casal.
Um fato muito importante ocorreu a partir do século XV, apontando o
sentimento de família: a extensão da freqüência escolar. Segundo Ariès
(1981,pág. 231),”a escola deixou de ser reservada aos clérigos, para tornar-se
um instrumento normal de iniciação social, da passagem do estado de infância
ao do adulto.”
Com base neste fato vemos que os
pais começaram a abolir o
encaminhamento das crianças para outras famílias, preservando-as da
iniqüidade dos adultos, resguardando sua inocência, já que eram enviadas
para os mais diversos ambientes, afim de aprenderem várias atividades para
serem inseridas no cotidiano social, na vida adulta.
Segundo Ariès (1981,p.211) “família conjugal moderna seria portanto a
conseqüência de uma evolução que no final da Idade Média, teria enfraquecido
a linhagem e as tendências à indivisão.”
Pôster (1979) nos diz que em meados do século XVIII surge a família moderna.
Para este autor, o modelo familiar burguês é o que dá origem à família nuclear
predominante nos dias atuais.
Esse fato é afirmado, pois é na família burguesa que se desenvolve com mais
intensidade um padrão emocional entre os membros do grupo familiar,
originando uma rígida divisão de papéis sexuais, atribuindo aos homens a
autoridade máxima sobre os demais membros e as mulheres a serem
subordinadas a ele, com as funções de cuidar da casa, dos filhos e do próprio
marido.
A partir da concepção de infância no decorrer da história, observa-se houve a
evolução da instituição familiar, enfraquecendo o modelo de linhagem,
diminuindo a quantidade dos membros isolando-se em relação a parentela e à
comunidade, reforçando os elos afetivos internamente. Este sentimento de
infância é comprovado, a partir da escolarização, pois a instituição escolar
20
deixa de ser exclusividade dos clérigos, para tornarem-se centro de formação
para as crianças, servindo-lhe de ponte para a vida adulta.
Mesmo os filhos que permaneciam em alojamentos fora do espaço escolar, nos
dias específicos de visita,os pais levavam o que as crianças necessitavam para
viver longe de casa.
Assim, pode-se considerar que “ o casal parental passou a ocupar uma posição
mais central, priorizando-se manifestações individuais de afeto e de
privacidade”(Magalhães,2008,p.14).
Juntamente com a Idade Moderna, a família passa a ser mais para si. A família
que antes possuía funções públicas, passa a desempenhar a privacidade tanto
no grupo familiar como individual dentro da própria instituição.
O privado, o individual passam a fazer parte do cotidiano familiar. A família cria
suas próprias regras de convivência entre seus membros, estas que antes
eram ditadas totalmente pela sociedade.
Prost (1992,p. 62) diz que “ a família que agora se consagra exclusivamente a
suas funções privadas já não é , de fato, exatamente a mesma que também
possuía funções públicas”. Na Idade Moderna, a família fecha-se para o mundo
público.
Dentro do próprio ambiente familiar, a privações, espaços para cada
membro.Com este fato, a Idade Moderna invadi a Contemporaneidade, sendo
definida segundo Prost (1992,pág.61) como “o século da conquista do espaço,
mas não no sentido dos astronautas: [ ... ] o espaço doméstico necessário para
a plena realização da vida privada”.
Partindo do desenvolvimento da família burguesa, que tinha em seus lares os
espaços bem definidos, constatamos a busca pela privacidade domiciliar.
Prost relata que ,
Os lares burgueses eram amplos: salas de visitas,uma cozinha e
dependências de empregada(s), um quarto para cada membro da
21
família, e muitas vezes alguns aposentos a mais. O vestíbulo e os
corredores garantiam a independência desses diversos espaços.
(PROST 1992,pág. 62 )
Podemos então constatar que a história da arquitetura residencial, a divisão
dos cômodos, está ligada ao contexto familiar, as mudanças na sua
configuração. A partir do momento que a família privou-se do público, nasceu a
necessidade do espaço individual dentro da própria instituição, assumindo-se
então um modelo diferenciado de privacidade.
22
2.3. FAMÍLIA CONTEMPORÂNEA
Com o nascimento da família nuclear moderna a partir do século XVIII, a
instituição familiar é reduzida, aproximando os membros e fortalecendo os
laços familiares. As evoluções ocorridas no seio da própria família burguesa,
configuraram no que se denomina-se família nuclear moderna pais e filhos em
um mesmo espaço denominado lar.
Magalhães (2008,p.14) relata que “ a família diminuiu o número de membros,
isolou-se em relação aos parentes e à comunidade e reforçou seus elos
afetivos internamente”.
Muitas características que atualmente são pontuadas na família nuclear
moderna, são ainda um reflexo desse modelo familiar. Isto é afirmado em
relação à sexualidade e à divisão sexual dos papeis entre homens e mulheres.
A burguesia que era a classe dominante, moldava como deveria ser a
instituição familiar , sendo seguida pela população da época, como a perfeita
configuração familiar.
Pôster (1979,p.185) nos diz que “ durante os estágios iniciais da Revolução
Industrial, a classe trabalhadora tinha uma estrutura familiar sui generis que, no
decorrer dos dois séculos seguintes, se tornou cada vez mais semelhante à da
burguesia”.
Com a Revolução Industrial, a família migra para os centros urbanos, em busca
de novas oportunidades de trabalho oferecidas pelo Capitalismo, já que o
serviço no campo é ardo e pouco rentável.
No inicio pelo modelo familiar de linhagem predominante na Idade Média, as
uniões conjugais eram realizadas pelo interesse familiar, não existindo abertura
para uma escolha individual baseada no amor. Mas, ao final do século XIX a
presença do amor tornava-se essencial para a união conjugal nascesse nas
famílias burguesas.
23
Outro fato que encadeou-se nesta classe, em relação ao casamento foi a
importância dada as aparências, devido ao amor conjugal durar somente nos
primeiros anos da relação. Contudo, o casal permanecia junto, havendo um
sentimento de respeito, companheirismo, já que o divórcio na primeira metade
do século XX, não estava tão divulgado e acionado como nos dias atuais.
Além do que, divorciar significava repartir os bens entre o casal e para a
esposa a exclusão social ,já que era tida como rebelde e mal vista pela
sociedade. Devido a estes fatores era preferível manter as aparências ao invés
de suportar as conseqüências ocasionadas de uma separação.
A partir de uma série de transformações históricas e sociais surge a família
contemporânea, sendo que as tradições, as crenças, os valores e os
relacionamentos sociais mudam sua configuração, fazendo com que a
sociedade seja confrontada com novas questões.
Como já foi dito, na Idade Moderna, houve um confinamento da família,
mantendo-a distante do público. Prost (1992) nos relata o processo de
privatização familiar, Ariès (1981,p. 268) diz que "... o conforto data dessa
época: ele nasceu ao mesmo tempo que a intimidade, a discrição e o
isolamento..."
A partir do momento, que as famílias nobres e burguesas fecharam-se para o
público, inicialmente pela redução da família, após pela divisão dos cômodos
da casa, o isolamento e individualismo passaram a fazer parte da sociedade
como um todo.
Segundo Ariès (1981,p. 266) " no fim do século XVIII não se usava mais ir na
casa de um amigo ou sócio a qualquer hora, sem prevenir", primeiro enviava-se
cartões através dos criados ou pelos correios ou visitavam as pessoas nos dias
de recepção,abandonando-se tudo aquilo que antes era natural na vida
cotidiana.
As atividades sociais e familiares estavam mais separada, demonstrando o
isolamento do privado e do público.
Ariès diz que,
Outrora, vivia-se em público e em representação, e tudo era feito
oralmente, através da conversação. Agora, separava-se melhor a
24
vida mundana, a vida profissional e a vida provada: a cada uma era
determinado um local apropriado como quarto,o gabinete ou o salão.
(ARIÈS,1981,p. 266)
Em 1789, com a Revolução Francesa, os sentimentos de liberdade,igualdade
e fraternidade propagados pelos revolucionários da época, os iluministas,
ascenderam o desejo de todas as classes desfavorecidas por melhor qualidade
de vida, a exemplo das mulheres.
Com o movimento feminista de 1968, as mulheres vão as ruas em busca de
igualdade salarial, liberdade sexual, poder optar ter ou não filhos e mais
respeito. Rompe-se então o elo entre o amor e a sexualidade com a
generalização dos métodos contraceptivos, tornando-se uma ferramenta de
grande relevância na emancipação feminina, estando agora nas mãos das
mulheres o controle da procriação.
O casamento perde sua credibilidade enquanto instituição, havendo apenas um
contrato jurídico, não precisando necessariamente estar formalmente casado
para constituir uma família. O " morar junto" aparece no lugar da formalização,
ganhando o mesmo significado da união conjugal legal.
Prost relata que,
O casamento então deixa gradativamente de ser uma instituição
para se converter numa formalidade. Com a evolução educacional,
os jovens conquistaram uma grande independência dentro da
família: já não precisam casar para escapar ao poder dos pais. Mas
também não é mais necessário casar para manter relações regulares
com um parceiro do outro sexo, já que essas relações só terão
alguma consequência se os parceiros assim o quiserem. (
PROST,1992,p. 91)
Com a introdução do divórcio por acordo mútuo em 1975 e sua homolugação
em 26 de Dezembro de 1977, o casamento perde a sua estabilidade, não
existindo mais a manutenção das aparências. O preconceito antes atribuído as
25
mulheres, por optarem pela separação diminui, aumentando o número de mães
solteiras e mulheres chefes de família.
A família entra novamente em mudanças em sua configuração. A família que
antes era formada por pais e filhos, passa a ter em alguns casos, com uma
maior freqüência um só genitor. A partir das transformações ocasionadas em
relação a mudança na estrutura familiar, são visíveis através da evolução que
teve no casamento.
Para Prost
O lar formado por um casal e filhos já não é a norma exclusiva: as
famílias com apenas um genitor são cada vez mais frequentes. As
mães solteiras abusadas e abandonadas pelo sedutor são
substituídas por solteiras que escolhem ter filhos sem se casar e
sem criar conflitos com o companheiro por causa disso. Mas são as
únicas a deter autoridade sobre o filho: o laço entre a mãe e o filho
tende assim a se tornar a única relação familiar sólida e estável.(
PROST, 1992,p. 94)
Com o modelo familiar abalado com as diversas mudanças em relação ao
casamento,
originou-se
múltiplos
arranjos
familiares:
família
nuclear,
reconstituída, monoparental ( masculina e feminina ). Segundo Magalhães
(2006, p. 14) “ esses arranjos são organizados a partir de três modos de
organização familiar: o da família tradicional, o da família nuclear moderna e o
da família pluralística”.
Na contemporaneidade mesmo com a valorização do individualismo e da
autonomia, constatamos a influência da família na vida dos indivíduos. Isto se
dar, pois mesmo em diferentes configurações familiares “toda a construção
singular é acompanhada pela marca da continuidade” (Magalhães,2008,p.15).
Há uma solidariedade entre as gerações, pois cada vez mais a troca
intergeracional e a participação de outros parentes no cuidado das crianças,
sendo essas atitudes responsáveis pela manutenção de referencias familiares
para com as gerações mais jovens.
26
No final do século XVIII inicio do século XIX, com as famílias fechando-se para
o público, verificamos o individualismo familiar, inicialmente para a sociedade
depois para cada membro da família.
Com o avanço tecnológico, esta individualidade esta cada vez mais acentuada.
As crianças não se divertem mais em grupos nas ruas, as praças públicas
estão vazias ( também damos ao fato do aumento da violência nas grandes e
pequenas cidades), os parentes não trocam visitas, enfim, cada qual no seu
mundo.
A busca pela ascensão profissional e social tardam os casamentos e o
nascimento de novas gerações. Prost (1992,p.91) nos diz que “ com a evolução
educacional, os jovens conquistaram uma grande independência dentro da
família: já não precisam casar para escapar ao poder dos pais”.
Mas, mesmo diante destas mudanças relevantes Magalhães (2008), afirma que
“ a família continua sendo uma importante mediadora entre o indivíduo e a
sociedade”. Independente de sua configuração a família sempre será a base de
todo indivíduo.
27
3.
ABORDAGEM CONCEITUAL DE FAMÍLIA
“ Família, família, papai,mamãe, titia...” este foi uma das configurações que o
grupo Titãs deu na década de 1980, a esta instituição através das letras de
uma das suas músicas de grande sucesso nacional. Mas, a instituição familiar
tem muitos outros fundamentos e outras configurações.
No latim IA é plural, FAMULUS (singular) significa escravo, logo família é o
conjunto de escravos. Escravos estes que viviam sob o domínio de um só
membro, o pai, o chefe da família, onde todos os demais estavam submissos a
este.
Família que segundo Prado (1981,p.7) diz que “significa pessoas aparentadas
que vivem em geral na mesma casa particularmente o pai, a mãe e os filhos,
ou ainda pessoas de mesmo sangue, ascendência,linhagem,estirpe ou
admitidos por adoção”.
Mas, diante das mais diversas definições a instituição familiar tem um caráter
social,educacional e na construção do sujeito. Szymanski (2009,p.18) relata
que “ o ponto de partida para um trabalho sistemático com famílias é a
consideração dessa instituição como construção social e histórica, cuja missão
socializadora lhes foi imposta pelas sociedades nas quais esta é inserida”.
“Casa de pais, escola filhos”, a sabedoria popular deixa claro a grande
importância da família na educação de seus membros. Os primeiros passos
para a socialização são dados no ambiente familiar e os próximos serão
firmados pelas demais instituições que atravessarão a vida do indivíduo no
decorrer dos anos.
28
3.1. FAMÍLIA COMO INSTITUIÇÃO SOCIAL
A instituição familiar como berço da sociedade é o primeiro convívio social de
todo ser humano, e também ousamos dizer de todo ser vivo, pois é entre a
parentela que humanos e animais selvagens socializam-se inicialmente.
Segundo Oliveira
No processo de socialização existem duas fases distintas: a
socialização primária é aquela que o indivíduo sofre na infância,
convertendo-o em um novo membro da sociedade; a socialização
secundária é aquela que ocorre posteriormente e que o leva a
interiorizar
setores
particulares
do
mundo
objetivo
da
sua
sociedade.( OLIVEIRA,1993,p.67)
A família como a primeira instituição de controle social que a criança participa
realiza sua socialização baseada em contatos primários, mais afetivos,diretos e
emocionais.
Dentro deste convívio social, desta aprendizagem inicial da parte para o todo,
da família para o mundo há o incremento intergeracional a troca de saberes
entre as gerações. O ontem a serviço do hoje para o desenvolvimento no
amanhã.
Szymanski, nos diz que
A família, nessa perspectiva é uma das instituições responsáveis
pelo processo de socialização realizado mediante práticas exercidas
por
aqueles que tem o papel de transmissores – os pais -
desenvolvidas junto aos que são os receptores – os filhos.(
SZYMANSKI,2009,p.20)
Isto se atribui, pois, o lar é um ambiente de transmissão de culturas, crenças e
valores, estes são repassados para sociedade, sendo afirmados ou rejeitados
pela mesma.
29
A família é uma instituição social que sempre compactuou com as demais, a
exemplo a igreja como transmissora de seus ideais e crenças e a escola a
partir do século XVII, como unidade da educação formal.
Dando a escola a função de educar seus filhos surge a preocupação familiar
em acompanhá-los de maneira mais próxima, mas a instituição escolar elabora
tratados de educação para os pais com o objetivo de orientá-los quanto a seus
deveres e responsabilidades.
Segundo Ariès,(1981,p. 232) “ os tratados de educação do século XVII,
insistem nos deveres dos pais relativos à escolha do colégio e do preceptor, e
à supervisão dos estudos à repetição das lições, quando a criança vinha dormir
em casa”.
Através destas orientações impostas pela escola, a sociedade dita o modelo
específico de família, determinando a divisão do trabalho, por gênero as
funções
maternas
e
paternas
que
permanecem
evidentes
na
contemporaneidade.
Szymanski relata que
A sociedade considera um modelo especifico de família – a família
nuclear burguesa na qual a mulher era incumbida de formar os filhos
– em razão de lhe ter sido atribuída essa capacidade “ instintiva” – e
o homem recebeu a função de provedor. (SZYMANSKI,2009,p.22)
Como instituição social a família dispõe de diversas funções, que segundo
Prado (1981, p. 36) são “ a função de identificação social dos indivíduos, as de
reprodução,
as
de
produção
de
bens
(alimentação,
vestuário,brinquedos,remédios, etc.) e de consumo destas”.
Mas, com a industrialização e a produção de bens em grande escala, bem
como à acessibilidade a diversos meios de lazer, as funções familiares
transformaram-se e restringiram ainda, como prioritárias e exclusivas, segundo
30
Prado (1981, p. 37) “as funções de reprodução, identificação social,
socialização e econômica”.
31
3.3 FAMÍLIA COMO CONSTRUÇÃO DO SUJEITO
O ambiente familiar é o inicio do desenvolvimento social de todo individuo. É
através deste que modos humanos de viver, dão significado a sua existência.
Este comportamento é afirmado por Szymanski (2009,p.22) que nos diz “ que
pela troca intersubjetiva carregada de emoções – o primeiro referencial para a
construção da identidade pessoal”.
É o primeiro lugar onde o individuo se socializa, onde aprende a conhecer e
reconhecer a si e aos outros, a se comunicar, aprendendo comportamentos,
regras e valores para viver em sociedade. Cambi (1999, p. 263) escreve que a
“família é o primeiro regulador da identidade física,psicológica e cultural do
individuo e age sobre ele por meio de uma fortíssima lógica”.
Ao nascer, a criança encontra toda uma organização definida segundo os
parâmetros construídos pela sociedade e pela cultura de cada família,
particularmente possui. Esta cultura familiar é composta de diversos fatores
que definem a construção do sujeito.
Szymanski relata que
A
cultura
familiar
particular
está
impregnada
de
valores,
hábitos,mitos,pressupostos modos de sentir e de interpretar o mundo
que definem modos específicos de trocas intersubjetivas e,
consequentemente tendências para a constituição do sujeito.
(SZYMANSKI,2009,p. 23)
No
ambiente
familiar
ocorre
uma
série
de
situações
propícias
ao
desenvolvimento da criança e dos indivíduos em geral. O conceito de
desenvolvimento está ligado ao caráter relacional, devidos as influências que
este ambiente propicia de forma recíproca, através dos membros familiares.
Devido o indivíduo está em processo ativo de trocas contínuas com mundo
mantendo uma relação com diversos ambientes num processo permanente de
mudanças.
32
Por meio de várias atividades desenvolvidas na família, o individuo firma a sua
posição no contexto familiar e posteriormente fora dele. Atividades estas que
envolvem
uma
troca
intersubjetiva
aumentando
a
sua
complexidade
envolvendo mais intencionalidades.
Segundo Szymanski (2009,p.24) “ essas atividades não só desenvolvem
habilidades cognitivas e sociais na criança, mas vão consolidando sua posição
na constelação familiar”.
Um exemplo desta afirmação é a oportunidade que as famílias do proletariado,
oferecem aos seus filhos, quando permitem que uns cuidem dos outros
proporcionando uma situação de aprendizagem de valores, já que os filhos da
classe média não tem a oportunidade de cuidar seus.
Desenvolvimento não tem um conceito neutro como aponta Szymanski (2009),
Apresenta conotações avaliativas que podem se tornar um problema
quando são considerados tanto crianças e jovens ou mesmo práticas
educativas familiares de diferentes culturas, origens ou classes
sociais
sob
o
ponto
de
vista
do
grupo
dominante.(
SZYMANSKI,2009,p. 26)
Sendo a família uma instituição responsável também pelo desenvolvimento da
criança e do jovem, não poderá atuar este papel isoladamente em relação as
outras instituições, pois há um trabalho em conjunto das mesmas para o
desenvolvimento educativo e social.
Quando há uma descontinuidade no processo de socialização entre a bagagem
familiar e o aprendizado escolar, há um prejuízo no desenvolvimento da criança
e do jovem, pois haverá a desconexão do aprendizado social do escolar.
Então relata-se que,
... e o domínio maior ou menor da língua culta trazidos de casa
facilitariam o aprendizado escolar, tendo em vista que funcionariam
33
como elementos de preparação e rentabilização da ação pedagógica
possibilitando o desencadeamento de relações íntimas entre o
mundo
familiar
e
a
cultura
escolar.
(BOURDIEU
APUD
NOGUEIRA,1997,P.63)
O capital cultural apontado por Bourdieu, não é considerado na maioria das
escolas, afirmando a desqualificação das mesmas na utilização deste
arcabouço de conhecimento, fazendo com que as famílias, principalmente das
classes populares conformem-se com a incapacidade dos seus filhos, tratandoos como incapazes.
No entanto, para que uma pessoa tenha um amadurecimento saudável em
todos os sentidos, a estabilidade do lar é essencial. Uma família equilibrada,
organizada, influi no desenvolvimento intelectual da criança.
Durkheim,(s/d,p.45) nos diz que “as gerações adultas influenciam as imaturas
através de seus comportamentos...”, diante disto a grande importância de um
lar estabilizado, para formação de futuros cidadãos responsáveis, honestos
com os seus e com a sociedade é essencial.
Mas, devido as grandes dificuldades financeiras enfrentadas pelas famílias,
surgiram práticas educativas defensivas, por parte dos pais, criando uma
identidade violenta para com os filhos com a função de não serem
discriminadas socialmente pela incapacidade das crianças na escola.
Com este tipo de comportamento os pais acarretam conseqüências nas
crianças, tais como: irritabilidade, crises de birra,negativismo e sentimentos de
inadequação .
O desenvolvimento do individuo, permeia numa teia de relações internas e
externas à família.
Segundo Szymanski
A família como contexto de desenvolvimento é um fenômeno muito
complexo cuja compreensão é dificultada pelo número de fatores
34
envolvidos: interdependentes, internos e externos à família e que
apresentam
efeitos
cumulativos
ao
longo
do
tempo.(
SZYMANSKI,2009,P.28)
Com isto, os ambientes nos quais as famílias freqüentam influenciam no
desenvolvimento social e psicológico da criança e do jovem interferindo na
educação dos mesmos.
35
3.2 FAMÍLIA COMO LOCUS EDUCACIONAL
Não há um modelo, método ou forma definida de educar, pois ela,a educação,
pode ser expressa de várias maneiras para todos os fins. Brandão (1997,p.7)
diz que “para aprender,para ensinar,para aprender-e-ensinar,para saber,para
fazer para ser ou para conviver”.
A educação, prática que na qual, nos institui para vivermos em sociedade, é
realizada em todos os lugares, em todas as horas. A partir do momento que
dialogamos ou simplesmente observamos alguém, estamos participando da
educação, pois existe diversos lugares onde pode ser exercida, a exemplo no
seio familiar.
Com o objetivo de preparar seus descendentes para a sociedade em vivem, as
famílias realizam a transmissão de uma herança cultural possibilitando a
inserção de seus membros num mundo social mais amplo, tornado-o apto a
atuar nele, considerando sua realidade social e histórica.
Assim pode-se dizer que,
Por outro lado, o patrimônio transmitido pela família inclui também
certos componentes que passam a fazer parte da própria
subjetividade do inviduo sobre tudo, o capital cultural em seu estado
“incorporado”.(BOURDIEU APUD NOGUEIRA,1998,p.46)
A família é de fundamental importância, e não há condições nenhuma de
substituição por parte de outra instituição, pois esta passa sua herança cultural,
simbólica e a depender econômica para seu membro.
Com isso, podemos observar que a educação é conjunto de influências
cotidianas, passadas de geração em geração, sendo esta absorvida de forma
positiva ou negativa pelos ouvintes e expectadores, trazendo conseqüências
muitas vezes na opinião de muitos.
36
A educação é um processo no qual a imitação tem grande papel, porque
principalmente para as crianças, os mais velhos são vistos como “espelhos”,
exemplos a serem seguidos.
O sociólogo Durkheim relata que
A influência das coisas sobre os homens, já pelos processos, já
pelos resultados, é diversa
daquela que provém dos próprios
homens; e a ação dos membros de uma mesma geração uns sobre
os outros, difere da que os adultos exercem sobre as crianças e
adolescentes. (DURKHEIM,S/D,p. 46)
Apesar que existem várias formas de educar, nos enganamos em dizer que
educamos nossos filhos como queremos, mas sim, a sociedade é quem dita e
que maneira, devem ser educadas, com base em suas regras e leis. Quando
alguém foge a esta regra, são tachadas de marginais, desta forma a própria
educação se contradiz.
Assim pode-se dizer que:
A educação é uma parcial integrante da produção e reprodução da
vida social, que é determinada por meio da tarefa natural, e ao
mesmo tempo cunhada socialmente, da regeneração de sujeitos
humanos sem os quais não existiria nenhuma práxis social.
(SHMIED-KOWARZIK APUD LIBÂNEO,2009,P.32)
É sugerido que aja um olhar educativo para as família, onde as práticas podem
ser aprendidas e /ou modificadas seguido uma proposta educacional,
transformando os pais em educadores, sujeitos de um programa de formação.
Este tipo de programa seria de fundamental importância para as famílias, já
que é cobrada sua participação, seu envolvimento nos meios educacionais.
A instituição escolar devido às constantes mudanças sociais, tem sua
responsabilidade dobrada pois com a emancipação feminina, bem como outros
fatores, fizeram com que as mulheres, saíssem de casa para o trabalho,
reduzindo assim o seu tempo para os cuidados dos filhos.
37
Mas, sob nenhum motivo, a escola deve isoladamente, exercer esta
responsabilidade de educar sozinha, pois uma instituição complementa a outra,
de forma que o educando, se torne conhecedor de seus direitos e deveres
como cidadãos.
“Educação vem de casa”, diz o ditado popular. A educação na qual a frase
afirma se refere, a educação doméstica, aos modos de portasse nos diversos
lugares. O com licença,o obrigado, o respeito aos idosos, dentre outras
saudações e comportamentos.
Segundo Magalhães,
A família afasta-se cada vez mais do critério biológico e enfatiza a
dimensão sócio-afetiva, independentemente de sua configuração. No
processo de transmissão geracional, ressalta-se a influência da
história das relações na vida dos sujeitos. (MAGALHÃES,2008,p.14)
Nos dias atuais, a família tende a se equilibrar com os diversos
acontecimentos, que influenciam no comportamento dos jovens e crianças. A
mídia, a internet ditam os modos de agir, deixando pais e educadores perdidos
em meio a uma rajada de informações.
No entanto, a família ainda é o ambiente propicio para a aprendizagem
doméstica e neste contexto de transformações ainda permanece como lugar da
confiança, dos laços sólidos, de apoio e de proteção.
38
4.
FAMÍLIA E ESCOLA ENTRE CONFLITOS E
POSSIBILIDADES
A proposta de interação entre a família e a escola, tem um objetivo em comum:
a educação das crianças, mas este objetivo ao invés de uni-las para um
mesmo propósito, acaba tornando-as inimigas, devido a troca de acusações
entre uma e outra instituição.
Apesar das transformações pelas quais a família e a escola passaram nos
últimos séculos, é essencial que se arrisque a parceria destas fundamentais
para o desenvolvimento humano.
Um dos maiores desafios para as escolas atualmente é integrar a família no
seu projeto pedagógico, em seu cotidiano de maneira participativa, não
somente como ouvinte em reuniões de pais, mas que o diálogo entre ambas
seja a principal ferramenta para a construção de uma relação mais íntima e
sólida.
Educar para a Era da Relações, é educar de maneira participativa,autônoma,
com um pensamento partindo do individual para o coletivo, de forma reflexiva,
consciente das tomadas de decisões, para que estas sejam motivos de alegria
no presente e no por vir. Moraes (2003) diz que “ é uma era de autoconsciência
de respeito ao espírito humano e à diversidade cultural”.
Quando existir um reconhecimento, um respeito mútuo entre família e escola,
haverá uma eficiência no trabalho com os educandos, para alcançar os devidos
objetivos sociais. Através destes favorecerá sentimentos de confiança e
competência, distinguindo o papel de cada uma em seu contexto social.
39
4.1( RE ) SITUANDO AS RELAÇÕES ENTRE ESCOLA E FAMÍLIA
A realidade na qual a família vive, deve ser compreendida pela escola e não
julgada, como é frequentemente tachada. O preconceito torna-se uma
interpretação continua do outro, a limitação, a idéia fechada de que o próximo
por ser diferente está errado.
A família desestruturada, a carência cultural, o desinteresse das famílias são os
estereótipos mais pontuados pela escola, para rotularem o insucesso dos seus
educandos.atualmente existem novas configurações familiares, sendo que está
na maioria dos casos não são as responsáveis pelo fracasso escolar do aluno.
Szymanski nos diz que
O conhecimento das escolas a respeito das famílias é, muitas vezes,
baseado em preconceitos. O preconceito se limita a uma
interpretação fechada do outro e seu mundo e define atitudes,
sentimentos e ações que guardam a mesma característica de rigidez
. ( SZYMANSKI,2009,p. 107)
Ao invés de dar conceitos pejorativos, a escola deve conhecer as famílias, suas
dificuldades seus problemas mais comuns, para assim uma possível ajuda para
a resolução dos mesmos.
Uma das metas que deveriam fazer parte do planejamento pedagógico de uma
escola, é a integração das famílias com o ambiente escolar, agindo como saída
para um desempenho de sucesso nas atividades escolares.
Relata que,
A ajuda fornecida pela família revesti-se de formas diferentes nos
diferentes meios sociais: a ajuda explicita ( conselhos, explicações,
etc), e percebida como tal, cresce à medida em que o nível social se
eleva, ainda que pareça decrescer à medida em que o grau de
sucesso
escolar
NOGUEIRA,1997,p.64)
aumenta.
(
BOURDIEU
APUD
40
Todas as atividades escolares, devem calçar-se na sociedade, porque em
última análise para ela é que são devolvidos os educandos ainda mais se
considerarmos que a própria família como instituição social que é tem seus
motivos de sobrevivência.
Sobrevivência esta, que impede dos pais estarem mais presentes nas reuniões
pedagógicas, para questionarem as faltas e as freqüentes substituições das
professoras, bem como a falta de material didático adequado, pois na ocasião
estão em horário de trabalho, aceitando desta maneira passiva o veredicto da
escola de que seus filhos não levam jeito para os estudos. (Szymanski,2009)
Almeja-se um encontro que resulte em mudanças nesta relação tão
conturbada. Inicialmente a família deve compreender a linguagem da escola,
principalmente a burocrática. Linguagem esta tão difícil para uma grande
parcela da população que mal sabe ler e escrever enfadigada de preocupações
no seu dia-a-dia.
Segundo Szymanski,
As famílias precisam aprender a linguagem da escola principalmente
a burocrática. Datas e prazos, o próprio tempo é diferente para elas.
O imediatismo da miséria traz seu futuro para hoje à noite ou
amanhã.
Lideranças
comunitárias
podem
ser
interlocutores
eficientes, pois suas atividades as capacitam para circular entre a
sociedade organizada e seus próprios grupos. ( SZYMANSKI,2009,p.
108)
Tanto a escola como a família, passaram por diversas transformações nos
últimos séculos,devido as novas perspectivas pedagógicas adotadas na
atualidade s sendo esta uma das primeiras mudanças na qual a escola
enfrentou. Hoje a escola deve conhecer e respeitar o aluno em sua diversidade
sócio-economica-cultural. (NOGUEIRA,2003)
As famílias por sua vez convive com a inserção feminina no mercado de
trabalho, o aumento da população, a proibição do trabalho infantil a
obrigatoriedade do Estado e da família, para com a educação escolar das
crianças dentre outros fatos, mudaram toda a organização familiar. Estas
41
mudanças apresentam-se tão intensas que deixam as duas instituições
perplexas quanto aos seus objetivos sociais e quanto às maneiras de alcançálos.
Entre escola e família existem especificidades e limites que são atribuídos para
cada instituição, definindo suas responsabilidades para com seus membros. As
famílias tem a função de reprodução sexual/biológica e a escola encarregada
pela reprodução cultural/social dos indivíduos. Cada uma destas, com várias
distinções, são heterogêneas em suas relações, conflitos, concepções e
práticas educativas.
Segundo Szymanski,
Assim os conflitos entre famílias e escolas podem advir das
diferenças de classes sociais,valores,crenças hábitos de interação e
comunicação subjacents aos modelos educativos. Tanto crianças
como pais podem comportar-se segundo modelos que não são os da
escola. ( SZYMANSKI,2009,p. 111)
Com as diversas mudanças ocorridas na sociedade principalmente na esfera
educacional, a família-educadora pertence a um passado distante, atribuindo a
uma nova divisão de trabalhos. O cuidado e a educação dos indivíduos.
Segundo Carvalho
A família se encarrega dos cuidados essenciais a uma boa qualidade
de vida; e a escola se encarrega da instrução intelectual,cívica,da
qualificação para o trabalho que a maioria das famílias (
pobres,trabalhadoras assalariadas ) da sociedade urbano-industrial
não pode prover. (CARVALHO,2008,p.30)
Esta especificidade atribuída a família descrita pela autora acima, estão longe
de serem executadas principalmente pelas famílias das classes trabalhadoras,
pois muitas tem dificuldades financeiras, dificuldades estas explícitas de
sobrevivência, passando para escola, a responsabilidade suprir até a
necessidade básica de alimentação via a merenda escolar, quanto mais as
outras.
42
A relação entre as duas instituições é conturbada, no aspecto a quem é
responsável pela educação das crianças, pois há alegação da escola, que é
delegada a ela (escola) a educação no modo geral para os alunos, mas
existem aqueles que tomam para si esta atitude retirando a autoridade da
instituição familiar.
Uma das especificidades da família é a socialização de seus membros, a
interrelação entre o privado e o público. Quando este papel é bem sucedido, há
uma maior possibilidade de sucesso, pois na maioria das vezes o
comportamento transmitido por cada criança, cada jovem é o espelho de seu
ambiente social familiar.
Ressalta-se que tal atitude é mais executada em famílias com baixa ou
nenhuma escolaridade, no qual há uma relação de poder cercada de vários
fatores, porque nas mãos da instituição escolar está o conhecimento, onde
ficam vulneráveis estas famílias a todo e qualquer veredicto da escola.
A partir dos anos 1990, com a inclusão intensificada de mais de 90% das
crianças em idade escolar ao sistema público de educação. Para estas
famílias, antes excluídas deste contexto o direito à Educação é um privilégio,
uma conquista.
Escola e família pertencem a um mesmo universo, mas infelizmente cada um
está em uma galáxia distante da outra. Quando ambas, estiverem em sintonia,
estiverem realmente comungando em um só propósito, a especificação de
responsabilidades de ambas para a excelência do desenvolvimento educativo
dos indivíduos ( crianças e jovens), haverá o fortalecimento das relações entre
a educação formal e informal existindo a verdadeira evolução da sociedade.
43
4.2
EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO HUMANO
As relações entre as instituições educacionais formais e informais, tornam-se
necessário em nosso cotidiano, para podermos lidar com esta sociedade
complexa, na qual vivemos.
Formalmente
na
escola,
informalmente
na
família,
nas
igrejas
no
trabalho,sindicatos,movimentos populares e demais organizações sociais a
educação acontece, pois há um encontro de pessoas, que expõem seus
conhecimentos cotidiano, seu capital cultural para as demais.
Segundo Szymanski,
É importante consideramos as diferentes formas de relações sociais
propostas pelos vários contextos sociais pelos quais transitamos,
para que venha a se instaurar uma relação horizontal e dialógica, em
especial entre a família e a escola.(SZYMANKI,2009,p.15)
Educar para o desenvolvimento humano é realizar um trabalho de
conscientização, inteligência capacitando o indivíduo para viver uma sociedade
heterogênea, no qual se encontra num constante processo de transformação.
Para um efetivo sucesso do desenvolvimento do ser, a educação deverá
oferecer ao educando ferramentas eficazes para torná-lo um cidadão
consciente das suas decisões e atitudes, colaborando de forma facilitadora
para a transição da Era Material para a Era da Relações.
Moraes afirma que,
A educação deverá oferecer instrumentos e condições que ajudem o
aluno a aprender a aprender, a aprender a pensar, a conviver e a
amar. Uma educação que ajude a formular hipóteses, construir
caminhos, tomar decisões, tanto no plano individual quanto no plano
coletivo. (MORAES,2003,p. 211)
44
A educação com enfoque para o desenvolvimento humano, é uma das
principais peças de um processo de transformação, pois as decisões tomadas
no agora não afetam tão somente ao nosso comportamento, mas de todos
aqueles que se encontram ao nosso redor e no pós-vim, interferindo no
ambiente em que vivemos e na própria humanidade.
Segundo Moraes,
É aquele ser que pensa que sabe o que quer, que escolhe e decide
a sua experiência diante das possibilidades que se apresentam. É o
ser que constrói a sua própria identidade, com base em sua
liberdade
e
em
sua
autonomia
para
tornar-se
sujeito.
(MORAES,2003,p.212)
Sendo muito rico e diversificado, pois cada pessoa tem suas próprias
características, que nos diferenciam uns dos outros, o desenvolvimento
humano tem seu próprio ritmo, dependendo das motivações para as diversas
mudanças de comportamento.
O imprevisto, a incerteza dão riqueza a vida humana, pois não possui padrões
pré-estabelecidos sendo estes produtores do avanço, do progresso e da
mudança do comportamento com princípio nas diversas reflexões acerca dos
mesmos.
Assim, podemos dizer que
É
o desequilíbrio que gera o desenvolvimento, pois este é uma
equilibração progressiva, uma passagem contínua de um estado de
menor equilíbrio para um estado de equilíbrio superior. ( PIAGET
APUD FARIA,1989,p. 200)
Com este fato o desenvolvimento humano, acontece numa constante
adaptação, na satisfação das necessidades, na solução de problemas, sendo a
função contínua do desenvolvimento. O ser humano desenvolve-se para
adaptar-se. (FARIA,1989)
45
Neste constante desenvolvimento assimilamos e acomodamos a diversas
situações. A Psicologia do Desenvolvimento, na qual um de seus grandes
autores, Jean Piaget ( 1896 – 1980), nos diz que “a assimilação faz com que
compreendemos o mundo exterior as pessoas, os objetos às estruturas que já
obtemos e a acomodação reajustamos ou criamos novas estruturas”.
Com isto, a Psicologia é uma grande aliada da Educação para a compreensão
do
comportamento
do
indivíduo
para
ser
efetuados
os
devidos
acompanhamentos, para um desenvolvimento saudável da criança e do jovem.
A educação para o desenvolvimento humano, trabalhar a reflexão, uma prática
educativa que conduz o indivíduo a dar significado às coisas, interpretar,
nomear e identificar sua própria relação com elas. ( Moraes,2003)
A educação como ponte para o desenvolvimento humano nos remete para
reflexões, fazendo com que o indivíduo perceba a si próprio como elo entre a
compreensão,o saber e o seu fazer, tendo por fim à ação, propriamente dita, da
sua tomada de decisões conscientes e eficazes para o seu convívio em
sociedade.
A educação para o desenvolvimento, neste contexto relacional, trabalha o
crescimento da autonomia, da cooperação e da criticidade, fazendo parte tanto
do perfil do educando como do professor.
Indivíduos que pensam sobre si mesmos, não acentuando o individualismo,
mas a cooperação, a parceria e o compartilhamento entre os membros
aprendizes, reconhecendo a importância das experiências e o saber de cada
um para a construção do conhecimento coletivo.
Através da capacidade de reflexão sob a ótica educativa, nos dias atuais,
relata-se muito sobre desenvolvimento sustentável, os modos conscientes
sobre o consumo, valor universal que promove a dignidade humana e a melhor
qualidade de vida.
46
A educação para o desenvolvimento humano, enfatiza a reflexão sobre a ação,
a consciência e a dignidade humana, para a evolução da sociedade para um
mundo mais sociável.
47
4.3 FAMÍLIA E ESCOLA PARA ERA DAS RELAÇÕES
A sociedade tem diversas relações sociais, onde existem oposições e relações
de exploração, sendo quer a educação aparece com caráter emancipatório,
para, para que aja uma transformação desses relacionamentos.
A Era das Relações a compreensão que não se há separação entre o
instrumento de observação e objeto observável, de que o todo só pode ser
entendido com base em suas partes, em suas conexões e em suas relações.
Muitos afirmam que vivemos na era da informação, da tecnologia, mas o século
atual, engloba muito mais que estes fatores, e sim, as relações do homem
consigo e com o seu redor, o ambiente, a natureza e o seu próximo.
Segundo Moraes
Estamos caminhando em direção a uma era das relações que
envolve a unicidade com o real, com eu a integração do homem com
a natureza, a crença na inexistência de partes distintas e o
prevalecimento de formas mais elevadas de cooperação entre seres
viventes e não viventes. (MORAES,2003.p. 210)
A transição da Era Material para a Relacional nos mostra que o poder não está
somente centrado nos bens materiais, na quantidade e na disponibilidade dos
mesmos, mas na teia de relações no poder do relacionamento entre o
conhecimento e a informação disponíveis, transferido para o ser humano, o
indivíduo compreendido como um ser de relações, como tudo o que existe na
natureza.
Uma educação para Era das Relações requer que o desenvolvimento humano,
seja observado como um processo em continuidade,não algo pronto acaba,
num movimento constante e permanente de vir a ser. Compara-se com o
movimento das marés.
Constituído de ondas de reflexão que se desdobram em ações e que
dobram e se concretizam em novos processos de reflexão. É um
movimento recursivo de reflexão na ação e de reflexão sobre a ação.
48
Requer
a
reflexão
crítica
sobre
a
práxis
histórica.(MORAES,2003,p.213).
A reflexão sobre as vivências, sobre as ações realizadas, as experiências são
processos que permitem um aprimoramento pessoal de grande relevância.
Schon apud Moraes (2003), define este processo como “reflexão na ação e
reflexão sobre ação”. A reflexão na ação é o diálogo do pensamento como a
realidade, desenvolvendo simultaneamente e sua própria ação sobre o objeto.
As teorias científicas (pensamento quântico e teoria da relatividade), ao
reconhecer as relações existentes entre o sujeito, o objeto e seus instrumentos,
chamam atenção para afirmação que não somos espectadores do mundo, mas
construtores da realidade mediante a nossa interação com este.(Moraes 2003)
A escola e família como instituições que relacionam-se, mesmo que de maneira
precária, teem o dever de estimular os seus membros, na conscientização do
respeito entre eles e o ambiente no qual usufrui, como integrante deste meio.
A pedagogia reflexiva segundo Dewey apud Moraes (2003 p. 215), pressupõe
uma educação voltada para a qualidade do pensamento superior que está
sendo gerado e, em decorrência para a qualidade do conhecimento que está
sendo produzido,transformado e aplicado no pensamento.
Através desta pedagogia reflexiva o desenvolvimento de competências de grau
superior
do
indivíduo
lhe
assegurará
num
mundo
de
incertezas,imprevistos,mudanças bruscas, no qual deverá desenvolver novos
subsídios para enfrentar as intempéries do cotidiano relacional.
Desta forma será estimulado em suas virtudes, com base na compreensão em
laços amorosos de respeito mútuo tendo em vista melhor integrá-lo no mundo
familiar e social a que pertence.
*A relação família e escola, precisa ser fortalecida no intuito de educar para a
cidadania global, significando formar seres capazes de conviver,comunicar e
49
dialogar num mundo interativo e interdependente utilizando os instrumentos da
cultura.(Moraes,2003)
Esta nova educação exigi do indivíduo sua instrumentação tecnológica, mas ao
mesmo tempo humana,desenvolvendo uma consciência fraterna,solidária e
compreensiva, sendo que a sua evolução é individual, mas consequentemente
coletiva,sendo esta a primordial.
Desta forma será estimulado em suas virtudes, com base na compreensão em
laços amorosos de respeito mútuo tendo em vista melhor integrá-lo no mundo
familiar e social a que pertence.
Educar para a cidadania global é educar para a diversidade, ter consciência
que somos diferentes e que cada um tem o direito de ser singular, exigindo um
respeito e uma compreensão pelo outro.
Através da diversidade poderá ser trabalhado os ambientes internos de cada
um, para facilitar o autoconhecimento do outro, como forma de nos
conhecemos para quebrarmos barreiras emoções destrutivas, sentimento de
apego e possessividade em relação as coisas,às pessoas e às idéias.
(Moraes,2003)
Família e escola para Era das Relações, deseja uma reflexão que englobe
tanto as dimensões materiais como espirituais da sociedade, buscando a
superação de preconceitos e metas para uma melhor qualidade de vida através
do conhecimento, favorecendo a busca de novos caminhos contribuindo para
que todos possam aprender a conviver e a criar um mundo melhor.
50
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo deste assunto foi de grande relevância não tão somente para o
enriquecimento do meu arcabouço teórico, referente ao tema escolhido, mas
para um olhar da academia, em outro foco para este título que já foi
monografado em seus mais diversos aspectos.
Através deste estudo reformulei os meus conceitos, acerca das configurações
familiares, dos estereótipos dados pelas instituições escolares, tais como
família desestruturada, as
configurações familiares que são diferentes da
estrutura dita como “ ideal de família” pela burguesia, que significam para
muitos um dos principais motivos do déficit escolar dos educandos.
Entendo agora que são novas configurações familiares e que estas, em muitos
casos não são as responsáveis pelo fracasso escolar do educando, mas sim,
outros fatores conciliados levam a este fim.
Com base nestes aspectos pontuou-se um olhar relevante para este tema,
devido a estas duas grandes instituições, família e escola possuírem um forte
elo relacional, uma ponte constantemente tecida e re-tecida, tão importante
para o futuro da sociedade moderna.
Daí, vemos a preocupação com o assunto exposto, porque não se deve ficar
sobre a cargo de uma ou outra instituição, a responsabilidade de tornar as
crianças futuros cidadãos, convictos de seus direitos e deveres junto a
sociedade onde vivem, mas ao equilíbrio, em parceria para a boa marcha da
educação, de uma sociedade mais humana e ciente de seu compromisso com
o amanhã.
O trabalho foi iniciado com a contextualização histórica da família, abordando
sua história pela Idade Média a Contemporânea, passeando pela sua evolução,
partindo esta, de fora para dentro, do público para o privado, do social para o
individual.
51
Nesta contextualização podemos observar, que quando buscamos o conforto,
buscamos também o isolamento,com isto vemos o inicio da privatização
familiar,primeiramente para a comunidade depois para os próprios familiares.
A configuração familiar ganha novas roupagens. O ideal de família dita pela
burguesia, cai por terra, dando espaço para novos arranjos familiares. As
aparências e o conformismo tão presentes na época, dão lugar as separações
matrimoniais, a emancipação feminina, a liberdade sexual, aos métodos
anticoncepcionais.
Com estas mudanças, leva a família um novo contexto definindo-a como
instituição social, aquela que inseri o indivíduo a sociedade, conectando-o às
relações exteriores ao ambiente familiar ( escola,rua,igreja).
Construindo o
sujeito, a partir das experiências dos membros familiares é realizada a
educação informal, o comportamento, as crenças e valores para a construção
da personalidade, pela relação intergeracional, a relação da crianças as
diversas gerações em um mesmo contexto familiar ou social, sendo que a
família age desta forma como lócus educacional.
As relações entre família e escola como podemos verificar, formam uma teia,
uma conexão entre o indivíduo e o mundo ao seu redor. É uma cadeia
relacional que se intensifica cada ano escolar, a cada novo membro que nasce
ou entra na família, a cada novo vizinho,amigo... bem a teia não pára de
crescer, está em constante desenvolvimento.
Atualmente, vela-se pela reflexão por uma qualidade de vida saudável, pelo
consumo consciente , pelo coletivo iniciando pelo individual. Era das Relações
nos remete a refletir sobre o nosso passado, a viver de maneira consciente o
presente para um futuro feliz.
A família e a escola teem um importante papel: o de educar para a cidadania.
Não somente para a cidadania, mas para uma cidadania global, para uma
tomada de decisões consciente de que esta não afetará tão somente o
indivíduo, mas como ele faz parte de uma cadeia de relacionamentos, de uma
52
comunidade, de um planeta, de uma família estas decisões poderão afetar a
curto ou a longo prazo os demais.
Educar para Era das Relação é educar o ser humano de maneira a torná-lo
autônomo,criativo, responsável consigo, com a sociedade, com a natureza. É
lembrá-lo que ele não está sozinho neste tão lindo planeta.
53
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NORMAS
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54
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<WWW.PLANALTO.GOV.BR/CCIVIL/LEIS/L6515.HTM > Acessado no dia
19/01/2010 às 16:31.
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ANEXO
Família
Titãs
Composição: Arnaldo Antunes / Toni Bellotto
Família! Família!
Papai, mamãe, titia
Família! Família!
Almoça junto todo dia
Nunca perde essa mania...
Mas quando a filha
Quer fugir de casa
Precisa descolar um ganha-pão
Filha de família se não casa
Papai, mamãe
Não dão nem um tostão...
Família êh! Família ah!
Família! oh! êh! êh! êh!
Família êh! Família ah!
Família!...
Família! Família!
Vovô, vovó, sobrinha
Família! Família!
Janta junto todo dia
Nunca perde essa mania...
Mas quando o nenêm
Fica doente
Uô! Uô!
Procura uma farmácia de plantão
O choro do nenêm é estridente
Uô! Uô!
Assim não dá pra ver televisão...
Família êh! Família ah!
Família! oh! êh! êh! êh!
Família êh! Família ah!
Família! hiá! hiá! hiá!...
56
Família! Família!
Cachorro, gato, galinha
Família! Família!
Vive junto todo dia
Nunca perde essa mania...
A mãe morre de medo de barata
Uô! Uô!
O pai vive com medo de ladrão
Jogaram inseticida pela casa
Uô! Uô!
Botaram cadeado no portão...
Família êh! Família ah!
Família!
Família êh! Familia ah!
Família! oh! êh! êh! êh!
Família êh! Família ah!
Família! hiá! hiá! hiá!...
QUE DEUS ABENÇOE A TODAS AS
FAMÍLIAS!!!!!!!!!!!!!
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