RELATO DE CASO DO EMBALSAMAMENTO DE Puma concolor ATROPELADO NOVAKOSKI , Eduardo1; EBONE, Christian 2; MACHADO, Elton Lima3; MARTINEZPEREIRA M alcon Andrei4. Palavras-Chave: Felinos Selvagens. Dissecção. Peça Anatômica. INTRODUÇÃO Atualmente, considerando as possíveis necessidades de revisão taxonômica, existem 1.359.400 animais conhecidos no mundo e pelo menos 103.870 destas espécies ocorrem no Brasil (LEWINSOHN; PRADO, 2006). Dentre os mamíferos, em torno de 524 espécies são encontradas em território brasileiro, representando 13% da mastofauna do mundo, e embora, haja preocupação com sua conservação e preservação, tais espécies continuam sendo significativamente dizimadas, direta ou indiretamente, pela ação do homem. Diariamente vários animais silvestres brasileiros são encontrados mortos às margens de rodovias (OLIVEIRA; SILVA, 2012). Neste sentido, é notória a necessidade de estudos anatômicos para que se conheçam as peculiaridades de cada espécie. Entre os animais da fauna brasileira, alguns já são raros na sua distribuição, ocasionada por uma representativa diminuição de seu território, em consequência de desmatamentos (EMMONS, 1990) ou pela caça indiscriminada, aumentando sua exposição a situações de risco, fatores estes que contribuíram para que seja ameaçado de extinção no Brasil (BERNARDES et al., 1990). Este é o caso do Puma concolor, maior felino brasileiro e segundo maior felino da América Latina, variando seu nome conforme a região do país (puma, suçuarana, onça-parda, leão da montanha e leão-baio), devido a sua pelagem lisa com coloração avermelhada (ANDERSON, 1983; NOWELL; JACKSON, 1996). Distribuindo-se em diversos habitats (desertos áridos, florestas tropicais úmidas e frias florestas de coníferas) em diferentes altitudes que podem chegar até 5000 metros nos Andes (REDFORD; EISENBERG, 1992; NOWELL; JACKSON, 1996). A anatomia animal constitui uma disciplina do ciclo básico de formação do Médico Veterinário, representando uma importante ferramenta na elaboração do diagnóstico e no sucesso da escolha da conduta clínica e cirúrgica, além de fornecer importantes informações 1 Biomédico, Mestrando em Ciências Criminológicas Forense - Universidade de Ciências Empresariais e Sociais – UCES- Técnico Cientifico – Universidade de Cruz Alta- RS [email protected] 2 Acadêmico Curso de Medicina Veterinária, Centro Ciências da Saúde e Agrárias (CCSA), Universidade de Cruz Alta (UNICRUZ). Bolsista PIBIC-UNICRUZ. E-mail: [email protected] 3 Acadêmico Curso de Medicina Veterinária, CCSA, UNICRUZ. E-mail: [email protected] 4 Docente Curso Medicina Veterinária, CCSA, UNICRUZ. E-mail: [email protected] sobre as características de cada espécie (DYCE; SACK; WENSING, 2010). Ainda, as preparações anatômicas possibilitam a exposição de músculos, vasos e nervos, sendo possível o acompanhamento de origens, distribuições e segmentação, contribuindo no aprendizado prático melhorando as habilidades aplicativas, assimilativas e compreensivas da disciplina preparando os estudantes para uma situação real, além do caráter cientifico acadêmico (KIMURA; CARVALHO, 2010). O objetivo do presente relato foi descrever o processo de embalsamamento de um espécime de Puma concolor, que veio a óbito por atropelamento em rodovia e que foi destinado ao Laboratório de Anatomia Animal da UNICRUZ. RELATO DO CASO No dia 22 de maio de 2015 foi encontrado na ERS 342, um Puma concolor, macho, adulto que veio a óbito devido à evisceração e hemorragia abdominal em decorrência de atropelamento por veículo automotivo de grande porte. O cadáver foi encaminhado ao Hospital Veterinário e posteriormente ao Laboratório de Anatomia Animal da UNICRUZ pela Patrulha Ambiental da Brigada Militar após a comunicação do óbito para o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). No Laboratório de Anatomia Animal foi realizada a técnica de embalsamamento por perfusão de formaldeído a 20% (RODRIGUES, 1998). Para tanto foi realizado o rebatimento da pele na região cervical lateral para dissecção e acesso à veia jugular externa e artéria carótida comum esquerda, seguida de canulação, por sondas uretral 8mm e 6mm, respectivamente. Após a canulação, foi injetada solução fisiológica heparinizada para lavagem e remoção de possíveis coágulos na intenção de melhor a perfusão intravascular, visto que o procedimento foi realizado a cerca de 8 h após o óbito. Durante este processo, observou-se com maior nitidez a extensão do rompimento vascular ocasionado pelo incidente, sendo identificada a destruição de parte da aorta abdominal, artérias renal direita, mesentérica cranial e caudal. Com isso procedeu-se com fechamento da aorta abdominal, em direção ao diafragma, com fio de algodão, procurando evitar o vazamento das soluções injetadas, bem como sua canulação no sentido caudal para a lavagem e fixação das estruturas da porção caudal do corpo. Após a canulação, foi injetado o formaldeído por meio do método de pressurização, perfundindo-se por toda região vascular. Também foram realizadas injeções intramusculares para garantir a inibição do processo de autólise e putrefação. Na sequência o animal foi imerso em tanque de formol a 50% para termino do processo de fixação por duas semanas. DISCUSSÃO O termo embalsamamento deriva do Latim in balsamum, com o significado de preservação pelo bálsamo, aplicado na antiguidade (DUNAND; LICHTENBERG, 2002). A preocupação quanto a conservação de peças anatômicas perdura por mais de 5 mil anos, pois o uso destas são indispensáveis para o ensino, sendo um método utilizado em todo o mundo (KIMURA; CARVALHO, 2010). A conservação tem como objetivo preservar da maneira mais próxima possível, a morfologia e características das peças, como in vivo, tal como consistência, coloração e flexibilidade. Rotineiramente, pode-se contar com uma grande variedade de técnicas que auxiliam na preservação dos tecidos animais para estudo (KIMURA; CARVALHO, 2010). As peças podem ser conservadas, na grande maioria, em solução de formaldeído a 10% ou pela técnica de glicerinação para que possam ser dissecadas para estudo (FREITAS et al., 2009). Rodrigues (1998) afirma que o sucesso na conservação dos cadáveres depende essencialmente da correta aplicação da técnica, que inicia-se com a canulação dos vasos, seguida da capacidade de penetração do fixador nos tecidos. Assim, o procedimento aplicado para a conservação do cadáver de Puma concolor foi adotado corretamente, entretanto como período entre o óbito e a realização do mesmo foi longo, optou-se por realizar a perfusão com formaldeído 20%, seguido pela imersão em uma concentração a 50%. Ainda, a injeção prévia de solução fisiológica heparinizada permitiu uma maior penetração da solução de fixação. CONSIDERAÇÕES FINAIS. Este estudo teve o objetivo de descrever a forma de embalsamento para um Puma concolor que estava com múltiplas fraturas e lesões decorrentes de um atropelamento. A técnica utilizada foi administrada com sucesso, impedindo qualquer forma de autólise ou putrefação, mesmo sendo executada algumas horas após o óbito. Isto permitiu que o cadáver venha sendo utilizado em pesquisa cientifica acadêmica, preservando suas características anatômicas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. ANDERSON A. A critical review of literature on puma (Felis concolor).Colorado Division of Wildlife. Wildlife research Section. Special Report Number 54: 91.1983 BERNARDES, A.T.; A.B.M. MACHADO; RYLANDS A.B. Fauna brasileira ameaçada de extinção. Fundação Biodiversitas. 62p, 1990. DUNAND, F.; LICHTENBERG, R. Les Momieset la Mort en Égypte, Paris, Errance. 2002. DYCE KM, SACK WO, WENSING CJG. Tratado de Anatomia Veterinária. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. EMMONS, H.E. 1987. Comparative feeding ecology of felids in a neotropical rainforest. Behav.Ecol.Sociobiol. 20: 71-283. ____________. 1990. Neotropical rainforest mammals. The University of Chicago Press, 234p. FREITAS I.B., SOUZA A.M.; SANTOS R.M.B. Técnica anatômica aplicada na conservação de cortes segmentares em Canis familiaris e Decapterus macarellus. IX Jornada de Ensino, Pesquisa e Extensão, UFRPE, Recife, p.1-3. 2009 (Resumo) DisponívelemAcessoem 2 ago. 2011. KIMURA A.K.E.; CARVALHO W.L. Estudo da relação custo x benefício no emprego da técnica de glicerinação em comparação com a utilização da conservação por formol. Trabalho de Conclusão de Curso de Extensão em Higiene Ocupacional, Universidade Estadual Paulista, Araraquara, SP. 30p, 2010. LEWINSOHN, T.M.; PRADO, P.I. Síntese do Conhecimento Atual da Biodiversidade Brasileira. In: T.M. Lewinsohn. (coord.). Avaliação do Estado do Conhecimento da Biodiversidade Brasileira. Vol. I. Brasília, Ministério do Meio Ambiente. (Série Biodiversidade, 15), p.21-109, 2006. OLIVEIRA, D. S; SILVA, V. M. Vertebrados silvestres atropelados na BR 158, RS, Brasil. Biotemas 25, 2012. NOWELL K, JACKSON P. Wild Cats: Status, Survey and Conservation Action Plan. IUCN, Gland, Switzerland.1996 REDFORD KH, EISENBERG JF. Mammals of the Neotropics. Vol.2 The Southern Cone. University of Chicago Press.Chicago.1992 RODRIGUES, H. Técnicas Anatômicas. Vitória: Arte Visual, 1998.