Dermatite atópica (DA) ou Eczema atópico ou Prurido de Besnier DERMATITE ATÓPICA Profª Jane Bettiol Epidemiologia Em 85% dos casos o iní início se dá dá nos primeiros 5 anos de vida (60% durante o primeiro ano) e em apenas 15%, numa fase mais tardia. Evolui para cura, sem recorrência em mais de 50% das crianç crianças. As crianç crianças com asma ou rinite alé alérgica concomitante têm uma incidência de 30% a 50% de desenvolvimento de dermatite ató atópica. pica. Não há há predileç predileção por raç raça ou sexo, entretanto alguns dados de literatura no Brasil apontam um predomí predomínio da raç raça negra e do sexo masculino. É uma doenç doença inflamató inflamatória crônica recidivante, caracterizada por intenso prurido, com lesão eczematosa, de localizaç localização tí típica de acordo com a idade e freqü freqüentemente associada às outras doenç doenças ató atópicas (trí tríade ató atópica: pica: asma, rinite alé alérgica e dermatite). Tem etiologia difí difícil de ser identificada, poré porém parece estar ligada à gené genética e a agentes ambientais. Alterações imunológicas Ocorre aumento de IgE e desequilí desequilíbrio de células T CD4 (predomí (predomínio da produç produção de ILIL4 e reduzido INF, ou citocinas do tipo Th 2). Há baixa imunidade celular maior reduç redução na populaç população de LT CD8 e cé células NK → predisposiç predisposição a infecç infecções cutâneas virais (herpes,molusco contagioso, verrugas). Capacidade fagocí fagocítica e quimiotá quimiotática reduzida de NTs e monó monócitos. 1 Fatores que podem estar relacionados às alterações imunológicas Níveis deficientes de ácidos graxos ômega 6 no sangue e nos tecidos adiposos. Principais desencadeantes As prostaglandina E1 (PGE1) e a PGE2, principais metabó metabólitos da biossí biossíntese dos ácidos graxos ômega 6, têm demonstrado suprimir a sí síntese de IgE e são necessá necessárias para a estimulaç estimulação ótima das atividades das cé células Th1 pelos hormônios tí tímicos. Alimentos (leite, ovo, trigo, soja, amendoim, peixes e frutos do mar) Fatores ambientais (á (ácaros, fungos, animais, polens) Irritantes cutâneos (lã, sabão, detergentes, amaciantes de tecido, solventes, suor) Infecç Infecções (ví (vírus, bacté bactérias) Fatores emocionais DA induzida por alimentos DA e os Alérgenos ambientais A alergia alimentar está está implicada em um terç terço à metade das crianç crianças com DA. Aeroalé Aeroalérgenos (ácaros da poeira domé doméstica, bolores, pó pólen) induzem eosinofilia perifé periférica e níveis elevados de IgE no sangue. Os alé alérgenos alimentares mais comuns são o ovo, a soja, o leite, trigo, peixe, frutos do mar e amendoim, que, em conjunto, são responsá responsáveis por 90% dos casos de DA induzidos por alimentos em desafios alimentares duploduplo-cegos e controlados por placebo. Em geral as alergias alimentares vão diminuindo de intensidade depois de 1 ano de idade. Esses efeitos iniciais levam a aumento da liberaç liberação de histamina dos mastó mastócitos ativados por IgE e atividade elevada do sistema imune mediados por linfó linfócitos Th. Th. O aumento da liberaç liberação de mediadores vasculares (bradicinina e histamina) induz vasodilataç vasodilatação, ão, edema e urticá urticária e estimula o prurido e alteraç alterações inflamató inflamatórias cutâneas. 2 DA e irritantes cutâneos Irritantes de contato (sabões, solventes, roupas de lã, irritantes mecânicos, detergentes, conservantes, perfumes) promovem irritaç irritação e uma porta de entrada para maior agressão ambiental. Esses irritantes da superfí superfície, juntamente com os efeitos macerativos da sudorese e os efeitos ressecantes da baixa umidade, reduzem o limiar pruriginoso. SegueSegue-se um ciclo vicioso de prurido e coç coçaduras (arranhões) o que baixa ainda mais o limiar pruriginoso e, subseqü subseqüentemente, causa aumento do prurido. DA e agentes infecciosos Pacientes com DA apresentam parte da IgE dirigida contra ácaros do pó pó de casa. DemonstrouDemonstrou-se que o contato com aeroalé aeroalérgenos pode exacerbar a DA. Fungos intra e extraextra-domiciliares també também têm sido implicados na doenç doença, bem como os que colonizam a pele, como a Candida albicans, albicans, Malassezia furfur e o Trichophyton spp. Ciclo vicioso “prurido-coçar” Ao coç coçar se está está causando dano tecidual que estimula queratinó queratinócitos a secretarem quimiocinas e citocinas e a induzirem a expressão de molé moléculas de adesão nas cé células endolteliais. endolteliais. Ocorre então, o recrutamento de cé células como linfó linfócitos, eosinó eosinófilos e macró macrófagos perpetuando, atravé através de seus mediadores, a inflamaç inflamação e ativaç ativação local de queratinó queratinócitos. citos. DA e os fatores emocionais Estresse pode desencadear DA nos pontos de terminaç terminações nervosas cutâneas ativadas, possivelmente pelas aç ações da substância P, do peptí peptídeo intestinal vasoativo (VIP) ou atravé através do sistema do adenilciclaseadenilciclasemonofosfato de adenosina cí ). cíclico (AMPc (AMPc). O Staphylococcus aureus é considerado fator desencadeante e/ou agravante da DA, podendo ser isolado da pele em 90 a 100% dos pacientes, nos quais provoca sí síntese de IgE especí específica. 3 Quadro clínico Localizações típicas de DA na fase infantil Os sinais e sintomas mais frequentes são: eritema, edema, exsudação, crostas e descamação, e as vezes, manchas esbranquiçadas (pitiríase alba). A medida que as lesões se tornam crônicas, aparecem mais descamação e liquenificação com menos eritema. O QC é variá variável com a idade: Fase infantil (0 a 2 anos): as lesões são agudas, principalmente na face, pescoç pescoço, tronco e superfí superfície de extensão dos membros. Quadro clínico Fase pré-puberal (2 a 12 anos): as lesões são subagudas, preferencialmente nas superfí superfícies extensoras e flexoras cubitais e poplí poplíteas, em pescoç pescoço, mãos e pé pés. Quadro clínico Fase adulta (apó (após 12 anos de idade): as lesões são crônicas com surtos de agudizaç agudização em localizaç localizações variadas. Ocorre liquenificaç liquenificação flexural e linearidade. 4 Diagnóstico Diagnóstico Critérios de diagnóstico de DA propostos por Hanifin e Rajka são a presença de pelo menos três características maiores e pelo menos três menores. Características menores: Características maiores: - Prurido; - morfologia e distribuição típicas (liquenificação flexural e linearidade em adultos, envolvimento facial e extensor em lactentes e pré-escolares); - dermatite crônica ou cronicamente recidivante; - antecedentes pessoais ou familiares de atopia. - - - Diagnóstico xerose (pele seca), e hiperlinearidade palmar; dermatite da mão e/ou do pé; queilite; eczema do mamilo; sensibilidade a infecções cutâneas (S. aureus, HSV, outros vírus, verrugas, molusco, dermatófitos); eritrodermia; pitiríase alba; idade de início baixa; comprometimento da imunidade celular; conjuntivite recorrente; Diagnóstico Diferencial Características menores (cont.): - prega infra-orbitária (dobra de Dennie, prega de Morgan); ceratocone; catarata subcapsular anterior; sensibilidade a fatores emocionais; intolerância alimentar; - prurido com a sudorese; intolerância à lã; dermografismo branco; resposta imediata tipo I , IgE total elevada e eosinofilia no sangue periférico - Dermatite seborré seborréica - Dermatite de contato - Eczema Numular - Liquem simples 5 Diagnóstico Diferencial Tratamento Cuidados clínicos Dermatite de contato Infecç Infecção pelo ví vírus do herpes simples Escabiose Psorí Psoríase Infecç Infecção pelo Staphylococcus aureus Síndrome de WiskottWiskott-Aldrich Síndrome da hiperimunoglobulinemia E (Job (Job)) Reidratação cutânea para preservar a barreira do estrato córneo, minimizando os efeitos diretos de irritantes e alérgenos sobre a pele e maximizando o efeito de terapias aplicadas topicamente, assim diminuindo a necessidade de esteróides tópicos. Banhos de imersão tépidos com duração de 20- 30’. Pequenas quantidades de óleos ou agentes emulsificantes no banho melhoram a hidratação. Os sabonetes recomendados são os suaves, sem odor e com pH neutro. Tratamento Tratamento Cuidados clínicos Cuidados clínicos Xampu para bebês (dermatite do couro cabeludo). Os banhos devem ser seguidos pela aplicação imediata de um emoliente oclusivo (vaselina e óleo vegetal) sobre a superfície inteira da pele para reter a umidade na epiderme. Se não for aplicado um emoliente em três minutos após saída do banho, a evaporação causará ressecamento excessivo da pele. Uréia, ácido alfa-hidroxi ácidos e preparações com ácido lático também têm demonstrado amolecer e hidratar a pele seca. Para crianças com infecções cutâneas repetidas, acrescentar duas colheres de chá de alvejante doméstico por galão de água de banho pode ajudar a reduzir a incidência de tais infecções. Durante exacerbações agudas de DA, despejar uma xícara de sal de cozinha no banho pode abrandar os efeitos aflitivos que essas crianças freqüentemente apresentam enquanto tomam banho. Compressas úmidas em lesões secas liquenificadas para melhorar a hidratação. 6 Tratamento Tratamento Cuidados clínicos Dieta Buscar aconselhamento psicológico, técnicas de relaxamento, massagem e modificações comportamentais se os estressores emocionais forem um fator contribuinte para a DA. A luz ultravioleta pode beneficiar alguns pacientes. A luz ultravioleta na faixa UVB pode eliminar ou reduzir a necessidade de esteróides. A luz ultravioleta na faixa UVA tem sido utilizada na combinação com a administração de psoraleno oral (PUVA). Existem evidências de que a criança amamentada até a idade de 2 anos apresenta a doença numa idade mais alta. Tratamento Tratamento medicamentoso Cuidados no ambiente e fatores agressores Aos que têm alergias respiratórias a alérgenos animais, considerar a remoção dos animais e proibir o fumo na casa. Implementar medidas de controle de ácaros e bolores. Aconselhar o uso de envoltórios plásticos à prova de ácaros em torno de travesseiros, colchões e molas de colchões. Evitar irritantes que desencadeiem o ciclo prurido–coçar–prurido (sabonetes, detergentes, químicos, roupas abrasivas, extremos de temperatura e de umidade). Eliminação de alimentos alergênicos específicos durante os primeiros 1-2 anos de vida (leite de vaca, ovos, tomates, frutas cítricas, chocolate, produtos de trigo, alimentos condimentados, peixe, nozes e pasta de amendoim). Corticosteróides tópicos: somente em áreas de exacerbações agudas, enquanto os emolientes devem ser usados no restante da pele. As formulações dos esteróides em ordem crescente de oclusão são loções (couro cabeludo e em áreas de barba), cremes, géis (lesões agudas com exsudato ou vesiculares), pomadas (placas espessadas liquenificadas) e unguentos. Corticosteróides sistêmicos: DA crônica severa (limitado na população pediátrica). 7 Tratamento medicamentoso Tacrolimo tópico: é um imunomodulador usado especialmente na dermatite facial e intertriginosa. Não perde a eficácia mesmo depois de um ano de tratamento contínuo. Ciclosporina sistêmica: pode reverter dramaticamente os recrudescimentos severos de DA. Devido aos efeitos colaterais, este tratamento deve ter sua duração limitada. Tratamento medicamentoso Antimicrobianos: - Antiestafilocócicos (mupirocina ou bacitracina tópica, cefalosporinas de primeira geração, macrolídeos, penicilinas de amplo espectro resistentes à penicilinase, amoxicilinaclavulanato) - Antiretrovirais (aciclovir oral por 10 dias) se apresentar eczema herpético. Vacinação contra varicela. - Antifúngicos tópicos ou orais, como o creme ou xampu de cetoconazol (infecções por dermatófitos). Tratamento medicamentoso Antipruriginosos: - Anti-histamínicos orais: eficazes como antipruriginosos, sedativos e ansiolíticos leves. - Alcatrão da hulha: antipruriginoso, antiinflamatório, desinfetante e adstringente e ajuda a corrigir a queratinização anormal por diminuição da proliferação epidérmica e infiltração dérmica. Eficaz como agentes de segunda linha para dermatite atópica subaguda, crônica e liquenificada. Os efeitos colaterais podem incluir foliculite e fotossensibilidade. 8