UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS FACULDADE DE BIOMEDICINA KARLA CAROLINE MARQUES DE OLIVEIRA PROPRIEDADE ANTINFLAMATÓRIA DA DIBENZALACETONA EM MODELO EXPERIMENTAL DE BOLSA DE AR EM RATOS WISTAR BELÉM-PARÁ 2010 KARLA CAROLINE MARQUES DE OLIVEIRA PROPRIEDADE ANTINFLAMATÓRIA DA DIBENZALACETONA EM MODELO EXPERIMENTAL DE BOLSA DE AR EM RATOS WISTAR Trabalho de Conclusão de Curso apresentado a Coordenação da Faculdade de Biomedicina da Universidade Federal do Pará, como requisito para o título de Bacharelado em Biomedicina. Orientador: Profº. Drº. José Luiz Martins do Nascimento BELÉM-PARÁ 2010 KARLA CAROLINE MARQUES DE OLIVEIRA PROPRIEDADE ANTINFLAMATÓRIA DA DIBENZALACETONA EM MODELO EXPERIMENTAL DE BOLSA DE AR EM RATOS WISTAR Trabalho de Conclusão de Curso apresentado Biomedicina à Faculdade da de Universidade Federal do Pará, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Biomedicina, aprovado com o conceito________________ Belém (PA), 16 de dezembro de 2010. Banca Examinadora: ______________________________________ Profº. Dr. José Luiz Martins do Nascimento ICB – UFPA (Orientador) _______________________________________ Profª. Drª. Gilmara de Nazareth Tavares Bastos ICB – UFPA _______________________________________ Profª.Drª. Raquel Montenegro ICB – UFPA ________________________________________ Profº. Msc. Luís Antônio Loureiro Maués ICB – UFPA (Suplente) i AGRADECIMENTOS A Deus, obrigada pela vida, saúde, ensinamentos, por me ajudar a trilhar o meu caminho e pelas pessoas que estão presentes em minha vida. Aos meus pais, Luiz Carlos e Sônia, pelo amor, carinho e atenção dedicados a mim durante toda minha vida, pela força nos momentos difíceis, por entender minhas ausências nos fins de semana, pelo incentivo à profissão que escolhi, pelos conselhos que nem sempre aceitei, muitas vezes por imaturidade, pelos valores passados a mim, pelos momentos divertidos e raros que nunca esquecerei, e obrigada principalmente por sempre caminharem ao meu lado me amparando em todos os momentos. A minha irmã, Louize, pelo amor, carinho, conselhos, loucuras, pelas conversas inúteis sobre as coisas mais absurdas e por entender meu mau-humor, muitas vezes constante, e principalmente pela amizade e companheirismo. Ao meu orientador, professor José Luiz, por me dar uma oportunidade única de desenvolver minha vida científica no Laboratório de Neuroquímica. Obrigada por acreditar no meu trabalho e por transmitir um pouco do seu vasto conhecimento científico e cultural a cada momento. A Gilmara por acreditar que eu conseguiria alcançar meus objetivos em momentos em que estava desestimulada pelos obstáculos impostos durante essa longa caminhada e pelos “puxões de orelha” divertidos que faziam com que eu me reerguesse e seguisse em frente. Obrigada pelas conversas úteis que engrandeciam meu conhecimento e pelas fúteis que sempre faziam com que problemas rotineiros se tornassem divertidos e fáceis de serem solucionados. Muito obrigada! Ao professor Heriberto Bitencourt pelo fornecimento da substância testada neste trabalho. A Barbarella por sempre confiar no meu trabalho desde o momento em que entrei no Laboratório de Neuroquímica, por ter paciência em me ensinar e passar um pouco dos seus conhecimentos e principalmente obrigada pela amizade. Obrigada Chefinha! ii Aos meus avôs, Waldemar, Georgina e Raimundo, pelo amor e carinho dedicados a mim e pelos momentos em família, que por mais que fossem raros sempre rendiam belos momentos. As minhas Power-puffs, Leila e Laine, pela amizade, carinho, companheirismo, conversas, por escutarem minhas doidice e baboseiras e principalmente pelo incentivo diário. Obrigada por quatro anos de lutas, brigas, tristezas e alegrias. Vocês sempre estarão em meu coração. Seremos sempre vencedoras! As minhas amigas de longa data, Bruna, Jamille, Glenda, Lorena e Carla, pela amizade, por entender minha ausência em nossos encontros, pelos momentos hilários que faziam com que esquecesse tudo e por sempre estarem dispostas a me escutar. Ao Luís Antônio que me ensinou com tanta paciência determinadas técnicas deste trabalho e pelas dicas valiosas durante todos os anos em que estive no Laboratório de Neuroquímica. A Claudia pela sua valiosa ajuda em todos os momentos deste trabalho com todo seu bom humor, amizade, equívocos lingüísticos que rendiam momentos hilários, por sempre tornar engraçado até os piores momentos. A Neidianne Ramos por sempre ser um ombro amigo, pelos “puxões de orelha”, pelo auxílio durante os dias de trabalho e obrigada pelo café e conversas diárias. Ao Igor por sempre estar disposto a me ajudar durante o desenvolvimento deste trabalho. Ao pessoal do Laboratório de Neuroquímica: Marcos Lebrego, Reinaldo, Társis, Vanessa, Dayanne, Mauro e Luizinho Sawada. Obrigada pelas conversas e momentos divertidos que se tornaram únicos. Gostaria de agradecer aos meus amigos, Patrícia, Breno, Ivy, Erlonia, Yasmin Farias e Edvaldo Penha pelos momentos em que estivemos reunidos ao longo desta caminhada. Vocês sempre estarão em meu pensamento. Vamos nos separar, mas espero que sempre tenhamos a macacolândia e fins de semana de reuniões. Desejo que todos sejam vitoriosos. iii Meuas agredecimentos aos órgãos financiadores, CNPq e FAPESPA, e a Universidade Federal do Pará. iv SUMÁRIO LISTA DE ABREVIATURAS ---------------------------------------------------------------- VI RESUMO ----------------------------------------------------------------------------------------- VII ABSTRACT -------------------------------------------------------------------------------------- VIII 1. INTRODUÇÃO ------------------------------------------------------------------------------- 1 1.1 INFLAMAÇÃO ------------------------------------------------------------------------------ 1 1.1.1 Via inflamatória ---------------------------------------------------------------------- 2 1.2 TIPOS DE RESPOSTA IMUNE E SEU PAPEL NO PROCESSO INFLAMATÓRIO -------------------------------------------------------------------------------- 3 1.2 MIGRAÇÃO CELULAR ------------------------------------------------------------------- 4 1.3 VASODILATAÇÃO ------------------------------------------------------------------------ 5 1.4 ESTRESSE OXIDATIVO INFLAMATÓRIO ------------------------------------------- 6 1.5.1 Óxido Nítrico -------------------------------------------------------------------------- 7 1.5.2 Superóxido ----------------------------------------------------------------------------- 9 1.6 FÁRMACOS ANTIINFLAMATÓRIOS -------------------------------------------------- 11 1.7 AGENTE FLOGÍSTICO -------------------------------------------------------------------- 13 1.8 NOVOS AGENTE ANTIINFLAMATÓRIOS ------------------------------------------- 14 2. OBJETIVOS ----------------------------------------------------------------------------------- 15 3. MATERIAL E MÉTODOS ----------------------------------------------------------------- 16 3.1 ANIMAIS -------------------------------------------------------------------------------------- 16 3.2 BOLSA DE AR ------------------------------------------------------------------------------- 16 3.3 GRUPOS EXPERIMENTAIS -------------------------------------------------------------- 17 3.4 ANÁLISE DO EXSUDATO ---------------------------------------------------------------- 17 3.5 AVALIAÇÃO DA VASODILATAÇÃO DOS GRUPOS EXPERIMENTAIS -------------------------------------------------------------------------------- 18 3.6 AVALIAÇÃO DA MIGRAÇÃO CELULAR --------------------------------------------- 18 3.7 AVALIAÇÃO DA PRODUÇÃO DE ÓXIDO NÍTRICO ------------------------------- 18 3.8 AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE DA SOD DOS GRUPOS EXPERIMENTAIS -------------------------------------------------------------------------------- 19 3.9 ANÁLISE ESTATÍSTICA ------------------------------------------------------------------- 19 v 4. RESULTADOS --------------------------------------------------------------------------------- 20 4.1 ANÁLISE DA MIGRAÇÃO CELULAR EM ANIMAIS TRATADOS COM DBZ -------------------------------------------------------------------------- 20 4.2 VOLUME DO EXSUDATO EM ANIMAIS TRATADOS COM DBZ --------------- 23 4.3 VASODILATAÇÃO EM ANIMAIS TRATDOS COM DBZ -------------------------- 24 4.4 AVALIAÇÃO DA PRODUÇÃO DE NO DURANTE O PROCESSO INFLAMATÓRIO -------------------------------------------------------------------------------- 26 4.5 REDUÇÃO DA ATIVIDADE DA SOD EM ANIMAIS TRATADOS COM DBZ ------------------------------------------------------------------------------------------- 28 5. DISCUSSÃO ------------------------------------------------------------------------------------ 29 6. CONCLUSÃO ---------------------------------------------------------------------------------- 34 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ----------------------------------------------------- 35 vi LISTA DE ABREVIAURAS AINE – Antiinflamatório Não-esteroidal AP – 1 – Ativador de Proteína 1 COX – Ciclooxigenase DBZ - Dibenzalacetona DMEM – Meio de Cultura: Dulbecco’s Modified Eagles Medium eNOS – Óxido Nítrico Endotelial FBS – Soro Bovino Fetal ICAM – Molécula de Adesão Intracelular IL-1 – Interleucina – 1 iNOS – Óxido Nítrico Induzida NF-κB – Fator de Transcrição Nuclear κB nNOS – Óxido Nítrico Neuronal NO – Óxido Nítrico PAMP – Padrão Molecular Associado a Patógeno PGs – Prostaglandinas PMN – Células Polimorfonucleares ROS – Espécies Reativas de Oxigênio SNA – Sistema Nervoso Autônomo SNC – Sistema Nervoso Central SOD – Superóxido Dismutase TLR – Receptor Toll-Like TNF-α – Fator de Necrose Tumoral α vii RESUMO Inflamação é uma resposta do tecido vascularizado frente a um agente agressor, caracterizada morfologicamente pela saída de líquidos e de células do sangue para o intertíscio. Diversos trabalhos têm sido desenvolvidos para elucidar os mecanismos pró-inflamatórios com o intuito de desenvolver fármacos que atuem como antiinflamatórios. Por isso o presente trabalho tem por objetivo analisar as propriedades antinflamatórias da substância Dibenzalacetona (DBZ) em ratos Wistar em modelo de bolsa de ar. Foram feitas análise da migração celular, vasodilatação, espécies reativas de oxigênio como, óxido nítrico e superóxido, e exsudação induzidos com carragenina, e tratados com indometacina ou 1 mg/Kg, 5 mg/Kg e 10 mg/Kg de DBZ. Concluiu-se que a DBZ promoveu uma ação antiinflamatória principalmente nos aspectos relacionados à migração de células próinflamatórias, exsudação, vasodilatação e na produção de determinadas espécies reativas de oxigênio e a dose de 10 mg/Kg, em determinados pontos analisados, foi mais eficiente que a indometacina. Palavras-Chave: Dibenzalacetona, antiinflamatório, espécies reativas de oxigênio e inflamação. viii ABSTRACT Inflammation is the response of the vascularizated tissues to an injury that is morphologically characterized by the exit of fluid and blood cells to the interstice. Many researches have been developed with the aim to elucidate the mechanisms involved in the pro-inflammatory process and to develop new medicines that is capable to avoid the inflammatory process. Therefore, the present study has the aim to investigate the anti-inflammatory properties of Dibenzalacetone (DBZ) in Wistar rats. Analyses had been made in a model of pouch air, where the Carrageenan was used as phlogistc agent. The exudate was analysed to cellular migration, vasodilatation, reactive oxygen species and exudates in groups of animals that were treated with only carrageenan, indomethacin and, 1, 5 and 10 mg/Kg of DBZ. The DBZ promotes an anti-inflammatory action, mainly in aspects related to cellular migration, exudates, vasodilatation, and in the production of reactive oxygen species. The concentrations of the DBZ were effectives in the anti-inflammatory process, since occurred the decreased of cellular migration, nitrite production (metabolite of nitric oxide), dismutase superoxide and vasodilatation, and the dose of 10 mg/Kg in some points was more efficiently that indomethacin. Key-words: Dibenzalacetone, anti-inflammatory, reactive oxygen species and inflammation. 1 1. INTRODUÇÃO 1.1 INFLAMAÇÃO Inflamação ou flogose (do latim inflamare e do grego phlogos, que significa pegar fogo) é uma resposta dos tecidos vascularizados a um agente agressor caracterizada morfologicamente pela saída de líquidos e de células do sangue para o intertíscio. Embora em geral constitua um mecanismo defensivo muito importante contra inúmeras agressões, em muitos casos a reação inflamatória pode também causar danos ao organismo (Brasileiro Filho, 2006). A inflamação é estudada na tentativa de lidar com este processo patológico por milhares de anos. Celsius (em 30 D.C.) descreveu os quatro sinais cardinais da inflamação (rubor, calor, dor e tumor) e usou extratos de salgueiro para aliviar esses sintomas. Na Roma antiga houve o desenvolvimento do uso de plantas contendo salicilato para amenizar o processo inflamatório. Na Ásia plantas contendo salicilato foram muito utilizadas terapeuticamente. Durante a idade média, outras substâncias eram utilizadas em emplastros para curar feridas além de várias outras aplicações internas e externas incluindo o tratamento de cólicas menstruais e disenteria (Vane & Botting, 1987). O processo inflamatório caracteriza-se principalmente por uma vasodilatação local, com um conseqüente aumento do fluxo sanguíneo; Aumento da permeabilidade dos capilares, permitindo a saída de grande quantidade de líquido para os espaços intersticiais; Coagulação do líquido nos espaços intersticiais devido às quantidades excessivas de fibrinogênio e outras proteínas que sairiam dos capilares; Migração de grande quantidade de granulócitos e monócitos para os tecidos e dilatação das células teciduais. Alguns dos muitos produtos teciduais causadores dessas reações incluem histamina, neuropeptídeos, bradicinina, serotonina, prostaglandinas, entre outras substâncias que constituem o sistema complemento e do sistema de coagulação (Guyton, 2006). A inflamação pode ser dividida em duas fases, durante a fase aguda da inflamação há um aumento do fluxo sanguíneo e da permeabilidade vascular com o acúmulo de fluídos, leucócitos, e mediadores inflamatórios como as citocinas. As fases, subaguda e crônica, são caracterizadas pelo desenvolvimento de uma resposta imune celular e humoral específica aos agentes agressores (Feghali et al., 1997). 2 O início do processo inflamatório acontece a partir do recrutamento de células do sistema imune para o local da injúria, essas células por sua vez, irão produzir citocinas próinflamatórias e irão ativar a expressão, em células endoteliais e em neutrófilos, de moléculas de adesão e a produção aumentada de mediadores vasoativos como o Óxido Nítrico (NO) e ecosanóides produzidos pela enzima Ciclooxigenase-2 (COX-2), que possuem um importante papel na resposta fisiopatológica da inflamação. Todo este processo irá gerar como resposta estresse oxidativo gerado pela liberação de espécies reativas de oxigênio, vasodilatação gerada pelo NO e migração celular pela ativação de moléculas de adesão (Cuzzocrea et al., 2000) 1.1.1 Via Inflamatória No processo inflamatório, quando ocorre uma lesão na membrana celular, que é constituída principalmente por fosfolipídeos, a enzima fosfolipase A2, após ser ativada por citocinas pró-inflamatórias, como a interleucina-1 (IL-1) leva a degradação de fosfolipídeos de membrana como o aracdonato, resultando na produção de ácido aracdônico. Quando o ácido aracdônico é metabolizado ocorre à formação dos leucotrienos pela ação da enzima lipooxigenase, e as prostagladinas (PGs), prostaciclinas e tromboxanos, pela ação das ciclooxigenases (COX) (Hilário et al., 2006). Estes metabólitos fazem parte de processos fisiológicos normais, como por exemplo, a manutenção da pressão sanguínea e temperatura corporal, protegendo o organismo contra danos causados por doenças e estresse (Ninnemann, 1988). Os metabólitos do ácido aracdônico são críticos para diversos processos biológicos, incluindo inflamação, ovulação, angiogênesis, agregação plaquetária, e função imunológica. Eicosanóides são produtos do metabolismo do ácido aracdônico, através das Ciclooxigenases (COX) que exercem um papel importante na produção de eicosanóides. O ácido aracdônico é um ácido graxo insaturado com 20 carbonos distribuído através da bicamada lipídica da célula. A enzima fosfolipase cliva a membrana ligada ao ácido aracdônico, esta ação torna viável a conversão de lipídeos bioativos. Uma vez liberado, o ácido aracdônico pode ser metabolizado através de três vias de sinalização: via da ciclooxigenase, via da lipooxigenase que irá metabolizar o ácido aracdônico em leucotrienos e a via do citocromo P-450 monooxigenase. Porém, a via da COX é mais estudada (Williams et al., 1999 e Hilário et al., 2006). 3 Figura 1: Vias que levam a geração de eicosanóides pela COX-1 ou COX-2. Modificado de Mitchell et al., 1999. 1.2 TIPOS DE RESPOSTA IMUNE E SEU PAPEL NO PROCESSO INFLAMATÓRIO O sistema imunológico possui como função fisiológica reconhecer o que é próprio de cada organismo para poder ter a capacidade de reconhecer agentes infecciosos ou agentes químicos que causem algum tipo de dano tecidual (Abbas et al., 2008). O sistema imune é dividido em imunidade inata (natural) e imunidade adaptativa (adquirida). Esses dois componentes do sistema imune têm sido caracterizados independentemente. O sistema imune adaptativo é um dos principais interesses no campo da imunologia, por ser encontrado principalmente em vertebrados (Takeda et al., 2005). O sistema imune inato é a primeira defesa contra microrganismos infecciosos, onde macrófagos, células dendríticas, neutrófilos e linfócitos NK (natural-killer) são as principais células presentes na primeira defesa do organismo. Apesar de pouco estudado o sistema imune inato é de grande importância para ativação da imunidade adaptativa, devido às células apresentadoras de antígenos que sinalizam para presença de agentes infecciosos e 4 ativam células da imunidade adaptativa, como os linfócitos T, para gerar uma resposta imune mais específica (Palm et al., 2009). A especificidade imunológica inata não é tão eficiente quanto à adaptativa, no entanto as células do sistema imune inato possuem receptores de reconhecimento padrão que podem ativar uma discreta resposta imunológica (Kumar et al., 2009). Um exemplo de receptores padrão seriam os receptores Toll-like (TLRs), cuja função é reconhecer Padrões Moleculares Associados à Patógenos (PAMPs), como determinados fatores de virulência, antígenos presentes em bactérias, vírus, fungos e protozoários, assim como proteínas de choque térmico do hospedeiro (HSPheat shock proteins) (Loharungsikul et al., 2008; Abbas et al.,2008). Receptores Toll-like ativados pelos PAMPs, ativam uma cascata de sinalização onde serão recrutadas proteínas cinases que ativarão fatores de transcrição nuclear que por sua vez irão estimular a expressão gênica de citocinas, proteínas sinalizadoras que regulam mecanismos imunológicos, expressão gênica de enzimas como a ciclooxigenase-2 (COX-2) e a óxido nítrico sintase induzida (iNOS), durante o processo inflamatório essas enzimas são essenciais para o desencadeamento de uma resposta pró-inflamatória (Ooi et al., 2010; Anderson et al., 1996). O sistema imune inato produz mediadores que têm como uma de suas funções o recrutamento de células que pertencem a resposta adquirida do sistema imune que é subdividida em imunidade celular e humoral. A imunidade celular caracteriza-se pela produção de células especializadas (linfócitos T), já a imunidade humoral caracteriza-se principalmente pela produção de imunoglobulinas ou anticorpos, que são proteínas especializadas na ação específica contra determinados antígenos. As células deste tipo de resposta estão presentes no sangue e na linfa como células circulantes (Abbas et al., 2008) A resposta imune a agentes ou substâncias antigênicas pode resultar em benefícios para o hospedeiro ou deletério se essa resposta resultar em uma inflamação crônica sem regressão do processo subjacente (Katzung, 2003). 1.3 MIGRAÇÃO CELULAR Leucócitos, principalmente neutrófilos e monócitos são recrutados do sangue para os locais onde está ocorrendo à injúria tecidual, para tanto eles se ligam a moléculas de adesão em células endoteliais e quimiocinas produzidas durante o processo inflamatório. O 5 recrutamento dos leucócitos envolve um processo de fixação dos leucócitos circulantes à superfície luminal das células epiteliais das vênulas pós-capilares e a migração pela parede dos vasos (Abbas et al., 2008). O processo de migração através das paredes dos vasos denomina-se diapedese, através de junções interendoteliais (Bechara & Szabó, 2006) A migração celular em resposta a processos inflamatórios é vista em poucas horas após o estímulo que está causando a injúria tecidual, há um recrutamento de neutrófilos para o local onde está ocorrendo o dano tecidual (Jiang et al., 1997 ; Bresnihan, 2002; Shin et al., 2009). Muito embora os neutrófilos sejam as primeiras células na remoção de agentes patogênicos como bactérias, eles também contribuem para o processo inflamatório liberando mediadores inflamatórios, incluindo mediadores que atraem macrófagos para o local da inflamação (Chabaud, 1998; Shin et al., 2009). Os macrófagos por sua vez liberam citocinas pró-inflamatórias, como o Fator de Necrose Tumoral-α (TNF-α) (Feldmann, 1996; Day, 2002, apud, Shin et al., 2009). Este é um estimulador de iNOS em certos tipos celulares, além disso o TNF-α induz a quimiotaxia de neutrófilos e linfócitos T e a expressão de moléculas de adesão (Xie et al., 1993 ; Adams et al., 2002 ; Shin et al., 2009). O recrutamento de leucócitos da circulação sanguínea é uma reação crucial para o processo inflamatório. Esta ação ocorre através de muitos passos em que o leucócito interage com o endotélio. Os leucócitos se aderem ao endotélio microvascular e, por conseguinte ocorre a transmigração dessas células através da parede dos vasos e extravasam atingindo desta forma o tecido extra vascular. Diversos fármacos têm objetivado impedir a migração celular como forma de amenizar o processo inflamatório (Ulbrich et al., 2003). 1.4 VASODILATAÇÃO Os fenômenos vasculares durante a inflamação são representados por modificações hemodinâmicas e reológicas da microcirculação comandadas por mediadores químicos liberados durante os fenômenos irritativos e, menos freqüentemente, por ação direta do agente flogístico. Embora sempre se associe vasodilatação arteriolar no processo inflamatório com a ação de mediadores químicos (histamina, substância P, bradicinina, PGE2 e PGI2), é possível que fatores vasoativos produzidos no endotélio (NO e prostaciclina) também desepenhem um papel importante sobre a vasodilatação no processo inflamatório (Brasileiro Filho, 2006). 6 Trabalhos têm demonstrado que durante as primeiras horas depois de uma injúria capaz de iniciar um processo inflamatório, a produção de NO mediada por iNOS começa a ser regulada positivamente, produzindo uma explosão na liberação do NO, que excede os níveis basais de radicais livres. Essa produção aumentada de NO tem como conseqüência um dano celular. Primeiramente o NO pode promover diretamente uma exacerbação da vasodilatação periférica, resultando em uma alteração vascular; o NO pode também regular positivamente o NF-κB, iniciando uma via de sinalização inflamatória que culminará na produção de citocinas pró-inflamatórias (Szabo, 1996 ; Szabo, 1998; 1998; Horton, 2003). As PGs, que são produtos do metabolismo do ácido aracdônico, também possuem ação vasodilatadora, como dito acima. A PGD2 é liberada de mastócitos ativados por estímulos alérgicos ou outros e a PGE2 inibe a ação de linfócitos e outras células que participam das respostas alérgicas ou inflamatórias (Chahade et al., 2008). 1.5 ESTRESSE OXIDATIVO INFLAMATÓRIO Estudos sobre radicais livres iniciaram por volta de 1924. Os principais estudos relacionaram a atuação desses radicais em Biologia Celular e Molecular, Fisiologia, Imunologia e Patologia Humana (Bast et al., 1991, apud, Vannucchi et al., 1998). A importância dos radicais livres no metabolismo celular vem se tornando clara, em função de intensa investigação sobre a peroxidação lipídica, dos sistemas de oxidorredutase e no papel da superóxido dismutase (SOD). O interesse por radicais livres e antioxidantes tem se intensificado ultimamente, pelo possível papel dessas substâncias na patogênese de diversas doenças. Assim, estudos sobre os sistemas de oxirredução, envolvendo a peroxidação lipídica e espécies oxidantes mediadas por radicais livres, e a relação desses sistemas com a arteriosclerose, inflamação, diabetes, câncer e outras doenças, bem como uma desejada proteção efetuada pelos antioxidantes, tem levado inúmeros autores a se dedicarem ao assunto, procurando estabelecer uma segura base fisiopatológica para os vários processos (Vannucchi et al., 1998). O termo radical livre é freqüentemente usado para designar qualquer átomo ou molécula com existência independente, contendo um ou mais elétrons não pareados, nos orbitais externos. Um elétron não pareado é aquele que ocupa um orbital atômico ou molecular isoladamente (Vannucchi et al., 1998). 7 Espécies Reativas de Oxigênio (ROS) que incluem peróxido de hidrogênio, ânion superóxido e NO, geralmente são considerados citotóxicos. 1.5.1 Óxido Nítrico O Óxido Nítrico (NO) é uma molécula lipofílica pequena que pode ser rapidamente difundida através das barreiras da membrana celular e desse modo pode alcançar os compartimentos intracelulares de células adjacentes com funções diversificadas (Ignarro, 1990). Em mamíferos, o NO participa de diversas funções biológicas que vai desde a formação de um mecanismo de proteção contra diversos microrganismos até a regulação da pressão sanguínea e o processo de neurotransmissão (Alderton et al., 2001). O NO é produzido pela enzima Óxido Nítrico Sintase (NOS) (Griffith et al., 1995). Existem três isoformas da enzima NOS. A isoforma neuronal (nNOS) é uma enzima constitutiva presente em muitos neurônios no sistema nervoso central (SNC) e no sistema nervoso autonômico (SNA) (McCann,1997). A isoforma endotelial (eNOS) forma a molécula de NO no sistema cardiovascular, onde atua como uma importante molécula de sinalização. No sistema cardiovascular o NO tem como principais funções a vasodilatação, inibição da proliferação de células do músculo liso vascular, atenuador da adesão de células inflamatórias no endotélio e inibição da agregação plaquetária (Naseem, 2005). A isoforma induzida (iNOS) é produzida por macrófagos diante da ativação por patógenos intracelulares, determinadas células tumorais, produtos microbianos como o lipopolissacarídeo (LPS), e citocinas pro-inflamatórias, como interferon-gama (IFN-γ), TNF-α, IL-1 e IL-6. A produção de NO por macrófagos ativados é uma importante resposta imune inata, implicada com a atividade bactericida dos macrófagos (He et al., 2003). O papel do óxido nítrico na inflamação tem sido estudado extensivamente. Um número considerável de pesquisas tem demonstrado que esse radical livre possui atividade regulatória antiinflamatória através das formas constitutivas, ou seja, em concentrações basais, entretanto outros estudos sugerem que o NO, gerado pela forma induzida da enzima NOS (iNOS), promove a inflamação e disfunção tecidual, e, portanto possui propriedades próinflamatórias e deletérias (Sautebin, 2000). O NO é caracterizado como um radical livre e seu metabolismo é ativado a partir da oxidação de L-arginina (Sautebin, 2000) pela NOS. As isoformas constitutivas são sintetizadas por pequenas quantidades de NO em resposta a vários agonistas que aumentam a 8 concentração de Ca2+ (Sautebin, 2000). A o isoforma iNOS é expressa seguindo a indução transcricional por lipolissacarídeo e um número de citocinas em diferentes tipos de células, assim como macrófagos, neutrófilos, células endoteliais e células do músculo liso (Knowles et al., 1994, apud, Sautebin, 2000). Durante o metabolismo do NO a enzima NADPH é um importante componente desse processo. Esta enzima foi primeiramente reportada para a iNOS (Lyengar et al., 1987, apud, Marletta, 1993). Depois, com o advento de novas técnicas descobriu-se que todas as isoformas de NOS requeriam NADPH e durante esta reação ocorre a oxidação da L-arginina que irá gerar NO e citrulina (Marletta, 1993). Os produtos finais da formação do NO in vivo, são o nitrito (NO 2-) e o nitrato (NO3-) (figura 2). A proporção de NO2- é encontrado no meio reacional em quantidade suficiente para ratificar a presença de NO (Marletta, 1993). A formação de espécies reativas de nitrogênio é importante na determinação das atividades antiinflamatórias e inflamatórias do NO (Sautebin, 2000). Salvemini e colaboradores demosntraram que o NO endógeno e exógeno possuem um papel crítico na liberação de PGE2 através da direta ativação da COX (Salvemini et al., 1993). REAÇÕES DE FORMAÇÃO DE NITRITO E NITRATO 2 NO + O2 2 NO2 (Dióxido de Nitrogênio) 2 NO + 2 NO2 2 N2O3 (Trióxido de dinitrogênio) 2 N2O3 + 2 H2O O2 + NO [ONOOH] 4 NO2- (NITRITO) + 4 H- ONOO- (Peroxinitrito) + H+ OH- + NO2- [ONOOH] NO3- (NITRATO) Figura 2: Reações de Nitrito e Nitrato. Modificado de Marletta, 1993 1.5.2 Superóxido Dismutase Em 1968, descobriu-se que uma proteína do eritrócito era capaz de remover cataliticamente os radicais superóxidos e, então, essa função ficou identificada como a da enzima superóxido dismutase. A SOD é uma metaloenzima que, em sistemas eucarióticos, possui cobre, zinco e manganês e nos procarióticos contém ferro e manganês. As diferentes 9 formas de SOD catalisam a mesma reação, a de dismutação do radical superóxido (Halliwel et al., 1989 e Pitt et al., 1991, apud, Vannucchi et al., 1998) O superóxido (O2-) é formado de várias origens, incluindo respiração celular normal, leucócitos polimorfonucleares ativados, células endoteliais e mitocôndrias. Sob condições fisiológicas, a reatividade do superóxido é controlada pela enzima superóxido dismutase (SOD). Durante um processo de inflamação aguda e crônica, o superóxido é intensamente produzido. Fatores importantes que caracterizam o superóxido como um mediador pró-inflamatório, incluem: danos causados às células endoteliais e o aumento da permeabilidade microvascular, gera uma regulação positiva de moléculas de adesão assim como a ICAM – 1 (Molécula de Adesão Intracelular) e Selectina – P, que recruta neutrófilos para os locais de inflamação, gera danos ao DNA (Ácido Desoxirribonucléico), ativa a ativação de fatores de transcrição como NF-κB e AP-1 (ativador de proteína 1), que regulam a expressão de citocina pró-inflamatórias e pró-nociceptivas (Salvemini et al., 2006). Quando o NO é produzido em níveis basais ele pode atuar mantendo o tônus do vaso sanguíneo, inibindo o processo de adesão e agregação das células e protegendo os órgãos por citoproteção. O NO é também conhecido por mediar diversos efeitos benéficos através da ativação de COX que irá ativar mediadores antiinflamatórios, porém a interação do superóxido com o NO inativa as propriedades benéficas que o NO constitutivo poderia possuir. (Salvemini et al., 2006). Em doenças inflamatórias a SOD é inativada, favorecendo o superóxido a aumentar. O superóxido interage com o NO, destruindo os seus efeitos benéficos. Por conseguinte, os níveis de superóxido e NO (gerado pela iNOS) aumentam, inclinando o balanço entre superóxido/NO para formação de um potente agente pró-inflamatório e próapoptótico, o peroxinitrito (ONOO-) (Salvemini et al., 2006) (Figura 3). 10 Figura 3: Desenho esquemático da interação entre o superóxido (O2-) e o NO, durante processos não-inflamatórios (basais) e processos inflamatórios. Modificado de Salvemini et al ., 2006. 11 1.6 FÁRMACOS ANTIINFLAMATÓRIOS O uso de substâncias químicas para amenizar a dor e a inflamação é uma das necessidades mais antigas da humanidade. O controle da dor e da inflamação é um dos objetivos mais primários na origem do homem. Desde o isolamento da salicilina e a demonstração dos seus efeitos antipiréticos em 1829 por Leraux, um longo caminho de pesquisa sobre o processo inflamatório vem sendo trilhado (Oliveira Jr. et al., 2007; Solomon et al., 2007; Brenol et al., 2000; Chahde et al., 2008). O salicilato de sódio foi usado para tratar a febre reumática como agente antipirético e no tratamento da gota em 1875. O enorme sucesso do fármaco levou à produção do ácido acetilsalicílico. Um longo caminho de pesquisa foi desencadeado e, em 1899, por Dresser, o ácido acetilsalícilico foi introduzido, com o nome de aspirina, que se perpetuou com o passar dos anos (Oliveira Jr. et al., 2007; Solomon et al., 2007; Brenol et al., 2000; Chahade et al., 2008). Devido à toxicidade gastrointestinal causada pelo ácido acetilsalicílico procuraram-se sintetizar outras substâncias com menores efeitos adversos e, assim, desenvolveu-se o primeiro antiinflamatório não-salicilato, a fenilbutazona, no início de 1950 (Chahade et al., 2008). Diversos fármacos têm sido utilizados como potenciais agentes antiinflamatórios. Há dois grupos de fármacos antiinflamatórios que são os antiinflamatórios não-esteroidais (AINEs) e os antiinflamatórios esteroidais. O principal mecanismo de ação dos esteróides acontece através da inibição da fosfolipase A2, atividade que é necessária para liberação de ácido aracdônico. Os esteróides inibem a formação de prostaglandinas, tromboxanos e leucotrienos (Vane & Botting, 1987). Os AINEs compõem um grupo heterogêneo de compostos, que consiste de um ou mais anéis aromáticos ligados a um grupamento ácido funcional. São ácidos orgânicos fracos que atuam principalmente nos tecidos inflamados e se ligam, significativamente, à albumina plasmática (Oliveira Jr. et al., 2007; Solomon et al., 2007; Brenol et al., 2000). Essencialmente, todos AINEs são convertidos em metabólitos inativos pelo fígado e são, predominantemente, excretados pela urina (Klippel et al., 2001). O principal mecanismo de ação dos AINEs ocorre através da inibição específica da COX e conseqüente redução da conversão do ácido araquidônico(AA) em prostaglandinas. 12 Reações mediadas pelas COXs, a partir do AA produzem PGG2 (Prostaglandina G2), que sob ação da peroxidase forma PGH2 (Prostaglandina H2), sendo então convertidas às prostaglandinas, prostaciclinas e tromboxanos (TXs) (Figura 4) (Oliveira Jr. et al., 2007). Figura 4. Via inflamatória culminando na síntese de prostaglandinas (PGs). Modificado de Brasileiro Filho, 2006. Os AINEs constituem um grupo, sendo na maioria ácidos orgânicos com ação analgésica, antitérmica e antiinflamatória combatendo assim os principais sintomas gerados pela produção de prostaglandinas. Esses medicamentos são largamente usados para combater a febre e a dor aguda ou crônica. São as medicações mais vendidas em todo o mundo e, em conjunto com os analgésicos e antitérmicos, correspondem a aproximadamente 30% dos medicamentos utilizados (Hilário et al., 2006). Sabe-se que as prostaglandinas são produtos originados do ácido aracdônico que é obtido da dieta ou do ácido linoléico, encontrando-se presentes em todos os tecidos animais 13 exercendo várias funções. Quimicamente são parte de um grupo conhecido como eicosanóides derivados de ácido aracdônico e liberados de fosfolipídeos de membrana de células lesadas por ação catalítica da fosfolipase A2. A COX-1 e COX-2 e a hidroperoxidase catalisam as etapas seqüenciais de síntese de prostanóides e as lipoxigenases transformam o ácido aracdônico em leucotrienos e outros compostos (Brenol et al., 2000 and Oliveira Jr. et al., 2007). Outra classe de antiinflamatórios seriam os esteroidais, como os corticosteróides, inibem a ação da fosfolipase A2, que é necessária para liberação de ácido aracdônico. Os corticoesteróides possuem como função final a inibição da produção de PGs. No presente trabalho utilizou-se como controle um AINE com propriedades antipiréticas, analgésicas já conhecidas, a Indometacina. 1.7 AGENTE FLOGÍSTICO A injeção de carragenina, um irritante químico derivado de algas marinhas, nos animais do modelo experimental é uma forma de estudo comum sobre inflamação e dor inflamatória (Nantel et al., 1999). Em um experimento de bolsa de ar a carragenina induz inflamação aguda que é caracterizada pela análise do conteúdo presente na bolsa de ar, pela capacidade do exsudato e os tecidos que estão próximos a região da bolsa a produzirem mediadores inflamatórios (Tao et al., 1998). A inflamação induzida por carraginina é comumente usada para avaliar a eficácia de AINEs. Em um modelo experimental em ratos o número de células inflamatórias e exsudato alcançam um pico em até 24 horas e diminui depois (Gilroy et al., 1999). No modelo de inflamação induzida por carraginina, existem dois tipos predominantes de células inflamatórias os leucócitos polimorfonucleares (PMNs) são os tipos celulares predominantes após 12 horas; depois essas células são substituídas por células mononucleares que estão migrando e se diferenciando em macrófagos (Gilroy et al., 1999). 14 1.8 NOVOS AGENTES ANTIINFLAMATÓRIOS A Dibenzalacetona possui uma estrutura química semelhante às chalconas. Artigos publicados sobre o papel das chalconas sintéticas sobre o processo inflamatório demonstraram que essas substâncias são capazes de inibir a liberação de mediadores químicos liberados por mastócitos, neutrófilos, macrófagos e microglias em estimulação in vitro do processo inflamatório (Lin et al., 1997 and Ko et al., 2003, apud, Won et al., 2005) e outras substâncias sintéticas como a, 2′,5′-dihidroxi-4-cloro-dihidrochalcona e 2′,5′- dihidroxidihidrochalcona eram capazes de inibir a expressão de iNOS nos macrófagos e a expressão de COX-2 em linhagens de macrófagos como a RAW 264.7 e na formação de outros eicosanóides (Won et al., 2005) . Trabalhos demonstraram que chalconas naturais, como a broussochalcone A, isolada da Broussonetia papyrifea, exercia o papel de um ótimo agente antioxidante e inibia uma explosão respiratória nos neutrófilos e a expressão de iNOS nos macrófagos (Won et al., 2005). Rojas e colaboradores (2002), realizaram uma pesquisa sobre a atividade inibitória de nove derivados de uma determinada chalcona, sobre a iNOS e seus resultados demonstraram que dois derivados, dos nove testados, inibiam a produção de mediadores inflamatórios, NO e PGE2, em macrófagos da linhagem RAW 264.7 ativados com LPS, demonstrando desse jeito que esses dois derivados poderiam atuar como antiinflamatórios. A liberação de radicais livres geralmente tem como conseqüência a peroxidação lipídica, como visto anteriormente, é um processo danoso aos componentes lipídicos da membrana celular. Segundo Haraguchi e colaboradores, retrochalconas (ausência da funcionalidade do oxigênio), presentes em plantas como a G. inflata, podem exercer um papel antiperoxidativo (Haraguchi et al., 1998). Portanto, as chalconas e seus derivados, apresentam um potencial para atuar como moléculas antiinflamatórias, principalmente pela inibição de mediadores inflamatórios. No presente trabalho, procuramos observar se, além da semelhança estrutural, a DBZ possui uma semelhança atuando como agente antiinflamatório. 15 2. OBJETIVOS 2.1. GERAL - Verificar as propriedades antinflamatórias da Dibenzalacetona (DBZ) em modelo de bolsa de ar em ratos Wistar 2.2. ESPECÍFICO - Analisar a migração a das células provenientes do exsudato induzido por carragenina em modelo de bolsa de ar e comparar com aqueles animais tratados com DBZ. - Analisar os níveis de nitrito em exsudato induzido por carragenina em modelo de bolsa de ar e comparar com aqueles tratados com DBZ. - Medir a atividade da enzima superóxido dismutase em exsudatos obtidos pela indução por carregenina em modelos de bolsa de ar e compara com aqueles tratados com DBZ 16 3. MATERIAL E MÉTODOS 3.1 ANIMAIS Para realização do presente trabalho, foram utilizados ratos Wistar, fêmeas, pesando entre 120-200 g, fornecidas pelo biotério do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Pará. Os animais foram mantidos com água e ração balanceada ad libitum. 3.2 BOLSA DE AR As bolsas de ar foram produzidas por uma injeção subcutânea de 20 mL de ar estéril na área intraescapular. O ar foi retirado da câmara de fluxo laminar previamente esterelizado com luz ultravioleta. As bolsas foram reinfladas por mais duas vezes com intervalos de dois dias, porém eram injetados somente 10 mL de ar estéril (Figura 5). Figura 5:Desenho esquemático dos dias do experimento. 17 3.3 GRUPOS EXPERIMENTAIS Os animais foram divididos em seis grupos experimentais. O primeiro grupo não recebeu nenhum tipo de tratamento até o momento da injeção de carragenina. O segundo grupo recebeu primeiramente uma dose via intraperitoneal (i.p.) de 10 mg/Kg de Indometacina diluída em salina, que é um agente com propriedades antiinflamatórias e analgésicas já conhecidas e após 1 hora o grupo recebeu uma injeção na bolsa de ar de carraginina (10 mg/Kg). Os grupos seguintes receberam doses de 1mg/Kg, 5 mg/Kg, 10 mg/Kg e via i.p. da substância Dibenzalacetona(DBZ) diluídas em óleo mineral (1%) e Tween 20 (0,01%), respectivamente e após 1 hora todos os animais receberam uma dose de 10 mg/Kg de carraginina na bolsa de ar (tabela 1). A DBZ foi diluída em óleo mineral, Tween e solução fisiológica e depois a solução foi sonicada para obtenção de uma melhor solubilização da DBZ. Tabela 1. Grupos experimentais Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3 Grupo 4 Grupo 5 Injeção de 10 mg/Kg de carragenina na bolsa de ar Injeção de 10 mg/Kg de indometacina + 10 mg/Kg de carragenina após 1 hora Injeção de 1 mg/Kg de DBZ + 10 mg/Kg de carragenina após 1 hora Injeção de 5 mg/Kg de DBZ + 10 mg/Kg de carragenina após 1 hora Injeção de 10 mg/Kg de DBZ + 10 mg/Kg de carragenina após 1 hora 3.4 ANÁLISE DO EXSUDATO Após a aplicação das drogas os animais foram mantidos com água e ração balanceada ad libitum por 16 horas até seu sacrifício. Primeiramente os animais foram eutanizados com éter etílico e foi feita uma incisão na bolsa de ar com auxílio de um bisturi e a área lesionada foi lavada com 1 mL de solução salina e EDTA (1 mM) e depois, a solução formada foi coletada para as análises quantitativas e qualitativas. 18 3.5 AVALIAÇÃO DA VASODILATAÇÃO DOS GRUPOS EXPERIMENTAIS Após 16 horas da injeção de carragenina e do tratamento com DBZ os animais foram sacrificados com éter etílico e depois que foi retirado o exsudato da bolsa de ar, a mesma foi aberta com o auxílio de um bisturi para que o dorso do animal ficasse exposto para que fotos que evidenciassem a vasodilatação presente na área em questão fossem tiradas. 3.6 AVALIAÇÃO DA MIGRAÇÃO CELULAR Foram retirados 50 µL do exsudato para que fosse feita cultura com o exsudato retirado da bolsa. O exsudato foi incubado em DMEM (Dulbecco’s Modified Eagles Medium – Sigma), suplementado com 10% de Soro Bovino Fetal (SBF), e com gentamicina e penicilina, em placa com 24 poços que continham lamínulas previamente tratadas com Poliornitina. Após 24 horas de incubação na estufa com uma atmosfera formada por 5% CO2 e 95% O2 a 37° C, foram tiradas fotomicrografias de cada grupo de tratamento no microscópio invertido. 3.7 AVALIAÇÃO DA PRODUÇÃO DE ÓXIDO NÍTRICO A PARTIR DO EXSUDATO A produção de óxido nítrico do sobrenadante do exsudato após tratamento com carraginina, indmetacina e DBZ, foi avaliada através da quantificação de seu metabólito nitrito, utilizando-se o método do Reagente de Griess (Grenn et al., 1982), que consiste na reação do sobrenadante com o reagente de Griess (sulfanilamida 1% e naftilenediamina 0,1%, ambos preparados em solução de ácido fosfórico 2.5%). Após 10 minutos de reação, as amostras foram lidas em leitor de microplacas ELISA com comprimento de onda de 540 nm. As concentrações de nitrito nas amostras são determinadas através do fator obtido da curva padrão com diluições seriadas de nitrito de sódio a concentrações conhecidas. 19 Para excluir interferências do acúmulo de proteínas do exsudato durante a passagem das amostras no leitor de ELISA, as amostras foram centrifugadas por 5’ a 3.000 rpm antes do procedimento padrão. 3.8 AVALIAÇÃO DA SUPERÓXIDO DISMUTASE (SOD) A PARTIR DO EXSUDATO DOS GRUPOS DE EXPERIMENTO A produção de superóxido durante o processo inflamatório foi avaliada através da medição da atividade enzimática da superóxido dismutase (SOD), enzima de degradação do superóxido. As amostras foram diluídas em tampão fosfato/ EDTA (1mM) e foi feito um teto (tampão fosfato + EDTA+ Xantina oxidase (0,25 U/ml)) somente com a solução tampão. As reações das amostras e teto tiveram a hipoxantina (10 µM) e NBT (500 µM) como substrato. As amostras foram passadas em um leitor de ELISA com comprimento de onda de 540 nm. 3. 9 ANÁLISE ESTATÍSTICA Para a realização dos testes estatísticos foi utilizado o BioEstat 5.0, um programa estatístico com aplicações nas áreas das Ciências Biológicas e Médicas (Ayres et al., 2007) e foi considerado significativo um valor de p<0,05 e p<0,001 n os testes aplicados (Análise de Variância – ANOVA e Teste t ). 20 4. RESULTADOS 4.1 ANÁLISE DA MIGRAÇÃO CELULAR EM ANIMAIS TRATADOS COM DBZ A migração celular é uma característica comum no local ou tecido que esteja ocorrendo um processo inflamatório. As células migram dos vasos sanguíneos para a área inflamada da bolsa de ar. A analise foi feita logo após a retirada do exsudato, e a sua quantificação foi realizada na câmara de Neubauer. No Gráfico 1 pode-se observar uma diminuição na quantidade de células no exsudato de animais tratados quando comparado com o exsudato de animais tratados com o agente inflamatório, a carragenina. Em grupos que receberam tratamento com indometacina ocorreu uma redução do número de células em aproximadamente 30% quando comparado com o grupo que recebeu somente a dose de carragenina. Quando analisamos a substância em teste, a DBZ, há uma redução de aproximadamente 69% de células no exsudato em animais tratados com 1 mg/Kg, 80% em animais tratados com 5 mg/Kg e 94% em animais tratados com 10 mg/Kg em relação ao grupo que recebeu somente o tratamento com carragenina. Este dado é confirmado pelas fotomicrografias da cultura de células com o exsudato que foi mantida por 24 horas na estufa. Na Figura 6 pode-se observar nas fotomicrografias da cultura de células de animais tratados com DBZ há uma diminuição da migração celular comparado com o grupo somente tratado com o agente inflamatório. Para o grupo tratado com indometacina não ocorreu uma redução significativa se comparado com o grupo tratado com carragenina e nos grupos tratados com DBZ observou-se p<0,05 comparando-se com o controle negativo. 21 Gráfico 1. Efeito da DBZ no número total de células do exsudato da bolsa de ar em grupos tratados com 1 mg/Kg, 5 mg/Kg e 10 mg/Kg e o número total de células em grupos controle. Carragenina (n=10); Indometacina (n=7); 1 mg/Kg (n=7); 5 mg/Kg (n=8); 10 mg/Kg (n=8). * p<0,05e ** p<0,001 em relação ao grupo tratado somente com carragenina. 22 A B C D E Figura 6. Fotomicrografias da cultura de células, analisadas em microscópio invertido na objetiva de 10X , cultivadas em DMEM, dos grupos de tratamento. Em (A) são células do exsudato de animais tratados apenas com o agente inflamatório, carragenina. Em (B) são células do exsudato de animais tratados com Indometacina. Em (C) são células do exsudato de animais tratados com 1 mg/Kg de DBZ. Em (D) são células do exsudato de animais tratados com 5 mg/Kg de DBZ. Em (E) são células do exsudato de animais tratdos com 10 mg/Kg de DBZ.Barra: 10µm para todas as amostras 23 4.2 VOLUME DO EXSUDATO EM ANIMAIS TRATADOS COM DBZ O volume total do exsudato da bolsa de ar de cada animal também foi medido pois o aumento do exsudato caracteriza uma quantidade maior de edema no tecido em que está ocorrendo o processo inflamatório, gerado pelo acúmulo de células pró-inflamatórias e mediadores químicos. Na figura 3 podemos observar a média do volume do exsudato de cada grupo experimental, onde podemos ratificar que há uma diminuição no exsudato dos animais tratados com DBZ quando comparado com os grupos que receberam carraginina e indometacina. Para o grupo tratado com indometacina não ocorreu uma redução significativa quando comparado com o grupo tratado com carraginina e no grupos tratados com DBZ observou-se p<0,05 comparando-se com o controle. A indometacina reduziu em 15% a formação de exsudato quando comparado com o grupo que recebeu somente a dose de carragenina. Enquanto que a DBZ reduziu em 94% a produção de exsudato em todos os grupos que receberam DBZ, quando comparado com o grupo que recebeu somente dose de carragenina. A droga não demonstrou uma resposta dose dependente, apenas uma diminuição expressiva da exsudação, como demonstrado no gráfico 2. Gráfico 2. Efeito da DBZ no volume total do exsudato em grupos tratados com 1 mg/Kg, 5 mg/Kg e 10 mg/Kg e o número total de células em grupos controle. Carragenina (n=10); Indometacina (n=7); 1 mg/Kg (n=7); 5 mg/Kg (n=8); 10 mg/Kg (n=8). * p<0,05 em relação ao grupo tratado somente com carragenina. 24 4.3 VASODILATAÇÃO DE ANIMAIS TRATADOS COM DBZ Para evidenciar o processo de vasodilatação na área da bolsa de ar foi aberta com o auxílio de um bisturi para que o dorso do animal ficasse exposto para que fotos que evidenciassem a vasodilatação presente na área da bolsa fossem tiradas. Na Figura 7 pode-se observar os diferentes graus de vasodilatação em diferentes grupos experimentais. Nos grupos tratados com DBZ há uma diminuição da vasodilatação gradual seguindo as concentrações administradas da DBZ. Na figura 7A, pode-se visualizar um animal que recebeu tratamento somente com carragenina. Nota-se que a região onde foi induzido o processo inflamatório, a carragenina promoveu uma vasodilatação intensa, como observado pelas setas e pela região marcada com um círculo, enquanto que na figura 7B é um animal que recebeu tratamento com indometacina um antiinflamatório não-esteroidal com propriedades farmacológicas já conhecidas, 7C, 7D e 7E, animais que receberam doses de 1 mg/Kg, 5 mg/Kg e 10 mg/Kg, respectivamente, nota-se que há uma diminuição no número de vasos dilatados, demonstrando que esta substância atua em uma das principais características do processo inflamatório . 25 A B C D E e Figura 7. Efeito da DBZ no volume total do exsudato em grupos tratados com Indometacina, 1 mg/Kg, 5 mg/Kg e 10 mg/Kg e o núm ero total de células em grupos controle. As setas mostram um processo de vasodilatação diminuindo de acordo com o grupo de tratamento em questão. A área em questão é o dorso do animal, onde foram injetadas as doses de ar estéril durante o experimento. Em (A) um animal que foi tratado somente com Carraginina, em (B) o animal que foi tratado com Indometacina, em (C) o animal que foi tratado com 1 mg/Kg de DBZ, em (D) um animal que foi tratado com 5 mg/Kg de DBZ e em (E) o animal que foi tratado com 10 mg/Kg de DBZ. 26 4.4 AVALIAÇÃO DA PRODUÇÃO DE ÓXIDO NÍTRICO DURANTE O PROCESSO INFLAMATÓRIO Após avaliação do número de células no exsudato, análise das fotosmicrografias e avaliação do volume do exsudato, analisamos a quantidade de nitrito presente no exsudato retirado da bolsa de ar. Quando os animais foram somente tratados com carragenina ocorreu um aumento na concentração de nitrito, enquanto que nos grupos tratados com Indometacina e DBZ ocorreu uma redução na quantidade de nitrito produzida. As concentrações obtidas de nitrito no grupo tratado somente com carragenina foram de 3,3 µM. Porém, nos animais tratados com indometacina a concentração de nitrito decaiu para 1,8 µM comparado com o grupo que recebeu tratamento somente com carragenina. Nos grupos tratados com 1 mg/Kg, 5 mg/Kg e 10 mg/Kg a concentração de nitrito foi reduzida para 2,4 µM, 2,2 µM e 1,8 µM, respectivamente. A produção de nitrito foi uma resposta dose-dependente quando analisamos os grupos tratados com DBZ (Gráfico 3). A diminuição da quantidade de nitrito em animais pré-tratados com indometacina foi de aproximadamente 46% se comparado ao grupo de animais tratados somente com carragenina. Nos grupos que foram pré-tratados com DBZ a diminuição da concentração de nitrito foi de aproximadamente 28% em animais que receberam uma dose de 1 mg/Kg de DBZ, 34% em animais que receberam uma dose de 5 mg/Kg de DBZ e 46% em animais que receberam uma dose de 10 mg/Kg de DBZ. 27 Gráfico 3: Efeito da DBZ na concentração do metabólito do NO, nitrito no exsudato presente na bolsa de ar, em grupos tratados com 1 mg/Kg, 5 mg/Kg e 10 mg/Kg e o número total de células em grupos controle. Carragenina (n=10); Indometacina (n=7); 1 mg/Kg (n=7); 5 mg/Kg (n=8); 10 mg/Kg (n=8). 4.5 ATIVIDADE DA SOD NO PROCESSO INFLAMATÓRIO Para avaliar a liberação de superóxido durante o processo inflamatório foi analisada a atividade da enzima SOD, que degrada o reativo superóxido e gera peroxinitrito. É importante ressaltar que no decorrer de processos inflamatórios há um aumento na liberação de radicais livres como o superóxido e que a quantidade de enzima de degradação, SOD, é insuficiente para degradação do superóxido. É importante ressaltar que uma unidade de redução da atividade da SOD equivale a uma redução de 0,001de densidade óptica por minuto em relação ao teto. Os resultados sobre a avaliação da atividade da SOD mostraram que quando se utilizou somente o agente flogístico (controle negativo) a atividade da SOD foi de aproximadamente 5,9 unidades de redução da atividade da SOD. Em animais pré-tratados com Indometacina há uma redução de aproximadamente 12% (5,2 unidades de redução da 28 atividade da SOD) na atividade da SOD quando comparado com o grupo que recebeu somente o agente flogístico (Gráfico 3). Nos grupos tratados com 1 mg/Kg, 5 mg/Kg e 10 mg/Kg ocorreram reduções de 4% (5,7 unidades de redução da atividade da SOD), 12% (5,2 unidades de redução da atividade da SOD) e 33% (4,0 unidades de redução da atividade da SOD), respectivamente. Analisando os resultados é importante ressaltar que em grupos tratados com 10 mg/Kg de DBZ ocorreu uma redução mais acentuada, de 23%, quando comparada ao grupo que recebeu pré-tratamento com Indometacina (Gráfico 3). Gráfico 4: Efeito da DBZ na produção de SOD em grupos tratados somente com Carragenina, Indometacina, 1 mg/Kg de DBZ, 5 mg/Kg de DBZ e 10 mg/Kg de DBZ. Carragenina (n=5); Indometacina (n=4); 1 mg/Kg (n=5); 5 mg/Kg (n=6); 10 mg/Kg (n=5). Para medição da SOD foi considerado que 1 unidade de redução da atividade da SOD equivale a redução de 0,001 densidade óptica por minuto em relação ao teto. 29 5. DISCUSSÃO Os nossos resultados demonstraram que a DBZ aplicada intraperitonealmente nos ratos Wistar como tratamento para um processo inflamatório gerado pela aplicação da carragenina em modelo de bolsa de ar, possui um significante efeito antiinflamatório de forma dose-dependente. O presente estudo mostrou que a DBZ gerou a inibição da migração celular para área da bolsa de ar, diminuiu o processo de vasodilatação no local onde foi induzida a inflamação, houve a inibição da produção de metabólitos de óxido nítrico e uma redução na atividade da enzima SOD (não houve estatística). Um dos principais pontos em que podemos avaliar a atividade antiinflamatória da DBZ é em relação a inibição da migração celular de leucócitos polimorfonucleares (PMNs) e células monocíticas para região da bolsa de ar (Fig. 6). Esta diminuição da migração leucocitária pode ser devido ao bloqueio da expressão de moléculas de adesão que são responsáveis pelo “rolamento” das células leucocitárias ao longo do endotélio. Este bloqueio na expressão dessas moléculas pode ser justificado pela inibição de fatores de transcrição nuclear como o, NF-κB que é responsável peça transcrição de genes para iNOS, COX-2 e Molécula de adesão vascular 1(VCAM -1) (Martin et al., 2000; Kim et al., 2010). É importante ressaltar que o NF-κB é encontrado em sua forma inativada ligada a uma proteína inibitória, IκB. A ligação de mediadores inflamatórios a receptores presentes em macrófagos resulta na fosforilação e degradação de IκB e a translocação de NF-κB para o núcleo celular e se liga as regiões promotoras do DNA que irão iniciar a transcrição de outros mediadores inflamatórios (Laskin et al., 2001). O superóxido é um ânion produzido por muitas enzimas oxidativas como produto da redução de um elétron do oxigênio. Xantina oxidase é uma das principais enzimas oxidativas produzindo o anion superóxido, resultando em uma injúria tecidual (Smith, 1985; Mayumi et al., 1993, apud, Haraguchi et al., 1998). O anion superóxido possa está envolvido em um dos principais pontos presentes durante um processo inflamatório, a migração PMNs, principalmente neutrófilos. Durante um processo inflamatório os neutrófilos produzem superóxido e este superóxido reage com um precursor no plasma para produzir mediadores quimiotáticos (Petrone et al., 1980). 30 Petrone e colaboradores (1980) pesquisaram a ação quimiotática de superóxido sobre neutrófilos sob influência de radicais livres e um processo inflamatório em leucócitos humanos, eles observaram que durante a exposição do plasma a xantina e xantina oxidase ocorreu a ativação de atividade quimiotática para neutrófilos, o que demonstrou a participação de superóxido como um radical livre que participa do processo de migração celular para áreas onde está ocorrendo o processo inflamatório. Salvemini e colaboradores (1995) quando utilizaram inibidores para iNOS em modelo inflamatório de bolsa de ar, observaram que havia uma ação anti-inflamatória, não somente pelo bloqueio da iNOS, mas também pela diminuição do infiltrado celular e de prostaglandinas na área onde estava ocorrendo o processo inflamatório. Diversas pesquisas já sugeriram que os AINEs podem atuar diretamente na superfície de células mononucleares impedindo a migração dessas células para os sítios de inflamação. É interessante ressaltar que agentes imunosupressivos podem exercer um atividade antiinflamatória reduzindo o infiltrado de PMNs (Duke et al., 1973,apud, Meacock & Kitchen, 1976). Meacock & Kitchen (1976) testaram a atuação de diversos AINEs como, indometacina, fenilbutazona, cetoprofeno, ibuprofeno, aspirina, fenoprofeno e naproxeno, no processo de migração celular,e concluíram que nenhum dos fármacos testados impediu a migração de PMNs em um processo inflamatório induzido por carragenina, entretanto alguns AINEs testados suprimiram a migração de células mononucleares (monócitos). Nossos resultados demonstram que há uma migração de leucócitos para área da bolsa de ar, pois o número médio de células encontradas no grupo que foi tratado somente com carragenina foi de 177, enquanto que nos grupos tratados com indometacina, 1 mg/Kg, 5 mg/Kg e 10 mg/Kg de DBZ as médias foram de 124, 55, 35, 10 respectivamente. O resultado do número de células pode ser um dos indicativos de que o processo inflamatório está de fato sendo inibido pela ação da DBZ. As fotomicrografias (figura 6) mostradas em nossos resultados corroboram com a contagem do número de células (gráfico 1), onde o número de células em animais tratados com pré-tratamento com 1 mg/Kg foi aproximadamente 69% menor se comparado ao controle (somente com carragenina), na concentração de 5 mg/Kg ocorreu uma redução de 81%, na concentração de 10 mg/Kg ocorreu uma redução de aproximadamente 94%, portanto podemos sugerir que a DBZ realmente esteja atuando em uma dos principais pontos presentes 31 no processo inflamatório, como a migração de PMNs e células monocíticas para área onde está ocorrendo a injúria. Além da migração de leucócitos para área onde está ocorrendo o processo inflamatório, há um ponto relevante a ser analisado, o intenso quadro de vasodilatação periférica. Esta vasodilatação poderia ser o resultado da liberação de mediadores vasoativos como a histamina e determinados produtos do metabolismo do ácido aracdônico, presentes durante um quadro de inflamação, como as PGs produzidas pela COX (Salvemini et al., 1993). Durante um processo inflamatório agudo há uma modificação no calibre dos vasos, no fluxo sanguíneo e na permeabilidade vascular (Bechara & Szabó, 2006). Nossos resultados demonstraram que há uma diminuição no número de vasos dilatados em animais que receberam um pré-tratamento com indometacina ou DBZ (figura 7). O NO é um mediador pleiotrópico que atua em uma variedade de processos fisiológicos e fisiopatológicos. Essa pequena molécula é produzida pela oxidação de Larginina pela enzima NOS (Marzocco et al., 2007). Há três isoformas da NOS, porém neste trabalho é importante dar ênfase para isoforma induzida da enzima, pois ela atua na produção de NO durante a defesa do organismo podendo gerar um estresse oxidativo durante um quadro inflamatório. Jung e colaboradores (2010) analisaram a ação antiinflamatória do n-Propil Gallato através da regulação negativa de NF-κB em cultura de macrófagos da linhagem RAW 264.7, chegando a conclusão de que se há uma diminuição da concentração de nitrito em células tratadas com substâncias que possuem atividade antiinflamatória, provavelmente essa diminuição é resultado da inibição de fatores de transcrição nuclear, como o NF-κB. Em modelos experimentais de inflamação induzida por carragenina em bolsa de ar há um aumento da ativação de NF-κB e quando os animais são tratados com dexametasona (antiinflamatório esteroidal) há uma redução da marcação para NF-κB quando se fez uma imunohistoquímica para o tecido retirado da área da bolsa (Ellis et al., 2000). Analisando nossos resultados da concentração de nitrito podemos observar que em animais pré-tratados com DBZ ocorreu uma redução deste metabólito e esta redução poderia ter ocorrido em função da inibição da via de ativação do NF-κB (Crippen, 2006) em células como os macrófagos durante o processo antiinflamatório. Os animais que receberam Indometacina e a dose de 10 mg/Kg de DBZ tiveram uma redução de 46% comparando com 32 os animais tratados somente com carragenina e podemos concluir que a DBZ possui um potencial antiinflamatório por também inibir a produção de espécies reativas de oxigênio liberadas durante o processo inflamatório. Nossos resultados também demonstram que em animais que receberam somente o agente flogístico há um aumento da atividade da enzima SOD, inferindo que este aumento é resultado de uma intensa liberação principalmente de superóxido. Quando observamos os animais que foram tratados com indometacina há uma leve redução na atividade da enzima SOD e nos animais que foram tratados com DBZ, as doses de 1 mg/Kg e 5 mg/Kg reduziram levemente a atividade da SOD e podemos observar que a dose mais eficiente na redução da atividade da SOD foi a de 10 mg/Kg que se mostrou mais eficiente que a indometacina. Com os resultados vistos acima da atividade da SOD, podemos chegar a conclusão de que a tendência de um antiinflamatório ou potencial agente antiinflamatório é reduzir a quantidade de enzima de degradação devido a redução do radical livre, superóxido e há pesquisas que demosntram que a interação entre superóxido e NO na produção de um processo inflamatório no tecido (Salvemini et al., 1996), portanto se está ocorrendo uma diminuição na liberação de NO e superóxido como demosntram os gráficos 3 e 4 podemos inferir que esta diminuição seja resultado da ação antiinflamatória ocasionada pela DBZ. A DBZ possue uma semelhança estrutural com chalcona, por isso fazendo uma análise comparativa com resultados de outras pesquisas, demonstram que a utilização de chalconas ou seus derivados como antiinflamatórios podem agir diminuindo a concentração de PGE2, NO, mediadores liberados por mastócitos e neutrófilos e na concentraçõa do anion superóxido (Rojas et al., 2002 & Hsieh et al.,1998) . Em um estudo realizado com dois derivados da chalcona-dimetilamina, os derivados 5 e 6, observaram que ambos os derivados diminuem a concentração de PGE2, nitrito, iNOS e volume de edema. Foram utilizados modelos in vivo com indução de edema de pata em camundongos posteriormente tradados comn derivado 6 e indometacina para ação antiinflamatória e o modelo in vitro foi desenvolvido com macrófagos da linhagem RAW 264.7 estimulados com LPS e posteriormente tratados com os derivados 5 e 6. Os resultados deste estudo demonstraram que a chalcona 6 foi a mais eficiente na inibição de determinados fatores pró-inflamatórios como PGE2, iNOS e nitrito e redução do edema de pata. As concentrações utilizadas do derivado 6 33 foram de 25 mg/Kg no modelo in vivo e 0,1 µM; 1 µM; 5 µM e 10 µM no modelo in vitro e observou-se que ocorreu uma diminuição no edema de pata e um redução dose-dependente na com centração de nitrito e PGE2 (Rojas et al., 2002). Nossos resultados mostraram que utilizando DBZ, ocorreu uma redução no número de células presentes no exsudato e concentração de nitrito de forma dose-dependente, onde a concentração de 10 mg/Kg foi mais eficiente que a concentraçãode 10 mg/Kg de indometacina. Rao e colaboradores (2009) reportaram que análogos de 3’, 4’, 5’ – trimetoxichalcona funcionam como um potente inibidor na produção de NO durante um processo inflamatório e proliferação de células tumorais. Este mesmo grupo de pesquisa demonstrou que os análogos (em torno de 23 análogos) desta chalcona poderiam atuar durante o processo inflamatório gerado no epitélio gástrico pela infecção por Helicobacter pylori, uma bactéria gram-negativa, podem atuar como agentes antiinflamatórios. Os análogos 1, 7 e 13 por terem demonstrado um menor efeito citotóxico em células epiteliais da mucosa gástrica e por terem um maior efeito bactericida foram utilizadas para o experimentos posteriores onde se observou o potencial antiinflamatório e bactericida que esses análogos tinham inibindo a liberação de NO pela ativação de NF-κB e a liberação de interleucina-8 (IL-8), um importante citocina que atua como quimiotático e ativador de neutrófilos (Lai et al., 2010). Nossos resultados utilizando a DBZ evideciaram uma redução na liberação de nitrito e na migração de leucótictos,como os neutrófilos durante um processo inflamatório. 34 6. CONCLUSÃO Os nossos resultados mostraram que a DBZ possui atividades antiinflamatórias em modelo de inflamação em bolsa de ar induzida por carragenina. Os resultados mostraram que ocorreu uma diminuição da migração celular para área onde foi aplicado o agente flogístico, devido à ação antiinflamatória exercida pela DBZ, assim como ocorreu uma redução do processo de vasodilatação, do volume de exsudato, na concentração de nitrito e diminuição da atividade da SOD. Quando observamos o número de células, a vasodilatação na área da bolsa e a concentração de nitrito do exsudato, a concentração de 10 mg/Kg de DBZ apresentou uma maior eficácia do que o AINE utilizado como controle positivo. 35 7. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ABBAS, A.B; LICHTMAN, A.H and PILLAI S. Imunologia Celular e Molecular. Tradução de Claúdia Reali e outros. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008 – 2ª tiragem. Pág: 23-24. ADAMS, V; NEHRHOFF, B; SPATE, U; LINKE, A; SCHULZE, P.C; BAUR, A; GIELEN, S; HAMBRECHT, R and SCHULER, G. 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