Cristianismo Primitivo - Centro de Pesquisas da Antiguidade

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Cristianismo
Primitivo
Ideais que dão base
a religião Cristã
Autoria
Profª Roberta Damasco da Silva
Graduada pelo Centro Universitário
Augusto Motta
Linha de Pesquisa: História Social
Objetivo
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Investigar a ruptura das comunidades
judaicas
com
comunidades
cristãs
primitivas, através do discurso político e
social.
Trabalhar a ideologia das comunidades
primitivas em sua diversidade.
Investigar seus interesses políticos e sociais
junto ao Império Romano antes e após a
junção.
Recorte Historiográfico
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Batismo de Jesus no Rio Jordão por João
Batista ao Edito de Milão em 313 d.C.
Documentação
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Diálogo com Trifão, livro escrito por Justino
Mártir em Roma pelos meados do Séc II.
Livro Atos dos Apóstolos.
Tácito, Annales, XV.44 – A Perseguição de
Nero.
Lactâncio, de Mort. Persec. XXXIV – Edito de
Tolerância.
Problemática
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Podemos afirmar que o judaísmo antes e
depois de Jesus foi um sistema religioso
unificado?
As comunidades judaicas aguardavam uma
libertação política ou religiosa?
Qual a proposta das comunidades
primitivas?
Qual grupo de judeus aceita a proposta das
comunidades primitivas?
Problemática
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Após a morte de Jesus qual o ponto
culminante que determina a separação de
judeus e judeu-cristãos?
Qual a relação dos judeus junto ao Império
Romano?
O que torna a relação do Império Romano e
comunidades primitivas conflituosas?
Houve interação social entre a comunidade
primitiva cristã e a sociedade romana?
Problemática

Quais os interesses da comunidade cristã
envolvidos na submissão do Império
Romano?
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Quais os motivos que levaram o Império
Romano à tolerância?
Hipóteses
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O judaísmo praticado em Israel no tempo de
Jesus estava longe de ser um sistema
religioso unificado.
Durante os primeiros séculos, antes e depois
do nascimento de Cristo, havia várias
escolas ou partidos com conflitantes
interpretações da Tora.
Embora
todos
os
partidos
fossem
estritamente
monoteístas,
escolas
concorrentes de interpretação e as várias
influências de outras culturas de fora de
Israel somavam-se para ocasionar uma
diversidade de práticas religiosas.
Hipóteses
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Vamos agora abordar rapidamente algumas escolas ou partidos
judaicos para uma melhor compreensão da hipótese antes
levantada:
Saduceus: os mais conservadores, estritamente identificados com
a aristocracia de Jerusalém e com o sumo sacerdócio do Templo.
Mantiveram sua influência através de vários regimes sucessivos e
por último no tempo das autoridades romanas.
Diferiam dos fariseus por não aceitarem a tradição oral. Não
acreditavam na ressurreição e espíritos angélicos.
Fariseus: tinham grande representação entre a classe media dos
artesãos e dos escribas no seio da sociedade judaica. Acreditavam
na ressurreição e numa vida futura. Precursores do judaísmo
rabínico. A palavra FARISEU tem o significado de “separados”, a
verdadeira comunidade de Israel “santos”.
Essênios: Acreditavam que a conversão era exigida de todos os
que quisessem entrar na nova aliança, e a comunidade
administrava um ritual regular de banhos para purificação dos
pecados.
Ao passo que muitos moravam em cidades e aldeias em
pequenos grupos ou comunidades também em Jerusalém,
outros se retiravam para o deserto para viver isolados ou em
comunidades separadas. Alguns formavam comunidades
monásticas e seguiam disciplina ascética aguardando a
intervenção escatológica de Deus na vida de Israel, que
seguramente viria, conforme sua crença, para restabelecer o
sacerdócio do templo.
 Zelotes: esse movimento representa o nacionalismo judeu
em sua forma mais ativa e violenta. Constituem um grupo
mais político que religioso, professavam uma fé análoga a
dos fariseus.

Judeus da diáspora : moravam nas cidades dos mundos
persa e greco-romano. Descentes dos judeus removidos a
força, em cativeiro pelos assírios e babilônios, mas que não
voltaram a Jerusalém ou a Israel após o edito persa que
concedeu tal permissão no século VI a.C. No tempo de Jesus
os judeus que viviam no mundo persa, principalmente na
Babilônia ou seus arredores, pode ter chegado a um milhão.
Hipóteses
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As comunidades judaicas (ligadas a alta hierarquia)
ansiavam
pela
liberdade
política,
esperavam
especificamente o messias que sentaria no trono do Rei
Davi.
A história primitiva do cristianismo é a história de
reformulações e reapropriações contínuas dessa antiga
fé na aliança, dentro de novos variados contextos
políticos culturais. A história então se desdobra na
interação entre a aliança nacional de Israel e uma série
de horizontes internacionais que se ampliam.
Em meio a diversidade Jesus fala de igualdade, e
anuncia o Reino de Deus que inicia NELE, na forma
como vive e se relaciona com o outro.
Os judeus que seguem Jesus são os judeus que de
alguma maneira foram excluídos ou não concordam com
as práticas de suas comunidades.
Este mapa inclui algumas das localizações geográficas dentro da antiga região Galiléia,
em Israel. De acordo com Josephus, naturalmente Galiléia foi dividido em duas
regiões divididas por uma ladeira muito íngreme 2000 pés.
http://www.bible-history.com/maps/
Este mapa inclui algumas das localizações geográficas dentro da antiga região Galiléia,
em Israel. Baixa Galiléia continha muitas colinas cerca de 2000 metros acima do
nível do mar, não tão grande como o norte da Galiléia região. Ele vem para baixo
como uma espécie de escada de grandes para pequenos morros. O vale formado
um caminho fácil para o Mar da Galiléia, especialmente ao norte do Mar Cafarnaum
onde foi localizado.
http://www.bible-history.com/maps/
Hipóteses
A perseguição aos grupos judeu-cristãos
em Jerusalém leva-os à dispersão para
outras cidades além de Israel.
 Pedro entende que a aliança entre gentios
e romanos, pode ser positiva a nível de
crescimento para o movimento cristão.
 O concílio de Jerusalém oferece aberturas
necessárias para a convivência harmônica
junto a diferentes culturas.
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Hipóteses
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Era impossível para os prosélitos do judaísmo aceitar a junção de
judeus e gentios, de desconsiderar questões tão importantes como:
a circuncisão e as práticas alimentares, afirmar que Jesus era divino
sem violar o dogma básico do monoteísmo. A oposição de outros
judeus só podia piorar a situação dos cristãos em Roma como uma
religião fora da Lei .
Em 95 d.C a alta hierarquia judaica visita o imperador em Roma
para consolidar relações entre Roma e os Judeus. Em vista do
projeto de reconstruir o judaísmo após o fato da destruição do
templo.
No final do século I é dado fim a união religiosa de judeus e
cristãos. Muitos cultos nas sinagogas expulsavam os cristãos.
Os cristãos mediante a tais atitudes, intitulam-se verdadeiros
herdeiros espirituais das promessas feitas nas Escritura de Israel.
Os judeus que eram os herdeiros das promessas físicas , foram
deserdados. Já que Cristo cumprira a Lei, somente os que seguiam
a Cristo podiam reivindicar como próprio a tradição mosaica.
Hipóteses
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A separação de judeus e judeu cristão ocorre dentro de um
período de crise no Império Romano. A utilização de um povo
sem pátria como bodes expiatórios dos problemas de Roma
foi a saída encontrada pelo imperador Nero.
O agressivo proselitismo cristão e suas duras críticas aos
deuses politeístas, tornou-os presumíveis incendiários. A
religião cristã passa ser considerada ilícita em Roma e
perniciosa.
Houve muitos martírios, ainda que, em muitos lugares as
ordens vindas de cima tInham sido amortecidas pelo
enfraquecimento das posições pagãs ou pela coabitação
fraternal entre pagãos e cristãos.
O império romano reencontra paz através do governo de
Constantino, que em batalha tem a visão das inicias do nome
de Jesus Cristo (xi-ro). Constantino vence a batalha contra seu
rival imperial e torna-se soberano único da região ocidental do
império.
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Constantino uniu suas forças com as de Licínio,
imperador do Oriente, para formar uma aliança que não
haveria de durar mais que uma década.
Juntos eles lançaram em 313 uma proclamação
conhecida como o edito de Milão, garantindo a liberdade
de prática religiosa nas terras sobre o domínio do
império romano. O edito ainda restituía aos cristãos
suas propriedades e lugares de culto confiscados,
oferecendo compensação pelas que tinham sido
vendidas. A transição do estado de fé ilegal para religião
nacional estava a caminho.
A comunidade cristã estava interessada em conseguir
estabilidade social, política e religiosa dentro do Império
Romano.
Tolerar o cristianismo no século IV d.C, significava obter
o apoio da maioria no império.
Historiografia
“ Com a garantia de uma estrutura política estável, o potencial judaico era
enorme. Os judeus não eram capazes de proporcionar estabilidade por si
mesmos e os romanos tampouco o acharam fácil, sobretudo porque não
conseguiam definir o status constitucional de sua aquisição, um problema
recorrente no império. Perante um povo subjugado mas obstinado, com
uma sólida tradição cultural própria, sempre hesitavam em impor o governo
direto, exceto in extremis – preferindo, pelo contrário, trabalhar com um
“homem forte”, ligado pessoalmente a Roma e capaz de lidar com seus
súditos em seus próprios costumes e leis vernáculos; tal homem seria
recompensado (e contido) se bem-sucedido e substituído em caso de
fracasso. Assim, a Judéia foi colocada sob a nova província da Síria, regida
por um governador em Antióquia, e a autoridade local foi confiada aos
etnarcas, reconhecidos como “rei”, caso se mostrassem duradouros e
impiedosos o bastante. Dentro da província da Síria, Herodes, que
conquistou o trono da Judéia em 43 a.C., foi confirmado como “Rei dos
Judeus” quatro anos depois, recebendo a aprovação e proteção de Roma.
Herodes era o tipo de homem que os romanos preferiam lidar, a ponto de
terem aceitado e endossado suas disposições para dividir o reino, após sua
morte, entre três filhos – Arquelau, que ficou com a Judéia, Herodes Filipe
e Herodes Antípas.
A divisão não foi totalmente bem sucedida, visto que, em 6 d.C., a
Judéia teve de ser colocada sob custódia direta de Roma, sob uma
sucessão de procuradores, até que, nos anos 60, o sistema como
um todo explodiu em uma desastrosa revolta e sangrenta
retaliação. O ciclo repetiu-se no século seguinte, até que Roma,
exasperada, reduziu Jerusalém a cinzas e a reconstruiu como uma
cidade pagã. Os romanos jamais solucionariam o problema
palestino”.
Johnson, Paul ;História do Cristianismo: 19,
Imago, RJ, 2001.
Historiografia
“Os Judeus, pois, eram unânimes em considerar a história um reflexo da atividade
divina. O passado não era uma série de acontecimentos acidentais, mas
desenrolava- se de forma implacável, de acordo com um plano divino que era
ao mesmo tempo, um projeto e um código de instruções para o futuro. Porém o
projeto era nebuloso; o código permanecia indecifrado ou, em outros termos,
havia sentido antagônicos e em constante mutação para interpretá-lo. E uma
vez que os judeus não conseguiam chegar a um acordo quanto a como
compreender seu passado ou preparar-se para o futuro, tendiam a dividir-se, da
mesma maneira, quanto ao que fazer no presente. A opinião pública judaica era
uma força potente, conquanto de excepcional grau de volatilidade e
fragmentação. A política judia era a política da divisão e da facção. Após a
revolta dos macabeus, os judeus tiveram reis que eram também sumo
sacerdotes, reconhecidos por um império romano em expansão, mas
contendas referentes a interpretações das escrituras provocaram disputas
inconciliáveis quanto a políticas, sucessões, reivindicações e heranças. Havia
uma forte tendência, no seio do sacerdócio e sociedade judaicos, a considerar
Roma o menor dos vários males, e foi essa facção que incentivou a intervenção
de Pompeu em 65 a.C”.
Johnson, Paul ;História do Cristianismo: 19, Imago, RJ, 2001.
Historiografia
No reinado de Herodes, o Grande, o relacionamento entre Roma e os judeus
foi fértil. Já havia uma gigantesca diáspora judaica, principalmente nas
grandes cidades do leste do Mediterrâneo – Alexandria, Antióquia, Tarso,
Éfeso e assim por diante. A própria Roma tinha uma grande e rica colônia
judia. Na época de Herodes, a diáspora expandiu-se e prosperou. O
império proporcionou aos judeus igualdade de oportunidades econômicas e
liberdade de movimento para bens e pessoas. Constituíram ricas
comunidades onde quer que os romanos tivessem imposto a estabilidade.
E, em Herodes, tinham um patrono munificente e poderoso. Para muitos
judeus ele era suspeito, e alguns recusavam-se a sequer reconhecê-lo
como judeu – não por conta de sua vida privada voluptuosa e de violência
excepcional, mas em virtude de seus vínculos helênicos. Entretanto,
Herodes era inquestionavelmente generoso com o judeus. Em Jerusalém,
reconstruiu o Templo com o dobro das medidas de Salomão. Esse imenso
e magnífico empreendimento ainda estava incompleto quando da morte de
Herodes, em 4 a.C., e foi concluído durante a vida de Jesus. Em todas as
grandes cidades, proporcionava-lhes centros comunitários, além de
fornecer os meios e construir inúmeras sinagogas – o novo tipo de
instituição eclesiástica, protótipo da basílica cristã - , onde os serviços eram
oferecidos para os dispersos.
Nas grandes cidades romanas, as comunidades judaicas causavam uma
impressão de riqueza, poder crescente, autoconfiança e sucesso. Dentro
do sistema romano, eram excepcionalmente privilegiados. Muitos dos
judeus da diáspora já eram cidadãos romanos e todos, desde a época de
Júlio Cesar, que nutria por eles grande admiração, desfrutavam direitos de
associação. Isso significa que podiam reunir-se para realizar serviços
religiosos, jantares e banquetes para a comunidade, bem como para todo
tipo de fim social e beneficente. Os romanos reconheciam a força dos
sentimentos religiosos judeus, com efeito, isentado-os da observância da
religião estatal. Em lugar de adoração ao imperador, os judeus tinham
permissão para mostrar seu respeito pelo Estado, por meio de oferta de
sacrifícios em nome do imperador.
Johnson, Paul ;História do Cristianismo: 20, Imago, RJ, 2001.
Historiografia
“A Galiléia estava sujeita a diferentes governos imperiais, mas nunca foi
administrada diretamente por eles. Por isso as aldeias galiléias puderam
se desenvolver como entidades administrativas semi-autônomas. A
sinagoga era o centro da vida social da aldeia. Normalmente se considera
a sinagoga como um edifício para o culto, uma espécie de igreja.Na
verdade não existe evidências disso até o século III e.c (Kee,1990). A
sinagoga era então a assembléia da comunidade, onde eram tratados
todos os temas relevantes para a vida da comunidade aldeã. É claro que
uma das dimensões centrais para a vida da comunidade era religiosa, mas
nunca separada das questões políticas e econômicas, como talvez
estejamos acostumados a pensar hoje. A assembléia reunia-se duas
vezes por semana: nas segundas e nas quintas-feiras. Só em seguida o
sábado virou o dia da sunagwgh,, da reunião. Era o momento do
“mercado”, da discussão política, da celebração cúltica, de casamentos e
de vários ritos de iniciação. Tudo acontecia segundo os antigos costumes
dos pais, transmitidos por séculos, e que sempre garantem a estabilidade
de uma comunidade rural. Um sistema de organização social tradicional e,
ao mesmo tempo quase “democrático”.
Chevitarese, André Leonardo e Coroinelli, Gabriele;Judaísmo, Cristianismo e
Helenismo, Ensaios Acerca DAS Interações culturais no Mediterrâneo
Antigo: 63, Anablume,SP,2007.
Historiografia
“Uma hipótese comumente usada, para explicar o mundo da Galiléia é a do
regionalismo (Horsley,1995:239). Essa hipótese distingue a alta Galiléia,
onde a cultura regional era bastante conservadora, da baixa Galiléia, onde
os grandes centros urbanos helenístico-romanos criaram uma atmosfera
cosmopolita. O limite desta aproximação é o de não considerar
adequadamente tanto o desenvolvimento histórico particular da região (os
oitos séculos de autonomia de Jerusalém e todo o resto), como as
diferenças entre campo e cidade. Vamos resumir as informações que
coletamos até agora para tentar explicar a especificidade cultural da
Galiléia.
Primeiro: a Galiléia é o que os historiadores chamam de Zona de fronteira.
As diferentes culturas com as quais a Galiléia entra em contato são
muitas. Não é possível deixar de imaginar um processo quase osmótico de
trocas culturais.
Segundo: uma grande mistura de populações e etnias é a conseqüência
lógica da primeira observação e dos acontecimentos históricos acima
relatados. Galiléia: o circo dos povos. Se – como vimos – durante o regime
asmoneu alguns judeus foram morar na Galiléia, não há dúvida de que a
maioria da população é não-judia. E uma boa parte devia ser também nãoisraelita.
Terceiro: a força da tradição e dos costumes locais. Essa resistência
foi favorecida pelas formas de dominação “de longe” dos vários
impérios sobre o território (sem uma aristocracia local diretamente
envolvida, feita exceção talvez para os cem anos de dominação de
Jerusalém como vimos). Esta forma de dominação deixou com
bastante autonomia as comunidades (nos assuntos locais,
obviamente) e isso consolidou as tradições socioculturais das
aldeias da Galiléia. Temos uma confirmação indireta disso nos
escritos rabínicos originários, onde os galileus são considerados
ignorantes a respeito das oferendas a serem entregues para o
sacerdote, usam medidas diferentes da Judéia, costume
matrimoniais (e relação de gênero?) e tradições diferentes para a
observância do sábado e das festas, como a Páscoa.
Mas é exatamente aqui que com toda probabilidade encontramos
Jesus de Nazaré. Em suas biografias e em sua mensagem é
possível reconhecer esta diversidade. A pergunta inicial – Jesus
era judeu? – assume a esta altura os traços de uma adversidade
que desenhamos até aqui no chão da Galiléia. Os Evangelhos
Sinóticos estão repletos de referência a dívidas, fome,doenças, e,
ao mesmo tempo de partilha de comida, curas e resistência.
É a partir destas prioridades socio-existenciais que se define a religião
do galileu Jesus: judaica sim, mas até certo ponto e em toda sua
diversidade.
Uma forma religiosa de resistência muito comum para o modelo sócio
cultural em que se reconhecem as aldeias da Galiléia é da magia. A
magia é talvez a forma de resistência mais radical e profunda no
âmbito religioso, e, ao mesmo tempo, a mais pacífica e cotidiana
possível. Ela é muito difícil de ser controlada pelas instituições
religiosas oficiais. E ao mesmo tempo, em situação normal, não se
põe abertamente em contraste com a religião oficial. Aliás, usa
muitas vezes das mesmas tradições, das mesmas fórmulas, mas ao
mesmo tempo dispensando os canais oficiais, as medições
deputadas, para chegar a Deus. Esta última observação vale,
sobretudo, para a magia popular, ligada a prática dos magos e
curandeiros populares.
Enfim, a tentativa destas páginas foi a de deslocar o olhar das
expressões oficiais da religião numa pretensa “Galiléia judaica” para
a vida cultural e religiosa do campesinato galileu ao encontro de
sua diversidade.
Uma diversidade construída paulatinamente ao longo de sua história de
diversas dominações e de várias formas de resistência. Entre elas, a
mais famosa e relevante para a história sucessiva, aquela
representada pelo movimento de um galileu do século I e.c.: Jesus
de Nazaré”.
Chevitarese, André Leonardo e Coroinelli, Gabriele;Judaísmo,
Cristianismo e Helenismo, Ensaios Acerca DAS Interações culturais
no Mediterrâneo Antigo: 69, Anablume,SP,2007.
Historiografia
“Interrogado pelos fariseus sobre quando chegaria o Reino de Deus,
respondeu-lhes: “A vinda do Reino de Deus não é observável. Não se pode
dizer: “Ei-lo aqui!, Ei-lo ali!”, pois eis que o Reino de Deus está no meio de
vós”.
Lucas17:21
“Mas é pelo Espírito de Deus que eu expulso os demônios, então o Reino de
Deus já chegou a vós”.
Mateus 12:21
“Paulo ficou dois anos inteiros na moradia que havia alugado. Recebia todos
aqueles que vinham visitá-lo, proclamando o Reino de Deus e ensinando
no que se refere ao senhor Jesus Cristo com toda intrepidez e sem
impedimento”.
Atos dos Apóstolos 28:30,31
Historiografia
“Quando a primeira geração de evangelizadores cristãos viajava para novas
cidades, os primeiros lugares que costumavam visitar eram as sinagogas
locais, onde procuravam divulgar sua mensagem. Recebidos, porém, com
hostilidade ou indiferença, logo saiam das sinagogas para casas de
famílias. Uma leitura atenta a Novo Testamento mostra que a sinagoga não
era o lugar primordial para as atividades missionárias cristãs, embora com
freqüência fosse o lugar onde era feito o contato com outros judeus. Os
evangelizadores cristãos encontravam as pessoas nas ruas, no mercado,
nas oficinas e nos edifícios públicos. A principal forma de comunicação nas
cidades antigas era a palavra oral. A mensagem cristã espalhou-se pela
divulgação de notícias e conversas entre o povo, pelas visitas de curiosos
que se detinham à entrada das portas para ver o que se passava nas
casas, pelos convites a membros das famílias e vizinhos para ouvirem um
pregador e pela narração de histórias de alguma pessoa curada por um
apóstolo itinerante.
Uma parte da atração exercida pela mensagem cristã estava na sua
mensagem inclusiva. Os cristãos falavam de Jesus como uma pessoa
universal que trazia esperança de superação das divisões do mundo
circunstante.
No mundo mediterrâneo havia grande mobilidade social. As cidades tinham se
tornado bastante heterogêneas na sua composição cultural. Todavia essa
mobilidade causava em muitos um sentimento de deslocamento cultural.
Muitos dos primeiros convertidos eram gentios que foram tementes a Deus
e freqüentavam a sinagoga. Pelo que sabemos de várias fontes a atração
que sentiam no judaísmo era precisamente a esperança num Deus único e
universal, que dominava o mundo inteiro. O ingresso na comunidade cristã
permitia-lhes viver sua fé monoteísta e suas implicações morais”.
Irvin, Dale; História do Movimento Social Cristão: 53, Paulos,
SP, 2004.
Historiografia
“ O fato de Paulo escrever a comunidade cristã de Corinto para fugirem da
adoração a esses ídolos sugere que uma parte considerável dela era
constituída de pessoas que antes adoravam nos outros templos da cidade
(1Cor 10,14-22;12,2). Os chefes cristãos afirmavam que esses outros eram
falsos deuses, ensinando uma doutrina exclusivista que não concordava
com o consenso geral da vida religiosa greco-romana. Os outros podem ter
defendido a superioridade de um deus particular sobre o outro, mas não
contestavam a existência de fato desses outros deuses. Os cristãos, sim,
dizendo que esses outros deuses eram espíritos inferiores ou até
demônios, fazendo aquilo que um historiador chamou de “campanha de
rebaixamento”.
Em outro ambiente, a saber, nos círculos filosóficos da sociedade helenística,
essa campanha já estava bem avançada no séc. I, mas era conduzida
principalmente pela elite intelectual. Os cristãos levaram essa campanha às
massas. Eles assumiram a crítica do judaísmo, segundo qual os outros
deuses eram ídolos ou demônios, isto é, coisas que não eram divinas mas
fazem parte da criação (1 Cor 10,19-20; Gl4,8). Os cristãos, porém,
procuravam mais agressivamente que seus colegas judeus, trazer
convertidos dessas outras religiões para o culto do único Deus de Israel.
Os cristãos criticavam certos aspectos do judaísmo que separavam os
judeus das outras pessoas, a saber, a circuncisão e os códigos de pureza
referentes a partilha das refeições .
A campanha que eles empreendiam era, pois, em duas frentes: os deuses
dos mundos culturais romano, grego e semítico eram rebaixados e a
identidade cultural exclusiva dos judeus era negada.
Essa prática de dupla conversão suscitou o ressentimento e a hostilidade
não apenas dos chefes judeus locais, mas também de outros, até das
autoridades civis locais nas cidades onde o cristianismo começou a se
espalhar. Os cristãos eram considerados ateus pelos seus opositores,
porque negavam a divindade de todos os deuses com exceção do seu.
Quando as autoridades civis entenderam que os cristãos não eram
considerados pelos outros judeus como legítimos membros da família de
Israel, recusaram aos cristãos a condição legal. Roma reconhecia a
legitimidade das religiões dentro do império com base na sua origem
nacional. Os cristãos, porém, eram um povo sem – pátria. A mudança na
oposição foi decisiva para a autocompreensão dos cristãos no mundo
político romano: os seguidores de Jesus Cristo passaram de meramente
sectários a politicamente subversivos e contrários ao Estado quando a
condição da sua identidade religiosa, antes considerada a de um partido
perturbador dentro do judaísmo, passou a ser vista como uma religião
separada e sem pátria”.
Irvin, Dale; História do Movimento Social Cristão: 53, Paulos, SP, 2004.
Historiografia
“Nas primeiras décadas, a estrutura organizacional do
movimento cristão em Roma permaneceu vagamente
definida. Aos estrangeiros na cidade era permitido
organizar collegia, que era conhecida pela lei romana, e
seus membros podiam se reunir sem que fossem
incomodados. Tais associações voluntárias eram
formadas com base na identidade étnica, religiosa ou
profissional. Muitas tinham o objetivo específico, como
sociedade fúnebre que providenciava o sepultamento
dos afiliados. Este parece ter sido o expediente que os
cristãos utilizaram para conseguir permissão para se
reunirem separados das sinagogas em Roma.”
Irvin, Dale; História do Movimento Social Cristão: 110,
Paulos, SP, 2004.
Historiografi
“Em torno de 95 d.C., o rabi Gamaliel II, chefe da
academia judaica que fora formado em Yavneh (Jâmnia)
em Israel, visitou o imperador em Roma para consolidar
as relações entre Roma e os judeus. Nessa época os
rabis se voltaram contra os seguidores dos nazarenos.
Em vista do projeto de reconstruir o judaísmo após o
fato da destruição do templo, a oposição dos rabis é
compreensível. Como podia alguém pretender ser
herdeiro das promessas de Israel, mas deixar de
observar a Lei em questões tão fundamentais como a
circuncisão e as práticas alimentares? Como os cristãos
podiam afirmar que Jesus era divino sem violar o dogma
básico do monoteísmo? Para os cristãos em Roma,
essa oposição dos judeus só podia representar
dificuldade maior. Eles já eram suspeitos aos olhos das
autoridades civis. A oposição dos outros judeus só podia
piorar a situação dos cristãos como uma religião fora da
lei”
O capítulo final da união religiosa entre judeus e
cristãos no mundo mediterrâneo era escrito no
fim do séc I. Logo muitos cultos nas sinagogas
incluíram uma maldição contra o partido
nazareno que significava a expulsão. Por seu
turno, os cristãos intensificaram sua satanização
do judaísmo e se arvoraram em únicos
herdeiros legítimos da tradição da fé de Israel.
Os cristãos agora eram os verdadeiros
herdeiros espirituais das promessas feitas nas
Escrituras de Israel. Os judeus, que eram os
herdeiros das promessas fiscais, foram
deserdados. “Já que Cristo cumprira a Lei,
somente os que seguiam a Cristo podiam
reivindicar como própria à tradição mosaica.”
Irvin, Dale; História do Movimento Social Cristão: 110, Paulos, SP,
2004.
Historiografia
“O ponto de virada na relação entre as autoridades romanas e a
religião cristã ocorre entre o final do ano 62 e início de 63. Roma
não tem um motivo concreto para perseguir ou punir os cristãos,
mas utiliza estes como bodes expiatórios, justificando seu poder.
Exemplos claros desta afirmativa são descritos no governo de Nero
que pune os cristãos, no incidente do incêndio em Roma, sendo
contínua no governo de Domiciano (81-96). Na última década do
século I, a religião cristã fez grandes progressos, ganhando adeptos
até mesmo nos círculos vizinhos ao imperador; assim, por exemplo,
M. Flávio Clemente e Flávia Domitila, primos irmãos de Domiciano.
Na medida em que se espalha o cristianismo, é visto pelo imperador
a necessidade de promover seu autoritarismo, de forma a golpear
os cristãos, espoliando-os ou executando-os por ateísmo. As
perseguições aos cristãos por demonstração de poder e força
prosseguem nos governos de Trajano (98-117), onde fixa uma
norma de conduta: os cristãos, com efeitos são ateus;
desde que convictos, deve-se puní-los, mas não deve procurá-los e devem-se
deixar de lado as denúncias anônimas: Todo inculpado que se arrepender
deve ser liberto.
Nos governos de Antoninos, Adriano (117-138), Antonio Pio (138-161) e Marco
Aurélio (161-180), nada fariam para agravar a legislação anticristã.
Mais hostis foram os Severos. Sétimo Severo (193-211), em 202 assina um
reescrito visando ao mesmo tempo os judeus e os cristãos. Fica interdito
não apenas fazer-se cristão, mas também “fazer” cristãos; a justiça não
deve apenas esperar as denúncias e sim procurar os cristãos. É sobretudo
no Egito e na África – onde o cristianismo progride rapidamente – que esse
reescrito faz mais vítimas.
O cruel Caracala (211-217), Heliogábalo (218-222), Severo Alexandre (222235), Décio de (249-251), Valeriano (253-260), através de dois editos,
agrava a legislação romana, visando, sobretudo a cabeça do corpo cristão:
Bispos, padres, diáconos. A igreja da África é dizimada. Sobrevêm oito
anos de paz sob o reinado de Galiano (260-268), inimigo das desordens
policiais. Aureliano (268-275) não tem tempo de impor ao império seu
sincretismo.
“Quando, depois de dez anos de anarquia, Diocleciano assume as rédeas do
Império (284), o mundo conhece um mestre cujas profundas reformas
permitiam a Roma uma última explosão de brilho. Mas à vontade imperial
de unificação administrativa e religiosa, a impossibilidade para os cristãos
de associar o culto de Jesus ao rito, o papel sempre mais importante
desenvolvido pelo cristianismo na sociedade romana explicam a duração
de (303-313) e a violência
da última perseguição, a qual o nome de Diocleciano permaneceu
definitivamente ligado. Houve muitos martírios, ainda que, em
muitos lugares as ordens vindas de cima tenham sido amortecidas
pelo enfraquecimento das posições pagãs ou pela coabitação
fraternal entre pagãos e cristãos”
Pierrard Pierre; História da Igreja : 29, Paulus, SP, 1982.
Historiografia
“Foi pelas mãos de Constantino, filho de Constâncio, que o império
reencontrou a paz e a unidade. Em 28 de outubro de 312, vindo da
Gália, Constantino esmagou e matou o filho de Maximiano,
Maxêncio, sobre a ponte Mílvia, diante dos muros de Roma. Seis
meses mais tarde, Lícínio, que Galério designara como augusto por
ocasião da morte de Severo (307) batia Maximino Daia na Tárcia,
levando-o ao suicídio. Já não havia mais que dois imperadores:
Constantino em Roma (Oriente), Licínio em Nicomédia (Ocidente)”.
Pierrard Pierre ;História da Igreja: 41, Paulus, SP, 1982.
Historiografia
“Em 313, da grande cidade imperial de Milão, Constantino e seu coimperador Licínio despacharam uma série de cartas cerimoniosas
para os governadores das províncias. Os dois governantes
achavam “salutar e altamente próprio” que uma “completa
tolerância” fosse proporcionada pelo Estado a todos que tivessem
“se convertido ou ao culto dos cristãos” ou a qualquer outro culto
“que pessoalmente sentissem ser melhor para si”. Todos os
decretos anticristãos anteriores fossem revogados; os locais
cristãos de culto e as demais propriedades de que haviam sido
destituídos teriam de ser devolvidos e deveria ser paga uma
indenização, conforme apropriado em termos legais. A nova política
deveria ser “publicada em toda parte e trazida ao conhecimento de
todos os homens”.
O assim chamado “Edito de Milão”, por meio do qual o Império
Romano inverteu sua política de hostilidade para com o cristianismo
e concedeu pleno reconhecimento legal, foi um dos
acontecimentos, decisivos para historia mundial.”
Johnson, Paul ;História do Cristianismo: 14, Imago, RJ, 2001.
Conclusão
Ao longo desta pesquisa , torna-se possível compreender a desfragmentação
das comunidades judaicas e tamanha sua diversidade.
Em meio a um povo diverso que busca afirmar uma unidade, encontra-se
Jesus, que diferente dos demais profetas, por acreditar ser o Messias que
este povo tanto espera. Mas não alguém que veio preparar o caminho,
como João Batista ou lutar pela retomada de um reino político, como os
reis de Israel Saul, Davi,Salomão, etc.
E sim o filho de Deus, parte de Deus, que se fez homem, não para dar a
humanidade aquilo que era esperado pelos homens, mas o que o Deus de
Israel assim determinou (João 1,9:14)
Este Messias vem para todos os homens, mas, é aceito em meio aos
excluídos e miseráveis, e em meio a estes instaura o Reino de Deus
(Mateus 12,28). Diferindo mais uma vez dos profetas que vem a sua frente,
Jesus oferece o Espírito Santo, que é a continuidade de Deus habitando no
interior do ser humano (I Corínt9 6:19).
O Espírito Santo que Jesus oferece é a liberdade para o ser humano que O
acolhe ser livre junto á Deus através de seu filho.
Livre de toda lei, de toda opressão ou de qualquer coisa que possa subjugá-lo,
livre para viver a vontade do PAI com o PAI.
Penso que talvez seja essa a grande novidade do Cristianismo, uma
liberdade que nada e ninguém pode tomar do homem.
Jesus oferece a maior forma de resistência em meio as diversas formas de
domínio.
Segundo o Livro dos Atos dos Apóstolos é esta força que os impulsiona à
caminhada da comunidade primitiva de levar o Evangelho ao mundo
(Atos:1,6:8).
Jesus leva o conhecimento a massa que unida, e acreditando em uma
força que os torna livres e fortes vence a tradição judaica e torna-se a
salvação para um Império que se encontra decadente.
A última problemática que levanto é:
Estas comunidades ao serem toleradas e mais adiante aceitas pelo
Império Romano, muda ou persiste em sua missão?
Referências Bibliográficas
JOHNSON, Paul. História do Cristianismo. RJ: Imago, RJ, 2001.
PIERRARD, Pierre. História da Igreja. SP: Paulus, 1982.
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Perspectiva Socioeconômica, Política e Cultural. RJ: Mauad, 2006.
CAZELLES, Henri. História Política de Israel. SP: Paulus,1986.
CHEVITARESE, André Leonardo e CORNELLI, Gabriele. Judaísmo,
Cristianismo e Helenismo, Ensaios Acerca das Interações
Culturais no Mediterrâneo Antigo. SP: Anablume,2007.
______________Jesus de Nazaré. SP: Anablume,2006.
IRVIN, T Darwin e SUNQUIST, W Scott. História do Movimento
Cristão Mundial - do Cristianismo Primitivo a 1453. SP: Paulus,
2004.
Da Silva, Gilvan e Mendes, Norma, Repensando o Império Romano,
Perspectiva
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