Cristianismo Primitivo Ideais que dão base a religião Cristã Autoria Profª Roberta Damasco da Silva Graduada pelo Centro Universitário Augusto Motta Linha de Pesquisa: História Social Objetivo Investigar a ruptura das comunidades judaicas com comunidades cristãs primitivas, através do discurso político e social. Trabalhar a ideologia das comunidades primitivas em sua diversidade. Investigar seus interesses políticos e sociais junto ao Império Romano antes e após a junção. Recorte Historiográfico Batismo de Jesus no Rio Jordão por João Batista ao Edito de Milão em 313 d.C. Documentação Diálogo com Trifão, livro escrito por Justino Mártir em Roma pelos meados do Séc II. Livro Atos dos Apóstolos. Tácito, Annales, XV.44 – A Perseguição de Nero. Lactâncio, de Mort. Persec. XXXIV – Edito de Tolerância. Problemática Podemos afirmar que o judaísmo antes e depois de Jesus foi um sistema religioso unificado? As comunidades judaicas aguardavam uma libertação política ou religiosa? Qual a proposta das comunidades primitivas? Qual grupo de judeus aceita a proposta das comunidades primitivas? Problemática Após a morte de Jesus qual o ponto culminante que determina a separação de judeus e judeu-cristãos? Qual a relação dos judeus junto ao Império Romano? O que torna a relação do Império Romano e comunidades primitivas conflituosas? Houve interação social entre a comunidade primitiva cristã e a sociedade romana? Problemática Quais os interesses da comunidade cristã envolvidos na submissão do Império Romano? Quais os motivos que levaram o Império Romano à tolerância? Hipóteses O judaísmo praticado em Israel no tempo de Jesus estava longe de ser um sistema religioso unificado. Durante os primeiros séculos, antes e depois do nascimento de Cristo, havia várias escolas ou partidos com conflitantes interpretações da Tora. Embora todos os partidos fossem estritamente monoteístas, escolas concorrentes de interpretação e as várias influências de outras culturas de fora de Israel somavam-se para ocasionar uma diversidade de práticas religiosas. Hipóteses Vamos agora abordar rapidamente algumas escolas ou partidos judaicos para uma melhor compreensão da hipótese antes levantada: Saduceus: os mais conservadores, estritamente identificados com a aristocracia de Jerusalém e com o sumo sacerdócio do Templo. Mantiveram sua influência através de vários regimes sucessivos e por último no tempo das autoridades romanas. Diferiam dos fariseus por não aceitarem a tradição oral. Não acreditavam na ressurreição e espíritos angélicos. Fariseus: tinham grande representação entre a classe media dos artesãos e dos escribas no seio da sociedade judaica. Acreditavam na ressurreição e numa vida futura. Precursores do judaísmo rabínico. A palavra FARISEU tem o significado de “separados”, a verdadeira comunidade de Israel “santos”. Essênios: Acreditavam que a conversão era exigida de todos os que quisessem entrar na nova aliança, e a comunidade administrava um ritual regular de banhos para purificação dos pecados. Ao passo que muitos moravam em cidades e aldeias em pequenos grupos ou comunidades também em Jerusalém, outros se retiravam para o deserto para viver isolados ou em comunidades separadas. Alguns formavam comunidades monásticas e seguiam disciplina ascética aguardando a intervenção escatológica de Deus na vida de Israel, que seguramente viria, conforme sua crença, para restabelecer o sacerdócio do templo. Zelotes: esse movimento representa o nacionalismo judeu em sua forma mais ativa e violenta. Constituem um grupo mais político que religioso, professavam uma fé análoga a dos fariseus. Judeus da diáspora : moravam nas cidades dos mundos persa e greco-romano. Descentes dos judeus removidos a força, em cativeiro pelos assírios e babilônios, mas que não voltaram a Jerusalém ou a Israel após o edito persa que concedeu tal permissão no século VI a.C. No tempo de Jesus os judeus que viviam no mundo persa, principalmente na Babilônia ou seus arredores, pode ter chegado a um milhão. Hipóteses As comunidades judaicas (ligadas a alta hierarquia) ansiavam pela liberdade política, esperavam especificamente o messias que sentaria no trono do Rei Davi. A história primitiva do cristianismo é a história de reformulações e reapropriações contínuas dessa antiga fé na aliança, dentro de novos variados contextos políticos culturais. A história então se desdobra na interação entre a aliança nacional de Israel e uma série de horizontes internacionais que se ampliam. Em meio a diversidade Jesus fala de igualdade, e anuncia o Reino de Deus que inicia NELE, na forma como vive e se relaciona com o outro. Os judeus que seguem Jesus são os judeus que de alguma maneira foram excluídos ou não concordam com as práticas de suas comunidades. Este mapa inclui algumas das localizações geográficas dentro da antiga região Galiléia, em Israel. De acordo com Josephus, naturalmente Galiléia foi dividido em duas regiões divididas por uma ladeira muito íngreme 2000 pés. http://www.bible-history.com/maps/ Este mapa inclui algumas das localizações geográficas dentro da antiga região Galiléia, em Israel. Baixa Galiléia continha muitas colinas cerca de 2000 metros acima do nível do mar, não tão grande como o norte da Galiléia região. Ele vem para baixo como uma espécie de escada de grandes para pequenos morros. O vale formado um caminho fácil para o Mar da Galiléia, especialmente ao norte do Mar Cafarnaum onde foi localizado. http://www.bible-history.com/maps/ Hipóteses A perseguição aos grupos judeu-cristãos em Jerusalém leva-os à dispersão para outras cidades além de Israel. Pedro entende que a aliança entre gentios e romanos, pode ser positiva a nível de crescimento para o movimento cristão. O concílio de Jerusalém oferece aberturas necessárias para a convivência harmônica junto a diferentes culturas. Hipóteses Era impossível para os prosélitos do judaísmo aceitar a junção de judeus e gentios, de desconsiderar questões tão importantes como: a circuncisão e as práticas alimentares, afirmar que Jesus era divino sem violar o dogma básico do monoteísmo. A oposição de outros judeus só podia piorar a situação dos cristãos em Roma como uma religião fora da Lei . Em 95 d.C a alta hierarquia judaica visita o imperador em Roma para consolidar relações entre Roma e os Judeus. Em vista do projeto de reconstruir o judaísmo após o fato da destruição do templo. No final do século I é dado fim a união religiosa de judeus e cristãos. Muitos cultos nas sinagogas expulsavam os cristãos. Os cristãos mediante a tais atitudes, intitulam-se verdadeiros herdeiros espirituais das promessas feitas nas Escritura de Israel. Os judeus que eram os herdeiros das promessas físicas , foram deserdados. Já que Cristo cumprira a Lei, somente os que seguiam a Cristo podiam reivindicar como próprio a tradição mosaica. Hipóteses A separação de judeus e judeu cristão ocorre dentro de um período de crise no Império Romano. A utilização de um povo sem pátria como bodes expiatórios dos problemas de Roma foi a saída encontrada pelo imperador Nero. O agressivo proselitismo cristão e suas duras críticas aos deuses politeístas, tornou-os presumíveis incendiários. A religião cristã passa ser considerada ilícita em Roma e perniciosa. Houve muitos martírios, ainda que, em muitos lugares as ordens vindas de cima tInham sido amortecidas pelo enfraquecimento das posições pagãs ou pela coabitação fraternal entre pagãos e cristãos. O império romano reencontra paz através do governo de Constantino, que em batalha tem a visão das inicias do nome de Jesus Cristo (xi-ro). Constantino vence a batalha contra seu rival imperial e torna-se soberano único da região ocidental do império. Constantino uniu suas forças com as de Licínio, imperador do Oriente, para formar uma aliança que não haveria de durar mais que uma década. Juntos eles lançaram em 313 uma proclamação conhecida como o edito de Milão, garantindo a liberdade de prática religiosa nas terras sobre o domínio do império romano. O edito ainda restituía aos cristãos suas propriedades e lugares de culto confiscados, oferecendo compensação pelas que tinham sido vendidas. A transição do estado de fé ilegal para religião nacional estava a caminho. A comunidade cristã estava interessada em conseguir estabilidade social, política e religiosa dentro do Império Romano. Tolerar o cristianismo no século IV d.C, significava obter o apoio da maioria no império. Historiografia “ Com a garantia de uma estrutura política estável, o potencial judaico era enorme. Os judeus não eram capazes de proporcionar estabilidade por si mesmos e os romanos tampouco o acharam fácil, sobretudo porque não conseguiam definir o status constitucional de sua aquisição, um problema recorrente no império. Perante um povo subjugado mas obstinado, com uma sólida tradição cultural própria, sempre hesitavam em impor o governo direto, exceto in extremis – preferindo, pelo contrário, trabalhar com um “homem forte”, ligado pessoalmente a Roma e capaz de lidar com seus súditos em seus próprios costumes e leis vernáculos; tal homem seria recompensado (e contido) se bem-sucedido e substituído em caso de fracasso. Assim, a Judéia foi colocada sob a nova província da Síria, regida por um governador em Antióquia, e a autoridade local foi confiada aos etnarcas, reconhecidos como “rei”, caso se mostrassem duradouros e impiedosos o bastante. Dentro da província da Síria, Herodes, que conquistou o trono da Judéia em 43 a.C., foi confirmado como “Rei dos Judeus” quatro anos depois, recebendo a aprovação e proteção de Roma. Herodes era o tipo de homem que os romanos preferiam lidar, a ponto de terem aceitado e endossado suas disposições para dividir o reino, após sua morte, entre três filhos – Arquelau, que ficou com a Judéia, Herodes Filipe e Herodes Antípas. A divisão não foi totalmente bem sucedida, visto que, em 6 d.C., a Judéia teve de ser colocada sob custódia direta de Roma, sob uma sucessão de procuradores, até que, nos anos 60, o sistema como um todo explodiu em uma desastrosa revolta e sangrenta retaliação. O ciclo repetiu-se no século seguinte, até que Roma, exasperada, reduziu Jerusalém a cinzas e a reconstruiu como uma cidade pagã. Os romanos jamais solucionariam o problema palestino”. Johnson, Paul ;História do Cristianismo: 19, Imago, RJ, 2001. Historiografia “Os Judeus, pois, eram unânimes em considerar a história um reflexo da atividade divina. O passado não era uma série de acontecimentos acidentais, mas desenrolava- se de forma implacável, de acordo com um plano divino que era ao mesmo tempo, um projeto e um código de instruções para o futuro. Porém o projeto era nebuloso; o código permanecia indecifrado ou, em outros termos, havia sentido antagônicos e em constante mutação para interpretá-lo. E uma vez que os judeus não conseguiam chegar a um acordo quanto a como compreender seu passado ou preparar-se para o futuro, tendiam a dividir-se, da mesma maneira, quanto ao que fazer no presente. A opinião pública judaica era uma força potente, conquanto de excepcional grau de volatilidade e fragmentação. A política judia era a política da divisão e da facção. Após a revolta dos macabeus, os judeus tiveram reis que eram também sumo sacerdotes, reconhecidos por um império romano em expansão, mas contendas referentes a interpretações das escrituras provocaram disputas inconciliáveis quanto a políticas, sucessões, reivindicações e heranças. Havia uma forte tendência, no seio do sacerdócio e sociedade judaicos, a considerar Roma o menor dos vários males, e foi essa facção que incentivou a intervenção de Pompeu em 65 a.C”. Johnson, Paul ;História do Cristianismo: 19, Imago, RJ, 2001. Historiografia No reinado de Herodes, o Grande, o relacionamento entre Roma e os judeus foi fértil. Já havia uma gigantesca diáspora judaica, principalmente nas grandes cidades do leste do Mediterrâneo – Alexandria, Antióquia, Tarso, Éfeso e assim por diante. A própria Roma tinha uma grande e rica colônia judia. Na época de Herodes, a diáspora expandiu-se e prosperou. O império proporcionou aos judeus igualdade de oportunidades econômicas e liberdade de movimento para bens e pessoas. Constituíram ricas comunidades onde quer que os romanos tivessem imposto a estabilidade. E, em Herodes, tinham um patrono munificente e poderoso. Para muitos judeus ele era suspeito, e alguns recusavam-se a sequer reconhecê-lo como judeu – não por conta de sua vida privada voluptuosa e de violência excepcional, mas em virtude de seus vínculos helênicos. Entretanto, Herodes era inquestionavelmente generoso com o judeus. Em Jerusalém, reconstruiu o Templo com o dobro das medidas de Salomão. Esse imenso e magnífico empreendimento ainda estava incompleto quando da morte de Herodes, em 4 a.C., e foi concluído durante a vida de Jesus. Em todas as grandes cidades, proporcionava-lhes centros comunitários, além de fornecer os meios e construir inúmeras sinagogas – o novo tipo de instituição eclesiástica, protótipo da basílica cristã - , onde os serviços eram oferecidos para os dispersos. Nas grandes cidades romanas, as comunidades judaicas causavam uma impressão de riqueza, poder crescente, autoconfiança e sucesso. Dentro do sistema romano, eram excepcionalmente privilegiados. Muitos dos judeus da diáspora já eram cidadãos romanos e todos, desde a época de Júlio Cesar, que nutria por eles grande admiração, desfrutavam direitos de associação. Isso significa que podiam reunir-se para realizar serviços religiosos, jantares e banquetes para a comunidade, bem como para todo tipo de fim social e beneficente. Os romanos reconheciam a força dos sentimentos religiosos judeus, com efeito, isentado-os da observância da religião estatal. Em lugar de adoração ao imperador, os judeus tinham permissão para mostrar seu respeito pelo Estado, por meio de oferta de sacrifícios em nome do imperador. Johnson, Paul ;História do Cristianismo: 20, Imago, RJ, 2001. Historiografia “A Galiléia estava sujeita a diferentes governos imperiais, mas nunca foi administrada diretamente por eles. Por isso as aldeias galiléias puderam se desenvolver como entidades administrativas semi-autônomas. A sinagoga era o centro da vida social da aldeia. Normalmente se considera a sinagoga como um edifício para o culto, uma espécie de igreja.Na verdade não existe evidências disso até o século III e.c (Kee,1990). A sinagoga era então a assembléia da comunidade, onde eram tratados todos os temas relevantes para a vida da comunidade aldeã. É claro que uma das dimensões centrais para a vida da comunidade era religiosa, mas nunca separada das questões políticas e econômicas, como talvez estejamos acostumados a pensar hoje. A assembléia reunia-se duas vezes por semana: nas segundas e nas quintas-feiras. Só em seguida o sábado virou o dia da sunagwgh,, da reunião. Era o momento do “mercado”, da discussão política, da celebração cúltica, de casamentos e de vários ritos de iniciação. Tudo acontecia segundo os antigos costumes dos pais, transmitidos por séculos, e que sempre garantem a estabilidade de uma comunidade rural. Um sistema de organização social tradicional e, ao mesmo tempo quase “democrático”. Chevitarese, André Leonardo e Coroinelli, Gabriele;Judaísmo, Cristianismo e Helenismo, Ensaios Acerca DAS Interações culturais no Mediterrâneo Antigo: 63, Anablume,SP,2007. Historiografia “Uma hipótese comumente usada, para explicar o mundo da Galiléia é a do regionalismo (Horsley,1995:239). Essa hipótese distingue a alta Galiléia, onde a cultura regional era bastante conservadora, da baixa Galiléia, onde os grandes centros urbanos helenístico-romanos criaram uma atmosfera cosmopolita. O limite desta aproximação é o de não considerar adequadamente tanto o desenvolvimento histórico particular da região (os oitos séculos de autonomia de Jerusalém e todo o resto), como as diferenças entre campo e cidade. Vamos resumir as informações que coletamos até agora para tentar explicar a especificidade cultural da Galiléia. Primeiro: a Galiléia é o que os historiadores chamam de Zona de fronteira. As diferentes culturas com as quais a Galiléia entra em contato são muitas. Não é possível deixar de imaginar um processo quase osmótico de trocas culturais. Segundo: uma grande mistura de populações e etnias é a conseqüência lógica da primeira observação e dos acontecimentos históricos acima relatados. Galiléia: o circo dos povos. Se – como vimos – durante o regime asmoneu alguns judeus foram morar na Galiléia, não há dúvida de que a maioria da população é não-judia. E uma boa parte devia ser também nãoisraelita. Terceiro: a força da tradição e dos costumes locais. Essa resistência foi favorecida pelas formas de dominação “de longe” dos vários impérios sobre o território (sem uma aristocracia local diretamente envolvida, feita exceção talvez para os cem anos de dominação de Jerusalém como vimos). Esta forma de dominação deixou com bastante autonomia as comunidades (nos assuntos locais, obviamente) e isso consolidou as tradições socioculturais das aldeias da Galiléia. Temos uma confirmação indireta disso nos escritos rabínicos originários, onde os galileus são considerados ignorantes a respeito das oferendas a serem entregues para o sacerdote, usam medidas diferentes da Judéia, costume matrimoniais (e relação de gênero?) e tradições diferentes para a observância do sábado e das festas, como a Páscoa. Mas é exatamente aqui que com toda probabilidade encontramos Jesus de Nazaré. Em suas biografias e em sua mensagem é possível reconhecer esta diversidade. A pergunta inicial – Jesus era judeu? – assume a esta altura os traços de uma adversidade que desenhamos até aqui no chão da Galiléia. Os Evangelhos Sinóticos estão repletos de referência a dívidas, fome,doenças, e, ao mesmo tempo de partilha de comida, curas e resistência. É a partir destas prioridades socio-existenciais que se define a religião do galileu Jesus: judaica sim, mas até certo ponto e em toda sua diversidade. Uma forma religiosa de resistência muito comum para o modelo sócio cultural em que se reconhecem as aldeias da Galiléia é da magia. A magia é talvez a forma de resistência mais radical e profunda no âmbito religioso, e, ao mesmo tempo, a mais pacífica e cotidiana possível. Ela é muito difícil de ser controlada pelas instituições religiosas oficiais. E ao mesmo tempo, em situação normal, não se põe abertamente em contraste com a religião oficial. Aliás, usa muitas vezes das mesmas tradições, das mesmas fórmulas, mas ao mesmo tempo dispensando os canais oficiais, as medições deputadas, para chegar a Deus. Esta última observação vale, sobretudo, para a magia popular, ligada a prática dos magos e curandeiros populares. Enfim, a tentativa destas páginas foi a de deslocar o olhar das expressões oficiais da religião numa pretensa “Galiléia judaica” para a vida cultural e religiosa do campesinato galileu ao encontro de sua diversidade. Uma diversidade construída paulatinamente ao longo de sua história de diversas dominações e de várias formas de resistência. Entre elas, a mais famosa e relevante para a história sucessiva, aquela representada pelo movimento de um galileu do século I e.c.: Jesus de Nazaré”. Chevitarese, André Leonardo e Coroinelli, Gabriele;Judaísmo, Cristianismo e Helenismo, Ensaios Acerca DAS Interações culturais no Mediterrâneo Antigo: 69, Anablume,SP,2007. Historiografia “Interrogado pelos fariseus sobre quando chegaria o Reino de Deus, respondeu-lhes: “A vinda do Reino de Deus não é observável. Não se pode dizer: “Ei-lo aqui!, Ei-lo ali!”, pois eis que o Reino de Deus está no meio de vós”. Lucas17:21 “Mas é pelo Espírito de Deus que eu expulso os demônios, então o Reino de Deus já chegou a vós”. Mateus 12:21 “Paulo ficou dois anos inteiros na moradia que havia alugado. Recebia todos aqueles que vinham visitá-lo, proclamando o Reino de Deus e ensinando no que se refere ao senhor Jesus Cristo com toda intrepidez e sem impedimento”. Atos dos Apóstolos 28:30,31 Historiografia “Quando a primeira geração de evangelizadores cristãos viajava para novas cidades, os primeiros lugares que costumavam visitar eram as sinagogas locais, onde procuravam divulgar sua mensagem. Recebidos, porém, com hostilidade ou indiferença, logo saiam das sinagogas para casas de famílias. Uma leitura atenta a Novo Testamento mostra que a sinagoga não era o lugar primordial para as atividades missionárias cristãs, embora com freqüência fosse o lugar onde era feito o contato com outros judeus. Os evangelizadores cristãos encontravam as pessoas nas ruas, no mercado, nas oficinas e nos edifícios públicos. A principal forma de comunicação nas cidades antigas era a palavra oral. A mensagem cristã espalhou-se pela divulgação de notícias e conversas entre o povo, pelas visitas de curiosos que se detinham à entrada das portas para ver o que se passava nas casas, pelos convites a membros das famílias e vizinhos para ouvirem um pregador e pela narração de histórias de alguma pessoa curada por um apóstolo itinerante. Uma parte da atração exercida pela mensagem cristã estava na sua mensagem inclusiva. Os cristãos falavam de Jesus como uma pessoa universal que trazia esperança de superação das divisões do mundo circunstante. No mundo mediterrâneo havia grande mobilidade social. As cidades tinham se tornado bastante heterogêneas na sua composição cultural. Todavia essa mobilidade causava em muitos um sentimento de deslocamento cultural. Muitos dos primeiros convertidos eram gentios que foram tementes a Deus e freqüentavam a sinagoga. Pelo que sabemos de várias fontes a atração que sentiam no judaísmo era precisamente a esperança num Deus único e universal, que dominava o mundo inteiro. O ingresso na comunidade cristã permitia-lhes viver sua fé monoteísta e suas implicações morais”. Irvin, Dale; História do Movimento Social Cristão: 53, Paulos, SP, 2004. Historiografia “ O fato de Paulo escrever a comunidade cristã de Corinto para fugirem da adoração a esses ídolos sugere que uma parte considerável dela era constituída de pessoas que antes adoravam nos outros templos da cidade (1Cor 10,14-22;12,2). Os chefes cristãos afirmavam que esses outros eram falsos deuses, ensinando uma doutrina exclusivista que não concordava com o consenso geral da vida religiosa greco-romana. Os outros podem ter defendido a superioridade de um deus particular sobre o outro, mas não contestavam a existência de fato desses outros deuses. Os cristãos, sim, dizendo que esses outros deuses eram espíritos inferiores ou até demônios, fazendo aquilo que um historiador chamou de “campanha de rebaixamento”. Em outro ambiente, a saber, nos círculos filosóficos da sociedade helenística, essa campanha já estava bem avançada no séc. I, mas era conduzida principalmente pela elite intelectual. Os cristãos levaram essa campanha às massas. Eles assumiram a crítica do judaísmo, segundo qual os outros deuses eram ídolos ou demônios, isto é, coisas que não eram divinas mas fazem parte da criação (1 Cor 10,19-20; Gl4,8). Os cristãos, porém, procuravam mais agressivamente que seus colegas judeus, trazer convertidos dessas outras religiões para o culto do único Deus de Israel. Os cristãos criticavam certos aspectos do judaísmo que separavam os judeus das outras pessoas, a saber, a circuncisão e os códigos de pureza referentes a partilha das refeições . A campanha que eles empreendiam era, pois, em duas frentes: os deuses dos mundos culturais romano, grego e semítico eram rebaixados e a identidade cultural exclusiva dos judeus era negada. Essa prática de dupla conversão suscitou o ressentimento e a hostilidade não apenas dos chefes judeus locais, mas também de outros, até das autoridades civis locais nas cidades onde o cristianismo começou a se espalhar. Os cristãos eram considerados ateus pelos seus opositores, porque negavam a divindade de todos os deuses com exceção do seu. Quando as autoridades civis entenderam que os cristãos não eram considerados pelos outros judeus como legítimos membros da família de Israel, recusaram aos cristãos a condição legal. Roma reconhecia a legitimidade das religiões dentro do império com base na sua origem nacional. Os cristãos, porém, eram um povo sem – pátria. A mudança na oposição foi decisiva para a autocompreensão dos cristãos no mundo político romano: os seguidores de Jesus Cristo passaram de meramente sectários a politicamente subversivos e contrários ao Estado quando a condição da sua identidade religiosa, antes considerada a de um partido perturbador dentro do judaísmo, passou a ser vista como uma religião separada e sem pátria”. Irvin, Dale; História do Movimento Social Cristão: 53, Paulos, SP, 2004. Historiografia “Nas primeiras décadas, a estrutura organizacional do movimento cristão em Roma permaneceu vagamente definida. Aos estrangeiros na cidade era permitido organizar collegia, que era conhecida pela lei romana, e seus membros podiam se reunir sem que fossem incomodados. Tais associações voluntárias eram formadas com base na identidade étnica, religiosa ou profissional. Muitas tinham o objetivo específico, como sociedade fúnebre que providenciava o sepultamento dos afiliados. Este parece ter sido o expediente que os cristãos utilizaram para conseguir permissão para se reunirem separados das sinagogas em Roma.” Irvin, Dale; História do Movimento Social Cristão: 110, Paulos, SP, 2004. Historiografi “Em torno de 95 d.C., o rabi Gamaliel II, chefe da academia judaica que fora formado em Yavneh (Jâmnia) em Israel, visitou o imperador em Roma para consolidar as relações entre Roma e os judeus. Nessa época os rabis se voltaram contra os seguidores dos nazarenos. Em vista do projeto de reconstruir o judaísmo após o fato da destruição do templo, a oposição dos rabis é compreensível. Como podia alguém pretender ser herdeiro das promessas de Israel, mas deixar de observar a Lei em questões tão fundamentais como a circuncisão e as práticas alimentares? Como os cristãos podiam afirmar que Jesus era divino sem violar o dogma básico do monoteísmo? Para os cristãos em Roma, essa oposição dos judeus só podia representar dificuldade maior. Eles já eram suspeitos aos olhos das autoridades civis. A oposição dos outros judeus só podia piorar a situação dos cristãos como uma religião fora da lei” O capítulo final da união religiosa entre judeus e cristãos no mundo mediterrâneo era escrito no fim do séc I. Logo muitos cultos nas sinagogas incluíram uma maldição contra o partido nazareno que significava a expulsão. Por seu turno, os cristãos intensificaram sua satanização do judaísmo e se arvoraram em únicos herdeiros legítimos da tradição da fé de Israel. Os cristãos agora eram os verdadeiros herdeiros espirituais das promessas feitas nas Escrituras de Israel. Os judeus, que eram os herdeiros das promessas fiscais, foram deserdados. “Já que Cristo cumprira a Lei, somente os que seguiam a Cristo podiam reivindicar como própria à tradição mosaica.” Irvin, Dale; História do Movimento Social Cristão: 110, Paulos, SP, 2004. Historiografia “O ponto de virada na relação entre as autoridades romanas e a religião cristã ocorre entre o final do ano 62 e início de 63. Roma não tem um motivo concreto para perseguir ou punir os cristãos, mas utiliza estes como bodes expiatórios, justificando seu poder. Exemplos claros desta afirmativa são descritos no governo de Nero que pune os cristãos, no incidente do incêndio em Roma, sendo contínua no governo de Domiciano (81-96). Na última década do século I, a religião cristã fez grandes progressos, ganhando adeptos até mesmo nos círculos vizinhos ao imperador; assim, por exemplo, M. Flávio Clemente e Flávia Domitila, primos irmãos de Domiciano. Na medida em que se espalha o cristianismo, é visto pelo imperador a necessidade de promover seu autoritarismo, de forma a golpear os cristãos, espoliando-os ou executando-os por ateísmo. As perseguições aos cristãos por demonstração de poder e força prosseguem nos governos de Trajano (98-117), onde fixa uma norma de conduta: os cristãos, com efeitos são ateus; desde que convictos, deve-se puní-los, mas não deve procurá-los e devem-se deixar de lado as denúncias anônimas: Todo inculpado que se arrepender deve ser liberto. Nos governos de Antoninos, Adriano (117-138), Antonio Pio (138-161) e Marco Aurélio (161-180), nada fariam para agravar a legislação anticristã. Mais hostis foram os Severos. Sétimo Severo (193-211), em 202 assina um reescrito visando ao mesmo tempo os judeus e os cristãos. Fica interdito não apenas fazer-se cristão, mas também “fazer” cristãos; a justiça não deve apenas esperar as denúncias e sim procurar os cristãos. É sobretudo no Egito e na África – onde o cristianismo progride rapidamente – que esse reescrito faz mais vítimas. O cruel Caracala (211-217), Heliogábalo (218-222), Severo Alexandre (222235), Décio de (249-251), Valeriano (253-260), através de dois editos, agrava a legislação romana, visando, sobretudo a cabeça do corpo cristão: Bispos, padres, diáconos. A igreja da África é dizimada. Sobrevêm oito anos de paz sob o reinado de Galiano (260-268), inimigo das desordens policiais. Aureliano (268-275) não tem tempo de impor ao império seu sincretismo. “Quando, depois de dez anos de anarquia, Diocleciano assume as rédeas do Império (284), o mundo conhece um mestre cujas profundas reformas permitiam a Roma uma última explosão de brilho. Mas à vontade imperial de unificação administrativa e religiosa, a impossibilidade para os cristãos de associar o culto de Jesus ao rito, o papel sempre mais importante desenvolvido pelo cristianismo na sociedade romana explicam a duração de (303-313) e a violência da última perseguição, a qual o nome de Diocleciano permaneceu definitivamente ligado. Houve muitos martírios, ainda que, em muitos lugares as ordens vindas de cima tenham sido amortecidas pelo enfraquecimento das posições pagãs ou pela coabitação fraternal entre pagãos e cristãos” Pierrard Pierre; História da Igreja : 29, Paulus, SP, 1982. Historiografia “Foi pelas mãos de Constantino, filho de Constâncio, que o império reencontrou a paz e a unidade. Em 28 de outubro de 312, vindo da Gália, Constantino esmagou e matou o filho de Maximiano, Maxêncio, sobre a ponte Mílvia, diante dos muros de Roma. Seis meses mais tarde, Lícínio, que Galério designara como augusto por ocasião da morte de Severo (307) batia Maximino Daia na Tárcia, levando-o ao suicídio. Já não havia mais que dois imperadores: Constantino em Roma (Oriente), Licínio em Nicomédia (Ocidente)”. Pierrard Pierre ;História da Igreja: 41, Paulus, SP, 1982. Historiografia “Em 313, da grande cidade imperial de Milão, Constantino e seu coimperador Licínio despacharam uma série de cartas cerimoniosas para os governadores das províncias. Os dois governantes achavam “salutar e altamente próprio” que uma “completa tolerância” fosse proporcionada pelo Estado a todos que tivessem “se convertido ou ao culto dos cristãos” ou a qualquer outro culto “que pessoalmente sentissem ser melhor para si”. Todos os decretos anticristãos anteriores fossem revogados; os locais cristãos de culto e as demais propriedades de que haviam sido destituídos teriam de ser devolvidos e deveria ser paga uma indenização, conforme apropriado em termos legais. A nova política deveria ser “publicada em toda parte e trazida ao conhecimento de todos os homens”. O assim chamado “Edito de Milão”, por meio do qual o Império Romano inverteu sua política de hostilidade para com o cristianismo e concedeu pleno reconhecimento legal, foi um dos acontecimentos, decisivos para historia mundial.” Johnson, Paul ;História do Cristianismo: 14, Imago, RJ, 2001. Conclusão Ao longo desta pesquisa , torna-se possível compreender a desfragmentação das comunidades judaicas e tamanha sua diversidade. Em meio a um povo diverso que busca afirmar uma unidade, encontra-se Jesus, que diferente dos demais profetas, por acreditar ser o Messias que este povo tanto espera. Mas não alguém que veio preparar o caminho, como João Batista ou lutar pela retomada de um reino político, como os reis de Israel Saul, Davi,Salomão, etc. E sim o filho de Deus, parte de Deus, que se fez homem, não para dar a humanidade aquilo que era esperado pelos homens, mas o que o Deus de Israel assim determinou (João 1,9:14) Este Messias vem para todos os homens, mas, é aceito em meio aos excluídos e miseráveis, e em meio a estes instaura o Reino de Deus (Mateus 12,28). Diferindo mais uma vez dos profetas que vem a sua frente, Jesus oferece o Espírito Santo, que é a continuidade de Deus habitando no interior do ser humano (I Corínt9 6:19). O Espírito Santo que Jesus oferece é a liberdade para o ser humano que O acolhe ser livre junto á Deus através de seu filho. Livre de toda lei, de toda opressão ou de qualquer coisa que possa subjugá-lo, livre para viver a vontade do PAI com o PAI. Penso que talvez seja essa a grande novidade do Cristianismo, uma liberdade que nada e ninguém pode tomar do homem. Jesus oferece a maior forma de resistência em meio as diversas formas de domínio. Segundo o Livro dos Atos dos Apóstolos é esta força que os impulsiona à caminhada da comunidade primitiva de levar o Evangelho ao mundo (Atos:1,6:8). Jesus leva o conhecimento a massa que unida, e acreditando em uma força que os torna livres e fortes vence a tradição judaica e torna-se a salvação para um Império que se encontra decadente. A última problemática que levanto é: Estas comunidades ao serem toleradas e mais adiante aceitas pelo Império Romano, muda ou persiste em sua missão? Referências Bibliográficas JOHNSON, Paul. História do Cristianismo. RJ: Imago, RJ, 2001. PIERRARD, Pierre. História da Igreja. SP: Paulus, 1982. SILVA, Gilvan da e MENDES, Norma. Repensando o Império Romano, Perspectiva Socioeconômica, Política e Cultural. RJ: Mauad, 2006. CAZELLES, Henri. História Política de Israel. SP: Paulus,1986. CHEVITARESE, André Leonardo e CORNELLI, Gabriele. Judaísmo, Cristianismo e Helenismo, Ensaios Acerca das Interações Culturais no Mediterrâneo Antigo. SP: Anablume,2007. ______________Jesus de Nazaré. SP: Anablume,2006. IRVIN, T Darwin e SUNQUIST, W Scott. História do Movimento Cristão Mundial - do Cristianismo Primitivo a 1453. SP: Paulus, 2004. Da Silva, Gilvan e Mendes, Norma, Repensando o Império Romano, Perspectiva