PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DOS PACIENTES

Anais do IX Seminário de Iniciação Científica, VI Jornada de Pesquisa e Pós-Graduação
e Semana Nacional de Ciência e Tecnologia
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS
19 a 21 de outubro de 2011
PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DOS PACIENTES TRATADOS NA CLÍNICA
ESCOLA DE FISIOTERAPIA DA UEG
Jefferson Ferreira Felix (UEG)1
Leonardo Alves Rezende (UEG)¹
Valéria Christina Ferreira (UEG)¹
Cibelle Kayenne Martins Roberto Formiga (UEG)²
[email protected]
INTRODUÇÃO
Epidemiologia é o estudo da distribuição e dos determinantes dos estados ou
acontecimentos relacionados à saúde em determinadas populações e tem os objetivos de
promover, proteger e restaurar a saúde. A busca de dados epidemiológicos também auxilia do
desenvolvimento de campanhas de prevenção na saúde pública (PIRES et al 2008).
A Clínica Escola do curso de Fisioterapia da UEG, localizada na Unidade
ESEFFEGO em Goiânia, foi fundada em dezembro de 1998 e tem como objetivo oferecer à
população atendimento em caráter ambulatorial e gratuito, previamente agendado. A
prioridade
dos
atendimentos
é
para
pessoas
de
baixa renda e que sejam encaminhadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
O atendimento é feito pelos acadêmicos dos últimos períodos do curso de Fisioterapia da
própria instituição, supervisionados por professores da universidade.
Em 2010 passaram pela clínica 315 pacientes para realizarem o tratamento
fisioterapêutico. Os tratamentos realizados se concentram mais em duas áreas de atuação da
Fisioterapia: neurofuncional e musculoesquelética.
OBJETIVO
O presente estudo tem como objetivo descrever o perfil epidemiológico dos pacientes
atendidos na Clínica Escola de Fisioterapia da ESEFFEGO/UEG.
MATERIAIS E MÉTODOS
O estudo é de caráter quantitativo descritivo, que visa traçar o perfil epidemiológico
das doenças, idade, sexo predominante e o número total de pacientes atendidos pela Clínica
Escola de Fisioterapia da ESEFFEGO.
Participaram do estudo 129 pacientes, de 1 a 84 anos de idade, de ambos os sexos,
que faziam tratamento na clínica durante o mês de abril de 2011. O presente estudo foi
previsto de acordo com as Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisas Envolvendo
Seres Humanos (Resolução 196/1996, do Conselho Nacional de Saúde).
O procedimento de coleta dos dados de cada paciente foi realizado através de um
questionário elaborado pelos integrantes do Programa de Educação Tutorial de Fisioterapia da
UEG (PET-Fisio). Nele, constavam 46 questões sobre o perfil epidemiológico, qualidade de
vida e opinião dos pacientes sobre o ambiente físico da clínica. O questionário foi aplicado ao
paciente enquanto este aguardava o horário da sua consulta ou após a sessão de fisioterapia.
1
Bolsista do Programa de Educação Tutorial (PET) MEC/SESu, graduando no curso de Fisioterapia.
² Tutora do grupo PET-Fisio UEG, Orientadora, docente do Curso de Fisioterapia.
Quando estes eram menores de idade ou incapazes de responder por si próprio, o questionário
era respondido por seu responsável na presença do paciente.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
No período de todo o mês de abril de 2011 foram entrevistados 129 pacientes.
Destes, 45 pacientes são do sexo masculino e 83 do sexo feminino. A média total de idade foi
de 47,05 anos. Com relação aos diagnósticos dos pacientes, 45 pacientes são da área
neurofuncional (34,8%), 94 pacientes são da área musculoesquelética (72,8%). Sendo que
alguns pacientes frequentam mais de uma área de atendimento fisioterapêutico.
Dos diagnósticos da área neurofuncional, os mais encontrados foram: acidente
vascular cerebral (AVC) em 19 pacientes (14,7%), sendo 10 do sexo masculino, com idade
média de 61,1 anos e 9 do sexo feminino, com idade média de 56,5 anos; paralisia cerebral
com 4 pacientes (3%), destes 2 eram do sexo masculino, com idade média de 29,5 anos e 2 do
sexo feminino, com 15 anos de idade. Outros 19 pacientes (14,7%) apresentaram outras
doenças neurológicas, tais como: glioma de tronco, traumatismo crânio encefálico, lesão
nervosa por comprometimento cerebral, mal de Parkinson e epilepsia. Dos pacientes de
neurologia apenas 3 (2,3%) não souberam responder qual era a patologia em tratamento.
Destes, dois eram do sexo feminino e um do sexo masculino, com idade média de 56 anos.
Os resultados do perfil dos pacientes confirmam os dados epidemiológicos da
literatura. Segundo Fernandes et al (2007), o acidente vascular cerebral (AVC) é uma das
principais causas de incapacidade entre os idosos, porém nos últimos anos houve um aumento
de incidência entre indivíduos mais jovens. Segundo o Ministério da Saúde o AVC é a
principal causa de mortes no Brasil entre os óbitos por doenças cerebrovasculares, com
70.232 óbitos registrados em 2008. A hipertensão arterial é um dos principais fatores sobre a
ocorrência de acidente vascular cerebral. O alto índice de pacientes vítimas de AVC tratados
na clínica escola pode ser devido à alta incidência desse acometimento na população mundial
e ao alto índice de hipertensos na população da capital goiana, porém é necessário considerar
outras variáveis ambientais e biológicas.
Segundo Fernandes et al (2007), a real incidência de paralisia cerebral (PC) é muito
questionada principalmente considerando-se que as condições de assistência pré e perinatal
ainda são insatisfatórias em muitas regiões do país. Legido e Katsetos (2003) afirmam que
para evitar um aumento da taxa de PC deve-se diminuir drasticamente o risco dessa patologia
em bebês nascidos pré-termo de muito baixo peso. Segundo Leite e Prado (2004), no Brasil
não há estudos conclusivos a respeito e a incidência depende do critério de diagnóstico de
cada estudo, sendo assim, presume-se uma incidência elevada devido aos poucos cuidados
com as gestantes. Entre as patologias tratadas na área de neurofuncional da clinica escola, a
paralisia cerebral foi a segunda patologia mais comum entre os pacientes, acometendo 3% do
total de todos os pacientes entrevistados na clínica, um número não tão expressivo, porém
deve-se levar em consideração que a clínica escola não tem a hidroterapia, que é um dos
tratamentos mais procurados para pacientes com PC.
Dos diagnósticos da área musculoesquelética, a hérnia de disco foi a patologia que
obteve maior frequência em 9 pacientes (7,2%), sendo predominante no sexo feminino, com
idade média de 49,7 anos. As fraturas e lesões em alguma região do corpo estiveram presentes
em 6,2% dos pacientes entrevistados, correspondendo, portanto, a 8 pacientes cada patologia.
A bursite esteve presente em 7 pacientes (5,4%), sendo que 2 são do sexo masculino, com
idade média de 54,5 anos e 5 pacientes dos sexo feminino, com idade média de 50,2 anos.
Algum tipo de tendinite acometeu 6 pacientes (4%), sendo as mesmas do sexo feminino, com
2
idade média de 48,6 anos. A escoliose representou 6,2% do total dos pacientes sendo o sexo
feminino o mais afetado (5 pacientes), com idade média de 42,4 anos. No sexo masculino, a
patologia está presente em 3 pacientes (2,3%) com idade média de 27 anos de idade. Algum
tipo de problema no joelho foi encontrado em 4 pacientes (3,1%), destes 1 paciente é do sexo
masculino, com idade de 50 anos e 3 são do sexo feminino, com idade média de 50 anos.
Outros treze pacientes, (10%), apresentaram outras doenças ortopédicas tais como, síndrome
do impacto e epicondilite.
Ainda dentro da área musculoesquelética, 26 pacientes (20% do total dos 129
entrevistados) têm alguma doença reumática. A mais frequente foi artrose. Essa patologia
apareceu em 10 pacientes (7%), com predominância no sexo feminino com idade média de 56
anos. A artrite reumatóide acomete cerca de 3% dos pacientes, também com predominância
no sexo feminino (5 pacientes), com idade média de 53 anos. A lombalgia foi encontrada em
1 paciente (0,7%), sendo essa do sexo feminino, com idade de 64 anos. A fibromialgia foi
encontrada em 2 pacientes (1,55%), predominando no sexo feminino novamente. A
osteoporose foi relatada por 3 pacientes do sexo feminino representando cerca de 2,32% do
total dos entrevistados. 1 paciente do sexo masculino (0,77%) relatou ter gota, ele tem idade
de 62 anos. A espondilartrose aparece em 2 pacientes (1,5%), sendo elas do sexo feminino
com idade média de 49 anos. Outros 4 pacientes entrevistados (3,10% do total) são atendidos
na área de queimaduras, sendo que 3 pacientes são do sexo masculino, com idade média de 35
anos e uma paciente do sexo feminino, com 10 anos de idade.
Segundo a Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia e a Sociedade
Brasileira de Neurocirurgia (2010), a hérnia de disco ocorre tanto no sexo feminino quanto no
masculino, sem diferenças entre os sexos. As Sociedades apontam que a patologia acomete
principalmente indivíduos com mais de 35 anos de idade. Os resultados aqui presentes não
confirmam o que disseram os representantes dessas Sociedades. De acordo com a nossa coleta
de dados, a hérnia de disco foi encontrada somente no sexo feminino, sendo a média de idade
dessas pacientes de 49,7 anos, muito além da citada pelos autores.
Carneiro et al (2005) estudando sobre a predominância de desvios posturais em
estudantes do curso superior de educação física de uma determinada universidade do estado
da Bahia, observou três tipos de desvios mais comuns: hipercifose, escoliose e hiperlordose.
No seu estudo, a escoliose foi o desvio postural mais observado, representando 69,6% dos
casos. Por se tratar de um estudo que abrangeu estudantes universitários, esse resultado
encontrado por Carneiro et al (2005) pode explicar o valor tão baixo da idade média (27 anos)
entre os pacientes do sexo masculino que possuem escoliose na Clínica Escola.
A partir da análise dos dados do atual estudo, observou-se que as fraturas, juntamente
com as lesões são os problemas da área musculoesquelética mais apontados pelos pacientes
entrevistados. Segundo Silveira e Duarte (2007), o aumento dos casos de fraturas é
consequência da evolução tecnológica, visto que, existem, por exemplo, mais veículos
circulando pelas ruas o que aumenta a probabilidade de casos de acidentes, como
atropelamentos, colisões, etc.
Das doenças reumatológicas, a artrose foi a patologia mais apresentada nos pacientes
que realizam fisioterapia na área. Os dados da pesquisa confirmaram o que Carvalho (2010)
diz em relação à epidemiologia da doença. Segundo ele, a artrose é mais comum no sexo
masculino do que no sexo feminino até aos 45 anos de idade, mas depois se torna mais
frequente na mulher. Os resultados apontaram uma prevalência da doença muito maior entre
as mulheres que tiveram idade média de 56 anos do que nos homens, com idade média de 66
anos. Ainda segundo o autor, é uma doença que não é muito comum em indivíduos com idade
abaixo dos 40 anos, sendo a frequência semelhante em ambos os gêneros
3
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao analisar os dados do perfil dos pacientes, ficou claro que a área
musculoesquelética é o serviço mais procurado pelos pacientes que frenquentam a Clínica
Escola de Fisioterapia. Dos 129 entrevistados, 94 pacientes têm algum trauma ortopédico
(72,8%). Em segundo lugar aparece a área neurofuncional, com 44 pacientes (34%).
O estudo desses dados comprova a importância de se analisar o perfil epidemiológico
dos pacientes que se tratam nas diferentes instituições de saúde pública do Brasil, pois
auxiliam os fisioterapeutas a buscar novas alternativas de tratamento e prevenção nas
patologias mais acometidas nos pacientes que procuram atendimento.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde lança consulta pública para o aprimoramento da
assistência
a
pacientes
com
AVC.
Disponível
em
<http://portal.saude.gov.br/portal/aplicacoes/noticias/default.cfm?pg=dspDetalheNoticia&id_
area=124&CO_NOTICIA=11825> acesso em 13 de set. de 2011.
BRASIL. Universidade Estadual de Goiás. Atendimento gratuito de fisioterapia é destaque
na Eseffego. <http://www.ueg.br/materia/atendimento-gratuito-de-fisioterapia-e-destaque-naeseffego/2910> acesso em 16 de set. 2011.
CARNEIRO, J. A. O., et al. Predominância de Desvios Posturais em Estudantes de
Educação Física da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Rev. Saúde. Com.
Vol.1, n.2, 118-123, 2005. Disponível em: <http://www.uesb.br/revista/rsc/v1/v1n2a5.pdf>.
Acesso em: 10 set. 2011.
CARVALHO, F. M. P. Tratamento da Gonartrose numa abordagem cirúrgica.
Dissertação (Mestrado Integrado em Medicina) Universidade da Beira Interior, 2010.
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LEGIDO, A.; KATSETOS C. D. Parálisis cerebral: nuevos conceptos etiopatogénicos.
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PIRES, A. S.; SILVA, D. C.; MONTEIRO, F. F. S.; LICURCI, M. G. B. Análise
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do Vale do Paraíba. Encontro Latino Americano de Iniciação Científica. Universidade do
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Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia e Sociedade Brasileira de Neurocirurgia.
Hérnia de Disco Lombar no Adulto: Tratamento Cirúrgico. Diretrizes Clínicas na Saúde
Suplementar. Brasil, 2010.
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Medicina e Reabilitação - PRÍNCIPIOS E PRÁTICA. São Paulo: Artes Médicas, 2007; p.
15-34 e 171-188.
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