[MEIOS] Por que a imprensa grande não noticia o que atinge

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[MEIOS] Por que a imprensa grande não noticia o que atinge a
maioria da população?
Para Beatriz Barbosa, do Intervozes, a formação tecnicista do jornalista e a informação concebida como
mercadoria são duas das origens da cobertura desqualificada da imprensa grande sobre políticas públicas. Ainda
para Beatriz, a pergunta “de onde vem o jornalista?” pode responder uma das origens da ausência de cobertura
de políticas públicas na grande mídia. Grande parte dos que ingressam nos cursos de jornalismo são filhos de
classe média ou alta, assim, “as grandes mazelas sociais não fazem parte do cotidiano desses futuros jornalistas”
A mídia geralmente tem preferência por divulgar notícias dramáticas, números sensacionais e “furos
jornalísticos”. Os temas sociais são recorrentes, mas a abordagem não gira em torno de políticas públicas. É esse
o diagnóstico feito pela jornalista Beatriz Barbosa em palestra sobre o desafio de aumentar a pauta de políticas
públicas na grande imprensa, no último dia 5 de maio, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Ela ressaltou ainda que a política pública até pode ser uma pauta, mas não como um processo. Geralmente a
cobertura é desqualificada de modo apenas a reafirmar políticas públicas ruins.
Um desvio de verba de determinado programa social geralmente é notícia, mas não são notícias, por exemplo, as
conferências nacionais em diversas áreas como saúde e educação. Essas conferências, que só na área de saúde
já foram realizadas mais de uma dezena, se configuram, de acordo com Beatriz, como uma etapa da política
pública desconsiderada pelos grandes veículos de comunicação.
“A Conferência Nacional de Juventude recentemente reuniu dois mil jovens em Brasília, e nem uma linha foi
escrita na grande imprensa sobre o assunto”, exemplifica.
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A palestrante foi uma das convidadas da disciplina e curso de extensão de Jornalismo de Políticas Públicas
Sociais, uma parceria entre o Núcleo de Estudos Transdisciplinares de Comunicação e Consciência (Netccon), da
Escola de Comunicação da UFRJ, e a Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi).
Beatriz Barbosa é jornalista e especialista em direitos humanos, além de coordenadora do Intervozes – Coletivo
Brasil de Comunicação Social, um dos principais movimentos que lutam no Brasil pela democratização da
comunicação.
Origem elitista dos jornalistas é uma das raízes do problema
Para Beatriz, a pergunta “de onde vem o jornalista?” pode responder uma das origens da ausência de cobertura
de políticas públicas na grande mídia. Grande parte dos que ingressam nos cursos de jornalismo são filhos de
classe média ou alta, assim, “as grandes mazelas sociais não fazem parte do cotidiano desses futuros
jornalistas”.
Outra origem da questão destacada pela jornalista é a formação do comunicador: mais técnica do que humanista
e com foco no mercado. Essa formação também não possui, de acordo com ela, uma oferta de conhecimentos
mínimos sobre o tema políticas públicas.
Em um segundo bloco de situações que podem causar essa ausência de cobertura, estão as condições de
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trabalho dos jornalistas. Segundo Beatriz, com as redações bastante enxutas, condições precárias de trabalho, a
informação transformada em lucro e a falta de independência do jornalista na escolha da pauta, o resultado é um
jornalismo que não aborda as questões que atingem a maioria da população.
Ainda uma terceira raiz do problema apontada por Beatriz é a concentração dos meios de comunicação. A
jornalista lembra que apenas 9 famílias controlam 85% da informação no Brasil, apesar do artigo 220 da nossa
Constituição proibir o monopólio.
“Só falta fabricarem as pessoas que vão assistir aos programas!”, brinca, sobre o fato de uma mesma empresa
deter todo o processo de produção e distribuição da informação.
Soluções
Nas redações, uma formação continuada dos jornalistas, a investigação de dados e informações públicas, a
cobertura do processo das políticas públicas, podem, de acordo com a palestrante, serem passos na solução do
problema. Além disso, a prática de ouvir os beneficiários dessas políticas e de estabelecer canais de comunicação
entre a população e a imprensa, como ouvidorias e a própria figura do ombusdman, seriam iniciativas
importantes.
Na universidade, a criação de disciplinas obrigatórias específicas sobre as políticas públicas e projetos de
extensão, também atuariam nesse sentido.
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Essas iniciativas, para Beatriz, devem ser somadas a outras com foco específico na sociedade em geral, como a
criação de disciplinas nas escolas sobre leitura crítica da mídia e a própria formação do cidadão sobre o papel da
Estado e da Sociedade. Nesse sentido, o direito à comunicação deve ser entendido como um direito tão
importante quanto qualquer outro.
“Mas enquanto não entendermos que a notícia deve ser de interesse público e entendermos o ser humano como
sujeito da história, não mudaremos esse diagnóstico”, afirmou Beatriz Barbosa. A jornalista mencionou ainda que
quando se trata de políticas públicas de comunicação, aí é que o tema não aparece de maneira nenhuma na
grande imprensa. (Fonte: Núcleo Piratininga de Comunicação)
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