Estado de São Departamento Legislativo Paulo MOÇÃO No. 002/94 (DE APELO AOS MINISTROS DO MEIO AMBIENTE E DA FAZENDA, PARA QUE AGILIZEM A CESSÃO DA ILHA DO CARDOSO PARA O GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO).$ O Parque Estadual da Ilha Cardoso faz parte do Sistema Cananéiaiguape (SP) - Paranaguá (PR), tem 22.500 hectares, chega a 600 metros de altitude, é composto por um conjunto de baías, morros isolados, desembocaduras de rios e vários tipos de ilhas. Estas ilhas "protegem" todo o sistema, formando, em paralelo ao continente, um conjunto de canais banhados por uma mistura de água doce e salgada. A presença dos manguezais associados aos canais e ilhas constitui um banco de reprodução e um viveiro para variadas espécies marinhas, tornando-se, ao mesmo tempo, fonte rica de alimento para o homem e outros organismos. Por tais fatores, esse sistema é considerado uma das mais importantes unidades ecológicas do mundo, reconhecida pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), como a terceira mais importante em relação à produtividade primária. Segundo levantamentos, lá existem 986 espécies vegetais, mais de 100 espécies de mamíferos e 365 de aves, das quais 28 são consideradas raras ou ameaçadas de extinção, como o papagaio chauá. No centro desse sistema encontra-se a Ilha do Cardoso, com diversos ecossistemas inter-relacionandos, onde também existem sítios arqueológicos com enormes sambaquis depósitos de conchas, ossos e utensílios deixados pelo homem há cerca de 6 mil anos, além das ruínas de uma ocupação remota. Nos canais banhados pela água salobra, predominam os manguezais. As praias, dunas e costões rochosos recebem as águas do mar aberto. No trecho em que o relevo é mais suave forma-se uma extensa restinga, área em que se assentaram comunidades de pescadores que guardam grandes traços da cultura caiçara. Dentre elas, a que mais se destaca é a do bairro Marujá. Caminhando para o interior, o terreno torna-se mais acidentado, rico em mananciais e recoberto por vegetação de mata atlântica, em grande parte, ainda preservada. Nestes diferentes ecossistemas mangue, mata de restinga, mata de atlântica e ambiente marinho, a fauna é diversificada, destacando-se o jacaré de papo amarelo, a onça pintada e o papagaio de cara roxa, entre outras espécies ameaçadas de extinção. Cabe ressaltar que a Ilha do Cardoso é também um importante local de pouso de aves migratórias. Dentro do Parque Estadual, somente na área destinada ao Centro de Pesquisas Aplicadas aos Recursos Naturais da Ilha do Cardoso (Ceparnic) é que se desenvolvem atividades de educação ambiental, possuindo laboratórios, aquários e auditório para pesquisadores. Este é o Parque Estadual da Ilha do Cardoso, que está sendo invadido por casas. A "Agência Estado", em agosto de 1993, divulgou denúncia de que casas estavam sendo construídas na região. Em 12 de janeiro de 1994, "o jornal O Estado de S.Paulo", página A-15, publicou matéria denunciando novas invasões que ameaçam a Ilha do Cardoso. "Invasores de luxo estão construindo mansões no Parque Estadual, sem serem incomodados pela fiscalização". Desde agosto de 1993, mais três casas começaram a ser construídas, segundo o sócio de uma agência de turismo, que também denunciou a extração de grande quantidade de palmito nas margens dos Rios Cachoeiras Grande e Tapera, no noroeste da ilha. Segundo "o jornal Estado ", as invasões tiveram início no final de 1992, após uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) considerando a Ilha do Cardoso um bem patrimonial da União. Autoridades locais e invasores entenderam que a decisão do STF anulava o decreto de 1962, que criou o Parque Estadual da Ilha do Cardoso. O assessor jurídico do Instituto Florestal contestou a decisão, pois, "por direito constitucional, o Estado federado legisla sobre meio ambiente e todas as áreas de preservação são patrimônio da União; não há, portanto, antagonismo entre a decisão do STF e a continuidade da Ilha do Cardoso como parque estadual". O Instituto Florestal é o órgão da Secretaria Estadual do Meio Ambiente responsável pela administração dos parques. Em 1992, dois meses após a decisão do STF, o secretário do Meio Ambiente, édis Milaré, enviou um pedido ao Departamento de Patrimônio da União (DPU), solicitando ou a cessão da ilha para São Paulo ou sua transformação em parque nacional. Qualquer das solicitações eliminaria as dúvidas quanto sobre a ilha, garantindo a sua proteção. aos direitos dominiais Segundo "o jornal O Estado ", o ministro do Meio Ambiente, Rúbens Ricúpero, e o ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, a quem está ligado o DPU, concordaram informalmente com a cessão da ilha para o governo de São Paulo. A Secretaria do Meio Ambiente levou mais de um ano para enviar o plano de manejo do parque, necessário à cessão, segundo o deputado federal Fábio Feldmann, para quem cabe uma ação demolitória contra os invasores. Muitos ambientalistas encaminharam ao Conselho Estadual de Meio Ambiente (Consema), moção pedindo fiscalização urgente e formalização do contrato de cessão da ilha. Submetemos à apreciação do Plenário, a presente moção de apelo aos ministros do Meio Ambiente, Rúbens Ricúpero, e da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, para que agilizem a cessão da Ilha do Cardoso para o governo do Estado de São Paulo. Sala das Reuniões, 03 de fevereiro de 1994 (a)Juan Antonio Moreno Sebastianes (a)Ademar do Carmo Luciano Júnior (a)Esther Sylvestre da Rocha (a)José Francisco de Camargo Botelho (a)Laerte Zitelli (a)Mário Tomazello Filho (a)Moacir Bento de Lima (a)Raimunda Ferreira de Almeida