Professor Luciano Henrique - Turma 83 - História Entrada do Brasil na guerra "Enquanto a guerra castigava a economia dos países beligerantes, favorecia a economia norte-americana. O conflito afetou a produção industrial na Europa, reduziu as trocas comerciais e o fluxo de divisas, drenando altas somas e recursos para o esforço de guerra. Os Estados Unidos passaram, então, à condição de grandes fornecedores para a Europa e para os países com os quais esta outrora comercializava. Em pouco tempo converteram-se de devedores em credores mundiais. O presidente norte-americano Woodrow Wilson, apesar de idealista em seus esforços para restabelecer a paz na Europa e para conservar a neutralidade dos Estados Unidos na guerra, era bastante pragmático no tocante aos interesses envolvidos no conflito. Intensificou as relações comerciais e diplomáticas com países beligerantes e neutros, somente rompendo relações com a Alemanha quando esta declarou guerra submarina irrestrita ao comércio aliado. Diante do prejuízo que esta medida traria ao comércio norteamericano, dos riscos de perda de seus investimentos na Europa e de inadimplência dos empréstimos concedidos aos Aliados, os Estados Unidos declararam beligerância ao Império Alemão. O Brasil seguiu os passos adotados pelos Estados Unidos na Guerra Europeia. valendo-se dos mesmos argumentos, ainda que dentro de razoável defasagem no tempo. Para sair da situação de neutralidade e alcançar a de beligerância, o Brasil passou antes pelo estágio de rompimento de relações diplomáticas com a Alemanha, pela quebra de neutralidade em favor dos Estados Unidos, seguida da quebra de neutralidade em favor dos Aliados. Em cada uma destas fases, destacam-se alguns fatores como determinantes para a mudança à etapa seguinte. A versão oficial assevera que o Brasil ingressou na guerra devido ao afundamento de seus navios mercantes por submarinos alemães. Porém, tal motivo não teria sido forte o bastante para justificar decisão de tal magnitude. A tonelagem e o valor das mercadorias brasileiras afundadas por submarinos alemães eram de pequena monta, relativamente ao volume e valor totais comercializados anualmente pelo Brasil, que já havia tido grandes volumes de cargas e valores apreendidos em portos da Inglaterra e da França pelo War Trade Deparhnent, sem que tais ações tivessem sido motivo para declaração de beligerância O número de três navios mercantes afundados (Paraná, Tijuca e Lapa) também não teria sido motivo justo para o ingresso do Brasil numa guerra europeia A Argentina, em decorrência do afundamento de idêntico número de seus mercantes, suspendeu as viagens à Europa. A Noruega, país eminentemente marítimo, decidiu, a despeito dos riscos, manter em operação suas linhas de navegação. Veio a perder mais da metade de sua frota mercante, afundada por submarinos alemães, mas conservou sua neutralidade, preferindo recorrer à diplomacia para reaver seus prejuízos ao final do conflito. A quantidade de navios brasileiros afundados era pouco expressiva, se comparada ao total da frota mercante nacional. Estas perdas poderiam ter sido negociadas sem o recurso à guerra, mormente quando nossa diplomacia já havia adquirido tradição e reconhecimento de eficiência na solução pacífica de crises, e a Alemanha oficialmente se prontificara a negociar as reparações dos danos decorrentes destes sinistros. Ao governo brasileiro, portanto, pode-se imputar ao menos imprudência por estes acidentes marítimos ao permitir que navios mercantes nacionais navegassem por regiões sabidamente sob bloqueio naval, nas quais havia grandes riscos de torpedeamento por submarinos. Ainda que discordante da declaração de bloqueio alemão quanto à sua extensão, à sua duração, meios a empregar e à ausência de restrições, teria sido recomendável, além de apresentar veementes protestos diplomáticos, deixar ao pais importador o ônus do transporte da mercadoria adquirida ou adotar rotas de navegação alternativas comprovadamente seguras. O Brasil não era parte ativa nas disputas imperialistas entre as potências europeias. Também não tinha interesses estratégicos ou geopolíticos no continente europeu. As sucessivas crises por que passava o país levava o povo a se preocupar prioritariamente com sua política interna. Porém, a influência cultural francesa na formação da intelectualidade brasileira despertou simpatias pela causa aliada e a imprensa nacional movimentou a opinião pública As pressões diplomáticas e econômicas da França e da Inglaterra conduziram a classe dirigente brasileira à adoção de posicionamento parcial no conflito. As vantagens e garantias políticas, econômicas, diplomáticas e militares com que o governo norte-americano acenou às lideranças brasileiras, a opinião pública favorável à causa aliada e a ideologia da solidariedade panamericana foram decisivas para que o governo brasileiro se declarasse aliado dos Estados Unidos, em associação aos países da Tríplice Entente, na guerra contra a Alemanha. As “forças profundas” pressionaram as classes dirigentes a uma suposta “decisão boa”, geradora de resultados produtivos e duradouros para o país.”