1o. colocado Mar, verde mar – Al.Rodrigo EFOMM

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Mar, verde mar
James Lovelock, famoso ambientalista, dizia que a Terra se comporta como um único
organismo, uma integração entre ambiente e seres vivos denominada Gaia. Uma vez que 73%
do planeta é coberto de água, é fácil concluir que, tão importante quanto conservar florestas,
grande é a necessidade da preservação dos mares e rios. A intensa atividade da navegação,
que é o principal modal de transporte de riquezas, deve ser conduzida sempre com
responsabilidade e segurança, evitando assim o desequilíbrio do principal gerador e
continuador da vida: o oceano.
Navios são naturalmente grandes poluentes. Gases provenientes da combustão liberam
massivas quantidades de enxofre e nitrogênio na atmosfera e contribuem com 4% a 5% das
emissões mundiais de gases estufa. Águas de lastro podem conter organismos que
desestabilizem ecossistemas nos quais são descarregados. Esgotos e resíduos de limpeza
contaminam animais marinhos e reduzem o percentual de oxigênio dissolvido. Mais raros,
porém muito destrutivos, derramamentos de óleo geram verdadeiros desastres ecológicos,
como o caso do petroleiro Exxon Valdez, em 1989. Tendo em vista que a navegação é
responsável por 90% do comércio internacional, esse ramo dos transportes começou a receber
maior atenção de agências de proteção ambiental e órgãos reguladores.
Dentro desse contexto, houve um esforço internacional para aprovar tratados e
regulamentos que ajudassem a conter a poluição no mar. A Organização Marítima
Internacional (IMO) adotou em 1973 a MARPOL (Convenção Internacional para a Prevenção
da Poluição por Navios), a qual sofreu emendas em 1978 e 1997. Esta estabeleceu
procedimentos e regras a serem seguidos pelas embarcações a fim de se evitar a contaminação
do ambiente marinho, abrangendo óleos, líquidos nocivos e gases de combustão, entre outros.
A maior limitação da convenção, além da fiscalização imperfeita, é que ela trata somente do
alto mar, dependendo dos governos locais que a complementem para suas jurisdições. O
Brasil assim o fez em 2000, com a aprovação da lei nº 9966 de combate à poluição em águas
nacionais.
Não é difícil imaginar que, quando se fala em preservação ambiental, as primeiras
palavras em que um construtor naval ou um armador pensam são “custo maior”. Entretanto, a
realidade mostra que nem sempre essa idéia se confirma. Como a queima do diesel marítimo é
a principal responsável pela emissão de gases nocivos, minimizar o seu consumo é parte de
uma efetiva política de redução de impacto, além de ser muito interessante economicamente.
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Procedimentos para economizar combustível a bordo incluem manutenções bem feitas,
monitoramento de tanques e uso eficiente do motor. Em terra, a empresa deve analisar o
consumo dos navios em diferentes condições e eliminar as práticas que gerem desperdício. A
engenharia também toma parte nessa ação, desenvolvendo cascos que possuem menor arrasto,
propulsores com formatos mais eficientes e motores otimizados para melhor performance.
Empregando meios como esses, empresas chegam a economizar anualmente cerca de 78
milhões de dólares.
Se já hoje os navios estão mais limpos do que no passado, para o futuro o objetivo é
conseguir construir navios com quase nenhum impacto, chamados de “navios verdes”. Entre
as promissoras tecnologias estão cargueiros sem lastro, uso de gás natural e energia solar,
tratamento de enxofre e reaproveitamento dos gases de exaustão, cascos mais leves e duráveis
e até mesmo velas ou pipas auxiliares. As embarcações não só não contaminarão, como
também apresentarão enormes quedas nos custos operacionais, o que explica por que gigantes
da navegação estão investindo grandes somas nesses projetos.
Ainda que a ciência e a técnica possam ter reduzido drasticamente a poluição pela
máquina, é preciso que as milhões de pessoas que fazem das águas suas estradas tenham
consciência de que também são responsáveis pela limpeza dos recursos hídricos. Elas devem
sempre se preocupar em evitar o desperdício de insumos, denunciar empresas que
negligenciam os procedimentos e tratados e, principalmente, jamais devem jogar lixo nocivo
para fora da embarcação.
Desde quando a primeira mancha de óleo chegou às praias, a preocupação com a
preservação marinha tem sido constante por parte de indivíduos e de organizações. Assim
que surgiu o primeiro regulamento, as frotas mercantes começaram a tentar se adequar às
novas exigências, seja para evitar multas, seja para melhorar a imagem de suas empresas.
Com relatórios cada vez mais pessimistas sobre o futuro do planeta, o marítimo passou a
compreender seu relevante papel na manutenção dos oceanos, que são o maior bioma
terrestre. Se Lovelock estiver certo, e a Terra e os seres vivos forem um só, somente
respeitando e mantendo o gigante azul é que poderemos manter a nós mesmos.
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