CEFARMA ETANOL • Professora: Verônica Rodrigues • Disciplina: Toxicologia 24/03/2012 1 Introdução ETANOL Toda a história da humanidade está permeada pelo consumo de álcool. Registros arqueológicos revelam que os primeiros indícios sobre o consumo de álcool pelo ser humano datam de aproximadamente 6000 a.C., sendo portanto, um costume extremamente antigo e que tem persistido por milhares de anos. Introdução Inicialmente, as bebidas tinham conteúdo alcoólico relativamente baixo, como por exemplo o vinho e a cerveja, já que dependiam exclusivamente do processo de fermentação. Com o advento do processo de destilação, introduzido na Europa pelos árabes na Idade Média, surgiram novos tipos de bebidas alcoólicas. Nesta época, este tipo de bebida passou a ser considerada como um remédio para todas as doenças, pois "dissipavam as preocupações mais rapidamente que o vinho e a cerveja”. 1 Introdução A partir da Revolução Industrial, registrou-se um grande aumento na oferta deste tipo de bebida (destilados), contribuindo para um maior consumo e, conseqüentemente, gerando um aumento no número de pessoas que passaram a apresentar algum tipo de problema devido ao uso excessivo de álcool. O Trânsito e consumo de Álcool Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997 (Código de Trânsito Brasileiro - CTB) Antes Art. 165, regulamentado pela Resolução 81/98-CONTRAN “Dirigir sob a influência de álcool, em nível superior a seis (6,0) decigramas por litro de sangue, ou de qualquer substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica: [...]” Art. 276. “A concentração de seis decigramas de álcool por litro de sangue comprova que o condutor se acha impedido de dirigir veículo automotor.” O Trânsito e consumo de Álcool CTB – 1997 Pena: detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.” Lei n. 11.275, de 7 de fevereiro de 2006 Com essa nova lei, a redação do artigo do art. 165 do CTB (código 516-9) passou ser a seguinte: “Dirigir sob a influência de álcool ou de qualquer substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica: [...].” 2 O Trânsito e consumo de Álcool 2008 Lei nº 11.705, de 19 de Junho de 2008 Art. 165 “Dirigir sob a influência de álcool, em nível superior a seis (6,0) decigramas por litro de sangue, ou de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência” Penalidades... Art. 276. “Qualquer concentração de álcool por litro de sangue sujeita o condutor às penalidades previstas no artigo 165 deste código.” Parágrafo único. O órgão do poder executivo federal disciplinará as margens de tolerância para casos específicos. O Trânsito e consumo de Álcool 2008 Lei nº 11.705, de 19 de Junho de 2008 “Art. 277. Todo condutor de veículo automotor, envolvido em acidente de trânsito ou que for alvo de fiscalização de trânsito, sob suspeita de dirigir sob a influência de álcool será submetido a testes de alcoolemia, exames clínicos, perícia ou outro exame que, por meios técnicos ou científicos, em aparelhos homologados pelo CONTRAN, permitam certificar seu estado. ” (Redação dada pela Lei nº 11.275, de 2006) § 1o Medida correspondente aplica-se no caso de suspeita de uso de substância entorpecente, tóxica ou de efeitos análogos. (Renumerado do parágrafo único pela Lei nº 11.275, de 2006) O Trânsito e consumo de Álcool "§ 3º (do art. 277). Serão aplicadas as penalidades e medidas administrativas estabelecidas no art. 165 deste Código ao condutor que se recusar a se submeter a qualquer dos procedimentos previstos no caput deste artigo." 3 O Trânsito e consumo de Álcool 2008 Lei nº 11.705, de 19 de Junho de 2008 “§ 2º A infração prevista no art. 165 deste Código poderá ser caracterizada pelo agente de trânsito mediante a obtenção de outras provas em direito admitidas, acerca dos notórios sinais de embriaguez, excitação ou torpor apresentados pelo condutor. § 3º Serão aplicadas as penalidades e medidas administrativas estabelecidas no art. 165 deste Código ao condutor que se recusar a se submeter a qualquer dos procedimentos previstos no caput deste artigo. (NR) O Trânsito e consumo de Álcool 2008 Lei nº 11.705, de 19 de Junho de 2008 Art. 306. Conduzir veículo automotor, na via pública, estando com concentração de álcool por litro de sangue igual ou superior a 6 (seis) decigramas, ou sob a influência de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência: Penas - detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. Parágrafo único. O Poder Executivo federal estipulará a equivalência entre distintos testes de alcoolemia, para efeito de caracterização do crime tipificado neste artigo. (NR) O Trânsito e consumo de Álcool 2008 Decreto nº 6.488, de 20 de Junho de 2008 Art. 1º Qualquer concentração de álcool ...art. 165... § 1º As margens de tolerância de álcool no sangue para casos específicos serão definidas em resolução do Conselho Nacional de Trânsito - CONTRAN, nos termos de proposta formulada pelo Ministro de Estado da Saúde. § 2º Enquanto não editado o ato de que trata o § 1o, a margem de tolerância será de duas decigramas por litro de sangue para todos os casos. § 3º Na hipótese do § 2º, caso a aferição da quantidade de álcool no sangue seja feito por meio de teste em aparelho de ar alveolar pulmonar (etilômetro), a margem de tolerância será de um décimo de miligrama por litro de ar expelido dos pulmões. 4 O Trânsito e consumo de Álcool 2008 Decreto nº 6.488, de 20 de Junho de 2008 Art. 2º Para fins criminais ...art. 306... I - exame de sangue: concentração igual ou superior a seis decigramas de álcool por litro de sangue; ou II - teste em aparelho de ar alveolar pulmonar (etilômetro): concentração de álcool igual ou superior a três décimos de miligrama por litro de ar expelido dos pulmões. O coeficiente de partição sangue/ar utilizado pela legislação é de 2000 O Código Penal e o Etanol A Embriaguez e Circunstâncias Agravantes Art. 28 - Não excluem a imputabilidade penal: II – A embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substâncias de efeitos análogos. Pode-se considerar qualquer substância de efeitos análogos ao álcool, inclusive as drogas relacionadas à Lei 6368 de 1976. MIRABETE O Código Penal e o Etanol A Embriaguez e Circunstâncias Agravantes Embriaguez Pré-Ordenada (Art. 61, inciso II, alínea l do Código vigente) Art. 61 - São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime: II - ter o agente cometido o crime: l) em estado de embriaguez preordenada. É a embriaguez voluntária em que o agente embriaga-se com o objetivo de obter coragem ou condições para cometer o crime. 5 O Código Penal e o Etanol A Embriaguez e a Imputabilidade De acordo com o art. 28, inciso II, §§ 1º e 2º do Código Penal vigente, a embriaguez completa pelo álcool ou substâncias de efeitos análogos, pode alterar a imputabilidade do agente devido à modificação na capacidade de entendimento (consciência) ou de autodeterminação (vontade). Poderá ocorrer isenção de pena (§ 1º) ou redução de 1/3 a 2/3 da pena (§ 2º). O Código Penal e o Etanol A Embriaguez e a Imputabilidade Art. 28 – inciso II, §§ 1º e 2º Deve-se observar outros aspectos indispensáveis: Ao tempo da ação ou da omissão. Caso fortuito ou força maior. Completamente incapaz ou não possui a plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou autodeterminação. O Teor de Etanol nas Bebidas Concentração de álcool presente nas bebidas: Bebidas Concentração de álcool / gramas de álcool 1 lata de cerveja - 350 ml 5% = 17 gramas de álcool 1 dose de aguardente - 50 ml 50% = 25 gramas de álcool 1 copo de chope - 200 ml 5% = 10 gramas de álcool 1 copo de vinho - 90 ml 12% = 10 gramas de álcool 1 garrafa de vinho - 750 ml 12% = 80 gramas de álcool 1 dose de destilados (uísque, pinga, vodca etc.) - 50 ml 40%-50% = 20g - 25g de álcool 1 garrafa de destilados - 750 ml 40% - 50%=300g-370 gramas de álcool 6 Etanol – Concentração no Sangue x Efeito Concentração sanguínea de etanol Alterações comportamentais Menor que 0,5 g/L - Habitualmente não há alterações detectáveis. Pode haver ligeira incoordenação motora. Entre 0,50 e 0,75 g/L -Efeito ansiolítico, sensação de relaxamento, ligeira mas evidente incoordenação motora. Entre 0,75 e 1,0 g/L Aumento da loquacidade Entre 1,0 e 1,5 g/L -Alteração evidente no estado de ânimo e conduta. Perda de autocrítica. Ataxia. Entre 1,5 e 2,0 g/L -Desinibição, agressividade. Alterações no curso do pensamento. Acima de 3,0 g/L -Há um estado de estupor crescente, perda de equilíbrio, fala ininteligível e evolução até o coma. O Etanol e o Trânsito O Etanol e o Trânsito 7 O Etanol e o Trânsito O Etanol e o Trânsito Toxicocinética do Álcool O álcool não possui enzimas digestivas Cerca de 80 % da absorção se dá na mucosa intestinal Cerca de 20% é absorvido pela mucosa gástrica Tempo de C max: de 30 a 90 minutos Presença de alimento no estômago retarda a absorção do álcool. Nas mulheres: as concentrações de álcool sangüíneas são geralmente maiores do que no homem → menor volume de água por peso corporal e menor atividade da álcool desidrogenase gástrica. 8 Toxicocinética x Alterações Cognitivas Dependem de vários fatores dentre eles: Dose ingerida Velocidade de absorção Peso do Indivíduo Sensibilidade do indivíduo Tolerância Metabolismo do Etanol Vias de Metabolização do Álcool: Álcool desidrogenase (ADH); Sistema microssomial hepático (MEOS) (MEOS = microsomal ethanol oxidizing system) Sistema peroxidase / catalase Todas essas vias converterão o etanol a acetaldeído. A partir daí uma seqüência de etapas metabólicas conduzem à produção final de água e gás carbônico. Metabolismo do Etanol Esquema simplificado da metabolização hepática do etanol 9 Metabolismo do Etanol Esquema detalhado da metabolização hepática do etanol Metabolismo do Etanol ÁLCOOL DESIDROGENASE (ADH) Presentes no citosol; ADHs gástrica e hepática; Variedade de isoenzimas que oxidam álcoois de diferentes tamanhos de cadeia (classes 1 a 5); As da classe 1 são as mais específicas para o etanol e mais abundantes; Classe 4 presente na mucosa gástrica: atividade 60% reduzida nas mulheres – maior suscetibilidade aos efeitos do etanol Metabolismo do Etanol ALDEÍDO DESIDROGENASE (ALDH) Presente na mitocôndria; Deficiência de alta incidência em orientais – 50% dos japoneses e chineses não possuem a isoenzima aldeído desidrogenase-2 (ALDH2), deficiência que permite que o acetaldeído se acumule no sangue e nos demais tecidos após o consumo de álcool. Aldehyde dehydrogenase Estes indivíduos parecem apresentar taxas significativamente maiores de câncer do trato digestivo. 10 Metabolismo do Etanol Eliminação / Excreção do Álcool Baixas doses: - 98 - 99% metabolizado - 1 a 2 % liberados inalterado • 70 % no ar expirado • 20 % na urina • 10 % na saliva Altas doses: quantidades maiores, até 10% podem ser excretadas inalteradas. Intoxicação Aguda por Etanol (Fonte: Stefani, D. Z.) Intoxicação Aguda por Etanol Principais sintomas: Θ Acidose lática lactato/piruvato Θ Hipoglicemia inibição da gliconeogênese Θ Coma alcoólico efeitos tóxicos do etanol no SNC (parada respirátoria) Tratamento de emergência: infusão intravenosa de glicose/tiamina e hemodiálise em casos extremos (Fonte: Stefani, D. Z.) 11 Síndrome Alcoólica Fetal Anomalias craniofaciais Disfunção do SNC Atraso no crescimento pré e pós natal Tríade Etanol e Alterações Histológicas O alcoolismo crônico causa lesões progressivamente mais graves no fígado: a esteatose, a hepatite alcoólica e finalmente a cirrose. Fígado normal Fígado cirrótico Deficiências Vitamínicas Dieta deficiente e alteração TGI compromete a absorção Lesão hepática prejudica o armazenamento, aumentando a excreção Principais deficiências: Θ tiamina (B1) síndrome de Wernicke-Korsakoff (ataxia, confusão mental) Θ piridoxina (B6) Θ folato (B9) acetaldeído aumenta degração anemia megaloblástica (Fonte: Stefani, D. Z.) 12 Tratamentos Tratamento para alcoolistas: Dissulfiram →Inibição da ALDH Cefaléia intensa, hipotensão arterial intensa e rubor. Naltrexona →Antagonista opióide Reduz o desejo dos pacientes ao álcool e previne recaídas. Acamprosato Antagoniza os aminoácidos excitatórios, em particular o glutamato. Síndrome de Abstinência ao Etanol A síndrome de abstinência alcoólica inclui 2 componentes: - Redução ou cessação do uso crônico de grandes quantidades - Presença de 2 ou mais sintomas da abstinência: • Hiperatividade autonômica (sudorese, taquicardia, hipertensão sistólica) •Tremor nas mãos •Insônia • Náuseas ou vômitos • Alucinações visuais, auditivas ou táteis transitórias •Agitação psicomotora •Ansiedade • Convulsões tônico-clônicas generalizadas Síndrome de Abstinência Achados Clínicos 13 Análise Toxicológica - Sangue Sangue: - melhor amostra para detecção do álcool - colheita de sangue arterial Condição de conservação: - refrigeração Anticoagulante indicado: NaF - conservante - atividade anti-enzimática Duração do sangue fluoretado: 9 meses Análise Toxicológica – Ar Exalado Afinidade do álcool maior pelo sangue que ar - Coeficiente de partição sangue/ ar : 2000 Dedução da concentração de álcool no sangue Triagem Confirmação Avaliação do ar expirado: bafômetros - dispositivos de reações colorimétricas - avaliação eletroquímica - detector infra-vermelho: etilômetro Análise Toxicológica – Ar Exalado Avaliação do ar expirado: bafômetros - dispositivos de reações colorimétricas Resultado: Oxidação do etanol Redução do Cromo 14 Análise Toxicológica – Ar Exalado Avaliação do ar expirado: bafômetros - avaliação eletroquímica Análise Toxicológica – Ar Exalado Avaliação do ar expirado: bafômetros - avaliação eletroquímica Análise Toxicológica – Ar Exalado Avaliação do ar expirado: bafômetros - avaliação eletroquímica 15 Análise Toxicológica – Ar Exalado Avaliação do ar expirado: bafômetros - avaliação eletroquímica Análise Toxicológica – Ar Exalado Avaliação do ar expirado: bafômetros - avaliação eletroquímica Análise Toxicológica – Ar Exalado Avaliação do ar expirado: bafômetros - avaliação eletroquímica 16 Análise Toxicológica – Ar Exalado Avaliação do ar expirado: bafômetros - avaliação eletroquímica Análise Toxicológica – Ar Exalado Avaliação do ar expirado: bafômetros - Detector infra-vermelho: etilômetro C-H 3,39 3,42 C-O 9,5 Representação gráfica do etilômetro Aprovar o regulamento técnico metrológico que acompanha esta Portaria, o qual estabelece as condições a que devem satisfazer os etilômetros e não portáteis, utilizados pela fiscalização de trânsito na determinação da concentração de etanol no ar expirado, para fins probatórios. Portaria n.º 006 de 17 de janeiro de 2002 Método de Detecção por CG Cromatografia gasosa com automático de Headspace amostrador Fácil Preparação da Amostra • 100 µL de amostra (sangue e urina) • 400 µL de padrão interno Matriz é eliminada: só a fase gasosa é injetada Concentração na fase gasosa é proporcional à concentração na fase líquida. 17 CG com Amostrador Headspace Detecção - Cromatograma Questões Concurso Perito PCERJ - 2000 A perícia toxicológica é realizada em cadáver (necropsia) e em indivíduos vivos. No caso do exame toxicológico em vivo, indique, a seguir, as amostras biológicas de escolha para avaliação laboratorial de embriaguez: a. apenas sangue; b. as amostras mais adequadas são o sangue e o suor; c. saliva, suor, as lágrimas e o leite; d. cabelo, unhas, saliva e suor; e. ar exalado, urina ou sangue. 18 Questões Concurso Perito PCERJ - 2000 Com o objetivo de realizar o exame de alcoolemia post mortem, o técnico, ao preparar frascos destinados à coleta de sangue para análise toxicológica forense, terá que optar pela seguinte conduta: a. lavar os frascos previamente com solução de ácido nítrico a 10%; b. colocar heparina como conservante; c. colocar EDTA como conservante; d. usar dicumarol como anticoagulante; e. adicionar fluoreto de sódio. Abuso do Álcool x Acidentes 19