5 – CONCLUINDO... Após o encerramento da pesquisa de campo, a única certeza que tínhamos era que a contribuição das professoras foi essencial para a realização do trabalho. Sem a participação das mesmas não teríamos conseguido compreender as questões colocadas no início da pesquisa. Assim, através das entrevistas realizadas com as dez professoras e através do acompanhamento da prática docente de seis professoras em sala de aula durante os últimos três meses do ano letivo em 2000, foi possível observar quais eram as dificuldades, identificar algumas das resistências e verificar os obstáculos que eram encontrados por elas em relação à implementação da proposta dos ciclos. Nesse processo, percebemos, também, como as professoras percebiam e avaliavam a proposta pedagógica implantada na rede municipal de educação de Niterói. Portanto, um dos aspectos que concluímos desde o encerramento da pesquisa de campo está relacionado à importância dessas profissionais durante a investigação. Por outro lado, não podemos deixar de mencionar que teria sido importante ouvir e ter a contribuição de outros atores envolvidos na realidade educacional da rede pública municipal de Niterói: alunos, pais, supervisores, orientadores, diretores, assim como os elaboradores da proposta pedagógica do município. Certamente seria importante conhecer os outros “olhares” e entender o processo de implementação da proposta através da compreensão e do posicionamento de outros atores, além das professoras. No entanto, essa opção consistiria em uma ampliação do estudo, demandaria mais tempo e comprometeria a delimitação apresentada desde o início. Além disso, é preciso considerar que na época em que foi realizada a pesquisa de campo, a proposta pedagógica havia sido implementada há um ano e meio apenas. É preciso reconhecer que, naquele momento, ainda existiam muitas dúvidas e incompreensões, reveladas, algumas vezes, através das resistências por parte das professoras, até mesmo em função do pouco tempo de apresentação e implantação da proposta. É claro que não saberíamos precisar quanto tempo uma rede de ensino necessita para conhecer, entender, aprofundar e colocar em prática uma proposta pedagógica, mas não podemos perder de vista que, em grande parte das vezes, as “mudanças” propostas são vistas com receio, quando não com um certo repúdio. Por essa razão, nos perguntamos: como estará acontecendo atualmente a prática pedagógica em relação à proposta dos ciclos? Afinal, já se passaram quatro anos desde a implementação e consideramos que muitas conquistas podem ter sido efetivadas pelos professores e pelos alunos durante esse tempo. Desde o início a nossa intenção consistia em retornar às escolas e conversar com as professoras sobre as análises feitas, discutir as conclusões 240 da pesquisa e ouvi-las quanto às questões abordadas no estudo.Desse modo, o nosso objetivo não se resume a encerrar o trabalho, mas retornar às escolas e retomar o diálogo, já que acreditamos que, a partir daqui poderemos avançar, assim como será possível também ampliar as nossas reflexões e contribuir para a compreensão da realidade estudada. Até o presente momento, o que podemos concluir em relação à pesquisa realizada e às nossas questões iniciais é que a proposta pedagógica era entendida algumas vezes pelas professoras apenas como um documento, ou melhor, como um “material oficial” que, não necessariamente precisaria ser estudado e discutido para a concretização da prática pedagógica. Ao contrário, durante o nosso estudo percebemos que as proposições oficiais precisam sim de um estudo aprofundado e de uma discussão coletiva. Por essa razão, procuramos compreender a referida proposta pedagógica entendendo-a não apenas como mais um documento elaborado, mas procuramos entender o sentido e a essência do seu conteúdo, preocupando-nos, especialmente, com os princípios que deveriam nortear a proposta dos ciclos. Entretanto, é preciso dizer que no texto da proposta pedagógica “Construindo a escola do nosso tempo”, tais princípios são abordados de forma superficial e inconsistente, tanto do ponto de vista teórico como nas orientações gerais e específicas para o trabalho concreto dos professores. Em outras palavras, consideramos que a própria proposta não sustenta nem prioriza a essência, o sentido e a lógica dos ciclos. Na verdade, nos pareceu que a implementação dos ciclos foi uma alternativa encontrada para “acalmar os ânimos dos professores, alunos e pais” quanto aos resultados alarmantes da proposta anterior e, especialmente, para dar fluxo ao sistema, melhorando os índices e as estatísticas no município de Niterói. De acordo com a nossa análise, o sistema de ciclos parece ter sido entendido como uma “tábua de salvação” para modificar a proposta anterior, sendo apresentado como uma proposição mais “atualizada” e que tem tido visibilidade nos últimos anos, principalmente através das experiências divulgadas em alguns estados e municípios (em especial, o Projeto da Escola Cidadã em Porto Alegre). Ainda de acordo com a nossa compreensão, os elaboradores da proposta pedagógica em Niterói não enfatizaram a relevância, o sentido e as possibilidades dos ciclos para além de uma “nova” organização escolar. Desse modo, a motivação maior parecia estar relacionada à necessidade e aos interesses em “dar fluxo ao sistema”, ficando em segundo plano os princípios norteadores da proposta dos ciclos. No entanto, acreditamos que para a garantia desses princípios e para a garantia da aprendizagem dos alunos - sem ter a reprovação como recurso pedagógico -, outras medidas deveriam ter sido implementadas, para além da proposta pedagógica, conforme afirma Paro (2001): “certamente, uma dessas medidas deve ser a implementação de políticas com o propósito 241 de eliminar a reprovação, introduzidas, obviamente, de forma democrática e acompanhadas de processos de conscientização a respeito de sua justeza e necessidade” (p. 77). Por certo, uma das condições necessárias deveria ser uma discussão coletiva acerca da proposta (no que se refere à sua necessidade e ao seu sentido). Dessa maneira, os professores poderiam contribuir no sentido de priorizar os aspectos relacionados ao processo ensinoaprendizagem, a fim de garantir o sucesso escolar dos alunos e, como conseqüência, modificar/melhorar os índices e as estatísticas da educação municipal em Niterói. Fazendo um resumo das nossas análises, cabe lembrar que o estudo esteve voltado para duas grandes dimensões: o plano da proposta oficial (os documentos elaborados, abordando o sentido, os princípios e os objetivos do sistema de ciclos) e o plano das práticas concretas realizadas pelas professoras nas escolas a partir de tal proposta. No que se refere à concepção que fundamenta a lógica dos ciclos, consideramos que os princípios que a sustentam merecem destaque e deveriam ser perseguidos, tendo em vista os pontos favoráveis existentes nesses princípios, por exemplo: a flexibilização dos tempos escolares pautada em uma concepção de aprendizagem como um processo contínuo, respeitando, portanto, o processo de aprendizagem do aluno e a organização escolar fundamentada na idéia de ciclos e não mais de séries estanques (entre outros pontos que foram sinalizados no decorrer do trabalho). Afinal, devemos entender o sistema de ciclos para além de uma nova organização escolar, mas fundamentalmente como uma concepção de aprendizagem que respeita e compreende o processo individual dos alunos e, portanto, modifica a organização dos tempos escolares, assim como prevê a superação da lógica seriada. Dizendo de outra forma, os ciclos se apresentam como uma possibilidade para algumas mudanças na prática pedagógica e na educação escolar. Para tanto, é preciso que sejam garantidas as condições básicas e necessárias, mas, infelizmente, nem sempre essas condições são garantidas. Pensando especificamente na realidade estudada, podemos concluir que, na prática, os princípios norteadores dos ciclos e os objetivos daí decorrentes, ainda não haviam sido conquistados, ou seja, partindo da nossa análise, podemos sinalizar que, no plano das ações concretas, as práticas pedagógicas muitas vezes se distanciavam dos princípios que fundamentam a proposição e o sentido político-pedagógico dos ciclos (até porque esses princípios não foram aprofundados e amplamente explorados no documento da proposta). Todavia, cabe explicar que, inicialmente, pensamos que as práticas realizadas pelas professoras expressavam uma grande distância em relação a tais princípios, isto é, em um primeiro momento, percebemos que algumas práticas se distanciavam do que estava sendo proposto pela FME. Somente após uma análise mais apurada – sobre essa distância entre o que 242 se propõe e o que se faz –, foi que passamos a perceber que, no caso específico da proposta de ciclos apresentada na rede municipal de educação de Niterói, essa lacuna não era tão grande, tendo em vista que já no documento oficial existem contradições e uma certa inconsistência sobre o que deveria realmente ser implementado. Como exemplo, podemos citar o sistema de avaliação, já que essa questão parecia constituir um dos pontos de contradição entre os fundamentos apresentados e às práticas “propostas”. Assim, quanto ao sistema de avaliação, apesar de o documento mencionar e propor uma avaliação de caráter “contínuo e integral”, aponta para uma prática avaliativa pautada na mensuração, através da atribuição de conceitos bimestrais ou trimestrais relacionados ao aproveitamento e aos “avanços progressivos do aluno (sempre analisado em relação ao seu próprio desenvolvimento e em relação aos objetivos do ciclo)” (FME, 1999b, p. 38). Ainda de acordo com a proposta pedagógica, a definição desses conceitos influiria na aprovação ou na retenção dos alunos ao final de cada ciclo. Para melhor resumir a nossa conclusão sobre essa questão específica da avaliação no sistema de ciclos em Niterói, tomaremos de empréstimo as palavras de Esteban (2001): as mudanças introduzidas costumam ser superficiais, não chegam a significar uma real transformação no paradigma da avaliação. Muitas vezes observamos, tanto na sala de aula quanto nas propostas que chegam à escola, a manutenção da prática de avaliação fundamentada na lógica classificatória e excludente, ainda que a prática adquira uma aparência inovadora e que o conceito de avaliação escolar associado à quantificação do rendimento do/a aluno/a seja objeto de inúmeras críticas. Fala-se em avaliação de conteúdos, conceitos, procedimentos, atitudes, mas há que se sintetizar todo o processo num conceito ou número (...) Ainda que não se possa negar a incorporação da abordagem qualitativa como um avanço na proposta de avaliação escolar, ela não é suficiente para a reconstrução da práxis avaliativa (...) As mudanças impressas nas práticas de avaliação escolar não significaram transformações no paradigma epistemológico (pp. 121-2). Dessa forma, na tentativa de responder à questão inicialmente colocada sobre como poderíamos definir a relação existente entre a proposta oficial e as ações docentes concretas e cotidianas, foi possível concluir que, de forma muitas vezes implícita e subjacente, a proposta pedagógica acabava por contribuir para a manutenção de velhas lógicas e antigas práticas. Em outras palavras, não percebemos no nível da proposta as orientações necessárias para a superação das antigas concepções presentes no universo da escola, ao contrário, a “nova” proposta parece reforçar e legitimar as concepções e as práticas docentes que há muito tempo já existem nas instituições escolares. No entanto, fazendo um “balanço geral” da proposta dos ciclos (no que se refere especialmente aos princípios pedagógicos que sustentam a lógica dos ciclos), concluímos que a 243 referida proposta não deixa de ser pertinente e necessária, principalmente por esboçar algumas possibilidades e novas conquistas. No caso da experiência e do universo estudados, a forma como o sistema foi implementado, somada a outras razões (como o conteúdo da proposta em si), é que não contribuiu para as conquistas necessárias. Conforme já afirmamos durante o trabalho, teria sido importante discutir com os pais e com os alunos o sentido da nova proposta; os professores poderiam e deveriam ter participado dos momentos de discussão e elaboração da mesma, assim como deveriam ter sido alteradas as condições de trabalho dos professores e o número de alunos por turma. Como decorrência de todas essas questões, não existia uma mudança efetiva na prática das escolas e, de acordo com a nossa observação, a mudança (quando existia) se restringia à terminologia utilizada, mesmo assim, alguns professores continuavam se referindo às séries escolares, como foi o caso da Escola C, na qual os docentes visivelmente resistiam à proposta e, ainda, não haviam adotado o sistema de ciclos. Neste cenário, os conteúdos continuaram sendo trabalhados a partir de uma relação prédefinida, no mesmo esquema da seriação. A lógica existente era ainda a lógica das séries e, embora algumas professoras se esforçassem para compreender e colocar em prática a proposta dos ciclos, o movimento de transição ainda era muito tímido. Quanto à avaliação, existiam pequenas mudanças nas práticas docentes. Uma dessas mudanças era que a prática avaliativa (em quase todas as escolas nas quais estivemos) não se restringia a uma prova ao final dos bimestres. Entretanto, a atribuição dos conceitos continuava norteando o trabalho dos professores e rotulando as aprendizagens dos alunos. De um modo geral, para as professoras, a proposta de avaliação no sistema de ciclos se resumia à possibilidade de retenção ao final de cada ciclo e não de uma atividade avaliativa contínua durante os anos de escolaridade. A ficha de avaliação, apesar de ser considerada como uma forma de registro relevante para o trabalho do professor e para o processo de aprendizagem do aluno, era entendida por grande parte dos professores como um documento para fins burocráticos. Os professores pareciam não terem sido devidamente orientados sobre a nova proposta e praticamente não recebiam apoio nem eram acompanhados quando existia uma tentativa de mudança. Talvez essa orientação e esse acompanhamento pudessem auxiliar a discussão da proposta no interior das escolas, principalmente nos espaços coletivos já previstos semanalmente (no horário destinado ao planejamento). Certamente essa discussão coletiva teria sido importante para um aprofundamento da proposta. Na verdade, o que observamos foi que a leitura das 207 páginas da proposta pedagógica “Construindo a escola do nosso tempo” não havia sido feita pelas professoras entrevistadas, 244 entretanto, consideramos que essa leitura poderia contribuir para uma apropriação maior da proposta e para o exercício de discussão e questionamento da mesma. Possivelmente dessa maneira, as professoras poderiam se organizar coletivamente para a apresentação de uma contraproposta e para o encaminhamento das mudanças necessárias. Para tanto, seria importante que a formação docente (inicial e continuada) estivesse voltada para um investimento nos conhecimentos profissionais básicos que permitissem às professoras uma argumentação fundamentada e que favorecesse a construção de novas propostas. Talvez assim não fosse necessário ter como “única saída” a adoção de estratégias e de mecanismos extra-oficiais para burlar o sistema, reforçando uma lógica equivocada, com atitudes e práticas tão equivocadas quanto algumas questões existentes nas próprias “reformas educacionais”. Em resumo, não encontramos na proposta a possibilidade e a intenção de uma mudança profunda e consistente. Além disso, o processo de implementação da proposta dos ciclos, da forma como aconteceu, dificultou a conquista de alguns objetivos básicos e não favoreceu as mudanças essenciais. Nesse sentido, concordando com Avancini (2000), podemos ressaltar que: “embora haja unanimidade sobre as vantagens do ciclo para o aprendizado, na prática a passagem de um sistema para outro foi brusca e acabou reforçando deficiências antigas” (p. 2). Todavia, torna-se essencial a compreensão de que este movimento não está encerrado e, assim sendo, é preciso entender que a proposta dos ciclos em Niterói pode estar se tornando um importante passo em direção a algumas mudanças, só não podemos perder de vista as questões estruturais e conjunturais que estão diretamente relacionadas ao micro-espaço de cada escola. Em outras palavras, precisamos considerar a conjuntura atual (com a assunção de um novo governo) e apostar em uma possibilidade de mudança, sendo otimistas e lutando para a superação das políticas educacionais que não estão verdadeiramente voltadas para a escola pública e para uma educação de qualidade para todos os cidadãos brasileiros. Toda a população (crianças, jovens, homens e mulheres de todas as idades) – que tem o seu direito garantido por lei de ter, não apenas o acesso e a permanência na escola, mas a sua aprendizagem, o seu desenvolvimento e a sua formação – deverá contar com uma instituição comprometida com o cidadão e voltada para a qualidade do ensino público. É preciso ter clareza, conforme ressalta a tese apresentada por Paro (2001), que o ensino não está ruim em função da implementação da proposta dos ciclos, o ensino continua ruim. Apesar de o sistema de ciclos ser acusado de ter piorado o ensino, na verdade, serviu para expor o drama da repetência e mostrar que a escola não tem garantido que todos aprendam (Prado, 2003, p. 39). O aluno não deixou de aprender porque não pode ser retido, mas por não existir um 245 processo de ensino-aprendizagem que garanta os seus direitos e nem os objetivos básicos da escola. Em síntese, não basta manter os alunos na escola, devemos lutar pela inserção de todos e pela permanência em uma escola de qualidade para todos os cidadãos, na qual seja garantida a aprendizagem e a formação de cada um deles. Como nos lembra Krug (2001): A dialética inspira a pedagogia ao entendimento do ser humano enquanto consumidor e constituinte do meio histórico e cultural em que vive e ao qual cria e recria, tensionando a escola a se repensar enquanto espaço coletivo de aprendizagem e de possibilidade de desenvolvimento a todos que a ela recorrem enquanto espaço permeado de contradições, de permissões e proibições, de palavras ditas e também de muitas palavras silenciadas. As propostas progressistas em educação são marcadas pelas reafirmações da escola do trabalho com base na concepção dialética de entendimento dos opostos constituintes na sociedade atual e na pedagogia. Comprometidas com a leitura crítica do real, trabalham para a transformação deste real, afirmam a possibilidade de um projeto social inclusivo e, conseqüentemente, de uma escola não excludente (pp. 132-3). Por fim, consideramos que ao perseguir os nossos objetivos iniciais conseguimos apurar o nosso olhar sobre a realidade estudada, indo além das impressões iniciais e procurando compreender esta realidade sem nos distanciar das dimensões mais amplas que afetam o interior da escola. Palavras finais É preciso reconhecer que começamos o presente trabalho de pesquisa vivenciando alguns impasses, tanto em relação à definição da temática, quanto em relação aos passos do estudo. No entanto, outros impasses estavam relacionados às nossas dúvidas e inquietações sobre o assunto em questão. O nosso ponto de partida consistiu, então, na tentativa de solucionar esses impasses e dissolver as dúvidas. Na verdade, a nossa intenção inicial com o estudo era responder de forma ampla e aprofundada todas as nossas questões sobre o tema. Dessa forma, o estudo foi entendido desde o começo como uma “lupa” que poderia identificar as “causas” e as “conseqüências”. Essa visão limitada e reducionista de que os fatos, as ações e os indivíduos são constituídos em um processo que pode ser definido, explicado, analisado e julgado, dificultou, no início, uma análise mais consciente e coerente sobre a ampla realidade. 246 No lugar de “pistas” e “indícios”28 para a compreensão das questões propostas, procurávamos as respostas e as explicações. Somente após algum tempo passamos a “flexibilizar as nossas percepções” e passamos a entender que existiam diferentes possibilidades de compreensão e não uma única resposta ou explicação definitiva. No início acreditávamos que seria possível afirmar que se tratava de ser “este” ou “aquele” o fator responsável; de existir “esta” ou “aquela” resposta. Ao longo do caminho percebemos que, ao contrário, não se tratava de definir “isto ou aquilo”, mas descobrir a capacidade e a importância de aprender com a experiência e com as pessoas. Esse desafio exigiu “o diálogo, a troca com o outro, o aprender compartilhado” (Sampaio, 2001, p. 95). Exigiu que aprendêssemos a olhar e a compreender as diferentes lógicas presentes nas concepções e nas práticas. A partir daí passamos a buscar essa conquista e a encarar o desafio de não apenas julgar ou avaliar, mas aprender com o outro. Não saberíamos dizer o quanto aprendemos até aqui e muito menos pontuar quantas foram as dúvidas, as angústias, as buscas e as descobertas, como também não seria possível expressar precisamente a paixão que nos envolveu durante esse processo. A sensação que temos é que esse movimento não acabou e nem acabará nas últimas páginas desta dissertação... Esse foi mais um passo, mais uma conquista, mais um trecho da caminhada que está sendo trilhada, agora, com a certeza de que esse caminhar nos faz crescer, mesmo não conhecendo o que será possível construir daqui por diante. O importante é acreditar e continuar. Acreditando na possibilidade da construção e da coletividade para continuar nessa caminhada. Como nos disse Paulo Freire: “a escola na verdade não é, a escola está sendo historicamente”. E assim, da mesma forma como podemos nos referir à escola, podemos nos referir à sociedade e à vida humana, já que é neste vir a ser que estamos nos construindo e, nessa construção, construindo o mundo. É preciso continuar... 28 Para Ginzburg (1991), “se a realidade é opaca, existem zonas privilegiadas – sinais, indícios – que permitem decifrá-la. Essa idéia, que constitui o ponto essencial do paradigma indiciário ou semiótico, penetrou nos mais variados âmbitos cognoscitivos, modelando profundamente as ciências humanas” (p. 177). 247