Bruno Teixeira Dantas e Maurício Ehrlich Aplicação da análise dimensional a estruturas de contenção de solo reforçado Bruno Teixeira Dantas (Mestre) Curso de Engenharia Civil – Universidade Tuiuti do Paraná Maurício Ehrlich (Doutor) Coordenação dos Programas de Pós-graduação em Engenharia / COPPE – Universidade Federal do Rio de Janeiro Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 25, FACET 03, p. 43-62, Curitiba, dez. 2001 43 44 Aplicação da análise dimensional a estruturas de... Resumo Utiliza-se a análise dimensional para o estudo de estruturas de contenção de solo reforçado através de modelos físicos. Tal estudo é baseado no método analítico desenvolvido por Dantas (1998) para o dimensionamento deste tipo de estrutura sob condições de trabalho, que é descrito neste trabalho. Apresentam-se os números π e um ábaco de correlação. Mostra-se que os fatores de escala devem englobar tensões - tanto geostáticas como induzidas pela compactação do solo - parâmetros do reforço, do solo e da geometria da estrutura. Palavras-chave: análise dimensional, solo reforçado, estruturas de contenção. Abstract The study of physical models of reinforced soil retaining structures using the non-dimensional analysis theory is addressed in this work. It is based on the analytical method developed by Dantas (1998) for the internal design of such structures under working stress conditions, which is described in this paper. It is shown that the scale factors should consider stresses – both geostatic and induced by soil compaction – reinforcement and soil parameters, and structure geometry. Key words: dimensional analysis, reinforced soil, retaining structures. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 25, FACET 03, p. 43-62, Curitiba, dez. 2001 Bruno Teixeira Dantas e Maurício Ehrlich Introdução O objetivo deste trabalho é apresentar, sob o enfoque da análise dimensional, os principais parâmetros envolvidos na análise dos esforços em estruturas de contenção de solo reforçado. Dentre os vários métodos de análise disponíveis, o método desenvolvido por Dantas (1998) é o único a considerar em base analítica todos os parâmetros envolvidos, o que facilita bastante a análise dimensional do problema. Por este motivo, este estudo baseia-se no método de Dantas (1998). Inicialmente apresenta-se uma breve descrição da técnica de solo reforçado. A técnica de solo reforçado A técnica de solo reforçado consiste em se melhorar as características mecânicas do solo a partir da utilização de elementos de reforço. Estes elementos devem ser capazes de resistir aos esforços necessários ao equilíbrio da massa sob condições improváveis ou impossíveis de o solo por si só manter-se estável. Assim, por exemplo, uma areia com ângulo de atrito de 35º quando reforçada pode se apresentar estável sob talude até de 90º. Esta técnica já é conhecida desde a Antigüidade. Os grandes templos religiosos da Babilônia foram construídos utilizando o solo reforçado. Entretanto, o desenvolvimento moderno da técnica só se deu a Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 25, FACET 03, p. 43-62, Curitiba, dez. 2001 partir de 1966 com o engenheiro francês Henry Vidal, que patenteou o seu sistema de construção como Terra Armada (Terre Armée). O solo reforçado foi, então, difundido como uma técnica viável para vários tipos de aplicações, tais como: estruturas de contenção, encontros de pontes, silos, muros de cais (Mitchell e Villet, 1987). Em relação às soluções convencionais, o solo reforçado tem como principal atrativo o baixo custo de implantação e operacional. A matéria-prima de maior consumo, o solo, é o material de construção mais barato e abundante na natureza. A construção não envolve equipamentos de difícil acesso, sendo necessário, tipicamente, equipamentos para movimento de terra e um rolo compactador, além de não requerer mão-de-obra especializada. Os elementos de reforço podem ser metálicos, plásticos e outros sintéticos, havendo grande variedade de tipos. São estruturas flexíveis, que se adaptam bem aos deslocamentos impostos, mesmo àqueles de maior magnitude, como também no caso de sismos, o que pode ser, algumas vezes, o fator determinante para a sua utilização. Um outro aspecto interessante é quanto à estética da estrutura. A face, como não apresenta função estrutural - deve apenas evitar o carreamento do solo pode ser adaptada ao ambiente paisagístico local. 45 46 Aplicação da análise dimensional a estruturas de... Análise de estruturas de contenção de solo reforçado A análise da estabilidade interna de uma estrutura de solo reforçado passa pela determinação da tensão máxima atuante nos reforços, que é o aspecto mais importante nesta etapa de projeto. Esta tensão é decorrente da interação solo-reforço, que promove a transferência de esforços, seja por atrito ou por resistência passiva, do solo para o reforço. Dividindo-se a massa em zona ativa (instável) e zona resistente (estável), fig. 1, a estabilidade da primeira está assegurada desde que, sob ação das cargas, não haja ruptura por tração do reforço e o embutimento na zona resistente seja suficiente para evitar o seu arrancamento. Dantas (1998) desenvolveu um método de análise baseado no equilíbrio da estrutura sob condições de trabalho, aplicável para taludes de inclinação qualquer. A abordagem utilizada no desenvolvimento deste método é similar à adotada por Ehrlich e Mitchell (1994), que é restrita apenas a taludes verticais. As hipóteses básicas do método são descritas a seguir. Equilíbrio interno Considera-se que cada reforço é responsável pelo equilíbrio horizontal da camada correspondente na zona ativa de espessura Sv e largura Sh, fig. 1, onde Sv e Sh são os espaçamentos vertical e horizontal entre reforços adjacentes, respectivamente. ZONA ATIVA ZONA ATIVA ZONA RESISTENTE B A PONTO DE TRAÇÃO MÁXIMA ZONA RESISTENTE T Sv D E C xz CE SUPERFÍCIE POTENCIAL DE RUPTURA zm h zn REFORÇOS Fig. 1: Equilíbrio interno de uma estrutura de solo reforçado de inclinação qualquer A inclinação da face da estrutura leva a uma redução da tração máxima a ser suportada pelos reforços, em relação a uma mesma estrutura com face vertical. Tal se dá em vista de a hipótese de se considerar nula a resultante das tensões cisalhantes atuantes ao longo de AB e DC, FAB e FDC, respectivamente, não se apresentar válida neste caso. FAB FDC 0 (1) Considerou-se no desenvolvimento do método a eq. 2 como representativa das condições de equilíbrio da fatia, fig. 1. T S v S h h méd EC S h xz EC 0 (2) Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 25, FACET 03, p. 43-62, Curitiba, dez. 2001 47 Bruno Teixeira Dantas e Maurício Ehrlich onde: T = tração máxima no reforço; = tensão cisalhante atuante ao longo de EC; ( )méd = tensão horizontal média entre zm e zn atuando no plano vertical normal ao reforço no ponto de tração máxima; EC = comprimento entre os pontos E e C da fig. 1; EC Sv ; e tan ω = ângulo de inclinação da face da estrutura com a horizontal. Tomou-se por hipótese xz EC xz sendo τ xz a tensão cisalhante no solo atuante no ponto de máxima tensão no reforço. Desta forma, a eq. (2) pode ser reescrita como: T − S v ⋅ S h ⋅ (σ h )méd + S v ⋅ S h ⋅ τ xz = 0 (3) tan ω A eq. (3) apresenta 3 incógnitas (T, (σh)med e τxz ), sendo 2 independentes. As tensões (σh)med e τxz atuantes no ponto de tração máxima estão relacionadas pelo círculo de Mohr, fig. 2, considerando a rotação das tensões principais em relação a horizontal ou vertical. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 25, FACET 03, p. 43-62, Curitiba, dez. 2001 Admitindo-se, por hipótese, h méd x K z e 90 c 2 d 0,9 c (4) onde: σx= tensão horizontal atuante no ponto de máxima tensão; K = coeficiente de empuxo lateral; σz = tensão vertical atuante no ponto de máxima tensão; = ângulo que os planos principais fazem com a c horizontal ou vertical no carregamento, m (análise do tipo Rankine); resultante de 2 φm = ângulo de atrito mobilizado no solo; e = ângulo que os planos principais fazem com a d horizontal ou vertical no descarregamento, adotado baseado em resultados de análises numéricas. A tensão τxz pode ser escrita como: xz z 1 K tan 2 2 (5) 48 Aplicação da análise dimensional a estruturas de... m c 3 xz x z 1 Fig. 2: Círculo de Mohr de um elemento de solo próximo ao ponto de tração máxima A eq. (3) pode, então, ser escrita como: 1 K tan 2 T Sv Sh K z Sv Sh z 0 2 tan (6) A eq. (6) tem, agora, 2 incógnitas (T e K), já que a tensão vertical τz ao longo do talude pode ser considerada um dado de entrada. Dantas (1998) propôs um procedimento bastante simples para a determinação da tensão vertical, baseado em resultados de análises numéricas. Dantas (1998) utilizou a abordagem de Ehrlich e Mitchell (1994) para estabelecer uma nova equação relacionando as incógnitas T e K, como mostrado a seguir. O reforço e a interação solo-reforço Modelando o reforço como elástico linear, Ehrlich e Mitchell (1994) mostraram que as incógnitas T e K na verdade não são independentes, pois devido à interação solo-reforço, as deformações do solo e do reforço no ponto de tração máxima devem ser iguais, sob condições de trabalho. A conclusão destes pesquisadores baseou-se nos estudos de Jewell (1980) e de Dyer e Milligan (1984). Com isto, tem-se: T Er Ar xr (7) onde: Er = módulo de Young do reforço; Ar = área transversal do reforço; e εxr = deformação específica do reforço no ponto de tração máxima. Admitindo-se aderência perfeita neste ponto, tem-se xr xs (8) onde: ε xs = deformação específica do solo na direção do reforço no ponto de tração máxima A deformação ε xs do solo depende do modelo constitutivo adotado e do caminho de tensões a que se sujeita o ponto de tensão máxima durante Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 25, FACET 03, p. 43-62, Curitiba, dez. 2001 49 Bruno Teixeira Dantas e Maurício Ehrlich o processo construtivo, que são apresentados a seguir. tensões principais; σ3= tensão principal menor. Para descarregamento, tem-se O solo O solo é admitido como elástico não linear, sendo utilizada na sua representação a expressão adotada por Ehrlich e Mitchell (1994). Esta expressão é uma reformulação do modelo hiperbólico de Duncan et al. (1980). A expressão para o módulo de Young no carregamento é apresentada a seguir. n 2 K 2 E Pa 3 1 aap 1 K aa Pa K (9) onde: E = módulo de Young para carregamento; Pa = pressão atmosférica; K, n = parâmetros adimensionais do módulo de Young; Kaa = coeficiente de empuxo ativo equivalente; c = coesão do solo; φ = ângulo de atrito do solo; Rf = relação de ruptura (Duncan et al., 1980); Ka = coeficiente de empuxo ativo de Rankine; Kp = coeficiente de empuxo lateral em termos de Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 25, FACET 03, p. 43-62, Curitiba, dez. 2001 Eur ur Pa 3 Pa n (10) onde E ur = módulo de Young para descarregamento e recarregamento; Kur = parâmetro adimensional do módulo de Young para descarregamento e recarregamento. O coeficiente de Poisson durante o carregamento é considerado constante e igual ao correspondente às condições de carregamento Ko: o Ko 1 Ko (11) onde Vo = coeficiente de Poisson durante o carregamento; e Ko = coeficiente de empuxo no repouso. O coeficiente Ko pode ser estimado a partir da correlação de Jaky (1944) 50 Aplicação da análise dimensional a estruturas de... Ko 1 sen (12) Durante o descarregamento ou recarregamento, o coeficiente de Poisson é considerado constante e igual ao valor para condições de descarregamento Ko, baseado no procedimento de Duncan e Seed (1986), conforme adotado por Ehrlich e Mitchell (1994): un K 2 1 K (13) 2 em que K 2 Ko OCR OCR! OCR 1 (14) onde: Vun = coeficiente de Poisson durante o descarregamento ou recarregamento; K 2 = coeficiente de decréscimo do empuxo lateral para o descarregamento sob condições Ko; α = parâmetro adimensional de Duncan e Seed (1986) para o descarregamento; OCR = razão de sobreadensamento = , conside- rada constante; σzc = máxima tensão vertical atuante durante todo o processo construtivo, incluindo as tensões induzidas pela compactação; σze = tensão vertical atuante no reforço devido apenas a uma camada da estrutura. Ehrlich e Mitchell (1994) propuseram a seguinte correlação para o parâmetro α, baseando-se em resultados de ensaios de laboratório de Belloti et al. (1983): ! 0,7 sen (15) A definição de K 2 acima é uma alteração da formulação de Ehrlich e Mitchell (1994), já que a OCR é considerada constante, independente do nível do reforço, o que resulta em K 2 e Vun também constantes. Com o modelo constitutivo acima, a deformação εxs do solo é calculada considerando o caminho de tensões apresentado a seguir. O caminho de tensões O processo construtivo de estruturas de solo reforçado envolve o lançamento e compactação de camadas sucessivas até atingir a altura final prevista. Desta forma, não apenas as tensões geostáticas, mas também as tensões induzidas pela compactação devem ser consideradas no cálculo das deformações. A compactação pode ser modelada como uma Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 25, FACET 03, p. 43-62, Curitiba, dez. 2001 51 Bruno Teixeira Dantas e Maurício Ehrlich tensão vertical, unidimensional e transitória aplicada no topo da camada em construção, alterando o estado de tensões no solo. A tensão vertical induzida pela compactação (σxp,i ) pode ser considerada constante e independente do nível de deformação do solo, entretanto, a tensão horizontal induzida não (Duncan e Seed, 1986). Porém, para estabelecer o estado de tensões induzido pela compactação, Duncan e Seed (1986) utilizaram o artifício de calcular a tensão horizontal máxima (σxp,i ) - que ocorre para a situação de deformações nulas, ou seja, um estado K o de tensões - e a partir dela obter σxp,i xp ,i K o com a qual se calcula a deformação durante o carregamento. Ao ser retirado o equipamento de compactação, a tensão vertical no solo é a geostática (σz ), envolvendo, assim, um descarregamento. Ao ser lançada e compactada nova camada, as camadas já construídas são submetidas a um novo ciclo, mas, agora, de recarregamento e descarregamento. Em vez de considerarem todos os ciclos de carregamento, descarregamento e recarregamento a que cada camada é submetida, Ehrlich e Mitchell (1994) adotaram um procedimento simplificado baseado em apenas um ciclo de carga e descarga, que foi Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 25, FACET 03, p. 43-62, Curitiba, dez. 2001 adaptado por Dantas (1998) para taludes de inclinação qualquer, considerando a rotação das tensões principais, fig. 3. Neste caso, considera-se que o solo é submetido a um carregamento (segmentos 1-2-3 da fig. 3) até a maior tensão vertical de sua história (σzc ) - σ1c em termos de tensão principal maior (rotação c ) - e a um único posterior descarregamento (segmentos 3-4-5 da fig. 3) até a tensão vertical geostática (σz) para a situação de fim de construção - σ1 em termos de tensão principal maior (rotação ). d Por conveniência analítica, o carregamento no cap Kr 3 p Ko p Kc 2 3C 5 3R 3 4 1 K p DESCARREGAMENTO Ko CARREGAMENTO Ko 1 1 1C 1 Fig. 3: Caminho de tensões a que se sujeita um elemento de solo no ponto de tração máxima minho de tensões principais da fig. 3 foi dividido em 2 etapas: (1) carregamento sem deformação lateral (segmento 1-2) até a tensão principal menor de 52 Aplicação da análise dimensional a estruturas de... equilíbrio (σ3c ); e (2) carregamento com deformação lateral (segmento 2-3) sob tensão principal menor constante. Da mesma for ma, o descarregamento foi dividido em 2 etapas: (1) descarregamento sem deformação lateral (segmento 3-4) até a tensão principal menor de equilíbrio (σ3rtensão residual); e (2) descarregamento com deformação lateral (segmento 4-5) sob tensão principal menor constante. Os coeficientes de empuxo lateral em termos de tensões principais Kop, K 2, Kcp e Krp são definidos por 1 Ko cos 2 c K op ; 1 K o 1 Ko cos 2 c 1 Ko 1 K K p2 1 K 2 2 1 Kc cos 2 c K cp 1 K c 1 Kc cos 2 c 1 Kc 1 K 2 cos 2 d ; 1 K 2 cos 2 d 1 Kr K rp 1 K r cos 2 d 1 K r 1 Kr cos 2 d (16) A tensão σzc , a máxima tensão vertical da história do solo, é definida a partir da comparação da tensão vertical induzida pela compactação (σ zc,i ) com a ten- são geostática (σ z): se z # zc ,i " zc zc ,i (17a) ou caso z $ zc ,i " zc z (17b) A expressão (17b) indica o caso em que a tensão vertical geostática supera a induzida pela compactação. Neste caso, não se considera o descarregamento no caminho de tensões da fig. 3 (os segmentos 3-4-5 são resumidos ao ponto 3≡5), havendo no solo somente deformação devido ao carregamento. Assim, modela-se a tensão induzida pela compactação como uma espécie de sobreadensamento do solo, enquanto z zc ,i o efeito da compactação prevalece no comportamento tensão-deformação do solo, sendo apagado quando z zc ,i . Definido, então, o caminho de tensões, as deformações do solo durante o carregamento ( xs13) e durante o descarregamento ( xs35 ) têm as seguintes expressões: ' xs13 1 & 1 K K 2 2 o aa n p o 1c 3c 3c Pa 3c 3c K aa 1c K op K aa Pa sen 2 c K o cos 2 c (18) Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 25, FACET 03, p. 43-62, Curitiba, dez. 2001 53 Bruno Teixeira Dantas e Maurício Ehrlich ' xs( 35 ) 1 & un2 1c 1 3c p 3r K 2 ur Pa 3r Pa n K 2 cos 2 d sen 2 d utilizando uma expressão desenvolvida por Ehrlich e Mitchell (1994) baseada na teoria de capacidade de carga, dada por (19) As tensões induzidas pela compactação A tensão σzc,i pode ser obtida a partir do procedimento proposto por Ehrlich e Mitchell (1994). Estes autores admitem que esta tensão é constante e igual em todos os níveis de reforço, se for utilizado um mesmo esforço, e é função do tipo de equipamento de compactação utilizado. Ou seja, se todas as camadas forem compactadas exatamente da mesma forma, a tensão vertical induzida (σzc,i ) será idêntica em todas as camadas. Para placas vibratórias, σzc,i é calculada diretamente e é igual à tensão vertical máxima capaz de atuar na base da placa. Admitindo-se como Q a força vertical máxima de impacto e a área da base como A, tem-se zc,i Q A (20) Para rolos compactadores, a tensão σzc,i é calculada indiretamente a partir de σxp,i zc ,i xp ,i K o , Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 25, FACET 03, p. 43-62, Curitiba, dez. 2001 xp ,i N* 1 & o 1 K a * Q L 2 1 2 (21) 2 2 com K a tan 45 1 4 . e N * tan 45 / tan 45 1, 2 0 2 onde: Ka = coeficiente de empuxo ativo de Rankine; γ = peso específico do solo; Q e L = força vertical máxima de operação e comprimento do rolo, respectivamente; e Nγ = fator de capacidade de carga, calculado pela teoria das cunhas de Rankine. No caminho de tensões da fig. 3, esta modelagem da compactação é considerada através da tensão principal maior σ1c , a partir da comparação da tensão vertical induzida (σzc,i ) com a tensão geostática (σz ): 54 Aplicação da análise dimensional a estruturas de... se 1c zc ,i z ⇒ zc ,i 1 1 Ko /1 K o 2 0 cos 2 c ou caso z $ zc ,i 1c z 2 onde: σ1c é definida pelas eqs. (22a) e (22b); . , - (22a) ⇒ 1 1 Kc /1 K c cos 2 c 0 . , - 3c zc 2 1 1 Kc /1 K c cos 2 c 0 . , ; - Er Ar , é o índice de rigidez relativa Sv Sh Pa reforço-solo; e Si (22b) K aa Determinação da tração máxima Ka 1 K a 1 c 3c tan A tração máxima é obtida a partir do cálculo dos coeficientes de empuxo lateral no carregamento, incluindo os esforços de compactação durante o processo construtivo (Kc), e no descarregamento para a condição final ao término da construção (Kr). A substituição das eqs. (18) e (19) na eqs. (8), (7) e depois em (6) conduz as expressões abaixo indicadas. Para o carregamento, K c é calculado por tentativas utilizando a seguinte expressão Se a coesão (c) não for nula, a solução da equação (23) envolve um procedimento iterativo, pois, neste caso, Kaa também é função de Kc. Caso não haja compactação ou σz for superior a σzc,i , a tração máxima (T) é calculada por 1 & o2 1 K aa K op 1c 3c 3c K o cos 2 c sen 2 c K c zc 3c K aa 1c K op K aa (24) (23) Para o descarregamento, Kr é calculado por tentativas, sendo também função de K c , σ 1c e σ 3c, utilizando a seguinte expressão: 2 n 1 3c 1 1 K c tan 2 c . /1 ,0 S i Pa 0 2 K c tan - Rf Ka T S v S h K c zc S v S h zc tan 2 c 1 K c 2 tan Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 25, FACET 03, p. 43-62, Curitiba, dez. 2001 Bruno Teixeira Dantas e Maurício Ehrlich 1 & un2 ur 1c 1 3c p 3r K 2 K blema da análise dos esforços internos de estruturas de contenção de solo reforçado podem ser obtidos por inspeção das eqs. (23) a (26), onde (T) é a incógnita. Tais números π são: 2 2 2 cos d sen d n 1 3r S i Pa tan 2 c z tan 2 d . 6 1 zc 1 K c 1 Kr 50 K c zc K r z / tan 2 tan ,- 4 0 2 n T 1 zc c ; z ; ; R f ; ur ; ; ; zc S v S h zc zc S i Pa (25) onde e 1 3r z 2 1 1 Kr /1 K r cos 2 d 0/ 1 Kr z 1 /1 K r 2 0 cos 2 d . , ; -, A relação Para a situação em que não há compactação ou a . , - profundidades em que a tensão vertical induzida pela compactação (σzc,i ) for menor do que a tensão verti- Neste caso, a tração máxima (T) é dada por T Sv Sh Kr z Sv Sh expressa o efeito da compactação. tan 2 d z 1 Kr 2 tan (26) As expressões acima mostram que as incógnitas T e K da eq. (6) não são independentes. Análise dimensional As eqs. (23) a (26) já se apresentam sob forma adimensional, podendo ser consideradas, portanto, homogêneas. Desta forma, os números π do pro- Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 25, FACET 03, p. 43-62, Curitiba, dez. 2001 cal no ponto (σz ), 1 é igual a 1. n A relação S Pazc foi definida por Ehrlich e i Mitchell (1994) como a extensibilidade relativa entre solo e reforço, β. O parâmetro β também expressa a influência da rigidez relativa solo reforço (vide Si na expressão). Dantas (1998) desenvolveu ábacos relacionando os números π do problema, sendo mostrados na fig. 4 para o caso de taludes 1(H): 2(V). Estes ábacos foram 55 56 Aplicação da análise dimensional a estruturas de... c ur 1, 5 e R = 0,8 (vadesenvolvidos para 0 , f zc lores típicos para solos arenosos) e 1 7 zc S i Pa n . 0.00 Passivo 0.20 9:; 0.40 Repouso 0.60 Ativo n 7 8 16 8 4 2 1 0 Passivo 0.20 z zc O presente trabalho apresenta um estudo dos fatores de escala de modelos físicos de estruturas de solo reforçado sob o enfoque da análise dimensional, considerando-se o método analítico desenvolvido em Dantas (1998). Mostra-se que os números π do problema da análise dos esforços internos de tais estruturas são: T c 1 zc ; z ; ; R f ; ur ; ; ; zc S v S h zc zc S i Pa 0.80 1.00 1.00 0.00 0.00 Conclusões Considerando a teoria da semelhança e dos modelos físicos, pode-se concluir que se a escala das tensões geostáticas ( ) for igual à escala das tensões 9<; Repouso 0.40 0.60 Ativo 0.80 7 8 16 8 1.00 1.00 0.00 0.00 4 2 1 dos a mesma extensibilidade relativa (kβ = 1) e os mes- Passivo 0.20 Repouso c T 0.60 Ativo inclinação (ω) da estrutura, a relação S S v h zc 0.80 7 8 16 8 4 2 1 0 1.00 0.00 0.10 0.20 0.30 0.40 T / (Sv Sh zc ) c Fig. 4: Ábacos adimensionais para taludes 1 (H): 2 (V), 0 , zc ur 1, 5 e R = 0,8. f ur mos parâmetros do solo ( , φ, R f , ) e de zc >:; 0.40 ) e se forem manti- induzidas pela compactação ( 0 será idêntica tanto no modelo como no protótipo. Os ábacos da figura 4 mostram a correlação entre estes números π para um talude 1(H): 2(V), c 0, ur 1, 5 e R = 0,8. f zc Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 25, FACET 03, p. 43-62, Curitiba, dez. 2001 57 Bruno Teixeira Dantas e Maurício Ehrlich Portanto, para uma modelagem adequada, os fatores de escala devem englobar tensões (geostáticas e compactação), parâmetros do reforço e do solo, e geometria da estrutura. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 25, FACET 03, p. 43-62, Curitiba, dez. 2001 Deve-se chamar a atenção para o fator c zc . Este fator indica que a coesão do solo pode ser diferente no modelo e no protótipo para que a razão de semelhança esteja correta. 58 Aplicação da análise dimensional a estruturas de... Referências bibliográficas BELLOTI, R.; GHIONNA, V.; JAMIOLKOWSKI, M. (1983). “Ko-OCR relationships in soil”. Journal of Geotechnical Engineering, v. 109, n. 6, pp. 859-861. DANTAS, B. T. (1998). Método de análise de taludes reforçados sob condições de trabalho. 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Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 25, FACET 03, p. 43-62, Curitiba, dez. 2001 Bruno Teixeira Dantas e Maurício Ehrlich Lista de símbolos A Ar c e E Er E ur h H Ka K aa Kc K cp = = = = = = = = = = = = = K ∆2 = Ko = K op = Kr = K rp = L = Lr = n = Nγ = OCR= área área transversal do reforço coesão do solo excentricidade módulo de Young do solo para carregamento módulo de Young do reforço módulo de Young do solo para descarregamento e recarregamento distância vertical entre o ponto B e o pé do talude altura do talude coeficiente de empuxo ativo de Rankine coeficiente equivalente ao empuxo ativo de Rankine coeficiente de empuxo de equilíbrio no carregamento coeficiente de empuxo de equilíbrio no carregamento em termos de tensões principais coeficiente de decréscimo das tensões horizontal e vertical coeficiente de empuxo no repouso coeficiente de empuxo no repouso em termos de tensões principais coeficiente de empuxo de equilíbrio no descarregamento coeficiente de empuxo de equilíbrio no descarregamento em termos de tensões principais comprimento do rolo comprimento do reforço parâmetro adimensional do módulo de Young fator de capacidade de carga razão de sobreadensamento Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 25, FACET 03, p. 43-62, Curitiba, dez. 2001 59 60 Aplicação da análise dimensional a estruturas de... Pa Q Rf Sh Si Sv = = = = = = pressão atmosférica força de operação máxima do equipamento de compactação relação de ruptura espaçamento horizontal entre reforços adjacentes índice de rigidez relativa solo-reforço espaçamento vertical entre reforços adjacentes T x z = = = = tração máxima distância horizontal entre o ponto B e o pé do talude profundidade ou altura de solo parâmetro adimensional de DUNCAN e SEED (1986) para o descarregamento α β = extensibilidade relativa entre solo e reforço δd = rotação das tensões principais em relação à horizontal = rotação das tensões principais em relação à horizontal no carregamento = rotação das tensões principais em relação à horizontal no descarregamento εxr εxs φ φm γ κ κ ur υο υ un θ = deformação específica do reforço no ponto de tração máxima = deformação específica do solo na direção do reforço no ponto de tração máxima = ângulo de atrito do solo = ângulo de atrito mobilizado no solo = peso específico do solo = parâmetro adimensional do módulo de Young para carregamento; = parâmetro adimensional do módulo de Young para descarregamento e recarregamento. = coeficiente de Poisson durante o carregamento = coeficiente de Poisson durante o descarregamento ou recarregamento = ângulo que a superfície potencial de ruptura faz com a horizontal no ponto de tração máxima Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 25, FACET 03, p. 43-62, Curitiba, dez. 2001 Bruno Teixeira Dantas e Maurício Ehrlich σ1 = tensão principal maior σ1c = máxima tensão principal maior que já atuou durante todo o processo construtivo σ3 = tensão principal menor σ3c = tensão principal menor de equilíbrio no carregamento σ3r = tensão principal menor de equilíbrio no descarregamento (σh)med= tensão horizontal média σx = tensão horizontal σxp,i= tensão horizontal induzida pela compactação σ z = tensão vertical σ zc = máxima tensão vertical que já atuou no solo durante todo o processo construtivo σzc,i= tensão vertical induzida pela compactação σ ze = tensão vertical atuante no reforço devido apenas a uma camada da estrutura τxz = tensão cisalhante no solo atuante no ponto de máxima tensão no reforço τ xz ω EC = tensão cisalhante atuante ao longo de EC = ângulo de inclinação da face da estrutura com a horizontal Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 25, FACET 03, p. 43-62, Curitiba, dez. 2001 61