ANÁLISE CLIMATOLÓGICA COMPARATIVA DAS ESTAÇÕES METEOROLÓGICAS DOS AEROPORTOS DE GUARULHOS E CONGONHAS Edson Cabral Doutorando em Geografia Física - FFLCH/USP Mestre em Climatologia Urbana – FFLCH/USP Observador Meteorológico - INFRAERO e-mail: [email protected] ABSTRACT This work analysis the climatological parameters temperature, rain, relative humidity, fog and thunderstorm of two Weather Stations (Guarulhos Airport and Congonhas Airport) visualizing a period of thirty seven years (1961-1997) and discusses the major differences between the correlation coefficients observed and their possible causes. I - INTRODUÇÃO O objetivo deste trabalho é efetuar uma análise comparativa de dados de temperatura do ar, umidade relativa do ar, precipitação pluviométrica, nevoeiro e trovoada de duas estações meteorológicas situadas nos Aeroportos de Guarulhos e São Paulo, na Região Metropolitana de São Paulo. Procura-se verificar, através de tal avaliação, a influência da urbanização nesses parâmetros climáticos. II – LOCALIZAÇÃO DAS ESTAÇÕES O Aeroporto de Guarulhos situa-se na latitude de 23o26’06’’S e na longitude de 46o28’22’’W, a uma altitude média de 750 m e localizado a NE do município de São Paulo, em sua Região Metropolitana, distando cerca de 25 km da Praça da Sé e ocupando uma área de aproximadamente 14 km2. O sítio em questão está localizado em uma planície alveolar no vale do Rio Baquirivu-Guaçu, afluente da margem direita do alto-Tietê. As colinas que delimitam essa planície tem altitudes em torno de 800 m e limitam-se a norte com as escarpas das serras alinhadas nas direções E-W e ENEWSW que apresentam altitudes freqüentemente acima de 1.000 m. 2 Para fins comparativos, foram também utilizados registros climatológicos do Aeroporto de Congonhas, situado na área urbana do Município de São Paulo, em uma latitude de 23o37’32’’S e na longitude de 46o39’21’’W e posicionado, segundo AB’SABER (1975), em uma esplanada tabular suavizada do nível mais elevado das colinas pliocênicas (790-810 m), a SSW do bairro do Jabaquara, 10 km ao sul da Praça da Sé. III. MATERIAIS E TÉCNICAS Os elementos analisados a nível anual, compreendendo períodos diferenciados de dados, para as estações acima mencionadas, foram os seguintes: Temperatura do ar - médias, médias das mínimas e médias das máximas (1961-1997). Precipitação - alturas pluviométricas (1961-1997). Precipitação – freqüência de dias de chuva (1972-1997). Umidade relativa do ar – médias (1961-1997). Nevoeiro – Horas de ocorrência (1972-1997). Nevoeiro – Freqüência de dias (1975-1997). Trovoada – Horas e freqüência de dias (1975-1997). Para a confecção de tabelas e gráficos, bem como da análise estatística dos dados (cálculo de médias, somatórios e coeficientes de correlação) foi utilizada a planilha eletrônica Excel for Windows versão 7.0, empregando um microcomputador IBM 486 - DX2-66. Para o estabelecimento das retas de regressão e de seus parâmetros usou-se o método dos mínimos quadrados. Para tal, os valores de n (= tempo), por exemplo para o caso do elemento temperatura, foi considerado ano n.º 1 o referente a 1961 e, nesta escala o ano de 1997 representa o n.º 37. Os valores de x e y são assim distribuídos: x = Guarulhos e y = Congonhas. Além dos parâmetros estatísticos, foram feitos também gráficos comparativos, com o tempo sendo representado nas abcissas e os valores dos vários elementos nas ordenadas, com símbolos gráficos diferenciados para as duas estações. 3 IV - RESULTADOS Os resultados aqui são apresentados com relação tão somente aos coeficientes de correlação (r) e determinação (r2 ) encontrados, conforme abaixo discriminados. TABELA DOS COEFICIENTES DE CORRELAÇÃO E DETERMINAÇÃO ELEMENTOS TEMPERATURAS MÉDIAS ANUAIS MÉDIAS DAS TEMPERATURAS MÁXIMAS ANUAIS MÉDIAS DAS TEMPERATURAS MÍNIMAS ANUAIS ALTURAS ANUAIS DE PRECIPITAÇÃO FREQUÊNCIA DE DIAS ANUAIS DE PRECIPITAÇÃO MÉDIAS DE UMIDADE RELATIVA ANUAIS HORAS ANUAIS DE NEVOEIRO FREQUÊNCIA DE DIAS ANUAIS DE NEVOEIRO HORAS ANUAIS DE TROVOADA FREQUÊNCIA DE DIAS ANUAIS DE TROVOADA R 0,84 0,77 0,87 0,83 0,60 0,25 0,79 0,56 0,30 0,74 R2 0,71 0,59 0,76 0,69 0,36 0,06 0,62 0,31 0,09 0,55 V - DISCUSSÃO DOS RESULTADOS E CONCLUSÕES V.1 – Temperatura Com referência aos registros de temperaturas, verifica-se que as médias e médias das mínimas apresentam valores mais elevados em Congonhas em relação à Guarulhos e, por outro lado, as médias de máximas mostram relação inversa, ou seja, Guarulhos maior que Congonhas. Os coeficientes de correlação e determinação se mostraram bastante significativos, particularmente no tocante às médias das mínimas e médias. A provável explicação para isso é a influência das variações do clima regional sobre o parâmetro temperatura do ar nas duas estações, situadas a cerca de 40 km de distância entre si. V. 2 – Precipitação O parâmetro alturas anuais de precipitação apresentou, à semelhança dos valores de temperatura, valor elevado de coeficiente de correlação e de determinação, mostrando registros de totais anuais geralmente um pouco mais elevados para Guarulhos, situado em região próxima a um alinhamento montanhoso, em relação à Congonhas, na maior parte da série, exceção feita aos anos de 4 1968, 1978, 1987 a 1989, quando o inverso foi registrado. Em termos anuais, portanto, foi detectada boa correlação entre os valores registrados, o que provavelmente não ocorra em outras escalas temporais mais restritas (diárias, mensais e sazonais) e particularmente com gênese convectiva das chuvas que causa, via de regra, precipitações mal distribuídas espacialmente. Além disso, nota-se também alta variabilidade nas quantidades de chuva durante todo o período (1961-1997). A freqüência anual de dias de chuva mostrou menor coeficiente de correlação, embora ainda significativo, da ordem de 0,60, com valores normalmente mais elevados de dias de chuva no Aeroporto de Congonhas, particularmente de meados dos anos 70 até o final dos anos 80, sendo que nos últimos anos a freqüência tem sido bastante semelhante entre as duas estações. V. 3 - Umidade relativa do ar O coeficiente de correlação para o elemento umidade do ar se apresentou positivo, porém pouco significativo (0,25), com valores mais elevados em Guarulhos. A posição do Aeroporto de Congonhas, em área mais urbanizada e mais próxima da região litorânea, recebe primeiro a influência da brisa marítima no Planalto, enquanto que Guarulhos apresenta durante as noites e madrugadas valores de umidade mais elevados pela posição de vale em que se encontra e pelas fontes de umidade ainda existentes na região. Tais fatores são decisivos para explicar as variações existentes entre seus valores, demonstrando que as diferenças microclimáticas locais se sobrepõem aos efeitos de maior escala espacial, como os que ocorrem com os parâmetros temperatura e precipitação, anteriormente tratados. V. 4 – Nevoeiro Os coeficientes de correlação dos parâmetros horas anuais e freqüência de dias de nevoeiro foram, respectivamente, 0,79 e 0,56, mostrando particularmente no primeiro caso uma boa concordância entre os valores dos dois locais, embora tenha havido nos últimos anos uma queda mais significativa das horas de nevoeiro em Guarulhos, após a inauguração do Aeroporto Internacional e mais atenuada em Congonhas. Com relação à sua freqüência, o menor índice encontrado deve estar relacionado à distribuição espacial irregular do fenômeno e aos fatores locais de sua formação. 5 V. 5 – Trovoada Este último parâmetro mostrou coeficientes de correlação e determinação diversos com relação às horas anuais de trovoada e a freqüência de dias de trovoada. A freqüência apresentou coeficientes mais elevados e significativos (R=0,74) do que as horas anuais (R=0,30). O número de dias anuais de trovoada quase sempre foi semelhante entre as duas estações, enquanto que o número de horas anuais foi bastante variável, inclusive com alternância dos valores mais elevados em alguns anos da série. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AB´SABER, A.N. – A estrutura metropolitana e o novo Aeroporto de São Paulo. São Paulo. Série Geografia e Planejamento 18, USP-IG, 1975, 19 p. CABRAL, E. e FUNARI, F.L. – Análise comparativa de dados climatológicos de duas estações meteorológicas da Cidade de São Paulo: Água Funda e Mirante de Santana (1946-1995). Boletim Climatológico (UNESP de Presidente Prudente-SP), Ano 02, n. 3, 1997, p. 218-222. CABRAL, E. – Análise das alterações climáticas da Cidade de São Paulo (1887-1995) no contexto da expansão de sua mancha urbana. Dissertação de Mestrado apresentada ao Departamento de Geografia, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, 1997. FRANÇA, A. – Estudo sobre o clima da bacia de São Paulo. Boletim LXX da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, São Paulo, 1946, 59p. Tese de Doutoramento. LOMBARDO, M.A. – Ilha de Calor nas metrópoles: o exemplo de São Paulo, 1.ed. São Paulo. Hucitec, 1985.