Centro Universitário Fundação Santo André Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas Curso de Bacharelado em Relações Internacionais Danielle Mozelli Ramos 17605 Artigo referente ao projeto de iniciação científica – PIIC 2008 Santo André – SP 2009 Centro Universitário Fundação Santo André Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas Curso de Bacharelado em Relações Internacionais Danielle Mozelli Ramos 17605 Artigo referente ao projeto de iniciação científica – PIIC 2008 Artigo apresentado ao Comitê Científico do Programa de Iniciação Científica do Centro Universitário Fundação Santo André. Prof.o Orientador: Me. Ivan Prado Silva Santo André – SP 2009 Um novo paradigma para o desenvolvimento? Políticas de desenvolvimento comparadas entre Brasil e Coréia do Sul no pós II Guerra Mundial: as políticas desenvolvimentistas sul coreanas se aplicam ao caso brasileiro? Resumo: As trajetórias industriais do Brasil e da Coréia do Sul são muito distintas, contudo o sucesso sul coreano tem sido apontado como um exemplo de industrialização tardia e como um modelo a ser seguido pelo Brasil. Esta pesquisa aponta os modelos industriais utilizados por ambos países e os pontos que levaram a Coréia do Sul ao sucesso industrial. Palavras-chave: desenvolvimento, industrialização, tecnologia, Brasil e Coréia do Sul. Abstract: The industrial histories of Brazil and South Korea are very different, yet the South Korean success has been highlighted as an example of late industrialization and as model to be followed by Brazil. This research points the industrial models used by both countries and the points that led to South Korea to industrial success. Keywords: development, industrialization, technology, Brazil and South Korea. Introdução A presente pesquisa tem por objetivo discutir as políticas desenvolvimentistas de industrialização do Brasil e da Coréia do Sul no pós II Guerra Mundial, onde se torna inevitável uma comparação entre ambos países já que os mesmos decidiram se industrializar tardiamente. Contudo o modelo industrial adotado pela Coréia do Sul é um exemplo de industrialização tardia que obteve êxito, ao contrário do Brasil que estagnou na década de 80 enquanto os sul coreanos davam um salto gigantesco rumo á Terceira Revolução Industrial. Portanto, uma análise comparativa entre os modelos industriais adotados por ambos países apresenta um panorama de fácil compreensão para que seja possível observar tanto os resultados que cada país obteve durante seu processo industrial, quanto fazer do caso sul coreano um exemplo e um modelo a ser seguido pelo Brasil. Esta pesquisa está dividida em três partes, onde a primeira aborda teorias e conceitos que se relacionam aos processos industriais de cada país, para que seja possível posteriormente , um melhor entendimento das medidas adotadas pelos países para se industrializarem. Já a secunda parte aborda todo o processo industrial do Brasil e da Coréia do Sul, trazendo as dinâmicas particulares de cada processo e suas conseqüências para o desenvolvimento econômico de cada país e de como esse países atravessaram as crises decorrentes do período tratado. E por fim, a terceira e última parte traz uma análise comparativa das políticas industriais e desenvolvimentistas do Brasil e da Coréia do Sul, como forma de avaliar o sucesso sul coreano enquanto o modelo brasileiro enfrentou obstáculos durante sua implantação e desenvolvimento, bem como entender quais pontos do processo industrial sul coreano foram importantes para seu desenvolvimento, e os pontos que levaram o Brasil a não obter o mesmo sucesso do Tigre Asiático. Referencial Teórico A primeira parte desta pesquisa visa dar um panorama á respeito das teorias e conceitos que compõe e explicam os processos industriais brasileiro e sul coreano ao longo do período posterior a II Guerra Mundial, uma vez que tais economias de caráter periférico tiveram um modelo industrial tardio. Primeiramente será utilizada, uma abordagem a cerca do debate entre crescimento econômico e desenvolvimento econômico gerados ou não pela industrialização do país. Paralelamente á estes conceitos, será utilizado o modelo de Substituição de Importação para que seja possível uma melhor compreensão do modelo adotado pelo Brasil para se industrializar, bem como o modelo de Promoção de Exportações largamente utilizado no caso da Coréia do Sul. O debate a cerca do conceito de desenvolvimento e crescimento econômico não é recente, e no que tange a suas variáveis a respeito do tema, apresenta-se uma gama considerável de referenciais teóricos para o conceito de desenvolvimento e crescimento econômico.Logo torna-se necessário apresentar os conceitos das respectivas temáticas, onde para começar será apresentado a seguir as diferenças entre crescimento econômico e desenvolvimento econômico.Há uma diferença básica entre ambos conceitos que é abordada e aceita pela maioria dos autores, que os distinguem da seguinte forma: O crescimento econômico diz respeito á elevação do produto agregado do país e pode ser avaliado a partir das contas nacionais.Desenvolvimento é um conceito bem mais amplo, que leva em conta a elevação da qualidade de vida da sociedade e a redução das diferenças econômicas e sociais entre seus membros.(PAULANI; BRAGA, 2007:229). Em outras palavras, crescimento econômico pode ser entendido em termos quantitativos como, por exemplo, o crescimento do PIB, já o desenvolvimento é um conceito que remete a qualidade de vida dos indivíduos da sociedade no geral e agrega índices para quantifica-lo que serão vistos posteriormente.Apesar desta conceituação básica, ainda há quem defina ambos os conceitos como sinônimos, não vendo distinções entre o processo de crescimento e desenvolvimento econômico, tornando assim o processo de desenvolvimento como uma etapa do processo de crescimento econômico.Na literatura acerca do tema, fica claro ressaltar que o desenvolvimento econômico é um processo muito mais complexo e que agrega outros fatores do que simplesmente a quantificação do índice de crescimento econômico, bem como se deve considerar que nem sempre o alto crescimento vem acompanhado de um desenvolvimento acabam por gerar desigualdades levando assim o país a um desajuste em sua distribuição de renda, pois “[...] desenvolvimento econômico não pode ser confundido com crescimento porque os frutos dessa expansão nem sempre beneficiam a economia como um todo e o conjunto da população”.(SOUZA, 2007:5).Ainda segundo Souza, [o] desenvolvimento econômico define –se, portanto, pela existência de crescimento econômico contínuo, em ritmo superior ao crescimento mudanças demográfico, de estruturas envolvendo e melhorias de indicadores econômicos sociais e ambientais. Ele compreende um fenômeno de longo prazo implicando o fortalecimento da economia nacional, a ampliação da economia de mercado, a elevação geral da produtividade e do nível de bem estar do conjunto da população com a preservação do meio ambiente.Com o desenvolvimento, a economia adquire maior estabilidade e diversificação; o progresso tecnológico e a formação de capital tornam-se progressivamente fatores endógenos, isto é, gerados predominantemente no interior do país, embora a interior do país, embora a integração internacional continua um processo gradativo e irreversível “. (SOUZA, 2007:7). Promoção de Exportações e Substituição de Importações Apoiando-se nos conceitos de Krugman (2005), onde por traz desses conceitos existe um enorme debate a respeito de suas aplicações em economias em desenvolvimento. A industrialização tanto pelo processo de promoção das exportações quanto pela substituição das importações são medidas de política industrial e tem como o objetivo, no caso da promoção de exportações, principalmente de produtos manufaturados exportados para as nações avançadas, levar uma economia ao estágio de economia industrializada gerando assim desenvolvimento da mesma. Já no caso da substituição de importações que nada mais é do que “ a estratégia de incentivar a industria doméstica limitando as importações de bens manufaturados [...]” ( KRUGMAN,2005:193),tem por objetivo a proteção a industria nascente , ou seja “ desenvolver industrias orientadas para o mercado interno” ( KRUGMAN,2005:193).Tanto Krugman (2005) quanto Souza (2007), Baumann, Canuto e Gonçalvez (2004) afirmam que o processo de industrialização de um país via promoção de exportações se dá no âmbito de políticas que acabam por estimular as exportações, ou seja, uma política orientada para fora. São muitos os argumentos favoráveis a essa prática, onde existe uma relação entre a política de promoção das exportações e um rápido crescimento, bem como uma melhora do desempenho exportador em termos de maiores taxas de crescimento e conseqüentemente a geração de divisas tendo assim uma diversificação na pauta de exportação.A promoção das exportações ainda viabiliza a elevação da produção interna de uma economia reduzindo assim a capacidade ociosa da mesma. Já os argumentos pró-substituição de importações prevêem que tal política em primeiro lugar gera a implantação de novas unidades produtivas, em segundo lugar promove a longo prazo uma menor dependência de oferta externa bem como uma menor necessidade de divisas. Ao mesmo tempo possibilita a uma economia o processo de aprendizagem e o desenvolvimento de técnicas endógenas. Um outro ponto favorável é a produção voltada para um mercado doméstico já existente e por ultimo faz com que a economia produza mais tarde vantagem comparativa e especialização, bem como ajuda o país a traçar novos rumos para a economia.Por outro lado, também há criticas principalmente ao modelo de substituição de importação que ainda segundo os autores, esse modelo com orientação endógena acaba por prejudicar relativamente os segmentos exportadores, enfatizando-se que o modelo depende excessivamente de recursos públicos. Ainda assim é possível constatar um certo grau de isolamento (mesmo que temporário) de uma economia que adota esse viés de industrialização, bem como um certo grau de proteção e que no fim das contas acaba por não diminuir a dependência de importação, uma vez que os insumos utilizados na manufatura interna são geralmente em sua maioria importados. Finalmente, conclui-se que ambos os modelos de industrialização foram amplamente adotados por países em desenvolvimento em maior ou menor grau apesar de seus prós e contras. Ainda assim muitos teóricos defensores do livre comércio recomendam que países em vias de se industrializar adotem políticas neutras a fim de que não sejam adotados de forma excessiva prejudicando outros setores da economia. Industrialização Brasileira Assim que o conflito da II Guerra se iniciou, houve um abalo muito grande no comércio internacional, o que “graças á drástica redução das importações, a guerra representou, como vimos, poderoso estimulante para a ulterior industrialização do país. As importações deviam ser substituídas pela produção interna”. (BAER, 1983:38), por isso, utilizar o conceito de Industrialização por Substituição de Importação (ISI), é muito importante, onde foi através do mesmo que o Brasil deu um salto inicial para uma industrialização voltada para o mercado interno e de forma contínua. É preciso ressaltar antes, que o eixo dinâmico da economia brasileira até a década de 1930 era o mercado externo com produção de gêneros primários voltados para fora. Sendo que depois de 1930, o eixo dinâmico da economia brasileira, passa a ser o próprio mercado interno através do processo de industrialização, onde o Brasil deu o primeiro passo quando começou a adquirir bens de capital da Europa de segunda mão. Já na década de 1950, essa política industrial brasileira se deu como já foi observado de forma endógena e apresentou influencia direta na política comercial do país e conseqüentemente sobre o Balanço de Pagamentos, onde ainda na década de 50, por exemplo, o surto de industrialização posterior a II Guerra Mundial, foi inicialmente conseqüência das medidas para enfrentar as dificuldades do Balanço de pagamentos devido aos sucessivos déficits decorrentes do alto volume de importações o que praticamente acabou com as com as reservas de divisas do país. A partir da década de 50 é que o país lança mão não só de políticas industriais na tentativa de controlar as importações, mas também de políticas comerciais estratégicas e controles cambiais que tinham como objetivo restringir as importações feitas somente a produtos de extrema necessidade ao país e até mesmo desencorajar a importação de determinados bens considerados supérfluos, através de um sistema de licenciamento e de quotas de importação ajudou inicialmente a reverter o déficit no Balanço de Pagamentos. Ainda na década de 50, sob o governo JK, houve um considerável avanço na industrialização brasileira que era uma das metas do seu governo, que priorizava áreas consideradas importantes para sustentar os pilares da industrialização; Áreas essas tais como, infraestrutura, energia, transporte, industrias de base e educação. O governo desse período ainda se valeu de políticas comerciais para incentivar a produção nacional dessas industrias, dando incentivos para que fossem importados todos os bens necessários á constituírem parte integrante no processo produtivo dessas industrias, lembrando que nesse período , o país foi aberto ás industrias automobilísticas que possuíam interesse em produzir no Brasil . O carro chefe do período JK, foi a produção de bens de consumo duráveis, principalmente no que diz respeito a industria automobilística. Como conseqüências dessas medidas citadas acima, o Brasil registrou elevadas taxas de crescimento de seu produto real até os primeiros anos da década de 60, onde “[...] tornou-se moda especular sobre as conseqüências da industrialização através da substituição das importações (ISI) nos países em desenvolvimento”.(BAER, 1983:225). Porém a industrialização por ISI foi declinando aos poucos a partir da década de 60, uma vez que seu ápice foi nos anos 50. O período analisado a seguir, também conhecido como pós-ISI, trata especificamente das conseqüências dessa política industrial adotada pelo país. Além de todo contexto político da época com o inicio da ditadura militar em 1964, as altas taxas de inflação e o alto endividamento externo decorrentes do financiamento da industrialização, a economia brasileira acabou perdendo seu dinamismo que foi recuperado através de num novo surto industrial no período de 1968 á 1973, que tinha como centro das operações os planejamentos econômicos por parte do governo e sua equipe econômica, onde a inflação sofreu forte controle por parte do governo e inúmeros investimentos foram feitos em áreas como da energia e mineração e tendo conseqüentemente aumentado as exportações desta última atividade.O motor dessa época era o crescimento, o que conseqüentemente gerava muitos empregos , o que se justificava pela alta taxa de crescimento no período, em média 10% ao ano. Investimentos na industria de bens de consumo, aceleraram a retomada da demanda por tais, uma vez que, “a busca do crescimento, segundo o governo, deveria processar-se com o investimento em setores diversificados e com menor participação do Estado, ou seja, deveria basear-se no setor privado”. (GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO,2002:398). Este surto industrial foi interrompido pelo primeiro choque do petróleo, e logo retomado em 1974 com um novo surto industrial. Este último surto industrial teve como principal foco, a produção de bens de capitais e fortes investimentos na industria pesada (infra-estrutura). Logo, conclui-se que o Brasil passou por três etapas distintas de industrialização, onde todas trouxeram altas taxas de crescimento para o país, sendo: (a) 1956-1961: alta produção e desenvolvimento de bens de consumo duráveis e investimentos na industria pesada; (b) 1968- 1973: alta produção dos bens de consumo duráveis; (c) 1974-1979: ênfase na produção de bens de capitais e fortes investimentos na industria pesada. Industrialização Sul Coreana Até a década de 1980, a Coréia do Sul via no Br4asil um modelo industrial a ser seguido, pois os sul coreanos ainda contavam com uma estrutura industrial muito incompleta e ainda precisavam de fortes investimentos a fim de promover uma integração do seu parque industrial. Contudo, a questão central do debate comparativo entre o processo industrial brasileiro e sul coreano, está em analisar a estagnação brasileira na década de 80, e o sucesso da industrialização tardia e acelerada da Coréia do Sul que teve impulsos no mesmo período. Para tanto, é necessário compreender primeiramente os passos da industrialização sul coreana que logo após a II Guerra Mundial dependia de recursos externos, principalmente norte-americanos, onde investimentos eram feitos em infraestrutura e educação. Essa ajuda externa contribuiu muito não só no sentido de preparar o país para os próximos passos rumo a industrialização, como também para o governo do general Park que a partir da década de 60, foi o responsável pela criação dos Planos Econômicos que visavam constituir um país moderno, capaz de se manter sem ajuda externa. Ao todo foram elaborados sete planos econômicos, com duração de cinco anos cada. Em todos os planos econômicos houve estímulo considerável a promover as exportações. Durante o primeiro Plano Econômico que foi de 1962 á 1966, a Coréia do Sul ajustou a economia para que houvesse uma melhor adaptação ás etapas seguintes do processo industrial. Nesse primeiro plano, o foco da industrialização foi para a produção de cimento, fertilizantes e para a redução da dependência de petróleo do exterior. Nesse período, o governo do general Park utilizava extensivamente a chamada diplomacia financeira com países como os Estados Unidos, Japão e Alemanha, para a obtenção de créditos comerciais e empréstimos para financiar o processo industrial. Já o II Plano Econômico que ocorreu entre 1967 e 1972, foi um plano intermediário, ou seja, um plano de ajustamentos, no sentido de ao mesmo tempo ser uma continuação do I Plano e de preparar uma estrutura para a etapa seguinte de industrialização, a industria pesada. Nesse período, o setor de manufaturas cresceu 21 % , assim como outros índices tiveram uma evolução significativa, exportações e poupança interna. O II Plano Econômico que compreende o período de 1972 á 1976, foi um dos mais importantes planos do processo de industrialização da Coréia do Sul, pois durante a década de 70 que o foco principal foi a industria pesada (metalurgia, química e metal-mecânica). Nesse período, houve a descentralização do processo industrial de Seul para outras áreas . Prevaleciam as atividades de exportação de manufaturados leves e montagem nãoqualificada da metal- mecânica. Esse plano contou largamente com a atuação dos Chaebols1 , os ultradiversificados conglomerados sul coreanos, para executarem o projeto Estatal de industrialização. O IV Plano Econômico que vai de 1977 á 1981, foi um plano de transição, onde tratava-se do esforce de transição industrial previsto no 4o e 5o Planos Qüinqüenais de desenvolvimento (1977- 1986), segundo os quais após a implantação , consolidação do núcleo da industrial pesada correspondente ao 3o plano ( 1972 / 76), caberia então um aprofundamento industrial na eletrônica e na automobilística , bem como a reestruturação dos setores já instalados. (CANUTO, 1994:110) Nesse plano, foi possível perceber que a etapa inicial da industrialização pesada foi cumprida, faltando apenas alguns reajustes, ou seja, a partir deste plano qüinqüenal, a Coréia do Sul tenta um upgrading rumo ao setor eletrônico e automobilístico. Nesse ponto, “Os Chaebols foram os propulsores do rápido desenvolvimento da Coréia do Sul. [....] São um grupo de empresas agrupadas e coordenadas por uma holding.” ( MASIERO, 2003:02) 1 a economia sul coreana se preparava também para competir nos mercados industriais internacional, para isso era preciso investir pesado na estratégia de utilização de tecnologia intensiva e trabalho intensivo qualificado. O quinto plano que corresponde ao período de 1982 á 1986, foi de extrema importância, pois durante esse período, que a industrialização do país passou definitivamente do caráter da industria pesada e química para a industria tecnológica intensiva. Passou-se então no quinto plano de industria de montagem não-qualificada para uma industria de montagem qualificada exigindo do governo central um esforço maior em atividades de P&D (Pesquisa e Desenvolvimento), qualificação da população e acordos internacionais de cooperação na área tecnológica para intensificar ainda mais o ajuste industrial do país que se concretizou nos sexto e sétimo planos. Os dois últimos planos que correspondem ao surto industrial sul coreano, intensificaram ainda mais o processo industrial no ramo da alta tecnologia, durante o período de 1986 á 1996, o governo acelerou a queda das barreiras das importações e intensificou a porcentagem do PIB em investimentos em tais áreas. Análise comparada dos modelos industriais do Brasil e da Coréia do Sul Como foi possível observar, á primeira vista, parece que o Brasil e Coréia do Sul são países muito semelhantes no que tange ao desenvolvimento político e econômico ao longo do século XX. Os dois países – economias periféricas e de industrialização tardia – foram liderados por militares nos anos 60 e 70. O seu desenvolvimento foi baseado nos chamados: planos nacionais de desenvolvimento, que buscam promover e incrementar a industria pesada, com vistas á substituição de importações e promoção das exportações com o objetivo de inserção aos “clube” dos países desenvolvidos. Entretanto, determinados condicionamentos históricos, antecedentes culturais e modelos distintos de Estado determinam processos muito divergentes de formação nacional e de formação de um capitalismo retardatário. (COSTA, 2008:23) Durante o processo industrial dos países, foi possível levantar muitos pontos divergentes em termos de políticas industriais e de desenvolvimento econômico.Iniciando pelo caso sul coreano, como por exemplo, o país durante seu processo de industrialização tardia investiu fortemente em P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) como forma de criar novos mecanismos de produção, novas tecnologias, e dar estimulo ao campo de pesquisas, enquanto o Brasil, ainda dá passos muito curtos nessa área.”Korean and Brazilian expenditures on R&D present very different patterns. In the beginnings of the 1990’ s the Brazilian share of its GNP devoted to R&D was just 0.4%, whereas Korean expenditure was more then 5 times larger, 2.1%.” ( VIOTTI,2001:22)2. Outros pontos a cerca do sucesso industrial tardio da Coréia do Sul podem ser levantados, como a seqüência industrial do país que teve inicio com a industria pesada e aos poucos foi fazendo a transição para a industria de bens de consumo e finalmente a especialização na industria intensiva em tecnologia e na produção de manufaturados.O país usou amplamente do modelo de Promoção de Exportações, ao contrário do Brasil que se valeu do modelo de Substituição de Importação. Paralelamente, os sul coreanos utilizaram intensivamente tanto a mão de obra qualificada, lembrando que o país investia muito em educação e qualificação da população , quanto de tecnologias por meio de acordos internacionais de cooperação, principalmente com o Japão. Já o Brasil, praticamente negligenciou o sistema a educação e qualificação da população durante seu período de industrialização. Outro fator importante 2 Os gastos do Brasil e da Coréia do Sul com P&D apresentaram pontos muito diferentes. No inicio de 1990, o investimento brasileiro de seu PNB devotado a P&D,foi de apenas 0.4%, enquanto o gasto coreano foi mais de 5 vezes maior, 2.1%. foi a ação conjunta entre o setor público, Estado sul coreano, e o setor privado, os Chaebols, que segundo Masiero (2003), nos últimos anos, “... continuam operando com índices de endividamento superiores a 200%;” onde juntos eram responsáveis por um alto índice de investimentos/ PIB, o que possibilitava parte do financiamento industrial do país, que possuía uma produção voltada para o mercado externo, e não como no caso Brasileiro , que produzia para atender a demanda doméstica, sem se preocupar com a criação de novos mercados.A Coréia do Sul buscou criar mercados como uma alternativa para a concorrência internacional, pois o país possuía produtos com um custo mais baixo e de ótima qualidade, o que possibilitou ao país conquistar parceiros comerciais como, por exemplo, Estados Unidos e Japão, sendo o Estado o ator principal da industrialização, realizando constantemente aperfeiçoamentos institucionais para acompanhar o rápido e acelerado processo industrial dom país, o que não aconteceu no Brasil, uma vez que o fator institucional ficou para traz tornando –se arcaico e burocrático. Conclusão Como foi possível perceber, a principio tanto o Brasil quanto a Coréia do Sul iniciaram seus processos industriais de forma tardia, a Coréia em especial iniciou sua industrialização enquanto o Brasil já estava no auge do modelo de Substituição de Importação. Entretanto, o Tigre Asiático driblou as crises externas e conseguiu se sobressair e se tornar um modelo de industrialização tardia de sucesso, onde através de um governo forte que agiu em conjunto com os Chaebols transformou o país em um exportador de bens manufaturados com utilização intensa de tecnologias. Já o Brasil estagnou nos períodos de crise internacional, o que fez com que o país deixasse de lado a ânsia por se tornar um país tão moderno quanto a Coréia do Sul. Logo, utilizar o exemplo sul coreano seria uma alternativa para o Brasil repensar todo seu modelo industrial construído até então, lembrando que as políticas adotadas pela Coréia do Sul devem ser ajustadas á realidade brasileira e levar em consideração as características peculiares do nosso país. Referências Bibliográficas BAER, Werner. A industrialização e o desenvolvimento econômico do Brasil, 5o ed. Rio de Janeiro: Getúlio Vargas, 1983. BAUMANN, Renato; CANUTO, Otaviano; GONÇALVEZ, Reinaldo. Economia Internacional – Teoria e experiência brasileira, 2o ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. CANUTO, Otaviano.Brasil e Coréia do sul-Os (des) caminhos da industrialização tardia. São Paulo: Nobel, 1994. GREMAUD, Amaury Patrick; VASCONCELLOS, Marco Antônio Sandoval de; TONETO, Rudinei Júnior. Economia Brasileira Contemporânea, 4o ed. São Paulo: Atlas, 2002. KRUGMAN, Paul R. Economia Internacional-Teoria e Política, 6o ed. São Paulo: Pearson Addison Wesley, 2005. PAULANI, Leda Maria; BRAGA, Márcio Bobik. A Nova contabilidade social. Uma introdução à macroeconomia, 3o ed. São Paulo: Saraiva, 2007. SOUZA, Nali de Jesus de. Desenvolvimento Econômico, 5o ed. São Paulo: Atlas, 2007. Referências Eletrônicas VIOTTI, Eduardo B. National Learning Systems- A new approach on technical change in late industrializing economies and evidences from the case of Brazil and South Korea. Disponível em <http:// www.cid.harvard.edu/archive/biotech/papers/discussion12_viotti.pdf > Acesso em, 23/04/09. COSTA, Juliana. Brasil e Coréia: uma relação em construção. Disponível em < http:// www.fecap.br/extensao/liceu/Liceu5.pdf> Acesso em, 12/03/09. MASIERO, Gilmar. As lições da Coréia do Sul. Disponível em < http:// www.pucsp.br/geap/artigos/raeexecutiva.pdf> Acesso em , 15/04/09.