Centro Universitário Fundação Santo André

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Centro Universitário Fundação Santo André
Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas
Curso de Bacharelado em Relações Internacionais
Danielle Mozelli Ramos 17605
Artigo referente ao projeto de iniciação científica – PIIC 2008
Santo André – SP
2009
Centro Universitário Fundação Santo André
Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas
Curso de Bacharelado em Relações Internacionais
Danielle Mozelli Ramos 17605
Artigo referente ao projeto de iniciação científica – PIIC 2008
Artigo
apresentado
ao
Comitê
Científico do Programa de Iniciação
Científica do Centro Universitário
Fundação Santo André.
Prof.o Orientador: Me. Ivan Prado
Silva
Santo André – SP
2009
Um novo paradigma para o desenvolvimento? Políticas de
desenvolvimento comparadas entre Brasil e Coréia do Sul no pós II
Guerra Mundial: as políticas desenvolvimentistas sul coreanas se aplicam
ao caso brasileiro?
Resumo: As trajetórias industriais do Brasil e da Coréia do Sul são muito distintas,
contudo o sucesso sul coreano tem sido apontado como um exemplo de industrialização
tardia e como um modelo a ser seguido pelo Brasil. Esta pesquisa aponta os modelos
industriais utilizados por ambos países e os pontos que levaram a Coréia do Sul ao sucesso
industrial.
Palavras-chave: desenvolvimento, industrialização, tecnologia, Brasil e Coréia do Sul.
Abstract: The industrial histories of Brazil and South Korea are very different, yet the
South Korean success has been highlighted as an example of late industrialization and as
model to be followed by Brazil. This research points the industrial models used by both
countries and the points that led to South Korea to industrial success.
Keywords: development, industrialization, technology, Brazil and South Korea.
Introdução
A presente pesquisa tem por objetivo discutir as políticas desenvolvimentistas de
industrialização do Brasil e da Coréia do Sul no pós II Guerra Mundial, onde se torna
inevitável uma comparação entre ambos países já que os mesmos decidiram se
industrializar tardiamente. Contudo o modelo industrial adotado pela Coréia do Sul é um
exemplo de industrialização tardia que obteve êxito, ao contrário do Brasil que estagnou na
década de 80 enquanto os sul coreanos davam um salto gigantesco rumo á Terceira
Revolução Industrial. Portanto, uma análise comparativa entre os modelos industriais
adotados por ambos países apresenta um panorama de fácil compreensão para que seja
possível observar tanto os resultados que cada país obteve durante seu processo industrial,
quanto fazer do caso sul coreano um exemplo e um modelo a ser seguido pelo Brasil.
Esta pesquisa está dividida em três partes, onde a primeira aborda teorias e
conceitos que se relacionam aos processos industriais de cada país, para que seja possível
posteriormente , um melhor entendimento das medidas adotadas pelos países para se
industrializarem. Já a secunda parte aborda todo o processo industrial do Brasil e da Coréia
do Sul, trazendo as dinâmicas particulares de cada processo e suas conseqüências para o
desenvolvimento econômico de cada país e de como esse países atravessaram as crises
decorrentes do período tratado. E por fim, a terceira e última parte traz uma análise
comparativa das políticas industriais e desenvolvimentistas do Brasil e da Coréia do Sul,
como forma de avaliar o sucesso sul coreano enquanto o modelo brasileiro enfrentou
obstáculos durante sua implantação e desenvolvimento, bem como entender quais pontos
do processo industrial sul coreano foram importantes para seu desenvolvimento, e os
pontos que levaram o Brasil a não obter o mesmo sucesso do Tigre Asiático.
Referencial Teórico
A primeira parte desta pesquisa visa dar um panorama á respeito das teorias e
conceitos que compõe e explicam os processos industriais brasileiro e sul coreano ao longo
do período posterior a II Guerra Mundial, uma vez que tais economias de caráter periférico
tiveram um modelo industrial tardio. Primeiramente será utilizada, uma abordagem a cerca
do debate entre crescimento econômico e desenvolvimento econômico gerados ou não pela
industrialização do país. Paralelamente á estes conceitos, será utilizado o modelo de
Substituição de Importação para que seja possível uma melhor compreensão do modelo
adotado pelo Brasil para se industrializar, bem como o modelo de Promoção de
Exportações largamente utilizado no caso da Coréia do Sul.
O debate a cerca do conceito de desenvolvimento e crescimento econômico não é
recente, e no que tange a suas variáveis a respeito do tema, apresenta-se uma gama
considerável de referenciais teóricos para o conceito de desenvolvimento e crescimento
econômico.Logo torna-se necessário apresentar os conceitos das respectivas temáticas,
onde para começar será apresentado a seguir as diferenças entre crescimento econômico e
desenvolvimento econômico.Há uma diferença básica entre ambos conceitos que é
abordada e aceita pela maioria dos autores, que os distinguem da seguinte forma:
O crescimento econômico diz respeito á
elevação do produto agregado do país e pode
ser
avaliado
a
partir
das
contas
nacionais.Desenvolvimento é um conceito bem
mais amplo, que leva em conta a elevação da
qualidade de vida da sociedade e a redução das
diferenças econômicas e sociais entre seus
membros.(PAULANI; BRAGA, 2007:229).
Em outras palavras, crescimento econômico pode ser entendido em termos
quantitativos como, por exemplo, o crescimento do PIB, já o desenvolvimento é um
conceito que remete a qualidade de vida dos indivíduos da sociedade no geral e agrega
índices para quantifica-lo que serão vistos posteriormente.Apesar desta conceituação
básica, ainda há quem defina ambos os conceitos como sinônimos, não vendo distinções
entre o processo de crescimento e desenvolvimento econômico, tornando assim o processo
de desenvolvimento como uma etapa do processo de crescimento econômico.Na literatura
acerca do tema, fica claro ressaltar que o desenvolvimento econômico é um processo muito
mais complexo e que agrega outros fatores do que simplesmente a quantificação do índice
de crescimento econômico, bem como se deve considerar que nem sempre o alto
crescimento vem acompanhado de um desenvolvimento acabam por gerar desigualdades
levando assim o país a um desajuste em sua distribuição de renda, pois “[...]
desenvolvimento econômico não pode ser confundido com crescimento porque os frutos
dessa expansão nem sempre beneficiam a economia como um todo e o conjunto da
população”.(SOUZA, 2007:5).Ainda segundo Souza,
[o] desenvolvimento econômico define –se,
portanto,
pela
existência
de
crescimento
econômico contínuo, em ritmo superior ao
crescimento
mudanças
demográfico,
de estruturas
envolvendo
e melhorias de
indicadores econômicos sociais e ambientais.
Ele compreende um fenômeno de longo prazo
implicando o fortalecimento da economia
nacional,
a
ampliação
da
economia
de
mercado, a elevação geral da produtividade e
do nível de bem estar do conjunto da população
com a preservação do meio ambiente.Com o
desenvolvimento, a economia adquire maior
estabilidade e diversificação; o progresso
tecnológico e a formação de capital tornam-se
progressivamente fatores endógenos, isto é,
gerados predominantemente no interior do país,
embora a interior do país, embora a integração
internacional continua um processo gradativo e
irreversível “. (SOUZA, 2007:7).
Promoção de Exportações e Substituição de Importações
Apoiando-se nos conceitos de Krugman (2005), onde por traz desses conceitos existe um
enorme debate a respeito de suas aplicações em economias em desenvolvimento. A
industrialização tanto pelo processo de promoção das exportações quanto pela substituição
das importações são medidas de política industrial e tem como o objetivo, no caso da
promoção de exportações, principalmente de produtos manufaturados exportados para as
nações avançadas, levar uma economia ao estágio de economia industrializada gerando
assim desenvolvimento da mesma. Já no caso da substituição de importações que nada mais
é do que “ a estratégia de incentivar a industria doméstica limitando as importações de bens
manufaturados [...]” ( KRUGMAN,2005:193),tem por objetivo a proteção a industria
nascente , ou seja “ desenvolver industrias orientadas para o mercado interno” (
KRUGMAN,2005:193).Tanto Krugman (2005) quanto Souza (2007), Baumann, Canuto e
Gonçalvez (2004) afirmam que o processo de industrialização de um país via promoção de
exportações se dá no âmbito de políticas que acabam por estimular as exportações, ou seja,
uma política orientada para fora. São muitos os argumentos favoráveis a essa prática, onde
existe uma relação entre a política de promoção das exportações e um rápido crescimento,
bem como uma melhora do desempenho exportador em termos de maiores taxas de
crescimento e conseqüentemente a geração de divisas tendo assim uma diversificação na
pauta de exportação.A promoção das exportações ainda viabiliza a elevação da produção
interna de uma economia reduzindo assim a capacidade ociosa da mesma.
Já os argumentos pró-substituição de importações prevêem que tal política em
primeiro lugar gera a implantação de novas unidades produtivas, em segundo lugar
promove a longo prazo uma menor dependência de oferta externa bem como uma menor
necessidade de divisas. Ao mesmo tempo possibilita a uma economia o processo de
aprendizagem e o desenvolvimento de técnicas endógenas. Um outro ponto favorável é a
produção voltada para um mercado doméstico já existente e por ultimo faz com que a
economia produza mais tarde vantagem comparativa e especialização, bem como ajuda o
país a traçar novos rumos para a economia.Por outro lado, também há criticas
principalmente ao modelo de substituição de importação que ainda segundo os autores, esse
modelo com orientação endógena acaba por prejudicar relativamente os segmentos
exportadores, enfatizando-se que o modelo depende excessivamente de recursos públicos.
Ainda assim é possível constatar um certo grau de isolamento (mesmo que temporário) de
uma economia que adota esse viés de industrialização, bem como um certo grau de
proteção e que no fim das contas acaba por não diminuir a dependência de importação, uma
vez que os insumos utilizados na manufatura interna são geralmente em sua maioria
importados.
Finalmente, conclui-se que ambos os modelos de industrialização foram
amplamente adotados por países em desenvolvimento em maior ou menor grau apesar de
seus prós e contras. Ainda assim muitos teóricos defensores do livre comércio recomendam
que países em vias de se industrializar adotem políticas neutras a fim de que não sejam
adotados de forma excessiva prejudicando outros setores da economia.
Industrialização Brasileira
Assim que o conflito da II Guerra se iniciou, houve um abalo muito grande no
comércio internacional, o que “graças á drástica redução das importações, a guerra
representou, como vimos, poderoso estimulante para a ulterior industrialização do país. As
importações deviam ser substituídas pela produção interna”. (BAER, 1983:38), por isso,
utilizar o conceito de Industrialização por Substituição de Importação (ISI), é muito
importante, onde foi através do mesmo que o Brasil deu um salto inicial para uma
industrialização voltada para o mercado interno e de forma contínua. É preciso ressaltar
antes, que o eixo dinâmico da economia brasileira até a década de 1930 era o mercado
externo com produção de gêneros primários voltados para fora. Sendo que depois de 1930,
o eixo dinâmico da economia brasileira, passa a ser o próprio mercado interno através do
processo de industrialização, onde o Brasil deu o primeiro passo quando começou a
adquirir bens de capital da Europa de segunda mão. Já na década de 1950, essa política
industrial brasileira se deu como já foi observado de forma endógena e apresentou
influencia direta na política comercial do país e conseqüentemente sobre o Balanço de
Pagamentos, onde ainda na década de 50, por exemplo, o surto de industrialização posterior
a II Guerra Mundial, foi inicialmente conseqüência das medidas para enfrentar as
dificuldades do Balanço de pagamentos devido aos sucessivos déficits decorrentes do alto
volume de importações o que praticamente acabou com as com as reservas de divisas do
país. A partir da década de 50 é que o país lança mão não só de políticas industriais na
tentativa de controlar as importações, mas também de políticas comerciais estratégicas e
controles cambiais que tinham como objetivo restringir as importações feitas somente a
produtos de extrema necessidade ao país e até mesmo desencorajar a importação de
determinados bens considerados supérfluos, através de um sistema de licenciamento e de
quotas de importação ajudou inicialmente a reverter o déficit no Balanço de Pagamentos.
Ainda na década de 50, sob o governo JK, houve um considerável avanço na
industrialização brasileira que era uma das metas do seu governo, que priorizava áreas
consideradas importantes para sustentar os pilares da industrialização; Áreas essas tais
como, infraestrutura, energia, transporte, industrias de base e educação. O governo desse
período ainda se valeu de políticas comerciais para incentivar a produção nacional dessas
industrias, dando incentivos para que fossem importados todos os bens necessários á
constituírem parte integrante no processo produtivo dessas industrias, lembrando que nesse
período , o país foi aberto ás industrias automobilísticas que possuíam interesse em
produzir no Brasil . O carro chefe do período JK, foi a produção de bens de consumo
duráveis, principalmente no que diz respeito a industria automobilística. Como
conseqüências dessas medidas citadas acima, o Brasil registrou elevadas taxas de
crescimento de seu produto real até os primeiros anos da década de 60, onde “[...] tornou-se
moda especular sobre as conseqüências da industrialização através da substituição das
importações (ISI) nos países em desenvolvimento”.(BAER, 1983:225). Porém a
industrialização por ISI foi declinando aos poucos a partir da década de 60, uma vez que
seu ápice foi nos anos 50.
O período analisado a seguir, também conhecido como pós-ISI, trata
especificamente das conseqüências dessa política industrial adotada pelo país. Além de
todo contexto político da época com o inicio da ditadura militar em 1964, as altas taxas de
inflação e o alto endividamento externo decorrentes do financiamento da industrialização, a
economia brasileira acabou perdendo seu dinamismo que foi recuperado através de num
novo surto industrial no período de 1968 á 1973, que tinha como centro das operações os
planejamentos econômicos por parte do governo e sua equipe econômica, onde a inflação
sofreu forte controle por parte do governo e inúmeros investimentos foram feitos em áreas
como da energia e mineração e tendo conseqüentemente aumentado as exportações desta
última atividade.O motor dessa época era o crescimento, o que conseqüentemente gerava
muitos empregos , o que se justificava pela alta taxa de crescimento no período, em média
10% ao ano. Investimentos na industria de bens de consumo, aceleraram a retomada da
demanda por tais, uma vez que, “a busca do crescimento, segundo o governo, deveria
processar-se com o investimento em setores diversificados e com menor participação do
Estado, ou seja, deveria basear-se no setor privado”. (GREMAUD; VASCONCELLOS;
TONETO,2002:398). Este surto industrial foi interrompido pelo primeiro choque do
petróleo, e logo retomado em 1974 com um novo surto industrial. Este último surto
industrial teve como principal foco, a produção de bens de capitais e fortes investimentos
na industria pesada (infra-estrutura). Logo, conclui-se que o Brasil passou por três etapas
distintas de industrialização, onde todas trouxeram altas taxas de crescimento para o país,
sendo:
(a) 1956-1961: alta produção e desenvolvimento de bens de consumo duráveis e
investimentos na industria pesada;
(b) 1968- 1973: alta produção dos bens de consumo duráveis;
(c) 1974-1979: ênfase na produção de bens de capitais e fortes investimentos na
industria pesada.
Industrialização Sul Coreana
Até a década de 1980, a Coréia do Sul via no Br4asil um modelo industrial a ser
seguido, pois os sul coreanos ainda contavam com uma estrutura industrial muito
incompleta e ainda precisavam de fortes investimentos a fim de promover uma integração
do seu parque industrial. Contudo, a questão central do debate comparativo entre o
processo industrial brasileiro e sul coreano, está em analisar a estagnação brasileira na
década de 80, e o sucesso da industrialização tardia e acelerada da Coréia do Sul que teve
impulsos no mesmo período. Para tanto, é necessário compreender primeiramente os passos
da industrialização sul coreana que logo após a II Guerra Mundial dependia de recursos
externos, principalmente norte-americanos, onde investimentos eram feitos em infraestrutura e educação. Essa ajuda externa contribuiu muito não só no sentido de preparar o
país para os próximos passos rumo a industrialização, como também para o governo do
general Park que a partir da década de 60, foi o responsável pela criação dos Planos
Econômicos que visavam constituir um país moderno, capaz de se manter sem ajuda
externa. Ao todo foram elaborados sete planos econômicos, com duração de cinco anos
cada. Em todos os planos econômicos houve estímulo considerável a promover as
exportações. Durante o primeiro Plano Econômico que foi de 1962 á 1966, a Coréia do Sul
ajustou a economia para que houvesse uma melhor adaptação ás etapas seguintes do
processo industrial. Nesse primeiro plano, o foco da industrialização foi para a produção de
cimento, fertilizantes e para a redução da dependência de petróleo do exterior. Nesse
período, o governo do general Park utilizava extensivamente a chamada diplomacia
financeira com países como os Estados Unidos, Japão e Alemanha, para a obtenção de
créditos comerciais e empréstimos para financiar o processo industrial.
Já o II Plano Econômico que ocorreu entre 1967 e 1972, foi um plano intermediário, ou
seja, um plano de ajustamentos, no sentido de ao mesmo tempo ser uma continuação do I
Plano e de preparar uma estrutura para a etapa seguinte de industrialização, a industria
pesada. Nesse período, o setor de manufaturas cresceu 21 % , assim como outros índices
tiveram uma evolução significativa, exportações e poupança interna.
O II Plano Econômico que compreende o período de 1972 á 1976, foi um dos mais
importantes planos do processo de industrialização da Coréia do Sul, pois durante a década
de 70 que o foco principal foi a industria pesada (metalurgia, química e metal-mecânica).
Nesse período, houve a descentralização do processo industrial de Seul para outras áreas .
Prevaleciam as atividades de exportação de manufaturados leves e montagem nãoqualificada da metal- mecânica. Esse plano contou largamente com a atuação dos
Chaebols1 , os ultradiversificados conglomerados sul coreanos, para executarem o projeto
Estatal de industrialização.
O IV Plano Econômico que vai de 1977 á 1981, foi um plano de transição, onde
tratava-se do esforce de transição industrial
previsto no 4o e 5o Planos Qüinqüenais de
desenvolvimento (1977- 1986), segundo os
quais após a implantação , consolidação do
núcleo da industrial pesada correspondente ao
3o plano ( 1972 / 76), caberia então um
aprofundamento industrial na eletrônica e na
automobilística , bem como a reestruturação
dos
setores
já
instalados.
(CANUTO,
1994:110)
Nesse plano, foi possível perceber que a etapa inicial da industrialização pesada foi
cumprida, faltando apenas alguns reajustes, ou seja, a partir deste plano qüinqüenal, a
Coréia do Sul tenta um upgrading rumo ao setor eletrônico e automobilístico. Nesse ponto,
“Os Chaebols foram os propulsores do rápido desenvolvimento da Coréia do Sul. [....] São um grupo de
empresas agrupadas e coordenadas por uma holding.” ( MASIERO, 2003:02)
1
a economia sul coreana se preparava também para competir nos mercados industriais
internacional, para isso era preciso investir pesado na estratégia de utilização de tecnologia
intensiva e trabalho intensivo qualificado.
O quinto plano que corresponde ao período de 1982 á 1986, foi de extrema
importância, pois durante esse período, que a industrialização do país passou
definitivamente do caráter da industria pesada e química para a industria tecnológica
intensiva. Passou-se então no quinto plano de industria de montagem não-qualificada para
uma industria de montagem qualificada exigindo do governo central um esforço maior em
atividades de P&D (Pesquisa e Desenvolvimento), qualificação da população e acordos
internacionais de cooperação na área tecnológica para intensificar ainda mais o ajuste
industrial do país que se concretizou nos sexto e sétimo planos.
Os dois últimos planos que correspondem ao surto industrial sul coreano,
intensificaram ainda mais o processo industrial no ramo da alta tecnologia, durante o
período de 1986 á 1996, o governo acelerou a queda das barreiras das importações e
intensificou a porcentagem do PIB em investimentos em tais áreas.
Análise comparada dos modelos industriais do Brasil e da Coréia do Sul
Como foi possível observar,
á primeira vista, parece que o Brasil e Coréia do Sul são
países
muito
semelhantes
no
que
tange
ao
desenvolvimento político e econômico ao longo do século
XX. Os dois países – economias periféricas e de
industrialização tardia – foram liderados por militares nos
anos 60 e 70. O seu desenvolvimento foi baseado nos
chamados: planos nacionais de desenvolvimento, que
buscam promover e incrementar a industria pesada, com
vistas á substituição de importações e promoção das
exportações com o objetivo de inserção aos “clube” dos
países
desenvolvidos.
Entretanto,
determinados
condicionamentos históricos, antecedentes culturais e
modelos distintos de Estado determinam processos muito
divergentes de formação nacional e de formação de um
capitalismo retardatário. (COSTA, 2008:23)
Durante o processo industrial dos países, foi possível levantar muitos pontos
divergentes em termos de políticas industriais e de desenvolvimento econômico.Iniciando
pelo caso sul coreano, como por exemplo, o país durante seu processo de industrialização
tardia investiu fortemente em P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) como forma de criar
novos mecanismos de produção, novas tecnologias, e dar estimulo ao campo de pesquisas,
enquanto o Brasil, ainda dá passos muito curtos nessa área.”Korean and Brazilian
expenditures on R&D present very different patterns. In the beginnings of the 1990’ s the
Brazilian share of its GNP devoted to R&D was just 0.4%, whereas Korean expenditure
was more then 5 times larger, 2.1%.” ( VIOTTI,2001:22)2. Outros pontos a cerca do
sucesso industrial tardio da Coréia do Sul podem ser levantados, como a seqüência
industrial do país que teve inicio com a industria pesada e aos poucos foi fazendo a
transição para a industria de bens de consumo e finalmente a especialização na industria
intensiva em tecnologia e na produção de manufaturados.O país usou amplamente do
modelo de Promoção de Exportações, ao contrário do Brasil que se valeu do modelo de
Substituição de Importação. Paralelamente, os sul coreanos utilizaram intensivamente tanto
a mão de obra qualificada, lembrando que o país investia muito em educação e qualificação
da população , quanto de tecnologias por meio de acordos internacionais de cooperação,
principalmente com o Japão. Já o Brasil, praticamente negligenciou o sistema a educação e
qualificação da população durante seu período de industrialização. Outro fator importante
2
Os gastos do Brasil e da Coréia do Sul com P&D apresentaram pontos muito diferentes. No inicio de 1990,
o investimento brasileiro de seu PNB devotado a P&D,foi de apenas 0.4%, enquanto o gasto coreano foi mais
de 5 vezes maior, 2.1%.
foi a ação conjunta entre o setor público, Estado sul coreano, e o setor privado, os
Chaebols, que segundo Masiero (2003), nos últimos anos, “... continuam operando com
índices de endividamento superiores a 200%;” onde juntos eram responsáveis por um alto
índice de investimentos/ PIB, o que possibilitava parte do financiamento industrial do país,
que possuía uma produção voltada para o mercado externo, e não como no caso Brasileiro ,
que produzia para atender a demanda doméstica, sem se preocupar com a criação de novos
mercados.A Coréia do Sul buscou criar mercados como uma alternativa para a concorrência
internacional, pois o país possuía produtos com um custo mais baixo e de ótima qualidade,
o que possibilitou ao país conquistar parceiros comerciais como, por exemplo, Estados
Unidos e Japão, sendo o Estado o ator principal da industrialização, realizando
constantemente aperfeiçoamentos institucionais para acompanhar o rápido e acelerado
processo industrial dom país, o que não aconteceu no Brasil, uma vez que o fator
institucional ficou para traz tornando –se arcaico e burocrático.
Conclusão
Como foi possível perceber, a principio tanto o Brasil quanto a Coréia do Sul
iniciaram seus processos industriais de forma tardia, a Coréia em especial iniciou sua
industrialização enquanto o Brasil já estava no auge do modelo de Substituição de
Importação. Entretanto, o Tigre Asiático driblou as crises externas e conseguiu se
sobressair e se tornar um modelo de industrialização tardia de sucesso, onde através de um
governo forte que agiu em conjunto com os Chaebols transformou o país em um exportador
de bens manufaturados com utilização intensa de tecnologias. Já o Brasil estagnou nos
períodos de crise internacional, o que fez com que o país deixasse de lado a ânsia por se
tornar um país tão moderno quanto a Coréia do Sul. Logo, utilizar o exemplo sul coreano
seria uma alternativa para o Brasil repensar todo seu modelo industrial construído até então,
lembrando que as políticas adotadas pela Coréia do Sul devem ser ajustadas á realidade
brasileira e levar em consideração as características peculiares do nosso país.
Referências Bibliográficas
BAER, Werner. A industrialização e o desenvolvimento econômico do Brasil, 5o ed. Rio
de Janeiro: Getúlio Vargas, 1983.
BAUMANN, Renato; CANUTO, Otaviano; GONÇALVEZ, Reinaldo. Economia
Internacional – Teoria e experiência brasileira, 2o ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
CANUTO, Otaviano.Brasil e Coréia do sul-Os (des) caminhos da industrialização
tardia. São Paulo: Nobel, 1994.
GREMAUD, Amaury Patrick; VASCONCELLOS, Marco Antônio Sandoval de;
TONETO, Rudinei Júnior. Economia Brasileira Contemporânea, 4o ed. São Paulo: Atlas,
2002.
KRUGMAN, Paul R. Economia Internacional-Teoria e Política, 6o ed. São Paulo:
Pearson Addison Wesley, 2005.
PAULANI, Leda Maria; BRAGA, Márcio Bobik. A Nova contabilidade social. Uma
introdução à macroeconomia, 3o ed. São Paulo: Saraiva, 2007.
SOUZA, Nali de Jesus de. Desenvolvimento Econômico, 5o ed. São Paulo: Atlas, 2007.
Referências Eletrônicas
VIOTTI, Eduardo B. National Learning Systems- A new approach on technical change
in late industrializing economies and evidences from the case of Brazil and South
Korea. Disponível em <http://
www.cid.harvard.edu/archive/biotech/papers/discussion12_viotti.pdf > Acesso em,
23/04/09.
COSTA, Juliana. Brasil e Coréia: uma relação em construção. Disponível em < http://
www.fecap.br/extensao/liceu/Liceu5.pdf> Acesso em, 12/03/09.
MASIERO, Gilmar. As lições da Coréia do Sul. Disponível em < http://
www.pucsp.br/geap/artigos/raeexecutiva.pdf> Acesso em , 15/04/09.
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